XXIX Congresso Nacional de Pesquisa em Transporte da Anpet OURO PRETO, 9 a 13 de novembro de 2015 ESTRUTURAÇÃO DE METODOLOGIA DE BENCHMARKING PARA A O SETOR DE TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE PASSAGEIROS Giselle Smocking Rosa Bernardes Ribeiro Richele Cabral Gonçalves Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro - FETRANSPOR RESUMO Este trabalho descreve a estruturação de uma metodologia de benchmarking que está sendo aplicada nas empresas de transporte rodoviário de passageiros do Estado do Rio de Janeiro e que contempla a construção de um sistema de indicadores para monitoramento do desempenho operacional e troca de informações comparativas e boas práticas de gestão entre as empresas operadoras, tendo em vista a necessidade de adequação da operação destas empresas frente a nova estruturação do sistema. 1. INTRODUÇÃO Cada vez mais, as questões voltadas à qualidade, produtividade, competitividade, se colocam de forma extremamente importantes e devem ser tratadas estrategicamente na condução dos processos empresariais e a busca pela excelência operacional passa a ser uma importante estratégia para assegurar a sustentabilidade das empresas de forma a obter os melhores resultados. Neste contexto, ressalta-se o benchmarking, uma técnica de gestão organizacional, que vem se destacando e sendo utilizada pelas organizações com o propósito de alcançarem a qualidade total em seus processos, produtos e serviços. O benchmarking pode ser definido como um processo por meio do qual as organizações avaliam o desempenho dos seus processos, sistemas e procedimentos de gestão, comparando-os com os melhores desempenhos encontrados em outras organizações (Nunes, 2008, apud Franco et al., 2009). E pode ser aplicado a qualquer tipo de organização, pública ou privada, com ou sem fins lucrativos, de qualquer setor ou porte. Spendolini (1993), Araújo Junior (2001) e Araújo (2000) descrevem três tipos de benchmarking: o interno, o competitivo e o funcional ou genérico. O benchmarking interno é desenvolvido e praticado dentro da própria empresa, espera-se com essa prática identificar dentro da organização as melhores práticas com o objetivo de disseminá-las por todas as áreas da empresa. No benchmarking competitivo, as ações são diretamente orientadas para detectar as melhores práticas dos concorrentes. E no benchmarking funcional ou genérico a ideia de concorrência não existe, são identificadas as melhores práticas adotadas por empresas líderes de mercado, porém não necessariamente concorrentes. Nesta perspectiva qualquer processo realizado por uma empresa poderá servir de parâmetro para possíveis melhorias. As principais etapas de um projeto de benchmarking abrangem: a definição do projeto, a escolha da referência, determinação dos métodos de mensuração, coleta e análise de dados, apresentação dos resultados, discussão dos resultados com a escolha de metas e melhorias nos procedimentos, criação de planos de melhoria, controle dos novos procedimentos, monitoramento e progresso do projeto (Henrique, 2011). Nos últimos anos o setor de transporte de passageiros vem realizando esforços para sua modernização e busca da elevação da qualidade dos seus serviços. Tanto os referenciais normativos de certificação, como ISO 9000, quanto os requisitos dos prêmios regionais, Gestão de Transportes Gestão do Transporte II 1223 XXIX Congresso Nacional de Pesquisa em Transporte da Anpet OURO PRETO, 9 a 13 de novembro de 2015 nacionais e internacionais de qualidade tem requerido o uso de indicadores e a comparação de desempenho, o que reforça o interesse das empresas do setor. Entretanto, apesar do interesse, a medição de desempenho ainda não é amplamente utilizada nas empresas de transporte rodoviário de passageiros do Estado do Rio de Janeiro, de uma maneira geral, as informações relacionadas ao desempenho do setor são escassas e apresentam algumas deficiências como à falta de alinhamento com objetivos estratégicos e o foco em indicadores de resultado e indicadores não vinculados aos processos críticos, que, por sua vez, são insuficientes para apoiar a tomada de decisão. A partir da identificação das dificuldades enfrentadas pelo setor quanto à medição de desempenho e benchmarking, foi iniciado um projeto para estabelecer mecanismos que possam facilitar a incorporação da medição e comparação de desempenho ao processo de gestão das empresas de transporte rodoviário de passageiros do Estado do Rio de Janeiro, visando à troca de informações e boas práticas de gestão entre as empresas operadoras. 