Artigo - Scientia Plena Jovem

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TRANSTORNO DE ANSIEDADE EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Richard Felippe Pinto Dantas1, Anabelle Sacramento da Paixão1, Yago Suey Santos Santana1, Vitória Maria
Santos Silva1, Stefany Resende Silva1, Nathalia Evelyn Santos Souza1, Christiane Ramos Donato2
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Colégio de Aplicação (CODAP) – Universidade Federal de Sergipe; Professora facilitadora.
[email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Segundo o dicionário, a ansiedade é "Desconforto físico
e psíquico; excesso de agonia; aflição", pode ocorrer
em qualquer período da vida, mas pode variar
dependendo do motivo. Nem sempre é algo fácil de
identificar, sendo confundida com “frescura” ou
“dengo”. A ansiedade infantil e adolescente é algo
natural, importante para o ser humano, como
mecanismo de defesa em situações de risco. Os quadros
mais frequentes são de transtorno de ansiedade de
separação, em torno de 4%, o transtorno de ansiedade
generalizada, 7,8%, e as fobias específicas, 7,8%. A
prevalência de fobia social fica em torno de 1%.
Aplicamos questionários a jovens entre 11 e 18 anos,
durante uma semana. Percebemos que diziam saber o
que significava, mas durante a pesquisa notamos a
dificuldade sobre o tema abordado: a ansiedade.
According to the dictionary, anxiety is "physical and
psychic discomfort, excessive agony, distress". It can
occur at any time in life, but may vary depending on the
cause. It is not always something easily identified, often
even the family underestimate it. Childhood and
adolescence anxiety is something natural, important for
the human being, as a mechanism of defense against
situations of risk. The most frequent types are
separation anxiety disorder, with prevalence around
4%, generalized anxiety disorder 7.8%, and specific
phobias 7.8%. The prevalence of social phobia is
around 1%, and the panic disorder is 0.6%. In the
research, questionnaires were applied to young people
aged 11-18. Although they said they knew what anxiety
was, by analyzing the answers, it was noticed that they
do not know how to define anxiety.
PALAVRAS-CHAVE:
Adolescente.
KEY-WORDS: Anxiety, Child, Teenager.
Scientia Plena Jovem
Ansiedade,
Criança,
vol. 5, n. 1, 2017
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INTRODUÇÃO
A ansiedade é um estado de humor desagradável, uma apreensão negativa e inquietação, é uma resposta a uma
ameaça desconhecida. A ansiedade é uma emoção normal e adaptativa que nos ajuda a enfrentar situações desafiantes,
mas se torna um problema quando passa a interferir no cotidiano das crianças e dos adolescentes, impossibilitando-os de
desfrutar da sua vida habitual. A apresentação da ansiedade pode variar de acordo com o período de desenvolvimento da
adolescência, aproximando-se mais de um padrão infantil ou adulto. Nos adolescentes, é mais comum encontrar
ansiedade relacionada à competência, às ameaças abstratas e às situações sociais, sendo menos frequentemente
associada a situações/pessoas/objetos desconhecidos, separação de cuidados e danos físicos. A ansiedade pode surgir
sob “formas diferentes”, a saber: Fobias - quando os medos nos fazem perder o controle; Ansiedade de separação medo de estar longe dos adultos, nos quais confia; Ansiedade generalizada - preocupação constante; Pânico - medo que
“paralisa”; Perturbação obsessivo-compulsiva - pensamentos e ações que não se conseguem controlar; Stress póstraumático - medo e stress associados a uma memória muito dolorosa (HELDT et al, 2013; MAGRINELLI;
KONKIEWITZ, 2010; GRAEFF; BRANDÃO, 1997)
A abordagem diante de um diagnóstico de transtorno de ansiedade pode ser dividida em: tratamento não
medicamentoso (incluindo suporte, psicoeducação e psicoterapia - de diferentes orientações) e tratamento
medicamentoso. As especificidades e gravidade de cada caso orientam a melhor forma do tratamento (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 1994).
Os adolescentes com sintomas ansiosos transitórios, ou sintomas leves, sem nenhum prejuízo funcional,
geralmente respondem a reasseguramento e suporte; alguns com sintomas leves e com prejuízo funcional, assim como
alguns com sintomas mais intensos, devem ser encaminhados a tratamento específico (AMERICAN PSYCHIATRIC
ASSOCIATION, 1994).
