EPILEPSIA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO ROSALEN, Camila1;LUNARDI, Luciane2;PASQUALI, Carine Rosália3; CARVALHO, Susana4;SOSSANOVICZ, André5; CORRÊA, Leticia Garriboti6; VENDRUSCULO, Carine7 Resumo: A epilepsia trata-se de uma síndrome que tem sua sintomatologia neurológica caracterizada por crise epiléptica (CE), podendo ser intermitente e autolimitada, que ocorre sem a presença de toxicologia metabólica e estado febril. O objetivo desse estudo é condensar conhecimentos sobre este distúrbio e meios de atendimento de enfermagem aos pacientes pediátricos, contribuindo para a melhor qualidade de vida dessas crianças e adolescentes, bem como sua família. Trata-se de uma revisão bibliográfica de artigos contidos na Biblioteca Virtual de Saúde – BVS e obras bibliográficas clássicas que constam na biblioteca da Unochapecó. Os dados foram categorizados em três unidades temáticas: primeira dados clínicos de acompanhamento a pacientes com epilepsia - aborda as questões da síndrome: diagnóstico, etiologia das crises convulsivas, tratamento, prognóstico, tais informações provêm basicamente de obras bibliográficas. A segunda categoria, aspectos da relação familiar e particularidades das crianças/adolescentes, abordamos a forma com que as famílias e as crianças/adolescentes lidam com a presença da síndrome, onde os autores citam muitos dados que expõem a problemática enfrentada diante do diagnóstico e a dificuldade de adesão ao tratamento farmacológico. A terceira temática por sua vez é a assistência de enfermagem a pacientes epilépticos, aqui poucos artigos foram encontrados sendo utilizado em sua maioria livros, o cuidado de enfermagem vai desde a orientação sobre a patologia quando acontece o diagnóstico clínico até os cuidados intensivos em caso de crise epiléptica. A saúde mental ainda é um desafio para a saúde pública no Brasil, pois ainda vigora-se mesmo entre os profissionais da saúde, informações errôneas e preconceituosas, em índices ainda superiores na população em geral. Evidencia-se a pouca quantidade de publicações de enfermeiros, sugerindo que poucos são os profissionais atuantes junto a tal demanda ou que mesmo em contato com esse público essa classe pouco relata suas atividades e ações. Palavras-chave: Epilepsia. Saúde mental. Enfermagem. 1. Introdução A epilepsia trata-se de uma síndrome que tem sua sintomatologia neurológica caracterizada por crise epiléptica (CE), podendo ser intermitente e autolimitada, que ocorre sem a presença de toxicologia metabólica e estado febril. Tais crises provêm de anormalidades na atividade elétrica e paroxística, em uma ou mais partes do córtex cerebral, podendo ser causadas por diversas 1 Acadêmica do 9º período de enfermagem da Unochapecó. Bolsista Pet Saúde, email: [email protected]. 2 Acadêmica do 9º período de enfermagem da Unochapecó. Bolsista Pet Saúde, email: [email protected]. 3 Acadêmica do 9º período de enfermagem da Unochapecó. Bolsista Pet Saúde, email: [email protected]. 4 Acadêmica do 9º período de enfermagem da Unochapecó. Bolsista Pet Saúde, email: [email protected]. 5 Acadêmico do 9º período de enfermagem da Unochapecó. Email: [email protected] 6 Acadêmica do 9º período de enfermagem da Unochapecó. Email: [email protected]. 7 Docente do curso de enfermagem da Unochapecó. Email: [email protected] doenças/alterações neuroquímicas ou estruturais. Portanto, temos diferença entre crise epiléptica e epilepsia. A primeira como já citado, decorre de alterações fisiológicas causadas por patologias estas crônicas ou não, e a epilepsia por sua vez é proveniente de anormalidades epileptogênicas de caráter persistente no cérebro, possibilitando crises espontâneas e recorrentes, por somente um período curto de tempo e/ou por alguns anos, e outros casos durante toda a vida do paciente (JESUS; NOGUEIRA, 2008; GITAÍ et al., 2008; ROCHA; BATISTA; NUNES, 2004). As crises epilépticas, segundo a International League Against Epilepsy, podem ser classificadas seguindo dois critérios específicos, sendo