EPILEPSIA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: UM

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EPILEPSIA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: UM ESTUDO
BIBLIOGRÁFICO
ROSALEN, Camila1;LUNARDI, Luciane2;PASQUALI, Carine Rosália3;
CARVALHO, Susana4;SOSSANOVICZ, André5; CORRÊA, Leticia Garriboti6;
VENDRUSCULO, Carine7
Resumo: A epilepsia trata-se de uma síndrome que tem sua sintomatologia neurológica
caracterizada por crise epiléptica (CE), podendo ser intermitente e autolimitada, que ocorre
sem a presença de toxicologia metabólica e estado febril. O objetivo desse estudo é condensar
conhecimentos sobre este distúrbio e meios de atendimento de enfermagem aos pacientes
pediátricos, contribuindo para a melhor qualidade de vida dessas crianças e adolescentes, bem
como sua família. Trata-se de uma revisão bibliográfica de artigos contidos na Biblioteca Virtual
de Saúde – BVS e obras bibliográficas clássicas que constam na biblioteca da Unochapecó. Os
dados foram categorizados em três unidades temáticas: primeira dados clínicos de
acompanhamento a pacientes com epilepsia - aborda as questões da síndrome: diagnóstico,
etiologia das crises convulsivas, tratamento, prognóstico, tais informações provêm basicamente
de obras bibliográficas. A segunda categoria, aspectos da relação familiar e particularidades
das crianças/adolescentes, abordamos a forma com que as famílias e as
crianças/adolescentes lidam com a presença da síndrome, onde os autores citam muitos dados
que expõem a problemática enfrentada diante do diagnóstico e a dificuldade de adesão ao
tratamento farmacológico. A terceira temática por sua vez é a assistência de enfermagem a
pacientes epilépticos, aqui poucos artigos foram encontrados sendo utilizado em sua maioria
livros, o cuidado de enfermagem vai desde a orientação sobre a patologia quando acontece o
diagnóstico clínico até os cuidados intensivos em caso de crise epiléptica. A saúde mental
ainda é um desafio para a saúde pública no Brasil, pois ainda vigora-se mesmo entre os
profissionais da saúde, informações errôneas e preconceituosas, em índices ainda superiores
na população em geral. Evidencia-se a pouca quantidade de publicações de enfermeiros,
sugerindo que poucos são os profissionais atuantes junto a tal demanda ou que mesmo em
contato com esse público essa classe pouco relata suas atividades e ações.
Palavras-chave: Epilepsia. Saúde mental. Enfermagem.
1. Introdução
A epilepsia trata-se de uma síndrome que tem sua sintomatologia
neurológica caracterizada por crise epiléptica (CE), podendo ser intermitente e
autolimitada, que ocorre sem a presença de toxicologia metabólica e estado
febril. Tais crises provêm de anormalidades na atividade elétrica e paroxística,
em uma ou mais partes do córtex cerebral, podendo ser causadas por diversas
1 Acadêmica do 9º período de enfermagem da Unochapecó. Bolsista Pet Saúde, email:
[email protected].
2 Acadêmica do 9º período de enfermagem da Unochapecó. Bolsista Pet Saúde, email:
[email protected].
3 Acadêmica do 9º período de enfermagem da Unochapecó. Bolsista Pet Saúde, email:
[email protected].
4 Acadêmica do 9º período de enfermagem da Unochapecó. Bolsista Pet Saúde, email:
[email protected].
5 Acadêmico do 9º período de enfermagem da Unochapecó. Email: [email protected]
6 Acadêmica do 9º período de enfermagem da Unochapecó. Email: [email protected].
7 Docente do curso de enfermagem da Unochapecó. Email: [email protected]
doenças/alterações neuroquímicas ou estruturais. Portanto, temos diferença
entre crise epiléptica e epilepsia. A primeira como já citado, decorre de
alterações fisiológicas causadas por patologias estas crônicas ou não, e a
epilepsia por sua vez é proveniente de anormalidades epileptogênicas de
caráter persistente no cérebro, possibilitando crises espontâneas e recorrentes,
por somente um período curto de tempo e/ou por alguns anos, e outros casos
durante toda a vida do paciente (JESUS; NOGUEIRA, 2008; GITAÍ et al., 2008;
ROCHA; BATISTA; NUNES, 2004).
