Atendimento psicológico a pacientes com hemofilia e anemia falciforme Andressa Verônica Neves Lucas da Silva, Érika Arantes de Oliveira e Manoel Antônio dos Santos1 1 Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, USP, SP 1. Objetivos Este trabalho tem como objetivo fornecer um panorama da experiência proporcionada por um estudo em psicologia na área da saúde, envolvendo atendimento psicoterápico a pacientes de hemofilia e anemia falciforme atendidos pela Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto. 2. Material e Métodos Escolheu-se três casos para demonstração da importância da psicoterapia com pacientes de hemofilia e anemia falciforme. A estratégia psicoterapêutica adotada é de duração breve, uma vez que a proposta é tratar aspectos emocionais associados ao enfrentamento da enfermidade crônica, buscando-se delimitar e circunscrever o foco da intervenção a problemas relacionados a essa questão. Foram realizadas aproximadamente 12 sessões, uma por semana, com cada paciente. 3. Resultados e Discussão A. é do sexo masculino, 30 anos, com hemofilia e AIDS. Teve neurotoxoplasmose, que deixou como seqüelas a perda da visão no olho direito e um problema no joelho, que o faz mancar. O paciente não aceita essa limitação em sua locomoção e aponta-a como seu maior problema. Refugia-se em casa e prefere relacionar-se pela internet. Queixa-se de não ter amigos e de sentir-se solitário em casa. Aos poucos, o paciente vem recuperando sua autoestima e estabelecendo novos relacionamentos que não pertencem apenas ao plano virtual. S. tem 25 anos e é do sexo masculino, tem anemia falciforme, hepatite B e artrite. Por isso, caminha com o auxílio de uma muleta, e teve que abandonar seu emprego. Acredita que os amigos se afastaram depois que ficou doente. Terminou um casamento há 2 anos, e não quer namorar agora, pois acredita que uma namorada interferiria no bom andamento de seu tratamento. Tenta-se fortalecer sua autoestima e ajudá-lo na compreensão de que seus problemas de saúde não impedem que ele trabalhe, desde que o emprego não prejudique seu estado, nem que saia de casa para se divertir, respeitando-se suas limitações atuais. E. é do sexo feminino, tem 23 anos e sofre de anemia falciforme. Queixa-se de muito nervosismo, especialmente em relação ao marido, que sai com os amigos solteiros e não a avisa. E. desconfia do que pode acontecer nessas saídas do marido, e as mesmas são motivos de freqüentes discussões entre o casal. A paciente sente-se muito só e queixa-se de falta de diálogo no relacionamento e de sua necessidade de carinho e atenção. A psicoterapia tenta reforçar nessa paciente a importância do diálogo, da comunicação num relacionamento a dois, como forma de resolução de dúvidas e conflitos. 4. Conclusão Observa-se, na prática clínica, que estas doenças hematológicas não malignas desencadeiam angústia a alguns pacientes, comprometendo seus relacionamentos interpessoais, empregos e sua auto-estima. Tais sofrimentos são agravados em casos em que aparecem, concomitantemente a doença e ao tratamento, desajustes na vida familiar e/ou social. Nos três casos foi possível detectar a necessidade de um atendimento psicológico e a possibilidade de mudança através dessa intervenção. 5. Referências Bibliográficas OLIVEIRA, E. A.; SANTOS, M. A. A inserção da psicologia em uma equipe multidisciplinar de atendimento ao hemofílico. Em: CONTEL, J. O. B. (Org.) 8o Ciclo de Estudos em Saúde Mental. Ribeirão Preto: São Francisco Gráfica Editora, p. 284 (2000).