um a localização do foco epileptogênico e o outro decorrente da sua etiologia. O critério de foco epileptogênico, define que a manifestação de atividade epileptiforme ocorre por meio de uma região cortical, de onde se origina crises focais; ou atingir simultaneamente os dois hemisférios, que causa as crises generalizadas. O segundo critério define que as CE podem pertencer a três diferentes grupos: idiopáticas, quando tem ligação a hereditariedade; sintomáticas, quando provem da manifestação de alterações decorrentes de patologias, e o terceiro grupo as de origem criptogênicas, que não possuem origem/ etiologia conhecida (JESUS; NOGUEIRA, 2008). Tal distúrbio é considerado grave devido à alta morbi-mortalidade, e na ausência de tratamento, os índices apresentam-se ainda maiores se comparado aos pacientes em acompanhamento. Estudos realizados expuseram que os pacientes que fazem uso fármacos para o tratamento da epilepsia correspondem por 10 a 40% do total de indivíduos com o distúrbio (FERREIRA; TABOSA E SILVA, 2009; GITAÍ et al., 2008; MIN; SANDER, 2003). Apesar de não ser um fenômeno recente, como demonstram documentos datados de 4 mil anos atrás, provenientes do oriente; e ter tratamento farmacológico eficaz (brometo) disponível a mais de 100 anos, com o uso de medicamentos de baixo custo que propiciam o controle das crises em sua grande maioria garantindo a esses indivíduos uma vida normal (70%), ainda há uma baixa adesão ao tratamento por parte dos usuários (MIN; SANDER, 2003). A epilepsia continua sendo um desafio para o sistema primário de saúde, onde muitos médicos, inclusive uma grande parcela de neurologistas, não apresentam-se preparados para o atendimento ao paciente com tal distúrbio (MIN; SANDER, 2003). Quanto a enfermagem, segundo a portaria ministerial GM/MS nº 1.161, de 7 de julho de 2005, a atenção ao paciente com doença mental deve ser como as demais politicas de saúde centralizadas na atenção básica representada pela Estratégia de Saúde da Família(ESF), e sendo o enfermeiro um profissional atuante nesta estratégia muitas vezes os pacientes com problemas mentais, como no caso de epilepsia acabam procurando atendimento e tanto o enfermeiro como os demais profissionais da equipe de saúde não sabem como lidar e que orientações prestar a essa demanda (BRASIL, 2005). Tendo em vista tal problemática, realizamos uma pesquisa bibliográfica com o objetivo de condensar informações que servirão para aquisição de conhecimentos sobre este distúrbio, e que podem servir de subsidio teórico para o atendimento de enfermagem aos pacientes que se enquadram segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, na faixa etária caracterizada como criança (0 – 11 anos) e adolescente (12 – 18), contribuindo para a melhor qualidade de vida dessas crianças e adolescentes, bem como sua família (BRASIL, 2001). 2. Metodologia Realizamos uma pesquisa bibliográfica no banco de dados da Biblioteca Virtual em Saúde – BVS, utilizando como descritor ‘epilepsia’ e a complementamos com obras bibliográficas clássicas disponíveis na biblioteca da Universidade Comunitária da Região de Chapecó – Unochapecó. Em busca nos arquivos, foi utilizado o descritor ‘pediatria’ e refinada a busca de modo a selecionar apenas livros excluindo-se automaticamente outras obras. A partir dos artigos apresentados selecionamos os de autoria nacional, publicados a partir de 2001 até o ano de 2010 e os livros foram lidos e utilizados os que continham informações acerca da epilepsia, sem pré definição de ano de publicação. 