Unidades 1 e 2 - EJA

Propaganda
o
8o ANO
3 TERMO
Nos Cadernos do Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho são indicados
sites para o aprofundamento de conhecimentos, como fonte de consulta dos conteúdos apresentados e
como referências bibliográficas. Todos esses endereços eletrônicos foram verificados. No entanto, como a
internet é um meio dinâmico e sujeito a mudanças, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência,
Tecnologia e Inovação não garante que os sites indicados permaneçam acessíveis ou inalterados, após a
data de consulta impressa neste material.
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação autoriza a reprodução
do conteúdo do material de sua titularidade pelas demais secretarias do país, desde que mantida a
integridade da obra e dos créditos, ressaltando que direitos autorais protegidos* deverão ser diretamente
negociados com seus próprios titulares, sob pena de infração aos artigos da Lei no 9.610/98.
*Constituem “direitos autorais protegidos” todas e quaisquer obras de terceiros reproduzidas neste material que não estejam em domínio
público nos termos do artigo 41 da Lei de Direitos Autorais.
Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho: Geografia, História e Trabalho: 8 o ano/
3 o termo do Ensino Fundamental. São Paulo: Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e
Tecnologia (SDECT), 2013.
il. (EJA – Mundo do Trabalho)
Conteúdo: Caderno do Estudante.
ISBN: 978-85-65278-61-4 (Impresso)
978-85-65278-62-1 (Digital)
1. Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Ensino Fundamental 2. Geografia – Estudo e ensino 3. História
– Estudo e ensino 4. Trabalho – Estudo e ensino I. Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e
Tecnologia II. Título III. Série.
FICHA CATALOGRÁFICA
Sandra Aparecida Miquelin – CRB-8 / 6090
Tatiane Silva Massucato Arias – CRB-8 / 7262
CDD: 372
Geraldo Alckmin
Governador
SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO,
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
Nelson Luiz Baeta Neves Filho
Secretário em exercício
Maria Cristina Lopes Victorino
Chefe de Gabinete
Ernesto Masselani Neto
Coordenador de Ensino Técnico,
Tecnológico e Profissionalizante
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
Herman Voorwald
Secretário
Cleide Bauab Eid Bochixio
Secretária Adjunta
Fernando Padula Novaes
Chefe de Gabinete
Maria Elizabete da Costa
Coordenadora de Gestão da Educação Básica
Concepção do programa e elaboração de conteúdos
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação
Coordenação Geral do Projeto
Equipe Técnica
Juan Carlos Dans Sanchez
Cibele Rodrigues Silva e João Mota Jr.
Fundação do Desenvolvimento Administrativo – Fundap
Geraldo Biasoto Jr.
Diretor Executivo
Lais Cristina da Costa Manso Nabuco de Araújo
Superintendente de Relações Institucionais e
Projetos Especiais
Equipe técnica e pedagógica
Ana Paula Lavos, Clélia La Laina, Dilma Fabri
Marão Pichoneri, Emily Hozokawa Dias, Fernando
Manzieri Heder, Lais Schalch, Liliana Rolfsen Petrilli
Segnini, Maria Helena de Castro Lima, Paula Marcia
Ciacco da Silva Dias, Silvia Andrade da Silva Telles e
Walkiria Rigolon
Autores
Arte: Eloise Guazzelli e Gisa Picosque. Ciências:
Gustavo Isaac Killner. Geografia: Mait Bertollo.
História: Fábio Luis Barbosa dos Santos. Inglês:
Eduardo Portela. Língua Portuguesa: Claudio
Bazzoni. Matemática: Antonio José Lopes. Trabalho:
Maria Helena de Castro Lima e Selma Venco.
Coordenação Executiva do Projeto
José Lucas Cordeiro
Coordenação Técnica
Impressos: Selma Venco
Vídeos: Cristiane Ballerini
Gestão do processo de produção editorial
Fundação Carlos Alberto Vanzolini
Antonio Rafael Namur Muscat
Presidente da Diretoria Executiva
Hugo Tsugunobu Yoshida Yoshizaki
Vice-presidente da Diretoria Executiva
Gestão de Tecnologias em Educação
Direção da Área
Guilherme Ary Plonski
Coordenação Executiva do Projeto
Angela Sprenger e Beatriz Scavazza
Gestão do Portal
Luiz Carlos Gonçalves, Sonia Akimoto e
Wilder Rogério de Oliveira
Gestão de Comunicação
Ane do Valle
CTP, Impressão e Acabamento
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Gestão Editorial
Denise Blanes
Equipe de Produção
Assessoria pedagógica: Ghisleine Trigo Silveira
Editorial: Adriana Ayami Takimoto, Airton Dantas de
Araújo, Beatriz Chaves, Camila De Pieri Fernandes,
Carla Fernanda Nascimento, Célia Maria Cassis,
Cláudia Letícia Vendrame Santos, Gisele Gonçalves,
Hugo Otávio Cruz Reis, Lívia Andersen França,
Lucas Puntel Carrasco, Mainã Greeb Vicente,
Patrícia Maciel Bomfim, Patrícia Pinheiro de Sant’Ana,
Paulo Mendes e Tatiana Pavanelli Valsi
Direitos autorais e iconografia: Aparecido Francisco,
Beatriz Blay, Olívia Vieira da Silva Villa de Lima,
Priscila Garofalo, Rita De Luca e Roberto Polacov
Apoio à produção: Luiz Roberto Vital Pinto,
Maria Regina Xavier de Brito, Valéria Aranha e
Vanessa Leite Rios
Projeto gráfico-editorial: R2 Editorial e Michelangelo
Russo (Capa)
Caro(a) estudante,
É com grande satisfação que a Secretaria de Desenvolvimento Econômico,
Ciência, Tecnologia e Inovação, em parceria com a Secretaria da Educação
do Estado de São Paulo, apresenta os Cadernos do Estudante do Programa
Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho, em atendimento
a uma justa reivindicação dos educadores e da sociedade. A proposta é oferecer
um material pedagógico de fácil compreensão, para complementar suas atuais
necessidades de conhecimento.
Sabemos quanto é difícil para quem trabalha ou procura um emprego se dedicar aos estudos, principalmente quando se retorna à escola após algum tempo.
O Programa nasceu da constatação de que os estudantes jovens e adultos
têm experiências pessoais que devem ser consideradas no processo de aprendizagem em sala de aula. Trata-se de um conjunto de experiências, conhecimentos e convicções que se formou ao longo da vida. Dessa forma, procuramos
respeitar a trajetória daqueles que apostaram na educação como o caminho
para a conquista de um futuro melhor.
Nos Cadernos e vídeos que fazem parte do seu material de estudo, você
perceberá a nossa preocupação em estabelecer um diálogo com o universo do
trabalho. Além disso, foi acrescentada ao currículo a disciplina Trabalho para
tratar de questões relacionadas a esse tema.
Nessa disciplina, você terá acesso a conteúdos que poderão auxiliá-lo na
procura do primeiro ou de um novo emprego. Vai aprender a elaborar o seu
currículo observando as diversas formas de seleção utilizadas pelas empresas.
Compreenderá também os aspectos mais gerais do mundo do trabalho, como as
causas do desemprego, os direitos trabalhistas e os dados relativos ao mercado
de trabalho na região em que vive. Além disso, você conhecerá algumas estratégias que poderão ajudá-lo a abrir um negócio próprio, entre outros assuntos.
Esperamos que neste Programa você conclua o Ensino Fundamental e, posteriormente, continue estudando e buscando conhecimentos importantes para
seu desenvolvimento e para sua participação na sociedade. Afinal, o conhecimento é o bem mais valioso que adquirimos na vida e o único que se acumula
por toda a nossa existência.
Bons estudos!
Secretaria da Educação
Secretaria de Desenvolvimento
Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação
Sumário
Geografia.......................................................................................................................... 7
Unidade 1
Capitalismo e espaço geográfico: antecedentes
do mundo em que vivemos 9
Unidade 2
As transformações do espaço geográfico
mundial pós-2a Guerra 27
Unidade 3
A globalização e seus efeitos
41
Unidade 4
A América Latina e a globalização
59
História............................................................................................................................ 73
Unidade 1
O início do século XX: a 1a Guerra Mundial e
a Revolução Russa 75
Unidade 2
O período entreguerras
93
Unidade 3
2a Guerra Mundial e Guerra Fria
107
Unidade 4
Revolução e Contrarrevolução no mundo da Guerra Fria
127
Trabalho...................................................................................................................... 143
Unidade 1
Sobre os direitos de cidadania
Unidade 2
Direitos do trabalho
Unidade 3
Trabalho e saúde
145
163
177
Unidade 4
A saúde mental e o trabalho
189
H istória
8o ANO
3o TERMO
Caro(a) estudante,
Este Caderno será dedicado ao século XX. Após ter estudado o feudalismo e a formação e desenvolvimento do capitalismo até o século XIX, você vai entrar em contato com
alguns temas da história contemporânea.
Inicialmente, será discutida a 1a Guerra Mundial (1914-1918), assunto ligado ao imperialismo, último tema abordado no Caderno do 7o ano/2o termo. Em seguida, você estudará
a Revolução Russa. Essa revolução política, econômica e social – que eclodiu no final da
guerra – teve grande impacto no mundo todo, e não apenas no Ocidente. Você também verá
que uma revolução resulta sempre de um processo que leva tempo para amadurecer.
Ao final da 1a Guerra Mundial, outras conturbações emergiram no cenário mundial.
A experiência russa, que pretendia instalar um Estado de operários e camponeses para
construir o comunismo, despertou sentimentos contraditórios: inspirou trabalhadores que
queriam seguir esse caminho, ao mesmo tempo que gerou pânico entre aqueles que defendiam a ordem capitalista. Essa conjuntura ficou mais delicada com a crise econômica do
capitalismo, precipitada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929.
Como uma resposta à crise, reforçou-se o papel do Estado nos países capitalistas,
particularmente onde prevalecia a tradição liberal, como nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. Em outros casos, foram instituídos regimes autoritários, como o fascismo italiano, liderado por Benito Mussolini, e o nazismo alemão, comandado por Adolf Hitler.
