ASMA PEDIÁTRICA Terapia inalatória – Vantagens sobre o tratamento oral 1111111111111 Sociedade Brasileira de Pediatria Núcleo Gerencial do Departamento Científico de Pneumologia da SBP Maria de Fátima B. Pombo March (RJ) Paulo Augusto M. Camargos (MG) Helena Mocelin (RS) Sérgio Luís Amantéa (RS) Joaquim Carlos Rodrigues (SP) José Rubim de Moura (MG) Neiva Damasceno (SP) Regina Terse Ramos (BA) Clemax Couto Sant’Anna (RJ) ASMA PEDIÁTRICA Terapia inalatória – Vantagens sobre o tratamento oral Clemax Couto Sant’Anna Professor Adjunto Doutor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro Presidente do Departamento Científico de Pneumologia da Sociedade Brasileira de Pediatria Membro do Núcleo Gerencial do Departamento Científico de Pneumologia da SBP Sérgio Luís Amantéa Professor Adjunto do Departamento de Pediatria da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas Doutor em Medicina, Área de Concentração Pneumologia, pela UFRGS Chefe do Serviço de Emergência Pediátrica do Hospital da Criança Santo Antônio – Porto Alegre, RS Endereço para correspondência: Av. Iguaçu, 463, cj. 503 – Bairro Petrópolis 90470-430 – Porto Alegre, RS E-mail: [email protected] ASMA PEDIÁTRICA A P R E S E N TA Ç Ã O A asma na infância e a terapia inalatória É inegável a importância da asma como causa de doença crônica na infância. O termo asma é evitado em muitos locais por familiares, pacientes e profissionais de saúde. Assim, ainda é corrente o uso de termos como bronquite ou bronquite asmática. A palavra asma tinha um caráter estigmatizante advindo de séculos, pois até há bem pouco tempo os recursos terapêuticos eram muito limitados, e o fato de uma criança ser asmática significava muito sofrimento pelo resto da vida. Hoje não é mais assim. A terminologia imprecisa da comunidade médica e da população em geral, o aumento de poluição do ar em vários locais do mundo e as possíveis mudanças do padrão genético da asma levam a que estudos epidemiológicos sejam difíceis de se realizar, acarretando no fato de que o conhecimento da magnitude do problema no mundo encontre diversas barreiras. A asma hoje é vista com muito mais otimismo quanto às suas possibilidades terapêuticas. O efetivo controle da doença pode ser considerado uma vitória alcançada nos últimos dez anos, e importantes avanços nesse sentido foram: o melhor conhecimento dos mecanismos inflamatórios na asma, o papel dos corticóides como agentes capazes de atuar nesse controle e a grande eficácia da terapia inalatória. Este fascículo que inicia a série de documentos resultantes do trabalho conjunto entre a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Glaxo-Smith Kline (GSK) é dirigido para o melhor conhecimento da terapia inalatória na asma de infância. Divulga as bases técnicas desse tipo de terapêutica, suas indicações, limitações e superioridade em relação à via oral, seja na crise de asma, seja no tratamento a longo prazo ou intercrítico. O Departamento Científico de Pneumologia da SBP orgulha-se de ter sido convidado para elaborar esse material instrucional, sob o trabalho competente da Lemos Editorial, que se destina ao pediatra ou a outros profissionais de saúde que lidem com crianças. Quanto mais efetiva for a divulgação do conhecimento científico, maiores os benefícios para a população. Quanto mais se conhece a asma, melhor se enfrenta o desafio de vencê-la. Clemax Couto Sant’Anna 4 ASMA PEDIÁTRICA Terapia inalatória – Vantagens sobre o tratamento oral A tentativa de oferecer tratamento para moléstias pulmonares antecede a Era Cristã. Já neste período podemos observar tentativas terapêuticas na China fazendo uso de planta denominada Ephedra vulgaris, posteriormente identificada por sua atividade simpaticomimética, às custas de um de seus componentes, a efedrina. Na Índia, a fumaça obtida de uma espécie de planta denominada Datura (atualmente reconhecida por sua atividade simpaticolítica) também era utilizada para fins terapêuticos. O empirismo destas terapêuticas, muito antes do desenvolvimento das primeiras sementes do método científico, ilustra um dos paradigmas do tratamento da asma que se mantém até os tempos atuais: a opção pela melhor via de se administrar medicação para pacientes com asma. A evolução histórica do desenvolvimento de medicações e dispo- sitivos utilizados no tratamento destes pacientes demonstra progressos mais recentes associados ao desenvolvimento da via inalatória. No início do século XX (1903), a epinefrina passou a ser utilizada para o tratamento das crises asmáticas, tanto pela rota oral quanto pela parenteral. As primeiras tentativas de utilizá-la pela via inalatória foram conduzidas vinte anos mais tarde 25,27,47. Embora o processo de utilização da rota inalatória possa ser considerado mais complexo do que a via oral, este agrega uma característica muito importante: a droga será depositada no órgão especificamente envolvido pela doença. Com isto, encontraremos três razões para justificar a sua preferência terapêutica8,17,20,24,25: – mais rápido início de ação da medicação (ex.: ação dos β2-adrenérgicos); O RESULTADO DA TERAPÊUTICA GUARDA ÍNTIMA RELAÇÃO COM AS PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS DAS DROGAS ADMINISTRADAS, PROPRIEDADES FÍSICAS ENVOLVIDAS NA GERAÇÃO DE AEROSSÓIS E ASPECTOS CLÍNICOS INDIVIDUAIS DO PACIENTE EM QUESTÃO Terapia inalatória – Vantagens sobre o tratamento