As crises epilépticas, segundo a International League Against Epilepsy,
podem ser classificadas seguindo dois critérios específicos, sendo um a
localização do foco epileptogênico e o outro decorrente da sua etiologia. O
critério de foco epileptogênico, define que a manifestação de atividade
epileptiforme ocorre por meio de uma região cortical, de onde se origina crises
focais; ou atingir simultaneamente os dois hemisférios, que causa as crises
generalizadas. O segundo critério define que as CE podem pertencer a três
diferentes grupos: idiopáticas, quando tem ligação a hereditariedade;
sintomáticas, quando provem da manifestação de alterações decorrentes de
patologias, e o terceiro grupo as de origem criptogênicas, que não possuem
origem/ etiologia conhecida (JESUS; NOGUEIRA, 2008).
Tal distúrbio é considerado grave devido à alta morbi-mortalidade, e na
ausência de tratamento, os índices apresentam-se ainda maiores se
comparado
aos
pacientes
em
acompanhamento.
Estudos
realizados
expuseram que os pacientes que fazem uso fármacos para o tratamento da
epilepsia correspondem por 10 a 40% do total de indivíduos com o distúrbio
(FERREIRA; TABOSA E SILVA, 2009; GITAÍ et al., 2008; MIN; SANDER,
2003).
Apesar de não ser um fenômeno recente, como demonstram
documentos datados de 4 mil anos atrás, provenientes do oriente; e ter
tratamento farmacológico eficaz (brometo) disponível a mais de 100 anos, com
o uso de medicamentos de baixo custo que propiciam o controle das crises em
sua grande maioria garantindo a esses indivíduos uma vida normal (70%),
ainda há uma baixa adesão ao tratamento por parte dos usuários (MIN;
SANDER, 2003).
A epilepsia continua sendo um desafio para o sistema primário de
saúde, onde muitos médicos, inclusive uma grande parcela de neurologistas,
não apresentam-se preparados para o atendimento ao paciente com tal
distúrbio (MIN; SANDER, 2003). Quanto a enfermagem, segundo a portaria
ministerial GM/MS nº 1.161, de 7 de julho de 2005, a atenção ao paciente com
doença mental deve ser como as demais politicas de saúde centralizadas na
atenção básica representada pela Estratégia de Saúde da Família(ESF), e
sendo o enfermeiro um profissional atuante nesta estratégia muitas vezes os
pacientes com problemas mentais, como no caso de epilepsia acabam
procurando atendimento e tanto o enfermeiro como os demais profissionais da
equipe de saúde não sabem como lidar e que orientações prestar a essa
demanda (BRASIL, 2005).
Tendo em vista tal problemática, realizamos uma pesquisa bibliográfica
com o objetivo de condensar informações que servirão para aquisição de
conhecimentos sobre este distúrbio, e que podem servir de subsidio teórico
para o atendimento de enfermagem aos pacientes que se enquadram segundo
o Estatuto da Criança e do Adolescente, na faixa etária caracterizada como
criança (0 – 11 anos) e adolescente (12 – 18), contribuindo para a melhor
qualidade de vida dessas crianças e adolescentes, bem como sua família
(BRASIL, 2001).
2. Metodologia
Realizamos uma pesquisa bibliográfica no banco de dados da Biblioteca
Virtual em Saúde – BVS, utilizando como descritor ‘epilepsia’ e a
complementamos com obras bibliográficas clássicas disponíveis na biblioteca
da Universidade Comunitária da Região de Chapecó – Unochapecó. Em busca
nos arquivos, foi utilizado o descritor ‘pediatria’ e refinada a busca de modo a
selecionar apenas livros excluindo-se automaticamente outras obras. A partir
dos artigos apresentados selecionamos os de autoria nacional, publicados a
partir de 2001 até o ano de 2010 e os livros foram lidos e utilizados os que
continham informações acerca da epilepsia, sem pré definição de ano de
publicação.
