Belo Horizonte – MG • Agosto de 2015 nº 08 Mercado Internacional Nos últimos meses, as notícias do mercado internacional se tornaram destaque. A dinâmica da economia mundial vem sofrendo oscilações no que tange ao seu ordenamento. Países antes tido como figurantes, hoje tornam-se protagonistas nos noticiários econômicos. Onde o Brasil se encaixa cenário? China: Oscilações na bolsa chinesa De novembro do ano passado a maio deste ano, a bolsa chinesa apresentou uma valorização de 150%. Enquanto isso, o resto do mundo passava por um período de cautela. Essa divergência é explicada pela expectativa dos investidores quanto aos incentivos do governo chinês ao consumo interno e ao crescimento econômico. Desde junho o mercado financeiro chinês vem sofrendo fortes oscilações. A bolsa de valores do país apresentou uma queda que chegou a atingir 30%. Essa perda de valor das ações gerou temor quanto a economia da China e à possibilidade de uma bolha na bolsa. No primeiro trimestre, indicadores apontaram para um resultado que, apesar de positivo, ficou abaixo das expectativas: o PIB da China avançou 7% de janeiro a março, configurando o pior ritmo desde 2009. Essa forte oscilação pode ser reflexo de uma desaceleração de maiores proporções, gerando impactos na economia global. Isso porque o governo chinês pode ser forçado a desvalorizar sua moeda, tendo em vista o arrefecimento das exportações do país, afetando os preços dos insumos básicos. Sendo assim, países exportadores de commodities, como o Brasil, podem ser afetados. O que causou as oscilações? Vários fatores contribuíram para esse cenário. Primeiramente, a maioria dos investidores no país são pessoas físicas com pouca experiência e informação, deixando o mercado muito volátil. Segundo, a alavancagem - compra de ações com dinheiro emprestado -, aumentou significativamente desde o segundo semestre de 2014. Entretanto, esse financiamento de margens acelera as perdas quando as ações começam a cair, fazendo com que as pessoas precisem vender suas ações para atender as exigências das corretoras. Quanto maior a queda nos preços, maior as margens pedidas pelas corretoras e maior a necessidade da venda de mais ações. O que o governo está fazendo para reverter o quadro? Atento ao movimento de queda, o governo chinês tomou diversas medidas para reverter a situação. Uma delas é a proibição de que acionistas controladores que possuírem mais de 5% de uma empresa vendam suas ações no próximo semestre. Além disso, os bancos ampliaram o limite de crédito para compra de ações e estatais foram impedidas de negociar ativos na bolsa. Agências governamentais, corretoras e fundos mútuos também estão comprando no mercado os papéis excedentes. Porém, como a expectativa é um fator de grande peso no mercado financeiro, investidores encararam o plano como sinal de desespero, intensificando Qual o impacto na economia chinesa... O impacto na economia chinesa é relativamente pequeno, uma vez que apenas 5% da poupança das famílias está no mercado de ações e menos de 10% das famílias têm alguma exposição a esse mercado. Além disso, a fatia das empresas listadas no mercado da China, representam apenas um terço do PIB do país. ...e na economia mundial? Nesse período de oscilações, o valor de mercado das ações chinesas, recuaram cerca de US$ 2,5 triblhões, o que equivale a duas vezes o PIB da Grécia. O impacto é sentido, principalmente, pelos países que exportam para a China (que é o caso do Brasil). A alta volatilidade da bolsa chinesa pode indicar uma desaceleração gradual da economia, refletindo no preço das commodities. A instabilidade destas, por sua vez, se reflete nas moedas na América Latina e outros exportadores desses produtos. Grécia: Crise no país afeta estabilidade do bloco do euro Endendendo a crise A economia grega vem apresentando fracos resultados desde o início dos anos 2.000. Antes mesmo de entrar na Zona do Euro, o país apresentava despesas muito superiores à sua arrecadação e, para financiar seus gastos, recorria à empréstimos. Somado a isso, os problemas de corrupção e evasão fiscal provocaram déficits acima de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), ficando acima do limite imposto a países da zona do euro. O problema tornou-se grave quando a crise financeira mundial limitou o acesso da Grécia ao crédito, motivando intervenção de outros países do Euro. Fatores que levaram à derrocada da economia grega Aposentadoria prematura (até o estouro da crise, os gregos se aposentavam ao completar 61 anos recebendo 96% do seu salário e, em casos de aposentadoria antecipada, essa idade era reduzida para 55 anos); Baixa arrecadação; Durante anos, e com um PIB per capita muito inferior ao espanhol, por exemplo, o salário mínimo instituído no país era 50% superior ao da Espanha; Máquina pública inchada; Dívida pública crescente. Para ser aceita na Zona do Euro, a Grécia ocultou o verdadeiro valor do déficit público. Sua dívida cresceu de maneira muito rápida, passando de cerca de 100% do PIB no início da recessão, para 175% em 2014 - vide gráfico 1, abaixo. Gráfico 1: Grécia - Dívida Pública - % do PIB 200 160 120 100,0 106,1 105,4 112,9 2006 2009 129,7 146,0 171,3 156,9 175,0 177,1 80 40 0 2007 2008 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Na raíz da crise, o país possuia uma dívida de cerca de 320 bilhões de euros. Dívida financiada por empréstimos do FMI e do resto da Europa Para obter os empréstimos, a Grécia se comprometeu a adotar uma série de medidas, como: ajustar o imposto ao consumidor e ampliar a base de contribuintes para aumentar a arrecadação; fazer reformas no sistema de aposentadorias e pensões; privatizar o setor elétrico; criar leis que assegurem cortes e gastos "automáticos" se o governo não cumprir sua meta de superávit; dentre outras. Junho: vence uma parcela de € 1,6 bilhão da dívida. País entra em default Julho: vence outra dívida de € 450 milhões O pacote de ajuda grego impõe duras condições a Atenas, com medidas de aperto econômico Europeus exigem que o país corte gastos e aumente impostos para concessão de empréstimos ...mas governo acaba cedendo às condições da Troika (Banco Central Europeu, FMI e Comissão Européia) População rejeita condições para obter empréstimo... Qual seria o impacto da saída da Grécia da Zona do Euro sobre o Brasil, caso essa não quitasse sua dívida? A volatilidade nos mercados internacionais e a aversão ao risco poderiam provocar turbulências no mercado brasileiro; Crescimento do risco-país de emergentes; A instabilidade pode atrasar a recuperação da economia da União Europeia, importante parceiro comercial do Brasil. Sendo assim, as exportações poderiam sofrer uma queda. A Fecomércio MG acredita que é de extrema importância estar atento à dinâmica político-econômica mundial. Qualquer fator que apresente o mínimo de interferência no nosso país deve ser levado em consideração, uma vez que nosso setor sofre influência de diversos fatores. Sendo assim, continuaremos a acompanhar os desdobramentos da situação na China, nosso principal parceiro comercial, e na Grécia, integrante de um importante bloco econômico.