Marketing Internacional no Século XXI: aplicações e implicações de uma linguagem transcultural Prof. Dr. Renato Rodrigues Martins Prof. Ms. Daniel de Oliveira Figueiredo Universidade Estadual de Londrina Resumo A globalização, fenômeno contemporâneo que, além de todas as conseqüências sociais, econômicas e políticas que implica em seu desenvolvimento, expões as diferenças culturais que existem entre as pessoas; pessoas que, pela internacionalização das organizações, tornaram-se consumidoras dos mesmos produtos. Dessa forma, a intenção deste artigo é demonstrar resultados parciais de pesquisa, com o objetivo de apresentar uma possibilidade de linguagem mercadológica que respeite e se aplique no contexto transcultural. A Terceira Linguagem, proposta de fusão entre o Marketing e Relações Públicas, junta-se aos vetores culturais para uma nova proposta de atuação comunicativa das empresas brasileiras internacionalizadas. Palavras-chave Globalização; Transculturalidade; Terceira Linguagem; Comunicação Mercadológica Abstract Globalization, contemporary phenomenon that, in addition to all the social, economic and political development that implies, exposes the cultural differences that exist between people; people who, because of the internationalization of organizations, have become consumers of these same products. Thus, the intent of this paper is to offer partial results of research with the aim is presenting a possibility of marketing language that respects and applies the crosscultural context. The Third Language, proposed merged between the Marketing and Public Relations, joins the cultural vectors to a new proposal for communicative action of Brazilian organizations internationalized. Key words Globalization; Transculturality; Third Language, Marketing Communication IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br Introdução O consumidor – esse ser que deseja ser globalizado – não é o mesmo ao redor do mundo. Existem profundas diferenças em seu comportamento, que aumentam na mesma proporção que as riquezas dos países. Com a ampliação das posses, os valores culturais também são alterados e refletidos nos hábitos de consumo. No que diz respeito as suas características cultuais, percebe-se que o comportamento do consumidor está divergindo em vez de convergir. A criação e a implantação de uma marca internacional na mente do público alvo é um dos maiores desafios da comunicação mercadológica. Ter a capacidade de transferir esses conceitos estratégicos da marca para outros mercados e culturas é um desafio sem precedentes ao profissional de marketing e de comunicação. Na comunicação mercadológica globalizada do Século XXI não basta apenas entender, mas se adaptar às culturas locais, para compartilhar os valores da organização e integrá-la à comunidade local. A principal tarefa do marketing internacional no terceiro milênio é promocional e neste quesito o entendimento dos valores culturais é de extrema importância para se adequar ao cenário internacional. Por sua vez, as organizações brasileiras estão se internacionalizando – mesmo que tardiamente – e devem decodificar os mercados e as peculiaridades do comércio estrangeiro. As políticas de uma empresa com atuação internacional devem basear suas premissas na lógica da cultura dos diferentes países em que atuam, e entender os códigos locais. A cultura de um país ou de uma determinada região é mais influente do que a da empresa, pois existe uma ascendência cultural do país sobre os valores de uma organização. A cultura organizacional deve, então, ter diversas “leituras” conforme a gestão das estratégias em um país ou região, para se adaptar à cultura local e harmonizar os valores institucionais. Os autores deste trabalho desenvolvem investigação nessa temática (participam de grupo de pesquisa na UEL e CNPQ). O Projeto de pesquisa denominado “Gestão Internacional da Terceira Linguagem: diagnóstico da Comunicação Mercadológica Transcultural das Empresas Brasileiras internacionalizadas” busca cotejar como se comporta a linguagem das organizações que estão se internacionalizando e que barreiras culturais encontram no concorrido mercado internacional. O Projeto de Pesquisa IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br O projeto tem como objetivo principal investigar a aplicação da terceira linguagem em organizações brasileiras com atuação internacional, apresentando-a como fundamento estratégico viável do cross-cultural marketing. Os objetivos específicos são: pesquisar o discurso das organizações e a sua gestão transcultural; oferecer às organizações uma forma de comunicação estratégica mais ética e crível; analisar as questões culturais da comunicação mercadológica no exterior e oferecer mais competitividade as