1 INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA TRABALHO DE CNCLUSÃO DE CURSO TACIANY ALVES BATISTA LEMOS EUTANÁSIA: PERCEPÇÕES DO PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM uma revisão bibliográfica TERESINA-PI 2014 2 TACIANY ALVES BATISTA LEMOS EUTANÁSIA: PERCEPÇÕES DO PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM: uma revisão bibliográfica Monografia apresentado à Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva- IBRATI como requisito final para conclusão do mestrado profissionalizante em terapia intensiva. Orientador: Professor Doutor Douglas Ferrari. TERESINA- PI 2014 3 LEMOS, T. A. B. Eutanásia: Percepções do Profissionais de Enfermagem: Uma Revisão Bibliográfica. Monografia orientada pelo professor orientador Dutor: Douglas Ferrari. Mestrado Profissionalizante. Teresina, 2014. RESUMO Quando se fala de eutanásia existem várias compreensões ou discernimentos. Entre estes discernimentos, que podem variam a partir de interpretações subjetivas sem levar em consideração o conceito real da palavra, aparecem as questões morais como o direito de escolha; as questões religiosas, que ressaltam a vida como um dom divino sobre o qual o homem não tem o direito de intervir e, ainda, as questões legais (direito), que enfocam as leis ou códigos de ética dos grupos profissionais envolvidos na assistência sobre o que fazer ou não fazer diante desta situação. O Cuidar na enfermagem vai além do cuidado técnico, implica em importar-se com a pessoa, envolver-se com seu estado. As equipes de enfermagem muitas vezes se deparam com doentes incuráveis com dores intensas e incessantes e que, não tendo melhora, acreditam que a morte é a única solução e, assim, faz-se necessário o conhecimento ético e legal da atuação do enfermeiro frente à eutanásia, levando o profissional a refletir sobre a temática. tem-se como objetivo para o presente estudo é conhecer se os enfermeiros compreendem e identificam situações de eutanásia em unidade de terapia intensiva; compreender a dinâmica e relação entre a enfermagem, eutanásia e o cuidado paliativo, abordando aspectos éticos. Trata-se de levantamento bibliográfico descritivo de periódicos de enfermagem indexados na LILACS, MEDLINE, BDENF, Foram consideradas publicações que abordassem a temática eutanásia, usando os descritores (uni termos) como eutanásia, cuidado de enfermagem e UTI. Após a escolha do tema como foi relatado no início do trabalho, realizou-se um levantamento bibliográfico preliminar a fim de justificar sua escolha. Ao mesmo tempo em que o avanço da tecnologia tem permitido a cura de várias enfermidades, tem também permitido que o processo de morrer seja prolongado e tratado como um fenômeno puramente biológico, gerando sofrimento para os pacientes e seus familiares. Com isso, a eutanásia e a morte assistida surgem como uma possibilidade de alívio para o sofrimento e se tornam realidades cada vez mais presentes na sociedade e, portanto, na vida profissional dos acadêmicos de enfermagem, bem como dos enfermeiros. Palavras-Chave: Eutanásia; Enfermagem; UTI 4 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................03 2. Objetivos.... .....................................................................................................05 2.1 Objetivos Geral................................................................................................05 2.2 Objetivos Específico.......................................................................................05 3. METODOLIGIA................................................................................................06 4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................................07 4.1 Eutanásia.........................................................................................................07 4.2 Distanásia........................................................................................................09 4.3 Ortotanásia......................................................................................................10 