CARACTERIZAÇÃO DAS BOMBAS DE PRÓTONS VACUOLARES E SEU PAPEL NAS RESPOSTAS ADAPTATIVAS DE PLANTAS AO ESTRESSE HÍDRICO. MICHELLE GUEDES CATUNDA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINESE DARCY RIBEIRO CAMPOS DOS GOYTACAZES JANEIRO DE 2008 CARACTERIZAÇÃO DAS BOMBAS DE PRÓTONS VACUOLARES E SEU PAPEL NAS RESPOSTAS ADAPTATIVAS DE PLANTAS AO ESTRESSE HÍDRICO. MICHELLE GUEDES CATUNDA “Tese apresentada ao Centro de Biociências e Biotecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Biociências”. Orientador: Arnoldo Rocha Façanha CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ JANEIRO DE 2008 ii Dedico esta tese aos meus pais, meu irmão, meu esposo, mas principalmente ao meu filho Daniel a quem ensino e com quem aprendo a viver e a ser feliz a cada dia que amanhece. iii AGRADECIMENTOS Costumo dizer que minha vida é preenchida por seis grandes amores, aos quais gostaria muito de agradecer... • Deus, que me deu a vida e essa oportunidade maravilhosa de ser feliz; • Meu filho, Daniel, que desde que chegou a esse mundão me ensinou o real significado de duas nobres palavras: vida e felicidade! • Meu esposo, grande amor e companheiro de todos os momentos; • Minha mãe, exemplo de mulher, meu pai, o melhor pai do mundo, e meu irmão, sempre o meu caçulinha. Aos meus amores, o meu muito obrigada por cada minuto de amor, atenção, dedicação e confiança... Sem vocês por perto, nada disso estaria sendo concretizado agora! Agradeço também ao meu orientador, Arnoldo Rocha Façanha pela imensa paciência e por cada discurso apaixonado pela ciência... Prometo que vou levar um pouquinho dessa paixão para sempre comigo! À professora Anna Okorocova, ao professor Lev Okorocov e ao professor Fábio Olivares pelos ensinamentos oportunos. Ao pessoal do LQFPP, LMGV e LFBM, que sempre estiveram de portas abertas para a utilização dos equipamentos necessários para o desenvolvimento desse trabalho. À UENF e à FAPERJ pelo suporte financeiro. Aos meus amigos, que riram de mim e que riram comigo... Que graça tem a vida sem amigos??? Inga, Rosivany e Rosane... Para sempre no meu coração!! Ana Paula (cunhadona!!), Tati Felice, Nathália, Fabiana, Alena, Juares, Daniel, Jorge André, Geórgia, Josimara, Flávia Emenegilda, ... Obrigada!!! Ao pessoal do campo que me ajudou a cultivar e a colher tiririca, por mais esquisito que isso lhes parecesse!! iv Ao pessoal do LBCT, Giovana, Bia e Márcia Adriana (ex-LBCT) pelo carinho e pela força no preparo das amostras para microscopia!! Ao amigo Noil pelo suporte no microscópio... Jamais teria alinhado aquele “trem” sem a sua ajuda!!! À Dona Maria pelo bolo de banana espetacular quando eu estava grávida do Daniel!!!!! Os meus alunos do CEDERJ por terem me permitido vivenciar a experiência didática, e ao pessoal do CEDERJ, pólo Macaé, Aninha, Giselli, Ada, Claudinha, Sílvio, Maurício, ..., obrigada pela força sempre!! Enfim... A todos os que estiveram por perto, me acompanhando, torcendo por mim ou mesmo rindo comigo, o meu super-hiper-mega muito obrigada!!! Vocês fizeram dessa fase da minha vida uma passagem muito mais agradável! v SUMÁRIO página RESUMO........................................................................ vii ABSTRACT.................................................................... viii 1. INTRODUÇÃO........................................................... 01 2. REVISÃO DE LITERATURA...................................... 03 + 03 + 2.2. H -PPase vacuolar............................................. 05 2.3. Estresse nas plantas.......................................... 09 2.3.1. O estresse hídrico...................................... 11 2.4. Tiririca (Cyperus rotundus)................................ 12 2.5. Cana-de-açúcar (Híbrido interespecífico de 16 2.1. H -ATPase vacuolar........................................... Saccharum L.)................................................................ 2.6. Milho (Zea mays).............................................. 17 3. OBJETIVO GERAL..................................................... 19 3.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS.............................. 19 4. MATERIAL E MÉTODOS........................................... 20 4.1 Plantas................................................................. 20 4.2 Preparação da fração microssomal..................... 21 4.3 Purificação das vesículas de tonoplasto e 22 membrana plasmática.................................................... 