empresas, por meio da melhoria dos seus discursos. A pesquisa é parte integrante do Projeto registrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e na Universidade Estadual de Londrina e investiga a gestão transcultural (Cross-cultural Marketing) das organizações que atuam em ambientes globalizados e observa a importância dada ao marketing na cultura das organizações. A investigação tem a supervisão direta da Universidade de São Paulo, ECA/USP. A primeira etapa fez um amplo levantamento das teorias relevantes ao projeto e fundamentou as condições preparatórias a pesquisa de campo. O início do processo se deu com o Relatório de Pesquisa de Pós-doutoramento de um dos líderes do Projeto e posteriores estudos com seu grupo de pesquisa. Em sua segunda fase, o projeto de pesquisa está configurado como um banco de dados, coletando e analisando informações inerentes as formas comunicacionais transculturais das principais empresas nacionais que se internacionalizaram. Organizações de pequeno, médio e grande porte são pesquisadas do ponto de vista das suas estratégias, para conhecer suas práticas comunicacionais e vivências culturais no exterior. Esta fase tem como escopo investigar as organizações brasileiras que se internacionalizaram (ou estão em processo) no que diz respeito as suas políticas de comunicação mercadológica transcultural e aos desafios comunicacionais enfrentados em outros mercados, principalmente por razões culturais, que acabam por dificultar suas operações e crescimento. Como forma de disseminação dados informatizados serão disponibilizados, onde constará o “estado da arte” do discurso mercadológico das organizações brasileiras com atuação internacional e ainda os aspectos comunicacionais transculturais estratégicos. Do ponto de vista dos subsídios, tais informações são inéditas e poderão ser utilizadas como um auxílio a gestão estratégica das organizações. IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br Existe um rol de empresas brasileiras que se internacionalizaram, realidade que constitui um desafio nos seus processos de comunicação e são o principal objeto de estudo dessa pesquisa. Suas operações em outros países não dependem exclusivamente da competência administrativa, mas também da habilidade de lidar com a gestão da comunicação mercadológica, entre outras questões. Os chamados late-movers brasileiros no mercado internacional são as organizações brasileiras com operações no exterior. Conforme relatório da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização – SOBEETE (2010), entre esses novos desafiantes globais, estão incluídas mais 50 empresas brasileiras, que estão produzindo em aproximadamente 120 fábricas espalhadas pelo mundo. A pesquisa será aplicada inicialmente nas seguintes organizações: Alpargatas; Petrobras; Embraer; VALE; Grupo Votorantim; Weg; Natura; Marcopolo; Grupo Gerdau; Coteminas; Brasil Foods; Banco do Brasil; Banco Itaú; Grupo JBS; Magnesita; Grupo Camargo Corrêa e AESA. A pesquisa terá como produto final um Banco de Dados informatizado, pelo qual as organizações terão acesso às informações inerentes a forma de Comunicação Mercadológica Transcultural das organizações com operações no exterior. A proposta é obter resultados de forma científica para apoiar o discurso das organizações brasileiras em ambientes culturais diversos, tornando-as mais competitivas. Por intermédio desse Banco de Dados informatizado, pretende-se ainda disseminar tal conhecimento as organizações nacionais e em mercados internacionais, carente de formas comunicacionais mais éticas que gozam de credibilidade. A investigação irá oferecer resultados que auxiliem nas estratégias da comunicação mercadológica das organizações nacionais que atuam em mercados internacionais. Propõe ainda desenvolver e melhorar os aspectos éticos e comunicacionais transculturais de maneira tal que possa apresentar aos gestores de marketing e de comunicação mercadológica a Terceira Linguagem e suas aplicações. Para alcançar os objetivos descritos, amparados no problema de pesquisa inerente ao projeto de pesquisa mais amplo desenvolvido na Universidade Estadual de Londrina, foi empregada a metodologia dialética, que se preocupa em estudar o contexto do objeto, e não apenas ele, isoladamente, desenvolvendo-o a partir de sua natureza e de sua relação com os sujeitos envolvidos. IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br A dialética prevê uma discussão na qual há o reconhecimento e absorção da contraposição de ideias e perspectivas, possibilitando perceber e articular o antagonismo da realidade como um elemento da pesquisa a que se submete o objeto e seu contexto. Desta forma, esse método de diálogo apresenta contradições que podem levar ao surgimento de novas