3. Resultados A partir do descritor e após leitura e análise dos artigos acabaram restando 15 trabalhos que foram utilizados para a realização desse trabalho, pois abordavam a epilepsia na criança e adolescência, ou mesmo traziam importantes informações acerca dessa síndrome. Quanto às obras bibliográficas, após análise das mesmas, dos 57 títulos que o sistema da biblioteca refinou, apenas 07 obras foram selecionadas, onde o critério de seleção nestas foi constar informações sobre epilepsia, já que o descritor utilizado foi pediatria. As bibliografias e artigos foram categorizados em três unidades temáticas, a primeira dados clínicos de acompanhamento a pacientes com epilepsia - aborda as questões da síndrome: diagnóstico, etiologia das crises convulsivas, tratamento, prognóstico; a segunda os aspectos da relação familiar e particularidades das crianças/adolescentes, onde abordamos a forma com que as famílias e as crianças/adolescentes lidam com a presença da síndrome, e a terceira por sua vez é assistência de enfermagem a pacientes epilépticos. 3.1. Dados clínicos de acompanhamento a pacientes com epilepsia Diagnóstico da doença - O diagnóstico é principalmente clínico e está baseado na descrição da crise fornecida pelo paciente ou por outra pessoa que esteja presente naquele momento, especialmente quando há perda de consciência. O eletrencefalograma (EEG) é o principal método diagnóstico das crises convulsivas e das epilepsias. Ele pode se apresentar sem alterações no período intercrises, o que não afasta o diagnóstico de epilepsia (FERREIRA, 2005). Lopez e Junior (2008) trazem que se deve atentar que algumas manifestações clínicas periódicas, como perda de fôlego, tiques, sincopes e alguns distúrbios do sono podem ser confundidos com crises epiléticas. Para Wong (1997), um exame físico e neurológico completo, incluindo a avaliação do desenvolvimento da linguagem, do aprendizado, do comportamento e das capacidades motoras, freqüentemente fornece indícios de distúrbios neurológicos. De acordo com Ferreira (2005), outro fator que auxilia no diagnóstico é o uso da ressonância magnética (RM), a qual possibilita a visualização de pequenas áreas lesadas, impossíveis de serem detectadas na tomografia, antigamente o único meio de analise do cérebro por imagem (TC). No entanto o principal papel RM é no diagnóstico da etiologia das epilepsias intratáveis farmacologicamente, como os distúrbios de migração neural, sendo um método indispensável na programação da cirurgia da epilepsia. Etiologia das crises convulsivas - Behrmn, Kliegman e Jenson (2005) trazem que as crises são mais comuns nos lactentes. Na população pediátrica, algumas crises são especificas da idade, tal observação surge, pois estudos sugerem que o cérebro em desenvolvimento seja mais suscetível a alguns tipos de crises do que o cérebro de um adulto que apresenta maior desenvolvimento, como é o caso de crise convulsiva por hipertermia (MARCONDES, 2003). Embora as crises epiléticas possam ocorrer em qualquer idade, elas constituem uma situação patológica do jovem; até os 20 anos, 90% dos indivíduos que serão epiléticos já iniciaram as suas crises; entre as crianças, 60% tiveram sua primeira crise até os 3 anos, sendo que a maior parte acorre no primeiro ano de vida. Estudos demonstraram a predominância da epilepsia no sexo masculino e nos grupos socioeconômicos mais desfavorecidos (FERREIRA, 2005). Corroborando com o autor citado acima, Lopez e Junior (2008), trazem também que o inicio das crises dá-se precocemente onde o pico maior de incidência ocorre entre os 9 e 18 meses, mas quanto a predominância no sexo masculino e grupos socioeconômicos menos favorecidos os autores citam que isto não acontece, e trazem também que tais crises manifestam-se independente da localização geográfica que o paciente reside e a raça que o mesmo pertence. Tratamento - Segundo Lopez e Junior (2008), o tratamento deve ser iniciado sempre quando houver certeza do diagnostico, com droga única e eficaz, que seja bem tolerada pela criança e seja de um custo acessível à família. Optar sempre que a farmacologia da droga permitir o mínimo de doses diárias para facilitar a adesão ao tratamento. Quando obtido o sucesso no controle das crises, a suspensão do tratamento deve ser feita de modo lento e progressivo, depois de um período de tempo que varia de 2 a 5 anos. A variabilidade desse tempo tem como consideração a história natural da síndrome epilética, número de crises anteriores ao inicio do