MAYRA XIOMARA HERNÁNDEZ SANABRIA FISIOPATOLOGIA DA Babesia bovis: MOLÉCULAS DE ADESÃO EXPRESSADAS EM CÉLULAS ENDOTELIAIS (ICAM-1, VCAM, PECAM-1, E-SELECTINA E TROMBOSPONDINA) Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária, para obtenção do título de “Magister Scientiae”. VIÇOSA MINAS GERAIS - BRASIL 2002 A Dios, a mi familia y a mis amigos. Todos los que ayudaron en mi camino. Dedico este trabajo. iii AGRADECIMENTO A Deus, pelas infinitas graças recebidas. A meus pais, Ofélia e Gustavo, minhas irmãs Johanna e Diana e minhas avós Rosita e Mita, pelo amor, o imenso apoio e o incentivo. Aos meus professores Marlene Isabel Vargas Viloria e Joaquim Hernán Patarroyo Salcedo, pela valiosa orientação, pelo carinho e amizade em todo este tempo e por ser mais que meus professores, uma família para mim. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e à Universidade Federal de Viçosa pelo suporte financeiro e estrutural indispensáveis para a realização deste trabalho. Ao Departamento de Medicina Veterinária e ao Instituto de Biologia Aplicado à Agricultura (BIOAGRO) por contribuírem na formação cientifica. À Universidad Del Tolima, pela formação dada. A Leandro pelo grande carinho e o apoio que foi mais além das fronteiras. Aos meus queridos amigos da Colômbia que ainda estão aqui Alba, Ximena, Irma, Gloria, Maria Fernanda, Claudia Carmen, Catalina, Luis, Ramon e Fabio e aos que já foram embora Leonardo, Claudia, Juan Carlos, Teresa e Fernando, pelo companheirismo e a amizade. Aos meus colegas de mestrado Daniela, Policarpo, Marcelo, pela amizade e a ajuda em todo momento. iv A Sidimar pela colaboração e participação na coleta de material no inicio do experimento e a Marcinho pela paciência para coletar o sangue no transcurso. Aline e a Marcinho pela assessória técnica, nos momentos de dificuldade. A meus colegas de laboratório, Ana Paula e Bruno pela ajuda e a convivência agradável. A Bráulia e a Ricardo pela amizade e grande colaboração. A minhas companheiras de república Mayra, Márcia, Thais e Luciana que fizeram mais agradável minha estadia nesta cidade. A Olinto pelo auxilio imprescindível na realização dos cortes por congelamento. Aos funcionários Cláudio e Adão, do Laboratório de Histopatologia Veterinária, pelo preparo dos cortes histológicos. A todo o pessoal do estábulo pela ajuda. A José Carlos e Cauzinho por toda a colaboração e cuidados no trato com os animais no isolamento. A todos que direta ou indiretamente colaboraram para a execução deste trabalho, muito obrigada! v BIOGRAFIA MAYRA XIOMARA HERNÁNDEZ SANABRIA, filha de Gustavo Hernández Ávila e Ofélia Sanabria de Hernández, nascida em 4 de março de 1978, na cidade de Ibagué-Tolima-Colômbia. Ingressou no curso de Medicina Veterinária da Universidad del Tolima em 1994, concluindo sua graduação no ano 2000. Iniciou o curso de Mestrado em Medicina Veterinária na Universidade Federal de Viçosa em agosto de 2000. vi ÍNDICE LISTA DE ABREVIATURAS....................................................................... RESUMO.................................................................................................... ABSTRACT................................................................................................ 1. INTRODUÇÃO....................................................................................... 2. REVISÃO DE LITERATURA.................................................................. 2.1 Fisiopatologia da babesiose bovina........................................... 2.2 Moléculas envolvidas na adesão............................................... 2.2.1 Moléculas expressas na superfície das hemácias parasitadas................................................................. 2.2.2 Moléculas de adesão das células endoteliais............. 2.2.2.1 Moléculas de adesão estudadas nnnnnnnnnnnnnnnnnnnneste trabalho..................................... 2.2.3 Citoaderência.............................................................. 2.2.4 Estudos de citoaderência in vitro.............................. 3. OBJETIVOS........................................................................................... 3.1 Objetivo geral............................................................................. 3.2 Objetivos específicos................................................................. 4. MATERIAL E MÉTODOS....................................................................... 4.1 Animais...................................................................................... 4.2 Amostra de Babesia bovis......................................................... 4.3 Inoculação dos animais ............................................................ 4.4 Obtenção das células endoteliais ............................................ 4.5 Confirmação das características de célula endotelial .............. 4.6 Anticorpos usados..................................................................... 4.7 Estimulo da adesão................................................................... 4.8 Delineamento experimental....................................................... 4.9 Testes de adesão de eritrócitos em células endoteliais............ 4.9.1 Cinética de adesão...................................................... 4.9.2 Testes de adesão em células estimuladas................. 4.10 Imunohistoquímica em cultura de células endoteliais para identificação de moléculas de adesão in vitro........................... 4.11 Imunohistoquímica para identificação de moléculas de adesão in situ............................................................................ 4.12 Imunohistoquímica para identificação de antígenos de vii Página ix xi xiii 1 4 6 11 11 13 15 19 22 24 24 24 25 25 25 26 26 27 28 29 29 30 30 31 33 34 Babesia bovis............................................................................ 5. RESULTADOS....................................................................................... 5.1 Estabelecimento dos cultivos de células endoteliais................. 5.2 Comprovação da natureza endotelial das BUVECs.................. 5.3 Cinética de adesão de eritrócitos em células não ................estimuladas ............................................................................... 5.3.1 Avaliação clínica 5.4 Testes de adesão de eritrócitos em BUVECS estimuladas..... 5.5 Imunohistoquímica para identificação de moléculas de nnnnnnnnadesão in vitro............................................................................ 5.6 Expressão de moléculas de adesão in situ............................... 5.7 Imunohistoquímica para detecção de antígenos de B. bovis.... 6. DISCUSSÃO.......................................................................................... 7. CONCLUSÕES...................................................................................... 7.1 Perspectivas futuras.................................................................. 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................... viii 36 38 38 40 42 47 49 52 59 67 71 83 84 85 LISTA DE ABREVIATURAS ARDS – Síndrome similar à síndrome respiratória aguda BAECs – Células Endoteliais de Aorta Bovina BUVECs – Células Endoteliais de Veia Umbilical Bovina BbovUFV1 – amostra de Babesia bovis UFV1 CAMs – Moléculas de adesão CSA – Sulfato A de Condroitina CD – “Cluster of Differentiation” Dil-Ac-LDL–1,1’-dioctadecyl-3,3,3’,3’-tetramethylindocarbocyanine perchlorate DMEM – Dulbecco’s Modified Eagle’s Médium EDTA – Acido Etileno diamino tetracetico ELAM-1– Molécula-1 de adesão endotelial leucocitária ou CD62-E GPI – Glicosilfosfatidilinositol HPR – Proteína Rica em Histidina ICAM-1 – Molécula de Adesão Intercelular 1 IFN-γ – Interferon Gamma IgG – Imunoglobulina G IL-1 – Interleucina 1 LFA-1 – Antígeno de Função Leucocitária 1 LPS – Lipopolissacarídeos MHC – Complexo de Histocompatibilidade Principal ON – Óxido Nítrico ix PAP – Peroxidase anti-peroxidase PBMC – Células Mononucleares Periféricas Bovinas PECAM-1 – Molécula de Adesão Plaqueta- Célula Endotelial 1 PfEMP1 – Proteína de Membrana Eritrocitária 1 do Plasmodium falciparum PMNN – Polimorfonucleares neutrófilos rbTNF-α – TNF-α recombinante TNF-α – Fator de Necrose Tumoral alfa TSP – Trombospondina VCAM – Molécula Vascular de Adesão Celular VESA 1 – Antígeno Variável de Superfície Eritrocitária 1 da Babesia bovis VLA-4 – Antígeno Leucocitário Tardio 4 x RESUMO HERNÁNDEZ SANABRIA, Mayra M.S., Universidade Federal de Viçosa, setembro de 2002. Fisiopatologia da Babesia bovis: moléculas de adesão expressadas em células endoteliais (ICAM-1, VCAM, PECAM-1, E-selectina e trombospondina). Orientadora: Marlene Isabel Vargas Vilória. Conselheiros: Joaquín Hernán Patarroyo Salcedo e João Carlos Pereira da Silva. Foram isoladas células endoteliais de veia umbilical bovina (BUVECs) com a finalidade de determinar a expressão de moléculas de adesão como ICAM-1, VCAM, PECAM-1, E-selectina e trombospondina na fisiopatologia de B. bovis num estudo in vitro. Posteriormente esta expressão foi confirmada, num estudo in situ, em tecidos (cérebro, pulmão e rim) de animais que morreram após inoculação com amostra patogênica de Babesia bovis (BbovUFV1 7a passagem). Eritrócitos dos animais infectados foram testados quanto à capacidade de aderir em BUVECs determinando a cinética de adesão. Os mesmos testes de adesão foram realizados em BUVECs estimuladas com plasma de animais infectados com B. bovis e sobrenadante de cultura de PBMC bovino estimulado com peptídeo sintético proveniente da RAP-1 de B. bovis contendo citocinas quantificadas (IFN-γ, TNF-α e IL-12). Houve aumento significativo na adesão de eritrócitos de animais inoculados em BUVECs estimuladas com plasma e sobrenadante de PBMC. Entretanto, adesão foi observada somente para eritrócitos não parasitados, sugerindo que antígenos livres de B. bovis no soro marcam eritrócitos não parasitados, ou ainda uma possível expressão de uma isoforma de VESA-1 não aderente. Aderência não foi observada nos testes xi com amostras dos animais negativos. As células estimuladas com plasma de animais infectados e com sobrenadante de PBMC mostraram imunomarcação positiva muito mais intensa de ICAM-1, VCAM, PECAM-1, E-selectina e trombospondina que as células que não receberam estímulo. Igualmente no estudo in situ foi observado aumento na expressão de ICAM1, VCAM, PECAM-1, E-selectina e trombospondina em tecidos como cérebro, pulmão e rim dos bovinos infectados com B. bovis em comparação ao grupo controle. Estes resultados sugerem que as interleucinas, liberadas na fase aguda da babesiose, estimulam a expressão das moléculas de adesão relacionadas à fisiopatologia da babesiose causada por B. bovis, fato demonstrado in vitro pela expressão das moléculas em BUVECs e a citoaderência de eritrócitos. Estes achados demonstram similaridades na fisiopatologia de B. bovis e do Plasmodium falciparum. xii ABSTRACT HERNÁNDEZ SANABRIA, Mayra M.S., Universidade Federal de Viçosa, September of 2002. Physiopathology of Babesia bovis: adhesion molecules expressed on endothelial cells (ICAM-1, VCAM, PECAM-1, E-selectin and thrombospondin). Adviser: Marlene Isabel Vargas Vilória. Counselors: Joaquín Hernán Patarroyo Salcedo and João Carlos Pereira da Silva. Endothelial cells from bovine umbilical vein (BUVECs) were isolated with the purpose of determining the expression of ICAM-1, VCAM, PECAM1, E-selectin and thrombospondin in the physiopathology of Babesiosis caused by B. bovis. Later, this expression was confirmed by in situ study, using tissue samples (brain, lung and kidney) of animals that died after inoculation with a pathogenic strain of B. bovis (BbovUFV1 7th passage). Erythrocytes of infected animals were tested in order to observer capacity of binding to BUVECs and its adhesion kinetics. The same adhesion tests were made on BUVECs stimulated with plasma of animals infected with B. bovis and culture supernatant of bovine PBMC, stimulated with the synthetic peptide RAP-1 of B. bovis containing quantified cytokines (IFN-γ, TNF-α and IL-12). There was a significant increase in the adhesion of erythrocytes of animals inoculated in BUVECs stimulated with plasma and supernatant of PBMC. However, adhesion was observed only on non-parasitised erythrocytes, suggesting that free antigens of B. bovis in the serum can prime erythrocytes non-parasitised, or still a possible expression of an isoform of VESA-1 non adherent. Adherence was not observed in the tests with samples of the negative animals. Cells stimulated with infected animals xiii plasma and with supernatant of PBMC showed stronger expression of ICAM1, VCAM, PECAM-1, E-selectine and thrombospondin, them cells that didn't receive stimuli. In the same way, it was observed strong expression of ICAM1, VCAM, PECAM-1, E-selectine and thrombospondin in tissue samples of brain, lung and kidney in bovines infected with B. bovis, when comparing to the control group. These results suggest that Interleukins, liberated in the acute phase the Babesiosis, stimulate the expression of adhesion molecules related to the physiopathology of Babesiosis caused by B. bovis, as demonstrated by the expression of molecules in BUVECs and erythrocytes cytoadhesion. These date demonstrate physiopathologycal similarities between B. bovis and Plasmodium falciparum. xiv 1. INTRODUÇÃO A babesiose bovina, também conhecida como piroplasmose, é causada nas Américas por duas espécies de hematozoários, Babesia bovis e Babesia bigemina que estão amplamente distribuídas entre 40oN e 32oS do Equador. Em condições naturais, estes hematozoários são transmitidos pelo carrapato Boophilus microplus. Em oito países de América Latina esta doença causa perdas econômicas anuais estimadas em 1,5 bilhões de dólares (REY VALEIRÓN, 1998). Nos países de clima tropical e subtropical a babesiose constitui fator limitante para o desenvolvimento da pecuária, devido aos sérios problemas que produz, tais como: alta taxa de mortalidade e morbidade, perdas na produção de carne e leite, elevados custos de medidas profiláticas e de controle da doença. Ocasionalmente, Babesia bovis pode também ser transmitida ao homem por meio dos carrapatos infectados e produzir a morte, principalmente em pessoas esplenectomizadas (RISTIC & LEWIS, 1977) Dentro das diferentes alterações fisiopatológicas causadas por B. bovis, estão as modificações na membrana dos eritrócitos, expressão de proteínas de superfície que medeiam a adesão dos eritrócitos nas células endoteliais dos 1 capilares seguidos de seqüestro de hemácias parasitadas e não parasitadas, nos capilares dos órgãos internos, obstrução vascular, anoxia tecidual e lesões graves com perda de função dos órgãos. A inter-relação hospedeiro-parasita de Babesia bovis e Plasmodium falciparum é provavelmente regulada por mecanismos semelhantes. Nos dois tipos de infecção, ocorre desordem circulatória generalizada com ativação do sistema de coagulação, liberação de peptídeos vaso-ativos, consumo de fatores do complemento, hipotensão, vasodilatação e hemólise terminal. As duas doenças estão caracterizadas por baixa parasitemia, usualmente um por cento ou menos, e febre alta. A lesão mais característica é o seqüestro de eritrócitos nos leitos capilares, especialmente no cérebro (WRIGHT et al., 1989; REY VALEIRÓN, 1998). O estudo da dinâmica do processo de citoaderência, bem como a caracterização das moléculas expressas pelo parasita e seus ligantes, abrem uma nova perspectiva para o desenvolvimento de formas de controle e prevenção da babesiose bovina. Pode-se produzir peptídeos baseados na estrutura dos antígenos responsáveis pela adesão, que competem pelos receptores endoteliais, evitem a adesão de eritrócitos e impeçam o desenvolvimento de lesões associadas à adesão. Alternativamente, existe a possibilidade de identificar epítopos imunogênicos conservados entre as isoformas de uma proteína ligante às moléculas de adesão e, a partir daí, desenvolver vacinas capazes de induzir anticorpos bloqueadores eficazes. Estudos realizados no Laboratório de Biologia e Controle de Hematozoários/ DVT – BIOAGRO/UFV, demonstraram a adesão ex vivo de eritrócitos de animais inoculados com amostras virulentas de B. bovis, provenientes de diferentes regiões geográficas do país, em células endoteliais de aorta bovina. Estudos sobre a expressão de moléculas de adesão tais como ICAM-1, PECAM-1, VCAM, E-selectina e trombospondina em bovinos infectados experimentalmente com B. bovis, é um passo para estabelecer as bases de futuras pesquisas sobre o papel destas moléculas em outras doenças específicas. 