Ataque de Aphis gossypii Glover

Paulo PD; Alvarenga AC; Leite GLD; Picanço M; Costa CA. 2012. Ataque de Aphis gossypii Glover
(Hemiptera: Aphidae) em plantações de quiabeiro Horticultura Brasileira 30: S1313-S1318.
Ataque de Aphis gossypii Glover (HEMIPTERA: APHIDIDAE) em plantações
de quiabeiro
Paula Daiana de Paulo1; Anarelly Costa Alvarega1; Germano Leão Demolin Leite1; Marcelo
Picanço2; Cândido Alves da Costa1
1
Universidade Federal de Minas Gerais- Instituto de Ciências Agrárias, Montes Claros, MG, CEP 39404-547,
[email protected],
[email protected];
[email protected];
Candido
[email protected]
2
Universidade Federal de Viçosa (UFV), Dep. de Biologia animal, Viçosa, MG, CEP 36571-000, [email protected]
RESUMO
O controle de Aphis gossypii Glover (Hemiptera: Aphididae) em quiabeiro Abelmoschus esculentus
(L.) (Malvaceae) consiste principalmente no uso de inseticidas, em virtude da falta de informação
sobre outros fatores de mortalidade. O objetivo deste estudo foi determinar os efeitos de predadores
e parasitóides, altura de dossel, idade da planta, área foliar, compostos orgânicos foliares, níveis de
nitrogênio e potássio, densidade de tricomas, pluviosidade e temperatura na intensidade de ataque
de A. gossypii em dois cultivos sucessivos de Abelmoschus esculentus var. Santa Cruz. Estimou-se,
mensalmente, o número de A. gossypii e de inimigos naturais (inspeção visual) ocorridos nas folhas
(uma folha/planta) localizadas nas partes basal, mediana e apical de 30 plantas/plantação. Os fatores
que mais contribuíram com a redução da população de pulgões foram a senescência de plantas, área
foliar e inimigos naturais, principalmente Adialytus spp., aranhas e Coccinellidae. Maior número de
pulgões foi observado na parte basal que na mediana e apical de plantas de quiabeiro. Pluviosidade
total pode reduzir a população de pulgões. Tricomas tectores (não glandulares) ou baixa densidade
destes, compostos orgânicos foliares e níveis de N e de K não foram importantes para a redução da
população de pulgões.
PALAVRAS-CHAVE: Abelmoschus esculentus, afídeos, inimigos naturais, área foliar, nitrogênio.
ABSTRACT
Attack of Aphis gossypii Glover (HEMIPTERA: APHIDIDAE) on okra plantations
The control of Aphis gossypii Glover (Hemiptera: Aphididae) on okra Abelmoschus esculentus (L.)
(Malvaceae) consist primarily in the use of insecticides, due to the lack of information on other
mortality factors. The objective of this study was to determine the effects of predators and
parasitoids, height of canopy, plant age, leaf areas, organic compounds leaves, levels of leaf
nitrogen and potassium, density of leaf trichomes, total rainfall and median temperature on attack
intensity of A. gossypii on two successive A. esculentus var. Santa Cruz plantations. Monthly
number estimates of A. gossypii and natural enemies (visual inspection) occurred on bottom, middle
and apical parts of 30 plants/plantation (one leaf/plant). Plants senescence, leaf areas and natural
enemies, mainly Adialytus spp., spiders and Coccinellidae, were some of the factors that most
contributed to aphid reduction. A higher number of aphids was found on the bottom part than
medium and apical parts of okra plants. Total rainfall can reduce the aphid population. Trichomes
non-glandular or low density, organic compounds leaves and levels of N and K were not important
for reducing aphid population production and economical return.
Keywords: Abelmoschus esculentus, aphid, natural enemies, leaf area, nitrogênio.