oral – melhor índice terapêutico (potencialização do efeito terapêutico, com minimização dos efeitos sistêmicos); – possibilidade de prescrever drogas que não sejam tão efetivas quando administradas por via oral. Vários estudos demonstram tal comportamento. Lipworth e cols., em um ensaio clínico delineado em população de asmáticos adultos, demonstraram de maneira muito clara tais benefícios. Avaliaram a resposta clínica de tais pacientes à ação broncodilatadora de salbutamol administrado por três diferentes vias: oral (2 mg), sublingual (2 mg) e inalatória (0,2 mg por inalador pressurizado dosimetrado). Observaram que todas exibiram diferenças significativas de resposta com melhora da avaliação funcional pulmonar (VEF 1) quando comparadas ao placebo. Tal melhora foi significativamente maior no grupo que recebeu a medicação por via inalatória, quando comparada à oral e à sublingual. Diferenças significativas também foram encontradas nos tempos coincidentes com o pico de resposta. Foi de 30 minutos nos de via inalatória, enquanto foi de 2 horas nos outros dois grupos. Tremores de extremidades também foram mais freqüentes nestes pacientes35. Estudos realizados em populações de faixa etária pediátrica exibem comportamentos similares. Scalabrin e cols. avaliaram a resposta clínica de 35 episódios agudos de asma em 21 pacientes pediátricos submetidos a três formas de administração de salbutamol (oral, nebulização em sistema aberto contínuo e nebulização em sistema intermitente). Um início mais rápido da ação broncodilatadora foi observado nos pacientes que utilizaram a via inalatória, bem como uma maior resposta broncodilatadora máxima e uma maior duração do efeito broncodilatador, indicando maior efetividade da via inalatória para tratamento destes pacientes50. Embora os achados acima demonstrem diferenças inequívocas quanto à farmacocinética e à far macodinâmica do salbutamol administrado por via inalatória ante outras rotas (via oral e/ou sublingual), é muito importante reforçar que a disponibilidade da droga para o trato respiratório é dependente de inúmeros fatores, que podem comprometer a sua superioridade perante os efeitos clínicos demonstrados. Portanto, a via inalatória, ainda que preferencial para a administração de medicação em qualquer abordagem terapêutica direcionada para pacientes com asma brônquica, pode mostrar-se inefetiva para uma série de drogas e em algumas situações particulares. Não há como não considerar que o resultado da terapêutica guarda uma íntima relação com aspectos relacionados a propriedades farmacológicas das drogas administradas, propriedades físicas envolvidas na geração de aerossóis e aspectos clínicos individuais do paciente em questão26,27,37,40,52. PROPRIEDADES FÍSICAS ENVOLVIDAS NA GERAÇÃO DE AEROSSÓIS Denomina-se aerossol a suspensão de partículas sólidas ou líquidas em gás. São freqüentemente utilizados para disponibilizar medicação para os pulmões. O tamanho da partícula gerada é dependente de dois fatores básicos: o sistema utilizado para geração da partícula e as características da substância a ser veiculada. A maioria dos sistemas geradores de aerossóis produz partículas com tamanho e formas variáveis, denominadas “heterodispersos”. Partículas homogêneas (“homodispersos”) são mais difíceis de serem geradas, não constituindo propriedade física encontrada nos geradores utilizados na prática clínica. O diâmetro médio da massa aerodinâmica é que determina a principal característica das 5 6 ASMA PEDIÁTRICA partículas geradas a ser considerada no processo de deposição pulmonar. A oferta de aerossol para o pulmão é dependente do diâmetro médio da massa aerodinâmica, da técnica inalatória utilizada e das características da via aérea do paciente. Mesmo considerando situações ideais, menos de 20% do aerossol produzido ficará depositado no pulmão. Esta deposição final das partículas inaladas é dependente da combinação de vários mecanismos: impactação inercial, sedimentação gravitacional, difusão browniana19,20,27,39,41. • Impactação inercial é o resultado da deposição de partículas que ocorre secundariamente à sua colisão com uma superfície. Caracteriza o mecanismo primário de deposição para partículas maiores que 5 µm de diâmetro. Partículas maiores que 10 µm tendem a se depositar na boca e no nariz, enquanto aquelas com diâmetro entre 5 µm e 10 µm tendem a se depositar na via aérea proximal, antes de atingirem os bronquíolos com diâmetro inferior a 2 mm. • Sedimentação gravitacional é o mecanismo primário de deposição para partículas entre 1 µm e 5 µm de diâmetro na via aérea mais central. Distingue-se por apresentar carac- • terísticas tempo-dependentes, em que manobras de apnéia aumentam o tempo de residência da partícula e a sua deposição, principalmente nas últimas seis gerações brônquicas. Difusão browniana é o mecanismo primário de deposição para partículas menores que 3 µm de diâmetro. Neste tamanho, a deposição parece ser muito influenciada pelo fluxo inspiratório (inferior a 60L/ min) e pelo volume corrente (inferior a 1 litro). Quando menores que 1 µm, permanecem suspensas no ar, com baixa deposição, sendo facilmente exteriorizadas pelo fluxo expiratório (Figura 1). Além do diâmetro particular, a técnica inalatória e algumas características da via aérea podem influenciar a deposição pulmonar do aerossol. • Fluxo inspiratório: fluxos mais elevados