ideias, ao serem contrapostas e dialogarem. O projeto de pesquisa utiliza o método qualitativo, que por sua vez, engloba um conjunto de distintas técnicas interpretativas que têm o objetivo de descrever e decodificar os componentes de um sistema de significados. Aponta traduzir e expressar a acepção dos fenômenos sociais para abreviar a extensão entre proposição e as informações, o contexto e a ação. O processo de Globalização e as mudanças comportamentais As organizações brasileiras que atuam no mercado internacional, chamadas de novas entrantes ou entrantes tardias (late-movers), são as empresas que optaram por esses mercados nas duas últimas décadas. É um processo enfrentado por empresas dos países com economias emergentes, que entendem que, devem partir para a internacionalização de suas operações. São organizações que enfrentam desafios globais, pois como novas entrantes têm no seu mercado doméstico características distintas que no cenário internacional. As mudanças do final do século XX marcaram a história recente. O processo de globalização ocorre na área econômica, política, cultual e social, que se deve, grosso modo, à necessidade da conquista de novos mercados. É característica da globalização a homogeneização dos centros urbanos, o crescimento das grandes corporações para fora de seus núcleos geográficos, a organização geopolítica em blocos comerciais e a inevitável hibridização das culturas locais. O mundo atual se transformou em um único e acessível mercado para as corporações. A chamada “globalização” é, na realidade, um mercado global. A possibilidade de ser – e estar – globalizado tornou a população maravilhada, abrindo a possibilidade de se participar de tudo, em todos os lugares e com todos ao mesmo tempo. No livro “Por uma outra Globalização” (2009), Santos afirma que houve a impressão de ter inserido o ser humano no que ele considera mundo, mas foi imposta de forma perversa e unilateral, pois algumas poucas corporações transacionais representam mais de 50% do PIB mundial. IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br Nesse mundo globalizado, a informação é utilizada segundo os interesses, e em benefício de uns poucos atores. Além disso, as técnicas comunicacionais estão na mão de um pequeno número de organizações privadas, o que aumenta as desigualdades informacionais. Por essa razão o sistema exclui alguns – a “periferia” segundo Santos (2009) – que não têm acesso aos meios de produção. Nessa realidade, o discurso simbólico se tornou propulsor das ideologias, inclusive a de um mercado único, de inclusão e de encantamento com a utópica universalidade. A linguagem globalizada utiliza a comunicação no inconsciente e nas necessidades emocionais para padronizar seus receptores. Nas sociedades contemporâneas, é necessária uma ruptura entre o inconsciente e o mundo exterior. Para tal, o autor criou a Terceira Linguagem, que utiliza uma estrutura comunicacional própria com base nos valores comunicacionais responsáveis, com a criação das mensagens globalizadas que propiciariam, idealmente, uma comunicação transcultural. O fato é que a maioria dos povos recebe uma informação plena de viés, que se presta a serviço, ora de governos ora de corporações. A informação nem sempre é aquela que busca informar, mas é aquela que procura convencer um mercado sobre as vantagens de uma determinada marca ou produto existente. A comunicação transcultural tem a capacidade do convencimento, que torna o consumidor mais presente e contextualizado internacionalmente. A comunicação mercadológica transcultural atua com todo seu poder de persuasão e de criação mitológica da hegemonia na construção dos sentidos de encantamento. A comunicação com os mercados usa todos os meios possíveis de persuasão, pois o principal objetivo é convencer o interlocutor a adotar um determinado comportamento ou ação, o que o induzirá ao consumo e o tornará inserido. O nomadismo cultural passou a ser um estilo de vida e uma moderna forma de consumo. Como consumidores do mercado global, as pessoas estão constantemente sujeitas a comunicação persuasiva que influenciam suas percepções e comportamentos aquisitivos. Para tal é necessário desenvolver uma compreensão das relações entre a cultura e o comportamento do consumidor, no que diz respeito a construção de uma marca e o marketing, tanto institucional quanto persuasivo. É uma abordagem composta de aplicativos do mundo dos negócios com base nas teorias administrativas e mercadológicas modernas. No século XXI não se pode pensar a gestão do marketing sem levar em consideração as influências culturais do mercado. A cultura afeta os ambientes e as arenas de negócios, interferindo nas preferências, nos gostos e nas escolhas dos consumidores. As