2 Por outro lado, é necessário conhecer o papel das moléculas de adesão na fisiopatologia da babesiose bovina causada por B. bovis, com o intuito de se obter alternativas de controle e tratamento. 3 2. REVISÃO DE LITERATURA A babesiose é uma doença infecciosa produzida por um parasita intraeritrocitário do gênero Babesia, que pode afetar mamíferos domésticos e silvestres. A gravidade do quadro clínico e os níveis de mortalidade dependem da espécie, da amostra do parasita e do grau de imunidade dos hospedeiros (RISTIC & KREIER, 1981). Ocorre em países tropicais e subtropicais localizados em regiões a 32oS e 40oN de latitude. Essa distribuição é definida pela ecologia dos vetores, que encontram plenas condições de desenvolvimento neste tipo de clima. Assim, a babesiose pode ser identificada em grande parte da África, sul da Europa, sul da Ásia, América Central e do Sul e ilhas do Caribe (KUTTLER, 1988). Os agentes causadores da babesiose são classificados dentro do subreino Protozoa, filo Apicomplexa, classe Aconoidasida, ordem Piroplasmorida, família Babesiidae e gênero Babesia. As espécies de babesia que afetam bovinos são B. bovis, B. bigemina, B. divergens, B. ovata, B. jakimovi, B. occultans e B. major (KUTTLER, 1988). No Brasil, foram identificadas apenas as duas primeiras, sendo a mais patogênica a B. bovis (PATARROYO et al., 1982). 4 A B. bigemina é uma espécie considerada menos patogênica, normalmente associada à anemia não complicada. Já a B. bovis é altamente patogênica, capaz de causar complicações inflamatórias generalizadas e obstrução da microcirculação por eritrócitos parasitados em órgãos como cérebro e pulmões, levando à disfunção dos mesmos (MAHONEY, 1977). As perdas econômicas causadas pela babesiose são difíceis de calcular. Elas são determinadas por muitos fatores, alguns dos quais são facilmente quantificáveis, enquanto outros passam despercebidos pelo produtor (RISTIC & KREIER, 1981). A mortalidade de animais é a conseqüência mais evidente da doença. Os maiores índices ocorrem entre animais Bos taurus, principalmente entre os não imunes recém introduzidos em áreas endêmicas. A produção de cruzamentos entre zebuínos e taurinos não tem gerado resultados satisfatórios, pois os híbridos não guardam características de resistência e produtividade que tornem sua utilização vantajosa perante os animais puros (BOCK et al., 1999). Os prejuízos econômicos causados pelo complexo carrapato e doenças por ele transmitidas, no Brasil, foram avaliados em mais de um bilhão de dólares por ano (HORN & ARTECHE, 1985). A transmissão da B. bovis aos bovinos se dá pela picada de carrapatos da família Ixodidae. Em geral, a transmissão de B. bovis em uma área está associada a um único vetor, mas a associação pode mudar de uma região para outra. Assim, na Austrália e na América do Sul a B. bovis é transmitida pelo Boophilus microplus, na África pelo Boophilus annulatus e na Europa pelo Rhipicephalus bursa (FRIEDHOFF, 1988). O ciclo de vida da B. bovis começa com a inoculação na corrente sangüínea das formas infectantes: os esporozoítos, presentes na saliva dos carrapatos infectados. Os esporozoítos penetram nas hemácias e se diferenciam em trofozoítos, que se multiplicam assexuadamente pelo processo de divisão binária simples ou múltipla. A divisão dos trofozoítos dá origem a dois merozoítos que saem para infectar outras hemácias. O ciclo se repete, com a diferenciação dos merozoítos em trofozoítos e divisão, a cada oito horas. Após alguns ciclos de replicação, parte dos merozoítos pode se desenvolver a gametócitos masculinos ou femininos que continuarão o ciclo da B. bovis no carrapato (MELHORN & SCHEIN, 1984). 5 Os merozoítos podem ser arredondados ou piriformes, com 1 a 2,5µm de diâmetro e se apresentam únicos ou em pares dentro da hemácia. A análise da ultraestrutura mostra que o merozoíto é circundado por uma película formada de duas membranas e uma camada de microtúbulos. Numa das extremidades da célula encontra-se o complexo apical formado de diversas organelas especializadas: as roptrias, micronemas e anel polar (RUDZINSKA, 1981). Os merozoítos livres apresentam ainda uma capa formada de fibrilas protéicas perpendiculares à membrana plasmática. Essa capa e as organelas do complexo apical são importantes no processo de invasão da célula hospedeira (IGARASHI et al., 1988). A penetração do merozoíto no eritrócito se dá inicialmente com a fixação do mesmo sobre a hemácia. Esta é uma interação extremamente específica e a B. bovis não invade outro tipo celular. Isto implica que existe(m) receptor(es) no eritrócito que reconhece(m) molécula(s) complementar(es) no parasita, provavelmente presentes na capa externa do merozoíto (BUSHELL et al., 1991). Logo após a ligação, há uma reorientação do merozoíto sobre a superfície do eritrócito, de maneira que o complexo apical entra em contato com a membrana plasmática. O conteúdo das roptrias e micronemas é liberado sobre a membrana eritrocitária, induzindo à formação de um vacúolo e internalização do merozoíto. No interior da hemácia hospedeira, a membrana do vacúolo é destruída e o merozoíto fica em contato com o citoplasma (JACK & WARD, 1981). 2.1 Fisiopatologia da babesiose bovina A fisiopatologia da babesiose produzida pela B. bovis é muito similar à da malária provocada pelo P. falciparum. Em ambas infecções, a proliferação dos patógenos no organismo é acompanhada de três eventos responsáveis pelo desenvolvimento de lesões: a) destruição de hemácias; b) liberação de mediadores químicos farmacologicamente ativos que produzem alterações circulatórias e c) seqüestro de eritrócitos parasitados na microcirculação (WRIGHT, et al., 1988). O grau de lesão provocada depende da amostra de B. 6 bovis e P. falciparum e da susceptibilidade do hospedeiro (WRIGHT & GOODGER, 1988). A anemia manifestada na babesiose e na malária é resultado direto da ruptura dos eritrócitos pela saída de merozoítos. Na babesiose, o aumento da atividade fagocitária do sistema monocítico-fagocitário do baço e do fígado, para retirada de células parasitadas da circulação, também eleva a taxa de retirada de eritrócitos normais e contribui para a anemia (MAHONEY, 1977). A B. bovis produz esterases capazes de converter a pré calicreína plasmática em calicreína ativada (WRIGTH & GOODGER, 1973). Esta última desencadeia a cascata de produção de bradicinina. A calicreína e a bradicinina são potentes vasodilatadores e causam estase sangüínea e hipotensão (WRIGHT & KERR, 1977). Além disto, elas atuam em conjunto na ativação da coagulação pela via do fator de Hageman. Ao contrário do que inicialmente se pensava, a ativação da coagulação não leva à formação de trombos, mas a um profundo distúrbio no metabolismo do fibrinogênio, representado pelo acúmulo de intermediários solúveis da conversão de fibrinogênio em fibrina. Os mais importantes são monômeros de fibrina ou fibrina complexada com fibrinogênio (WRIGTH, 1981). No sangue, estes complexos podem aumentar a viscosidade do plasma e agravar os problemas de circulação iniciados pela calicreína/bradicinina (WRIGHT & GOODGER, 1988). Outros mediadores também citados como causadores de distúrbios circulatórios na babesiose são as aminas biogênicas: histamina e 5hidroxitriptamina (WRIGHT, 1978) e as anafilotoxinas C5a e C3a. As duas últimas são liberadas na via alternativa do complemento, desencadeada por proteases da B. bovis (WRIGHT & GOODGER, 1988). A vasodilatação provocada por mediadores liberados na fase aguda da malária e da babesiose e as alterações de membrana, com redução na deformabilidade dos eritrócitos parasitados, favorecem a adesão na medida em que diminuem a velocidade do fluxo sangüíneo nos leitos vasculares e aumentam a interação entre a superfície dos eritrócitos parasitados e células endoteliais (SCHETTERS & EILING, 2000). A conseqüência patológica da adesão é a obstrução da microcirculação por eritrócitos parasitados. Segundo WRIGHT et al. (1989) a anoxia tecidual resultante da obstrução vascular leva a necrose e liberação local de fatores 7 pró-inflamatórios que induzem a quimiotaxia e diapedese de leucócitos. Os neutrófilos infiltrados desgranulam enzimas proteolíticas, intensificando as lesões iniciadas pela anoxia. Macrófagos também são atraídos aos sítios inflamatórios e secretam fator de necrose tumoral - α (TNFα), interferon gama (IFNγ) e interleucina 1 (IL-1), que estimulam o endotélio a expressar moléculas de adesão envolvidas na infiltração leucocitária, potencializando o processo de infiltração destas células. Na malária, foi identificado um mediador – o glicofosfatidilinositol (GPI) – que tem sido apontado como responsável pela ativação da resposta inflamatória sistêmica (SCHOFIELD et al., 1996). O GPI atua sobre macrófagos e células endoteliais induzindo a síntese de IL-1, IFN-γ e TNF-α. Estas substâncias são responsáveis pela febre, desequilíbrios metabólicos e caquexia associada à malária. Elas também induzem a liberação de óxido nítrico que leva a vasodilatação periférica, estase sangüínea e lesão tecidual (CLARK & SCHOFIELD, 2000). Acredita-se que as severas anormalidades orgânicas que acontecem durante a infecção aguda com B. bovis, similares às observadas durante a malária experimental, são mediadas em parte por citocinas inflamatórias, incluindo INFγ, TNF-α e óxido nítrico (ON). Clones de linfócitos T CD4+ estimulados com sobrenadante de cultura de B. bovis que continha IFN-γ e TNF-α, induziram a produção de ON em macrófagos bovinos. Também foi relatado que macrófagos bovinos produziram ON depois da exposição in vitro a merozoítos ou membrana de merozoítos de B. bovis e a uma fração lipídica de eritrócitos infectados com B. bovis, mas não completamente dependente de IFN-γ (STICH et al., 1998; SHODA et al., 2000). Pesquisas realizadas por SHODA et al. (2000) relataram que macrófagos ativados derivados de monócitos estimulados com B. bovis, expressam níveis elevados de citocinas inflamatórias, como a IL-1β, IL-12 e TNF-α, que são importantes para o estimulo da imunidade inata e adaptativa contra protozoários. Foi demonstrado in vitro que a produção do ON por macrófagos bovinos em resposta a eritrócitos infectados com B. bovis reduz a viabilidade do parasita. Porém, esta produção de ON pelos macrófagos foi só parcialmente responsável pela inibição do crescimento da B. bovis, sugerindo que fatores adicionais contribuem para a inibição da replicação do parasita. 8 Estes achados demonstram que B. bovis induz uma resposta imune inata capaz de controlar a replicação do parasita e que poderia resultar na sobrevivência do hospedeiro e na persistência do parasita. GOFF et al. (2002) encontraram que INF-γ e TNF-α são co-estimulantes da expressão de ON induzido em monócitos bovinos estimulados com merozoítos de B. bovis, e esta expressão pode ser inibida por IL-4 e IL-10. Um evento muito importante na fisiopatologia da babesiose e da malária é o seqüestro de eritrócitos parasitados no interior dos capilares e vênulas póscapilares, que resulta da adesão entre a membrana dos eritrócitos parasitados e das células endoteliais. Isto ocorre porque os parasitas produzem modificações estruturais e antigênicas na superfície eritrocitária que se constituem em sítios de ligação para receptores expressos em células endoteliais (AIKAWA, 1988; AIKAWA et al., 1990 e 1992; PONGPONRATN et al., 1991; MACPHERSON et al., 1985; SCHETTERS & ELING, 2000). No entanto, os mecanismos usados pela B. bovis para induzir o seqüestro de eritrócitos parasitados e não parasitados, não tem sido bem esclarecido (ALLRED et al., 2000). Na malária causada por P. falciparum, o desenvolvimento do trofozoíto induz a reorganização de partículas protéicas dentro da bicamada lipídica da membrana eritrocitária e a formação de projeções superficiais cônicas denominadas de “knobs” eritrocitários. Estruturas correspondentes foram observadas em hemácias parasitadas com trofozoítos de B. bovis, tendo porém um formato de projeções espiculares. Estas protrusões constituem os pontos onde a membrana do eritrócito entra em contato com a superfície da célula endotelial e onde provavelmente ocorre a interação entre as moléculas de adesão (AIKAWA et al., 1985). Proteínas do P. falciparum, como a Proteína de Membrana Eritrocitária 1 (PfEMP1), são inseridas na superfície dos “knobs” eritrocitários e se ligam a receptores endoteliais como ICAM-1 (Molécula de Adesão Intercelular 1), VCAM-1 (Molécula Vascular de Adesão Celular 1) e CD36 (HOWARD et al., 1988; SCHRAVENDIJK et al., 1991). Nas projeções espiculares dos eritrócitos parasitados com B. bovis foi identificada a proteína VESA 1 (Antígeno Variável de Superfície Eritrocitária 1) que se acredita ser responsável pela adesão, apesar de ainda não serem conhecidos seus ligantes endoteliais (O’CONNOR & ALLRED, 2000). 9 Alterações na composição lipídica da membrana do eritrócito também podem favorecer a adesão. Hemácias parasitadas com B. bovis e P. falciparum apresentam aumento da concentração total de lipídeos, especialmente fosfatidilcolina, e exposição de fosfatidilserina na superfície externa da membrana plasmática (FLORIN-CHRISTENSEN et al., 2000). A peroxidação destes lipídeos torna a superfície da hemácia susceptível à ligação de proteínas, inclusive antígenos livres de B. bovis e P. falciparum, que por sua vez poderiam se ligar a receptores endoteliais (WRIGHT et al., 1989). Testes de adesão ex vivo desenvolvidos por CAETANO (2001) demonstraram o aumento da adesão de eritrócitos não parasitados, provenientes de animais inoculados com amostra patogênica de B. bovis (BbovUFV1, 7a passagem), em células endoteliais de aorta bovina. A adesão pode ter resultado de modificação da superfície dos eritrócitos por antígenos de B. bovis adsorvidos do plasma que se ligaram a receptores específicos presentes na superfície das células endoteliais. Na malária, além da adesão ao endotélio dos eritrócitos parasitados, também se observa a agregação de eritrócitos não parasitados em torno de eritrócitos parasitados. A agregação de eritrócitos forma estruturas chamadas de rosetas, que pelo seu tamanho, ficam retidas nos pequenos vasos. Na roseta, a proximidade dos eritrócitos permite que os merozoítos passem diretamente de uma hemácia a outra, facilitando a proliferação destes parasitas (WAHLGREN et al., 1989). Esta adesão é mediada pela mesma proteína (PfEMP1) que provoca a adesão dos eritrócitos parasitados em células endoteliais (HANDUNNETTI et al., 1992; ROWE et al., 1997). Na babesiose, WRIGHT (1972) observou que a ligação de fibrina à superfície das hemácias e à superfície endotelial pode levar ao estabelecimento de “pontes” de fibrina, proporcionando a adesão de eritrócitos parasitados e não parasitados. Já, trabalhos realizados por SCHETTERS & EILING (2000), indicam que a liberação em grande quantidade de monômeros de fibrina pode levar à mesma agregação, visto que a fibrina tem afinidade pela superfície dos eritrócitos. O seqüestro de eritrócitos na malária e na babesiose é mais acentuado nas vênulas e capilares do sistema nervoso central - especialmente do encéfalo -. As lesões resultantes levam ao desenvolvimento de sinais e sintomas nervosos, caracterizando os quadros de babesiose e malária 10 cerebral, fatais na maioria dos casos (AIKAWA et al., 1992). A participação de leucócitos no desenvolvimento das lesões neurológicas parece ter menor importância, visto que estas células são raramente observadas em estudos histopatológicos de cérebros de pacientes afetados de babesiose ou malária cerebral (AIKAWA, 1988; MACPHERSON et al., 1985). Outros órgãos que apresentam acúmulo de eritrócitos na microcirculação são coração, rim, pulmão e mucosa intestinal. Nestes órgãos, a porcentagem de vasos obstruídos é menor que no cérebro, porém a infiltração leucocitária é mais extensa. Na malária e na babesiose, ocorre uma síndrome similar à síndrome respiratória aguda (ARDS), na qual há seqüestro de eritrócitos e neutrófilos nos capilares pulmonares e edema alveolar, trazendo sérias alterações respiratórias, que são possivelmente as maiores causas de morte na babesiose bovina (WRIGHT et al., 1989). 