3. Resultados
A partir do descritor e após leitura e análise dos artigos acabaram
restando 15 trabalhos que foram utilizados para a realização desse trabalho,
pois abordavam a epilepsia na criança e adolescência, ou mesmo traziam
importantes
informações
acerca
dessa
síndrome.
Quanto
às
obras
bibliográficas, após análise das mesmas, dos 57 títulos que o sistema da
biblioteca refinou, apenas 07 obras foram selecionadas, onde o critério de
seleção nestas foi constar informações sobre epilepsia, já que o descritor
utilizado foi pediatria.
As bibliografias e artigos foram categorizados em três unidades
temáticas, a primeira dados clínicos de acompanhamento a pacientes com
epilepsia - aborda as questões da síndrome: diagnóstico, etiologia das crises
convulsivas, tratamento, prognóstico; a segunda os aspectos da relação
familiar e particularidades das crianças/adolescentes, onde abordamos a forma
com que as famílias e as crianças/adolescentes lidam com a presença da
síndrome, e a terceira por sua vez é assistência de enfermagem a pacientes
epilépticos.
3.1. Dados clínicos de acompanhamento a pacientes com epilepsia
Diagnóstico da doença - O diagnóstico é principalmente clínico e está
baseado na descrição da crise fornecida pelo paciente ou por outra pessoa que
esteja presente naquele momento, especialmente quando há perda de
consciência. O eletrencefalograma (EEG) é o principal método diagnóstico das
crises convulsivas e das epilepsias. Ele pode se apresentar sem alterações no
período intercrises, o que não afasta o diagnóstico de epilepsia (FERREIRA,
2005).
Lopez e Junior (2008) trazem que se deve atentar que algumas
manifestações clínicas periódicas, como perda de fôlego, tiques, sincopes e
alguns distúrbios do sono podem ser confundidos com crises epiléticas.
Para Wong (1997), um exame físico e neurológico completo, incluindo a
avaliação
do
desenvolvimento
da
linguagem,
do
aprendizado,
do
comportamento e das capacidades motoras, freqüentemente fornece indícios
de distúrbios neurológicos.
De acordo com Ferreira (2005), outro fator que auxilia no diagnóstico é o
uso da ressonância magnética (RM), a qual possibilita a visualização de
pequenas áreas lesadas, impossíveis de serem detectadas na tomografia,
antigamente o único meio de analise do cérebro por imagem (TC). No entanto
o principal papel RM é no diagnóstico da etiologia das epilepsias intratáveis
farmacologicamente, como os distúrbios de migração neural, sendo um método
indispensável na programação da cirurgia da epilepsia.
Etiologia das crises convulsivas - Behrmn, Kliegman e Jenson (2005)
trazem que as crises são mais comuns nos lactentes. Na população pediátrica,
algumas crises são especificas da idade, tal observação surge, pois estudos
sugerem que o cérebro em desenvolvimento seja mais suscetível a alguns
tipos de crises do que o cérebro de um adulto que apresenta maior
desenvolvimento, como é o caso de crise convulsiva por hipertermia
(MARCONDES, 2003).
Embora as crises epiléticas possam ocorrer em qualquer idade, elas
constituem uma situação patológica do jovem; até os 20 anos, 90% dos
indivíduos que serão epiléticos já iniciaram as suas crises; entre as crianças,
60% tiveram sua primeira crise até os 3 anos, sendo que a maior parte acorre
no primeiro ano de vida. Estudos demonstraram a predominância da epilepsia
no sexo masculino e nos grupos socioeconômicos mais desfavorecidos
(FERREIRA, 2005).
Corroborando com o autor citado acima, Lopez e Junior (2008), trazem
também que o inicio das crises dá-se precocemente onde o pico maior de
incidência ocorre entre os 9 e 18 meses, mas quanto a predominância no sexo
masculino e grupos socioeconômicos menos favorecidos os autores citam que
isto não acontece, e trazem também que tais crises manifestam-se
independente da localização geográfica que o paciente reside e a raça que o
mesmo pertence.