pessoas pensam IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br e se comportam de diferentes maneiras, variando conforme os seus padrões culturais e, nesse sentido, a comunicação mercadológica deve ser mais ética e responsável, levando em conta esses fatores para definir as suas estratégias. Uma nova linguagem transcultural As organizações têm buscado uma forma mais eficiente e duradoura para se comunicar e se relacionar, tanto no nível interno das organizações quanto externo, para com seus públicos consumidores. Essa relação é mais vinculada a uma visão relacional – de relações públicas – em que o assunto de relacionamento de uma empresa com seu público é um objetivo essencial. O marketing nas organizações aparece em sua versão mais característica de persuadir o público por meio dos mais variados recursos de atração, sobretudo a criação de efeitos de sentido e promessas de uma vida melhor. No caso de uma nova linguagem, há uma multiplicidade de elementos a abordar: o contraste entre o relacionamento comercial e o institucional, o contexto cultural, o social e o ambiental. A abordagem da chamada Terceira Linguagem, como uma estratégia transcultural, é uma forma de comunicação mercadológica criada pelo autor, apresentada nessa fase em ambientes internacionais. O objetivo é desenvolver a comunicação mercadológica mais responsável e em nível internacional, com um arcabouço teórico aplicável a outras realidades e culturas. Essa forma de comunicação pode ser utilizada, com os mesmos valores e amplitude, em organizações com mercados e culturas tão díspares como os valores e a cultura brasileira. O autor defende como Terceira Linguagem um tipo diferente, alternativo e integrado que dialoga com as outras duas formas tradicionais de linguagem: a de marketing com objetivo comercial e de aumento de participação no mercado; e a linguagem institucional, que apresenta e divulga a organização e busca criar uma imagem forte e duradoura, sem oferecer produtos, serviços ou suas marcas. A Terceira Linguagem se apresenta, assim, como proposta viável para uma atuação contextualizada de empresas no século XXI. O marketing, na Terceira linguagem é definido como a “primeira linguagem”. As formas comunicacionais institucionais – de relações públicas – foram designadas a “segunda linguagem”. O que se designa chamar de Terceira Linguagem é um conjunto de fundamentos para resolver as lacunas de forma triádica para integrar as atividades mercantis e as de relacionamentos. Essa linguagem não descarta os fundamentos das outras duas, mas IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br complementa-as e expande os seus conceitos. As pessoas devem ser vistas como integrantes responsáveis em um relacionamento e não mais em um negócio. Uma linguagem é sustentada pela criação de imagens de marcas, ilusões em uma atmosfera discursiva persuasiva, pouco crível e a outra mais confiável, que busca a aceitação por intermédio dos relacionamentos. A Terceira Linguagem é uma proposta de diálogo entre estas duas para gerar uma terceira, da qual ambas possam ser relativizadas, sem que se minimizem os efeitos para os quais são indispensáveis: vender satisfazendo as partes interessadas e o contato institucional e não-comercial – o relacionamento. As novas tecnologias comunicacionais a favor das organizações auxiliam a conquista de espaços nas mentes dos consumidores, com potencial para construir ou destruir, para educar ao consumo consciente ou até para deseducar. A comunicação mercadológica pode valorizar as pessoas e unir povos em comunidades de interesse comum. Uma nova forma de linguagem só fará sentido quando servir aos povos e nações, respeitando as sociedades e suas culturas e sendo um instrumento para enriquecer e apoiar o ser humano e não apenas organizações. Cabe ao profissional de marketing e de comunicação utilizar esses novos procedimentos em favor de políticas organizacionais mais justas, que se comprometam a favor das pessoas e que as ajudem a se tornarem povos e comunidades mais ricas de informação. É preponderante quebrar as barreiras informacionais que deixam povos à margem do progresso, e garantir-lhes participação no desenvolvimento, contribuindo com uma sociedade mais digna e justa. Assim, a Terceira Linguagem tem como premissa fundamental incluir uma base conceitual que amplia a capacidade de abrangência para fazer frente a estas questões. A partir daí o sentido que se estabelece no relacionamento das organizações com seus mercados são as transformações nas relações entre o sujeito e o objeto e na troca entre as partes, motivada pela interação e os valores nela envolvidos. Essas premissas estão fortemente enraizadas nos preceitos éticos do Marketing, mas nem sempre colocadas em prática. A