tratamento, persistências de alterações significativas no EEG, além claro presença de lesão cerebral e estrutural, e retardo mental (FERREIRA, 2005). De acordo com o autor acima citado, o objetivo essencial do tratamento do estado de mal epilético (EME) é evitar a lesão cerebral definitiva. Por esse motivo, torna-se de fundamental importância controlar a atividade convulsiva ainda no estágio I. A administração de drogas antiepileticas (DAE), a manutenção adequada das condições metabólicas e cardiorrespiratórias, e a investigação criteriosa das possíveis causas do EME são as medidas a serem tomadas. Quando o quadro evolui para o estagio II, o paciente deve ser transferido para a UTI e monitorado. Drogas anestésicas são necessárias no tratamento. Conforme Behrmn, Kliegman e Jenson (2005) as drogas anticonvulsivantes mais comuns usadas são: carbamazepina, clobazan, clonazepan, etossuximida, gabapentina, lamotrigina, nitrazepan, paraldeido, fenobarbital, fenitoina, primidona, topiramato, tiagabina, acido valproico, vigabatrina. Além das medicações mencionados pelo autor supracitado, Lopez e Junior (2008) acrescenta também oxcarbomazepina e valproato. Prognóstico - Por fim foram analisados dados sobre o prognostico dentre os autores selecionados, e apenas Wong (1997), cita que a evolução e o prognostico para crianças com convulsões depende da etiologia, do tipo de convulsão, da idade de inicio, histórico familiar e médico. Em um estudo com crianças com epilepsia, 55% destas cresceram e não tiveram mais convulsões sem uso de medicação durante um período de acompanhamento médico de 7 anos. Tal estudo ainda traz que o prognóstico após o tratamento do estado epilético é favorável, onde a maioria das crianças provavelmente não apresentara nenhum tipo de comprometimento intelectual. 3.2. Aspectos da relação familiar e particularidades das crianças/adolescentes A família da criança/adolescente com epilepsia - O diagnóstico dessa doença, para muitos pais, pode ser a perda de uma criança sadia. Essa situação pode ocasionar o aparecimento de sentimentos e emoções como, por exemplo, raiva, medo e depressão, influenciando negativamente e diretamente no ambiente familiar (FERNANDES; SOUZA, 2001). Segundo Behrman, Kliegman e Jenson (2005) e que concorda Schmitz (2000), quando é confirmado o diagnóstico, os pais obrigatoriamente necessitam de orientação acerca da patologia e suas particularidades (crises epilépticas), e a importância/objetivo do tratamento farmacológico seguido conforme as orientações médicas; alem claro dos possíveis efeitos colaterais específicos de cada anticonvulsivante. Com o entendimento do objetivo do uso da medicação os pais geralmente compreendem a ação fundamental. Schmitz (2000), nos trás ainda que a criança pode e deve, manter uma vida normal, como freqüentar a escola/universidade/cursos e etc., só ressalva que os professores devem ser orientados também sobre a patologia, como reconhecer e as condutas a serem realizadas em caso de convulsão. Para Behrman, Kliegman e Jenson (2005), o entendimento dos pais aliados a cooperação entre os eles, o médico, a escola e a criança, beneficia uma melhora significativa na qualidade de vida desses pacientes. O sentimento de insegurança com o futuro do filho, mesmo quando os pais são orientados é freqüente, caracterizado pelo medo de maior comprometimento da saúde do filho, como possibilidade de uma lesão subjacente não diagnosticada, e o convívio do individuo na sociedade (FERNANDES; SOUZA, 2001). Os pais devem ser tranqüilizados que a criança/adolescente como citado anteriormente poderá ter uma vida normal, freqüentando normalmente uma escola, casar e ter filhos, e que na maioria dos casos com o tratamento farmacológico há controle ou redução das convulsões inviabilizando o surgimento de complicações (lesões neurológicas), e que na ausência das crises e lesões advindas dela, a patologia não irá diminuir a vida de seu filho (WONG, 1997). Mas Scorza e colaboradores (2007) e Valente e colaboradores (2004) trazem