40. SBAI- SimpósioBrasileiro de Automação Inteligente, São Paulo,SP, 08-10de Setembro de 1999 ESTUDO DE IMPLEMENTAÇÃO DE UM CONTROLADOR NEBULOSO PARA FONTE BOOST Carlos Augusto de Oliveira Jr., Marcos Silva de Santana, André Lauríndo Maitelli, Andrés Ortiz Salazar Universidade Federal do Rio Grande do Norte Campus Universitário da Salgado Filho, sino CEP 59072-970 - Natal RN o l ógicajuzzy emergiu no início da década de 70 com trabalho de E. H. Mamdani e pesquisadores ingleses, que desenvolveram o primeiro sistema de controle fuu:y baseado em regras para uma planta térmica [1]. A solução desenvolvida por Mamdani foi uma arquitetura baseada em regras e ações para substituir diretamente algoritmos de controle convencionais baseados nas ações proporcional, derivati vo e integral, amplamente usadas na indústria. Resumo Foi implementado um controle nebuloso (controle fuZZ)l) em uma fonte chaveada dotada de pr é-regulador Boost, com o objetivo de manter a sua tensão de saída fixa em um valor de referência, definido através de software, e modular a corrente de entrada para compensar a potência reativa. O controle nebuloso foi implementado em tempo real via programa em linguagem C e a entrada e saída foram executadas a partir de uma placa de convers ão A-DID-A. o paradigma básico de um controle fuZZ)l , segundo Mamdani, é uma estrutura baseada em regras da forma Palavras Chaves: Controle Nebuloso, Controle Fuzzy, Fonte Chaveada Boost, Compensação de potência reativa. SeA.OI é_eA02é_e Se AOl é _ e A02 é _ e Abstract It has been implemented a fuzzy control in a Boost converter with lhe objective of fix its output voltage in a reference value, defined by software, and to modulate lhe input current to compensate lhe reactive power. ·The fuzzy control was implemented in real time through C program and input and output were executed from a data acquisition card o que mapeia os atributos observáveis (AOI , A02, ou) de um dado sistema físico dentro dos atributos controláveis (ACI, AC2, ...). Os termos sublinhados são termos lingüísticos, como "médio ", "grande", ou "pequeno", definidos através de funções de pertinência compreensíveis por um computador. Keywords: Fuzzy Control, Boost Converter, Reactive Power Compensation. 1 EntãoACI é _ ; Então AC2 é _ , No sistema estudado, utilizando-se um controlador P.I. convencional, se consegue regular a tensão de saída dentro de certas faixas de operação, devido ao comportamento não linear deste conversor. Um controle mais elaborado, tal como um controle nebuloso, se faz necessário. INTRODUÇÃO Um conversor Boost trabalha de tal forma que a tensão na saída é sempre superior à tensão na entrada. O seu valor é determinado pelas comutações de um dispositivo chaveador. 2 No sistema apresentado neste trabalho, a tensão de .entrada é alternada e deseja-se obter um valor fixo de tensão contínua na . saída, determinado por um valor de referência especificado via software. O controle deste nível de tensão é realizado através de um controlador nebuloso. MODELAGEM DA PLANTA A SER CONTROLADA O circuito de potência da planta a ser controlada consiste basicamente de um chopper tipo Boost mostrado na figura 1 [2]. L O termo l6gica nebulosa, também conhecido por l ôgica fuZZ)l, vem se tomando bastante popular nas últimas décadas . Ela é uma generalização da lógica binária convencional e foi desenvolvida por Lotfi A. Zadeh, tomando-se uma teoria alternativa na área de controle de processos industriais, indústria aeroespacial e bioengenharia. O controlador usando D5 c Figura 1 - Circuito de potência da fonte Boost, 387 40. SBAI- Simpósio Brasileiro de Automação Inteligente, São Paulo, SP, 08-10 de Setembro de 1999 3 A saída do sistema é a tensão v« sobre a carga Z, que deverá ser controlada através do chaveamento dó transistor Q. REPRESENTAÇÃO DO SISTEMA A figura 4 representa o sistema realimentado [4]. O valor de referência, que é a tensão contínua desejada para a saída vo , é definida dentro do próprio programa que implementa o controlador nebuloso. Entrada Saída (u) Controlador .: Planta : (Vo) --+ Nebuloso Para a modelagem desse sistema, definiu-se como variáveis de estado a corrente no indutor (xl=i0 e a tensão no capacitor (X2=Vc) ' Considerou-se como entrada a tensão VE retificada pelos diodos Dl a D4. A descrição do sistema por variáveis de estado é realizada a partir das equações (1) e (2), (1) Figura 4 - Sistema com malha de realimentação. Vo=c" .