Quando o nazismo começou a se expandir pela Europa, estourou a 2a Guerra Mundial. Esse conflito envolveu diversas motivações, algumas antigas, como a disputa imperialista, aliada a outras novas, como o anticomunismo. Terminado o confronto, os Estados
Unidos emergiram como uma grande potência, pois a Europa estava fragilizada pelos
esforços de guerra. Além do mais, eles desenvolveram a bomba atômica.
A tecnologia nuclear, logo alcançada também pela União Soviética, fez com que as
duas potências evitassem um confronto direto. Porém, o antagonismo entre o capitalismo
e o socialismo soviético desencadeou o que ficou conhecido na história como Guerra Fria,
influenciando as lutas sociais em vários países do mundo após o fim da 2a Guerra Mundial.
Na Ásia e na África, diversas lutas pelo fim da dominação colonial direta dos países
europeus se tornaram vitoriosas.
Na América Latina, considerada pelos Estados Unidos uma área sob sua influência geopolítica, a Guerra Fria acentuou-se após o triunfo da Revolução Cubana em 1959. Nos anos
seguintes, golpes militares que instalaram ditaduras foram apoiados pelos Estados Unidos,
sob a alegação de combate ao comunismo. Isso aconteceu no Brasil, na Argentina, no Chile,
no Uruguai e no Paraguai, apenas para citar alguns países, interrompendo inúmeros processos de mudança social que questionavam totalmente, ou em parte, o modelo capitalista e
que se configuravam com base em um processo democrático e legal.
Como você pode perceber por essa breve apresentação, o século XX, que será estudado neste Caderno, foi bastante intenso do ponto de vista social, político e econômico, e
definiu o modo como vivemos e organizamos o mundo do trabalho hoje em dia.
Bom estudo!
1
O início do século XX: a 1a Guerra
Mundial e a Revolução Russa
Na primeira parte da Unidade, será apresentada a 1a Guerra Mundial (1914-1918). Na sequência, será analisada a Revolução Russa.
Ao estudar a Grande Guerra, você verá que o desgaste gerado por um
conflito que sacrificava milhões de camponeses e operários provocou
comoções sociais em muitas partes. A mais radical delas foi na Rússia,
onde ocorreu um fato inédito na história: a tomada do poder por
trabalhadores, difundindo um clima de insegurança entre as classes
dominantes no mundo todo.
Na Alemanha, país que contava com o movimento operário mais
avançado do continente, o temor de uma revolução social foi um dos
fatores que precipitaram o final da guerra. Para compreender o significado desses movimentos, será analisado com maior detalhe o que
aconteceu na Rússia.
Para iniciar...
Recorde o percurso do Caderno do 7o ano/2o termo: as primeiras
Unidades concentraram-se na Europa, porque foi nesse continente
que o capitalismo se formou. Ao abordar o imperialismo, a área
geográfica de seu estudo começou a se ampliar, porque o alcance do
próprio capitalismo se estendeu. Como consequência, quando os
países que lideravam a expansão do capitalismo entraram em conflito entre si, envolveram todos os continentes, ainda que o centro
dos acontecimentos tenha sido a Europa. Foi o que ocorreu na
1a Guerra Mundial.
•
Você já tinha ouvido falar dessa guerra? O que sabe a respeito
dela? Quando e onde ela aconteceu?
•
Quais foram os principais países envolvidos nesse conflito?
•
Quais eram os problemas econômicos e políticos da época?
Antecedentes da guerra
A Europa entrou no século XX com um equilíbrio de forças
muito delicado entre os países. As disputas territoriais, a política
75
História – Unidade 1
expansionista e as competições econômicas que haviam caracterizado
o fim do século XIX se acentuavam. Somando-se a isso, as ideologias nacionalistas contribuíam para acirrar os preconceitos étnicos em
todo o continente.
A raiz da tensão que fez eclodir a 1a Guerra Mundial está nesses
interesses conflitantes entre as principais potências europeias, que disputavam a dominação econômica e política de diferentes regiões, na Europa
e em outros continentes.
Por que essas tensões, que existiram por algumas décadas, explodiram em 1914?
No final do século XIX, o equilíbrio político-econômico europeu
era mantido por meio de um elaborado jogo de alianças políticas.
Seu principal articulador foi o chanceler alemão Otto von Bismarck
(1815-1898), que tinha uma reputada habilidade em construir complicados arranjos diplomáticos. Esses acordos evitaram que a tensão
estourasse, mas não diminuíram a “voltagem” da situação. É como
se houvesse muitos fios de alta tensão embaralhados e qualquer um
desencapado pudesse provocar um incêndio.
Durante muitos anos, a diplomacia teve êxito em conter as tensões, mas não pôde diminuí-las. Ao contrário, cresciam na medida em
que os interesses dos países europeus chocavam-se entre si em outros
continentes, em razão das políticas imperialistas praticadas. Em suma,
as disputas econômicas e políticas na Europa eram inflamadas pelo
sentimento nacional, em um arranjo político de delicadas alianças
diplomáticas.
Tal tensão explodiu com o assassinato do arquiduque Francisco
Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, em Sarajevo, em
1914. Seu algoz foi um nacionalista sérvio que protestava contra o
domínio da Áustria-Hungria sobre suas províncias eslavas.
Esse evento provocou o rompimento das frágeis relações diplomáticas vigentes na Europa, e as nações, insufladas por sentimentos
nacionalistas, entraram em conflito. Dessa maneira, o Império Austro-Húngaro aproveitou o atentado contra o arquiduque Francisco
Ferdinando e, dando vazão às suas pretensões de expansão imperialista, declarou guerra à Sérvia.
A Rússia enviou tropas em defesa da Sérvia, motivada pela ideia
da união dos povos eslavos. A Alemanha, aliada do Império Austro-Húngaro, pôs-se ao seu lado. A França, motivada por conflitos
76
História – Unidade 1
© Time Life Pictures/Getty Images
territoriais com a Alemanha na
Europa e em suas colônias na África,
uniu-se aos russos e sérvios. Com
a invasão alemã da Bélgica, usada
como caminho para atacar a França,
a Grã-Bretanha, que já tinha uma
aliança com o país invadido, entrou
na guerra para combater a Alemanha, também motivada por conflitos
com esse país em suas colônias na
África e no Pacífico.
Arquiduque Francisco Ferdinando
momentos antes de ser assassinado.
Atividade 1 Alianças para a 1a Guerra Mundial
1. Localize no mapa a seguir os países que participaram da 1a Guerra
Mundial e suas alianças.
ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 2008, p. 27. Mantida a grafia original.
77
História – Unidade 1
Preencha o quadro a seguir, indicando quais países estavam de
cada lado:
Tríplice Entente
Tríplice Aliança
2. Agora, discuta com seus colegas o que motivou cada país envolvido a entrar na guerra e a escolha por um dos lados do conflito.
Registre as conclusões da turma.
O conflito
A 1a Guerra Mundial foi um conflito de escala sem precedentes
na história. Embora outros confrontos durassem mais anos, nenhum
envolveu tantas pessoas, direta ou indiretamente. Protagonizada por
alguns dos países industriais mais avançados do mundo, a guerra
mobilizou toda a estrutura econômica e social das nações que dela
participavam. Isso significa que, até aquele momento, nunca se havia
lutado com tantos recursos. E esses recursos apoiavam-se em um
desenvolvimento tecnológico que ampliava o alcance e a escala da
destruição. Estima-se que mais de 8,5 milhões de pessoas tenham
morrido na guerra (cf. PBS, disponível em: <http://www.pbs.org/greatwar/
resources/casdeath_pop.html>. Acesso em: 12 nov. 2012.).
Os principais países europeus alinharam-se em dois blocos rivais:
de um lado, formou-se a Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria
78
História – Unidade 1
© Collection Roger-Viollet/Glow Images
e Itália); de outro, a Tríplice Entente (Grã-Bretanha, França e Rússia).
A dinâmica da guerra mostrou um equilíbrio entre o potencial bélico
dos dois campos. Após anos de luta nas trincheiras, o entusiasmo
nacionalista que motivara os primeiros combates foi se esvaziando.
A guerra tornou-se impopular nos diferentes países, convertendo-se em
muitos casos em um grave problema doméstico, em função das insatisfações da população das nações envolvidas.
Batalha de Route de Menin, na Bélgica, durante a 1a Guerra Mundial, em fotografia de 1917. Soldados
britânicos formam as tropas dos “Condados do Norte“, que, em suas trincheiras, aguardavam a ordem
para atacar.
79
História – Unidade 1
Depois de 1917, os Estados Unidos, que até então só participavam
do esforço econômico da guerra, apoiando principalmente os ingleses e
os franceses, entraram no confronto aliando-se à Tríplice Entente. Foi
uma mudança decisiva: a entrada de tropas novas, apoiadas por uma
das maiores potências econômicas mundiais, desempatou a contenda.
Por outro lado, em outubro de 1917, operários e camponeses
tomaram o poder na Rússia, que também participava da guerra. O
exemplo da Revolução Russa tornou-se um estímulo para muitos soldados e operários de outros países e, ao mesmo tempo, foi motivo de
preocupação para diversos chefes de Estado aliados à classe burguesa
dominante.
Você sabia
que a queda do
Império Alemão e o
estabelecimento da
República na Alemanha
foram impulsionados
por uma revolução?
Essa revolução foi
organizada pelo Partido
Social-Democrata
Alemão, com o apoio
dos comunistas e
socialistas – já que
ambos sempre atuaram
na oposição ao regime
imperial –, obrigando o
imperador Guilherme II a
ir para o exílio.
A situação foi particularmente delicada na Alemanha, país
que contava com a organização socialista mais forte da Europa no
começo do século XX, e que estava em contato direto com os russos
nas trincheiras. As pressões exercidas pelo movimento operário alemão, sob influência do que acontecia na Rússia, levaram setores da
classe dominante na Alemanha a favorecer o término da guerra. No
final de 1918, o exército alemão enfrentava crescentes dificuldades,
assim como seus aliados, mas não estava completamente vencido.