tendem a aumentar a deposição da droga na via aérea superior por impactação. No caso de dispositivos geradores de aerossol na forma de pó seco, fluxos inspiratórios mais elevados são necessários para garantir melhor distribuição e deposição da droga, mas quando muito elevados Figura 1. Mecanismos de deposição pulmonar Terapia inalatória – Vantagens sobre o tratamento oral • • • • • também tendem a se depositar na via aérea de maior calibre. Freqüência respiratória: a taquipnéia pode diminuir o tempo de residência da partícula no pulmão, diminuindo a sua deposição. Contrariamente, manobras de pausa inspiratória parecem contribuir para o aumento da deposição pulmonar. Padrão inspiratório: volumes correntes mais elevados parecem influenciar favoravelmente a deposição do aerossol. Calibre da via aérea: sempre considerada uma desvantagem anatômica da criança quando comparada a adultos para administração de drogas por via inalatória. Da mesma maneira, o grau de comprometimento do processo obstrutivo brônquico também influencia a deposição do aerossol para a via aérea mais terminal. Padrão inalatório: o nariz é uma estrutura com elevado poder de filtração. Partículas maiores que 10 µm são, na sua maioria, retidas com o padrão de respiração nasal. A respiração oral é menos efetiva quanto a esta característica, o que resulta em uma maior deposição de aerossol na via aérea. Umidade: influencia partículas produzidas por todos os geradores de aerossóis. Partículas • podem aumentar ou diminuir o seu diâmetro na dependência da quantidade de água e da temperatura do gás, caracterizando o grau higroscópico da molécula. Como regra, as partículas produzidas no exterior da via aérea tendem a diminuir o seu diâmetro em função de uma perda do seu conteúdo hídrico; entretanto, ao entrarem na via aérea, podem aumentar de diâmetro em função de suas propriedades hidrofílicas. Diferentes características dos sistemas geradores de aerossóis bem como características das drogas a serem veiculadas serão posteriormente abordadas. PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS DAS DROGAS ADMINISTRADAS Ao se indicar a prescrição de drogas por meio de aerossóis como via preferencial de tratamento, mesmo considerando a ação direta da droga sobre o sistema respiratório, não se pode deixar de considerar a superfície alveolar e o trato gastrointestinal como acessos à circulação sistêmica. O sistema gerador de aerossol utilizado, a faixa etária do paciente, a técnica inalatória empregada são determinantes importantes para esta distribuição, po- dendo variar significativamente com pequenas modificações. Independentemente da característica ou do sistema utilizado, sempre há deposição de partículas na orofaringe, que serão deglutidas e absorvidas pelo trato gastrointestinal. No trato gastrointestinal produz-se a primeira metabolização e inativação da droga. Após absorvida, ela é conjugada no fígado e retorna à circulação sistêmica (metabolismo de primeira passagem)1,18. A fração de aerossol gerado que se deposita na via aérea, sem entrar em contato com receptor específico, é absorvida diretamente para a circulação sistêmica sem sofrer metabolismo de primeira passagem1,18. Sob o ponto de vista farmacológico, denomina-se como fração de biodisponibilidade da droga a quantidade que atinge a circulação sistêmica, resultante das absorções pelos tratos gastrointestinal e respiratório. A meia-vida da droga determinará o tempo que esta permanecerá na circulação antes de ser depurada pelos mecanismos de eliminação renal e hepático1,18,58 (Figura 2). Sob o ponto de vista clínico, assume importância o conhecimento sobre as propriedades farmacológicas dos diversos corticoesteróides utilizados por via inalatória (Tabela 1), já que constituem as drogas mais utilizadas e mais eficazes no tratamento profilático da doença1,6,12,18. 7 8 ASMA PEDIÁTRICA Figura 2. Metabolismo dos corticoesteróides inalatórios Droga Beclometasona Budesonida Fluticasona Flunisolida Triancinolona Tabela 1 Propriedades farmacocinéticas dos corticoesteróides inalatórios Meia-vida (horas) % da droga após Afinidade de ligação Volume de a 1a passagem com o receptor distribuição 0,1/6,5 DNP* 0,4/1,1 DNP* 2,3-2,9 6-13 1 2,7-4,3 3,7-14,4 <1 2,3 3,7-8,9 1,6 21 0,2 1,8 1,5 22 0,5 2,1 Clearance DNP* 0,9-1,4 0,9-1,3 1,0 1,2 * Dados não publicados FATORES QUE PODEM INFLUENCIAR AS PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS DAS DROGAS A relação custo–benefício das drogas administradas por aerossóis (efeito farmacológico desejável x efeito sistêmico indesejável) pode ser denominada de índice terapêutico. A droga ideal, considerando suas propriedades farmacocinéticas, deveria possuir um elevado índice terapêutico, baixa absorção pulmonar, baixa biodis- ponibilidade oral e elevado clearance sistêmico58. A biodisponibilidade da droga e o seu índice terapêutico podem ser influenciados pelas características do dispositivo gerador, pelas propriedades da droga veiculada e pela técnica inalatória. Terapia inalatória – Vantagens sobre o tratamento oral • • • Características do dispositivo gerador: além das variabilidades individuais dos diversos sistemas, quanto ao percentual de deposição pulmonar, neste quesito merece destaque a utilização de espaçadores quando acoplados a inaladores dosimetrados. A fração biodisponível da droga, secundária à sua absorção pelo trato