4.4 Determinação das atividades PPásicas e 23 ATPásicas...................................................................... 4.5 Monitoramento do gradiente de prótons ............. 23 4.6 Determinação da condutância estomática e da 23 transpiração.................................................................... 4.7 Determinação da fluorescência da clorofila a...... 24 4.8 Determinação do teor de clorofila........................ 24 4.9 Microscopia eletrônica de transmissão e 24 imunocitoquímica............................................................ 4.10 Microscopia eletrônica de varredura................. 25 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................. 26 5.1 Atividade hidrolítica e de transporte de H+ da P- 26 vi ATPase, da V-ATPase e da PPase em plantas de C. rotundus.......................................................................... 5.2 Condutância estomática e da transpiração......... 41 5.3 Fluorescência da clorofila a................................ 42 5.4 Teores de clorofila............................................... 45 5.5 Microscopia eletrônica de varredura................... 46 5.6 Microscopia eletrônica de transmissão............... 48 5.7 Atividade hidrolítica e de transporte de H+ da P- 50 ATPase, da V-ATPase e da PPase em colmos de Saccharum spp............................................................... 6. CONCLUSÕES.......................................................... 53 7. BIBLIOGRAFIA........................................................... 55 vii RESUMO A Cyperus rotundus é uma espécie que possui alto vigor reprodutivo e rusticidade, que expressam sua alta capacidade de sobreviver a situações de estresse abiótico. O turgor celular é parcialmente controlado pelas bombas de prótons vacuolares, que geram gradiente de H+ e facilitam o transporte secundário de íons e água para dentro do vacúolo. A análise das bombas de prótons de C. rotundus retiradas de seu ambiente natural exibiram uma hidrólise de PPi de cerca de 30% em relação a hidrólise do ATP, enquanto que o gradiente de prótons gerado por ambas as bombas foram muito similares. Esses dados sugerem que, em condição natural de campo, as bombas de prótons vacuolares funcionam como em outras espécies vegetais e que a VATPase é a principal bomba. Analizando o desenvolvimento dessa planta daninha sob condição de estresse hídrico, observou-se que as atividadedes hidrolíticas de ambas as bombas foram progressivamente inibida com o estresse hídrico. Após o restabelecimento da irrigação, a atividade tanto de hidrólise, quanto de transporte de H+ pela PPase é estimulada, estímulo esse que diminui para níveis próximos ao controle 48h após o restabelecimento da irrigação. A atividade da V-ATPase foi pouco alterada, sugerindo que a capacidade de manter o turgor da célula vem do trabalho em conjunto das duas bombas vacuolares. A PPase funciona como um sistema back-up para a ATPase, suprindo o meio citossólico de Pi para síntese de ATP pela ATPase. Em cana-deaçúcar, análise de data mining no banco de dados SUCEST sugere que os genes que codificam para as bombas de prótons vacuolares são expressos em altos níveis em tecido de casca e os dados apresentados no presente trabalho confirmam a atividade alta das bombas de prótons nesse tecido. Esses dados são discutidos em relação ao possível papel dessas bombas no metabolismo da cana-de-açúcar. viii ABSTRACT Cyperus rotundus is a weed that has high reproductive vigor and rusticity that express high capacity to cope with abiotic stress. The cell turgor is partially controlled by vacuolar H+-pumps, which generate a H+gradient that energize the uptake of ions and water into the vacuole. The analysis of the vacuolar H+-pumps of plants of Cyperus rotundus harvested from their natural environment exhibited a PPi hydrolysis about 30% of their ATP hydrolysis, while the H+-gradients coupled to either PPi and ATP hydrolytic activities were quite similar. These data suggest that, on field conditions, the vacuolar proton pumps function just like other plants and the V-ATPase is the main proton pump. Analyzing this weed development under drought stress the activity of both tonoplast H+-pumps were progressively inhibited. After rewatering, the H+-PPase activity exhibited a striking stimulation, but this activation declines to the level of control plants 48h after rehydration. In contrast, the V-ATPase activity was only