Por exemplo, havia tropas alemãs em território francês. Mas, além
da situação militar desfavorável, havia o temor de um desfecho que,
na visão das classes dominantes, seria pior do que a derrota nacional: a revolução social. Com a queda do Império Alemão e a proclamação da República, em novembro de 1918, chegou a seu término
a 1a Guerra Mundial.
O desfecho da guerra
Do ponto de vista econômico, os Estados Unidos emergiram como
a principal potência mundial. Abastecendo alguns dos mais importantes mercados europeus ao longo da guerra, o país crescera muito, sem
sofrer com a destruição doméstica causada por uma guerra que não
atingiu o seu território.
A Europa, que havia sido o centro do capitalismo, passou da condição
de credora à de devedora dos Estados Unidos. Essa situação foi reforçada
pela necessidade de reconstrução do continente nos anos seguintes.
A desmoralização política e militar do Império Russo facilitou o
triunfo da revolução socialista naquele país. A formação da União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que será trabalhada mais à
frente neste Caderno, marcaria o século XX.
80
História – Unidade 1
Europa antes da Primeira Guerra (1914)
Europa depois da Primeira Guerra (1919)
Suécia
Suécia
Oceano
Oceano
Atlântico
Atlântico
Noruega
Noruega
Dinamarca
Dinamarca
Alemanha
Alemanha
França
França
Estônia
Estônia
Itália
Itália
Suíça
Suíça
Alemanha
Alemanha
Bélgica
Bélgica
Luxemburgo
Luxemburgo
Romênia
Romênia
Bulgária
Bulgária
Império
Grécia
Grécia Império
Otomano
Otomano
Albânia
Albânia
Prússia
Prússia
Holanda
Holanda
Rússia
Rússia
Sérvia
Áustria-Hungria
Áustria-Hungria Sérvia
Montenegro
Montenegro
Portugal
Portugal
Noruega
Noruega
Dinamarca
Dinamarca
Holanda
Holanda
Espanha
Espanha
Finlândia
Finlândia
Reino
ReinoUnido
Unido
Reino
ReinoUnido
Unido
Bélgica
Bélgica
Luxemburgo
Luxemburgo
Suécia
Suécia
Oceano
Oceano
Atlântico
Atlântico
Letônia
Letônia
Lituânia
Lituânia
URSS
URSS
Polônia
Polônia
Tchecoslováquia
Tchecoslováquia
Áustria
Áustria Hungria
Hungria
Romênia
Romênia
Itália
Itália
Iugoslávia
Iugoslávia
Bulgária
Bulgária
Suíça
Suíça
França
França
Espanha
Espanha
Portugal
Portugal
Mar
MarMediterrâneo
Mediterrâneo
Grécia
Grécia Turquia
Turquia
Albânia
Albânia
Mar
MarMediterrâneo
Mediterrâneo
Fonte: Veja como a Primeira Guerra mudou o mapa da Europa. Folha Online, 11 nov. 2008. Disponível:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u466294.shtml>. Acesso em: 12 nov. 2012. Mapa original (base cartográfica com
generalização; algumas feições do território não estão representadas). Em 1919, a Prússia ainda não era um estado independente, mas pertencia
ao domínio alemão. Além disso, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) somente se constituiria em 1922 [nota do editor].
Com o fim da guerra, as nações vencedoras reuniram-se na chamada Conferência de Paris, a fim de discutir sobre as condições que
levariam ao estabelecimento da paz na Europa. O principal resultado
desse encontro foi a assinatura do Tratado de Versalhes, que impôs
severas perdas aos alemães, a quem os vencedores atribuíram a responsabilidade pela destruição causada aos adversários durante a guerra.
Para muitos alemães, a assinatura do tratado significou uma humilhação que deveria ser reparada assim que possível. Esse foi um dos
aspectos que favoreceram a ascensão do nazismo, a ser estudada na
próxima Unidade.
81
Reproduzido por Eduardo Dutenkefer, com autorização Folhapress
O desenlace da 1a Guerra Mundial precipitou a queda de diversos impérios. Além do Império Alemão, caíram também os impérios Russo, Turco-Otomano e Austro-Húngaro. Diversos Estados
nacionais nasceram (ou renasceram) como resultado desses desmembramentos, como Polônia, Hungria, Finlândia, Tchecoslováquia e
Iugoslávia. A Turquia e diversos países do Oriente Médio surgiram
em decorrência do esfacelamento do Império Turco-Otomano, que
apoiou a Tríplice Aliança. A Itália, que mudou de lado ao longo do
confronto, não foi atendida em suas reivindicações territoriais ao final
da guerra, o que seria explorado posteriormente pelo fascismo. Os
mapas europeus a seguir mostram tais mudanças.
História – Unidade 1
Atividade 2 O porquê das guerras
1. Você conheceu até agora os vários motivos que levaram à 1a Guerra
Mundial e também as consequências econômicas, políticas, sociais
e psicológicas dessa guerra, sem contar a enorme perda de vidas
humanas e as destruições materiais. Em grupos e tendo como base
o que foi apresentado:
a) Relembrem os motivos que levaram à 1a Guerra Mundial.
b) Realizem uma pesquisa sobre as guerras atuais e comparem-nas com a 1a Guerra Mundial. Os motivos que levaram às
guerras foram os mesmos?
c) Discutam o que a mídia destaca sobre as guerras atuais e vejam se está de acordo com o que já concluíram sobre os motivos das guerras.
d) Apresentem para a turma as conclusões a que vocês chegaram.
2. Aproveitem o momento para refletir e respondam: Há maneiras
pacíficas de povos e nações resolverem os problemas que motivaram
a 1a Guerra Mundial? Em caso de resposta positiva, quais?
A Revolução Russa
Embora a eclosão da Revolução Russa de outubro de 1917 esteja
relacionada à 1a Guerra Mundial, suas raízes são mais profundas e
suas consequências para o mundo foram duradouras. A tentativa de
construir uma sociedade diferente do capitalismo, e que fosse orientada inicialmente por valores comunistas, polarizou a política ao
longo do século XX: as opiniões dividiram-se entre os que se sentiam
estimulados pelo exemplo russo e os que nele enxergaram uma tragédia que deveria ser evitada.
Seu objetivo agora será entender como foi possível acontecer uma
revolução operária na Rússia, um dos países mais desiguais e menos
desenvolvidos da Europa no começo do século XX. Você verá que, ao
contrário do que se possa imaginar, uma revolução não é um acontecimento pontual, mas o desfecho de longos processos históricos.
82
História – Unidade 1
Geralmente, quando falam em Revolução Russa, as pessoas se
referem à revolução mais famosa: aquela que, em outubro de 1917,
pela primeira vez na história, colocou os trabalhadores no poder,
iniciando uma tentativa de construção de uma sociedade comunista.
No caso russo, por exemplo, ocorreram três revoluções entre 1905
e outubro de 1917, quando triunfou o setor mais radicalizado dos
socialistas russos, os bolcheviques.
A seguir, você poderá ter uma ideia geral do conjunto desse processo:
Revolução de 1905: abalou, mas não derrubou as estruturas do
Império Russo, terminando em um banho de sangue.
•
Revolução de fevereiro de 1917: levou à abdicação do czar e ao
fim do Império Russo em plena 1a Guerra Mundial.
•
Revolução de outubro de 1917 (ou Revolução Bolchevique): levou
os bolcheviques, o setor mais radicalizado dos socialistas russos,
ao poder e à criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1922, e, para além desses fatores políticos, eliminou a propriedade privada, coletivizando a produção.
© album/akg/Latinstock
•
Domingo Sangrento: soldados do governo czarista massacraram trabalhadores russos que em 1905 exigiam reformas políticas,
econômicas e sociais.
83
História – Unidade 1
O que era a Rússia no começo do século XX?
O imenso território russo situa-se em dois continentes: o europeu
e o asiático, abarcando uma variedade de etnias. Essa imensa nação
era, no século XIX, uma das mais atrasadas da Europa do ponto de
vista econômico e social. Assim mesmo, a Rússia era considerada uma
potência, como Inglaterra, França, Alemanha e Áustria, por causa de
sua vasta extensão territorial e da unidade política do império, controlado pelos czares.
A maioria da sua população era camponesa e sofria a exploração
dos grandes proprietários rurais, que submetiam essa enorme massa
de trabalhadores à servidão, abolida apenas em 1861. O Império
Russo era considerado uma das monarquias mais conservadoras da
Europa, sob diversos aspectos: pela repressão às liberdades civis; pelo
apoio à exploração do trabalho camponês e operário; pela opressão
às minorias nacionais e aos judeus em seu território; e por ter a Igreja
Ortodoxa como religião oficial.
No entanto, o atraso político e social da Rússia governada pelo
czar não impedia o florescimento de importantes concentrações
industriais, principalmente em torno das cidades de São Petersburgo
e Moscou, sobretudo após a segunda metade do século XIX. Essa
industrialização era muitas vezes baseada em capital estrangeiro
e explorava os abundantes recursos naturais do país. Desse modo,
conviviam na Rússia uma população rural que trabalhava a terra em
condições de atraso técnico e opressão senhorial, e um crescente operariado envolvido com as indústrias mais modernas daquele tempo.
Essa forma de desenvolvimento, que associava a exploração dos
trabalhadores rurais e urbanos sob a dominação despótica do czar,
foi definida por Leon Trotski, um dos principais pensadores e líderes
socialistas, como “desenvolvimento desigual e combinado”. E gerou
agudas contradições sociais, que constituíram o pano de fundo das
revoluções ocorridas na Rússia no começo do século XX, culminando
na Revolução Bolchevique.
O processo revolucionário
Em 1905, manifestações populares massivas atenuaram o despotismo com que o czar governava: um Parlamento foi criado e convocou-se uma Assembleia Constituinte. A monarquia absolutista, na
qual o poder do imperador não tinha limites jurídicos, cedeu lugar
para a monarquia constitucional. Nesse contexto, foi formalmente
admitida a atuação de partidos políticos.