gastrointestinal, pode ser reduzida de maneira significativa com a utilização do dispositivo20,23. Características da droga: como já observado na tabela 1, as propriedades de biodisponibilidade dos corticoesteróides são variáveis, podendo ser menos importantes em drogas como a budesonida e a fluticasona (que apresentam elevado metabolismo de primeira passagem). Os β-adrenérgicos também são drogas conjugadas pelo trato gastrointestinal, ficando a sua biodisponibilidade exclusivamente dependente da fração depositada na via aérea1,6,18 . Técnica inalatória: considerar manobra de higiene oral após administração de corticoesteróides, principalmente para os de menor metabolismo de primeira passagem. O impacto deste procedimento pode ser demonstrado na tabela 2, que sumariza os resultados de um estudo que avaliou o efeito do procedimento sobre o cortisol sérico58. DISPOSITIVOS GERADORES DE AEROSSÓIS De importância clínica, existem quatro técnicas utilizadas para produzir aerossóis com finalidade terapêutica: – nebulizadores a jato; – nebulizadores ultra-sônicos; – inaladores pressurizados dosimetrados; – inaladores de pó seco. Nebulizadores como geradores de aerossóis Tipo a jato Utilizam o princípio de Venturi: um gás sob pressão elevada é direcionado através de um orifício estreitado, posicionado para realizar a intersecção do topo de um tubo que tem a sua base imersa na solução. O efeito resultante produz uma área de baixa pressão, que conduz a solução por um tubo capilar até o orifício estreitado, no qual encontra um anteparo que é responsável pela produção das partículas. As de maior diâmetro são devolvidas ao reservatório, enquanto as menores permanecem em suspensão e são eliminadas do nebulizador pelo próprio fluxo na forma de uma fina névoa16,20,29,31,46,49 (Figura 3). Vantagens associadas ao sistema: – – – – – não requer coordenação do paciente; pode ser utilizado em qualquer faixa etária; possibilita a administração de altas doses de medicação; possibilita a associação de medicações; não libera clorofluorcarbono (CFC). Tabela 2 Procedimento de higienização oral após a inalação de budesonida e o seu efeito na aferição do cortisol sérico Droga (dose) Higiene oral Cortisol sérico (nmol/l) Budesonida (1,6 mg) Realizada 440 ± 63 Budesonida (1,6 mg) Não realizada 375 ± 56 Diferença 65 ± 58* Média ± DP *p = 0,007 9 10 ASMA PEDIÁTRICA adequada, a oscilação das ondas mais superiores desprenderão a superfície do líquido, criando a névoa de partículas20,29,31,46,49 (Figura 4). Vantagens associadas ao sistema: – – – – – Figura 3. Nebulizador a jato Desvantagens associadas ao sistema: – – – – – – custo elevado; não portátil – requer fonte de gás pressurizado; potencial de contaminação; necessidade de preparo da medicação para utilização; nem todas as medicações são disponibilizadas para administração; menos eficiente que outros dispositivos. – nados para o líquido acima do transdutor, criando ondas. Se a freqüência for elevada e a amplitude do sinal Tipo ultra-sônico Utiliza um cristal vibratório (piezoelétrico) de alta freqüência (superior a 1 MHz) para gerar aerossóis. O cristal converte eletricidade em som, que tem seus batimentos direcio- Figura 4. Nebulizador ultra-sônico – – não requer coordenação do paciente; pode ser utilizado em qualquer faixa etária; possibilita a administração de altas doses de medicação; possibilita a associação de medicações; não libera clorofluorcarbono (CFC); apresenta pequeno volume residual; silencioso; apresenta menor tempo para a liberação da medicação (comparado com o tipo a jato); Terapia inalatória – Vantagens sobre o tratamento oral – apresenta menor perda de medicação durante a fase expiratória. Desvantagens associadas ao sistema: – – – – – maior custo; potencial de contaminação; necessidade de preparo da medicação para utilização; nem todas as medicações são disponibilizadas para administração; propensão a situações de malfuncionamento. Técnica recomendada para utilização de nebulizadores como geradores de aerossóis: – – – – – – – – lavar as mãos antes do preparo da solução; checar o sistema antes da utilização (vazio, seco e limpo); diluir o medicamento em 3 ml a 5 ml de NaCl 0,9% (soro fisiológico); utilizar máscara de tamanho adequado (adaptada ao rosto: boca e nariz); utilizar fonte de ar comprimido ou oxigênio, com fluxo de 6 a 8 litros/min (ou compressor elétrico); respirar em volume corrente; não utilizar bicos ou chupetas; observar tempo do procedimento (superiores a 15 minutos podem sugerir falha no sistema). Inaladores como geradores de aerossóis Inalador pressurizado dosimetrado São dispositivos multidoses, pressurizados (2-3 atmosferas), contendo a droga na forma de partículas micronizadas (cristais), que ficam suspensas em um meio líquido que possui uma mistura de dois ou mais propelentes (freons) de clorofluorcarbono (CFC). A liberação do propelente carreia as partículas da droga, transformando-se em aerossol ao entrar em contato com a atmosfera, por ocasião de sua liberação da câmara dosificadora do sistema. São os dispositivos geradores de aerossóis mais utilizados universalmente. O diâmetro médio da massa aerodinâmica da maioria dos inaladores dosimetrados situa-se entre 3 µm e 6 µm, com uma deposição pulmonar aproximada de 10%. A maioria da dose liberada tem deposição na orofaringe (cerca de 80%), atribuindo um risco maior de absorção do fármaco