O quiabo, Abelmoschus esculentus (L.) (Malvaceae), é uma planta anual que pode chegar
a três metros de altura, originária das regiões quentes da África e que pode produzir até
40 toneladas/ hectare (Filgueira, 2000). O pulgão Aphis gossypii Glover (Hemiptera: Aphididae) é
uma praga importante da cultura e pode causar danos econômicos às plantas alimentando-se da
Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012
S 1313
Paulo PD; Alvarenga AC; Leite GLD; Picanço M; Costa CA. 2012. Ataque de Aphis gossypii Glover
(Hemiptera: Aphidae) em plantações de quiabeiro Horticultura Brasileira 30: S1313-S1318.
seiva e revestir suas folhas com honeydew, que facilita o crescimento da fumagina (Patel et al.,
1997;
Satar et al.,
2005).Este
inseto tem
sido
controlado principalmente com
inseticidas,
principalmente devido à falta de conhecimento sobre os fatores que afetam seu crescimento
populacional. Tal informação poderia ser usada para predizer ataque desta praga que por sua
vez poderia reduzir
as
perdas económicas para
as
plantas
do quiabo
(Dent,1995).
Vários fatores podem influenciar a ocorrência de pulgões e a adubação é a mais importante
(Cisneros & Godfrey, 2001, Slosser et al., 2004). Um excesso de nitrogênio(N) ou deficiência
de potássio (K) pode conduzir a uma maior acumulação de aminoácidos que por sua vez pode
causar maior
taxa
de ataque por
insetos
sugadores (Jansson e Ekbom,
2002). Além
disso,
a fenologia da planta, tais como posição das folhas na copa da planta, idade da planta, área
foliar e tricomas, além de inimigos naturais e fatores climáticos
podem influenciar a
população de A. gossypii (Sechser et al., 2002, Santos et al., 2003, Soglia et al., 2002, Men et al.,
2004; Chau et al., 2005, Rhainds e Messing, 2005; Satar et al., 2005). Como os efeitos desses
fatores sobre plantas de quiabeiro são pouco conhecidos, o objetivo do presente estudo foi avaliar os
efeitos de predadores, parasitóides, compostos orgânicos foliares, níveis de N e K, a densidade de
tricomas das folhas, altura do dossel, idade da planta, área foliar , precipitação pluvial e
temperatura na intensidade de ataque de A. gossypii em plantações sucessivas de quiabo em
condições de campo.
MATERIAIS E MÉTODOS
Este experimento foi realizado em duas plantações de quiabo de Abelmoschus esculentus var. Santa
Cruz em Guidoval, Minas Gerais, Brasil. Fertilização e culturais práticas utilizados para quiabo
neste estudo foram descritos por Filgueira (2000) e as plantas não foram pulverizadas com
inseticidas. As duas plantações de quiabo foram de 50 m de distância (com gramíneas de pequena
altura entre plantações); cada plantação composta por 3,6 ha com 10.000 plantas 0,30 m, além da
linha, 1,2 m entre linhas. As 10 linhas periféricas e 40 plantas em cada extremidade da linha não
foram considerados, deixando uma área útil de 2,7 ha, ou seja 30 linhas, 176 m de comprimento. A
primeira plantação com 16 dias de idade, foi avaliada a partir de 1 março - 30 junho de 2011 e a
segunda, a plantação de 50 dias de idade, foi avaliada a partir de 1 julho - 30 novembro 2011. Após
a avaliação final, a primeira plantação foi eliminada. Essas plantações estão longe de outras
hortaliças (i.e., Brassica oleracea L. var. Capitata, Cucumis sativus L., Cucurbita pepo L.,
Lycopersicon esculentum Mill., Phaseolus vulgaris L., Solanum melongena L.), pelo menos, 1,000
m.