2. 2 Moléculas envolvidas na adesão 2. 2. 1 Moléculas expressas na superfície das hemácias parasitadas O P. falciparum expressa um grupo de proteínas de alto peso molecular (200-350 kDa) que são inseridas nos “knobs” da membrana eritrocitária. Quatro proteínas já foram identificadas: as Proteínas Ricas em Histidina 1 e 2 (HRP1 e HRP2) e as Proteínas de Membrana Eritrocitária 1 e 2 (PfEMP1 e PfEMP2). As HRP e PfEMP2 participam da formação dos “knobs” e a PfEMP1 é a responsável pelo processo de citoaderência (AIKAWA, 1988). Existe pouca informação a respeito das proteínas envolvidas no processo de adesão causada por B. bovis. ALLRED et al. (1993 e 1994) apontaram a presença de proteínas produzidas por merozoítos de B. bovis e expressas na superfície de eritrócitos parasitados, levantando a possibilidade das mesmas estarem envolvidas no processo de adesão eritrocitária. Em 1997, O’COONOR et al. descreveram características de tais proteínas, denominandoas VESA 1 (Antígenos Variáveis de Superfície Eritrocitária). Essas moléculas são funcionalmente relacionadas com as proteínas PfEMP1 do P. falciparum. A molécula VESA 1 constitui um conjunto de proteínas diméricas, cuja estrutura apresenta regiões de variabilidade. As duas cadeias (VESA 1a e 11 VESA 1b) têm pesos diferentes e estão ligadas covalentemente entre si, mas não se definiu ainda como elas ficam ancoradas na membrana do eritrócito (O’CONNOR et al., 1997). Estudos de imunoeletronmicroscopia mostraram que os antígenos VESA 1 estão localizados na superfície das protrusões espiculares da membrana (O’CONNOR & ALLRED, 2000). Esta localização é consistente com o possível envolvimento de VESA 1 na adesão e seqüestro de hemácias, porém não existe evidência direta deste papel. Em 1999, O’CONNOR et al., mostraram que clones de B. bovis positivos para VESA 1 são capazes de produzir adesão de eritrócitos em células endoteliais de capilares de cérebro de bovino in vitro. Usando uma variação deste mesmo modelo experimental, O’CONNOR & ALLRED (2000) conseguiram demonstrar que vários soros capazes de bloquear e reverter a adesão também podem ser usados para precipitar VESA 1 da superfície de eritrócitos parasitados. Todos esses achados abrem a possibilidade de VESA 1 ser uma molécula de adesão. A B. bovis produz exoantígenos solúveis que se ligam à membrana de hemácias. Estes exoantígenos também foram identificados, por meio de imunofluorescência, nas células endoteliais de cortes histológicos de cérebro de animais acometidos de babesiose cerebral. A afinidade pela superfície tanto de eritrócitos como de células endoteliais indica que os exoantígenos podem servir de “ponte” entre os eritrócitos e o endotélio e provocar adesão (RISTIC & KAKOMA, 1988) CAETANO (2001) demonstrou com testes de hemaglutinação, a presença de antígenos livres de B. bovis 12 dias após a inoculação dos animais com amostra patogênica BbovUFV1 7a passagem, coincidindo com o desenvolvimento de parasitemia. Os antígenos livres também foram demonstrados por imunofluorescência indireta em esfregaços de sangue periférico dos animais inoculados, detectando a presencia de eritrócitos não parasitados reativos a anticorpos anti-BbovUFV1, indicando que antígenos livres de B. bovis podem se ligar à superfície eritrocitária. 12 2. 2. 2 Moléculas de adesão das células endoteliais As moléculas de adesão são membros de uma família de proteínas associadas à membrana que participam na interação célula - célula e migração celular em condições fisiológicas e patológicas, incluindo desenvolvimento normal, doenças inflamatórias, desordens autoimunes e tumores malignos (YAMAMOTO et al., 2002). Diversas moléculas presentes em células endoteliais foram demonstradas como capazes de sustentar a adesão de eritrócitos parasitados por P. falciparum em experimentos in vitro. As principais são a Trombospondina (TSP), CD36, E-selectina, Sulfato A de condroitina (CSA), CD31, ICAM-1 e P-selectina. Algumas linhagens de P. falciparum também são capazes de se ligar a VCAM-1 (XIAO et al., 1996; ALLRED, 1995; FUSAI et al., 2000; VALIYAVEETTIL et al., 2001). As moléculas de adesão CD36, ICAM e E-selectina têm sido encontradas em pacientes que morreram de malária cerebral (OCKENHOUSE et al., 1992; GARETH et al., 1994). As moléculas de adesão também têm um papel importante na fisiopatologia de outras doenças como no caso da gastrite induzida pelo Helicobacter pylori, onde foi demonstrada a participação destas moléculas na saída de leucócitos ao espaço extravascular. Na seqüência de eventos do extravasamento de leucócitos, E-selectina participa no rolamento dos leucócitos; VCAM-1 e ICAM-1, na adesão e transmigração. Quando os neutrófilos são ativados por um estrato líquido de H. pylori, a molécula CD11b/ CD18 (Mac-1) é expressa sobre a membrana celular dos neutrófilos por vários minutos, conferindo aos neutrófilos a capacidade de se aderir fortemente nas células endoteliais humanas com expressão de ICAM-1. Foi também demonstrado que H. pylori estimula diretamente a expressão de ICAM-1 sobre células epiteliais gástricas, produzindo injúria da mucosa gástrica óxido mediada (NAITO & YOSHICAWA, 2002). Em lesões arterioscleróticas já foi demonstrada a expressão de moléculas de adesão como ICAM-1, VCAM e E-selectina sobre as células endoteliais afetadas nestas patologias. As moléculas de adesão (CAMs) são mediadores inflamatórios vasculares específicos expressas pelo endotélio ativado, podendo-se fazer predição 13 prematura de doenças arteriais coronarianas ou síndromes coronarianos agudos no caso do enfarte agudo do miocárdio, com a medição dos níveis de CAMs solúveis, pois após a expressão da molécula de adesão a porção extracelular das CAMs é clivada enzimaticamente, ficando no soro e fazendo possível sua medição (YAMAMOTO et al., 2002; MURPHY et al., 2002). CAMs também têm sido demonstradas em placas arterioscleróticas e implicadas na iniciação e desenvolvimento da arteriosclerose em pacientes com diabetes mellitus. Nesse estudo foi indicado o envolvimento de ICAM-1 solúvel em pacientes diabéticos que desenvolveram doenças macro-vasculares, convertendo a avaliação dos CAMs numa potencial forma de prevenir doenças macro-vasculares neste tipo de pacientes (JUDE et al., 2002). Em neoplasias, a função molecular e celular das moléculas de adesão tem um impacto clínico no desenvolvimento de metástase das células neoplásicas. No câncer de próstata, um dos fatos de maior relevância no desenvolvimento e progressão desta patologia é o aparecimento de anormalidades na adesão celular no epitélio da próstata e nas células cancerígenas. Estas anormalidades se estendem até as estruturas de adesão intercelular e as moléculas de adesão - principalmente da E-caderina e a catenina - da matriz extracelular. Também se tem encontrado formas solúveis de muitas outras moléculas de adesão como a β1-integrina, VCAM-1, Eselectina e ICAM-1 e CD-44 envolvidas nesta patologia (MASON et al., 2002). Estudos em animais domésticos demonstraram que em cães, o TNF-α pode induzir in vivo a expressão de P e E-selectina na pele, indicando que estas selectinas estão envolvidas na transmigração de leucócitos na dermatite canina (TREMBLAY et al., 2002). Os ovinos têm sido empregados como modelos experimentais para facilitar os estudos in vivo do papel das moléculas de adesão na regulação e no desenvolvimento pré-timico e intra-timico de linfócitos T (SHAO et al., 2001). Estudos recentes em bovinos têm demonstrado o papel das moléculas de adesão em algumas patologias como no caso das doenças respiratórias, em que as moléculas de adesão participam na migração de neutrófilos ao tecido pulmonar. Em infecções experimentais com Mannheimia haemolytica, apresentou-se um marcado e rápido influxo de neutrófilos no lúmen broncoalveolar, embora, em doenças induzidas por Herpesvirus bovino apresentou-se 14 um retardado influxo de neutrófilos. Pesquisas indicam que na cascata inflamatória destas doenças a L, P e E-selectinas atuam na fase de rolamento dos neutrófilos na parede vascular, ICAM-1 medeia a fase de adesão e PECAM-1 a diapedese (SOETHOUT et al., 2002). Pesquisas com mamite, experimentalmente induzida com polissacarídeos, indicaram que a molécula de adesão CD33 pode estar envolvida no processo de extravasamento para o leite de células polimorfonucleares neutrófilos (PMNN) e que as enzimas contidas nos PMNN podem ser parcialmente usadas neste processo (PRINMATIEU et al., 2002). 2.2.2.1 Moléculas de adesão estudadas neste trabalho E-selectina – também chamada molécula-1 de adesão endotelial leucocitária ou ELAM-1 (CD62-E) – é uma proteína N-glicosilada de ~100 kDa, e é uma das principais moléculas de adesão responsável pela regulação dos primeiros processos na cascata de adesão, ligação e rolamento (VAN KAMPEN & MALLARD, 2001). E-selectina é uma glicoproteína induzível, da família das selectinas, que tem na sua estrutura um domínio tipo C que liga carboidratos, o qual usa para mediar adesão de leucócitos no endotélio. Esta molécula de adesão é a primeira a ser expressa sobre células endoteliais que têm sido estimuladas com diferentes tipos de imunomoduladores como lipopolissacarídeos (LPS) e TNF-α (VAN KAMPEN & MALLARD, 2001), mediando a ligação de PMNs e algumas sub-populações de linfócitos no endotélio in vitro (GRABER et al., 1990). JUTILA (1996) e WALCHECK et al. (1993), relataram o papel da E-selectina bovina na regulação da adesão de células γδ em modelos in vitro utilizando células endoteliais humanas e bovinas. Outra forma de E-selectina que pode ter uma função em certas doenças é a forma solúvel, detectada no plasma de pacientes com certos tipos de câncer (BENEKLI et al., 1998), em infecções severas (KAYAL et al., 1998) e em desordens como na doença de Graves (WENISCH et al., 1994), assim como no sobrenadante de células endoteliais humanas estimuladas (OHNO et al., 1997). Em animais domésticos a E-selectina solúvel tem sido pouco descrita (VAN KAMPEN & MALLARD, 2001). 15 A trombospondina (TSP) é uma família de glicoproteínas formada por cinco membros geneticamente distintos: TSP1-4 e TSP5/COMP (Cartilagem Oligomeric Matrix Protein). In vitro, as células endoteliais expressam somente TSP-1 de 450 kDa, que está composta de três subunidades ligadas entre si por enlaces dissulfeto, cada uma possuindo muitos sítios de ligação celular com diferentes afinidades para receptores de superfície celular como proteoglicanos, sulfatideos, integrinas ou CD36. Pode-se associar, por exemplo, à glicoproteína de superfície das plaquetas, células endoteliais, ao colágeno, à heparina e à fibronectina. TSP está presente na matriz extracelular de uma grande variedade de tecidos e também é produzida e secretada no plasma por plaquetas, macrófagos e células endoteliais (LAHAV, 1993). TPS1 é uma proteína multifuncional, que também interage com diferentes proteínas plasmáticas (fibrinogênio e plasminogênio) e matriz protéica (colágeno, fibronectina, laminina e proteoglicanos). Uma das funções da TSP é mediar aglutinação e adesão plaquetária na ativação da coagulação e inflamação. Representa aproximadamente 25% da proteína contida nas plaquetas e é liberada em lugares de agregação e ativação plaquetária, sugerindo que esta proteína tem um papel importante na hemostase. A TSP da matriz participa na regulação da adesão celular, migração, proliferação e diferenciação e está envolvida em processos fisiopatológicos como a inflamação, rolamento, cicatrização, angiogênese e metástase. In vitro, TSP1 é requerida para a adesão ao substrato de células endoteliais em culturas primárias (LOGANADANE et al., 1997). Na malária, a ligação da TSP com a PfEMP1 é capaz de provocar imobilização de eritrócitos parasitados, porém esta interação tem baixa afinidade e pouca duração (COOKE et al., 1994). Tem sido encontrado em parasitas apicomplexos proteínas contendo uma ou mais cópias de TSP1 humana, as quais são componentes importantes da maquinaria de locomoção e invasão deste filo de parasitas. Proteínas deste tipo têm sido identificadas em Eimeria tenella, E. máxima, Toxoplasma gondii, Cryptosporidium parvum e em todas as espécies de plasmodium analisadas (NAITZA et al., 1998). A Molécula de Adesão Intercelular 1 (ICAM-1) ou CD54, é uma glicoproteína de 76 – 115 kDa, com cinco domínios extracelulares, que faz parte da superfamília das imunoglobulinas (DIETRICH, 2002). Esta molécula 16 está expressa constitutivamente em células endoteliais e monócitos e pode ser induzida ou sobre-regulada em linfócitos B e T, células endoteliais, células epiteliais e timócitos (VAN KAMPEN & MALLARD, 2001). Estudos in vitro revelaram que ICAM-1 foi induzida com 1L-1α, 1L-1β, TNF-α, TNF-β, IFN-γ, sobre múltiplos tipos de células incluindo células hematopoiéticas e fibroblastos (ROTHLEIN et al., 1991). Esta molécula tem uma função importante no começo da cascata de adesão ligando neutrófilos ao endotélio. ICAM-1 se liga à integrina LFA-1 (Antígeno de função Leucocitária 1), Mac-1 ou CD43, da superfície de leucócitos, para permitir a infiltração dos mesmos através do endotélio em sítios de inflamação e de resposta imune (DIETRICH, 2002., CARLOS & HARLAN, 1994). ICAM-1 também é conhecida como uma das rotas trans-celulares de entrada de patógenos específicos dentro do sistema nervoso central (DIETRICH, 2002). A detecção de altos níveis de ICAM-1 solúvel tem sido relatada e associada com metástase no fígado em câncer da vesícula biliar, pâncreas, gastrintestinal e de colo uterino (MASON et al., 2002). Baixos níveis de expressão desta molécula foram descritos sobre células secretoras em pacientes com endometriose e associada com o aparecimento desta patologia (PREFUMO et al., 2002). Tem sido demonstrada a ligação entre a proteína PfEMP1 de P. falciparum e ICAM-1, CD36, Sulfato A de condroitina (CSA) e P-selectina (SENEZUK et al., 2001). A molécula PfEMP1 se liga no primeiro domínio Nterminal IgG-like de ICAM-1. Foi descrita em ICAM-1 uma mutação na região que codifica este primeiro domínio, a qual está presente em alta freqüência dentro da população africana (CRAIG et al., 2000) e tem sido associada com susceptibilidade à malária cerebral no Kênia (DIETRICH, 2002). A afinidade de ICAM-1 pela PfEMP1 é menor que a de CD36 e TSP. Sob condições de fluxo nas quais existem forças contrárias às de fixação de hemácias - tal ligação de baixa afinidade promove adesão com rolamento. ICAM-1 diminui a velocidade de passagem das hemácias, facilitando a interação de CD36 e TSP com seus ligantes (COOKE et al., 1994). A molécula vascular de adesão celular (VCAM) é uma proteína de 110 kDa, identificada como CD106. Pertence à superfamília das imunoglobulinas e é uma molécula de adesão induzível, expressa em altos níveis sobre células endoteliais vasculares estimuladas com citocinas, em sítios de inflamação e 17 infecção (VAN KAMPEN & MALLARD, 2001; VERMONT-DESROCHES, 1995). Está constitutivamente expressa também sobre as células dendríticas foliculares e interfoliculares dos linfonodos, mioblastos e alguns macrófagos em tecido normal (LOBB et al., 1991). É uma molécula importante na migração leucocitária, servindo como ligante para a integrina leucocitária α4β1 (VLA-4 ou CD49d/CD29), mediando adesão de monócitos e linfócitos circulantes em endotélio ativado. Alguns estudos indicam que esta molécula pode compensar a adesão na falta de interação entre ICAM/LFA-1. VCAM está presente numa grande variedade de eventos inflamatórios e também sobre a cápsula sinovial e mesotélio durante inflamação crônica (VAN KAMPEN & MALLARD, 2001; BEVILACQUA, 1993). Foram encontradas altas concentrações de VCAM-1 solúvel no soro de pacientes com endometriose em fase IV, podendo ser usado este achado para o desenvolvimento de marcadores bioquímicos para serem utilizados no diagnóstico da fase da doença (BARRIER & SHARPE-TIMMS, 2002). Elevados níveis de VCAM-1 solúvel também têm sido reportados em pacientes com câncer gástrico e foram associados com baixa sobrevivência em comparação com pacientes com níveis sorológicos normais. Além disto, níveis elevados de VCAM-1 e ICAM-1 solúveis foram encontrados em pacientes com câncer de colon e associados ao desenvolvimento desta doença da forma local e metastásica (MASON et al., 2002). Nos animais domésticos, no caso dos suínos, VCAM é induzida por LPS, TNF-α e IL-1α in vitro, existindo diferenças na expressão comparada com a VCAM humana. Em células endoteliais de cordão umbilical ovino, a cinética de expressão de VCAM foi similar à humana (GROOBY et al., 1997), no entanto, a cinética de expressão de VCAM em bovinos tem sido pouco estudada. A molécula de adesão plaqueta-célula endotelial 1 (PECAM-1), também conhecida como CD31, é uma glicoproteína de transmembrana de 130 a 140kDA que pertence à superfamília das imunoglobulinas, é expressa sobre a superfície de plaquetas, monócitos, neutrófilos e linfócitos T. CD31 é constituinte das junções intercelulares endoteliais (SENEZUK et al., 2001; MÜLLER et al., 2002). Esta molécula é encontrada em grande quantidade em células endoteliais e é pouco expressa em plaquetas e leucócitos. Em 18 processos inflamatórios, tem um papel importante na cascata de adesão entre células endoteliais e polimorfonucleares, monócitos e linfócitos. Num modelo de injúria por complexos imunes, a aplicação de anti PECAM-1 representou a diminuição de 75% do seqüestro de neutrófilos no pulmão (VALPORCIYAN et al., 1993). O polimorfismo genético, ligado à raça, apresentado no domínio extracelular de PECAM-1 pode estar implicado na susceptibilidade à malária cerebral (KIKUCHI et al., 2001). 