84
História – Unidade 1
Mas essa liberdade durou pouco. Retomando o controle da situação,
o czar voltou a perseguir seus opositores, enquanto os trabalhadores não
encontravam solução para seus problemas. Em 1905, o czar derrotou os
protestos populares, mas os confrontos sociais voltaram a atingir dimensão revolucionária na Rússia no ano de 1917. O país estava envolvido
na 1a Guerra Mundial, que consumia a vida de milhões de camponeses
e operários, mobilizados como soldados. As perdas humanas entre os
russos foram extremamente elevadas, chegando a quase 2 milhões de
pessoas, número superior ao de qualquer outro país aliado da Tríplice
Entente (cf. PBS, disponível em: <http://www.pbs.org/greatwar/resources/
casdeath_pop.html>. Acesso em: 12 nov. 2012.).
O esforço nacional para a guerra infligia crescentes sacrifícios à
população civil, que convivia com desabastecimento alimentar e alto
custo de vida. Ao descontentamento dos trabalhadores somava-se a insatisfação de setores burgueses da sociedade russa, favoráveis a mudanças
liberais. E assim, enfrentando uma difícil situação militar no exterior,
somada à pressão dos trabalhadores e da burguesia liberal no próprio
país, o czar não conseguiu manter-se no poder no momento em que os
protestos sociais se reacenderam com muita força, no início de 1917.
No auge da agitação popular, soldados e trabalhadores invadiram o Palácio Tauride, local onde se reunia a Duma (Parlamento) em
Petrogrado, capital do país naquele tempo. O czar Nicolau II, então,
renunciou, abrindo espaço para a formação de dois organismos que
exerceriam um poder paralelo nos meses seguintes:
o Governo Provisório, constituído por deputados moderados
da Duma;
•
o Soviete (conselho) de Petrogrado, formado por trabalhadores e
soldados de diversas correntes políticas.
atual cidade de São
Petersburgo, capital da
Rússia até 1918, teve
vários nomes?
Após 1914, ela foi
chamada de Petrogrado.
Com a morte do líder
revolucionário russo
Lênin, em 1924, foi
rebatizada como
Leningrado. Em 1991,
com o fim da União
Soviética, retomou seu
nome original.
© Hulton Archive/Getty Images
•
Você sabia que a
Soviete reunido no Palácio
Tauride, em Petrogrado.
85
História – Unidade 1
Enquanto o Governo Provisório, comandado por políticos convencionais, assumia a condução política do país, crescia o prestígio
dos sovietes como expressão legítima do poder dos trabalhadores.
A convivência desses dois órgãos nos meses posteriores à queda
do czar expressava uma dualidade de poderes na sociedade russa:
nenhum dos dois organismos tinha força ou legitimidade para exercer o poder absoluto. No entanto, na medida em que representavam
interesses divergentes, essa dualidade não poderia sustentar-se para
sempre. O que decidiria a situação seria novamente a intervenção do
povo na política.
Em um primeiro momento, o Governo Provisório adotou medidas
liberais, como liberdade de expressão, anistia aos presos políticos,
além de redução da jornada de trabalho para oito horas diárias. Também convocou uma Assembleia Constituinte, que deveria ser eleita no
final do ano por meio do voto universal.
No entanto, havia dois pontos cruciais para o povo russo que o
Governo Provisório se mostrou incapaz de resolver: a reforma agrária
e a retirada do país da guerra. Esses motivos alimentavam a esperança
de que os sovietes, compostos de trabalhadores, pudessem ser um instrumento de mudança social eficaz.
Em meio a essa situação, líderes revolucionários, como Lênin,
aproveitaram-se da anistia concedida pelo Governo Provisório, deixaram o exílio e voltaram para a Rússia. Defendendo a bandeira de
“Paz, terra e pão”, a influência dos bolcheviques crescia sobre os
sovietes, apoiada na relação de confiança que estabeleceram com
organizações operárias sob o czarismo.
Conscientes da debilidade do Governo Provisório e do potencial
dos conselhos de trabalhadores, os bolcheviques estimularam a formação de sovietes de soldados, camponeses e operários por todo o
país. Eles fizeram isso porque vislumbraram uma possibilidade de
revolução inédita na história da humanidade: uma sociedade governada diretamente pelos trabalhadores, na qual o poder seria exercido em especial por meio desses conselhos. Fortaleceu-se, então, uma
segunda bandeira revolucionária: “Todo poder aos sovietes”. O prestígio dos bolcheviques nos sovietes crescia a cada mês.
Em agosto de 1917 houve uma tentativa de golpe militar na Rússia, que só pôde ser barrada pela atuação decidida dos sovietes. Como
resultado do fracasso do golpe, duas coisas ficaram claras para os
revolucionários: a debilidade do Governo Provisório e a força dos
86
História – Unidade 1
sovietes. Assim, naquele momento, sob a liderança dos bolcheviques,
os sovietes começaram a articular uma ação para a tomada efetiva
do poder, realizada em 25 de outubro daquele ano. Nesse dia, tropas
populares lideradas por Trotski ocuparam os principais edifícios da
capital e o governo provisório foi obrigado a renunciar.
Era o fim da dualidade de poder e, pela primeira vez na história, uma
revolução de operários e camponeses assumia o comando de um país.
Atividade 3 Os sovietes
Baseado no texto a seguir, discuta com seus colegas qual foi a
importância dos sovietes no desenvolvimento da Revolução Russa.
Registre no caderno algumas das conclusões.
A história dos sovietes
O Estado dos Sovietes baseou-se nos Sovietes – ou Conselhos – dos operários
e camponeses.
Estes conselhos – instituição característica da Revolução Russa – fizeram a
sua aparição em 1905, quando, durante a primeira greve geral dos operários,
as fábricas de Petrogrado e as organizações sindicais enviaram delegados a um
comitê central.
Este comitê de greve foi chamado de “Conselho dos Deputados Operários”. Ele
organizou no fim de 1905 a segunda greve geral, enviou emissários através de
toda a Rússia e, durante um breve espaço de tempo, foi reconhecido pelo governo
imperial como órgão oficial e autorizado da classe operária revolucionária russa.
Quando a Revolução de 1905 fracassou, uma parte dos membros do Conselho
pôs-se em fuga enquanto os outros foram enviados para a Sibéria. Mas este tipo
de organização unitária mostrou-se tão extraordinariamente eficaz, enquanto
organismo político, que todos os partidos revolucionários incluíram um Conselho
dos Deputados Operários no seu programa para a próxima sublevação.
Em março de 1917, quando, perante toda a Rússia agitada como um mar em
fúria, o czar abdicou, o grão-duque Miguel renunciou e a frágil Duma [Parlamento]
foi forçada a tomar nas mãos as rédeas do governo, o Conselho dos Deputados
Operários surgiu de novo, completamente estruturado. Em poucos dias, ampliou-se de modo a incluir também delegados do exército e passou a chamar-se “Conselho dos Deputados Operários e Soldados”. Por outro lado, o Comitê da Duma
era composto – com a exceção de Kerenski – por burgueses e não tinha qualquer relação com as massas revolucionárias.
[...] pouco depois formaram-se Sovietes de camponeses. [...]
REED, John. A história dos sovietes. In: Como funcionam os sovietes (Escrito entre 1918-1919).
Centro de Mídia Independente. Disponível em: <http://www.midiaindependente.org/pt/
blue/2004/07/286750.shtml>. Acesso em: 12 nov. 2012.
87
História – Unidade 1
A Rússia revolucionária
Os revolucionários russos que assumiram o poder em outubro de
1917, liderados por Lênin, defendiam um projeto político inspirado
nas ideias de Karl Marx, crítico radical do capitalismo. Como substituição ao sistema econômico capitalista, eles propunham a construção de uma sociedade comunista, sem patrões nem empregados, sem
propriedade privada e sem Estado, como um projeto para o mundo, e
não somente para um país.
No entanto, você também viu, no Caderno do 7o ano/2o termo, que
não se imaginava a construção do comunismo como uma realização imediata, do dia para a noite, mas como um longo processo histórico, que
poderia durar séculos, tal qual havia sido a passagem do feudalismo para
o capitalismo. A transição entre o capitalismo e o comunismo, na visão
original dos revolucionários russos, seria o socialismo, que apresentaria
elementos da sociedade passada (o capitalismo), com outros da sociedade
futura (o comunismo).
O Estado socialista, ao invés de desaparecer, concentraria os meios de
produção, que anteriormente pertenciam aos capitalistas. Em outras palavras, o Estado seria o principal proprietário de terras, fábricas, bancos
etc., representando os interesses dos trabalhadores, e não dos capitalistas.
No quadro a seguir, foram esquematizadas as diferenças entre capitalismo e comunismo, bem como a proposta imediata para o socialismo.
Capitalismo
Comunismo
Socialismo
Propriedade privada dos
meios de produção.
Propriedade coletiva, ou comum,
dos meios de produção.
Propriedade estatal dos meios de
produção gerida por trabalhadores.
Estado burguês.
Governo econômico, social e
político dos trabalhadores, por
meio de cooperativas, conselhos e
associações de livres produtores.
Estado dos trabalhadores.
Divisão da sociedade em classes.
Fim das classes sociais:
todos são produtores.
Expropriação dos capitalistas e
divisão dos recursos por meio de
serviços públicos do Estado.
Com o triunfo da revolução, os bolcheviques, fiéis a esses ideais,
imediatamente propuseram:
•
88
uma reforma agrária, expropriando as grandes propriedades e dividindo a terra entre os camponeses pobres;
História – Unidade 1
•
a estatização dos bancos e das fábricas, incluindo empresas estrangeiras;
•
o controle direto das fábricas pelos operários;
•
a negociação da paz com os alemães e a retirada dos russos da guerra.
Como se pode perceber, a Revolução de Outubro indicava uma
ruptura não somente com a Rússia imperial, mas com o próprio capitalismo. Por esse motivo, seu ideário tinha consequências que ultrapassavam as fronteiras russas: o triunfo dos bolcheviques sinalizava
aos trabalhadores de todo o mundo que era possível tomar o poder.