pelo trato gastrointestinal, dependendo da droga veiculada8,9,17,20,28,29 (Figura 5). – – – – – mais eficientes que os nebulizadores; não requer preparação de droga para sua utilização; difícil contaminação; disponíveis para a maioria das medicações; sistema com múltiplas doses. Desvantagens associadas ao sistema: – – – – – necessidade de coordenação do paciente (técnica de uso difícil); grande deposição orofaríngea; dificuldade para se ofertar doses maiores; potencialidade para abuso; muitos utilizam propelente de clorofluorcarbono (CFC), gerando risco ambiental. Vantagens associadas ao sistema: – – compactos, fáceis de transportar e manusear; mais econômico que os nebulizadores; 11 Figura 5. Inalador pressurizado dosimetrado 12 ASMA PEDIÁTRICA Técnica recomendada para utilização de inalador pressurizado dosimetrado como gerador de aerossol: – – – – – – – – retirar a tampa e assegurar-se de que não há objeto que possa ser aspirado ou obstruir o fluxo; agitar o dispositivo; posicionar a saída do bocal em posição vertical, a aproximadamente 4 cm da abertura da boca (2 dedos)*; manter a boca aberta, alinhada à saída do bocal do dispositivo; expirar normalmente; acionar o dispositivo coincidentemente à inspiração lenta e profunda; executar manobra de pausa inspiratória (mínimo 10 segundos); esperar um minuto antes de repetir o procedimento. Utilização de câmaras espaçadoras Espaçadores são dispositivos extensores (uma interface) entre o inalador pressurizado dosimetrado e a via aérea do paciente. Parte do princípio de que um anteparo entre os dois sistemas possa manter as partículas em suspensão dentro do dispositivo, diminuindo a sua velocidade para que possam ser inaladas num padrão de fluxo inspiratório mais laminar, aumentando a deposição pulmonar. Neste processo, há aumento da evaporação do propelente, diminuição da massa aerodinâmica média das partículas, deposição por gravidade das partículas de maior tamanho dentro do sistema e redução do impacto e da quantidade de partículas na orofaringe25,28,29,39,41,53,59. Atualmente, os espaçadores ocupam um papel de destaque dentro da terapia inalatória da asma na criança. Existem vários tipos de espaçadores, com características individualizadas, que, obrigatoriamente, devem ser de domínio do médico ao se considerar a indicação desta modalidade terapêutica 20,25,29,41,51,61. Vantagens associadas à utilização deste sistema: – – – – facilita a coordenação entre o acionamento do dispositivo (disparo) e a inalação; possibilita a utilização de inaladores dosimetrados pressurizados em todas as idades; aumenta a deposição pulmonar da droga utilizada; reduz a deposição oral da droga (apresenta menor biodis- – – ponibilidade para o trato gastrointestinal, com diminuição de efeitos irritativos locais e outros paraefeitos); reduz a sensação de “gosto ruim” associada ao emprego da medicação (muitas vezes importante para o aumento da adesão na população infantil); diminui o “efeito freon” (suspensão da manobra inspiratória secundariamente ao contato do gás frio com a orofaringe). Desvantagens associadas à utilização deste sistema: – – – – volume do dispositivo compromete sua praticidade (portabilidade, transporte, manuseio); grande variabilidade entre os modelos disponíveis (necessidade de ajustes em função de características de desenvolvimento do paciente); nem todas as medicações (inaladores dosimetrados pressurizados) se adaptam a todos os dispositivos (não são universais); deposição pulmonar sofre efeito de propriedades físicas (carga eletrostática); * O artifício de afastar o bocal tem por objetivo diminuir a impactação em orofaringe, já que a velocidade de saída diminui após o início do jato. Terapia inalatória – Vantagens sobre o tratamento oral – necessidade de manutenção (limpeza periódica). Ao se considerar sua utilização, deve-se sempre avaliar algumas características individuais do dispositivo (propriedades) que podem influenciar na deposição pulmonar da medicação veiculada. • Volume: costumam variar de 145 ml a 750 ml, nas mais variadas formas. O ajuste do volume ideal é determinado pelo volume corrente do paciente, que estabelecerá a quantidade de droga a ser disponibilizada. Câmaras com volume de 150 ml parecem ser úteis para lactentes com baixos volumes correntes (inferiores a 50 ml). De uma maneira geral, pode-se estabelecer que volumes de 300 ml sejam considerados ideais para a maioria dos outros pacientes, com pequenos ajustes individuais21,22. • Adaptador (máscara x bocal): máscaras devem ser indicadas para pacientes menores de 3 anos de idade, enquanto o uso de bocais deve ser estimulado a partir desta idade, visando diminuir a deposição nasal 4,37. • Válvulas: garantem o fluxo unidirecional da droga. Devem ser de baixa resistência, possibilitando a abertura, mesmo com baixas pressões inspiratórias. A remoção do dispositivo do sistema, em pacientes • • muito pequenos que não conseguem atingir a pressão de abertura, pode aumentar a quantidade de droga disponível para inalação4,28. Carga eletrostática: pode diminuir a quantidade de droga disponível para inalação de maneira significativa. Deve ser amenizada com a higienização do sistema por detergente catiônico, antes da utilização regular. Da mesma maneira, deve-se evitar esfregar as paredes do dispositivo e higienizações muito freqüentes. Como regra, deve-se recomendar que o sistema não