2. METODOLOGIA A metodologia para o desenvolvimento deste projeto se iniciou pela análise das expectativas das principais partes interessadas (acionistas, clientes, poder concedente, sociedade e empregados) para definir os objetivos estratégicos e seus fatores críticos de sucesso e assim escolher os indicadores de desempenho mais adequados para representar o desempenho das organizações. Para isso foram realizadas pesquisas bibliográfica e documental, consultas e reuniões com empresas operadoras e outras organizações do setor de transporte. Como resultado foi elaborado um descritivo dos potenciais indicadores aplicáveis ao setor de transporte rodoviário de passageiros. Foram estruturados dois grupos de trabalho: o Comitê Consultivo constituído por empresários e representantes responsáveis por analisar e aprovar os planos de melhoria que serão implantados, com base nos resultados apresentados pelo sistema de indicadores; e o Comitê Operacional constituído por colaboradores das empresas operadoras responsáveis pela disponibilização das informações, realização de diagnósticos, elaboração de propostas e implantação dos projetos e ações aprovados pelas suas respectivas empresas. Para definição, padronização e hierarquização dos indicadores potenciais foi feita uma pesquisa quantitativa com o Comitê Consultivo, de forma a avaliar os indicadores quanto à relevância, confidencialidade, aplicação e prioridade. Para manter o anonimato no grupo de benchmarking, foram estabelecidos códigos para identificação das empresas operadoras e grupos de comparação com base no tipo de serviço e itinerário, porte da empresa e região de atuação. A análise comparativa dos indicadores foi realizada por meio dos valores mínimo, médio e máximo, desvio padrão e o coeficiente de variação (CV), calculado dividindo o desvio padrão pela média da amostra que, segundo Trompet e Graham (2011) mede o grau de comparabilidade entre as empresas operadoras de ônibus. 3. RESULTADOS O projeto foi iniciado em março de 2015 com adesão de 30 empresas operadoras. Com base Gestão de Transportes Gestão do Transporte II 1224 XXIX Congresso Nacional de Pesquisa em Transporte da Anpet OURO PRETO, 9 a 13 de novembro de 2015 nos resultado da pesquisa quantitativa com o Comitê Consultivo foram definidos trinta indicadores, relacionados às áreas financeira, jurídico, atendimento ao cliente, recursos humanos, operação e manutenção de frotas. Estes indicadores estão sendo mensurados em periodicidade mensal para produção dos relatórios comparativos. Foram estabelecidos os seguintes grupos para comparação: empresas de serviço urbano com atuação na cidade do Rio de Janeiro, na região metropolitana do Rio de Janeiro e fora da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e empresas com serviço rodoviário com atuação no Estado do Rio de Janeiro. Apenas os indicadores relativos a assaltos, acidentes e as falhas mecânicas apresentaram coeficiente de variação (CV) superior a 1 indicando alta variabilidade observada entre os valores das empresas operadoras e não recomendado para comparação. A variabilidade encontrada nos indicadores relativos a assaltos e acidentes pode ser explicada por tratar-se de eventos aleatórios, já para as falhas mecânicas, resulta de diferentes formas de medição dos dados e conceitos adotados pelas empresas operadoras. Dentre os principais desafios para implantação de um sistema de indicadores no setor, estão a necessidade de padronização quanto à forma de medição e registro das informações nas empresas, simplificação dos indicadores; estabelecimento de limites inferior e superior de confiabilidade e solicitação de informações através de índices e percentuais normalizados para assegurar a confiabilidade e qualidade das informações. Verificou-se também a necessidade de desdobramento de sistemas de indicadores exclusivos para empresas operadoras de sistemas de BRT (Bus Rapid Transit) e fretamento, visto que são serviços que trabalham com indicadores de desempenho muito singulares e que não são comparáveis às demais operadoras. Um relatório individual contendo os resultados comparativos dos indicadores de desempenho é disponibilizado mensalmente para as empresas operadoras participantes, permitindo o compartilhamento de informações e o aprendizado. São realizadas também reuniões periódicas com os Comitês Consultivo e Operacional a fim de identificar as oportunidades de melhoria e elaborar planos de aprendizado que orientam o planejamento do ciclo seguinte. Destacam-se como fatores fundamentais para a implantação de um sistema de indicadores bem sucedida no setor, a adesão voluntária e gratuita e a utilização de instrumentos que garantam o sigilo das informações. Neste