2.2.3 Citoaderência em B. bovis A literatura é restrita quanto à indicação de moléculas endoteliais que poderiam atuar como mediadores de adesão de eritrócitos parasitados com B. bovis. Experimentos de adesão in vitro mostraram que hemácias infectadas por B. bovis aderem a superfícies tratadas com trombospondina, laminina (PARRODI et al., 1989) e heparina (GOODGER et al., 1987). Os autores não indicam qual a natureza do antígeno eritrocitário que atua como ligante. WRIGHT et al. (1989) também apontam a trombospondina, em conjunto com a fibronectina, como mediador de adesão. Segundo estes autores, a trombospondina e fibronectina se ligam a monômeros de fibrina, os quais são formados em grande quantidade durante a fase aguda da babesiose. Estes monômeros têm afinidade pela superfície dos eritrócitos e assim podem mediar a ligação com a fibronectina e trombospondina presentes na membrana da célula endotelial. Não existem relatos de que CD36, trombospondina ou ICAM-1 possam servir como ligantes de VESA-1. No entanto, ALLRED et al. (2000) identificaram, em uma das cadeias de VESA-1 (VESA 1a), uma seqüência de aminoácidos muito similar ao sítio de ligação da PfEMP1 em CD36. No trabalho desenvolvido por CAETANO (2001), ficou demonstrada a presença de antígenos livres de B. bovis em amostras de soro coletadas dos animais a partir de 12 dias após a inoculação com BbovUFV1 patogênica, coincidindo com o desenvolvimento de parasitemia. É possível que as células endoteliais de aorta bovina expressem algum receptor que possa reconhecer tais antígenos nos eritrócitos sensibilizados e mediar a adesão. A ocorrência de adesão de eritrócitos não parasitados, provenientes de animais inoculados, em 19 células endoteliais de aorta bovina é indicativo de que antígenos de B. bovis, presentes nos eritrócitos, estabeleceriam interações específicas com receptores presentes apenas em células endoteliais bovinas. A natureza do(s) exoantígeno(s) e do(s) receptor(es) que possa(m) ter participado da adesão das hemácias não parasitadas permanece sem esclarecimento. A citoaderência se constitui numa vantagem adaptativa para B. bovis e para o P. falciparum, sendo um dos mecanismos que permitem aos parasitas escapar do reconhecimento pelo sistema imune do hospedeiro (ALLRED, 1995 e 1998). Entre as vias de controle da infecção por B. bovis e P. falciparum está a eliminação de eritrócitos parasitados feita normalmente pelas células NK. A hemácia, porém, é destituída de MHC (complexo de histocompatibilidade principal) e por isso não apresenta antígenos a linfócitos T (ALLRED, 1995). Foi proposto também que os eritrócitos parasitados poderiam ser eliminados por fagocitose pelos macrófagos. Neste caso, as células infectadas seriam opsonizadas por anticorpos específicos (IgG1 e IgG2) contra antígenos de B. bovis (BROWN & PALMER, 1999). O bloqueio dos sítios de interação das moléculas de adesão na superfície eritrocitária por meio de anticorpos específicos poderia inibir a citoaderência, diminuindo o desenvolvimento de lesões e sinais clínicos da malária e babesiose (ALLRED, 1998). Isto é confirmado por estudos que mostram que humanos imunes, vivendo em áreas endêmicas de malária, possuem anticorpos capazes de reconhecer a superfície de eritrócitos parasitados e que a ocorrência de tais anticorpos está relacionada à proteção contra a doença (MARSH et al., 1989). Além do mais, a proteção contra a doença pode ser transferida passivamente de um indivíduo imune para um não imune através do soro ou imunoglobulina de um indivíduo imune (SABCHAREON et al., 1991). A presença de anticorpos contra eritrócitos parasitados também está correlacionada com a proteção contra babesiose bovina (MAHONEY et al., 1979). Trabalhos realizados por O’CONNOR & ALLRED (2000) demonstraram que no soro de animais inoculados com o clone MO7 de uma amostra patogênica de B. bovis, existem anticorpos (IgG) específicos para VESA 1 capazes de bloquear e até mesmo reverter a adesão de eritrócitos parasitados in vitro. 20 No entanto, a presença de tais anticorpos não impede que animais infectados com B. bovis ou humanos parasitados com P. falciparum desenvolvam infecções crônicas, o que indica que existem mecanismos que permitem aos dois hemoparasitas escaparem da resposta mediada por anticorpos. Dentre eles, a variação antigênica clonal é o principal (ALLRED, 1998). Foi demonstrado que a proteína dimérica VESA 1 é a responsável pela variação antigênica clonal em populações de B. bovis (ALLRED et al., 1994). Recentemente o gene ves1α, que codifica o peptídeo VESA 1a, foi caracterizado, inúmeras cópias do mesmo gene estão presentes em todos os cromossomos da B. bovis, mas apenas uma cópia é expressa por vez dentro de uma população clonada (derivada de um único indivíduo). Há indícios que a variação na expressão de VESA 1a ocorre devido ao aparecimento, na população, de indivíduos que sofreram modificações da cópia de ves1α expressada, talvez por meio de conversão gênica. Isto difere muito da regulação dos genes var do P. falciparum, no qual o maior mecanismo é a troca in situ dos genes expressos (ALLRED et al., 2000). Com a variação antigênica, a resposta de anticorpos contra uma estrutura de membrana e todos os mecanismos dela dependentes apresenta eficácia limitada. A cada mudança nos antígenos de superfície expressos pela população, uma nova resposta imune deve ser ativada. Dessa maneira, a B. bovis e o P. falciparum escapam da eliminação completa (ALLRED, 1998). O fato da variação antigênica e capacidade de adesão estarem ligadas às mesmas moléculas cria um paradoxo. A variação antigênica pode aumentar a diversidade das moléculas de adesão e permitir a evasão à resposta imune humoral. Por outro lado, a mesma variação é limitada pelo fato de que alterações na seqüência de aminoácidos das proteínas mediadoras de adesão, não podem alterar sua capacidade de se ligar aos receptores endoteliais (BIGGS et al., 1992). Assim, as seqüências de aminoácidos das proteínas envolvidas na ligação com os receptores e manutenção da estrutura espacial dos sítios de ligação devem ser conservadas (BARUCH et al., 1997). 21 2.2.4 Estudos de citoaderência in vitro O principal interesse no estudo da adesão é criar mecanismos que possam bloquear a citoaderência e impedir as lesões por ela causadas. Para isso, uma das estratégias traçadas é a imunização dos indivíduos contra as moléculas responsáveis pela citoaderência, de maneira a induzir a produção de anticorpos bloqueadores. O desenvolvimento de vacinas, no entanto, deparase com o problema da diversidade antigênica das moléculas de adesão entre os diferentes isolados dos parasitas e na variação antigênica clonal destas proteínas dentro de um mesmo isolado. A obtenção de uma vacina eficiente depende da identificação de epítopos funcionais (envolvidos na adesão) conservados e que tenham capacidade imunogênica (PASLOSKE & HOWARD, 1994). Os modelos in vitro, usados para elucidar as interações entre eritrócitos infectados e células endoteliais, envolvem o uso de linhagens de células endoteliais isoladas de diversos órgãos ou células transfectadas com genes de receptores de superfície de células endoteliais. Os eritrócitos provenientes de cultivos in vitro dos parasitas são colocados sobre as células para indução da adesão. Modificações na metodologia, como bloqueio de moléculas de superfície conhecidas antes da adição de células parasitadas, permitem caracterizar as interações ao nível molecular e definir ligantes que medeiam a adesão (GAY et al., 1995). No estudo com P. falciparum foram identificadas várias linhagens celulares capazes de sustentar a adesão in vitro, incluindo células endoteliais de veia umbilical humana, com alta expressão de ICAM-1 (UDEINYA et al., 1981); de capilares cerebrais e microvasculatura dérmica humana (JOHNSON et al., 1993., PRUDHOMME et al., 1999); células endoteliais de pulmão humano (MUANZA et al., 1996); células de melanoma amelanótico CD32r, com alta expressão de CD36 (SCHIMIDT et al., 1982); células CHO transfectadas com genes de ICAM-1 e CD36 (HASLER et al., 1993; MUANZA et al., 1996) e células endoteliais de microvasculatura cerebral de macacos Saimiri (GAY et al., 1995; FUSAI et al., 2000). Foi o uso destes modelos que permitiu identificar a TSP, ICAM-1 e CD36 como mediadores de adesão de eritrócitos parasitados (PASLOSKE & HOWARD, 1994). 22 VAN KAMPEN & MALLARD (2001) tem estudado a regulação da expressão de moléculas de adesão como a E-selectina em células endoteliais de aorta bovina (BAEC), estimuladas com TNF-α recombinante (rbTNF-α) e LPS. Outros trabalhos realizados pelos mesmos autores têm estudado a expressão de ICAM-1 e VCAM-1 em BAECs, utilizando anticorpos humanos anti VCAM-1, ICAM-1 e E-selectina demonstrando reatividade cruzada para as mesmas moléculas de adesão em bovinos. Para estudos com B. bovis não há uma quantidade comparável de modelos. O’CONNOR et al. (1999) demonstraram que células endoteliais de microvasculatura cerebral de bovinos são capazes de promover a adesão de eritrócitos parasitados in vitro. No entanto, a aplicação desta linhagem é recente e ainda não foram definidos os receptores que promovem a interação. KILGER (1999) desenvolveu um modelo de adesão em que se utilizam células endoteliais de aorta bovina. Neste estudo, o autor observou maior número de eritrócitos aderidos provenientes de sangue de animais inoculados com amostras de B. bovis em comparação com eritrócitos de animais não inoculados. CAETANO (2001) avaliou o desenvolvimento de adesão de eritrócitos de bovinos em BAEC, mediante a inoculação dos animais com várias amostras patogênicas de B. bovis, encontrando adesão de eritrócitos não parasitados reativos a anticorpos anti-B. bovis, indicando que antígenos livres de B. bovis podem se ligar à superfície de eritrócitos não parasitados. 23 3. OBJETIVOS 3.1 Objetivo geral Avaliar o envolvimento das moléculas de adesão (ICAM-1, VCAM, PECAM-1 E-selectina e trombospondina) na fisiopatologia de Babesia bovis através da expressão em células endoteliais in vitro e in situ. 3.2 Objetivos específicos • Cultivar células endoteliais a partir de veia umbilical bovina para estabelecer um modelo experimental in vitro. • Identificar as moléculas de adesão ICAM-1, PECAM-1, VCAM, E-selectina e Trombospondina, expressas pelas células endoteliais de veia umbilical que mediam o seqüestro dos eritrócitos infectados com Babesia bovis. • Identificar por métodos imunohistoquímicos as moléculas de adesão em células endoteliais de capilares de tecidos, coletados de animais infectados com Babesia bovis. 24 4. MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Animais Foram empregados oito animais Bos taurus da raça Jérsei, machos com 24 meses de idade, negativos sorológica e parasitologicamente para hematozoários. Todos os animais foram mantidos em condições de isolamento a prova de artrópodes e outros vetores de hemoparasitas, no Departamento de Medicina Veterinária da UFV. 4.2 Amostra de Babesia bovis Foi utilizada a amostra de Babesia bovis (BbovUFV1 7a passagem), patogênica. Esta amostra foi isolada na Zona da Mata, na microrregião de Viçosa – MG, reproduzida por passagens em bezerros esplenectomizados, congelada em sangue total diluído v/v em PBS (Na2HPO4 6,4mM, KH2PO4 10mM, NaCl 73mM) pH 7,6 acrescida de 22% de DMSO e mantida em nitrogênio líquida, no Laboratório de Biologia e Controle de Hematozoários do DVT – BIOAGRO/UFV. 25 4.3 Inoculação dos animais Sete animais foram inoculados por via intravenosa com a amostra patogênica de B. bovis (BbovUFV1 7a passagem) em uma dose de 6,6x107 parasitas e um animal foi mantido como controle negativo. Cinco destes animais inoculados foram utilizados no experimento da cinética de adesão, e dois na identificação das moléculas de adesão in situ, os quais morreram 14 e 15 dias pós-inoculação respectivamente. Após necropsia, foram coletadas amostras de tecido (cérebro, rim e pulmão), para processamento imunohistoquímico. Os animais utilizados no experimento da cinética de adesão, foram farmacologicamente tratados contra a infecção 17 dias após inoculação. 4.4 Obtenção das células endoteliais A obtenção das células endoteliais a partir da veia umbilical bovina denominadas BUVECs, foi realizada de acordo com protocolo descrito por FRESHNEY (1994), e modificado por KILGER (1999), onde foi substituída a solução salina tamponada contendo 0,5% de soro-albumina bovina (PBSA), por Solução de Sais Balanceados de Hank (HBSS): (KCl 5.4mM, KH2PO4 0.44mM, NaCl 137mM, NaHCO3 4.2mM, Na2HPO4, 0.34mM e D-Glucose 5,6mM) para lavagem da luz da veia umbilical e das células recém extraídas. Um segmento de cordão umbilical bovino, de aproximadamente 40 centímetros, foi obtido imediatamente após o parto, sendo suas extremidades ligadas com fio de algodão estéril. Após lavagem externa com álcool a 70%, o fio de algodão foi substituído por pinças hemostáticas estéreis e a veia umbilical foi preenchida com solução HBSS estéril. O material foi transportado ao laboratório – num tempo máximo de 15 minutos – submerso em solução de HBSS e mantido em banho de gelo. O isolamento das células foi feito em capela de fluxo laminar vertical. O lume da veia umbilical foi lavado por meio de injeções repetidas de HBSS aquecido a 37oC. Após a lavagem, a veia umbilical foi preenchida com 10 ml de uma solução de Colagenase Tipo II (Gibco®) a 0,25% em PBS contendo 0,5% de soro albumina bovina. Após 10 minutos de 26 digestão a temperatura ambiente, retirou-se a solução de colagenase contendo células endoteliais e novamente lavou-se o lume do vaso com HBSS sendo novamente preenchido com a mesma quantidade de colagenase 0,25%. Este procedimento foi repetido três vezes. As alíquotas foram imediatamente centrifugadas a 300g durante 5 minutos a 4°C e o sedimento obtido era lavado duas vez por centrifugação em DMEM completo (com 10% de soro fetal bovino, 2mM de glutamina, 1mM CaCl2, 1mM MgCl2, 1% antibiótico/antimicótico), a 300g durante 5 minutos. Em seguida, as células foram ressuspendidas em DMEM completo com 1% de fator de crescimento endotelial (PAESEL + LOREI®) e semeadas em garrafa para cultura de 75 cm e colocadas em estufa a 37oC e 5% CO2. O meio de cultura foi trocado a cada 48 horas e novas subculturas foram realizadas quando as células endoteliais formavam uma monocamada confluente. Após a retirada do sobrenadante, a monocamada foi lavada com PBS pH 7.2 (Na2HPO4 x 7H2O 2,9mM, NaCl 154mM, KH2PO4 1mM) e em seguida colocou-se 1 ml de solução de PBS contendo 0,2% de EDTA e 0,5% de tripsina, durante 30 segundos a 37oC. Após o desprendimento das células, a tripsina foi inativada com 10 ml de uma solução de PBS ph 7.2 acrescido com 5% de soro fetal bovino, e centrifugadas, durante 5 minutos a 300g e 4o C. Logo em seguida o sedimento foi ressuspendido em meio DMEM completo. As células foram semeadas em garrafas de cultura de 25cm3 numa concentração de 3,5x104/ml de DMEM completo. 