TÍTULO: DEPENDÊNCIA QUÍMICA E TRANSTORNOS

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TÍTULO: DEPENDÊNCIA QUÍMICA E TRANSTORNOS PSICOLÓGICOS: ANÁLISE DA PRODUÇÃO
CIENTÍFICA A PARTIR DE 1999
CATEGORIA: CONCLUÍDO
ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
SUBÁREA: PSICOLOGIA
INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
AUTOR(ES): MARCELO CAVALHEIRO, GABRIELA CLAUDINO DE ALMEIDA SILVA, JULIANA RAMOS
PESSINI, KAMILA MARQUES RAMOS, RAFAEL GONÇALVES FLORES
ORIENTADOR(ES): CLAUDIA BORIM DA SILVA
1. Resumo
O uso de drogas atualmente é considerado um grave problema social e de
saúde pública, sendo que uma em cada cinco pessoas que fazem uso de substâncias
químicas possuem tendência à diagnóstico de dependência. O objetivo do presente
trabalho foi fazer uma análise da produção científica sobre o tema da síndrome da
dependência e abuso de substâncias químicas, com um direcionamento para o
impacto psicológico que pode vir a causar transtornos mentais ao indivíduo. Foi
realizada uma pesquisa nas bases de dados LILACS, Google Acadêmico, Pepsic e
SciELO. Após a seleção dos artigos, foi utilizada uma ficha de avaliação atendendo
aos objetivos específicos propostos. Neste estudo foram analisados 33 artigos
científicos, escritos por 103 autores. Os artigos trazem 18 transtornos mentais, sendo
que 9 deles foram efetivamente constatados, indicando correlação com a dependência
química. Os resultados apontam que não houve correlação significativa entre a
dependência química e os transtornos de Fobia, Pânico, Esquizofrenia e
Hiperatividade, estando mais fortemente relacionados aos transtornos depressivos e
ao transtorno de Personalidade Dissocial. Estes resultados indicam que ainda existem
muitas dúvidas em relação aos impactos físicos e psicológicos que a dependência
química pode causar, uma vez que muitos dos sintomas apresentados não possuem
evidências suficientes para sustentar uma afirmação categórica a respeito de sua
relação com o abuso de drogas.
Palavras Chave: Transtornos, Dependência química, Drogas, Crack, Perfil, Usuários,
Psicológico, Produção Científica
2. Introdução
O abuso de substâncias químicas tornou-se um grave problema de saúde
pública, e pode estar associado com comportamentos violentos e criminais, como
acidentes de trânsito e violência familiar (Scheffer, Pasa, & Almeida, 2010). Nos
últimos vinte anos, devido ao progresso das produções científicas, a dependência
química passou a ser entendida como um sério problema de saúde, que afeta o
cérebro e, consequentemente, o comportamento (Scheffer et al. 2010). Como
explicado por Sintra, Lopes e Formiga (2011) “A toxicodependência surge na
encruzilhada de múltiplas dimensões inclusa na via humana, designando, na maioria
das vezes, uma representação de usos nocivos, autodestrutivos e alienantes.”.
Cerca de uma em cada cinco pessoas que faz uso de drogas ilícitas possui
critério para diagnóstico de dependência (Claro et al., 2015). De acordo com a
Organização Mundial da Saúde [OMS] (n.d.), a síndrome da dependência é definida
por:
Conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se
desenvolvem após repetido consumo de uma substância psicoativa, tipicamente
associado ao desejo poderoso de tomar a droga, à dificuldade de controlar o
consumo, à utilização persistente apesar das suas consequências nefastas, a uma
maior prioridade dada ao uso da droga em detrimento de outras atividades e
obrigações, a um aumento da tolerância pela droga e por vezes, a um estado de
abstinência física. (OMS, n.d.)