© Mary Evans/Diomedia
Os próprios bolcheviques tomaram a iniciativa de formar uma
organização com o objetivo de reunir os Partidos Comunistas do
mundo inteiro, visando trabalhar por uma revolução mundial. Essa
organização foi conhecida como a III Internacional.
Mesa diretora da abertura
do Congresso da
III Internacional em Moscou.
Entre os participantes estava
Lênin, o terceiro da esquerda
para a direita.
É evidente que a vitória dos bolcheviques preocupou as nações
capitalistas do mundo inteiro, inclusive aquelas envolvidas na
1a Guerra Mundial. Lembre-se de que a agitação operária na Alemanha foi um fator que influenciou a retirada desse país da guerra, em um
momento em que seu exército ainda não estava militarmente derrotado.
O medo de que o exemplo da Rússia pudesse espalhar-se para além das
fronteiras russas não apenas encorajou o final da guerra, como também estimulou muitos países, que até então lutavam entre si, a enviar
tropas contra a Revolução de Outubro.
89
História – Unidade 1
Assim, os bolcheviques não tiveram uma trégua. Antes mesmo de que
se encerrasse a 1a Guerra Mundial, a revolução precisara formar um exército popular, conhecido como Exército Vermelho, para enfrentar os contrarrevolucionários russos que sustentavam o Exército Branco, que era
apoiado por ingleses, estadunidenses, franceses e japoneses, entre outros.
Com a intenção de defender a revolução, os bolcheviques orientaram a produção industrial e agrícola para o esforço de guerra, o que
fez com que a população civil sofresse terríveis privações. Em muitos
casos, o governo revolucionário enfrentou um dilema: para assegurar
a eficiência no combate à contrarrevolução, precisava centralizar decisões e implementá-las com rigorosa disciplina. Isso colocava em risco,
muitas vezes, os princípios democráticos da revolução. No entanto,
para os bolcheviques, tratava-se de uma questão crucial: não haveria
chance de democracia se a revolução fosse derrotada.
Em 1921, consumou-se a vitória do Exército Vermelho. A revolução havia sobrevivido. No entanto, o país estava arrasado: plantações
foram queimadas, cidades foram destruídas e muitas vidas, ceifadas.
O governo revolucionário deveria enfrentar então o desafio de, em um
contexto de hostilidade mundial, reconstruir uma sociedade devastada.
Fica a dica
Doutor Jivago (Doctor
Zhivago, direção de
David Lean, 1965). O
filme é baseado no livro
homônimo do escritor
russo Boris Pasternak,
um crítico da Revolução
de Outubro.
Reds (Reds, direção de
Warren Beatty, 1981).
Esse filme conta a
história do jornalista
americano John Reed.
Ele estava na Rússia
quando estourou a
Revolução de Outubro e
escreveu o famoso livro
Os dez dias que abalaram
o mundo, simpático
ao movimento.
90
Essa não seria uma tarefa fácil. Com a morte de Lênin, em 1924,
o país perdeu sua liderança revolucionária indiscutível. E com a progressiva ascensão do líder revolucionário Josef Stálin, que se tornou
secretário-geral do Partido Comunista quando Lênin ainda estava
vivo, o processo revolucionário russo avançaria em uma direção diferente daquela prevista por seus idealizadores. A utopia da revolução
mundial deu lugar a uma política de defesa dos interesses do novo
país, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Nas políticas econômicas internas, investiu-se no desenvolvimento
industrial e na mecanização do campo. Visto por esse ângulo, o
regime liderado por Stálin foi um sucesso: em pouco tempo, a União
Soviética tornou-se uma potência econômica mundial. Mas, do ponto
de vista social, pagou um alto preço por isso: a realização dos programas do governo muitas vezes contrariou os trabalhadores e os ideais
comunistas. O Estado tornou-se uma estrutura opressora e o regime
stalinista perseguiu implacavelmente seus dissidentes.
Assim, a experiência do chamado “socialismo real” acabaria distanciando-se de seus propósitos originais. Apesar disso, a União Soviética seria, ao longo do século XX, uma referência para trabalhadores e
intelectuais no mundo inteiro, que acreditavam na necessidade de construção de uma sociedade diferente da capitalista. E foi também uma
referência negativa para aqueles que temiam uma revolução social e
que combateram a experiência soviética de todas as maneiras possíveis.
História – Unidade 1
Conforme visto nos Cadernos anteriores, o Estado constituiu-se com base na concentração do poder político nas mãos de um monarca absoluto. Após sua consolidação,
tornou-se objeto de disputa de diferentes grupos e classes sociais que pretendiam assumir
o governo da sociedade em que viviam. Assim, dependendo da orientação ideológica e
dos interesses dos grupos que assumem o poder, a máquina estatal pode ser usada para
implementar preferencialmente certas políticas em detrimento de outras.
Se, por exemplo, a classe burguesa estiver no poder, a tendência é que o Estado
seja usado para garantir a proteção da propriedade privada e promover o livre mercado, bem como garantir determinados direitos civis, e talvez políticos. Se, no entanto,
o Estado estiver sob orientação socialista, provavelmente o governo promoverá o que
conhecemos como direitos econômicos e sociais, defendendo os interesses do trabalhador por meio da promoção de serviços públicos de qualidade, como saúde, educação e
assistência social, bem como regulando o mercado de acordo com as necessidades da
maioria da população, estipulando e controlando salários e turnos de trabalho, juros
e câmbio, entre outros.
Nas sociedades democráticas, nas quais os poderes Legislativo e Executivo definem o
rumo político da sociedade pela votação de leis e estipulação de políticas a serem implementadas, tende a haver maior pluralidade de grupos e classes sociais no poder político.
Por isso o aparato estatal é usado em diferentes direções, tanto mais opressivas como
mais promotoras dos interesses coletivos.
Atividade 4 As consequências mundiais da revolução
A Revolução Russa, primeira revolução que levou a classe trabalhadora ao poder, influenciou intelectuais, partidos, movimentos
sociais e outras organizações políticas no mundo inteiro. Ainda que
tenha seguido rumos diferentes daquele inicialmente planejado por
seus primeiros líderes, essa revolução ficou marcada na história como
a principal ameaça ao sistema capitalista vigente, fazendo polarizar a
política no mundo inteiro ao longo do século XX.
1. Pesquise partidos, movimentos sociais e outras organizações
políticas, do Brasil e do mundo, que foram influenciados pela
Revolução Russa.
2. Debata com seus colegas, na sala de aula, se os motivos e as práticas
dessa revolução ainda fazem sentido no mundo de hoje e por quê.
91
História – Unidade 1
Você estudou
As causas da 1a Guerra Mundial (1914-1918) estão vinculadas à concorrência entre
as nações no contexto da expansão do capitalismo pelo mundo. Ou seja, estão relacionadas ao imperialismo. O delicado sistema de alianças cultivado pelo chanceler alemão
Bismarck no final do século XIX foi eficaz para adiar as hostilidades entre as nações
europeias, mas não para acabar com elas. Quando o confronto finalmente eclodiu, em
1914, os países envolvidos comprometeram seus recursos humanos e econômicos em um
esforço de guerra total, alimentado pelo nacionalismo. A consequência foi uma destruição territorial e humana sem precedentes na história mundial.
Após alguns anos de enfrentamento, nenhum dos blocos inimigos conseguiu se impor ao
adversário. O impasse bélico foi desfeito por uma conjunção de dois fatores: do ponto de vista
militar, a entrada dos Estados Unidos na guerra desequilibrou a correlação de forças contra os
alemães. Do ponto de vista social, o triunfo da Revolução Bolchevique na Rússia encorajou
movimentos de trabalhadores em todo o mundo, principalmente na Alemanha, país em que a
organização socialista tinha grande força. Com a queda do Império Alemão e a proclamação
da República, a guerra chegou ao fim. No entanto, perdas impostas aos alemães pelo Tratado
de Versalhes não assegurariam uma paz duradoura no continente europeu.
Você estudou que a famosa Revolução de Outubro, liderada pelos bolcheviques,
foi na realidade o resultado de três revoluções: em 1905, o protesto dos trabalhadores
foi frustrado, mas conseguiu o estabelecimento da monarquia constitucional; no início
de 1917, caiu o czar, mas o Governo Provisório foi incapaz de resolver os problemas
relacionados à necessidade de uma reforma agrária e ao fim da participação russa na
1a Guerra Mundial; em outubro de 1917, os bolcheviques tomaram o poder, instituindo
o primeiro Estado comandado por trabalhadores na história.
Após uma guerra civil que exauriu o país, a revolução sobreviveu. Consumida pelo
esforço de guerra, a sociedade russa foi incapaz de consumar o ideário revolucionário
original, progressivamente deturpado pela ascensão de Stálin ao poder.
Pense sobre
A destruição causada nos territórios e nas sociedades envolvidas na 1a Guerra Mundial motivou a formação da Liga das Nações, organização internacional que deveria impedir a eclosão de
confrontos similares. No entanto, ela foi impotente para evitar que, poucos anos depois, eclodisse
a 2a Guerra Mundial. A Liga foi dissolvida em 18 de abril de 1946, mas sua experiência foi uma
referência para a formação da atual Organização das Nações Unidas (ONU).
Na sua percepção, a ONU tem feito um trabalho eficaz para o estabelecimento da paz
mundial e a efetivação dos direitos humanos?
92
2
O período entreguerras
Nesta Unidade, você estudará um período turbulento da história
mundial: os anos entre a 1a e a 2a Guerra Mundial. Na Unidade anterior, você pôde ver que as causas da 1a Guerra estavam vinculadas ao
imperialismo, que, por sua vez, foi um desenvolvimento do próprio
capitalismo. Você aprendeu também que, depois de alguns anos de
confronto, triunfou na Rússia uma revolução que se opunha ao sistema capitalista. Ao final da 1a Guerra Mundial, em 1918, as potências capitalistas não resolveram suas desavenças; ao contrário, estas
ficaram mais complexas.