Dados climáticos de Guidoval, pluviosidade e temperatura mediana (mínimo + máximo / 2), foram
Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012
S 1314
Paulo PD; Alvarenga AC; Leite GLD; Picanço M; Costa CA. 2012. Ataque de Aphis gossypii Glover
(Hemiptera: Aphidae) em plantações de quiabeiro Horticultura Brasileira 30: S1313-S1318.
lidos diariamente a partir de um pluviômetro e termômetro, instalado no campo no início do
experimento.Efeitos de altura na copa predadores, parasitóides, densidade de tricomas, área foliar, e
A. gossypii foram verificadas por análise de variância e teste de Tukey intervalo múltiplo (P ≤ 0,05)
foram utilizados para avaliar as relações de predadores, parasitóides, compostos orgânicos nas
folhas, N e K, a densidade de tricomas da folha, idade da planta, chuvas e temperatura com o
número de A. gossypii em plantas de quiabo.Análises de regressão (P ≤ 0,05) foram utilizados para
avaliar as relações de predadores, parasitóides, compostos orgânicos nas folhas, folhas N e K, a
densidade de tricomas da folha, idade da planta, chuvas e temperatura com o número de A.
gossypii em plantas de quiabo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O pulgão A. gossypii apresentou maior número de indivíduos ápteros e alado durante os meses de
maio (primeira plantação) e setembro (segundo cultivo) em plantas de quiabo (Figura 1), quando as
plantas foram de 76 e 110 dias de idade, respectivamente. Um ataque menor pulgão foi observado
na segundo plantação
de
quiabo
(35.0/folha),
plantadas 50 m
de
distância a
partir
do primeiro (485.0/folha) (Figura 1). O aumento da população de pulgões ápteras causando a
aparência de
alados desta
espécie para
a
dispersão (Figura 1). Maior
número
de formas ápteras desse inseto foi observado em plantas com áreas maiores, que foram localizados
em média, inferiores e regiões apicais do dossel da planta (Tabela 1). Populações de baixa foram
registradas depois que as folhas foram colonizadas e formas aladas desse inseto para a
dispersão foram observadas (Figura 1).
Os efeitos de N foliar e teores de K do quiabo uma população de pulgões não foram detectadas
devido à pequena variação desses nutrientes nas folhas durante o período experimental.
A população de pulgões no quiabo é afetada pela senescência da cultura, a copa das plantas, área
foliar e inimigos naturais. Aphis gossypii pode ser uma praga prejudicial em regiões produtoras
de quiabo com menor precipitação total. Aparentemente, tricomas não glandulares ou a sua baixa
densidade, os compostos orgânicos nas folhas e níveis de N e K não estão correlacionados com a
população de pulgão.
AGRADECIMENTO
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG pelo apoio à
participação no 52º Congresso Brasileiro de Olericultura.
Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012
S 1315
Paulo PD; Alvarenga AC; Leite GLD; Picanço M; Costa CA. 2012. Ataque de Aphis gossypii Glover
(Hemiptera: Aphidae) em plantações de quiabeiro Horticultura Brasileira 30: S1313-S1318.
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Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012
S 1316
Paulo PD; Alvarenga AC; Leite GLD; Picanço M; Costa CA. 2012. Ataque de Aphis gossypii Glover
(Hemiptera: Aphidae) em plantações de quiabeiro Horticultura Brasileira 30: S1313-S1318.
cultivares comerciais de crisântemo (Dendranthema glandiflora Tzvelev). Revista Brasileira de
Entomologia, São Paulo, v.47, n.1, p.49-54, 2003.
Tabela 1. Efeito da copa das plantas em números, a mediana foi ± erro padrão) de áptera Aphis gossypii / folha, o
percentual de múmias de afídeos, número de múmias de pulgões / folha, a densidade de tricomas (adaxial + abaxial /2)
(mm²) e área foliar (cm²), no quiabo, Abelmoschus esculentus.
Table 1. Effect of plant canopy on numbers (median ± standard errors) of apterous Aphis gossypii/leaf, percent of aphid
mummies, number of aphid mummies/leaf, trichome density (adaxial + abaxial/2) (mm2) and leaf area (cm2) in the okra,
Abelmoschus esculentus.