dados alarmantes sobre a morte súbita em paciente epilépticos, a qual acontece na maioria dos casos em decorrência de alterações da função cardiovascular. Fernandes e Souza (2001) expõem dados de pesquisas onde as mesmas referem que o diagnóstico de epilepsia trás um peso para a criança e também para sua família, e caso os mesmos não sejam devidamente orientados acabam lidando de maneira inadequada com seus filhos. Muitos pais passam a superproteger seus filhos, pois os mesmos entendem que qualquer situação em que o seu filho fica nervoso, poderá desencadear a crise. Segundo Behrman, Kliegman e Jenson (2005) os pais devem ser orientados a tratar seus filhos da forma mais normal possível, não deixando de punir ou corrigir essa criança quando necessário, o que corrobora Wong (1997), pois a criança/adolescente precisa entender que mesmo com epilepsia ele pode ter uma vida normal, e que ele também tem limites. Devido ao caráter muitas vezes genético da epilepsia, conforme Behrman, Kliegman e Jenson (2005) deve-se orientar os pais que no caso de nova gestação o filho(s) também pode vir a ter a patologia. Outro fator importante citado por Fernandes e Souza (2001) é o preconceito que a sociedade ainda possui em relação a indivíduos com epilepsia, o que na sua maioria é causado por falta de informações acerca da síndrome. Por isso há a necessidade de se implantar grupos de apoios, tanto para os pais como para a população em geral, possibilitando o esclarecimento sobre a patologia (quando o médico não o faz), aumento das informações e suporte psicológico diminuindo o estresse e a ansiedade, permitindo aos pais exporem suas duvidas e visualizar que outros pais compartilham da mesma realidade. A partir da desmistificação da doença, ou seja, das crenças, torna-se cada vez melhor a convivência familiar. A criança/adolescente com epilepsia - A atitude positiva da criança em relação a sua patologia é mais evidente naquelas que possuem um apoio familiar. A autoconfiança bem como a auto-estima da criança é formada a partir da percepção da mesma em relação às reações ou atitudes das outras pessoas, além de afetar também seus sentimentos. A rejeição dos pais com filhos epilépticos faz com que essa criança torne-se agressiva e apresente problemas comportamentais. As dificuldades escolares aliadas à dependência aos problemas comportamentais evoluem de tal forma, que em muitos casos, tornam-se mais graves até que as próprias convulsões (WONG, 1997). As crianças e os adolescentes com o diagnóstico de epilepsia devem ser incentivados a terem um julgamento próprio, além de que quando possuírem uma idade onde pode se delegar algumas responsabilidades a ele; se deve orientá-lo desde o diagnóstico sobre a sua patologia e a importância do tratamento a fim de que auxilie ou mesmo se responsabilize pelo uso de sua medicação (WONG, 1997). A adolescência é um período de liberdade, porem deve ser enfatizado algumas restrições relacionadas a estes pacientes, como, por exemplo, em alguns estados (dados norte americanos) não é permitido que pacientes com epilepsia obtenha carteira de habilitação (WONG, 1997). Outra restrição é o consumo de álcool, principalmente pelos adolescentes epiléticos, pois a ingesta do álcool precipita o surgimento das crises epiléticas, infelizmente não encontramos referencias sobre as implicações do uso de demais substancias (SCHMITZ, 2000). 3.3. Assistência de enfermagem a paciente com diagnóstico de epilepsia Dentre todas as referências selecionadas para este estudo (artigos e obras bibliográficas) apenas 4 nos auxiliaram na construção da assistência de enfermagem as crianças e adolescentes com diagnóstico de epilepsia. Atualmente verifica-se que a epilepsia possui a maior prevalência dentre todas as condições neurológicas graves, com percentuais variando de 1 a 3% da população mundial, e na população pediátrica, os índices de acometimento estão entre 0,5 a 1%. Cerca de 50% dos casos de epilepsia tem início na infância e adolescência (GITAÍ et al., 