Para que você possa compreender esse momento da história, a Unidade será dedicada, inicialmente, ao estudo da crise do capitalismo, em
1929. Em seguida, será analisada a ascensão dos regimes fascistas, que
logo colocariam a Europa novamente no centro de um conflito mundial.
Para iniciar...
O triunfo da Revolução Russa concretizou uma ameaça que sempre assombrou a disputa pela hegemonia entre os países capitalistas:
a revolução social. Na configuração do mundo no período pós-guerra, a Rússia – esse novo país, que se considerava uma república
de operários e camponeses – era vista por alguns como um exemplo a
ser seguido e, por outros, como um perigo a ser evitado.
Assim, o período que antecede a eclosão da 2a Guerra Mundial,
em 1939, foi marcado por três fenômenos relacionados entre si,
embora essa conexão nem sempre seja fácil de enxergar:
•
a crise econômica do capitalismo, que teve seu marco central na
quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929;
•
a ascensão de regimes totalitários em diversos países da Europa,
como a Itália fascista de Mussolini e a Alemanha nazista de Hitler;
•
a consolidação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS),
em 1922, que, nos anos seguintes à revolução, foi liderada por Stálin.
Hegemonia
Segundo o filósofo
e cientista político
Antonio Gramsci,
hegemonia pode ser
entendida como o
controle e a direção
político-ideológica
de uma classe/grupo
dirigente sobre o
restante da população,
colocando esta última
a serviço dos interesses
socioeconômicos da
primeira, buscando
aprovação, em toda
a sociedade, de sua
concepção de mundo
até esta concepção se
tornar senso comum.
O que você sabe sobre o contexto econômico, político e social do
período entreguerras na Europa? Quais foram as consequências dessa
conjuntura para o resto do mundo?
93
História – Unidade 2
A Europa depois da 1a Guerra Mundial
O final da 1a Guerra Mundial não trouxe a paz para a Europa.
Embora tenha havido mudanças entre 1914 e 1918, os pontos de tensão
entre os países permaneceram e elementos novos, alguns dos quais serão
comentados a seguir, predispunham ao surgimento de futuros conflitos.
Você viu que o final da guerra foi precipitado na Alemanha pela
ascensão do movimento operário, ao mesmo tempo que a vitória dos
bolcheviques na Rússia era um estímulo revolucionário. A agitação
social da época não foi restrita a esses países: na Hungria e na Itália
também eclodiram movimentos de trabalhadores que colocavam em
risco o próprio capitalismo.
© Coleção do Arquivo Histórico do Movimento Operário Brasileiro/Instituto Astrojildo Pereira
Na Itália, os operários assumiram o controle de diversas fábricas, que seriam comandadas temporariamente
por “conselhos de operários”. Na Hungria, os comunistas
chegaram a tomar brevemente o poder em 1919, proclamando a República Soviética da Hungria.
Embora ambas experiências tenham sido derrotadas, elas
eram uma expressão clara da agitação que os trabalhadores
de outros países experimentaram com a vitória dos bolcheviques. Outro indício desse entusiasmo foi a fundação de partidos comunistas pelo mundo nos anos seguintes à Revolução
Russa, como o Partido Comunista do Brasil, em 1922.
Mesmo em países onde a pressão dos trabalhadores
não era suficientemente forte para ameaçar o capitalismo,
houve mudanças significativas com o final da 1a Guerra
Mundial. Você observou que vários impérios ruíram,
como o Turco-Otomano e o Austro-Húngaro, além dos
casos russo e alemão. Em todas essas situações, monarquias cederam lugar para repúblicas.
Capa do documento do II Congresso do PCB,
partido fundado em 1922.
94
Esses impérios abrigavam diversas nacionalidades, e
muitas delas tiveram sucesso em seu esforço para se tornar países independentes. Veja alguns exemplos:
Situação antes da 1a Guerra Mundial
Estados que se desmembraram após a guerra
Império Turco-Otomano
Turquia, Síria, Iraque, Líbano, Palestina e Transjordânia
Império Austro-Húngaro
Áustria, Hungria, Tchecoslováquia, Iugoslávia
e parte do território da Romênia
Império Alemão
Alemanha (perdeu territórios para a França, Bélgica e Polônia)
Império Russo
Rússia, Finlândia, Lituânia, Estônia, Letônia
e parte do território da Polônia
História – Unidade 2
Apesar dessas importantes mudanças na Europa, as novas nacionalidades não triunfaram em todos os casos: o princípio de autodeterminação dos povos, isto é, a capacidade e o direito de os povos definirem a si mesmos e escolherem o caminho que querem tomar, não foi
considerado para as nacionalidades colonizadas ao redor do mundo,
principalmente na Ásia e na África. A luta pela independência de muitos destes povos eclodiria com violência depois da 2a Guerra Mundial.
Os Estados Unidos após a 1a Guerra Mundial
Ao final da guerra, a destruição ocorrida no continente europeu
ofereceu oportunidades de investimento para os Estados Unidos, que
tiveram seu território preservado das batalhas. Assim, a economia desse
país viveu um período de forte expansão após a
Você sabia que em 2007 foi desencadeada uma
1a Guerra Mundial. Entre 1926 e 1929, ele era
grave crise nos países mais desenvolvidos e que
responsável por 42,2% da produção mundial de
afetou todo o mundo?
produtos industrializados, o maior consumidor de
Assim como em 1929, essa crise iniciada em 2007
atingiu um dos lugares-símbolos do capital financeiro
petróleo e o primeiro produtor mundial de carmundial: a rua conhecida como Wall Street, o centro
vão, eletricidade, aço e ferro fundido. Além de ser
financeiro de Nova Iorque.
o maior exportador do mundo, cresciam os investimentos de empresas estadunidenses no exterior.
No entanto, essa euforia acabou em 1929,
com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, provocando uma crise no sistema capitalista que afetou diversos países do mundo.
Essa não foi, contudo, a primeira e nem
a última crise econômica mundial. De modo
geral, há duas linhas de interpretação sobre as
crises no capitalismo:
•
algumas procuram as causas imediatas que
a desencadearam, ou seja, os fatores conjunturais por trás da crise;
•
outras atribuem suas causas à dinâmica do
capitalismo, sublinhando os aspectos estruturais da crise.
© Craig Ruttle/AP Photo/Craig Ruttle/Glow Images
Outra decorrência já mencionada da 1 a Guerra Mundial foi a
afirmação dos Estados Unidos como principal potência capitalista do
planeta. A economia desse país foi fortemente estimulada durante o
confronto, porque ele fornecia às nações envolvidas diretamente na
luta mercadorias que elas tinham dificuldades em produzir.
Manifestação do movimento Occupy em Wall
Street, Nova Iorque, em 2011.
Em 2011, Wall Street foi palco de manifestações que
contagiaram o mundo: o chamado Occupy (ocupar,
em inglês). O lema do movimento é uma cifra: “99%”,
que tem a intenção de chamar a atenção para a
concentração de renda no planeta. O movimento
considera que 1% da população decide os rumos
financeiros do mundo e seria responsável por crises
que afetam os demais 99%.
95
História – Unidade 2
Atividade 1 Crise capitalista hoje e ontem
A Crise de 1929, que começou nos Estados Unidos, foi uma crise
financeira de cunho internacional que causou desespero e pobreza
para muitas nações. Nos anos de 2007 e 2008 vivenciou-se, também nos Estados Unidos, outra crise financeira que afetou o mundo
inteiro, inclusive o Brasil.
Faça uma pesquisa utilizando revistas, jornais e outros materiais
sobre essas e outras crises que muitos especialistas consideram típicas
do capitalismo. Descubra suas principais características, veja o que
elas têm em comum e responda em seu caderno: O que caracteriza as
crises capitalistas em geral?
O estopim da Crise de 1929
O que causou esta crise? E por que ela se alastrou pelo mundo?
Você estudou que os Estados Unidos emergiram como principal
potência econômica mundial ao final da 1a Guerra Mundial. O investimento na reconstrução europeia favoreceu essa expansão, aumentando os vínculos entre as economias dos dois lados do Atlântico.
Em virtude do crescimento econômico dos Estados Unidos, a presença estadunidense nos negócios intensificou-se, não somente na
Europa, mas no mundo inteiro. No entanto, no final dos anos 1920,
havia sinais de recuperação da capacidade produtiva europeia, o que
diminuía sua dependência dos Estados Unidos.
Trabalho
7o ano/2o termo
Unidade 2
Internamente, a prosperidade dos EUA deveu-se a novas tecnologias que ampliaram a capacidade produtiva das indústrias. Contudo,
se o crescimento dos Estados Unidos gerava riqueza, também aumentava a concentração de renda e o desemprego, fatores que diminuíram
a capacidade de consumo da população.
Essa circunstância foi agravada por operações na Bolsa de Valores que fizeram os preços das ações subir artificialmente, isto é,
acima das possibilidades reais de lucro das empresas. Essas operações são conhecidas como especulação financeira.
Por sua vez, os especuladores não levavam em consideração a
realidade econômica das empresas que disponibilizavam suas ações
para compra e venda. Muitas pessoas investiram bastante dinheiro
em ações de empresas que entraram em crise e faliram, e, dessa
maneira, esses investidores faliram com as empresas. Isso gerou
desespero em milhares de pessoas que dependiam das aplicações
financeiras para sustentar seus negócios. Assim, com a queda da
Bolsa de Valores, toda a sociedade foi financeiramente atingida.
96
© Mary Evans/Diomedia
História – Unidade 2
Com a quebra da Bolsa de Nova Iorque, pessoas correram aos bancos para tentar resgatar suas aplicações.
Fica a dica
Loucura americana
(American madness,
direção de Frank Capra,
1932). O filme narra o
momento da Crise de
1929 sob o ponto de
vista de um diretor de
banco. Ele sofre enorme
pressão em virtude da
crise que assola o país e
que, por consequência,
afeta o banco em que
ele trabalha.
