DISTRIBUIÇÃO VERTICAL DE PULGÕES Aphis

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DISTRIBUIÇÃO VERTICAL DE PULGÕES Aphis gossypii (GLOVER,1877) EM PLANTAS DE
ALGODOEIRO
Anderson M. Da Silva (UFMS / [email protected]), Marcos G. Fernandes (UFMS), Paulo E.
Degrande (UFMS).
RESUMO - Para se definir o nível de infestação das pragas chaves na cultura do algodoeiro, vários
métodos de amostragem têm sido sugeridos. O conhecimento de uma forma de amostragem rápida e
eficiente das pragas e seus inimigos naturais é de fundamental importância para que o Manejo
Integrado de Pragas (MIP) seja desenvolvido satisfatoriamente em qualquer agroecossistema. Assim,
para que se implemente o manejo racional das pragas-chave na cultura do algodão, é necessário
construir um plano de amostragem confiável que permita estimar com segurança e rapidez sua
densidade populacional. Para tanto, se faz necessário o conhecimento da distribuição vertical dessas
espécies na cultura. Com base na distribuição vertical é possível definir o método adequado de
amostragem para estimar os parâmetros populacionais das pragas. A presente pesquisa apresentou
como principal objetivo determinar a distribuição vertical do pulgão do algodoeiro Aphis gossypii
(Glover, 1877). Para tanto, implantaram-se experimentos no Núcleo Experimental de Ciências Agrárias
da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, onde essa praga foi monitorada durante toda a sua
ocorrência na cultura do algodoeiro. Demonstrou-se que a distribuição vertical dos pulgões nas plantas
do algodoeiro ocorre em maiores proporções no terço superior das plantas, vindo a seguir os terços
médio e inferior, respectivamente.
Palavras-chave: distribuição vertical, Aphis gossypii, algodoeiro.
VERTICAL DISTRIBUTION OF Aphis gossypii (Glover, 1877) (Aphids)
ON COTTON PLANTS
ABSTRACT - To define the level of infestation of the key pests on the plants of cotton crop, some
methods of sampling have been suggested. The knowledge of a quick and efficient way of sampling of
the pests and its natural enemies, are of basic importance for the Integrated Pest Management (IPM)
being satisfactorily developed in any agroecossystem. Thus, for implementing the rational management
of the key pests on cotton crop, it is necessary to construct a trustworthy plan of sampling that allows
esteem safety and rapidity its population density. For in such a way, it makes necessary the knowledge
of the vertical distribution of these species on crop. On the basis of the vertical distribution is possible to
define the adequate method of sampling to define the population parameters of the pests. The present
research presented as main objective to determine the vertical distribution of the cotton aphid Aphis
gossypii (Glover, 1877). For in such a way, experiments in the Núcleo Experimental de Ciências
Agrárias of the Federal University of Mato Grosso do Sul had been implanted, where this pest was
monitored during all its period of occurrence on cotton crop. It was demonstrated that the vertical
distribution of aphids on the plants of cotton crop occurs in bigger ratios in third part of the plants, come
to follow the medium and inferior parts of the plants, respectively.
Key words: vertical distribution, Aphis gossypii, cotton plant.
INTRODUÇÃO
O algodoeiro herbáceo (Gossypium hirsutum L. raça latifolium Hutch.) é uma das culturas mais
importantes do Brasil, tanto com relação às muitas utilidades de sua fibra, óleo e subprodutos, quanto
pelo volume de produção obtido no país nos últimos anos. Entre vários fatores que contribuem para
reduzir a produtividade e a qualidade das fibras, destacam-se os artrópodes pragas da cultura.
O ecossistema algodoeiro inclui uma ampla variedade de artrópodes, e os levantamentos
dessa fauna na cultura realizados mundialmente, indicam que o número de espécies encontradas pode
variar desde algumas poucas centenas a mais de mil. A grande maioria destas espécies é predadora
ou parasitóide de espécies fitófagas (LUTTRELL et al., 1994). Estima-se que o número de espécies
pragas esteja entre 20 e 60, mas, segundo Degrande (1998), prejuízos significantes na cultura podem
ser causados por, aproximadamente, 13 espécies pragas na maioria dos sistemas de produção.