4.4 Enfermeiro frente ao paciente terminal............................................................11 5. CONCLUSÃO......................................................................................................12 REFERENCIAS....................................................................................................13 5 1. INTRODUÇÃO O Cuidar na enfermagem vai além do cuidado técnico, implica em importar-se com a pessoa, envolver-se com seu estado. Peplau definiu a enfermagem como relacionamento humano de ajuda, propondo uma teoria baseada no desenvolvimento das habilidades de comunicação interpessoal do enfermeiro. De acordo com Costa et. al. (2008) O cuidado paliativo tem por objetivo melhorar a qualidade de vida dos pacientes que se encontram na fase terminal da doença. É um cuidado voltado para prevenir e aliviar o sofrimento, através do tratamento da dor e outros sintomas físicos, psicossociais e espirituais, na concepção da reafirmação da vida e da visão da morte como um processo natural. O exercício da atividade do profissional de enfermagem pauta-se pelo respeito à dignidade humana desde o nascimento até sua morte. Nesta concepção, a percepção de si mesmo, ao cuidar das suas dificuldades e possibilidades para ajudar o paciente, é a base para desenvolver um relacionamento terapêutico com o paciente, devendo o enfermeiro ser um elemento interveniente e participativo em todos os atos que se direcionam para o cuidado (SILVA, et. al, 2011). As equipes de enfermagem muitas vezes se deparam com doentes incuráveis com dores intensas e incessantes e que, não tendo melhora, acreditam que a morte é a única solução e, assim, faz-se necessário o conhecimento ético e legal da atuação do enfermeiro frente à eutanásia, levando o profissional a refletir sobre a temática. Sabe-se que quando o assunto é eutanásia x ética envolvendo profissionais de saúde, acredita-se em uma solução o que se refere de cuidado paliativo. No convívio diário com o paciente em condições terminais, observa-se que à medida que ele vai morrendo, sua individualidade e seu poder de decisão vão sendo deixados de lado. Vários fatores contribuem para que isso aconteça dentro da realidade hospitalar. Quase sempre os profissionais da saúde e os funcionários hospitalares não têm sido devidamente preparados e/ou treinados para uma 6 abordagem mais natural e humanista tanto junto aos paciente em fase terminal e também quanto aos seus familiares. O tema eutanásia foi escolhido para ser aprofundado, por se constituir realidade no cotidiano dos profissionais de enfermagem e do qual pouco se fala, mesmo caracterizando-se como situação de sofrimento para o paciente, onde a vida é mantida sem perspectivas. O estudo oportuniza pensar e estimular a discussão não só na área da Enfermagem, mas também com grupos interdisciplinares, já que o problema afeta pacientes atendidos por profissionais de diferentes áreas do conhecimento. Buscou-se trabalhar com profissionais de enfermagem porque eles convivem com a eutanásia nas UTIs e, através desses, é possível identificar novas formas de atendimento ao paciente em terminalidade e obter maiores conhecimentos sobre o tema. Portanto, Diante deste contexto, tem-se como objetivo para o presente estudo é conhecer se os enfermeiros compreendem e identificam situações de eutanásia em unidade de terapia intensiva; compreender a dinâmica e relação entre a enfermagem, eutanásia e o cuidado paliativo, abordando aspectos éticos. A partir dessa perspectiva atentar-se de que a assistência de enfermagem precisa ser repensada, discutida, otimizando a equipe de saúde para que a mesma seja exercida com compromisso, proporcionando então, ansiedades, negação, desespero e próprio temor da morte. amparo, amenizando 7 2. OBJETIVOS Geral Compreender a dinâmica e relação entre a enfermagem, eutanásia e o cuidado paliativo, abordando aspectos éticos. Específico Conhecer se os enfermeiros compreendem e identificam situações de eutanásia em unidade de terapia intensiva; compreender a dinâmica e relação entre a enfermagem, eutanásia e o cuidado paliativo, abordando aspectos éticos. 