projeto foi utilizado um sistema informatizado web para coleta e tratamento dos indicadores de desempenho com a descaraterização da identidade da empresa operadora e um termo jurídico de confidencialidade a fim de assegurar que as informações são tratadas de forma sigilosa e para uso exclusivo e restrito aos participantes do projeto. Estes resultados pretendem fornecer subsídios para o planejamento do setor e, como consequência, apoiar o desenvolvimento de planos de melhorias, tais como: identificação das áreas de excelência e das áreas onde são necessárias melhorias; indicação das melhorias que devem ser atingidas, levando-se em conta as diferenças de meio e estrutura entre as empresas operadoras; desenvolvimento de relações de causa e efeito para averiguar os fatores que podem influenciar o desempenho da empresa; desenvolvimento de um banco de dados com Gestão de Transportes Gestão do Transporte II 1225 XXIX Congresso Nacional de Pesquisa em Transporte da Anpet OURO PRETO, 9 a 13 de novembro de 2015 informações precisas para uso no aperfeiçoamento dos processos e incentivo a cultura dos indicadores de desempenho no setor. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O projeto de benchmarking apresentado foi desenvolvido visando à elaboração e utilização de um sistema de medição, contemplando indicadores comuns entre as empresas operadoras do Estado do Rio de Janeiro, com o propósito de comparação de desempenho, formação de banco de dados, compartilhamento de conhecimento entre as organizações, com o intuito de proporcionar mudanças e melhorias nos processos de gestão das empresas participantes. Concluiu-se que a principal contribuição deste projeto foi à definição de um sistema de indicadores para benchmarking no setor de transporte rodoviário de passageiros do Estado do Rio de Janeiro, implantado através de um sistema informatizado web, que permite a comparação de desempenho entre as empresas participantes. Este projeto proporcionou às empresas participantes um ambiente para compartilhamento e aquisição de novos conhecimentos, que, por sua vez, incentivou o desenvolvimento de um sistema de indicadores para benchmarking de forma colaborativa e a realização de mudanças em práticas já existentes nas rotinas organizacionais, tal como no processo de medição de desempenho, de modo a adaptar, consolidar ou implementar o sistema de indicadores definido pelo grupo. Esses benefícios também foram observados em outros estudos sobre redes de aprendizagem, tais como Teixeira, Guerra e Ghirardi (2005) e Costa e Formoso (2011). Este trabalho identificou como fatores críticos de sucesso para a construção de sistemas de indicadores para benchmarking, o alinhamento entre os interesses individuais das empresas e os interesses coletivos do grupo, a confiabilidade das informações que influencia na assiduidade dos participantes, nível de maturidade do sistema de gestão das operadoras como facilitador no compartilhamento das boas práticas e implantação das melhorias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Araújo, L.C.G. (2011) Benchmarking: ser o melhor entre os melhores. In: Organização, sistemas e métodos e as tecnologias de gestão organizacional. São Paulo: Editora Atlas, 352 p. Araujo Junior, R. H. (2001) Benchmarking. In: Tarapanokk, K. (Org.) Inteligência organizacional e competitiva. Brasília: EDUNB, p. 241-263. Costa, D.B. e T.C. Formoso (2011) Fatores-chave de sucesso para sistemas de indicadores de desempenho para benchmarking colaborativo entre empresas construtoras. Ambiente construído (Online) vol.11 no 3. Franco, D. H. ; E. A. Rodrigues e M. M. Cazela (Org.) (2009) Tecnologias e ferramentas de gestão. Campinas: Editora Alínea, 361 p. Henrique, C. (2011) O que é o Benchmarking? Disponível em < http://www.sobreadministracao.com/o-que-e-obenchmarking/> Acesso em 21 de setembro de 2015 Spendolini, M.J (1993) Benchmarking. São Paulo: Makroon Books. Teixeira, F. (2005) Gestão de Redes de Cooperação Interempresariais: em busca de novos espaços para o aprendizado e a inovação. Salvador: Casa da Qualidade. Trompet, M e D.J. Graham (2011) A balanced approach to normalizing bus operational data for performance benchmarking purposes. Transportation Research Board 91st Annual Meeting. __________________________________________________________________________________________ Giselle Smocking Rosa Bernardes Ribeiro Richele Cabral Gonçalves Diretoria de Mobilidade Urbana da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro - FETRANSPOR Rua da Assembleia, 10, 39o andar, Centro, Rio de Janeiro, RJ Gestão de Transportes Gestão do Transporte II 1226