O pulgão-do-algodoeiro, Aphis gossypii (GLOVER, 1877) tem sua reprodução tipicamente
partenogenética, com o período reprodutivo de aproximadamente 5 a 10 dias, no qual uma fêmea pode
produzir até 40 ninfas (VAN STEENIS, 1992 apud FERNANDES, 2001), e tem sido considerado uma
importante praga associada com Gossypium spp., encontrando-se amplamente distribuído nas regiões
onde se produz essa cultura ao redor do mundo, sendo considerada praga-chave da cultura do
algodoeiro no Brasil. Essa praga é considerada de grande importância econômica por atacar as plantas
do algodoeiro desde a sua emergência até o estagio final do ciclo da cultura, sendo que, além de
causar danos diretos através de um expressivo consumo de seiva das plantas, é transmissor de
agentes causais de severas doenças como as viroses do mosaico das nervuras (ou doença azul do
algodoeiro) e vermelhão do algodoeiro, constituindo-se, conseqüentemente, em uma das principais
pragas nas áreas de cultivo de algodão do cerrado do Brasil, onde são utilizadas cultivares suscetíveis
à essas viroses, sobretudo o mosaico das nervuras ou doença azul do algodoeiro.
A pequena população de pulgões a ser tolerada em cultivares não resistentes ao mosaico-dasnervuras faz com que a amostragem desse grupo deva ser feita com cuidados especiais, como
amostrar um grande número de plantas na área, além de observar com extremo cuidado cada planta
avaliada.
A ocorrência de um grande número de pragas de importância econômica na cultura do
algodoeiro desde a emergência das plântulas até o final do ciclo, torna extremamente necessário definir
meios práticos e eficientes de manejo dessas pragas, provocando a menor alteração possível no meio
ambiente. É sabido que o conhecimento da distribuição vertical das pragas na cultura pode definir
métodos para agilizar e aumentar a confiabilidade do processo de amostragem em uma determinada
cultura. As informações sobre a distribuição vertical de insetos-pragas na planta hospedeira são
fundamentais para o desenvolvimento de planos de amostragem e, essas informações, reduzem o
tempo e custos necessários para o monitoramento da praga, sem que haja diminuição da confiabilidade
dos resultados.
Através de estudos sobre a distribuição vertical de insetos praga nas plantas agrícolas,
procura-se determinar em qual parte da planta (superior, mediana ou inferior) esses insetos
preferencialmente se localizam. Esse conhecimento é importante para tornar mais prático e eficiente o
processo de amostragem da espécie na lavoura, uma vez que permite amostrar apenas a região da
planta onde a maioria dos indivíduos de uma população se localiza, ao invés de amostrar a planta
inteira. Na cultura do algodoeiro as amostragens para a maioria das pragas devem ser feitas através do
monitoramento visual regular, sendo que entre uma a duas vezes a cada semana deve-se avaliar o
tamanho da população de pragas no campo contando o número de indivíduos de cada espécie
presentes em um determinado número de plantas na área.
Poucos estudos sobre a distribuição vertical de insetos têm sido realizados visando tornar o
processo de amostragem mais rápido e confiável. As informações encontradas na literatura científica
sobre o padrão de distribuição vertical de A. gossypii na cultura do algodoeiro são contraditórias, sendo
possível encontrar desde trabalhos evidenciando que a população dessa espécie coloniza
principalmente as regiões medianas e inferior das plantas, até pesquisas afirmando que esse inseto se
distribui de forma preferencial nas regiões superior e mediana das plantas. A princípio pode-se supor
que essa espécie prefere as folhas mais novas do algodoeiro, todavia, sua distribuição vertical pode
mudar de acordo com a idade da planta hospedeira, de acordo com as variações climáticas ou de
acordo com o ecossistema típico de uma região.