8 3. METODOLOGIA Trata-se de levantamento bibliográfico descritivo de periódicos de enfermagem indexados na LILACS (Literatura Latino-americana e do caribe em saúde), MEDLINE (Literatura internacional em Ciências da Saúde), BDENF, Revistas e Periódicos digitais, entre outros, onde se buscou condensar informações que possibilitasse o alcance dos objetivos propostos. Foram consideradas publicações que abordassem a temática eutanásia, usando os descritores (uni termos) como eutanásia, cuidado de enfermagem e UTI. Após a escolha do tema como foi relatado no início do trabalho, realizou-se um levantamento bibliográfico preliminar a fim de justificar sua escolha. 9 4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 4.1 EUTANÁSIA Quando se fala de eutanásia existem várias compreensões ou discernimentos. Entre estes discernimentos, que podem variam a partir de interpretações subjetivas sem levar em consideração o conceito real da palavra, aparecem as questões morais como o direito de escolha; as questões religiosas, que ressaltam a vida como um dom divino sobre o qual o homem não tem o direito de intervir e, ainda, as questões legais (direito), que enfocam as leis ou códigos de ética dos grupos profissionais envolvidos na assistência sobre o que fazer ou não fazer diante desta situação. Ao longo da história a eutanásia sempre foi considerada como um assunto polemico e doloroso para os envolvidos seja o paciente, para a família, para a sociedade, bem como para os profissionais de saúde. No sentido pejorativo, eutanásia significa “tirar a vida do ser humano”. Esta compreensão suscita considerações que ferem os valores morais, éticos e os de direito, o que torna o assunto polêmico. No entanto, o termo “eutanásia” representa muito mais do que a simples interrupção da vida. Nos casos de eutanásia, a ação do agente subsume-se com exação ao tipo “comissivo” do homicídio. É que, no método eutanásico, o agente exerce uma conduta de “ação”, pois a morte é ocasionada mediante uma ação, como, por exemplo, no caso da aplicação de uma injeção letal. Para tanto, torna-se necessário rever a etimologia do termo para uma compreensão mais ampla dos conceitos envolvidos no termo. Evoca-se, a propósito, de que o termo eutanásia deriva do grego e define “boa morte”, “morte tranquila, sem dor nem sofrimento” (eu corresponde a “bem” e thanasía, a morte). Pratica-se pois, a “eutanásia” quando se realiza uma conduta de ação, por compaixão, para dar uma “boa morte” a alguém que sofre em razão de uma enfermidade incurável (MARTIN, 2011) A eutanásia caracteriza uma morte suave, sem sofrimento; outros concretizam por "morte digna", mas cada pessoa, cada grupo, compreende a dignidade que convém à pessoa no contexto das próprias crenças, isto é, de sua antropologia, conquanto as antropologias, explícitas ou implícitas, são múltiplas. Um 10 grande clássico de 1881, o Dicionário Littré, assim define a "eutanásia" (literalmente “boa morte”): "Boa morte, morte suave e sem sofrimento". Na acepção moderna essa inexistência de sofrimento é acarretado pela antecipação voluntária da morte de uma pessoa que sofre além do normalmente tolerável (concedendo à expressão seu peso de subjetivismo). A eutanásia é executada com a ajuda de auxiliares benevolentes (único sentido que em um país onde reina o estado de direito possa discutir sua descriminalização) ou "antecipação do óbito, por compaixão, ocasionada por ação ou omissão de outra pessoa" (LEPARGNEUR Apud BATISTA; SCHRAMM, 2004, p. 34). O termo eutanásia foi adotado pela primeira vez pelo historiador latino Suetônio, citado por Batista e Schramm (Ibidem, p. 34) no século II d.C., ao relatar a morte “suave” do imperador Augusto: “A morte que o destino lhe concedeu foi suave, tal qual sempre desejara: pois todas as vezes que ouvia dizer que alguém morrera rápido e sem dor, desejava para si e para os seus igual eutanásia (conforme a palavra que costumava empregar).” Séculos depois, Francis Bacon, em 