Tratamento - Segundo Lopez e Junior (2008), o tratamento deve ser
iniciado sempre quando houver certeza do diagnostico, com droga única e
eficaz, que seja bem tolerada pela criança e seja de um custo acessível à
família. Optar sempre que a farmacologia da droga permitir o mínimo de doses
diárias para facilitar a adesão ao tratamento.
Quando obtido o sucesso no controle das crises, a suspensão do
tratamento deve ser feita de modo lento e progressivo, depois de um período
de tempo que varia de 2 a 5 anos. A variabilidade desse tempo tem como
consideração a história natural da síndrome epilética, número de crises
anteriores ao inicio do tratamento, persistências de alterações significativas no
EEG, além claro presença de lesão cerebral e estrutural, e retardo mental
(FERREIRA, 2005).
De acordo com o autor acima citado, o objetivo essencial do tratamento
do estado de mal epilético (EME) é evitar a lesão cerebral definitiva. Por esse
motivo, torna-se de fundamental importância controlar a atividade convulsiva
ainda no estágio I. A administração de drogas antiepileticas (DAE), a
manutenção adequada das condições metabólicas e cardiorrespiratórias, e a
investigação criteriosa das possíveis causas do EME são as medidas a serem
tomadas. Quando o quadro evolui para o estagio II, o paciente deve ser
transferido para a UTI e monitorado. Drogas anestésicas são necessárias no
tratamento.
Conforme
Behrmn,
Kliegman
e
Jenson
(2005)
as
drogas
anticonvulsivantes mais comuns usadas são: carbamazepina, clobazan,
clonazepan, etossuximida, gabapentina, lamotrigina, nitrazepan, paraldeido,
fenobarbital, fenitoina, primidona, topiramato, tiagabina, acido valproico,
vigabatrina. Além das medicações mencionados pelo autor supracitado, Lopez
e Junior (2008) acrescenta também oxcarbomazepina e valproato.
Prognóstico - Por fim foram analisados dados sobre o prognostico dentre os
autores selecionados, e apenas Wong (1997), cita que a evolução e o
prognostico para crianças com convulsões depende da etiologia, do tipo de
convulsão, da idade de inicio, histórico familiar e médico. Em um estudo com
crianças com epilepsia, 55% destas cresceram e não tiveram mais convulsões
sem uso de medicação durante um período de acompanhamento médico de 7
anos. Tal estudo ainda traz que o prognóstico após o tratamento do estado
epilético é favorável, onde a maioria das crianças provavelmente não
apresentara nenhum tipo de comprometimento intelectual.
3.2.
Aspectos
da
relação
familiar
e
particularidades
das
crianças/adolescentes
A família da criança/adolescente com epilepsia - O diagnóstico dessa
doença, para muitos pais, pode ser a perda de uma criança sadia. Essa
situação pode ocasionar o aparecimento de sentimentos e emoções como, por
exemplo, raiva, medo e depressão, influenciando negativamente e diretamente
no ambiente familiar (FERNANDES; SOUZA, 2001).
Segundo Behrman, Kliegman e Jenson (2005) e que concorda Schmitz
(2000), quando é confirmado o diagnóstico, os pais obrigatoriamente
necessitam de orientação acerca da patologia e suas particularidades (crises
epilépticas), e a importância/objetivo do tratamento farmacológico seguido
conforme as orientações médicas; alem claro dos possíveis efeitos colaterais
específicos de cada anticonvulsivante. Com o entendimento do objetivo do uso
da medicação os pais geralmente compreendem a ação fundamental. Schmitz
(2000), nos trás ainda que a criança pode e deve, manter uma vida normal,
como freqüentar a escola/universidade/cursos e etc., só ressalva que os
professores devem ser orientados também sobre a patologia, como reconhecer
e as condutas a serem realizadas em caso de convulsão. Para Behrman,
Kliegman e Jenson (2005), o entendimento dos pais aliados a cooperação
entre os eles, o médico, a escola e a criança, beneficia uma melhora
significativa na qualidade de vida desses pacientes.