As vinhas da ira (The
grapes of wrath, direção
de John Ford, 1940).
Nesse filme, o ponto
de vista é o de uma
família de trabalhadores
rurais que busca
novas oportunidades,
mas depara com
as dificuldades
provenientes do
momento da crise.
Atividade 2 Taylorismo, fordismo e a Crise de 1929
O taylorismo e o fordismo constituíram o típico modo de produção
capitalista, orientados para a produção em série na perspectiva de agilizar o processo produtivo, visando a maior lucratividade. No entanto,
muitas vezes, a produção é excessiva e não há demanda ou consumo
suficiente, o que gera uma crise de “superprodução”. Essa crise acontece da seguinte maneira: a empresa capitalista entra em crise e, no
limite, pede falência, porque não consegue vender tudo o que produziu.
Com isso, demite seus trabalhadores. Estes, por estarem desempregados, não consomem também os produtos de outras empresas, que
também decretam falência e demitem mais trabalhadores. E, assim,
sucessivamente, até que toda a sociedade entra em crise.
Trabalho
7o ano/2o termo
Unidade 2
Baseando-se nessas informações, qual é a relação entre esse modo
de produção capitalista e a Crise de 1929?
97
História – Unidade 2
Da crise econômica para a crise social
Os Estados Unidos eram os maiores exportadores do mundo, responsáveis por mais de 40% da produção industrial e com negócios espalhados por todo o planeta. Vários países tinham suas economias dependentes da economia estadunidense, isto é, vendiam para esse país muito
do que produziam e dele importavam boa parte do que precisavam.
Isso significou que, quando os Estados Unidos, em função da crise
econômica pela qual passavam, não puderam mais consumir os produtos desses países e nem fornecer-lhes suas mercadorias, todos foram
atingidos economicamente.
Geografia
7o ano/2o termo
Unidade 2
Foi o que aconteceu, por exemplo, no Brasil, que na época usava
grande parte das suas terras produtivas e da sua força de trabalho
para plantar café para os Estados Unidos. Portanto, quando eles pararam de comprar café, muitos proprietários brasileiros faliram e muitos trabalhadores ficaram sem emprego. Assim, a crise desencadeada
naquele país significou uma crise no capitalismo mundial.
O efeito imediato dessa crise foi a recessão econômica, que causou a
falência de vários negócios e o aumento do desemprego. Fábricas foram
fechadas, enquanto banqueiros tomavam as terras dos agricultores, que
não conseguiam quitar suas dívidas com os bancos.
Os trabalhadores procuraram resistir e a agitação generalizou-se,
não apenas nos Estados Unidos, mas em muitos outros países: a crise
econômica converteu-se em uma grave crise social.
© Bettmann/Corbis/Latinstock
Tentativas de saída da crise
Diante dessa situação, os
países afetados pela crise adotaram políticas que tinham um
fundo comum: a intervenção
do Estado na economia. Isso
ocorreu mesmo onde prevalecia a tradição liberal, como nos
Estados Unidos e na Inglaterra.
Desempregados e famintos em Detroit, Michigan, em 1930. Trabalhadores sem
ocupação recebiam doação de sopa nos EUA na época da crise.
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Nos Estados Unidos, com a
vitória do candidato democrata
Franklin Roosevelt nas eleições
de 1932, foi implantado o programa conhecido como New
Deal (em português, “Novo
Acordo”). Sua proposta central
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foi a de reativar a economia por meio da iniciativa do Estado. Realizaram-se, dessa forma, inúmeras obras públicas, visando empregar
trabalhadores e injetar dinheiro na produção, ao mesmo tempo que se
ofereciam créditos e energia barata para os agricultores. Depois de alguns
anos, o New Deal conseguiu melhorar a situação econômica do país.
No entanto, seria somente no final da década de 1930, com o
estímulo econômico gerado pela 2a Guerra Mundial, que a economia
estadunidense voltaria a crescer aceleradamente e o desemprego deixaria de ser um problema socioeconômico.
Embora muitos países adotassem medidas similares às dos Estados Unidos, as decisões políticas nem sempre foram tomadas em
uma direção democrática. Alemanha e Japão, por exemplo, eram
países relativamente pobres em reservas internacionais e em matérias-primas, e não tinham colônias para explorar. Dispunham, portanto, de menos alternativas para lidar com a crise e com a crescente
insatisfação popular.
Nesses países, na década de 1930, consolidaram-se governos
ditatoriais que mobilizaram parte significativa da população em
nome de um expansionismo militar agressivo, que logo provocaria
a 2a Guerra Mundial.
Fascismo e nazismo
Muitas pessoas que se interessam por história habituaram-se a
enxergar no nazismo e na sua liderança principal, Adolf Hitler, um
fenômeno excepcional na história europeia e mundial.
No entanto, nem todos sabem que o tipo de regime adotado por
Hitler na Alemanha não foi inventado por ele, mas inspirado, em
muitos aspectos, em uma experiência que acontecia na Itália desde
os anos 1920: o fascismo. Muitos países europeus, nesses anos, apresentaram regimes políticos semelhantes a esses dois casos: Espanha,
Portugal, Romênia, Grécia, Albânia e Polônia são alguns exemplos
que podem ser citados.
A constatação de que muitas nações europeias conheceram movimentos políticos similares ao fascismo italiano e ao nazismo alemão
exige que se examinem não somente os aspectos particulares da Alemanha de Hitler, mas também que se busquem pistas para entender o
fenômeno em seu conjunto.
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Atividade 3 O poder da coletividade
1. Em pequenos grupos, discuta com seus colegas as seguintes questões:
a) Quais grupos organizados você conhece?
b) Você participa, ou já participou, de algum grupo organizado e
até uniformizado? Por que você decidiu fazer parte desse grupo?
Fascismo
É um movimento
social e político que se
originou na Itália entre
as décadas de 1910 e
1920 sob a liderança
de Mussolini. Ao longo
das duas décadas
seguintes, expandiu-se
por vários países da
Europa, chegando, em
alguns casos, a tomar
o poder do Estado e
se impor como regime
político, com apoio
de elites tradicionais
conservadoras, de parte
das forças armadas e
mesmo de trabalhadores
que se viam ameaçados
pela crise econômica
da época. Caracteriza-se principalmente
pelo anticomunismo,
descrença na
democracia, uso da
violência como forma
de se impor sobre
seus opositores,
preconceito e
perseguição em relação
às minorias étnicas,
e ultranacionalismo.
Esse regime, quando
instaurado, promoveu a
recuperação econômica
baseada na militarização
da nação e na guerra,
na repressão às
organizações autônomas
dos trabalhadores
(o controle policial
dos sindicatos e das
reivindicações dos
trabalhadores) de forma
a permitir o avanço
capitalista.
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c) Quando está com esse grupo, você se sente mais fortalecido
para expressar uma ideia que defende ou reivindicar algo?
2. Procure saber quem foram os Camisas Negras da Itália fascista e
os Camisas Pardas da Alemanha nazista. Você consegue fazer alguma ligação entre esses dois grupos e as questões sobre as quais
acabou de discutir com seus colegas?
Fascismo italiano
No final da 1a Guerra Mundial, havia na Itália uma intensa agitação operária. Diversas fábricas foram ocupadas por trabalhadores, principalmente em Turim, centro industrial do país. Impulsionados pela Revolução Russa, os operários italianos radicalizavam-se,
enquanto os deputados socialistas ocupavam um terço do Parlamento. Naquele momento, em que o país parecia estar à beira da
revolução social, o fascismo oferecia, aos olhos dos setores burgueses,
ou a eles vinculados, uma alternativa.
Desse modo, o fascismo iniciou-se no país antes mesmo do final
da 1a Guerra Mundial e cresceu vertiginosamente com a intensa agitação social na Itália do pós-guerra. Seu principal líder foi Benito
Mussolini, um ex-militante socialista, expulso do partido por apoiar
a entrada da Itália na Grande Guerra.
Os Camisas Negras
A crise que se abatia sobre o país levou muitas pessoas a procurarem um “bode expiatório” no qual jogar a culpa. Os alvos visados
foram os trabalhadores organizados que defendiam o socialismo e o
comunismo como alternativas àquele Estado. A principal novidade política do fascismo foi a capacidade de mobilizar as massas em sentido
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contrário ao das organizações convencionais de trabalhadores. Em
outras palavras, Mussolini parece ter aprendido que o movimento de
massas era uma força social considerável, mas que poderia ser utilizada contra os socialistas.
Além disso, o líder fascista percebeu que os homens, quando
reunidos e uniformizados em prol de uma ideia, eram capazes de
atos de violência que dificilmente cometeriam sozinhos. Para que
se tenha uma visão aproximada do que isso significa, atualmente
é possível visualizar as brigas de torcidas organizadas de futebol.
Mas, no caso do fascismo, o alvo da violência dos Camisas Negras
eram os socialistas e os comunistas.
Socialista e comunista
Se a princípio o fascismo foi visto com desdém pelos poderosos
italianos, ao longo da década de 1920 muitos deles passaram a apoiar
o movimento. Já em 1922, após uma ameaça de marchar com os Camisas Negras em Roma, Mussolini assumiu a liderança de um governo de
coalizão apoiado pelo Partido Popular, um tradicional reduto católico.
Apesar de você
ter estudado que,
teoricamente, o
socialismo era
considerado a etapa
de transição até o
comunismo, na prática,
na Europa e em outras
partes do mundo,
aqueles que lutavam
contra o capitalismo nem
sempre concordavam
quanto ao método de
transformação dessa
sociedade, nem sobre
como organizar a
nova sociedade dos
trabalhadores. Com isso,
para se diferenciarem
entre si, uns se
denominavam socialistas,
e outros, comunistas.
© Schirner Sportfoto/picture-alliance/Easypix
A base social do fascismo não eram os trabalhadores, porque suas
organizações de classe eram silenciadas. A base eram os desempregados do campo e da cidade, que muitas vezes encontravam no fascismo
uma identidade social e a forma de ganhar a vida, pois, em geral,
recebiam um salário por atuar como militantes. Os pequenos-burgueses, que manejavam negócios de pouco volume e eram motivados
muitas vezes pelo receio de uma revolução similar à soviética, também foram forças de sustentação importante ao governo fascista. Esse
mesmo temor motivou grandes capitalistas a apoiar o regime, tanto
na Itália como em outros países.