Sendo assim, conduziu-se a presente pesquisa com o objetivo de determinar a forma de
distribuição vertical do pulgão do algodoeiro durante todo seu período de ocorrência na cultura do
algodoeiro.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido durante o ano agrícola de 2002/03 no Núcleo Experimental de
Ciências Agrárias da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, município de Dourados - MS.
A área amostral situava-se na região sul do Estado de Mato Grosso do Sul e apresenta o clima,
de acordo com a classificação de Köppen, como sendo Cfa (Clima Mesotérmico Úmido sem estiagem).
Na semeadura do algodão (Gossypium hirsutum L.) que foi realizada no dia 04/12/02, foi utilizada a
cultivar FIBERMAX 986 (suscetível à virose causadora da doença azul), sem irrigação, com a
emergência das plântulas ocorrendo entre os dias 11 e 12/12/02. O experimento apresentou área de
10.000m2 (200m x 50m) dividido em 100 parcelas de 100m² (10 x 10m) cada uma, com a cultura tendo
espaçamento entre linhas de 0,90m e 0,10m de espaçamento entre plantas, utilizando-se 14 sementes
por metro linear, tendo um total de 11 linhas por parcela. No período de maior intensidade do ataque
das pragas aos 27 DAE, foram utilizados métodos de controle para que não houvesse a perda de
plantas no ensaio.
As amostragens da praga ocorreram no período de 19/12/02 a 30/01/03, sendo essas, feitas
periodicamente duas vezes a cada semana, escolhendo-se seis plantas ao acaso. Em cada planta foi
contado o número de colônias de pulgões com pelo menos 15 indivíduos (ápteros e alados) por colônia
em cada terço (superior, mediano e inferior) separadamente em cada umas das cem parcelas,
amostrando-se, dessa forma, 600 plantas por amostragem. Nas plantas eram contados em cada terço
(superior, médio e inferior) separadamente, o número de colônias de pulgões com pelo menos 15
indivíduos por colônia. Os dados obtidos foram comparados através do Teste de Tukey a 5% de
probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As primeiras colônias de A. gossypii na área amostral foram observadas aos 20 dias após a
emergência das plantas (DAE). A maior incidência de A. gossypii ocorreu sempre no terço superior das
plantas, vindo a seguir os terços médio e inferior, respectivamente, sendo que essa relação foi
observada durante praticamente todo o período de ocorrência dessa espécie (Tab. 1).A preferência dos
pulgões pelas partes superiores das plantas do algodoeiro pode ser explicada, possivelmente, pela
facilidade que os indivíduos encontram em atingir as folhas mais altas no início da colonização, já que
esses insetos colonizadores são alados e chegam às plantas geralmente pelas partes mais elevadas.
Essa preferência pelo terço superior pode estar também ligada, à presença de folhas novas e tenras no
ponteiro, que são mais ricas em nutrientes essenciais e não essenciais e de mais fácil penetração pelo
aparelho bucal do inseto, além da maior radiação solar presente na parte superior das plantas
favorecendo assim o processo metabólico dos indivíduos.
A variação do número de colônias entre os terços das plantas foi semelhante ao longo do
período de ocorrência do afídeo. Nas seis primeiras avaliações somente foram encontrados pulgões no
terço superior das plantas. O número de colônias no terço superior representou pelo menos 44% do
total encontrado na planta durante o período de infestação, atingindo até 63% do total. As colônias
encontradas no terço inferior representaram sempre menos de 28% do total, chegando a atingir menos
de 11% no final do período de ocorrência, quando foram encontrados pulgões em toda a planta,
apresentando como pico de infestação o período entre o 27º e 34º DAE (Tab. 1). O período de maior
incidência no terço médio deu-se entre o 28º e 45º DAE, atingindo o ápice aos 38º DAE, ocorrendo com
menor intensidade durante o mesmo período no terço inferior do algodoeiro.
