A Crítica de Voltaire à historiografia teológica Pedro Miguel Souza Santos* * é mestrando em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia _______________________________________________________________________________ A base das historiografias de matrizes cristãs como a de Bossuet e Rollin nasce do pressuposto do problema do sentido da história, aqui sistematizadas pela revelação e pela fé ou, ainda, guiadas por um plano providencial. Voltaire reage a esta visão, insistindo em que apenas na altura em que os homens se sentiram independentes da providência é que puderam organizar uma teoria do progresso, ou seja, enquanto a doutrina da providência não foi questionada, também não foi possível o aparecimento da doutrina do progresso. É, exatamente, ao aspecto da História que Voltaire relaciona a Filosofia. Ele inventará o conceito de filosofia da história para marcar a distinção crucial entre a acepção moderna e a concepção teológica de história. O autor, dentre tantos aspectos que marcam sua filosofia da história no desenrolar da interpretação, prepara um novo terreno conceitual, mantendo a dicotomia entre um princípio da vontade de Deus e, portanto, da providência divina, e outro princípio da vontade e da razão do homem. É a este último aspecto, humano propriamente dito, que o filósofo se apega em revista à história humana, suscitando o debate e alertando com sua crítica interpretativa o quanto de arengas, fábulas e mitos o homem coleciona ao compor a sua história. A presente comunicação procurará elucidar a proposta da historiografia sob os moldes teológicos e a crítica a esse modo de interpretação encontrada nas Obras históricas de Voltaire, ressaltando sua estrutura interna e dela retirando o percurso filosófico do autor até o desvendamento da sua ordem argumentativa, evidenciando a originalidade da abordagem moderna do fenômeno histórico. O conceito que nos introduzirá e nos conduzirá nessa investigação será o de Humanidade, porque, segundo se quer provar, a filosofia da história voltairiana dele depende intrinsecamente e permite explicitar sua crítica filosófica.