BOLETIM

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Nº 1670 - Ano 36
5.10.2009
BOLETIM
Simpósio internacional na UFMG
discute tratamento da anemia falciforme
Expectativa é que a cura da doença seja alcançada nos próximos dez
anos
Equipe de Gana foi treinada por técnicos do Nupad
Ana Rita Araújo
A indicação de dosagens de ferro profilático para portadores da anemia falciforme,
estudo sobre a taxa de letalidade da doença e até a possibilidade de tratamento
representada pelo transplante de células-tronco estão entre os temas que serão
discutidos esta semana durante o V Simpósio Brasileiro de Doença Falciforme e
outras Hemoglobinopatias, que acontece em Belo Horizonte simultaneamente ao
Encontro Pan-Americano para Doença Falciforme.
Os dois eventos, que serão realizados até 7 de outubro, deverão traçar um
panorama animador da evolução dos tratamentos na área. “Em dez anos, a terapia
gênica poderá oferecer cura para a anemia falciforme”, avalia o professor Marcos
Borato, coordenador científico do Simpósio. Otimista em relação ao que a ciência
reserva aos portadores da doença, Marcos Borato vê com entusiasmo o grande
número de trabalhos científicos inscritos. “Há dois anos, em encontro como este,
foram apresentadas 52 pesquisas. Hoje são 168”, compara. Segundo ele, os dados
refletem o crescente esforço e a maior aplicação de recursos em pesquisas sobre a
doença.
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Também serão abordados no evento o quadro internacional da anemia e
perspectivas de cooperação, a exemplo do recente acordo entre o Ministério das
Relações Exteriores do Brasil e Gana. Pelo acordo, equipe do país africano recebeu
treinamento no Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (Nupad) da
Faculdade de Medicina da UFMG sobre procedimentos laboratoriais em triagem
neonatal para o diagnóstico precoce das hemoglobinopatias. “Temos observado no
Brasil uma grande integração entre o trabalho médico, técnico e social.
Especialistas do mundo inteiro vão ficar surpresos ao ver como essa área é
desenvolvida aqui”, antecipa o médico ganês Kwaku Ohene-Frempong. Pediatra e
pesquisador radicado nos Estados Unidos, Frempong é presidente da Fundação de
Doença Falciforme de Gana.
Ferro profilático
Em resposta a uma antiga dúvida no tratamento, pesquisa concluída recentemente
na UFMG confirma que crianças portadoras da doença podem receber dosagens de
ferro profilático, recomendadas para todos os bebês de seis meses a dois anos.
“Chegamos à conclusão de que os portadores da anemia falciforme (leia mais nesta
página) na forma SC devem receber a dosagem profilática, enquanto os que têm a
forma SS devem interromper essa profilaxia quando tomam transfusão de sangue”,
informa Marcos Borato.
Outro assunto importante e que merece destaque será o transplante de medula,
técnica internacionalmente aceita, mas que ainda não é reconhecida no Brasil pelo
Ministério da Saúde para tratamento da anemia falciforme. O tema será abordado
no simpósio pelo brasileiro Vanderson Rocha, ex-residente do Hospital das Clínicas
da UFMG e diretor-científico do Projeto Eurocord, na França. Marcos Borato explica
que já há formas de identificar crianças que vão desenvolver acidente vascular
cerebral (AVC), candidatas ao transplante. Trabalho desenvolvido na UFMG com
financiamento da Fundação Hemominas mede, por meio da técnica de Doppler
Transcraniano, a velocidade do fluxo arterial no cérebro. “Quando ele é muito alto,
há um estreitamento dos vasos, e mais de 50% desses indivíduos vão desenvolver
AVC, o que torna necessária a transfusão de sangue.” Nesses casos, a indicação é o
transplante de medula, para que o paciente não precise fazer transfusão pelo resto
da vida.
Na área epidemiológica, será apresentado estudo realizado na UFMG sobre
mortalidade da doença falciforme no Brasil. Com base em dados obtidos pelo
Nupad, 1.378 pacientes foram acompanhados, de 1998 a 2005. O estudo revelou
que a taxa de letalidade das crianças que são tratadas de anemia falciforme é de
3,5% no primeiro ano de vida. Entre as crianças que têm a forma SS da doença,
considerada mais grave, o índice chega a 10% até os dez anos de idade. “É uma
taxa alta”, analisa Marcos Borato. Ele acredita na redução desse percentual,
sobretudo com o auxílio da pesquisa epidemiológica e de educação continuada dos
médicos e das famílias.
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Sintomatologia diversificada desafia ciência
Doença falciforme é um termo genérico que designa um grupo de desordens
genéticas cuja característica principal é a presença do gene da hemoglobina
variante S nas hemácias. Esta hemoglobina faz com que, em determinadas
circunstâncias, as hemácias adquiram a forma de foice (daí o nome falciforme).
Quando se tornam rígidas, aderem à parede dos vasos sanguíneos, obstruindo-os e
dificultando a circulação do sangue. Apresenta-se em duas formas – SS e SC –, de
acordo com a combinação de hemoglobinas variantes. Além da hemoglobina S,
ligada à doença falciforme, são conhecidas atualmente 1.020 hemoglobinas
variantes. Uma das linhas da pesquisa básica na área busca entender a grande
variação da sintomatologia da anemia falciforme. “Dentro da forma SS, por
exemplo, que é a mais comum, algumas crianças apresentam quadro
extremamente grave, necessitam ser internadas com frequência, têm AVC e outros
sintomas, enquanto outras diagnosticadas com a mesma forma quase não têm
sintomas”, compara o professor Marcos Borato.
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