seja higienizado em intervalos inferiores a uma semana e que seu processo de secagem transcorra normalmente (sem intervenção manual), por ação da gravidade em ar ambiente. A aplicação de disparos seqüenciais da droga a ser utilizada no dispositivo (antes da sua primeira utilização) também reduz a carga eletrostática do sistema17,20,21,55. Material: também está atrelado ao aumento da carga eletrostática. Dispositivos de aço inoxidável ou alumínio apresentam menores problemas relacionados a esta característica, se comparados aos sistemas de plástico. Alguns estudos não • 13 constataram diferenças quando a técnica é adequadamente executada, mesmo considerando dispositivos de diversos materiais. Avaliando a eficácia clínica do salbutamol em crianças com asma, observou-se que Nebuchamber ® (aço inoxidável), Aerochamber ® (plástico) e Volumatic® (plástico) foram igualmente eficazes 21,36,55. Espaçadores caseiros: constituem-se numa opção econômica e efetiva, principalmente para pacientes capazes de utilizar bocal corretamente. São manufaturados a partir de garrafas plásticas, e volumes de 500 ml a 750 ml parecem ser os mais adequados21,60 . Técnica recomendada para utilização de espaçador acoplado ao inalador pressurizado dosimetrado: – – – – – – avaliar o dispositivo (assegurar-se de que não há objeto que possa ser aspirado ou obstruir o fluxo); agitar o inalador pressurizado dosimetrado; acoplar o inalador pressurizado dosimetrado ao espaçador; posicionar a saída do bocal em posição vertical à abertura da boca; manter a boca aberta, alinhada à saída do bocal do dispositivo; expirar normalmente; 14 ASMA PEDIÁTRICA – colocar o bocal do espaçador na boca (ou ajustar a máscara sobre a boca e o nariz); – acionar o dispositivo (iniciar inspiração lenta e profunda); – executar manobra de pausa inspiratória (mínimo 10 segundos); – para os que não são capazes de coordenar o acionamento do dispositivo com a inspiração (crianças pequenas, pacientes em crise), realizar cinco respirações em volume corrente; – esperar 30 a 60 segundos antes de repetir o procedimento (somente um puff deve ser acionado por vez para a realização da técnica inalatória). Uma vez que o pediatra domine o ensino da técnica de inalação em todas as faixas etárias, tipos de espaçadores e montagem dos dispositivos caseiros, a administração de medicações inalatórias pode se tornar mais simples e efetiva, tanto para o paciente quanto para os pais (Figura 6). década após, o CFC foi banido da maioria dos produtos industrializados nos países desenvolvidos, exceto para emprego nos inaladores pressurizados dosimetrados. Em função desta nova necessidade, um consórcio internacional da indústria farmacêutica (International Pharmaceutical Aerosol Consortium for Toxicology) desenvolveu um novo produto sem características agressivas à camada de ozônio: HFA-134 (hidrofluoralcano). O novo propelente tem-se mostrado seguro sob o ponto de vista toxicológico, apresenta algumas diferenças em suas propriedades físicas se comparado ao CFC (menor velocidade de impacto do jato, maior temperatura do spray), mas parece apresentar uma massa maior de partículas respiráveis e maior deposição pulmonar (Tabela 3). Inalador de pó seco A inalação de drogas em forma de pó tem-se tornado muito popular no manejo terapêutico da asma. Aerossóis em sistemas de pó seco são gerados pela passagem de ar através de uma alíquota de pó. Fluxos inspiratórios elevados são necessários para que se obtenha uma performance adequada, que venha a resultar em deposição si- Protocolo de Montreal – Novas perspectivas para o uso dos inaladores pressurizados dosimetrados Protocolo de intenção firmado em 1987 por 144 nações, com o objetivo de proteger o ambiente de gases tóxicos para a atmosfera, entre eles o CFC. Uma Figura 6. Técnica de inalação com espaçador acoplado ao inalador dosimetrado Terapia inalatória – Vantagens sobre o tratamento oral 15 Tabela 3 Deposição de dipropionato de beclometasona (BDP) com CFC e HFA Deposição* (% dose nominal) CFC-BDP HFA-BDP HFA-BDP Sujeitos (n) Voluntários (9) Voluntários (3) Asmáticos (16) milar aos inaladores dosimetrados. Esta necessidade faz com que o sistema não possa ser utilizado em crianças pequenas, ou mesmo maiores mas com incapacidade de gerar fluxos inspiratórios mínimos de 0,5 a 1 litro por segundo, característica que também tem limitado sua utilização na terapêutica de resgate dos pacientes pediátricos asmáticos. Entretanto, para a terapêutica de manutenção são dispositivos freqüentemente utilizados. Embora não necessitem de uma sincronia para disparo (mãoinalação), alguns cuidados na coordenação da respiração são necessários. Manobras respiratórias que levem a uma exalação dentro do sistema influenciam a quantidade de droga disponibilizada para deposição pulmonar. Da mesma maneira, tais sistemas são muito suscetíveis à umidade. Em função das propriedades higroscópicas do pó, exposição a taxas de umidade relativa superiores a 50% poderá diminuir a liberação do pó e gerar Pulmões 4±3 51 ± 12 56 ± 9 Orofaringe 85 ± 20 29 ± 15 31 ± 9 partículas maiores, que não serão inaladas. A droga veiculada possui um diâmetro médio de massa aerodinâmica entre 1 µm e 2 µm, enquanto seu carreador (lactose ou glicose) possui maior diâmetro (20 µm a 25 µm). Vários sistemas geradores de aerossóis, na forma de pó seco, estão disponíveis comercialmente em