1623, empregou eutanásia em sua História vitae et mortis, como sendo o “tratamento adequado às doenças incuráveis” (Apud BATISTA; SCHRAMM, Ibidem, p. 34). A abreviação do momento da morte poderia suceder de diferentes formas, em relação ao ato em si, de acordo com uma distinção já clássica definida por Neukamp, também citada por Batista e Schramm (Ibidem, p. 34): 1) Eutanásia Ativa: ação deliberado de acarretar a morte sem sofrimento do paciente, por fins humanitários (como no caso da aplicação de uma injeção letal); 2) Eutanásia Passiva: quando a morte acontece por omissão em lançar um ato médico que garantiria a perpetuação da sobrevida (por exemplo, deixar de se acoplar um paciente em insuficiência respiratória ao ventilador artificial); 3) Eutanásia de Duplo Efeito: quando a morte é agilizada como conseqüência de uma atuação médica não visando ao êxito letal, mas sim ao alívio do sofrimento de um paciente (por exemplo, emprego de uma dose de benzodiazepínico para minimizar a ansiedade e a angústia, gerando, secundariamente, depressão respiratória e óbito). Uma outra maneira de se classificarem as várias peculiaridades de eutanásia leva em conta não só as conseqüências do ato, mas também o consentimento do paciente (MARTIN, 2011): 11 1) Eutanásia Voluntária: a qual atende o desejo expresso do doente – o que seria um sinônimo do suicídio assistido; 2) Eutanásia Involuntária: Dar-se ao ato que é praticado contra a vontade do enfermo – ou seja, sinônimo de "homicídio"; 3) Eutanásia Não Voluntária: quando a morte é levada a cabo sem que se conheça a decisão do paciente. A eutanásia não possui autorização legal no Brasil, pois tal prática é considerada como crime de homicídio doloso, podendo ser tratado como modalidade privilegiada, em razão do vetor moral deflagrador da ação. Porém, em alguns países é aceita, como a Holanda e Bélgica. 4.2 Distanásia A distanásia é termo pouco conhecido, mas muitas vezes praticada no campo da saúde. É assunto do campo da Bioética e é traduzido, segundo o Dicionário de Bioética, como “morte difícil ou penosa, usada para indicar o prolongamento do processo da morte, através de tratamento que apenas prolonga a vida biológica do paciente. Ela é sem qualidade de vida e sem dignidade. Também pode ser chamada Obstinação Terapêutica” (BARCHIFONTAINE; PESSINI, 2000). Trata-se de conduta que visa manter a vida do paciente terminal, sujeito a muito sofrimento. Essa conduta não se estende à vida, mas ao processo de morrer. O avanço da ciência e sua aplicação, por vezes, comprometem a qualidade de vida das pessoas em sofrimento, afetando a sua dignidade. Os cuidados paliativos e o respeito ao direito do paciente são meios eficazes para prevenir a prática da distanásia. Trata-se de um neologismo de origem grega: o prefixo dys designa ato defeituoso e o sufixo thanatos significa morte (DUTRA, 2004). Na sua origem semântica, distanásia denota-se morte lenta, com muita dor ou prolongamento excessivo da agonia, do sofrimento e da morte de um enfermo, não respeitando a dignidade do morrente. Toda vida humana tem impreterivelmente um fim, e é indispensável que o processo final de vida ocorra respeitando-se a dignidade do morrente. Nem tudo o que é tecnicamente possível é eticamente correto. Identificar o momento de interromper um tratamento, com o objetivo de não exceder o sofrimento gera muitas dúvidas nas Unidades de Terapia Intensiva. A utilização de 12 todo um arsenal tecnológico disponível traduz-se em obstinação terapêutica, que ao negar o processo da morte, sujeita o paciente a uma morte dolorosa (DUTRA; RIGUEIRA; SANTANA, 2010). Há quem censura esse ato, por ser considerado como um recurso inútil de se adiar a morte, por acarretar ao enfermo, como também à sua família, angústia e dores. 