O uso de substâncias químicas pode estar relacionado à comorbidade entre a
síndrome da dependência e diferentes quadros de transtorno mental (Hess, Almeida
& Moraes, 2012). Um transtorno mental é uma síndrome caracterizada por
perturbação clinicamente significativa na cognição, na regulação emocional ou no
comportamento de um indivíduo que reflete uma disfunção nos processos
psicológicos, biológicos ou de desenvolvimento subjacentes ao funcionamento
mental. (American Psychiatric Association [APA], 2013).
O uso crônico de algumas substâncias, como o álcool, a cocaína e o crack,
pode ser um fator desencadeante ou consequente de transtornos mentais,
especialmente Transtornos do Humor, como: Episódio Depressivo Maior e Risco de
Suicídio (Scheffer et al. 2010). Pode também estar associado com prejuízos nas
habilidades sociais, aspectos cognitivos, e sintomas indicativos de ansiedade e
depressão (Wagner, Silva, Zanettelo & Oliveira, 2010).
No estudo feito por Hess et al. (2012) ao investigar a frequência de comorbidades
psiquiátricas em adultos dependentes químicos, observou-se a presença do
Transtorno de Personalidade Anti-social [TPAS] nos grupos de consumidores de
Álcool, maconha, crack/cocaína e no grupo de dependentes de múltiplas substâncias
psicoativas.
De acordo com Costa & Valerio (2008):
-dados indicam uma forte correlação entre transtornos por uso de substâncias e
Transtorno de Personalidade Anti-social, demonstrada por marcadores biológicos e
fatores de riscos ambientais em comum, agravamento do quadro clínico,
significativos prejuízos aos indivíduos em longo prazo e necessidade de tratamento
em maior extensão. (Transtorno de personalidade anti-social e uso de substâncias
section, para. 8).
O transtorno de Personalidade Dissocial é definido pela OMS como “Transtorno de
personalidade caracterizado por um desprezo das obrigações sociais, falta de
empatia para com os outros” (OMS, n.d.). Este transtorno é intitulado de “Transtorno
da Personalidade Antissocial” pelo DSM-V (APA, 2013).
Dependentes de substâncias químicas como o crack, o cannabis, o álcool, o tabaco,
a cocaína e outras drogas também podem apresentar sintomas depressivos (Alves,
Kessler & Ratto, 2004; Andrade & Argimon, 2006; Degenhardt, Hall, Lynskey, Coffey
& Patton, 2004; Silva, Kolling, Carvalho, Cunha, & Kirstensen, 2009)
Segundo a OMS, nos episódios depressivos:
-o paciente apresenta um rebaixamento do humor, redução da energia e
diminuição da atividade. Existe alteração da capacidade de experimentar o prazer,
perda de interesse, diminuição da capacidade de concentração, associadas em
geral à fadiga importante, mesmo após um esforço mínimo (OMS, n.d.).
A intoxicação por Cannabis pode causar a depressão indiretamente ao prejudicar o
ajustamento psicológico no indivíduo. (Degenhardt et al., 2004). Além disso, pode
afetar a serotonina e outros neurotransmissores, de maneira a produzir sintomas
depressivos (Degenhardt et al., 2004).
O álcool também pode produzir sintomas de depressão, ansiedade, agitação e
hipomania/mania durante a intoxicação e a abstinência (Alves, et al., 2004).
Para Scheffer, et al. (2010) “É importante o conhecimento de alterações emocionais
para um melhor planejamento de programas preventivos, buscando uma metodologia
mais eficaz para dependentes de drogas” (p. 539). O objetivo deste trabalho foi fazer
uma análise de produções científicas realizadas na área da saúde que investigam o
tema da síndrome da dependência e abuso de substâncias químicas com um
direcionamento para o impacto psicológico que podem causar transtornos ao
indivíduo.
3. Objetivos:
O objetivo geral foi realizar uma revisão sistemática das produções científicas
publicadas nas bases de dados LILACS, Google Acadêmico, Pepsic e SciELO, sobre
a temática “Dependência Química: Perfil de usuários e seus Transtornos
Psicológicos”.