Jogadores italianos saúdam Mussolini antes da partida contra a seleção francesa, durante a Copa do
Mundo de Futebol de 1938, na França. Como o uniforme titular das duas equipes era azul, a Itália
deveria utilizar seu segundo uniforme, de cor branca. No entanto, Mussolini ordenou que a equipe
se vestisse de negro, em uma alusão aos Camisas Negras fascistas.
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Nazismo alemão
O contexto histórico que permitiu a formação do movimento
nazista e sua ascensão ao poder na Alemanha tem muitas similaridades com a situação italiana, ainda que quando Adolf Hitler assumiu o
poder na Alemanha, em 1933, Mussolini já comandasse a Itália havia
mais de uma década. Naquela época, os fascistas italianos já tinham
iniciado incursões expansionistas na direção do Mar Adriático e do
norte da África.
Na Alemanha houve, igualmente, uma intensa mobilização operária ao longo dos anos 1920, apoiada pelos partidos socialistas de maior
tradição do continente europeu. Por exemplo, os soviéticos depositavam grandes esperanças na revolução alemã, que interpretavam como
o prelúdio de uma revolução comunista mundial. Mesmo depois do
assassinato das principais lideranças revolucionárias alemãs em 1919,
o movimento ressurgiu com força entre 1922 e 1924 e, depois, entre
1929 e 1930, tendo sido derrotado, contudo, em todas essas ocasiões.
Mas a incapacidade de os socialistas e os comunistas se aliarem
na política nacional e, por outro lado, o temor que os capitalistas
alemães tinham de uma revolução social facilitaram a ascensão do
Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, mais conhecido como Partido Nazista, que se identificava ideologicamente com
o partido fascista italiano.
Terceiro Reich
Em alemão, significa
“Terceiro Império”.
Foi com esse nome
que ficou conhecido o
regime nazista liderado
por Hitler entre 1933 e
1945. O Primeiro Reich,
chamado Sacro Império
Romano-Germânico,
existiu sob diferentes
formas entre 962 e 1806.
O Segundo Reich (18711918) foi estabelecido
com a unificação alemã.
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Quando explodiu a Crise de 1929, os trabalhadores alemães estavam fragilizados. Enfrentando a inflação e o desemprego desde o final
da 1a Guerra Mundial, a frágil república alemã caiu em descrédito
entre setores importantes da sociedade, que a viam como um símbolo
de fracasso, derrotas e humilhações. Além desses fatores políticos e
econômicos, havia alemães que ainda se sentiam ultrajados com o
Tratado de Versalhes, que selou o fim da 1a Guerra Mundial.
Nesse contexto de intensa agitação social, o Partido Nazista elegia
cada vez mais representantes para o Parlamento alemão, indício de
sua maior penetração popular, até que Hitler, seu líder, acabou sendo
indicado para chanceler (primeiro-ministro) em 1933.
Ainda nesse ano, o Parlamento alemão aprovou um ato que deu
ao Chanceler amplos poderes executivos e legislativos, primeiro passo
para sua ascensão como ditador. Era o começo do regime nazista e da
constituição do Terceiro Reich, que duraria até o final da 2a Guerra
Mundial, com a derrota da Alemanha.
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Ainda no mesmo ano, os nazistas culparam os comunistas por um
incêndio no Parlamento (Reichstag) que eles mesmos haviam provocado.
Desencadeou-se, assim, uma perseguição implacável aos comunistas e a
outros representantes dos trabalhadores. Com isso, após alguns meses, o
Partido Nazista foi declarado o único partido político legal do país.
© Universal Images Group/Universal History Archive/Diomedia
Em 1934, com a morte do então presidente, Paul von Hindenburg,
Hitler acumulou os cargos de chanceler e presidente, tornando-se líder
soberano da Alemanha nazista.
O incêndio no Parlamento
alemão (Reichstag), em 1933,
foi um símbolo da destruição
da democracia na Alemanha.
Do ponto de vista econômico, o capitalismo alemão apoiou-se
na repressão ao movimento operário para estabelecer um período de
notável expansão. Em vez de se oporem ao nazismo, algumas grandes corporações lucraram direta ou indiretamente com ele. E muitas
delas fariam negócios relacionados à militarização do Estado alemão,
enquanto outras simplesmente se beneficiariam do disciplinamento da
mão de obra garantido pela repressão estatal.
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História – Unidade 2
Mas, se o regime nazista reprimiu os trabalhadores alemães, por que
ele teve tanto apoio popular? Alguns fatores podem explicar isso, entre
os quais:
Raça ariana
De acordo com a
apropriação que os
nazistas fizeram desse
termo, os membros da
raça ariana eram aqueles
considerados brancos de
origem germânica, de
preferência os de cabelos
e olhos claros, e “puros”,
isto é, sem mistura com
outras raças.
Eslavos
Denominação usada para
se referir a diversos povos
que habitam o centro e o
leste da Europa.
Fica a dica
O grande ditador (The
great dictator, direção de
Charles Chaplin, 1940).
Esse filme, realizado
durante a 2a Guerra
Mundial, é uma sátira ao
nazismo e ao fascismo.
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•
a melhoria da economia alemã com sua reindustrialização, principalmente bélica, e com o sucesso no combate à inflação, o que
gerou um período de prosperidade para boa parte da população;
•
a militarização da sociedade alemã, que dava à população, principalmente aos jovens, uma perspectiva de emprego e de carreira no
serviço militar, além de algum tipo de inclusão social.
No plano das ideias, os nazistas tinham muita semelhança com os
fascistas italianos: aliavam um nacionalismo fanático a um racismo
que pregava a superioridade da raça ariana. Essa crença na superioridade racial justificava o expansionismo nazista, que pregava a
necessidade de estender o que definiam como o “espaço vital” da
nacionalidade alemã. A diferença fundamental entre a Itália e a Alemanha estava no poderio econômico e militar alemão, muito superior
ao italiano. Esse poder permitiu aos nazistas enfrentar seus inimigos e
causar-lhes grandes destruições durante a 2a Guerra Mundial.
Em termos sociais, no entanto, nem todos os alemães eram considerados membros da raça ariana: judeus, ciganos, homossexuais, deficientes físicos e mentais, entre outros, eram vistos como pertencentes a
uma raça inferior. Assim como os comunistas, todos foram perseguidos
durante o regime nazista.
Essas ideias de intolerância racial, política e moral embasaram as
agressões do exército alemão para com os outros povos, como os eslavos,
contribuindo para o desencadeamento da 2a Guerra Mundial, em 1939.
Atividade 4 O eterno perigo do fascismo
Com base nas orientações e dicas do professor sobre filmes e textos que tratam da ascensão do fascismo e do nazismo na Europa,
somado ao que você estudou neste Caderno, faça uma pesquisa mais
profunda sobre o tema e discuta com seus colegas:
1. Quais foram as condições sociais, econômicas e políticas que permitiram a ascensão desses regimes?
2. Essas condições podem existir ainda hoje? Em quais lugares?
3. Você acha que o perigo nazifascista já foi afastado ou pode ocorrer
de novo?
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Você estudou
A Unidade enfocou alguns processos históricos ocorridos entre o fim da 1a Guerra Mundial e o começo da 2a Guerra Mundial, aproximadamente entre os anos de 1918 e 1939. Inicialmente, você estudou a ascensão econômica dos Estados Unidos
e a crise capitalista subsequente, que teve como momento marcante a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929.
As raízes da crise estavam vinculadas à expansão da economia estadunidense depois da 1a Guerra Mundial e às contradições entre a expansão da produção e os limites para o consumo.
Sendo os Estados Unidos a maior potência econômica mundial,
os efeitos da crise nesse país se espalharam por quase todo o
planeta. As reações dos diversos países envolvidos nessa situação
tiveram um ponto em comum: a intervenção do Estado na economia, mesmo onde havia uma forte tradição liberal.
Em seguida, você estudou dois fenômenos políticos que se
fortaleceram no contexto da crise: o fascismo e o nazismo. Você
viu que o tipo de governo ao qual o nazismo pertenceu não foi
uma invenção de Hitler. Antes dele, houve regimes similares em
diversos países da Europa, sendo que o fascismo italiano pode
ser considerado o pioneiro entre eles. Analisando o fascismo e o
nazismo, você pôde identificar alguns elementos comuns: ultranacionalismo; ideias racistas; um sentimento de frustração nacional
após a 1a Guerra Mundial; dificuldades econômicas e políticas;
radicalização e derrota do movimento operário; apoio dos grandes setores burgueses aos regimes ditatoriais; culpabilização de
alguns grupos sociais pelos problemas que os países enfrentavam.
Você estudou que o fascismo, assim como o nazismo, muitas
vezes oferecia um salário e uma identidade social a pessoas desamparadas em uma época de crise e desemprego. Esses indivíduos constituíram movimentos de massa que atacavam com
violência as organizações tradicionais dos trabalhadores.
Uma vez no poder, reprimiram toda dissidência e estimularam a expansão econômica do país. Muitas empresas apoiaram
e fizeram negócios com esses dois regimes, inclusive quando
iniciaram um processo de militarização que desembocaria na
2a Guerra Mundial.
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Pense sobre
Primeiro, eles vieram atrás dos comunistas e eu não protestei porque não sou
comunista.
Depois eles vieram atrás dos sindicalistas e eu não protestei porque não sou
sindicalista.
Então, eles vieram atrás dos judeus e eu não protestei porque não sou judeu.
Finalmente, eles vieram atrás de mim e não havia ninguém para protestar.
NIEMÖLLER, Martin. Encyclopaedia Britannica. Disponível em: <http://www.britannica.com/EBchecked/
topic/414633/Martin-Niemoller>. Acesso em: 12 nov. 2012. Tradução: Eloisa Pires.
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