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ALGODÃO
Gossypium hirsutum L.
O algodoeiro, planta da família Malvaceae é cultivado, no Brasil, em três macroregiões,
a Norte–Nordeste (Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas e Bahia), a Centro–Oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e
Goiás) e a Sul–Sudeste (São Paulo, Paraná e Minas Gerais). Em todas elas encontram-se
diferentes sistemas de produção, desde pequenas glebas, de agricultura familiar, até
culturas empresariais, de alto nível tecnológico. Os conceitos e recomendações a seguir,
aplicam-se às duas últimas regiões, especialmente à cotonicultura realizada no Estado
de São Paulo.
Exigências ambientais: o algodoeiro é planta exigente, quanto à qualidade do solo. São
desfavoráveis para o seu cultivo as glebas acentuadamente ácidas ou pobres em
nutrientes, as excessivamente úmidas ou sujeitas a encharcamento e os solos rasos ou
compactados. Com respeito a condições climáticas, exige, para um ciclo de
aproximadamente 160 dias, e dependendo do desenvolvimento e produção das plantas,
um suprimento de 750 a 900 mm de água, bem distribuídos no período. Após os 130
dias de idade da cultura, chuvas excessivas ou persistentes comprometem a produção e a
qualidade do produto. Durante todo o ciclo, necessita de dias predominantemente
ensolarados, com temperaturas médias entre 22 e 26oC. Satisfeitas tais condições, a
cultura tem sido realizada com sucesso em altitudes variando de 200 até 1000m. Nas
altitudes maiores o ciclo pode ser alongado em 30 dias ou mais.
Cultivares: além de possíveis diferenças no potencial de produção e de qualidade da
fibra, cultivares de algodoeiro se distinguem, pelo menos, por quatro características, que
pesam na sua escolha para plantio: a) porte e conformação da planta, o que condiciona
adaptabilidade a diferente sistemas de produção; b) duração e grau de determinação do
ciclo produtivo, o que tem implicações na época de semeadura, exigências nutricionais e
manejo da cultura; c) rendimento no beneficiamento (porcentagem de fibra), fator de
escolha que resulta da forma de comercialização do produto (em caroço ou pluma) pelo
produtor; e d) resistência ou tolerância a doenças, ponto decisivo segundo o histórico ou
probabilidade de ocorrência de patógenos na área a ser cultivada. Acham-se disponíveis
no Brasil numerosas cultivares, de órgãos públicos e empresas privadas, que se
destacam em uma ou mais dessas características. O produtor deve escolher aquela que
sobressai quanto à característica que julga mais importante para o seu sistema de
produção, sem que, por outro lado, apresente deficiências graves, notadamente,
suscetibilidade a doenças.
Época de semeadura: é determinada pelas exigências climáticas da planta, em face
das condições prevalecentes na região considerada e do ciclo previsto para a cultura
(entre 140 e 170 dias, conforme a cultivar). Os pontos fundamentais são garantir
umidade e temperatura suficientes para germinação, emergência e desenvolvimento das
plantas e, principalmente, tempo relativamente seco na colheita. Na região Sul–Sudeste
a maior probabilidade de sucesso ocorre para semeaduras entre 1o. de outubro e 20 de
novembro.
Espaçamento e densidade: em lavouras com colheita manual, e dependendo da
fertilidade do solo e da cultivar empregada, o espaçamento entre linhas varia de 0,80 a
1m. Para colheita mecanizada, as máquinas mais modernas são bastante versáteis, com
espaçamentos que variam entre 0,76 a 1m, conforme o número de linhas (2, 4 ou 5)
colhidas de uma vez, pela máquina. Dependendo, também, das condições apontadas, o
número de plantas na linha varia de 7 a 12 por metro linear.
Sementes necessárias: conforme a cultivar, 100 sementes deslintadas quimicamente
pesam de 8 a 10g. Dependendo do espaçamento e densidade utilizados, e da
porcentagem de germinação, são necessários de 13 a 18 kg de sementes por hectare.
Calagem e adubação: para adequada recomendação, há necessidade de análise química
do solo. Aplicar calcário para elevar a saturação por bases do solo à faixa de 60 – 70%.
Na semeadura, aplicar 10 kg/ha de N em mistura com P e K, conforme segue: para
teores de P resina (mg/dm3) menores do que 6, de 7 a 15, de 16 a 40, de 41 a 80 e
maiores do que 80, aplicar, respectivamente, 120, 100, 80, 60 e 40 kg/ha de P 2O5; para
teores de potássio trocável (m.molc/dm3) menores que 0,7, de 0,8 a 1,5, de 1,6 a 3,0, de
3,1 a 6,0 e maiores do que 6,0, aplicar, respectivamente, 120, 100, 80, 60 e 40 kg/ha de
K2O (nos dois primeiros casos, parcelar a dose recomendada, aplicando em cobertura,
juntamente com o nitrogênio, 40 kg e 20 kg/ha de K2O, respectivamente. Aplicar
também na semeadura, 3 kg/ha de zinco e de 0,5 a 1,0 kg/ha de boro, em solos com
baixos teores desses nutrientes. No caso do boro, elevar a dose para 1,2 a 1,5 kg/ha,
caso já tenham ocorrido, na gleba, sintomas visuais de deficiência. O boro pode ser
fornecido, também, em cobertura, junto com a primeira ou única adubação nitrogenada,
em doses de até 1,5 kg/ha, ou por via foliar, junto com inseticidas, em aplicações
semanais, no florescimento. Em cobertura, aplicar nitrogênio em doses variando de 30
kg/ha (solos em pousio prolongado ou após rotação com leguminosas) a 70 kg/ha, em
solos intensamente cultivados e adubados, ou desgastados. Nas adubações de semeadura
e em cobertura, garantir fornecimento de 20 a 40 kg/ha de enxofre. Atentar para
recomendações específicas feitas pela entidade detentora da cultivar utilizada.
