PORTUGAL E A NATO: UMA PERSPECTIVA POLÍTICA-DIPLOMÁTICA FERNANDO ANDRESEN GUIMARÃES A NATO, após o final da Guerra Fria, dotou-se de uma forte componente de relações externas, mantendo sempre como “core functions” a defesa colectiva e o reforço do elo transatlântico. Hoje, o principal desafio é o combate ao terrorismo internacional, através designadamente do reforço das capacidades militares. Portugal, tendo sempre presente os seus interesses estratégicos, participa activamente neste esforço colectivo, contribuindo assim para conferir à Aliança um papel preponderante na promoção da estabilidade e da segurança na área Euro-Atlântica. y ADAPTAÇÃO DA NATO AO NOVO AMBIENTE ESTRATÉGICO INTERNACIONAL ANTÓNIO LUCIANO FONTES RAMOS Partindo da definição das tarefas essenciais que estão na origem da formação da NATO, são avaliadas as alterações do ambiente estratégico internacional e caracterizadas as suas consequências estratégicas. São então apreciados os desafios que a adaptação da NATO ao novo ambiente internacional apresenta, nomeadamente no que se refere à tarefa de manter a estabilidade do espaço euro-atlântico e na defesa contra as novas ameaças assimétricas. y A ALIANÇA ATLÂNTICA E O MÉTODO DOS ALARGAMENTOS CARLOS GASPAR Em dois momentos cruciais – durante o período da fundação da Aliança Atlântica e depois do fim da Guerra Fria, quando a sua continuidade foi posta em causa – a comunidade de defesa transatlântica recorreu ao método dos alargamentos para consolidar a sua centralidade na arquitectura de segurança ocidental e o seu lugar chave como garante dos equilíbrios e da estabilidade estratégica regional e internacional. Entre 1948 e 1955, desde as primeiras conversações tripartidas acerca do pacto, até à integração da República Federal da Alemanha na Organização do Tratado do Atlântico Norte, os alargamentos sucessivos da Aliança Atlântica definiram a sua natureza e o seu estatuto. A seguir a 1991, esse método foi recuperado, quer para receber a Polónia, a República Checa e a Hungria , quer para abrir as portas à Rússia, à Ucrânia e outros antigos adversários. Esse processo entrou numa fase crucial com o 11 de Setembro e a aproximação de uma nova fase do alargamento. y REPENSANDO A NATO (Artigo publicado em língua inglesa) JOHN S. DUNCAN Os últimos três anos testemunharam alterações de vulto nos assuntos internacionais. Os historiadores olharão sem dúvida para trás considerando que este ou aquele evento foi importante. Para os decisores políticos, que têm de lidar diariamente com estas preocupações num ambiente em evolução constante, a tarefa é ainda mais difícil. Neste artigo o autor procura ilustrar uma visão pessoal sobre como a NATO tem respondido a estas alterações, como é que as percepções dos aliados são frequentemente díspares em relação às dos que se encontram fora da Aliança. Procurará também comprovar como as mudanças ocorridas no domínio militar e civil e os acontecimentos do 11 de Setembro anunciaram uma nova fase de mudança, a qual poderá incutir alterações radicais na natureza da Aliança tal como a conhecemos nos últimos 50 anos. Esta é uma visão pessoal que não reflecte a posição oficial do Governo Britânico. Baseia-se antes em discussões com aqueles que se encontram no cerne do debate político e na experiência pessoal como funcionário civil no mundo diplomático e militar. Resumos Verão 2002 Nº102 – 2ª série Página 1 y A UNIÃO EUROPEIA DEPOIS DO 11 DE SETEMBRO A POLÍTICA EXTERNA COMUM À EXPERIÊNCIA DAS NORMAS AMERICANAS (Artigo publicado em língua francesa) FRÉDÉRIC CHARILLONA Desde o fim da Guerra Fria que as manifestações de um certo unilateralismo americano não deixam de inquietar os Europeus. Durante a guerra do Kosovo em 1999, ocorreram vários desentendimentos transatlânticos e a crise veio evidenciar os limites da União Europeia. Não tendo o Conselho de Segurança das Nações Unidas autorizado, explicitamente, a