Através dos resultados obtidos comprovou-se que A. gossypii tem por hábito reproduzir-se e
alimentar-se principalmente no terço superior do algodoeiro durante todo o seu ciclo de vida. Esse
inseto também se encontra nos terços médio e inferior do algodoeiro, porém com uma menor
intensidade e durante menor tempo. Verifica-se que não há diferença significativa entre a ocorrência da
praga nos terços médio e inferior.
5000
Nº DE COLÔNIAS
4000
y = 1,4106x 5 - 43,174x 4 + 448,88x 3 - 1872,9x 2 + 3333,4x - 1871,1
R2 = 0,9688
TOTAL
SUP
MED
INF
Polinômio (TOTAL)
3000
2000
1000
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
-1000
AMOSTRAGEM
Figura 1. Distribuição vertical de A. gossypii em algodoeiro. UFMS Dourados, MS. 2002/2003.
Até o 14º DAE ainda não era possível classificar a distribuição das colônias por terço das
plantas, pelo fato dessas serem muito pequenas, e até o 21º DAE as plantas também não
apresentavam muitas folhas. Outro fato relevante, é que o inseto alado chega até a lavoura voando ou
levado pelo vento, tendo, assim, como primeiro contato o terço superior da planta, e correlacionando
esse fato, com o fato de que é no ponteiro, e terço superior da planta que se encontram as folhas mais
novas, podemos concluir que a maior densidade populacional de A. gossypii no terço superior do
algodoeiro deve-se as condições favoráveis que a praga encontra para se estabelecer nessa parte das
plantas.
Tabela 1. Distribuição vertical de A. gossypii em algodoeiro. UFMS, Dourados, MS. 2002/2003.
COLONIAS / PARCELAS
AMOSTRAGEM
Superior
Médio
Inferior
Total
0,93
0,0
0,0
0,93
1ª → 19/12/02
0,47
0,0
0,0
0,47
2ª → 23/12/02
1,15
0,0
0,0
1,15
3ª → 26/12/02
9,55
0,0
0,0
9,55
4ª → 02/01/03
17,52
0,0
0,0
17,52
5ª → 06/01/03
23,79
0,0
0,0
23,79
6 → 09/01/03
21,55
8,63
3,78
33,96
7 → 13/01/03
23,23
11,23
6,68
41,14
8 → 16/01/03
17,88
13,91
8,52
40,31
9 → 20/01/03
12,84
8,35
5,18
26,37
10 → 23/01/03
0,86
0,46
0,52
1,84
11 → 27/01/03
0,0
0,0
0,0
0,0
12 → 30/01/03
a
b
b
Média
10,8142
3,5483
2,0567
16,42
Média geral: 5,4731
Erro padrão da média: 1,9288
Desvio padrão: 6,6817
Coeficiente de variação: 122,08
As médias seguidas pela mesma letra não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey (P>0,05).
CONCLUSÃO
De acordo com a metodologia adotada pode-se concluir que, em um programa de Manejo
Integrado de Pragas em algodoeiro, o terço superior das plantas pode ser adotado com segurança
como unidade de amostragem para A. gossypii, por apresentar resultados de infestação
significativamente superiores aos demais terços do algodoeiro durante todo o ciclo da cultura.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LUTTRELL, R. G.; FITT, G. P.; RAMALHO, F. S.; SUGONYAEV, E. S. Cotton pest management: Part
1. A worldwide perspective. Annu. Rev. Entomol., v. 39, p. 517-26, 1994.
DEGRANDE, P. E. Manejo integrado de pragas do algodoeiro. In: EMBRAPA AGROPECUÁRIA DO
OESTE (Dourados, MS). Algodão: informações técnicas. Dourados: EMBRAPA-CPAO; Campina
Grande: EMBRAPA-CNPA , 1998. p. 154-191. (EMBRAPA-CPAO. Circular Técnica, 7),
FERNANDES, M.G. Distribuição espacial e amostragem seqüencial dos principais noctuídeos do
algodoeiro. 2001. Tese Doutorado (Entomologia) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de
Jaboticabal. Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal.
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