nosso país. Os mais freqüentemente utilizados são: Aerolizer, Turbuhaler, Diskus, Pulvinal, entre outros20,28,29,40,41 (Figura 7). Vantagens associadas ao sistema: – – – – – – requer menos coordenação do paciente; segurança ambiental (não requer propelente); ativado pela respiração; compacto, fácil de transportar e manusear; dispositivos com múltiplas doses; contador de doses em alguns dispositivos. Abdômen 9 ± 17 1±2 3±4 Exalado 1±1 18 ± 3 9±4 Desvantagens associadas ao sistema: – – – – – – – requer fluxos inspiratórios de moderados a elevados; alguns dispositivos são monodoses (dificulta o manuseio); pode resultar em elevada deposição faríngea; nem todas as medicações são disponibilizadas para administração; difícil para liberar doses elevadas; alguns dispositivos são influenciados pela umidade. dificuldade na percepção da inalação da medicação em alguns dispositivos. Técnica recomendada para utilização de inalador de pó seco como gerador de aerossol: a fase de preparação da dose a ser administrada varia conforme o sistema gerador de pó seco a ser utilizado, embora a técnica de administração da medicação seja comum à maioria dos sistemas. 16 ASMA PEDIÁTRICA Indicador de dose Bocal Alavanca reguladora Figura 7. Diskus Fase de preparação da dose entre os sistemas utilizados • • • • • • Aerolizer: retirar a tampa do dispositivo; posicionar a cápsula no receptáculo; comprimir os botões laterais para perfurar a cápsula. Turbuhaler: retirar a tampa do dispositivo; manter o inalador em posição vertical; girar a base no sentido antihorário e depois no sentido horário até escutar um click. • • • • • • • Diskus: abrir o inalador (rodando o disco no sentido anti-horário); puxar a alavanca para trás até escutar um click. Pulvinal: retirar a tampa; manter o inalador na posição vertical; apertar o botão marrom com uma mão; girar o inalador no sentido antihorário com a outra mão (aparecerá uma marca vermelha); soltar o botão marrom; • girar o inalador no sentido horário até escutar um click (aparecerá uma marca verde). Após o preparo da dose, à técnica inalatória é comum: • expirar normalmente; • colocar o dispositivo na boca; • inspirar o mais rápido e profundamente possível; • fazer pausa inspiratória de 10 segundos; • se sistema com monodose, executar nova inspiração (mais profunda que a primeira), caso seja observada a presença de pó residual na cápsula. Terapia inalatória – Vantagens sobre o tratamento oral SELEÇÃO DO SISTEMA GERADOR DE AEROSSOL A SER PRESCRITO A indicação do dispositivo inalador a ser utilizado é uma atribuição médica que deve considerar aspectos da eficácia da droga (efeitos, paraefeitos), deposição pulmonar do sistema perante as características do dispositivo (volume, válvula, máscara) e adaptabilidade do paciente à proposta (técnica adequada, adesão à proposta terapêutica)32,37,41. Antes dos 6 anos, os inaladores pressurizados dosimetrados acoplados a espaçadores constituem a técnica de escolha para a maioria dos pacientes; a partir dos 6 anos, os inaladores de pó passam a constituir-se em opção apropriada, pois os aerossóis pressurizados dosimetrados são utilizados de forma correta, sem espaçadores, só a partir dos 10 anos. Portanto, a avaliação da qualidade da técnica inalatória executada pela criança deve ser rotina de verificação obrigatória em toda consulta médica naqueles que fazem uso de tais dispositivos. Revisões sistemáticas da literatura, considerando a utilização de diferentes dispositivos geradores de aerossóis para prescrição de β2-agonistas de curta ação e corticoesteróides, concluem que os inaladores pressurizados dosimetrados são equivalentes aos demais dispositivos, e ainda os consideram como os de melhor custo–benefício5,10,44. Considerando aspectos de comodidade, o dispositivo inalador deve ser portátil, sem necessidade de energia elétrica, e de operação tecnicamente simples, demandando manutenção mínima. A simplicidade de operação é especialmente importante no tratamento de pré-escolares e lactentes, que recebem atenção de diferentes pessoas em diferentes períodos do dia. A necessidade de cooperação e coordenação para a utilização do dispositivo deve ser mínima. Cooperação passiva, como a aceitação de máscara facial, pode ser esperada da maioria dos préescolares e mesmo dos lactentes. Cooperação ativa, como a realização de manobras específicas de inalação e de ativação subseqüente do inalador, deve ser esperada apenas 17 por parte de escolares e adolescentes. Para lactentes e pré-escolares deve ser usado um dispositivo de aerossol pressurizado com espaçador e máscara facial. Com a melhora da cooperação para inalar do espaçador, geralmente alcançada aos 4 a 6 anos, a criança deve ser encorajada a utilizar a peça bucal em substituição à máscara facial. A partir de 6 anos, o inalador de pó torna-se o dispositivo de escolha28,37,41 (Tabela 4). Os nebulizadores não são dispositivos adequados para tratamento de manutenção devido a aspectos de custo, comodidade (portabilidade e manuseio), necessidade de tempo prolongado de inalação e de monitoração do procedimento, além dos custos de manutenção1. Têm sido indicados para tratamento de episódios agudos (resgate) nas mais variadas faixas etárias7,28,37,41. Tabela 4 Dispositivos para inalação indicados para cada faixa etária Faixa etária Dispositivo gerador de aerossol recomendado < 4 anos Inalador pressurizado dosimetrado