4.5 Confirmação das características de célula endotelial Para confirmar que as células isoladas eram endoteliais e que não havia contaminação com outros tipos celulares, monocamadas de BUVECs foram incubadas com 10 µg/ml de lipoproteína acetilada de baixa densidade marcada com 1,1’-dioctadecyl-3,3,3’,3’-tetramethylindocarbocyanine perchlorate (Dil-AcLDL; Biomedical Technologies, Stoughton, Mass) por 4 horas. Depois, as células foram lavadas durante 5 minutos com PBS pH 7,2 (Na2HPO4 x 7H2O 2,9mM, NaCl 154mM, KH2PO4 1mM) , fixadas com PBS pH 7,2 contendo 3% de formaldeído por 20 minutos a temperatura ambiente, secadas e montadas 27 em lâmina. As células foram examinadas em microscópio de fluorescência com excitação de 545nm e observadas as emissões em >590 nm. 4.6 Anticorpos usados Os anticorpos antimoléculas de adesão usados neste experimento são mostrados no Quadro 1. Todos os anticorpos foram diluídos numa concentração de 1:80 em solução de PBS pH 7,2 (Na2HPO4 x 7H2O 2,9mM, NaCl 154mM, KH2PO4 1mM). Os antígenos de B. bovis foram identificados usando anticorpo de coelho policlonal monoespecífico (IgG de coelho anti-B. bovis) produzido no Laboratório de Biologia e Controle de Hematozoários (LBCH) BIOAGRO-UFV. Quadro 1 – Painel de anticorpos monoclonais utilizados* Anticorpos Clone Origem Espécies com reatividade conhecida Anti ICAM-1 (CD54) Anticorpo monoclonal de camundongo IgG1/κ 15.2 Hibridoma de esplenócitos BALB/c e células de mieloma de camundongo p3-NS1/Ag4-1 (NS1) Humano Anti VCAM (CD106) Anticorpo monoclonal de camundongo IgG1/κ B-K9 Hibridoma de esplenócitos BALB/c e células de mieloma X63/Ag. 8-653 Humano Anti PECAM-1 (CD31) Anticorpo monoclonal de camundongo IgG1/κ JC/70A Hibridoma de esplenócitos BALB/c e células de mieloma p3NS-1/Ag4-1 (NS1) Humano Anti E-selectina Anticorpo (CD62E) policlonal de coelho Anti Anticorpo Trombospondin monoclonal de a (TSP) camundongo IgG1 Humano, bovino, ovino A6.1 Hibridoma de esplenócitos BALB/c e células de mieloma SP2/Ag14 * Neo Markers 28 Humano, ovino 4.7 Estimulo da adesão Foram empregados plasma e sobrenadante de cultura de células mononucleares periféricas bovinas (PBMC) para estimular a expressão de moléculas de adesão nas células endoteliais. O plasma utilizado era procedente dos animais infectados com amostra patogênica BbovUFV1 7a passagem, 14 dias após a inoculação e o sobrenadante era proveniente de cultura de PBMC coletado em pesquisas anteriores e armazenado a -70o C no LBCH / BIOAGRO-UFV. As culturas de PBMC foram estimuladas com 2µg/ml do peptídeo sintético 23290, o qual é baseado na estrutura da proteína RAP-1 da B. bovis com o intuito de avaliar a capacidade imunogênica do mesmo através da produção e secreção de IFN-γ, TNF-α e IL-12. Dosaram-se no sobrenadante os níveis de citocinas produzidas e secretadas através de teste de ELISA (AFONSO & SCOTT, 1993). Os sobrenadantes continham: 500 pg/ml de IFNγ, 2200 pg/ml de TNFα e 875 pg/ml de IL-12 (BATISTA, 2001). 4.8 Delineamento experimental O trabalho foi dividido em quatro experimentos: a) cinética de adesão em BUVECs de eritrócitos de animais inoculados b) testes de adesão de eritrócitos dos animais inoculados em BUVECs estimuladas com plasma e com sobrenadante de cultura de PBMC; c) identificação das moléculas de adesão expressas em BUVECs estimuladas com plasma de animais inoculados e com sobrenadante de cultura de PBMC; d) identificação das moléculas de adesão expressas em tecidos (cérebro, pulmão e rim) de animais que morreram após a infecção com amostra patogênica. Para o primeiro experimento se utilizaram cinco animais (B1, B2, B3, B4, B5), os quais foram inoculados com a amostra patogênica de B. bovis, e um animal (denominado B6) foi mantido como controle negativo. Os animais foram monitorados para detecção do desenvolvimento de sinais de babesiose aguda. A partir de um dia antes da inoculação e a cada 48 horas, durante 16 dias pósinoculação, procedia-se à medição da temperatura retal e coletas de sangue venoso para fazer os teste de adesão, mensuração do hematócrito e confecção de esfregaços destinados aos exames parasitológicos e obtenção do plasma 29 que era posteriormente estocado a –20oC até o momento do uso. Os exames para mensuração da parasitemia foram realizados por FIGUEIREDO (2002) usando a técnica de hidroetidina. As amostras de sangue foram colhidas em sistema de coleta a vácuo com EDTA (VacumII®, Labnew Indústria e Comércio, LTDA). 4.9 Testes de adesão de eritrócitos em células endoteliais Os testes de adesão foram realizados segundo o protocolo de UDEINYA et al. (1981). Esta técnica foi desenvolvida para observar adesão de eritrócitos parasitados por P. falciparum, com as seguintes modificações introduzidas por KILGER (1999) e CAETANO (2001): uso de eritrócitos coletados a partir de sangue venoso dos bovinos infectados em lugar de eritrócitos mantidos em cultura in vitro; modificações na composição do tampão de adesão, com acréscimo de HEPES a 25mM, acréscimo de cálcio e magnésio a 1mM e substituição de soro fetal bovino a 20% por soroalbumina bovina fração V (Sigma) a 1%; uso de solução salina tamponada pH 7,2 (PBS) no lugar de Solução de Sais Balanceados de Hank (HBSS) para lavagem das lamínulas na etapa final do teste. 4.9.1 Cinética de adesão Para realizar a cinética de adesão semearam-se células endoteliais sobre lamínulas de vidro redondas, com 14mm de diâmetro, em placa de 24 poços utilizando DMEM completo (com 10% de soro fetal bovino, 2mM de glutamina, 1mM CaCl2, 1mM MgCl2, 1% antibiótico/antimicótico). Após formação da monocamada, o DMEM era trocado por tampão de adesão pH 7,2 (RPMI 1640, HEPES 25mM, Soroalbumina bovina 1%, CaCl2 1mM e MgCl2 1mM) e as células incubadas durante 60 minutos a 37oC e 5%CO2. Sangue total dos animais inoculados e do controle era centrifugado a 300g durante 5 minutos. O plasma e a camada de leucócitos eram descartados e os eritrócitos lavados uma vez em PBS pH 7,2 (Na2HPO4 x 7H2O 2,9mM, NaCl 154mM, KH2PO4 1mM) acrescido de CaCl2 e MgCl2 1mM, a 300g durante 5 minutos, ressuspendidos em tampão de adesão a uma concentração de 1% e colocados 30 sobre a monocamada de células endoteliais. Seguia-se incubação em estufa a 37oC e 5% de CO2 durante 90 minutos. As lamínulas eram lavadas sob agitação por três vezes, durante 5 minutos cada vez, em PBS pH 7,2 sem Ca+2 e Mg+2, coradas com corante panóptico (Instant Prov®, Newprov, Produtos para Laboratório, LTDA) de acordo com instrução do fabricante e fixadas sobre lâminas com resina (Entellan, MERCK). Em microscópio óptico, num aumento de 1000x, contou-se o número de eritrócitos aderidos em 1000 células endoteliais em cada lamínula. As amostras de sangue dos animais inoculados e do controle coletadas por vez, eram testadas em duplicata. O resultado dos testes foi expresso como média de eritrócitos aderidos em 1000 células endoteliais. As médias de adesão eritrocitária obtidas nos ensaios foram comparadas, entre os animais inoculados e o controle por meio de teste “t” de Student. 4.9.2 Testes de adesão em células estimuladas Neste experimento cultivaram-se células endoteliais em meio DMEM completo (com 10% de soro fetal bovino, 2mM de glutamina, 1mM CaCl2, 1mM MgCl2, 1% antibiótico/antimicótico), sobre lamínulas redondas, 14mm de diâmetro, em placas de 24 poços. Após a formação da monocamada, o DMEM era trocado pelo meio contendo a substância estimulante dependendo do tratamento (Quadro 2). 31 Quadro 2 – Tratamentos utilizados no estímulo de BUVECs Tratamento Tempo de Quantidade estimulo (h) 1 Plasma de animal 2 infectado com B. bovis + 10 µl de plasma / 1.5 ml de Tampão Tampão de adesão sem Ca+2 e Mg+2 2 Plasma de animal 2 infectado com B. bovis + 10 µl de plasma / 1.5 ml de tampão Tampão de adesão com Ca+2 e Mg+2 3 Sobrenadante de PBMC 2 (citocinas) + DMEM 4 200 µl de sobrenadante / 1.5 ml de DMEM Tampão de adesão com 2 1.5 ml 2 1.5 ml 2 1.5 ml Ca+2 e Mg+2 5 Tampão de adesão sem Ca+2 e Mg+2 6 * DMEM BUVECs, células endoteliais de veia umbilical bovina 32 Após o estimulo das células endoteliais se colocavam os eritrócitos dos animais inoculados e do controle e continuava-se com o mesmo protocolo descrito na cinética de adesão no item 4.9.1. Eritrócitos de animais não infectados com B. bovis foram utilizados como controle negativo. Em microscópio óptico, num aumento de 1000x, contou-se o número de eritrócitos aderidos em 1000 células endoteliais em cada lamínula. As amostras de sangue de animais inoculados e do controle eram testadas em duplicata. O resultado dos testes foi expresso em média de eritrócitos aderidos em 1000 células endoteliais. Para saber a significância dos tratamentos, as medias dos valores de adesão para cada tratamento foram comparadas entre tratamentos por meio de uma regressão linear múltipla utilizando o software estatístico Bioestat 2.0. 4.10 Imunohistoquímica em cultura de células endoteliais para identificação de moléculas de adesão in vitro. Monocamadas confluentes de BUVECs cultivadas sobre lamínulas de vidro redondas, 14mm de diâmetro, em placa de 24 poços eram estimuladas com plasma de animais infectados com B. bovis e sobrenadante de PBMC correspondendo aos tratamentos 1 e 3 (Quadro 2). Células sem estímulo foram usadas como controle negativo, tratamento 6. A identificação das moléculas de adesão foi realizada segundo o protocolo de PRUDHOMME (1996), com algumas modificações feitas no presente trabalho, tais como: mudança da solução PBS-0,1% BSA por PBS pH 7,2 (Na2HPO4 x 7H2O 2,9 mM, NaCl 154mM, KH2PO4 1mM), uso de anti-IgG de camundongo biotinilada por IgG de coelho anti-IgG de camundongo ou IgG de cabra anti-IgG de coelho conjugada com peroxidase e utilização do DAB como revelador. As células endoteliais, após estímulo, foram lavadas com PBS pH 7,2 durante 5 minutos, fixadas com solução de paraformaldeído ao 4% durante 20 minutos e lavadas duas vezes com PBS pH 7,2 durante 5 minutos cada vez. As células eram incubadas com PBS-glicina 0,1 M durante 10 minutos para bloquear os radicais aldeídos e lavadas duas vezes com PBS pH 7,2 durante 5 minutos cada vez. A monocamada era incubada em solução de H2O2 30 V a 3,5% em PBS pH 7,2 durante 20 minutos para bloquear a peroxidase 33 endógena e após 3 lavagens com PBS pH 7,2 durante 5 minutos cada vez, se bloquearam as ligações inespecíficas das células usando PBS com 10% de soro eqüino durante 30 minutos seguido de 2 lavagens de 5 minutos com PBS pH 7,5. As células eram incubadas durante toda a noite a 4o C em câmara úmida, com os anticorpos monoclonais antimoléculas de adesão ICAM-1 (CD54), VCAM (CD106), PECAM-1 (CD-31), E-selectina (CD 62-E) e trombospondina (TSP) diluídos 1:80 em PBS pH 7,2. Após 3 lavagens de 5 minutos com PBS pH 7,2 a monocamada era incubada durante 50 minutos a 37o C em câmara úmida com 150 µl de IgG de coelho anti-IgG de camundongo conjugada com peroxidase (Sigma) diluída 1:200 em PBS para os anticorpos monoclonais anti ICAM-1, VCAM, PECAM-1 e trombospondina; IgG de cabra anti-IgG de coelho conjugada com peroxidase (Sigma) diluída 1:300 para a Eselectina. Depois de 2 lavagens de 5 minutos com PBS pH 7,2 realizava-se a revelação com 150 µl de cromógeno (diaminobenzidina DAB, Sigma 0,025% e 0,2% de H2O2 30 V em PBS), durante 7 minutos no escuro seguida de 2 lavagens de 5 minutos com PBS pH 7,2 e contra-coloração com Hematoxilina de Harris 1:3 por 3 minutos. Finalmente, as células eram lavadas com água destilada deionizada durante 5 minutos, secadas, montadas com Entellam sobre lâmina de vidro e observadas no microscópio óptico. A intensidade de expressão das moléculas de adesão nas células endoteliais foi avaliada da seguinte maneira: (-) ausência de expressão, (+) expressão pouco intensa, (+ +) expressão medianamente intensa, (+ + +) expressão intensa e (+ + + +) expressão muito intensa. 4.11 Imunohistoquímica para identificação de moléculas de adesão in situ A identificação das moléculas de adesão foi realizada utilizando a técnica de imunoperoxidase indireta (Ipx) segundo o protocolo de PRUDHOMME (1996) com algumas modificações como descrito no item 4.10. Foram tomadas amostras de tecido (cérebro, pulmão e rim) dos animais inoculados que vieram a óbito (item 4.3). A coleta das amostras foi realizada de acordo com protocolo descrito por GARETH et al. (1994). Onde o material coletado e até 20 minutos após a morte do animal era embebido em nitrogênio 34 líquido durante 30 minutos e estocado a –70o C até o momento do uso. Amostras de tecidos para controle negativo foram coletados de animais abatidos para consumo na região de Viçosa - MG. As amostras eram incluídas em Tissu Freezing Medium (Leica Instruments GmbH) cortadas em criostato a –31o C, em secções de 6 µm e colocadas em lamina de vidro tratada com Polipep de alta viscosidade (Sigma) 0,1%. As lâminas eram deixadas para secar a –31o C durante toda a noite e estocadas a –20o C até o momento do uso. As secções de tecido foram fixadas com solução de paraformaldeído ao 4% durante 20 minutos e lavadas duas vezes com PBS pH 7,2 durante 5 minutos cada vez. As lâminas eram incubadas com PBS-glicina 0,1 M durante 10 minutos para bloquear os radicais aldeídos e lavadas duas vezes com PBS pH 7,2 durante 5 minutos cada vez. As amostras de tecido eram incubadas em solução de H2O2 30V a 3,5% em PBS pH 7,2 durante 20 minutos para bloquear a peroxidase endógena e após 3 lavagens com PBS pH 7,2 durante 5 minutos cada vez, eram bloqueadas as ligações inespecíficas das amostras com PBS 10% de soro eqüino durante 30 minutos e lavadas 2 vezes com PBS pH 7,2 durante 5 minutos cada vez. As lâminas eram incubadas com os anticorpos monoclonais antimoléculas de adesão ICAM-1 (CD54), VCAM (CD106), PECAM-1 (CD-31), E-selectina (CD 62-E) e trombospondina (TSP) diluídos 1:80 em PBS durante 2 horas a temperatura ambiente. Após 3 lavagens com PBS de 5 minutos cada vez, o material era incubado com IgG de coelho antiIgG de camundongo conjugada com peroxidase (Sigma) diluída 1:200 em PBS pH 7,2 para os anticorpos monoclonais anti ICAM-1, VCAM, PECAM-1 e trombospondina; IgG de cabra anti-IgG de coelho conjugada com peroxidase (Sigma) diluída 1:300 para a E-selectina, durante 50 minutos a 37o C em câmara úmida. Depois de 2 lavagens de 5 minutos com PBS pH 7,2 realizavase a revelação com cromógeno (diaminobenzidina DAB, Sigma 0,025% e 0,2% de H2O2 30V em PBS pH 7,2) durante 7 minutos no escuro, seguindo-se 2 lavagens de 5 minutos com PBS pH 7,2 e contra-coloração com Hematoxilina de Harris 1:3 por 3 minutos. Finalmente, as lâminas eram lavadas com água destilada deionizada durante 5 minutos, secadas, montadas com Entellam e 35 lamínula de vidro e observadas no microscópio óptico binocular (Nikon ECLIPSE E600). A intensidade de expressão das moléculas de adesão nas células endoteliais foi avaliada da seguinte maneira: (-) ausência de expressão, (+) expressão pouco intensa, (+ +) expressão medianamente intensa, (+ + +) expressão intensa e (+ + + +) expressão muito intensa. 