Tratamentos:
Tratamento Não Medicamentoso - Garante um espaço que o paciente possa expor seus sintomas, seu quadro
possa ser explicado, recebendo orientações sobre gravidade, prognóstico e manejo, configura uma etapa suportiva que,
embora simples, é muito importante. O ideal é que haja um médico de referência, com o qual se crie um vínculo e se
permitam as ações terapêuticas. Um espaço para os pares e familiares, ou outros cuidadores, deve ser oferecido,
engajando toda rede social mais próxima e aumentando sua habilidade em reconhecer e tolerar o desconforto do
adolescente, sem evitação ou intrusão7. Identificar os fatores ansiogênicos e esclarecer os sinais de gravidade e
evolução da doença dão segurança ao paciente mais jovem e propiciam a manutenção do tratamento. É importante
aproveitar a oportunidade para orientar o adolescente sobre uso de drogas e suas correlações com quadros de ansiedade,
inclusive sobre o risco de abuso, numa tentativa de reduzir sintomas ansiosos. Essa terapia de suporte e a psicoeducação
podem ser feitas pelo hebiatra, sem a necessidade de se recorrer ao especialista em saúde mental. A abordagem
psicoterápica é o tratamento inicial para transtornos de ansiedade em adolescentes e, sempre que possível, deve ser a
primeira opção. Há diferentes modelos psicoterapêuticos, cada um com suas especificidades, propostas e tempo de ação,
sendo a disponibilidade de um profissional que trabalhe junto ao médico assistente uma maneira sensata de escolher
qual forma de psicoterapia deve ser utilizada, inicialmente (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1993).
Tratamento Medicamentoso: De forma geral, os casos de ansiedade que necessitam de tratamento
medicamentoso, recebem a mesma abordagem, podendo ter pequenas variações segundo os diferentes quadros clínicos
apresentados. Nesse momento do tratamento, deve-se recorrer à inclusão ou, pelo menos, à orientação de um psiquiatra
para melhor manejo na utilização dos psicofármacos (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1993).
Os antidepressivos e os ansiolíticos são as classes de medicamentos mais estudados e utilizados para tratamento
de transtornos de ansiedade na adolescência; antipsicóticos, betabloqueadores, anticonvulsivantes e anti-histamínicos
são opções, cujo uso é preconizado como potencializadores e coadjuvantes. Como em toda prática médica, a escolha da
prescrição envolve fatores como: disponibilidade de tratamento, resposta prévia (própria e de familiares), tolerabilidade
e perfil de efeitos colaterais, relação custo versus efetividade e preferência do paciente. A prescrição deve ser a mais
simples possível, preferindo atingir doses máximas de um fármaco antes de se adicionar outros, sabendo ser a
polimedicação um fator que dificulta a adesão plena, principalmente em se tratando de adolescentes. Alguns exames
laboratoriais, controle das funções hepática e renal e dosagem de eletrólitos são importantes, quando do uso desses
medicamentos.
Os antidepressivos são os fármacos de primeira escolha nos transtornos ansiosos na adolescência; sua ação é
esperada a médio e longo prazo, podendo, inclusive, produzir discreta piora sintomática inicial. Dentre os
antidepressivos, os inibidores seletivos de serotonina, os tricíclicos e os inibidores de recaptação de serotonina e
noradrenalina são os mais utilizados (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1993; MAGRINELLI;
KONKIEWITZ, 2010).
Como o Transtorno de Ansiedade atrapalha no convívio social e educacional em criança e em adolescentes?
Dada a prevalência dos transtornos ansiosos nos adolescentes e suas vulnerabilidades biológica e psicossocial, que
podem ser entendidas como fatores de risco adicionais a esses transtornos, os médicos de adolescentes devem ser hábeis
em reconhecer e manejar esses quadros, inicialmente. Diferenciar o normal do patológico, avaliar globalmente o
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adolescente e seu meio, descartar quadros orgânicos, abordar uso de substâncias psicoativas e assumir que a assistência
médica assegura um importante suporte terapêutico inicial são as principais habilidades requeridas, a partir delas,
propõe-se um tratamento específico, psicoterápico e medicamentoso, se necessário. A possibilidade de um desfecho
desfavorável e as comorbidades associadas, também justificam a necessidade desse conhecimento, objetivando uma
melhora na qualidade de vida, enquanto adolescentes e na vida adulta (GENTIL; LOTUFO-NETO; BERNICK, 1997).
METODOLOGIA
ÁREA DE ESTUDO: O Colégio de Aplicação (CODAP) constitui-se como laboratório dos universitários, onde
os estágios realizam suas práticas de ensino, além de outras atividades. O colégio tem 14 turmas, do 6° ano do ensino
fundamental até o 3° ano do ensino médio. Há 7 anos o processo seletivo deixou de ser seleção e passou a ser sorteio
público.
TIPO DE PESQUISA: 1) Aplicada, em que tivemos acesso a dados sobre os alunos; 2) Descritiva; 3)
Documental, experimental, por questionário; 4) Qualitativa e quantitativa;
A pesquisa foi realizada, pois muitos alunos estão enquadrados no quadro da ansiedade. Nosso objetivo foi
conscientizar da existência do transtorno de ansiedade como um problema e falar sobre o assunto, o qual, muitas vezes,
é ignorado.
POPULAÇÃO/AMOSTRA: A pesquisa foi feita com 69 alunos, sendo 48% meninos e 52% meninas, com
idades que variam entre 11 e 18 anos. Foram entrevistados alunos de todas as turmas para que os dados fossem da
escola em geral.