inflexível necessidade das organizações de estabelecer estratégias de conquista de mercado e de relacionamento com seus públicos levou ao que Fortes (1999) entende como transmarketing, a convergência dos objetivos de relações públicas, de marketing e do planejamento estratégico. Pode-se perceber que, em sua visão, é um avanço dos objetivos do marketing sobre o das relações públicas. Fortes, salienta que: IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br “o objetivo do marketing é voltado às estratégias de conquista de mercados, detectando, prognosticando, servindo e satisfazendo as necessidades do consumidor. Por sua vez, o objetivo de Relações Públicas é o relacionamento público das organizações”. (FORTES, 1999) Assim, essa linguagem pode contribuir com a proposta de Fortes, permitindo que essas visões dialoguem, se integrem e se completem. A atitude de transitar por campos diferentes, tomar parte em situações divergentes, dispor de um ânimo diversificado e falar a linguagem do marketing de relacionamento. É uma nova abordagem para o profissional que adota tal linguagem: uma comunicação globalizada, híbrida culturalmente de valores e de ferramentas e que pratica os valores éticos e transformadores. Por entender ser possível a convergência entre esses dois tipos de discurso, pois eles não se excluem, a Terceira Linguagem aborda a aplicação do confronto entre dois universos discursivos opostos para traçar uma linha intermediária em que se possa efetuar uma enunciação capaz de colocá-los em sintonia nas questões de gestão da comunicação transcultural. Ou seja, alinhar duas linguagens para compreender suas limitações e barreiras e equilibrá-las para atuar em diferentes contextos culturais. Os vetores da Terceira Linguagem Um conjunto de valores, aqui definidos como vetores, foi organizado com a finalidade de indicar categorias da Terceira Linguagem ao mesmo tempo em que auxiliam na construção de um referencial teórico para o estudo empregado no projeto. Ou seja, o que se busca é uma matriz com correlações que possibilitem dar corpo aos postulados teórico-práticos da terceira linguagem e com eles problematizar objetos de estudo e compor um campo permanente de projetos de pesquisa. Vetor educação estética O profissional deve compreender a necessidade de marketing criar consciência e organizar fatores a essa tomada de consciência. A comunicação mercadológica adquire caráter educativo quando se pensa em questões de consumo, na utilização de fatores persuasivos no momento de evidenciar uma determinada marca. A cultura do consumo, da satisfação de desejos existente no discurso mercadológico é suplantada pelo fala de natureza educacional. IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br A promoção deve “educar” os públicos. Esse tipo de educação tem características de estética porque interfere no gosto, nos hábitos, na valorização de conceitos. Apresenta-se, assim, uma abordagem diferente da visão de marketing, enfrentando, também de modo diferenciado, as consequências por sua postura. Ocorre a necessidade de desvendar as séries culturais desse conflito de interesses, promovendo a informação e a conscientização da sociedade, com respeito ao comportamento coletivo. Vetor mestiçagem Significa capacidade do profissional valorizar outras formas de conhecimento, valores e características culturais. A atitude de mestiçagem constitui transitar por várias culturas e incorporar diferentes modos de pensar, e agir, e criar suas próprias formas de expressão. Há valorização do hibridismo cultural, dos valores e dos espaços multidisciplinares. O conceito de mestiçagem incorpora e quando necessário, desarticula o discurso tradicional de marketing. No âmbito da Terceira Linguagem, deve-se compreender a multiplicidade e aplicação fundamentada nos preceitos da antropologia, da psicologia e da sociologia. O profissional com atitude de mestiçagem tem capacidade de se relacionar em diferentes situações de uma organização e transfere essa competência para gestão do marketing. A mestiçagem induz a aplicação das ferramentas da administração com os conceitos das outras que a complementam. O talento do profissional determina a atitude de mestiçagem. Vetor visão de consequência A estratégia comunicacional da organização atende aos pressupostos de uma ética responsável, pela qual princípios e mudanças no pensar e no agir moldarão a realidade da empresa e da sociedade em que se insere. Esta maneira de agir faz com que ganhe corpo uma postura ética que questiona princípios existentes e os avanços da ciência. A visão de consequência busca a valorização integral do ser humano. É fato marcante na organização a procura de soluções para as novas tecnologias que possibilitem o avanço da humanidade, sem