Técnicas de plantio: além do método convencional, o algodoeiro adapta-se, também,
ao sistema de plantio direto. Em qualquer dos casos é fundamental um plantio raso,
com, no máximo, 3 cm de terra sobre as sementes, e o adubo colocado ao lado e abaixo
destas. No plantio direto, além de equipamentos especiais, deve-se estar preparado para
incidências maiores de pragas e doenças, no início da cultura, exigências adicionais de
nutrientes, sobretudo nitrogênio, necessidade de manejo adequado da palhada ou dos
restos da cultura anterior e problemas com o controle de ervas daninhas. Em ambos os
casos, mas principalmente no sistema convencional, é indispensável o emprego de
técnicas conservacionistas do solo.
Tratos culturais: a cultura deve ser mantida livre de ervas daninhas durante todo o
ciclo. Herbicidas seletivos, e métodos de aplicação e equipamentos que protegem as
plantas, permitem o controle químico do mato. Cultivos manuais e mecânicos são
também utilizados. A altura das plantas deve ser monitorada e controlada, se necessário
mediante reguladores de crescimento, para que não ultrapasse, no estágio final, 1,5
vezes o espaçamento entre linhas adotado.
Pragas e seu controle: as numerosas pragas que atacam o algodoeiro podem ser
divididas em dois grupos: a) as que ocorrem principalmente no estabelecimento da
cultura (broca–da–raiz, tripes, broca–do–ponteiro, percevejo castanho, pulgão,
cigarrinha) e b) as que ocorrem principalmente no florescimento e na frutificação
(curuquerê, mosca branca, lagarta–das–maçãs, ácaro branco, ácaro rajado, percevejo
rajado, percevejo manchador, lagarta militar, lagarta rosada, bicudo). A forma mais
racional de seu controle é através do manejo integrado, que compreende medidas como
destruição de soqueiras, época e concentração de plantio, uso de cultivares tolerantes,
rotação de cultura, monitoramento populacional, controle de bordaduras e focos, e uso
de feromônios dentre outras. O controle químico se faz, conforme a espécie, através de
produtos sistêmicos ou de contato.
Doenças e seu controle: o algodoeiro é afetado por doenças altamente destrutivas como
as murchas de Fusarium e de Verticillium, nematóides, mancha–angular, ramulose e
mosaico das nervuras. Mesmo doenças tidas no passado como secundárias (alternaria,
ramularia, cercospora e outras manchas foliares) podem tornar-se importantes, se
incidirem em cultivares muito suscetíveis. O controle mais racional e econômico desses
patógenos se dá mediante o uso de cultivares resistentes ou tolerantes, complementado
por medidas profiláticas ou práticas culturais, dentre elas, o uso de sementes sadias,
rotação de culturas, destruição de restos culturais, espaçamentos apropriados e
adubações equilibradas. O controle químico é recomendado para tratamento de
sementes e para algumas dessas doenças, especialmente as foliares, em caso de não se
dispor de cultivares resistentes ou tolerantes.
Rotação recomendada: adubos verdes e culturas comerciais como soja, milho,
amendoim e mamona, cuidando para que não sejam utilizadas nestas, cultivares
suscetíveis a patógenos que atacam também o algodoeiro.
Colheita: de 140 a 170 dias de idade da cultura, conforme a cultivar e as condições
ambientais e de cultivo. Pode ser realizada manualmente, em uma ou mais vezes, ou por
colhedeiras mecânicas. Na manual, são necessários cerca de 25 homens/dia para
colheita de 1 hectare. Na mecânica, o mesmo serviço pode ser realizado em 1,5 ou 3
horas, dependendo da máquina. Colher algodão seco e o mais limpo possível e não
deixar algodão aberto, no campo, por mais de 10 dias.
Custos e produtividade: culturas razoavelmente tecnificadas têm um custo mínimo de
R$1.800 por hectare (safra 2004/05) e podem produzir cerca de 2400 kg/ha de algodão
em caroço. Produtividades de 3.500 kg/ha ou mais, podem ser obtidas, porém, com
custos acima de R$3.000 por hectare.
REFERENCIAS
MILTON GERALDO FUZATTO 1; LUIZ HENRIQUE CARVALHO 1 ; EDIVALDO CIA 1; NELSON MACHADO DA SILVA 1;
EDERALDO JOSÉ CHIAVEGATO 2; REGINALDO ROBERTO LÜDERS1.
(1) Centro de Grãos e Fibras - IAC
(2) Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz - USP
*Texto extraído do Boletim 200
Centro de Grãos e Fibras
Instituto Agronômico - IAC
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