4.3 Ortotanásia Ortotanásia ou paraeutanásia é o auxílio disponibilizado pelo médico ao processo natural da morte. Decorre com a suspensão de medicamentos ou de outras providências que alonguem a vida do paciente. É também denominada como a eutanásia passiva, ou eutanásia por omissão, enquanto a eutanásia em sentido estrito é a eutanásia ativa. Define-se ortotanásia como: “o ato de deixar morrer em seu tempo certo, sem abreviação ou prolongamento desproporcionado, mediante a suspensão de uma medida vital ou de desligamento de máquinas sofisticadas, que substituem e controlam órgãos que entram em disfuncionamento. (NALINI, 2011. p. 238).” Pessini (2009, p. 14), ainda acrescenta que: “Ortotanásia é que popularmente é conhecido como morte no seu tempo certo, mas em um conceito mais complexo a ortotanásia procura respeitar o bem-estar global da pessoa e abre pistas para as pessoas garantirem a dignidade no seu viver e no seu morrer.” Tal conduta é considerada ética, sempre que a tomada de decisão do médico for precedida do consentimento do próprio paciente ou de algum membro de sua família, quando impossível for a manifestação do enfermo. Esta decisão deve levar em conta não somente a segurança no prognóstico de morte iminente e inevitável, como também o custo-benefício da adoção de métodos extraordinários que redundem em intenso sofrimento, em face da impossibilidade de cura ou vida plena (BATISTA; SEIDL, 2011). 13 4.4 Enfermeiro frente ao Paciente Terminal Os profissionais se sentem frustrados diante a morte de um enfermo, pois sua formação tem como foco primordial salvar vidas. Quando isso não ocorre, ou seja, quando o paciente evolui para óbito, os profissionais sentem-se despreparados em lidar com o fato, vivenciando um turbilhão de sentimentos que pode chegar até a associação entre a morte do paciente e a sua própria ou a de entes queridos. Assim sendo, a morte pode remetê-los à finitude da vida, comum a todos. A participação dos enfermeiros na tomada de decisões tem se mostrado tímida. Ou seja, nas situações em que poderiam contribuir efetivamente, defendendo a autonomia do paciente e da família, esses mesmos enfermeiros cumprem o tratamento com os quais, na maioria das vezes, não concordam. Averiguando a situação por perspectiva específico do profissional, o enfermeiro, diversas vezes, encara o óbito do paciente na instituição como fracasso do seu plano de cuidados. Contudo, a enfermidade no hospital deve ser vista como qualquer outra experiência humana, dimensionada e avaliada com maturidade. Nesta etapa, profissionais, pacientes e familiares devem adequar seus comportamentos e expectativas a fim de amenizar as dores e angústias do processo de finitude, alcançando o que se qualifica morte digna (BERNARDES; et al, 2013). Bernardes (2013) descreve que o papel do enfermeiro é acolher o paciente em todos os momentos, dando apoio emocional, apoio, atenção, respeitando seus sentimentos e limitações. O profissional deve estar capacitado para prestar um atendimento de qualidade aos pacientes em seu estágio terminal de vida, como também estar atento para as indagações e queixas da família, consolidando o elo oriundo desta situação. 4.5 A Enfermagem e os Cuidados Paliativos Decorrente do avanço tecnológico e do uso de técnicas que permitem a sustentação da vida, os profissionais de saúde, a sociedade, bem como as próprias leis que regem as profissões ligadas à saúde, sofreram mudanças para permitir uma melhor adaptação ao paradigma emergente no que tange ao cuidado com o paciente terminal, a eutanásia e as próprias implicações éticas que dela emergem. Entre as adaptações para lidar com a questão da eutanásia estão os cuidados 14 paliativos. Os cuidados paliativos (CP), por definição, são cuidados que objetivam aliviar o sofrimento e aumentar ou melhorar a qualidade de vida da pessoa que está morrendo (DAVIDSON, et. al, 2013). Os CP estendem-se através da experiência da doença e do luto e são apropriados para qualquer paciente e/ou família com ou sob risco de desenvolver uma doença intratável, e podem ser dispensados no domicílio, no hospital ou em asilos. De acordo com Davidson et al(2013), os enfermeiros carecem de conhecimento científico para direcionar os cuidados paliativos a pacientes com condições não-malignas. Os conhecimentos e práticas correntes revelam que os enfermeiros, em