2008; ROCHA; BATISTA; NUNES, 2004; MIN; SANDER, 2003). A enfermagem pode ter grande importância no tratamento da epilepsia. Com a elaboração de um plano assistencial humanizado realizado através da aplicação da sistematização da assistência de enfermagem, o enfermeiro poderá levantar os diagnósticos de enfermagem além de detectar os fatores de risco, tanto em pacientes hospitalizados como na atenção básica (JESUS; NOGUEIRA, 2008). Quando realizamos uma entrevista com os pais podemos colher informações sobre o desenvolvimento da criança e do adolescente, e devemos solicitar sobre a ocorrência de crises, com que frequência se manifesta, possíveis situações que as desencadeiam, tratamento realizado, aceitação do paciente dentre outros (SCHMITZ, 2000). A orientação é continua, e as informações trazidas pelos pais necessitam ser analisadas, pois segundo Jesus e Nogueira (2008) vários são os pacientes que não aderem ao tratamento, e o relato de crises frequentes mesmo com tratamento é um indicio disso. A enfermagem tendo como um dos seus objetivos a orientação familiar, a partir do levantamento das informações há a viabilização desse objetivo, pois lhe oferece embasamento sobre qual a necessidade do paciente/familiar. Com a entrevista é possível também estabelecer um vinculo com o paciente/pais, e isso mostra ao ouvinte que em caso de duvidas e questionamentos ele tem a quem recorrer (SCHMITZ, 2000). Atentando-se a informação citada anteriormente de Lopez e Junior (2008), onde manifestações clínicas periódicas acabam por ser confundidas com crises epilépticas, a enfermeira deve questionar e certificar-se que os pais/responsáveis sabem reconhecer quando o paciente apresenta crise e a classificar o tipo de crise conforme os sinais e sintomas (SCHMITZ, 2000). Segundo Wong (1997) o registro minucioso das convulsões (frequência, tempo de duração, local e etc.), permite através da analise dos dados demonstrar um possível padrão das crises epiléticas. Esse registro igualmente possibilita perceber quais são os sinais que a criança ou adolescente demonstra antes da crise, e reconhecimento de possíveis fatores externos desencadeantes. Com o diagnóstico desses fatores, se possibilita propor ao paciente/pais realizar mudanças ou mesmo evitar essas situações, que poderão minimizar ou evitar as crises. Os horários mais convenientes para a administração dos medicamentos à criança podem ser organizados conforme a rotina dos pais, o enfermeiro(a) pode orientar que o horário para a medicação pode coincidir com rotinas diárias, como nas refeições ou na hora de dormir, pois assim há menos chances de esquecimento. Quanto às medicações deve-se alertar os familiares de possíveis efeitos colaterais, como as alterações comportamentais que são causadas pelas medicações primidona, fenobarbital e fenitoína (WONG, 1997). No caso de vômito e febre, o autor supracitado traz que com a presença dessas alterações os pais devem avisar a um profissional de saúde, pois o vômito pode fazer com a medicação não seja absorvida na quantidade certa e a febre pode aumentar o metabolismo, e os dois sintomas poderão vir a desencadear uma crise convulsiva. Quando nos deparamos com uma criança ou adolescente no momento da crise epilética, independente dela estar de pé ou sentada, a mesma deve ser deitada no chão imediatamente, em decúbito lateral; sempre protegendo a cabeça de possível trauma, facilitando a drenagem salivar, pois como há perda do refluxo da deglutição a criança está em risco de aspiração e oclusão das vias aéreas. Após a crise convulsiva a criança permanece deitada para repouso (WONG, 1997). Schmitz (2000) por sua vez, traz informações que a nosso critério, podem complementar o que o autor acima citado refere no atendimento a paciente em crise como manter o ambiente calmo afastando as pessoas desnecessárias ao atendimento; estender o pescoço e aspirar à orofaringe com o paciente em decúbito lateral; administrar oxigênio com máscara; retirar objetos duro ao redor da criança ou do adolescente; proteger