prejuízo ao ambiente. Essa visão promove relacionamentos éticos, procurando o entendimento e colaboração com o ambiente que se insere. Antes de emitir uma informação, preocupa-se em verificar o seu conteúdo e a sua repercussão. Valoriza a imprensa e as lideranças das comunidades como IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br formadores de opinião. Questiona a falta de limites éticos e os controles da tecnologia, entre outros aspectos éticos. Propõe discutir mais as regras e o poder de transformar o ambiente e o futuro, um limite para ordenar as ações humanas. A visão de consequência postula o interesse público e o bem da comunidade acima dos demais interesses e as políticas da organização visam o presente e com o futuro e faz crescer a sociedade na qual está inserida. O ser humano e o ambiente são temas estratégicos para promover a melhoria contínua da cadeia produtiva, aliando tecnologias limpas e a redução de impactos ambientais, resultando em melhorias na reputação da organização. Vetor visão de mercado Consiste em avaliar os mercados e perceber a atitude aquisitiva do cidadão. Os objetivos mercadológicos são prioritários, a conquista por ampliação de mercados permanece como meta organizacional e cria-se uma identidade de marca forte e duradoura. A preocupação mercadológica extrapola as fronteiras do departamento de marketing e é incorporada em todos os aspectos institucionais. A gestão de marketing é exercida em níveis adequados; fideliza-se o cliente e cria-se valor para a marca e para os produtos da organização. A linguagem do marketing persegue a “satisfação pelo consumo”, em que o cliente de uma determinada marca se satisfaz pela relação de expectativa de desempenho do produto e seu valor. Na visão de mercado, a satisfação de desejos se torna necessidade e por essa razão tem características sociais e psicológicas, está ligada à continuidade da compra, e ampliação dos negócios. A visão de mercado é determinada pela criação de marcas – produto com valor agregado – na mente dos clientes. As marcas são entendidas como facilitadoras das escolhas dos produtos, e têm a capacidade de criar a percepção de satisfação expressa dos desejos atendidos. Neste vetor, marca é, portanto, percepção e como tal, pode ser tudo e servir para tudo. Vetor adequação Trata-se de pensar o conceito de erro e de substituí-lo pela ideia de se estar mais, ou menos, adequado. Uma linguagem pode não estar adequada e não servir para determinada IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br organização, ou campanha, mas certamente pode se adequar corretamente em outras possibilidades. O que se tem de excelente performance num determinado vetor, pode representar perigo ou fracasso para um outro vetor. A ideia da adequação deve sobrepor-se ao conceito de erro e transitar pelos outros vetores dessa linguagem. Uma linguagem mercadológica para o século XXI As organizações brasileiras que operam no exterior enfrentam condições distintas das vividas no seu mercado de origem, o que dificulta a competição entre os players globais. As empresas multinacionais dos países desenvolvidos focam suas atividades em marcas com alto valor agregado e desenvolvem comandos globais de produção em uma economia globalizada em estágio institucional, sobrando pouco espaço para os “novos entrantes”. Quando uma empresa ou profissional considera a cultura de sua organização superior àquela do povo com o qual está tentando negociar, nascem barreiras intransponíveis e os prejuízos para a marca e para a reputação da organização são irreparáveis. É preciso se interpretar essa cultura e conhecer os códigos do mercado que se pretende prospectar, fazendo assim uma imersão nela para poder contextualizar a mensagem adequada e sem prejuízo ao seu conteúdo. Toda organização, quando busca novos mercados, procura levar consigo as características de sua cultura organizacional, tentando implantar tal cultura na filial. Não existe superioridade alguma de qualquer cultura sobre a outra, mas se deve insistir nos valores característicos de cada cultura, pois todas as culturas possuem estruturas e práticas que podem ser absorvidas pelas demais. Não se deve procurar mudar a cultura do povo com o qual está trabalhando, mas sim adequar a mensagem ao mercado. Dessa forma, assim como na Terceira Linguagem, Santos propõe um discurso alternativo, uma terceira via com a possibilidade de contribuir para mudar a realidade. Não se pode afirmar, no entanto, que esse novo discurso – tanto o citado por Santos (2009) quanto o dessa linguagem – seja capaz de produzir uma nova realidade, mais justa e mais humana, com cidadãos alforriados do consumo desenfreado e responsáveis no mundo globalizado atual. A Terceira Linguagem tem potencial