4.12 Imunohistoquímica para detecção de antígenos de Babesia bovis Os fragmentos de tecido fixaram-se em formol tamponado pH 7,2 durante 48 horas. Após fixação, os fragmentos foram desidratados em soluções crescentes de álcool (70%, 80%, 90% e 100% I e II), permanecendo durante 24 horas em cada solução. Posteriormente, foram diafanizados em xilol e incluídos em Paraplast Plus (Sigma ). Cortes histológicos seriados de 5µm de espessura foram feitos em micrótomo de rotação SPENCER (American Optical Company). Para detecção de antígenos de B. bovis utilizou-se a técnica de Peroxidaseanti-Peroxidase – PAP (PROPHET et al., 1992). O meio de inclusão foi retirado por duas passagens em xilol de 30 minutos cada, sendo hidratados em soluções alcoólicas decrescentes (100% I e II, 90%, 80% e 70%) trocando-se de solução a cada 5 minutos. A peroxidase endógena foi bloqueada com peróxido de hidrogênio metanólico 3% durante 30 minutos a temperatura ambiente. Os cortes foram lavados duas vezes, durante 5 minutos cada, com PBS pH 7,4 (1,48g de fosfato de sódio dibásico anidro, 0,43g de fosfato de sódio monobásico anidro, 7,2g de cloreto de sódio e água deionizada q.s.p. 1000ml). Em seguida, cobriram-se os cortes com soro normal caprino diluído 1:10 em PBS pH 7,4 e incubou-se em câmara úmida durante 45 minutos a temperatura ambiente. Após a incubação, enxugou-se o excesso de soro e sem deixar secar os cortes colocou-se anticorpo primário específico (IgG de coelho anti-Babesia bovis), diluído 1:20 em PBS pH 7,4; os cortes foram incubados durante 18 horas em câmara úmida a 4ºC. Posteriormente, os cortes foram lavados três vezes com PBS pH 7,4 durante cinco minutos cada e em seguida cobertos com o anticorpo secundário (IgG de cabra anti-IgG de coelho) produzido pelo LBCH / BIOAGRO-UFV, diluído 1:10 em PBS 7,4. Após 36 incubação em câmara úmida, durante 45 minutos a 37ºC, os cortes foram lavados três vezes, 5 minutos cada, com PBS pH 7,4 e posteriormente cobertos com o complexo PAP produzido em coelho (SIGMA), diluído 1:200 de acordo com especificação do fabricante e imediatamente incubados em câmara úmida, durante 45 minutos a 37ºC. Os cortes foram lavados novamente em PBS pH 7,4 durante 10 minutos e foram imediatamente colocados em solução reveladora recém preparada [25mg de diaminobenzidina (DAB), 200µl de H2O2 (30V) em 100ml de PBS pH 7,4] durante 5 minutos. Finalmente os cortes foram lavados durante 5 minutos em PBS pH 7,4 e contracorados com Hematoxilina de Harris 1:10 em PBS pH 7,4 durante 20 segundos, sendo em seguida desidratados em álcool, diafanizados em xilol e montados com Entellan entre lâmina e lamínula. 37 5. RESULTADOS 5.1 Estabelecimento dos cultivos primários de células endoteliais A metodologia utilizada para extração de células endoteliais a partir de veia umbilical bovina, permitiu cultivos formados por células poligonais pavimentosas, que proliferaram ativamente confluentes (Figura 1). 38 formando monocamadas Figura 1 – Monocamada de células endoteliais de veia umbilical bovina (BUVECs), Instant Prov®, 1000x. 39 5.2 Comprovação da natureza endotelial das BUVECs A natureza endotelial das BUVECs foi confirmada pela capacidade de degradar e acumular a lipoproteína acetilada de baixa densidade marcada com 1, 1’- dioctadecyl - 3,3,3’,3’ - tetramethylindocarbocyanine perchlorate (Dil-AcLDL) que atua como marcador específico de células endoteliais. Depois de cinco passagens, as culturas apresentaram-se essencialmente livres de células contaminantes, indicado pela uniforme habilidade para reter o Dil-Ac-LDL. O resultado foi típico de células endoteliais, mostrando fluorescência localizada no citoplasma e na parede celular, mas não no núcleo (Figura 2 A e B). 40 A B Figura 2 – Células endoteliais de veia umbilical bovina marcadas com Dil-AcLDL. 200 x (A) e 400x (B). 41 5.3 Cinética de adesão de eritrócitos em células endoteliais não estimuladas Conforme mostrado no Quadro 3, observa-se que os valores das médias de eritrócitos aderidos são muito variáveis em todos os animais a partir do segundo dia pós-inoculação até o fim do experimento. Ainda, constatou-se que embora houve aumento das médias de adesão de eritrócitos, a partir do 60 dia pós-inoculação em todos os animais, não houve diferença significativa entre as médias de adesão nos diversos dias da amostragem de cada animal. A figura 3 (A e B) mostra a cinética de adesão no decorrer do experimento. Observa-se que a partir do dia 2 pós-inoculação aumentam os níveis de adesão até chegar ao fastígio no dia 8, a partir do qual começam a diminuir os níveis até o dia 12, quando se inicia uma nova elevação da adesão, permanecendo constante até o último dia do estúdio. Somente eritrócitos não parasitados foram detectados como aderentes às BUVECs (Figura 4 A e B). Nos testes com sangue do animal controle (B6) não houve aumento da média de eritrócitos aderidos em BUVECs, entretanto observa-se adesão de polimorfonucleares principalmente de neutrófilos (Figura 5). 42 Quadro 3 – Cinética de adesão de eritrócitos provenientes de animais inoculados com B. bovis (amostra BbovUFV1 7a passagem) aderidos em células endoteliais de veia umbilical bovina (BUVECs). Médias de eritrócitos aderidos em 1000 BUVECs Dia pósinoculação B1 B2 B3 B4 B5 B6 0 0 0 1.5 0 1 0 2 27.5 15.5 32 20.5 1.5 0 4 49 30.5 40 40 36.5 1.5 a 68 a 64 a 80.5 a 65 a 0a 6 90.5 8 114.5 a 89 a 81 a 89 a 40.5 a 2a 10 81 a 89.5 a 83 a 68.5 a 44 a 0a 12 66.5 a 75.5 a 87 a 69.5 a 46 a 1a 14 97 a 89.5 a 71 a 70.5 a 59.5 a 0a 16 94 a 89.5 a 78 a 72 a 63 a 1.5 a B1, B2, B3, B4 e B5, animais inoculados com amostra BbovUFV1 7a.passagem B6, animal controle. As médias foram calculadas entre duplicatas de um mesmo teste. a, Indica médias estatisticamente iguais entre os dias pelo teste t com P<0,01 43 Hemacias aderidas em 100 BUVECs 140 120 100 B1 B2 80 B3 B4 60 B5 B6 40 20 0 2 4 6 8 10 12 14 16 Dias pós-inoculação A Hemacias aderidas em 1000 BUVECs 110 100 90 80 70 60 50 Positivo 40 Controle 30 20 10 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 Dias pós-inoculação B Figura 3 – A. Cinética de adesão de eritrócitos de animais inoculados com B. bovis (amostra BbovUFV1 7a passagem) aderidos em células endoteliais de veia umbilical bovina (BUVECs); B. Cinética de adesão expressada em médias de eritrócitos de animais inoculados com B. bovis (amostra BbovUFV1 7a passagem) aderidos em células endoteliais de veia umbilical bovina (BUVECs). 44 A B Figura 4 – Adesão de eritrócitos provenientes de animais inoculados com amostra de B. bovis (BbovUFV1 7a passagem) em BUVECs (A e B). Instant Prov®, 1000x. A seta indica a ligação entre eritrócito e célula endotelial. 45 D A B Figura 5 – Adesão de leucócitos em BUVECs (A e B), Instant Prov , 1000x . 46 5.3.1 Avaliação clínica Aos 10 dias pós-inoculação, observaram-se eritrócitos parasitados com merozoítos de B. bovis nos animais B1, B2, B3, B4 e B5 (Quadro 4). O aparecimento de sinais clínicos de babesiose aguda, caracterizados por aumento de temperatura retal (igual ou superior a 39oC), redução do volume globular (igual ou superior a 30%), ocorreu aos 10 dias pós-inoculação no animal B3, e aos 12 dias pós-inoculação nos animais B1, B2, B4 e B5. O animal controle B6 não apresentou alterações nos parâmetros clínicos avaliados. 47 Quadro 4 – Parâmetros clínicos e laboratoriais de animais inoculados com B. bovis (amostra BbovUFV1 7a passagem). DIAS PÓS-INOCULAÇÃO Animal Parâmetro 0 2 4 6 8 10 12 14 16 PCV% 24 - 24 - 23 - 23 - 22 - 20 + 20 + 15 + 15 + T( C) 37.5 38.7 38.6 38.4 38.6 38.8 40.5 40.6 41.0 PCV% 30 31 30 28 27 27 26 20 12 P o T( C) 37.6 37.6 38.9 38.6 38.3 + 38.2 + 39,7 40.8 + 41.2 PCV% P o T( C) 31 38 31 38.9 30 38.9 28 38.4 25 38.3 20 + 39.3 22 + 40,1 20 + 40.4 20 + 40.1 B4 PCV% P o T( C) 26 37.9 26 38.4 25 38.6 24 38.7 23 38.4 22 + 38.8 24 + 40.2 16 + 40.5 10 + 40.7 B5 PCV% P o T( C) 28 37.5 27 37.9 26 38.7 26 38.3 27 38.2 27 + 37.9 27 + 39.2 24 + 39.2 14 + 39.9 B6 PCV% P o T( C) 30 37.7 28 38 29 38.5 30 37.9 27 38 29 37.5 27 38 28 38.5 28 38 B1 o B2 B3 B1, B2, B3, B4, B5, animais inoculados com amostra BbovUFV1 7a passagem B6, animal controle. PCV, volume globular; P, parasitemia; T, temperatura em graus Celsius 48 5.4 Testes de adesão de eritrócitos em BUVECs estimuladas Os testes de adesão de eritrócitos em monocamadas de BUVECs, previamente tratadas conforme descrito no Quadro 2 (Item 4.9.2), mostraram uma maior adesão de eritrócitos procedentes de animais infectados quando as BUVECs foram estimuladas com os tratamentos que empregavam plasma e sobrenadante de PBMC (tratamentos 1, 2 e 3), do que aquela observada nas células que não receberam estímulo (tratamentos 4, 5 e 6) onde, além da adesão de eritrócitos, também houve adesão de leucócitos, principalmente polimorfonucleares (neutrófilos, eosinófilos) e alguns linfócitos. A análise estatística mostra que há diferença significativa (P < 0,05) na adesão mediada pelo tratamento 3, enquanto que os tratamentos 4, 5 e 6 não induziram adesão estatisticamente significativa. Já os tratamentos 1 e 2 apresentaram diferença significativa (P < 0,10) (Quadro 5, Figura 6, A, B, C). Os testes de adesão realizados com eritrócitos do controle negativo, mostraram adesão somente de leucócitos, principalmente neutrófilos (Figura 5). 49 Quadro 5. Testes de adesão de eritrócitos provenientes de animais inoculados com B. bovis em BUVECs estimuladas com diferentes tratamentos. Média de eritrócitos aderidos em 1000 BUVECs Animal infectado controle com B. bovis Tratamento 1 Plasma de animal infectado com B. bovis + Tampão de adesão sem Ca+2 e Mg+2 410* 0 2 Plasma de animal infectado com B. bovis + Tampão de adesão com Ca+2 e Mg+2 408* 0 3 Sobrenadante de PBMC (citocinas) + DMEM 489** 0 4 Tampão de adesão com Ca+2 e Mg+2 140 N.S 0 5 Tampão de adesão sem Ca+2 e Mg+2 113 N.S 0 6 DMEM 244 N.S 0 BUVECs, células endoteliais de veia umbilical bovina. * Diferença significativa (P < 0,10) ** Diferença significativo (P < 0,05) N.S Difernça não significativo As médias foram calculadas entre duplicatas de um mesmo teste. 50 A B C Figura 6 – Adesão de eritrócitos de animais inoculados com B. bovis em BUVECs estimuladas. A. Estímulo com sobrenadante de cultura de PBMC; B. Estímulo com plasma; C. Sem estimulo. As setas indicam adesão de PMN. Instant Prov®. 1000x. 51 5.5 Imunohistoquímica para identificação de moléculas de adesão in vitro Os resultados da imunoperoxidase indireta utilizando anticorpos monoclonais contra ICAM-1, VCAM, PECAM-1 e trombospondina, e policlonal contra E-selectina apresentados no Quadro 6, mostram que a maioria das BUVECs tem imunomarcação positiva para estas moléculas de adesão, observadas uniformemente na superfície celular. Entretanto, a imunomarcação é mais intensa nas células estimuladas com plasma de animal infectado com B.bovis e com sobrenadante de cultura de PBMC contendo citocinas quando comparada à observada nas células não estimuladas. Assim, ICAM-1 apresentou uma expressão intensa em BUVECs estimuladas com plasma e sobrenadante de PBMC. A expressão desta molécula em células endoteliais que receberam o tratamento controle foi pouco intensa (Figura 7 A, B, C). Nas células endoteliais estimuladas com plasma e sobrenadante, VCAM teve uma expressão intensa. Nas células endoteliais do tratamento controle não houve expressão desta molécula (Figura 8 A, B e C). PECAM-1 teve uma expressão intensa nas células endoteliais estimuladas com plasma de animal inoculado com B. bovis e apresentou uma expressão medianamente intensa nas BUVECs estimuladas com sobrenadante de PBMC. As células endoteliais do tratamento controle mostraram uma expressão pouco intensa (Figura 9 A, B e C). A expressão de E-selectina, em células endoteliais estimuladas com plasma, foi muito intensa. Em células estimuladas com sobrenadante de cultura de PBMC, esta molécula mostrou expressão intensa se comparada com a expressão pouco intensa das células do tratamento controle (Figura 10 A, B e C). A trombospondina teve uma expressão intensa na superfície das células estimuladas com plasma e uma expressão pouco intensa nas BUVECs estimuladas com sobrenadante de PBMC. As células do tratamento controle não apresentaram expressão desta molécula (Figura 11 A, B e C). 52 Quadro 6 - Intensidade da expressão de moléculas de adesão em BUVECs Tratamentos Antígeno Plasma Sobrenadante PBMC DEMEN ICAM-1 +++ +++ + VCAM +++ +++ - PECAM-1 +++ ++ + +++ + + - E-selectina + + + + TSP +++ + + + +, expressão muito intensa + + +, expressão intensa + +, expressão medianamente intensa +, expressão pouco intensa - , ausência de expressão 53 A B C Figura 7 – Expressão de ICAM-1 em BUVECs. A. Células estimuladas com plasma; B. Células estimuladas com sobrenadante de PBMC; C. Células sem estímulo (DMEM). Peroxidase indireta, 400x. 54 A B C Figura 8 - Expressão de VCAM (CD106) em BUVECs. A. Células estimuladas com plasma; B. Células estimuladas com sobrenadante de PBMC; C. Células sem estímulo (DMEM). Peroxidase indireta, 400x.o 55 A B C Figura 9 – Expressão de PECAM-1 (CD31) em BUVECs. A. Células estimuladas com plasma; B. Células estimuladas com sobrenadante de PBMC; C. Células sem estímulo (DMEM). Peroxidase indireta, 400x. 56 A B C Figura 10 – Expressão de E- selectina (CD62 E) em BUVECs. A. Células estimuladas com plasma; B. Células estimuladas com sobrenadante de PBMC; C. Células sem estímulo (DMEM). Peroxidase indireta, 400x. 57 A B C Figura 11 - Expressão de Trombospondina (TSP) em BUVECs. A. Células estimuladas com plasma; B. Células estimuladas com sobrenadante de PBMC; C. Células sem estímulo (DMEM). Peroxidase indireta, 400x. 58 5.6 Expressão de moléculas de adesão in situ Os resultados da imunoperoxidase indireta realizada nas amostras de cérebro, pulmão e rim dos animais infectados, mostraram heterogeneidade na expressão das moléculas de adesão pesquisadas, variando apenas na intensidade de expressão (Quadro 7). No cérebro dos animais inoculados com B. bovis, ICAM-1 teve uma expressão muito intensa no endotélio dos capilares cerebrais quando comparada a observada no endotélio cerebral do animal controle, em que não se observou expressão de esta molécula (Figura 12 A e B). No tecido pulmonar dos animais inoculados, esta molécula apresentou uma expressão intensa, em contraposição da ausência de expressão observada no pulmão controle (Figura 12 C e D). No tecido renal dos animais que morreram de babesiose, houve expressão intensa de ICAM-1, principalmente nos capilares glomerulares e intertubulares. O rim do animal controle não teve expressão desta molécula (Figura 12 E e F). No cérebro dos animais positivos, houve expressão muito intensa de VCAM, distribuída nas células endoteliais dos vasos; não houve expressão desta molécula no cérebro controle (Figura 13 A e B). No tecido pulmonar dos animais positivos, VCAM teve uma expressão medianamente intensa com pouca expressão no pulmão controle (Figura 13 C e D). No rim dos animais positivos, VCAM foi expressa intensamente nos capilares glomerulares e intertubulares; no tecido renal usado como controle, esta molécula não teve expressão (Figura 13 E e F). A expressão de PECAM-1 foi muito intensa nas células endoteliais do cérebro dos animais positivos, e houve ausência de expressão nos endotélios do cérebro controle (Figura 14 A e B). No pulmão, a expressão de PECAM-1 foi medianamente intensa, e pouco intensa no tecido pulmonar do animal controle (Figura 14 C e D). No rim, esta molécula teve expressão pouco intensa e houve ausência de expressão no rim do animal controle (Figura 14 E e F). A E-selectina no cérebro dos animais positivos teve expressão muito intensa principalmente no endotélio vascular e no tecido ao redor dos vasos (Figura 15 A). No cérebro controle, a expressão foi pouco intensa (Figura 15 B). No pulmão dos animais inoculados, esta molécula expressou-se muito 59 intensamente em todo o tecido pulmonar, com expressão intensa no pulmão controle (Figura 15 C e D). No rim dos animais que morreram de babesiose, a E-selectina teve uma expressão medianamente intensa (Figura 15 E). E o rim controle, não teve expressão desta molécula (Figura 15 F). A expressão de trombospondina no cérebro foi muito intensa nas células endoteliais que fazem parte da microcirculação cerebral. No endotélio dos vasos cerebrais do controle não se observou expressão de esta molécula (Figura 16 A e B). No pulmão dos animais infectados a TSP se expressou muito intensamente nos endotélios dos vasos deste tecido; e no pulmão do animal controle houve uma expressão medianamente intensa desta molécula (Figura 16 C e D). No rim dos animais inoculados observou-se uma expressão muito intensa de TSP nos capilares glomerulares e intertubulares; e no tecido renal do animal controle não se observou expressão desta molécula (Figura 16 E e F). Quadro 7 – Intensidade da expressão de moléculas de adesão em diferentes tecidos Antígeno Tecidos Pulmão Cérebro Rim Infectado controle Infectado controle com B. bovis com B. bovis Infectado controle com B. bovis ICAM-1 + + ++ - +++ ++ +++ - VCAM + + ++ - ++ + +++ - PECAM-1 ++++ - ++ + + - E-selectina + + + + + ++++ +++ ++ - - ++++ ++ ++++ + TSP ++++ + + + +, expressão muito intensa + + +, expressão intensa + +, expressão medianamente intensa +, expressão pouco intensa - , ausência de expressão 60 A B C D E F Figura 12 – Imunoperoxidase indireta. Expressão de ICAM-1 (CD54) em tecidos de animais infectados com B. bovis. A. forte reação positiva em vaso do cérebro, 200x; B, vaso controle, 200x; C, reação positiva em pulmão, 400x; D, pulmão controle, 400x; E, reação positiva em rim, 400x; F, rim controle, 400x. As setas indicam imunomarcação positiva.. 