Conceito estratégico deve ser "simples e preciso"

Propaganda
Conceito estratégico deve ser "simples e preciso"
António Sampaio, Agência Lusa
Madrid, 18 nov (Lusa) - O novo conceito estratégico da NATO deve ser "simples e preciso" e
concentrar-se nas funções centrais da organização, nomeadamente a defesa territorial, e o
modelo das futuras missões.
A opinião é de Jos Boonstra, investigador sénior da FRIDE (Fundação para as Relações
Internacionais e Diálogo Exterior) e ex-responsável setorial no Centre for European Security
Studies (CESS) que, em entrevista à Lusa considerou que a NATO "não precisa de se
reinventar".
"Do que se trata é de garantir que define o que se faz, claramente, e que quando o faz, o faz
bem", afirmou em entrevista a partir de Madrid.
E ainda que temas como o Afeganistão ou a Rússia dominem a agenda de Lisboa, estes não
devem figurar no novo conceito estratégico, até porque, considera, ninguém é ainda capaz de
prever o que acontecerá com Moscovo.
"A Rússia é e deverá ser um parceiro valioso e deverá aprofundar dessa relação, mas não será
possível detalhar que políticas devem ser adotadas", considerou.
O especialista holandês rejeita que um eventual falhanço no Afeganistão possa representar o
fim da NATO, "como se chegou a defender há alguns anos".
"É a missão mais importante de sempre da NATO, tem alguns contornos de missão impossível,
mas pode ainda ser direcionada. Há que definir a ação contra os taliban, a estratégia de saída
e, pensando mais a 10 anos, como treinar e formar as forças armadas afegãs", defende.
Mais do que o resultado da missão em si, insiste Boonstra, há que saber como a NATO actuará
no futuro.
Algo complexo, admite, especialmente porque várias nações europeias continuam a rejeitar a
ideia de "a NATO ser um polícia no mundo", e algumas têm em curso reformas das suas
próprias forças de segurança.
Com vários países europeus a preferirem contribuições pequenas ou que evitem riscos e as
muitas diferenças entre a dimensão e as capacidades dos exércitos europeus, aproximar
posições é crucial.
Em paralelo, defende, os países europeus necessitam de maior cooperação em matéria de
defesa - como, por exemplo, o diálogo entre a França e o Reino Unido - trabalhando para uma
crescente "integração das suas estruturas de defesa".
Isso não implica o tão falado exército europeu - "esse projeto está anda muito longe" - mas
pode fortalecer, por exemplo, a questão dos "grupos de combate" que, de forma rotativa estão
a ser criados pelos países europeus para responder em casos de crise.
Apesar do debate sobre o futuro da NATO, Boonstra considera que a organização "ainda está
a trabalhar relativamente bem", tendo contribuído para reforçar os laços entre os EUA e a
Europa e conseguindo encontrar consensos que são mais difíceis, por exemplo, na própria UE.
"Washington tem que entender que a Europa está numa posição difícil. São 27 países que
pagam três vezes: para as suas forças nacionais, para a política europeia comum de defesa e
para a NATO. Os Estados Unidos só pagam para dois", disse.
"A Europa já assume um papel importante de segurança e defesa em missões em todo o
mundo. Na maior parte dos casos não se prende com missões militares pesadas, mas uma
combinação de apoio, construção e desenvolvimento", sublinhou.
O especialista da FRIDE defende que o debate sobre o futuro da NATO deve igualmente
procurar analisar a cooperação entre a organização e a UE e, em particular, o que fazer "no
cenário da segurança tanto euro atlântica como da eurásia".
Boonstra defende ainda que Lisboa procure estabelecer pontes para a outra cimeira importante
de novembro, a da OSCE - o primeiro em 20 anos - e que se fortaleça a questão das
"parcerias" da NATO, nomeadamente com o Japão, Austrália e Coreia e no âmbito do diálogo
com os países do norte de África e do Médio Oriente.
*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico***
Lusa/Fim
Download