O sentimento de insegurança com o futuro do filho, mesmo quando os
pais são orientados é freqüente, caracterizado pelo medo de maior
comprometimento da saúde do filho, como possibilidade de uma lesão
subjacente não diagnosticada, e o convívio do individuo na sociedade
(FERNANDES; SOUZA, 2001). Os pais devem ser tranqüilizados que a
criança/adolescente como citado anteriormente poderá ter uma vida normal,
freqüentando normalmente uma escola, casar e ter filhos, e que na maioria dos
casos com o tratamento farmacológico há controle ou redução das convulsões
inviabilizando o surgimento de complicações (lesões neurológicas), e que na
ausência das crises e lesões advindas dela, a patologia não irá diminuir a vida
de seu filho (WONG, 1997). Mas Scorza e colaboradores (2007) e Valente e
colaboradores (2004) trazem dados alarmantes sobre a morte súbita em
paciente epilépticos, a qual acontece na maioria dos casos em decorrência de
alterações da função cardiovascular.
Fernandes e Souza (2001) expõem dados de pesquisas onde as
mesmas referem que o diagnóstico de epilepsia trás um peso para a criança e
também para sua família, e caso os mesmos não sejam devidamente
orientados acabam lidando de maneira inadequada com seus filhos. Muitos
pais passam a superproteger seus filhos, pois os mesmos entendem que
qualquer situação em que o seu filho fica nervoso, poderá desencadear a crise.
Segundo Behrman, Kliegman e Jenson (2005) os pais devem ser orientados a
tratar seus filhos da forma mais normal possível, não deixando de punir ou
corrigir essa criança quando necessário, o que corrobora Wong (1997), pois a
criança/adolescente precisa entender que mesmo com epilepsia ele pode ter
uma vida normal, e que ele também tem limites.
Devido ao caráter muitas vezes genético da epilepsia, conforme
Behrman, Kliegman e Jenson (2005) deve-se orientar os pais que no caso de
nova gestação o filho(s) também pode vir a ter a patologia.
Outro fator importante citado por Fernandes e Souza (2001) é o
preconceito que a sociedade ainda possui em relação a indivíduos com
epilepsia, o que na sua maioria é causado por falta de informações acerca da
síndrome. Por isso há a necessidade de se implantar grupos de apoios, tanto
para os pais como para a população em geral, possibilitando o esclarecimento
sobre a patologia (quando o médico não o faz), aumento das informações e
suporte psicológico diminuindo o estresse e a ansiedade, permitindo aos pais
exporem suas duvidas e visualizar que outros pais compartilham da mesma
realidade. A partir da desmistificação da doença, ou seja, das crenças, torna-se
cada vez melhor a convivência familiar.
A criança/adolescente com epilepsia - A atitude positiva da criança em
relação a sua patologia é mais evidente naquelas que possuem um apoio
familiar. A autoconfiança bem como a auto-estima da criança é formada a partir
da percepção da mesma em relação às reações ou atitudes das outras
pessoas, além de afetar também seus sentimentos. A rejeição dos pais com
filhos epilépticos faz com que essa criança torne-se agressiva e apresente
problemas comportamentais. As dificuldades escolares aliadas à dependência
aos problemas comportamentais evoluem de tal forma, que em muitos casos,
tornam-se mais graves até que as próprias convulsões (WONG, 1997).
As crianças e os adolescentes com o diagnóstico de epilepsia devem ser
incentivados a terem um julgamento próprio, além de que quando possuírem
uma idade onde pode se delegar algumas responsabilidades a ele; se deve
orientá-lo desde o diagnóstico sobre a sua patologia e a importância do
tratamento a fim de que auxilie ou mesmo se responsabilize pelo uso de sua
medicação (WONG, 1997).