Especificamente, objetivou-se avaliar as seguintes variáveis: autoria (única, coautoria,
múltipla); gênero (masculino, feminino, indefinido); tipo de pesquisa; substâncias e
transtornos psicológicos pesquisados pelos autores dos trabalhos.
4. Metodologia
Trata-se de uma revisão de literatura de estratégia documental para a produção
cientifica. Segundo Campos (2001), a pesquisa documental tem como objetivo colocar
o pesquisador em contato direto com tudo o que foi dito, escrito ou filmado sobre
determinado assunto.
5. Desenvolvimento
Foi realizada uma busca por artigos científicos sobre “Dependência Química e
seus Transtornos Psicológicos” nas bases de dados LILACS (Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde), Google Acadêmico, Pepsic
(Periódicos Eletrônicos de Psicologia) e SciELO (Scientific Electronic Library Online).
Não foram utilizados limitadores temporais. Dessa forma todo o conteúdo das
bases consultadas contendo as palavras utilizadas para a busca foi contemplado.
5.1 Levantamento de Dados
Para o levantamento dos dados no presente estudo, foram utilizadas as
seguintes palavras-chave “transtornos, dependência química, drogas, crack, perfil,
usuários, psicológico, produção científica” e foram obtidos trabalhos do período de
Dezembro de 1999 até Novembro de 2015, limitado ao idioma Português do Brasil.
Foram incluídos estudos realizados no Brasil, contendo textos completos e tema
compatível ao pesquisado. A partir desses critérios, foram identificadas 57
publicações pela leitura dos resumos. A primeira seleção foi retirar a duplicidade nas
bases de dados, das quais sobraram 46 artigos. Destes, após leitura na integra foram
excluídos 12 que não abordavam o tema compatível ao pesquisado ou aqueles que
não atendiam ao objetivo. Ao final do levantamento, totalizaram-se 33 artigos
científicos (Figura 1).
Figura 1. Fluxograma da seleção dos estudos sobre o Tema Dependência química e
seus transtornos mentais.
5.2 Análise dos Artigos
Após a seleção dos artigos, foi utilizada uma ficha de avaliação atendendo aos
objetivos específicos propostos. Esta ficha continha dados pertinentes ao tema,
autoria, resumo e tipo de estudo. Também foram registradas todas as substâncias
químicas que os autores pesquisaram em seus artigos e analisadas as anormalidades
psíquicas que possivelmente eram causadas pela sua dependência.
5.3 Análise Estatística
Os dados foram digitados em planilha eletrônica e apresentados em formato de
tabelas e gráficos. Para descrever os dados, foram utilizados a frequência e
porcentagens bem como média e desvio padrão. A análise estatística foi feita com o
software estatístico SPSS (Statistical Package for Social Science), versão 21.0.
6. Resultados
Neste estudo foram analisados 33 artigos científicos, escritos por 103 autores,
em média 3,1 por artigo, com desvio padrão de 1,5.
Quase todos foram estudos de levantamento ou correlacional (tabela 1), o
mesmo foi observado no estudo de Ferreira e Oliveira (2007) que classificaram Estudo
de levantamento ou correlacional como “Pesquisa” e os estudos de revisão de
literatura como “teórico”, podemos verificar que os dois temas, sendo um sobre o
Autismo e este sobre Dependência Química e transtornos mentais, têm a prevalência
de estudos de levantamento ou correlacional.
Tabela 1
Frequência e porcentagem do tipo de estudo dos artigos
Tipo de estudo
N
%
Estudo de levantamento ou correlacional
28
85
Revisão de literatura
5
5
Total
33
100
No total, os 33 artigos investigam a relação de 15 tipos de substâncias com
diversos transtornos psicológicos. Houve um alto índice de estudos sobre
dependência em Cigarro, Álcool, Maconha, Cocaína e Crack e uma minoria optou por
pesquisar sobre os demais psicotrópicos (Tabela 2).