as bochechas e a língua da mordedura; acolchoar os lados do leito; proteger a cabeça; prestar assistência ao excesso de salivação ou relaxamento dos esfíncteres; se a crise se exceder de 10 minutos puncionar uma veia calibrosa, com exceção da cabeça, para infundir soro glicosado e medicação prescrita; em caso de hipertermia administrar medicamento antitérmico; observar sinais e sintomas após a crise; orientar a criança e ao pai o que aconteceu; estimular os familiares e a criança a perguntarem sobre suas dúvidas; não alimentar o paciente quando ainda estiver sedado. Schmitz (2000) cita ainda que ha alguns dados que devemos estar atentos na hora da crise convulsiva que são: local aonde começa e termina o movimento; movimento ocular; alteração da pupila; nível de consciência durante a crise; frequência, duração, número de episódios de crise; comportamento após o episódio entre outros. Conforme Jesus e Nogueira (2008), a equipe de enfermagem deve saber diferenciar uma emergência epiléptica de outras crises, como por exemplo, crises psicogênicas, além de ser papel do enfermeiro o incentivo e conscientização da equipe sobre a importância da educação continuada. 4. Considerações Finais A saúde mental no Brasil permanece sendo um desafio para as três esferas de poder, pois mesmo com todas as políticas implantadas ainda divulgam-se informações de ambientes onde tais pacientes são tratados de forma discriminatória ou mesmo lhes é negado o atendimento. Quando trata-se de uma criança apresentando tal distúrbio alguns profissionais da área da saúde sensibilizam-se, mas como citado por autores ainda há muito preconceito na sociedade. Quando encaminhados para um profissional de referência - psiquiatra, citando especificamente a epilepsia agora, após o diagnostico os pais apresentam resistência ao tratamento, movidos na maioria das vezes por conceitos adquiridos anteriormente, que são totalmente discriminatórios em relação ao paciente com doença mental. Diversos ainda são os relatos de pais que muitas vezes realizam um tratamento farmacológico sem nem ao certo serem informados do motivo/patologia para tal; apesar de não termos presenciado ou mesmo lido relatos acerca da epilepsia que apresentem dados confirmando nossa suspeita, devido ao descaso que muitos médicos tem em relação ao paciente onde julgam que o mesmo não precisa entender o que lhe acomete, cabe ao enfermeiro ou outro profissional da área da saúde orientar de forma clara este paciente ou mesmo seu responsável, o que pode aumentar de forma significativa a adesão ao tratamento. Outro fator que foi ressaltado no artigo é a falta de conhecimento da epilepsia pelos profissionais da área da saúde, realidade passível de alteração através de educação continuada, uma proposta do Ministério da Saúde, e a partir disso esperamos que aumente as publicações sobre o tema, que atualmente são escassas. 5. Referências Bibliográficas BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente. 3 ed. Brasília, 2001. BRASIL. Ministério da saúde. Política Nacional de Atenção ao Portador de Doença Neurológica. Portaria GM/MS nº 1.161, de 7 de julho de 2005. FERNANDES, P.T; SOUZA, E.A.P. Procedimento educativo na epilepsia infantil. Estudos de Psicologia. V.6,n.1, p.115-120, 2001. FERREIRA, I.L.M.; TABOSA E SILVA, T.P. Mortalidade por epilepsia no Brasil, 1980-2003. Ciência & Saúde Coletiva, v.14, n.1, p. 89-94, 2009. JESUS, M.B.P.; NOGUEIRA, V.O. Assistência de enfermagem aos pacientes sob investigação de epilepsia submetidos ao vídeo-eeg prolongado. Journal Epilepsy Clin. Neurophysiol, v.14, n.4, p.171-175, 2008. ROCHA, G.P.; BATISTA, B.H.; NUNES, M.L. Orientações ao pediatra sobre o manejo das drogas psicoativas e antiepilépticas. Jornal de Pediatria, v.80, n.2(supl), 2004. GITAÍ, D.L.G. et al. Genes e epilepsia I: epilepsia e alterações genéticas. Rev. Assoc. Med. Bras., v.54, n.3, p.272-8, 2008. MIN, L.L.; SANDER, J.W.A.S. Projeto demonstrativo em epilepsia no Brasil. Arq. 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