A adolescência é um período de liberdade, porem deve ser enfatizado
algumas restrições relacionadas a estes pacientes, como, por exemplo, em
alguns estados (dados norte americanos) não é permitido que pacientes com
epilepsia obtenha carteira de habilitação (WONG, 1997). Outra restrição é o
consumo de álcool, principalmente pelos adolescentes epiléticos, pois a ingesta
do álcool precipita o surgimento das crises epiléticas, infelizmente não
encontramos referencias sobre as implicações do uso de demais substancias
(SCHMITZ, 2000).
3.3. Assistência de enfermagem a paciente com diagnóstico de epilepsia
Dentre todas as referências selecionadas para este estudo (artigos e
obras bibliográficas) apenas 4 nos auxiliaram na construção da assistência de
enfermagem as crianças e adolescentes com diagnóstico de epilepsia.
Atualmente verifica-se que a epilepsia possui a maior prevalência dentre
todas as condições neurológicas graves, com percentuais variando de 1 a 3%
da população mundial, e na população pediátrica, os índices de acometimento
estão entre 0,5 a 1%. Cerca de 50% dos casos de epilepsia tem início na
infância e adolescência (GITAÍ et al., 2008; ROCHA; BATISTA; NUNES, 2004;
MIN; SANDER, 2003).
A enfermagem pode ter grande importância no tratamento da epilepsia.
Com a elaboração de um plano assistencial humanizado realizado através da
aplicação da sistematização da assistência de enfermagem, o enfermeiro
poderá levantar os diagnósticos de enfermagem além de detectar os fatores de
risco, tanto em pacientes hospitalizados como na atenção básica (JESUS;
NOGUEIRA, 2008).
Quando realizamos uma entrevista com os pais podemos colher
informações sobre o desenvolvimento da criança e do adolescente, e devemos
solicitar sobre a ocorrência de crises, com que frequência se manifesta,
possíveis situações que as desencadeiam, tratamento realizado, aceitação do
paciente dentre outros (SCHMITZ, 2000). A orientação é continua, e as
informações trazidas pelos pais necessitam ser analisadas, pois segundo
Jesus e Nogueira (2008) vários são os pacientes que não aderem ao
tratamento, e o relato de crises frequentes mesmo com tratamento é um indicio
disso. A enfermagem tendo como um dos seus objetivos a orientação familiar,
a partir do levantamento das informações há a viabilização desse objetivo, pois
lhe oferece embasamento sobre qual a necessidade do paciente/familiar. Com
a entrevista é possível também estabelecer um vinculo com o paciente/pais, e
isso mostra ao ouvinte que em caso de duvidas e questionamentos ele tem a
quem recorrer (SCHMITZ, 2000).
Atentando-se a informação citada anteriormente de Lopez e Junior
(2008), onde manifestações clínicas periódicas acabam por ser confundidas
com crises epilépticas, a enfermeira deve questionar e certificar-se que os
pais/responsáveis sabem reconhecer quando o paciente apresenta crise e a
classificar o tipo de crise conforme os sinais e sintomas (SCHMITZ, 2000).
Segundo Wong (1997) o registro minucioso das convulsões (frequência, tempo
de duração, local e etc.), permite através da analise dos dados demonstrar um
possível padrão das crises epiléticas. Esse registro igualmente possibilita
perceber quais são os sinais que a criança ou adolescente demonstra antes da
crise, e reconhecimento de possíveis fatores externos desencadeantes. Com o
diagnóstico desses fatores, se possibilita propor ao paciente/pais realizar
mudanças ou mesmo evitar essas situações, que poderão minimizar ou evitar
as crises.
Os horários mais convenientes para a administração dos medicamentos
à criança podem ser organizados conforme a rotina dos pais, o enfermeiro(a)
pode orientar que o horário para a medicação pode coincidir com rotinas
diárias,
como nas refeições ou na hora de dormir, pois assim há menos
chances de
esquecimento. Quanto às medicações deve-se alertar os
familiares de possíveis efeitos colaterais, como as alterações comportamentais
que são causadas pelas medicações primidona, fenobarbital e fenitoína
(WONG, 1997).