muitas instâncias, não estão bem preparados para lidar com a morte e o morrer. Desta forma, emerge a necessidade de que os enfermeiros estejam preparados tanto no nível intelectual como no da prática sobre o conceito de cuidado paliativo. De acordo com Davidson, et. al, (2013) As técnicas de CP é amplo e varia com o entendimento de um grupo profissional específico. Várias técnicas têm sido sugeridas nos últimos anos com o intuito de alcançar o objetivo primordial dos CP. Um exemplo de cuidado paliativo na medicina é o uso de medicações como os bloqueadores neuromusculares para eliminar a respiração agônica do doente em seus momentos finais. A enfermagem, como um grupo profissional envolvido no procedimentoexemplo, assim como outros grupos profissionais, não tem amparo em seus códigos de ética para cumprir uma prescrição médica como esta ou para participar em certos procedimentos que se configuram como cuidados paliativos. Considerando a justificativa para o CP em questão, observa-se que as leis vigentes não abrangem a dimensão do problema, nem mesmo consideram a evolução tecnológica atualmente disponível que coloca os profissionais em uma situação de conflito de valores e necessidades ao lidar com certos procedimentos envolvidos no cenário que envolve a morte a até mesmo a eutanásia. O objeto de estudo da enfermagem é o cuidar e, neste sentido, o prognóstico médico não deve servir como base para a assistência de enfermagem. Sendo assim, a assistência de enfermagem passa a ser um “continuun” ao longo do período da doença, independentemente se o final será a cura, um processo patológico incurável e/ou intratável ou a morte. Os cuidados paliativos mais 15 praticados pela enfermagem com pacientes terminais são: ouvir, aumentar a dosagem/ quantidade de medicações analgésicas, administrar medicações para aliviar o sofrimento (mesmo sabendo que elas podem antecipar a morte do paciente), aconselhamento ou apoio, toque terapêutico e técnicas de relaxamento. Estes cuidados são reconhecidos como legais perante os principais códigos de ética de enfermagem. Ao considerar o papel da enfermagem concernente aos CP, percebe-se a necessidade de discutir com maior grau de profundidade as questões formativas e as ético-legais envolvidas no que se relaciona à eutanásia e aos próprios CP. Desta forma, maior qualidade de atendimento será dispensado ao paciente e à família neste momento tão importante na história de vida dos mesmos (GONÇALVES & SCHNEIDER, 2011). 16 5. CONCLUSÃO Ao mesmo tempo em que o avanço da tecnologia tem permitido a cura de várias enfermidades, tem também permitido que o processo de morrer seja prolongado e tratado como um fenômeno puramente biológico, gerando sofrimento para os pacientes e seus familiares. Com isso, a eutanásia e a morte assistida surgem como uma possibilidade de alívio para o sofrimento e se tornam realidades cada vez mais presentes na sociedade e, portanto, na vida profissional dos acadêmicos de enfermagem, bem como dos enfermeiros. O presente estudo dirigiu o olhar investigativo para a situação de problematizar as percepções dos profissionais da saúde sobre a eutanásia, porque se considera que a temática demanda um processo de decisão jurídico, legal e ético que poderá desencadear na equipe de saúde diferentes sentimentos, dificuldades associadas a suas crenças e seus valores bioéticos. Assim, reforçam-se alguns pressupostos quanto à importância do respaldo para a tomada de decisões coerentes com as convicções pessoais e profissionais, considerando também que se faz necessária a definição de estratégias que possam oferecer suporte para as pessoas e profissionais para que se possa refletir e analisar as concepções na práxis cotidiana com uma participação efetiva no processo de tomada de decisão em prol da humanidade. Sugere-se a ampliação de espaços profissionais e acadêmicos de debate e reflexão sobre o tema, especialmente em cursos de enfermagem, entre outros na área da saúde. 17 REFERENCIAS BARCHIFONTAINE C. 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