61 A B C D F E Figura 13 - Expressão de VCAM (CD106) em tecidos de animais infectados com B. bovis. A, forte reação positiva em vaso cerebral, 400x; B, vaso do cérebro controle, 400x; C, reação positiva em pulmão, 400x; D, pulmão controle, 400x; E, reação positiva em rim, 200x; F, rim controle, 200x. Imunoperoxidase indireta. 62 A B C D E F Figura 14 – Expressão de PECAM-1 (CD31) em tecidos de animais infectados com B. bovis. A, reação positiva em vaso do cérebro, 400x; B, vaso do cérebro controle, 400x; C, reação em pulmão positivo, 400x; D, pulmão controle, 400x; E, reação positiva em rim, 200x; F, rim controle, 200x. Imunoperoxidase indireta. A seta indica imunomarcação positiva.. 63 A B C D E F Figura 15 – Expressão de E-selectina (CD62E) em tecidos de animais infectados com B. bovis. A, reação positiva em vaso do cérebro, 400x; B, vaso do cérebro controle, 400x; C, reação em pulmão positivo, 400x; D, pulmão controle, 400x; E, reação positiva em rim, 200x; F, rim controle, 200x. Imunoperoxidase indireta. As setas indicam imunomarcação positiva. 64 A B C D E F Figura 16 – Expressão de Trombospondina (TSP) em tecidos de animais infectados com B. bovis. A, reação positiva em vaso do cérebro, 400x; B, vaso do cérebro controle, 400x; C, reação positiva em pulmão, 400x; D, pulmão controle, 400x; E, reação positiva em rim, 200x; F, rim controle, 200x. Imunoperoxidase indireta. 65 5.7 Imunohistoquímica para detecção de antígenos de B. bovis Ao exame dos fragmentos de tecidos, corados pelo método de PAP, dos animais que morreram 14 e 15 dias pós-inoculação com B. bovis, foi possível detectar, em cérebro e pulmão, reatividade positiva nas hemácias que ficaram aglutinadas na luz dos vasos e do tecido ao redor deles, o mesmo não foi observado no animal negativo (Figuras 17 e 18). Já no tecido renal observouse reatividade positiva principalmente nos capilares glomerulares (Figura 19). 66 A B Figura 17 – Teste de PAP para detecção de antígenos de Babesia bovis em microcirculação cerebral bovina. A. reatividade positiva em eritrócitos aderidos a células endoteliais (setas) de animal inoculado com B. bovis, 1000x; B. Ausência de reatividade positiva em vaso pulmonar do bovino negativo,1000x. 67 A B Figura 18 - Teste de PAP para detecção de antígenos de Babesia bovis em microcirculação pulmonar bovina. A. reatividade positiva em eritrócitos aderidos a células endoteliais (setas) de animal inoculado com B. bovis, 1000x; B. Ausência de reatividade positiva em vaso pulmonar do bovino negativo, 1000x. 68 A B Figura 19 - Teste de PAP para detecção de antígenos de Babesia bovis em microcirculação renal. A, reatividade positiva em capilar glomerular de animal inoculado com B. bovis (setas), 1000x; B, Ausência de reatividade positiva em rim do bovino negativo, 1000x. 69 6. DISCUSSÃO A citoaderência em Babesia bovis tem sido estudada usando vários tipos de células, tais como: células endoteliais de capilar cerebral bovino (O’CONNOR et al., 1999) e células endoteliais de aorta bovina (CAETANO, 2001). As células endoteliais utilizadas neste estudo para aplicação em testes de adesão eritrocitária e identificação de moléculas de adesão, durante as varias passagens, sempre mantiveram as características morfológicas descritas por SPANEL-BOROWSKI & FENYVES (1994), isto é, formação de uma monocamada epitelial pavimentosa, com células poligonais. Ainda, segundo VOYTA et al. (1984), uma das características importantes das células endoteliais mantidas em cultura é a capacidade de degradar e acumular a lipoproteína acetilada de baixa densidade DIL-Ac-LDL, assim, tendo em conta os resultados apresentados e o anteriormente descrito pode-se afirmar que as células utilizadas na presente pesquisa são do tipo endotelial. Os resultados dos testes de adesão in vitro, usados para determinar a cinética de adesão e a adesão em células endoteliais estimuladas, indicam que a ademsão observada é resultante da interação entre antígenos de B. bovis na superfície dos eritrócitos e receptores endoteliais complementares. Apesar das variações na composição de aminoácidos possam alterar a afinidade de ligação com receptores expressos nas células endoteliais, os resultados 70 obtidos mostram evidências de que os antígenos da BbovUFV1 patogênica apresentam afinidade pelos receptores das células endoteliais de veia umbilical bovina utilizadas nesta pesquisa. A adesão observada neste trabalho foi só de eritrócitos não parasitados. Resultados semelhantes também foram observados por KILGER (1999) e PATARROYO et al. (1999) utilizando o mesmo modelo de adesão de eritrócitos, em células endoteliais de aorta bovina, embora, tenham observado que uma pequena porcentagem de eritrócitos (<10%) estava parasitada. Isto contrasta com os trabalhos de O’CONNOR et al. (1999) que, usando células endoteliais de cérebro bovino, observaram que a totalidade dos eritrócitos aderidos estavam parasitados com merozoítos de B. bovis. O fato de a adesão dar-se somente com eritrócitos não parasitados sugere que no plasma de um animal em fase aguda de babesiose são encontradas proteínas liberadas, bem seja pelo parasita ou pela ruptura das hemácias, as quais são ou atuam como exoantígenos. Segundo GOODGER (1973 e 1976) e GOODGER et al. (1981), os exoantígenos de B. bovis constituem um grupo heterogêneo de proteínas que têm afinidade pela superfície eritrocitária. Muitos deles estão associados em complexos com algumas proteínas de fase aguda da infecção como haptoglobina, hemoglobina e fibrina ou com anticorpos, especialmente IgM. Assim, a adesão de eritrócitos não parasitados que foi observada pode ser resultado de modificação da superfície das hemácias pela adsorção de antígenos de B. bovis, os quais se ligariam a receptores específicos presentes na superfície das células endoteliais de veia umbilical bovina. A adsorção destes antígenos citofílicos foi demonstrada nos trabalhos de CAETANO (2001), por testes de hemaglutinação, nos quais hemácias tanizadas provenientes de bovinos livres de B. bovis foram sencibilizadas com soro de animais a partir de 12 dias após a inoculação com BbovUFV1 patogênica, coincidindo com o desenvolvimento de parasitemia. Paralelamente, imunofluorescência indireta em esfregaços de sangue periférico dos animais inoculados mostrou a presença de eritrócitos não parasitados reativos a anticorpos anti-BbovUFV1. A proteína VESA 1 é o antígeno de B. bovis que apresenta a variação mais marcante entre os diversos isolados, como demonstrado por ALLRED et 71 al. (1994). O’CONNOR & ALLRED (2000) também demonstraram que dependendo da isoforma de VESA 1 que se expresse, clones de B. bovis possuem ou não a capacidade de induzir a adesão de eritrócitos parasitados em células endoteliais de cérebro bovino. De maneira similar, a molécula de adesão PfEMP1 do P. falciparum apresenta variação na sua porção extracitoplasmática, naqueles domínios responsáveis pela ligação com os receptores endoteliais, afetando a capacidade de indução de adesão pelo P. falciparum, fato demonstrado por SU et al. (1995). Assim, é possível que a amostra BbovUFV1 7a passagem patogênica induza à expressão, em eritrócitos parasitados, de uma isoforma de VESA 1 não aderente. Um outro mecanismo que pode ter contribuído para a adesão é a ativação do sistema de coagulação por esterases liberadas pela B. bovis durante a fase aguda da doença. Segundo WRIGHT et al. (1988 e 1989), este fato facilita a adesão por desencadear a produção de monômeros solúveis de fibrina que têm afinidade pela superfície das hemácias. A fibrina pode-se ligar à trombospondina na superfície de células endoteliais e, portanto, promover a adesão eritrocitária. Existem poucas evidências experimentais que confirmem esta hipótese. Entretanto, PARRODI et al. (1989) observaram que eritrócitos parasitados e não parasitados de animais inoculados com uma amostra patogênica de B. bovis aderiam em superfícies plásticas tratadas com trombospondina, mas não definiram qual a molécula da superfície eritrocitária atuava como ligante. Por outro lado, em um estudo de microscopia eletrônica sobre seqüestro de eritrócitos em capilares cerebrais de animais inoculados com amostras patogênicas de B. bovis, WRIGHT (1972) descreveu a formação de filamentos de fibrina que ligavam eritrócitos parasitados e não parasitados entre si e ao endotélio. Em experimentos seqüenciais, ALLRED et al. (1993 e 1994), O’CONNOR et al. (1997) e O’CONNOR & ALLRED (2000) demonstraram que VESA 1 é sintetizada pelos merozoítos de B. bovis e inserida nas projeções espiculares da membrana do eritrócito parasitado. Apesar de não esclarecerem os mecanismos de transporte e inserção da mesma na bicamada lipídica, os pesquisadores descartaram a possibilidade desta proteína ser secretada e adsorvida inespecificamente na superfície de células. Em primeiro lugar, testes 72 de imunofluorescência com eritrócitos de cultivo de B. bovis, onde foram empregados anticorpos específicos para VESA 1 demonstraram a presença da molécula exclusivamente nas células parasitadas, demonstrando que VESA 1 está inserida na bicamada lipídica ou ancorada fortemente em ligações com fosfatidilinositol. Concordando com o anteriormente exposto, e resumindo, a adesão encontrada neste trabalho pode ser devida a antígenos citofílicos localizadas em hemácias não parasitados de animais infectados com B. bovis. Na cinética de adesão dos eritrócitos provenientes dos animais infectados verificou-se variação nas médias de hemácias aderidas para cada animal. Isto pode ser explicado já que os bovinos utilizados neste experimento não eram isogênicos, o que leva a diferentes padrões da resposta imune que medeia o processo inflamatório. O pico de adesão dos eritrócitos, coletados no 8º dia pós-inoculação, coincidiu com o pico de parasitemia que foi mensurado por FIGUEIREDO (2002) usando a técnica de hidroetidina. Uma explicação para esta maior adesão seria que o aumento da parasitemia levou a um aumento dos exoantígenos citofílicos liberados pela B. bovis, os quais se ligariam à superfície das hemácias levando ao aumento da sua adesão nas células endoteliais. A queda nos níveis de adesão que foi observada a partir do dia 8 pósinoculação, provavelmente tenha sido devido ao efeito inibidor da replicação parasitaria provocada pelo oxido nítrico (ON), já que a resolução da infecção aguda depende dos produtos derivados dos macrófagos ativados, como citocinas inflamatórias e ON, os quais são induzidos pela exposição a merozoítos ou à membrana de merozoítos de B. bovis, mas esta indução é dependente de IFN-γ e de TNF-α (STICH et al., 1998; GOFF et al., 2002). Além disto, os macrófagos ativados por parasitos inibem o crescimento deste durante a infecção aguda e contribuem para o desenvolvimento de uma resposta tipo Th1 (SHODA et al., 2000). Por outro lado, análises in vivo das citocinas liberadas em resposta à B. bovis revelaram a importância de IL-12, IFN-γ e ON para a proteção contra esta doença, sugerindo que a imunidade protetora contra este agente está associada com o desenvolvimento de uma resposta tipo 1, envolvendo ON, a qual pode ser modulada por IL-4 ou IL-10 (GOFF et 73 al., 2002). Pesquisas realizadas por COURT et al. (2001) comprovaram que durante o pico de parasitemia e eliminação do parasito, em exposições primarias à B. bovis, a atividade fagocítica dos neutrófilos e a explosão oxidativa dos monócitos estão aumentadas. Uma outra explicação para a queda da adesão é que em animais não esplenectomizados esta pressão é exercida pelo sistema retículo-endotelial esplênico, que fagocita e elimina o agente ou as células parasitadas pelo mesmo (RISTIC & KAKOMA, 1988). A adesão de polimorfonucleares neutrófilos e eosinófilos e alguns monócitos que foi observada nas células estimuladas ou não, parece indicar que as células endoteliais utilizadas nesta pesquisa poderiam estar expressando constitutivamente alguma molécula de adesão. Acredita-se que essa adesão possa se dever a moléculas como a E-selectina, a qual é a primeira a ser induzida sobre células endoteliais após 1 a 2 horas de estímulo com diferentes tipos de imunomoduladores, por exemplo, lipopolissacarídeos (LPS) e TNFα (ABBAS, 1998; VAN KAMPEN & MALLARD, 2001), mediando assim a ligação in vitro de polimorfonucleares (PMNs) e algumas subpopulações de linfócitos (GRABER et al., 1990., SHIMIZU et al., 1991). Já nos teste de adesão feitos neste estudo com eritrócitos provenientes de animais inoculados com B. bovis em células edoteliais estimuladas, houve maior adesão nos tratamentos com plasma e com sobrenadante de PBMC comparada com a adesão apresentada nas células sem estímulo. A maior adesão dos eritrócitos, provenientes dos animais infectados, indica que no plasma dos animais infectados com B. bovis há fatores que além de mediar a adesão de eritrócitos nas células endoteliais também as estimulam a incrementar a expressão de moléculas de adesão. Não há estudos in vivo sobre as interleucinas liberadas na fase aguda da babesiose, mas pesquisas feitas em malária têm relatado os níveis de citocinas in vivo e in vitro durante e depois da infecção com P. falciparum em Gabon, sugerindo que no plasma, os níveis de IL-6 chegam ao pico máximo na fase aguda da doença e, a liberação de esta citocina in vitro, é elevada durante e depois da infecção. De fato se conclui uma implicação de citocinas tipo 2 e IFNγ, com particularmente altos níveis de IL-6 (AUBOUY et al., 2002). Em trabalhos realizados por SHODA et al. (2000), constatou-se que monócitos derivados de macrófagos ativados com B. bovis expressavam altos níveis de 74 citocinas inflamatórias como IL-1β, IL-12 e TNF-α. EAST et al. (1997) relataram altos níveis de IFN-γ e TNF-α, produzidas em culturas de células mononucleares de sangue periférico de bovinos vacinados em pico de parasitemia. Tudo isto indica que a infecção com a amostra patogênica de B. bovis (BbovUFV 7a passagem), induz grande liberação de citocinas como IFN-γ e TNF-α que estimulam e aumentam a expressão de moléculas de adesão nos endotélios vasculares gerando adesão de eritrócitos no lúmen dos vasos, razão pela qual houve adesão dos eritrócitos provenientes dos animais infectados. Também foi observado neste experimento que TNF-α, IL-12 e INF-γ presentes no sobrenadante de cultura de PBMC, usado para o estímulo das células endoteliais, incrementaram a expressão de moléculas de adesão em BUVECs. A semelhança do que foi constatado neste trabalho, vários estudos têm demonstrado o importante papel das citocinas como TNF-α e INF-γ na expressão de moléculas de adesão em células endoteliais, dentre eles, os realizados por BEVILACQUA (1993), que sugere que a expressão de ICAM-1 e VCAM pode estar regulada por muitos tipos de citocinas, incluindo TNF-α e outros imunomoduladores como os LPS. Em outros animais como ovinos as UVECs apresentaram uma cinética de expressão de VCAM similar à da VCAM humana depois de 6 a 12 horas de estímulo com TNF alfa recombinante ovina (GROOBY et al., 1997). Estudos feitos por VAN KAMPEN & MALLARD et al. (2001) demonstraram que a estimulação de BAECs com fator de necrose tumoral-α recombinante (rbTNF-α) resultou na expressão de VCAM em menos de 5% da cultura, após uma hora pós-estimulação, seguido de um significante incremento após 3 horas, o qual foi mantido até 48 horas quando então a proporção de células VCAM positivas decresceram significativamente. A estimulação com LPS de Escherichia coli induz um significativo incremento na expressão de ICAM-1 mRNA entre 1 e 12 horas após o estímulo, depois do que diminuem rapidamente até chegar a níveis basais. Os pesquisadores concluíram que diferentes estímulos produzem cinética de expressão similar de VCAM-1 em BAECs. Neste trabalho o estimulo das BUVECs foi de duas horas, usando plasma ou sobrenadante de PBMC. Isto porque de acordo com os 75 