[::J (2) A entrada física do controlador é a tensão de saída da fonte chaveada, ou seja, a tensão Vo sobre a carga, e a saída é o valor u. No entanto, o processamento interno do algoritmo nebuloso que realiza o controle tem como variáveis de entrada o erro . entre a referência e a tensão V o e a derivada do erro, chamada Serro, definida como o erro atual subtraído do erro anterior. onde o índice n indica o parâmetro relativo aos dois estados do circuito, on (n=I, transistor Q fechado) e of! (n=2, transistor Q aberto), respectivamente, representados nas figuras 2 e 3: V·EI t b9: 4 0 DIAGRAMA DE CONTROLE O diagrama de controle é mostrado na figura 5. A primeira etapa é composta por um regulador nebuloso digital responsável pela estabilização da tensão de saída. Figura 2 - Circuito no estado on. IVil t Figura 5 - Diagrama de blocos do controlador. Figura 3 - Circuito no estado of!. Este regulador gera um valor u, que multiplicará uma tensão envoltória IVil, sendo esta uma porcentagem da tensão de entrada retificada. Esta tensão é dividida no circuito em uma envolt6ria inferior e outra superior. Estas envoltórias serão os limites mínimo e máximo que a corrente iL no indutor pode alcançar a cada instante. Quando essa corrente atinge os limites, o transistor Q é chaveado, fazendo o indutor permutar entre carga e descarga, ou seja, se a corrente iL estava crescendo, passará a diminuir, e vice-versa, como mostra a figura 6. Considerando a resistência do capacitor Rc Rs, obtém-se os conjuntos de matrizes (AI> B, e Cl) e (A2, B2 e C2): A partir destas matrizes, pode-se obter a função de transferência da planta a partir de = CCsI - A)-I . [(.4, - + (B, - B2)VS1+ (C, - C2)X Figura 6 - Representação da modulação de corrente. onde voes) é a tensão de salda, d(s) é o ciclo de trabalho do transistor Q e X é o valor médio do vetor de estado [3]. O sinal u, então, controla a modulação da corrente no indutor, amplificando ou atenuando a envoltória de modulação. Substituindo os termos pelos valores utilizados na planta real, foi encontrada a seguinte função de transferência do sistema: Voes) d(s) = 2.5 .10- 6 • S2 s + 6.66 ·10-4 + 25000· s + 277.7 Após o estágio multiplicador, tem-se a etapa que varia o ciclo de trabalho da chave, o controle modo-corrente. Esta etapa compara a envoltória moduladora com a corrente no indutor e determina os chaveamentos do transistor nos - momentos corretos. (5) Tem-se, portanto, um zero em -0,00066 e pólos em -25000 e 0,011, aproximadamente. Assim, o sistema é estável. 388 40. SBAI- Simpósio Brasileiro de Automação Inteligente, São Paulo, SP, 08-10 de Setembro de 1999 5 ESTUDO DO SISTEMA G Inicialmente, o sistema foi implementado através de um controlador P.I. analógico para se obter um melhor conhecimento da planta. O sistema foi simulado em ambiente MATlAB com o controle P.I., de onde se obtiveram os dados necessários para se criar as funções de pertinência para as entradas e a saída do controlador nebuloso. Novamente o sistema foi simulado em ambiente MATIAB com o novo controlador nebuloso. Foram comparados os resultados da simulação com os dois controladores; sendo comprovada uma melhor resposta do controlador fuzz:y, que não apresentou overshoot, com uma boa velocidade de resposta. 