No caso de vômito e febre, o autor supracitado traz que com a presença
dessas alterações os pais devem avisar a um profissional de saúde, pois o
vômito pode fazer com a medicação não seja absorvida na quantidade certa e
a febre pode aumentar o metabolismo, e os dois sintomas poderão vir a
desencadear uma crise convulsiva.
Quando nos deparamos com uma criança ou adolescente no momento
da crise epilética, independente dela estar de pé ou sentada, a mesma deve
ser deitada no chão imediatamente, em decúbito lateral; sempre protegendo a
cabeça de possível trauma, facilitando a drenagem salivar, pois como há perda
do refluxo da deglutição a criança está em risco de aspiração e oclusão das
vias aéreas. Após a crise convulsiva a criança permanece deitada para
repouso (WONG, 1997).
Schmitz (2000) por sua vez, traz informações que a nosso critério,
podem complementar o que o autor acima citado refere no atendimento a
paciente em crise como manter o ambiente calmo afastando as pessoas
desnecessárias ao atendimento; estender o pescoço e aspirar à orofaringe com
o paciente em decúbito lateral; administrar oxigênio com máscara; retirar
objetos duro ao redor da criança ou do adolescente; proteger as bochechas e a
língua da mordedura; acolchoar os lados do leito; proteger a cabeça; prestar
assistência ao excesso de salivação ou relaxamento dos esfíncteres; se a crise
se exceder de 10 minutos puncionar uma veia calibrosa, com exceção da
cabeça, para infundir soro glicosado e medicação prescrita; em caso de
hipertermia administrar medicamento antitérmico; observar sinais e sintomas
após a crise; orientar a criança e ao pai o que aconteceu; estimular os
familiares e a criança a perguntarem sobre suas dúvidas; não alimentar o
paciente quando ainda estiver sedado.
Schmitz (2000) cita ainda que ha alguns dados que devemos estar
atentos na hora da crise convulsiva que são: local aonde começa e termina o
movimento; movimento ocular; alteração da pupila; nível de consciência
durante a crise; frequência, duração, número de episódios de crise;
comportamento após o episódio entre outros.
Conforme Jesus e Nogueira (2008), a equipe de enfermagem deve
saber diferenciar uma emergência epiléptica de outras crises, como por
exemplo, crises psicogênicas, além de ser papel do enfermeiro o incentivo e
conscientização da equipe sobre a importância da educação continuada.
4. Considerações Finais
A saúde mental no Brasil permanece sendo um desafio para as três
esferas de poder, pois mesmo com todas as políticas implantadas ainda
divulgam-se informações de ambientes onde tais pacientes são tratados de
forma discriminatória ou mesmo lhes é negado o atendimento. Quando trata-se
de uma criança apresentando tal distúrbio alguns profissionais da área da
saúde sensibilizam-se, mas como citado por autores ainda há muito
preconceito na sociedade.
Quando encaminhados para um profissional de referência - psiquiatra,
citando especificamente a epilepsia agora, após o diagnostico os pais
apresentam resistência ao tratamento, movidos na maioria das vezes por
conceitos adquiridos anteriormente, que são totalmente discriminatórios em
relação ao paciente com doença mental.
Diversos ainda são os relatos de pais que muitas vezes realizam um
tratamento
farmacológico
sem
nem
ao
certo
serem
informados
do
motivo/patologia para tal; apesar de não termos presenciado ou mesmo lido
relatos acerca da epilepsia que apresentem dados confirmando nossa suspeita,
devido ao descaso que muitos médicos tem em relação ao paciente onde
julgam que o mesmo não precisa entender o que lhe acomete, cabe ao
enfermeiro ou outro profissional da área da saúde orientar de forma clara este
paciente ou mesmo seu responsável, o que pode aumentar de forma
significativa a adesão ao tratamento.
Outro fator que foi ressaltado no artigo é a falta de conhecimento da
epilepsia pelos profissionais da área da saúde, realidade passível de alteração
através de educação continuada, uma proposta do Ministério da Saúde, e a
partir disso esperamos que aumente as publicações sobre o tema, que
atualmente são escassas.
5. Referências Bibliográficas
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