acção militar contra a Sérvia, diversos diplomatas europeus manifestaram a sua inquietação face a um duplo deslize da retórica americana tendencialmente política e depois moral, onde os contornos mudavam consoante os interesses de Washington. A invocação súbita da “comunidade internacional” liderada pelos Estados Unidos, e a banalizarão do apelo à “solidariedade atlântica” suscitaram reacções de suspeita senão mesmo de desconfiança. A solidariedade com os Estados Unidos, mais que nunca, toma um carácter obrigatório. O artigo 5º da NATO foi invocado e a subscrição dos objectivos de guerra americanos tornou-se quase incontornável. Qual o significado e o impacto desta situação para a União Europeia em particular para a definição de uma política externa e de segurança comum credível? É conveniente recordar três pontos: por um lado o choque internacional produzido pelos atentados do 11 de Setembro saldou-se pelo pior momento diplomático par a União Europeia. Por outro lado e em consequência do primeiro ponto, a Europa deverá agora, gerir um risco político que hipoteca o futuro da sua diplomacia comum. A nova situação internacional comporta um certo número de oportunidades que os europeus fazem mal não agarrar, com a condição que exista uma vontade política. y ACERCA DE UMA LEITURA GEOPOLÍTICA DAS RELAÇÕES ENTRE PORTUGAL E O ATLÂNTICO FRANÇOIS MARTINS O artigo pretende traçar uma breve perspectiva geopolítica da relação entre Portugal e o Atlântico. Essa relação, embora sempre presente e importante, variou ao longo da nossa história. O autor, depois de tentar sumariamente caracterizar essas variações, analisa simplificadamente aquela relação no actual contexto do sistema global das relações internacionais. Dessa análise retira argumentos para afirmar que na ligação com o Atlântico poderão de novo ser encontradas as soluções mais adequadas para os nossos actuais problemas do desenvolvimento e da afirmação internacional, através da possível e desejável futura assumpção por Portugal de um papel de entreposto de importantes fluxos nas relações transatlânticas, em que as luso-brasileiras e as com a CPLP deverão desempenhar um papel central. y TEORIA POLÍTICA INTERNACIONAL E inglesa) JOÃO MARQUES DE ALMEIDA A INTRODUÇÃO DA INTERVENÇÃO LEGÍTIMA (Artigo publicado em língua Este artigo tem por objectivo enunciar diferentes perspectivas sobre as teorias das Relações Internacionais, no que respeita ao tema da intervenção legitima. Por intervenção legitima o autor entende ser a forma de interferência coerciva ou pela força de uma parte ou partes externas na esfera de jurisdição soberana dos estados, por forma a alcançarem-se objectivos que se crêem legitimados pela sociedade internacional. Esta definição desafia os pressupostos partilhados pela maior parte dos académicos das Relações Internacionais, de que o respeito pela norma da não intervenção é uma prática normal na política mundial e consequentemente qualquer intervenção militar é considerada uma infracção à norma. Contrariamente a esta posição tradicional, a noção de intervenção legitima reconhece a norma da não intervenção, como instituição da sociedade internacional. Contudo a ideia de intervenção legitima também reconhece que o respeito pela norma da não intervenção, tem sido parte central da estrutura normativa da política mundial, pelo que os actos de Resumos Verão 2002 Nº102 – 2ª série Página 2 intervenção devem ser justificados. Esta posição parece encerrar uma aparente contradição. Por um lado a intervenção é uma prática endémica no mundo da política, por outro a regra da não intervenção é uma norma central da sociedade internacional. Como é que as teorias das Relações Internacionais equacionam esta contradição? O presente artigo procura responder a esta questão avançando algumas formas possíveis de desenvolver a ideia de intervenção legítima. Resumos Verão 2002 Nº102 – 2ª série Página 3