6 REGRAS NEBULOSAS E FUNÇÕES DE PERTINÊNCIA Foram definidas, em paralelo com as funções de pertinência, nove regras básicas para controlar o sistema definidas na tabela seguinte: T ab el a l - Tbl a ea d e rezras ne b u Iosas EIra f- Entradas 6 10 12 Figura 9 - Função de pertinência da variável de saída u. As funções de pertinência de entrada realizam e fuzificação dos valores reais em valores nebulosos. Por exemplo, um erro de 15 Volts será interpretado como 100% positivo (POS), de acordo com a figura 7. Já a função de pertinência de saída é utilizada para a defuzificaçãa, ou seja, a transformação de um valor nebuloso para um valor numérico real. Com estas funções de pertinência e as regras já definidas, o controlador nebuloso foi implementado em ambiente MATIAB, obtendo-se um desempenho na simulação um pouco superior ao controlador P.I.. Partiu-se, então, para sua implementação prática. J, NEG ZE POS P M G P M p G ZE M POS p 6 7 NEG Derro IMPLEMENTAÇÃO DO CONTROLE NEBULOSO Foi criado um programa em C que implementa as rotinas necessárias à execução do controle nebuloso digital. O programa utiliza os seguintes métodos na obtenção do valor de saída: A partir dos figuras referentes à simulação P.I. e após vários ajustes, os perfis dos conjuntos de pertinência para o erro, Serro e sinal de controle u foram definidos como nas figuras seguintes: • Inferência minimo-máximo. • Defuzificação TVFI (Truth Value Flow Inference) por valor médio. POS O .circuito de potência da planta foi montado junto a um circuito que executa o controle modo-corrente, ou seja, comanda os gatilhamentos do transistor FET de acordo com o sinal de controle. · 15 A obtenção dos dados da placa e a inserção do sinal u no circuito são realizadas a partir de uma placa conversora AD/D-A. O programa foi implementado em um computador Pentium MMX 200MHz com 48Mbytes de memória RAM. 20 Figura 7 - Função de pertinência da variável de entrada erro. 8 pos ZE Após a compilação do programa em C, o programa gerado foi executado e os resultados gráficos foram obtidos a partir de um osciloscópio. 0.5 o RESULTADOS I A figura 10 mostra a tensão senoidal retificada de entrada (VE), medida sobre um divisor de tensão, e acima a corrente de entrada. ' Esta corrente está sob o efeito da modulação anteriormente descrito, e está em fase com a tensão de entrada, evidenciando um bom fator de potência. V\ o 0.2 0 .4 0.6 0.6 Figura 8 - Função de pertinência da variável de entrada &rro. 1 NEG=Negativo; ZE=Zero; POS=Positivo; P=Pequeno; M=Médio; G=Grande. 389 40. SBAI- Simpósio Brasileiro de Automação Inteligente, São Paulo, SP, 08-10 de Setembro de 1999 TekWiIll20k5/s H-- [ 610 ACQs T TekmD!JI 50 szs ]----j i 8 ACQs [ , I I --..: '/"". .i.i '-l--. t .'. .1 ! , ! .l. .. V' c.n r. 8Jul199 9 12:27: 12 ; . ; Tek miJIJI SO S/s A figura 11 mostra os pulsos de gatilhamento do transistor MOSFET na frequência de chaveamento máxima alcançada durante os testes , aproximadamente 52 kHz. Esta freq üência é superior à taxa de amostragem da placa A-DID-A utilizada, pois só depende dos valores das envoltórias determinados pelo controlador. samp te ; 5 \.111 • v 7 ACQs ····T ········ ········ ...t. . ··.. ····· ··l T 'r n I:DD!J 1.U V Figura 12 - Tensão de saída e sinal de controle do regulador nebuloso. Figura 10 - Tensão e corrente de entrada. Escala canal 1 (corrente): 1OOmAldiv; Escala canal 2 (tensão): 10V/div. Tek Run : SMS/s ., i . " l---I--T-+---J-----j ' .; i ' ···.··· ·.···t···:····;···· :····.···· . i .. "\. 2 . Figura 13 - Tensão de saída e sinal de controle de um regulador P.I. digital• .t- . ·· T ·· I _ ___ I'S I • __ :. ...l, . -:, I . ; _ Figura 11- Pulsos de chaveamento do transistC!r. •• Na figura 12 obteve-se o comportamento da tensão de saída e, abaixo, o sinal de controle para uma variação de carga . Devido ao sinal de controle u só poder alcançar valores entre Oe +lOV, limites da conversor D-A , ocorre a saturação após esta mudança brusca de carga, e a tensão de saída não consegue retomar ao seu valor de referência. Isto demonstra a limitação atual do controlador. 00 •• Carga (%) 80 7' 70 Figura 14 - Desempenho da fonte controlada para variação de carga. 