INSTRUMENTOS UTILIZADOS PARA COLETA DE DADOS: Os dados foram coletados através de
questionários com 14 perguntas (objetivas e subjetivas) com o objetivo de saber se os alunos tinham conhecimento
sobre o assunto e também saber se os mesmos apresentam algum traço do transtorno.
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS NA COLETA DE DADOS: Os questionários foram aplicados na própria
escola e preenchidos pelos próprios entrevistados. Pois, por se tratar de questões pessoais, os alunos poderiam se sentir
constrangidos em nos responder.
PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS: Baseados nos questionários foram
feitos gráficos e porcentagens das perguntas objetivas e as subjetivas foram lidas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
68% dos alunos apresentam alguns sintomas de ansiedade que são considerados normais devido a algumas
situações, tais como provas. Entretanto, estão existindo cada vez mais casos em que esses sintomas estão afetando a
vida das pessoas e na maioria das vezes não estamos acostumados com tais sintomas exagerados, que podem se
transformar em transtornos, em que acontecem preocupações exageradas com a opinião dos outros. 52% raramente
passam por isso, mas 22% se sentem assim (Figura 1). Facilidade de se irritar, também, pode ser uma consequência da
ansiedade, presente em 70% dos alunos.
Preocupação em excesso com a opinião dos
outros
1%
13%
22%
Sim
Raramente
12%
Frequentemente
Nunca
Não respondeu
52%
Figura 1: Preocupação em excesso com a opinião dos outros.
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Os sintomas mais comuns sofridos por quem sofre desses transtornos de ansiedade começa pelo psicológico
ocorrendo, por exemplo: medos irracionais (medo de multidão, de voar), autoconsciência (medo de estar sendo
inconveniente), lembranças ruins (evento negativo que marcou sua vida), preocupação/perfeccionismo (pressão na vida
social e professional). 58% utilizam frases como: “sou um perdedor”; “Tenho que sair daqui antes que me envergonhe
mais”, o que pode ser um traço de fobia social, que pode ser visto também, pois 88% afirmam tentar ficar perto da
pessoa que confia em situações sociais. 61% também afirmam ser muito inseguro, o que pode ajudar no
desenvolvimento de vários transtornos. Sintomas físicos são relacionados à insônia, roer unhas, tensão muscular ou
dores, sem falar que podem levar a suor, tremedeiras, gagueira e, em casos mais graves, pode causar depressão e o uso
abusivo do álcool e drogas. 72% dizem que o uso de bebidas alcoólicas ou drogas induzem ao transtorno, o que é
parcialmente verdade, pois seria uma consequência futura, mas que anda junto com o transtorno. Sobre o tratamento,
58% dizem que deve ser feito com psicólogo e 38% com psicólogos e psiquiatras. Sobre medicamentos e
acompanhamento com psicólogo, 61% dizem ser o tratamento correto (Figura 2).
Quanto ao tratamento
1%
Medicamentos
38%
Acompanhamento com
psicólogo
61%
Os dois
Figura 2: Respostas para o tipo de tratamento mais adequado para o transtorno de ansiedade.
Quanto à ajuda familiar, a maior parte não respondeu e os que responderam usaram palavras como bom, útil ou
inútil, ou afirmaram que os pais não ajudariam.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho foi útil no aprendizado dos alunos, pois aprendemos a desenvolver pesquisa, tivemos acesso a artigos
científicos e sites oficiais, que muitos de nós não conheciam. Também tivemos oportunidade de aprender mais sobre um
assunto que está presente no dia a dia de todos, mas que, muitas vezes, é subestimado, por nem sempre ser considerado
como doença, e aprendemos a reconhecer os sintomas e as melhores formas de tratamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 4. ed. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1994. 845 p.
GENTIL, V.; LOTUFO-NETO, F.; BERNICK, M. A. Pânico, Fobias e Obsessões: A experiência do Projeto AMBAN.
São Paulo: EDUSP, 1997, 208 p.
GRAEFF, F. G.; BRANDÃO, M. L. Neurobiologia das doenças mentais. São Paulo: Lemos Editorial, 1997, 188 p.
HELDT, E.; ISOLAN, L.; MANSUR, M.A.; JARROS, R.B. de. Ansiedade, medos e preocupações: Transtornos de
ansiedade na infância e adolescência. In: KONKIEWITZ, E. C. (org.) Aprendizagem, comportamento e emoções na
infância e adolescência: uma visão transdisciplinar. Dourados-MS: Ed. UFGD, 2013. p. 113-123.
MAGRINELLI, A. B.; KONKIEWITZ, E.C. Bases neurobiológicas da ansiedade. In: KONKIEWITZ, E.C. (org.).
Tópicos de neurociência clínica. Dourados, MS: Editora da UFGD, 2010. p. 21-32.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10:
descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. 351 p.
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