de gerar a necessária credibilidade para as organizações transculturais, pois estabelece um debate acerca dos clientes não como simples consumidores, mas no papel de um sujeito cônscio, com capacidade de decidir sobre as complexas questões de consumo o do seu entorno. Respeita os valores e constrói reputação, IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br harmoniza as necessidades humanas de forma racional e ecológica, equilibrando a oferta e a procura para implantar um discurso ético com respeito cultural e responsável. Considerações finais Dessa forma, o Projeto de Pesquisa apóia a Terceira Linguagem e colabora para o desenvolvimento das áreas de marketing e da comunicação, pois incorpora novas perspectivas para a organização. Foi elaborado com a finalidade de instrumentalizar uma reflexão para uso na gestão estratégica da comunicação transcultural no século XXI, em seu papel de inclusão, voltado para a melhoria das relações comerciais internacionais e das sociedades como um todo. O Banco de Dados pretende oferecer informações que auxiliem na gestão estratégica da comunicação mercadológica das organizações nacionais que atuam em mercados internacionais. Deve amparar as organizações transculturais de maneira tal que possa apresentar aos gestores de marketing a Terceira Linguagem, sua aplicação e benefícios. Pretende-se ainda disseminar tal conhecimento em mercados internacionais, carente de formas comunicacionais mais éticas que gozam de credibilidade. A contribuição é organizar dados da comunicação mercadológica transcultural e mostrar uma nova forma de comunicação para facilitar o aprendizado e proporcionar uma comunicação responsável no Século XXI. Com base nas necessidades atuais do mercado, muito mais exigente e carente de profissionais capazes de atender essas demandas o marketing deve ser total e integrado aos objetivos da organização, com especial atenção aos públicos de interesse e fazendo parte da cultura onde atua. A mensagem que deve estar presente é que profissionais devem orientar suas ações mercadológicas no sentido de interpretar as questões culturais e acrescentar no mercado uma postura socialmente ética e responsável. Para tanto, é necessário uma base encontrada fora de seu campo de atuação habitual. Devem seguir promovendo a empresa e os seus valores, respeitando e absorvendo as diferentes culturas e orientando a comunicação institucional e para com o mercado de forma responsável. A investigação do projeto, com as questões transculturais, é constante e pode ser aperfeiçoado por outros estudos e novas pesquisas, com a criação de instrumentos e observações de dados, de novos fatores de análise de poder explicativo. O esforço deve ser permanente e promover a cultura gera melhorias as empresas, a sociedade e as pessoas. A IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br temática é relevante e atual frente a demandas crescentes na construção de novos mercados e de organizações mais justas e éticas. Talvez, só assim, a globalização possa promover uma sociedade mais justa e mais humana, com cidadãos conscientes e responsáveis no globalizado mundo do século XXI. A Terceira Linguagem é uma maneira de pensar; é um posicionamento conceitual. Referências DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. 8.ed.São Paulo: Cortez, 2001. IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br FORTES, Waldyr Gutierrez. Transmarketing: estratégias avançadas de relações públicas no campo do marketing. São Paulo: Summus Editorial, 1999. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2002. GRANDE, Ildefonso. Marketing cross-cultural. São Paulo: Thomson Learning, 2007. HOFSTEDE, Geert. MINKOV, Michael. Cultures and Organizations: Software for The Mind. 3ª Ed. USA. McGraw-Hill Professional. 2010 IANNI, Octavio. Teorias da globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1995. JONAS, Hans. El principio de responsabilidad: ensayo de una ética para la civilización tecnológica. Barcelona: Herder, 1995. KOTLER, Philip. Administração de marketing: a edição do novo milênio. 10.ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000. LEVITT, T. The globalization of markets. Harvard Business Review, v. 3, p. 92-102, maio/jun. 1983. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia Científica. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2006. MARTINS, Renato R. Terceira Linguagem e mediação: da certeza à crise nos relacionamentos de uma organização. Tese de doutoramento. PUC/SP, 2005. SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 18. ed. Rio de Janeiro: Record, 2009. RUDIO, Franz V. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 30.ed. Petrópolis: Vozes. 2002. IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br