pesquisadores, citados no parágrafo anterior, a cinética de expressão das diferentes moléculas varia. Ademais, experimentos prévios com o modelo aqui apresentado, determinaram que o tempo de estímulo era suficiente para expressão das moléculas. Corroborando o antes exposto, quando as BUVECs foram estimuladas, durante 2 horas com plasma de animal infectado e PBMC contendo citocinas, houve uma expressão muito mais intensa de ICAM-1, VCAM, PECAM-1, Eselectina e trombospondina quando comparada com o tratamento controle. Estes resultados são corroborados pelo trabalho de RAAB et al. (2002), no qual claramente é demonstrado que a combinação de citocinas como TNF-α, IL-1 ou IFN-γ adicionadas ao meio de incubação, podem modular de forma sinérgica ou antagônica, a expressão de moléculas de adesão como VCAM-1, ICAM-1, PECAM-1, CD-34, E e P-selectina em HUVECs. O plasma utilizado neste experimento foi coletado de animais em fase aguda de babesiose, possivelmente contendo altos níveis de TNF-α estimulando a expressão de varias moléculas de adesão na superfície das células endoteliais, igualmente, o sobrenadante de cultura de PBMC continha níveis quantificados desta citocina. No que tange ao plasma é necessário lembrar de que macrófagos derivados de monócitos ativados por B. bovis, expressam níveis elevados de citocinas inflamatórias como IL-12 e TNF-α, embora a indução de citocinas inflamatórias na babesiose, não tem sido bem estudada (SHODA et al., 2000). O porque usar monoclonais humanos neste trabalho tem como base as pesquisas de VAM KAMPER & MALLARD (2001) onde foi demonstrado que o anticorpo monoclonal anti VCAM-1 humano tem reatividade cruzada com VCAM-1 expressa em células endoteliais de aorta bovina (BAECs), mostrando uma cinética de expressão similar à humana. Os resultados do presente trabalho também mostram claramente que os anticorpos monoclonais humanos utilizados reconhecem moléculas como ICAM-1, PECAM-1 e trombospondina bovinas, sendo que esta última por informações do fabricante também reconhece trombospondina de origem ovina. As moléculas de adesão ICAM-1 e VCAM apresentaram uma expressão intensa em BUVECs quando estimuladas com plasma e sobrenadante de 76 PBMC, coincidindo com os resultados de trabalhos realizados por BEVILACQUA (1993), que indicaram que a expressão destas moléculas pode estar regulada por muitos tipos de citocinas incluindo o TNF-α e outros imunomoduladores. Outros estudos in vitro também revelaram que a expressão de ICAM-1 foi induzida com IL-1α, IL-1β, TNF-α, TNF-β e IFN-γ sobre múltiplos tipos de células em suínos, incluindo células hematopoiéticas e fibroblastos (ROTHLEIN et al., 1991). VCAM é outra molécula que também tem sido induzida in vitro com TNF-α e IL-1α (GROOBY et al., 1997). Outros estudos em suínos mostram que os níveis de expressão in vitro de VCAM-1 foram altos após 9 horas de estímulo com LPS, TNF-α, e IL-1α, ficando expressa até por 48 horas, e a expressão de VCAM-1 em HUVECs, estimuladas com LPS ou TNF-α foi prolongada só em células estimuladas com TNF-α, porém há diferenças na cinética de expressão de VCAM-1 humano e suíno (TSANG et al., 1994) Igualmente, PECAM-1 teve expressão intensa nas células endoteliais estimuladas com plasma procedente de animais infectados, embora apresentou uma expressão medianamente intensa quando as células foram estimuladas com sobrenadante de PBMC. Já as células endoteliais do tratamento controle mostraram uma expressão pouco intensa. Estas observações concordam com os resultados obtidos por MÜLLER et al. (2002), que evidenciaram expressão homogênea de PECAM-1 em culturas estimuladas e não estimuladas de células endoteliais de veia umbilical humana (HUVEC) e de células endoteliais de microvasculatura pulmonar humana (HPMEC). A presença pouco intensa nas BUVECs, pode ser explicada porque o PECAM-1 é constituinte das junções intercelulares endoteliais. A expressão intensa causada pelo plasma, pode ser devida à quantidade de citocinas pró e inflamatórias presentes e que as interleucinas no sobrenadante de PBMC deveriam atuar em sinergismo com outras moléculas para obter uma expressão maior. Evidentemente, a heterogeneidade na resposta da célula endotelial varia com o tipo de citocina, a concentração e o tempo de exposição, um fator não muito bem reconhecido nem documentado (MANTOVANI et al., 1997; PETZELBAUER et al., 1993). Assim, a expressão de E-selectina em BUVECs 77 após a estimulação durante 2 horas com plasma e sobrenadante foi muito maior que a expressão das outras moléculas de adesão estudadas. Isto pode ser devido ao fato que a E-selectina é a primeira molécula de adesão a ser induzida após 1 a 2 horas de estimulo com TNF (ABBAS, 1998), coincidindo com o tempo de estímulo usado neste experimento. As células endoteliais não estimuladas também expressaram E-selectina, mas em baixa intensidade. Pesquisas feitas por BISCHOFF & BRASEL (1995) relataram que o mRNA da E-selectina pode ser sobre-regulado por TNF-α em monocamadas confluentes de células endoteliais bovinas. A expressão intensa da trombospondina na superfície das células estimuladas com plasma e a expressão pouco intensa quando estimuladas com sobrenadante de PBMC, não concorda com os achados de LOGANADANE et al. (1997), que estudaram a expressão desta molécula em culturas HUBEC estimuladas. Porem, é importante ter em conta que neste trabalho não estudamos a correlação da concentração da matriz sub-endotelial da molécula e a densidade da cultura, fatos que influenciam a secreção de trombospondina por células endoteliais in vitro, conforme postulado pelo mesmo autor. A expressão das moléculas de adesão in vivo não sempre foi igual à expressão in vitro, porém deve ser levado em consideração que os modelos in vitro utilizando culturas de células em monocamada podem ter algumas limitações, principalmente aquelas referentes à ausência de fatores fisiológicos essenciais do micro-ambiente tecidual e à própria estimulação exercida pelas células vizinhas. No experimento foi observado um aumento na expressão de ICAM-1, VCAM, PECAM-1, E-selectina e trombospondina em cérebro, pulmão e rim nos bovinos infectados com B. bovis. Isso pode acontecer devido à ação das citocinas que são liberadas na fase aguda da babesiose que podem estimular a célula endotelial a expressar grande quantidade de moléculas de adesão. Os resultados aqui mostrados evidenciam uma possível participação destas moléculas de adesão no seqüestro de eritrócitos nos capilares, estes achados coincidem com os obtidos por GARETH et al. (1994) em tecidos de pacientes, que morreram de malária por P. falciparum, onde o seqüestro é mediado por interação entre ligante e receptor específico do eritrócito e da superfície da 78 célula endotelial, respectivamente. Entre os receptores identificados in situ estão CD36, CD-31, ICAM-1, E-Selectina, trombospondina e VCAM-1. No presente trabalho foi observada uma expressão muito intensa de ICAM-1 e E-selectina no endotélio dos capilares cerebrais dos animais inoculados com B. bovis, comparada com a apresentada no endotélio cerebral dos animais controle. Também no rim dos animais que morreram de babesiose, a E-selectina teve uma expressão medianamente intensa, e no rim controle, não houve expressão. Todos estes resultados concordam com os obtidos em trabalhos de GARETH et al. (1994) onde estudos de imunohistoquímica demonstraram que a expressão destas duas moléculas era mais alta no endotélio cerebral e renal de pacientes que morreram de malária do que em indivíduos com outros tipos de patologia e que a expressão estava fortemente associada ao seqüestro de hemácias parasitadas naqueles órgãos. Assim, de forma geral, tendo em conta nossos resultados o mesmo pode acontecer com B. bovis onde, concordando com GARETH et al. (1994), os níveis de expressão de receptores endoteliais para citoaderência em P. falciparum (ICAM-1, VCAM, PECAM-1 e TSP) são variáveis porque muitos são dependentes da ativação induzida por citocinas. A E-selectina e a trombospondina foram as moléculas de adesão que mais se expressaram em todos os tecidos pesquisados, sendo também observadas em alguns dos tecidos controle, provavelmente pelo fato de que a E-selectina esteja envolvida no rolamento de leucócitos e a trombospondina se expresse constitutivamente. Outros trabalhos sugerem que a E-selectina pode ter um papel muito importante no rolamento e seqüestro de eritrócitos infectados na patogênese da malária produzida pelo P. falciparum demonstrando que isolados de PfEMP1 podem funcionar como ligantes para Pselectina (SENEZUK et al., 2001). Igualmente, os antígenos expressos na superfície das hemácias infectadas por B. bovis aderem a superfícies tratadas com trombospondina, laminina (PARRODI et al., 1989). Então, é possível que no caso da babesiose produzida pela amostra de B. bovis patogênica (BbovUFV1 7a passagem), também haja envolvimento destas duas moléculas de adesão na patogênese da doença. O aumento da expressão de ICAM-1, VCAM, PECAM-1 E-selectina e trombospondina em cérebro, pulmão e rim dos bovinos que morreram após a 79 infecção com B. bovis sugere que as de citocinas como TNF-α, as quais são liberadas na fase aguda da babesiose e estimulam as células endoteliais a expressar grande quantidade de moléculas de adesão, a semelhança do que acontece nos casos de malária aguda em que os níveis de TNF-α estão elevados, estando também correlacionados com a severidade da doença (KWIATKOWSKI et al., 1990). Aumento na expressão de moléculas de adesão nos endotélios cerebrais tem sido observado também em outros modelos animais como no caso da encefalomielite autoimune experimental, vírus da imunodeficiência em símios e em doenças humanas produzidas por lesões necróticas e inflamatórias. Todas estas patologias têm como mecanismo patogênico básico a liberação de citocinas (TURNER et al., 1994) A expressão de ICAM-1, na babesioses bovina, principalmente localizada nos glomérulos renais e nos capilares intertubulares é um fato que ajuda a explicar a fisiopatologia da infecção. A presença desta molécula, por outros estímulos como LPS já tinha sido relatada por NITTA et al. (1995), que evidenciaram a expressão de ICAM-1 na superfície de células de glomérulo renal bovino. Os resultados da expressão de PECAM-1 nas células endoteliais do cérebro e do pulmão são similares aos resultados obtidos por MÜLLER et al. (2002), em biópsias pulmonares de pacientes com patologias pulmonares ou em lobectomia de pacientes com carcinoma pulmonar, que verificaram reação positiva contra PECAM-1 homogeneamente expressada em todos os vasos pulmonares independentemente do calibre. O seqüestro de eritrócitos não parasitados na microcirculação sempre foi descrito como conseqüência da estase sangüínea, da agregação dos eritrócitos não parasitados em torno dos eritrócitos parasitados e da ativação da coagulação. Seria, na verdade, um “empacotamento” dos eritrócitos, sendo impedidos de fluir pelos vasos. Trabalhos anteriormente realizados por KILGER (1999) e PATARROYO et al. (1999) mostram que pode haver mecanismos específicos de ligação dos eritrócitos não parasitados com a célula endotelial, via antígenos adsorvidos pelos eritrócitos. Isto explica os resultados da imunohistoquímica para detecção de antígenos de B. bovis, os quais mostraram reação positiva nos eritrócitos aderidos ao lúmen dos vasos de 80 tecidos como cérebro e pulmão e também presença de antígenos nos capilares glomerulares no rim dos animais que morreram de babesiose. A fisiopatologia da B. bovis inclui hiperemia passiva, deposição de pigmentos e seqüestro de eritrócitos infectados nas vênulas pós-capilares. Como na malária produzida pelo P. falciparum, um dos fatos mais importantes na babesiose é o seqüestro de eritrócitos parasitados e não parasitados na microcirculação e acumulação em órgãos vitais. A retenção de eritrócitos não parasitados na microcirculação facilita a proliferação da B. bovis nos tecidos e o escape do parasita da resposta imunológica do hospedeiro. Com os eritrócitos justapostos, os merozoítos podem se transferir diretamente de uma hemácia a outra, escapando da fagocitose ou opsonização por anticorpos. Desenvolvimento de mecanismos que aumentem a retenção de hemácias favorecem a sobrevivência do parasita. Neste contexto, a B. bovis utiliza a adesão de eritrócitos não parasitados como um mecanismo para escapar da resposta imune do hospedeiro. Em pesquisas realizadas em malária cerebral produzida pelo P. falciparum, encontraram-se evidências de que na fisiopatologia desta doença citocinas como o TNF, em especial, junto com as alterações na adesão e função das células endoteliais têm um papel importante no seqüestro de eritrócitos nos capilares do cérebro e um conseqüente dano cerebral (MANTOVANI et al., 1997). A semelhança deste mecanismo, na babesiose produzida pela B. bovis, caso o cérebro esteja envolvido, o dano causado pelo bloqueio dos capilares pode levar a uma condição fatal conhecida como babesiose cerebral (DE SOUZA & RILEY, 2002). 81 7. CONCLUSÕES • Células endoteliais de veia umbilical bovina (BUVECs) constituem um bom modelo para o estudo da fisiopatologia da babasiose produzida pela B. bovis. • Eritrócitos provenientes de animais inoculados com a amostra patogênica de Babesia bovis BbovUFV1 7a passagem se aderem em BUVECs in vitro. • A adesão de eritrócitos provenientes de animais inoculados com amostra patogênica de B. bovis em BUVECs é maior quando estimuladas com plasma de animais inoculados e com sobrenadante de PBMC os quais contêm interleucinas como TNF-α e IFN-γ capazes de induzir expressão de moléculas de adesão sobre as células endoteliais in vitro. • O aumento da adesão de eritrócitos provenientes de animais inoculados com B. bovis em BUVECs estimuladas pode ser devido à maior expressão de moléculas de adesão como ICAM-1, VCAM, PECAM-1, TSP, E-selectina e trombospondina na superfície das células endoteliais. • As moléculas de adesão ICAM-1, VCAM, PECAM-1, TSP, E-selectina e trombospondina estão claramente envolvidas na fisiopatologia da babesia visceral produzida pela B. bovis. 82 7.1 Perspectivas futuras Pesquisar outras moléculas de adesão como a CD36 e o Sulfato A de Condroitina que possam estar envolvidas na fisiopatologia da B. bovis e que tenham uma participação comprovada na citoaderência em patologias similares como no caso da malária. Podem-se empregar testes de adesão realizando bloqueio das moléculas de adesão usando anticorpos monoclonais das moléculas como ICAM-1, VCAM, PECAM-1, E-selectina e Trombospondina. O bloqueio na adesão dos eritrócitos por um anticorpo específico contra uma molécula de adesão reafirmaria a participação direta desta molécula na adesão dos eritrócitos infectados com B. bovis. A partir da identificação das moléculas de adesão pode-se dar início a uma nova etapa do estudo. Então, poder-se-á testar o potencial destas como terapêuticos capazes de induzir a produção de anticorpos bloqueadores, os quais impediriam o processo de adesão in vivo. Uma vacina com estas características seria uma ferramenta importante para prevenção do desenvolvimento da babesiose aguda e da mortalidade por ela causada. As moléculas de adesão em bovinos não têm sido profundamente estudadas, razão pela qual ainda há muitas questões sobre expressão e regulação destas moléculas no endotélio vascular e circulação de leucócitos. A caracterização das moléculas de adesão na superfície das BUVECs e a sua resposta frente à citocinas, poderia permitir um melhor entendimento dos receptores que mediam a adesão de eritrócitos parasitados e não parasitados por B. bovis. 83 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBAS, A.K., LICHMAN, A.H., POBER, J.S. Imunologia cellular e molecular. 3 Ed. Revinter. Rio de Janeiro, 469 p.1998. AFONSO, L.C.C., SCOTT, P. Immune responses associated with susceptibility of C57BL/10 mice to Leishmania amazonensis. Infect. Immun., v.61, n.7, p. 2952-2959, 1993. AIKAWA, M., RABBEGE, J., UNI, S., RISTIC, M., MILLER, L.H. Structural alterations of the membrane of erythrocytes infected with Babesia bovis. Am. J. Trop. Med. Hyg., v. 34, n. 1, p. 45-49, 1985. AIKAWA, M. Human cerebral malaria. Am. J. 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