Copa das Plantas
Variável
Apical
Médio
Baixo
Aphis gossypii (APTEROS)
68.48 ± 19.27 B
462.96 ± 173.32 AB
577.52 ± 149.98 A
NÚMERO DE PULGÕES
10.22 ± 3.57 B
103.64 ± 41.84 AB
163.60 ± 68.23 A
13.47 ± 3.11 B
22.05 ± 3.68 AB
27.41 ± 4.26 A
0.21 ± 0.06 A
0.09 ± 0.02 B
0.10 ± 0.05 B
140.39 ± 9.99 C
300.89 ± 26.32 A
226.69 ± 14.53 B
MUMIFICADOS
PERCENTUAL DE PULGÕES
MUMIFICADOS
DENSIDADE DE TRICOMAS
ARÉA FOLIAR
Superficie foliar
DENSIDADE DE TRICOMAS
Adaxial
Abaxial
0.08 ± 0.01 B
0.30 ± 0.04 A
Médias seguidas pela mesma letra não diferem pelo teste de Tukey teste de alcance múltiplo (P <0,05).
Means followed by the same letter do not differ by Tukey`s multiple range test (P < 0.05).
Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012
S 1317
Paulo PD; Alvarenga AC; Leite GLD; Picanço M; Costa CA. 2012. Ataque de Aphis gossypii Glover
(Hemiptera: Aphidae) em plantações de quiabeiro Horticultura Brasileira 30: S1313-S1318.
P lantação 1
P lantação 2
2000
A
1500
1000
5 00
25
Pulgões alados/folha/leaf
Pulgões ápteros/folha
2500
15
10
5
0
0
10 0
C
50 0
Pulgões mumificados
Pulgões mumificados/folha
60 0
40 0
30 0
20 0
10 0
0
Coccinellidae/folha
Adialytus spp./folha
6
4
2
0
40
20
F
2
1
0
0 .5
G
0 .5
H
0 .4
2
Tricomas/mm
Aranhas/folha
60
3
E
0 .6
0 .4
0 .3
0 .2
0 .3
0 .2
0 .1
0 .1
0 .0
0 .0
6
6
K (% na matéria seca)
I
5
4
2
3
0
60
L
9
6
3
0
J
4
12
CTI do pico 28.285
N (% na matéria seca)
D
80
0
8
CTI do pico 25.504
B
20
M
40
20
0
M ar. A b r. M aio Jun .
Ju l. A go . S et.
O ut. N o v .
M ar. A b r. M aio Jun .
Ju l. A go . S et.
O ut. N o v .
Figura 1. Dinâmica populacional de Aphis gossypii, Adialytus spp. (número de pulgões mumificados, % de pulgões
mumificados e número de adultos), Coccinellidae, aranhas, tricomas (adaxial + abaxial/2), nitrogênio e potássio,
corrente total de íons CTI) dos picos com retenção de tempo de 25.504 e 28.285 min em duas plantações de
Abelmoschus esculentus. Os símbolos representam a média de 30 folhas para artrópodes, três avaliações para conteúdo
de NK e tricomas e uma avaliação para os picos. Barras verticais indicam os erros das médias. Guidoval, MG, 2011.
Figure 1. Population dynamics of Aphis gossypii Adialytus spp. (Number of mummified aphids, aphid mummies% and
number of adults), Coccinellidae, spiders, trichomes (adaxial + abaxial / 2), nitrogen and potassium, total ion current
TIC) peak with retention time of 25.504 and 28.285 min on two crops of Abelmoschus esculentus. The symbols
represent the average of 30 leaves for arthropods, three reviews for content and NK trichomes and one evaluation to the
peaks. Vertical bars indicate the errors of the mean. Guidoval, MG, 2011.
Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012
S 1318