9 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS Obteve-se sucesso na implementação do método nebuloso no controle da fonte chaveada Boost. O método fu zzy aparece como urna boa alternativa aos controles convencionais . Para efeitos de comparação, foi implementado um controlador P.I. digital utilizando a mesma interface do controlador fuzzy , e foi realizada a mesma variação de carga anterior, como é visto na figura 13. Também se perc ebe a ocorrência da saturação, porém o sinal de controle do algoritmo P.I . é menos suave do que o do controlador nebuloso. . o principal problema encontrado foi a saturação do sinal de controle em +lOV, limite do conversor D-A, que não permitiu um melhor desempenho do controlador (figuras 12 e 14). Isto pode ser resolvido através da amplificação deste sinal. Entretanto, o circuito de controle modo-corrente trabalha com amplificadores operacionais cuja excursão máxima dos sinais é 18V, o que poderia ser outro limite de saturação. Resolveu-se, então , eliminar o controle modo-corrente e efetuar o gatilhamento do transistor diretamente através da placa conversora D-A. A figura 14 mostra o gráfico da tensão de saída em função da variação percentual de carga. A fonte foi testada para uma impedância inicial de 340 ohms na saída, decrementando-a a um passo de 10 ohms. Novamente o problema de saturação limitou o desempenho da fonte, que foi regular para uma carga até 30 % menor que a inicial. 390 40. SBAI - Simpósio Brasileiro de Automação Inteligente, São Paulo, SP, 08-10 de Setembro de 1999 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Com esta mudança, o diagrama de controle da figura 5 será alterado. O controlador fuzzy passará a ter duas entradas: além da tensão de saída Vo do conversor, a corrente de entrada iL será necessária para determinar os momentos de chaveamento. O sinal de controle u continuará existindo, mas atuará internamente no programa, aumentando ou diminuindo o valor das envoltórias da corrente, que serão virtuais. A saída física do sistema será binária (on ou ofi), e efetuará diretamente o gatilhamento do transistor. O novo diagrama de controle é visto na figura 15. [1] Zadeh, L. A.; Langari R. e Yen, J. (1995) Industrial Aplications o/Fuzzy Logic and Inteligent Systems, IEEE Press, New York. [2] Mello, Luiz F. P. de. (1987) Projetos de Fontes Chaveadas, Ed.Érica, São Paulo. [3] Mohan, N; Underland, T. M. e Robbins, W. P. (1989) Power Electronics: Converters, Applications and Design, John Wiley & Sons, New York. Controlador Nebulos o [4] Nascimento Jr.; C. L. e Yoneyama, T. (1997) Inteligência Artificial em Automação e Controle, em revisão. [5] Ericsson, Robert W. (1997) Fundamentals of Power Electronics, Kluwer Academic Publishers, Massachusetts. Figura 15 - Diagrama de blocos do novo controlador. Esta mudança no sistema está atualmente em fase de implementação, pois requer algumas mudanças no software e ajustes no valor medido da corrente iL , além de ma boa velocidade da placa conversora A-DID-A. [6] McNeill, F. M.; Thro , Ellen. (1994) Fuzzy Logic - A Practical Approach, AP Professional, Orlando. [7] Sebastiãn, J.; Villegas, P. J.; Hernando, M. M. (1997) Correcci6n deI Factor de Potencia en Sistemas de Alimentaci6n Monofásicos. Anais do 4° Congresso Brasileiro de Eletrônica de Potência, pp. 14-28. Apesar do problema encontrado, a implementação em si do controlador nebuloso é simples. No entanto, o ajuste das regras .e funções de pertinência requer algum tempo. Uma desvantagem do controle nebuloso é a necessidade se conhecer a reação do sistema de acordo com as várias magnitudes do sinal de controle u, para se poder estimar suas funções de pertinência, o que não é necessário, por exemplo, para o controlador P.I. nesta mesma planta. Após a conclusão do trabalho, pretende-se implementar o sistema em um microcontrolador dedicado, eliminando-se a necessidade de computador. Visa-se a utilização de um dispositivo da família M68HC16, da Motorola. 10 AGRADECIMENTOS Os autores a!Vadecem o apoio financeiro ao CNPq, CAPES e ELETROBRAS. . 391