acoplado a espaçador com máscara facial 4 a 6 anos Inalador pressurizado dosimetrado acoplado a espaçador com bocal > 6 anos Inalador de pó seco ou inalador pressurizado dosimetrado acoplado a espaçador 18 ASMA PEDIÁTRICA GERADORES DE AEROSSÓIS NO MANEJO DA ASMA AGUDA: NEBULIZADOR X INALADOR PRESSURIZADO DOSIMETRADO Os β 2-agonistas de curta duração administrados por via inalatória constituem a primeira linha de tratamento para crianças com episódios agudos de asma. Ainda que tais drogas sejam mais freqüentemente administradas por geradores de aerossóis do tipo nebulizadores, esses sistemas possuem algumas desvantagens ante os inaladores dosimetrados: custo mais elevado, necessidade de o equipamento estar conectado à fonte de energia e deposição pulmonar ineficiente. Em contraste, quando se utiliza um inalador pressurizado dosimetrado acoplado a um espaçador, esse é mais econômico, mais higiênico, portátil e faz uso de um menor tempo para administração da medicação, quando comparado ao nebulizador14. Ao se acoplar o espaçador a um inalador, aumenta-se significativamente a deposição de medicação na via aérea inferior, com uma diminuição em cerca de 10 vezes do seu depósito orofaríngeo13. Esta modificação na deposição de medicação na via aérea tem o primeiro impacto prático, já que aponta para a possibilidade de poder administrar doses menores de β 2-agonista3,30,57. O ajuste da dose a ser empregada no dispositivo inalatório permanece questão não totalmente definida. Vários estudos conduzidos em populações adultas têm procurado determinar a dose de salbutamol necessária, por ocasião da utilização do inalador pressurizado dosimetrado, para se conseguir efeitos clínicos comparáveis às doses disponibilizadas por nebulização. Os resultados têm apontado para conclusões variadas, com relações que oscilaram entre 1:1 e 1:12 (na comparação inalador x nebulizador). Para estudos realizados em populações pediátricas, pacientes ambulatoriais e hospitalizados têm requerido doses equivalentes em proporções que variaram de 1:1 a 1:72,11,15,33,34,42,43,48. Revisões sistemáticas da literatura apontam perspectivas favoráveis ao uso dos inaladores dosimetrados. Amirav e Newhouse, em extensa revisão da literatura pediátrica, selecionaram 10 estudos que compararam tratamentos administrados com os dois sistemas. Tais protocolos incluíram 301 pacientes que receberam tratamentos com inaladores pressurizados dosimetrados acoplados a espaçador e 274 pacientes que foram tratados com nebulização. Destes estudos, oito não apresentaram diferenças sig- nificativas entre os dois métodos, enquanto em dois foi observada superioridade com o uso do inalador dosimetrado. Nenhum estudo apresentou resultados favoráveis à geração de aerossóis por nebulização, mesmo considerando uma utilização de β2-agonista significativamente maior nestes pacientes. As conclusões vieram a favorecer o uso dos inaladores pressurizados dosimetrados acoplados a espaçadores em razão de sua conveniência, rapidez de administração, preferência do paciente e menor custo3. Recentemente, Cates e cols. (Grupo da Cochrane – Via Aérea) selecionaram 21 estudos realizados até o ano de 2001 (880 crianças e 444 adultos) que compararam as duas técnicas inalatórias. Não encontraram diferenças nas taxas de hospitalização e provas de função pulmonar. Observaram como significativa apenas uma menor freqüência cardíaca nos pacientes que utilizaram o sistema com espaçadores. Além disso, em um dos estudos pediátricos, observaram também uma taxa de permanência hospitalar significativamente menor neste grupo de pacientes (inalador pressurizado dosimetrado com espaçador)13,38,45,54. Entretanto, existem vários questionamentos que ainda não foram contemplados com respostas consolidadas por parte da Terapia inalatória – Vantagens sobre o tratamento oral literatura científica na comparação entre os dois sistemas em pacientes com asma aguda: a possibilidade de se utilizar esses inaladores de forma controlada em casa, a variabilidade do efeito secundário ao tipo de espaçador utilizado, a ergonomia mais adequada para utilização em lactentes, a importância dos espaçadores com válvulas, a dose ótima, a freqüência ideal de inalações, as respirações necessárias para “esvaziar” o espaçador, o tipo de broncodilatador mais apropriado para ser utilizado, entre outros. Em resumo, ao considerarmos seu benefício clínico, menor custo, forma de administração mais rápida, menor necessidade de pessoal especializado envolvido na assistência, facilidade de 19 administração, efeito clínico similar, na maioria dos trabalhos publicados, a literatura atual recomenda a utilização dos inaladores pressurizados dosimetrados acoplados a espaçadores na maioria dos casos de asma aguda na população infantil, ficando ainda algumas questões para serem respondidas em futuros trabalhos de investigação. 20 ASMA PEDIÁTRICA BIBLIOGRAFIA 1. Allen DB. Safety of inhaled corticosteroids in children. Pediatr Pulmonol 2002; 33: 208-220. 2. Amantéa SL, Sanchez I, Piva JP e cols. Controvérsias no manejo farmacológico da asma infantil. J Pediatr 2002; 78(Suppl 2): S150-S160. 3. Amirav I, Newhouse MT. Metered-dose inhaler accesory devices in acute asthma. Efficacy and comparison with nebulizers: a literature review. Arch Pediatr Adolesc Med 1997; 151: 876-882. 4. 5. 6. 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