Tabela 2
Frequência e porcentagem de drogas estudadas nos artigos
Descrição
N
%
Álcool
20
60,6
Cocaína
16
48,5
Maconha
14
42,4
Cigarro
8
24,2
Crack
8
24,2
Heroína
3
9,1
Anfetaminas
3
9,1
Ansiolítico
Inalantes
3
9,1
Ópio
2
6,1
Estab. de humor
2
6,1
Antidepressivo
2
6,1
Solventes
2
6,1
Alucinógeno
1
3
Anabolizantes
1
3
Sedativo
1
3
Os artigos trazem 18 transtornos mentais que são especificados pela
OMS(n.d.) e APA(2013). Entretanto, os resultados dos artigos analisados mostram
que apenas 9 transtornos têm correlação com a dependência química dos
participantes, e destes a maior ocorrência são os transtornos de Depressão e de
Personalidade Dissocial.
Enquanto que, dos transtornos, os que mais foram
apontados pelos artigos de que não há relação significativa com a dependência de
substancia químicas são de Fobia, Pânico, Esquizofrênico e Hiperatividade. O uso da
maconha, sendo uma das substâncias mais estudadas, pode estar relacionado com a
depressão, como mostra o estudo de Sanches e Marques (2010). O álcool também é
comumente associado à depressão, cerca de 23 a 70% dos pacientes dependentes
de álcool sofrem de transtornos depressivos. (Alves, et al., 2004). Substâncias, como
o Crack, o tabaco e a cocaína, também podem estar relacionadas com episódios
depressivos. (Andrade & Argimon, 2006; Silva, Kolling, Carvalho, Cunha, &
Kirstensen, 2009). Como citado na introdução, o estudo de Costa e Valerio (2008)
verificou uma forte correlação entre transtornos por uso de substâncias e transtorno
de personalidade anti-social. Os estudos feitos por Hess, et al. (2012) e Scheffer et al.
(2010) respectivamente, verificaram a frequência de comorbidade psiquiátrica entre a
síndrome da dependência e o TPAS em grupos de usuários de substâncias como o
álcool, a maconha, o crack e a cocaína.
Tabela 3
Frequência e porcentagem de transtornos mentais específicos que são
correlacionados ou não com a dependência química
Descrição
Não há correlação
Há correlação
N
%
N
%
1
3
11
33,3
4
12,1
1
3
Cleptomania
1
3
Estresse Pós Traumático
1
3
Depressão
Personalidade dissocial
Bipolar
1
3
Fobia especifica
4
12,1
Hiperatividade (TDAH)
2
6,1
Hipocondria
1
3
TOC
1
3
Alimentares (não especificados)
Humor
1
3
Delirante
1
3
Distímico
Esquizofrênico
3
9,1
Somatização
1
3
Memoria
Desesperança
1
3
Pânico
4
12,1
1
3
3
9,1
1
3
3
9,1
7. Considerações Finais
Ao final da análise sobre a produção científica na temática “Transtornos
Mentais Causados pela Dependência Química”, foi verificado o predomínio de
trabalhos do tipo pesquisa em relação a trabalhos teóricos.
Os resultados apontam que, das substâncias estudadas, não houve correlação
significativa entre sua dependência e os transtornos de Fobia, Pânico, Esquizofrenia
e Hiperatividade, estando mais fortemente relacionadas aos transtornos depressivos
e ao transtorno de Personalidade Dissocial. Os resultados indicam que ainda existem
muitas dúvidas em relação aos impactos físicos e psicológicos que a dependência
química pode causar, uma vez que muitos dos sintomas apresentados não possuem
evidências suficientes para sustentar uma afirmação categórica a respeito de sua
relação com o abuso de drogas.
8. Fontes Consultadas
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