barely changed, suggesting that the vacuolar turgor capacity of C. rotundus could be regulated by both proton pumps working together during drought stress. It is likely that H+PPase function as backup system on ATP synthesis. On sugar cane study, analyses of data mining in SUCEST bank (sugarcane EST Project) suggest that the genes encoding this vacuolar H+-pumps are expressed in higher levels in stem bark and our results confirm and extend the data mining analysis of SUCEST bank suggesting that the proton pumps are induced in the active form in stem bark of sugarcane. These data are discussed in relation to a possible role of these pumps in the yet underestimated metabolism of the stem bark of sugarcane. 1 1 - INTRODUÇÃO A população mundial está aumentando em uma taxa alarmante e espera-se que alcance aproximadamente seis bilhões de pessoas até o final do ano de 2050. Por outro lado, a produção de alimentos está diminuindo devido ao efeito de vários estresses bióticos e abióticos. Assim, minimizar estas perdas é uma grande área de interesse para todas as nações que precisam lidar com as exigências crescentes do alimento. A herbivoria, a competição por plantas invasoras, o frio, a salinidade e a seca são, entre os estresses principais, aqueles que prejudicam o crescimento e a produtividade de plantas (Mahajan e Tuteja, 2005). Dados divulgados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) relatam que dos 3,3 bilhões de hectares considerados aptos para a agricultura no mundo, cerca de 28% estão sujeitos a estresse hídrico por déficit de água, 22% a estresses minerais e 12% a estresse por excesso de água. Com isso, pode-se dizer que o desenvolvimento de uma agricultura sustentável em áreas tropicais deve estar apoiado em estratégias de desenvolvimento de plantas mais adaptadas às condições de estresse ambiental, associadas a práticas de manejo de água e nutrientes que conduzam a ganhos de eficiência e desempenho das culturas. O estresse hídrico é, sem dúvida, o maior limitador da produtividade de plantas cultivadas em todo o mundo (Bohnert et al., 1995). A identificação e compreensão dos mecanismos de tolerância ao estresse hídrico são de grande importância para o desenvolvimento de novas cultivares (van Rensburg, 1994; Ingram e Bartels, 1996). Vários estudos têm sido feitos com o objetivo de identificar padrões fisiológicos que possam ser usados como critérios para a seleção de resistência ao estresse hídrico (Blum et al., 1996; Dure et al., 1989). Diferente do que ocorre nos laboratórios, as plantas no campo estão sujeitas a incidência de vários estresses simultâneos. De fato, 2 dados recentes de varredura de expressão gênica mostram que os mecanismos de tolerância a esses estresses apresentam vários componentes que se sobrepõem (Bohnert et al.., 2001). Nesse projeto será estudada a ação da ATPase e da H+-PPase vacuolar nos mecanismos de adaptação ao estresse hídrico. Embora cada enzima seja específica na utilização de seus respectivos substratos (Rea, et al., 1992), ambas catalisam a translocação eletrogênica de prótons do citossol para o lúmem do vacúolo para gerar um gradiente eletroquímico de prótons. Esta força próton motriz promove a energia para o transporte secundário de vários íons e metabólitos através da membrana (Rea et al., 1992; Sze et al., 1992). No tonoplasto, a VATPase é a mais abundante bomba de prótons, sendo extraordinariamente importante para manter a homeostase iônica e o metabolismo celular (Lüttge e Ratajczak, 1997). A H+-PPase vacuolar é uma bomba transportadora de prótons que têm suas atividade e/ou expressão modulados durante os mais diversos estresses ambientais. Rea e Poole (1993) citados por Maeshima (2000) indicaram a importância desta enzima em células vegetais sob condições de estresse energético, com isso, exerce função importante nas estratégias de sobrevivência de plantas expostas a condições limitantes de suprimento de ATP. Plantas resistentes ao estresse hídrico são capazes de manter seu turgor mesmo com potencial hídrico baixo, aumentando o número de moléculas de solutos dentro da célula (Bray et al., 2000). Para que as plantas sejam capazes de sobreviver as constantes alterações do ambiente e ao mesmo tempo manter suas condições metabólicas em um nível ótimo, a expressão e a atividade das bombas de próntos deve ser muito bem reguladas (Gaxiola et al., 2007). A planta daninha tiririca (Cyperus rotundus L.) e a cultivada cana-de-açúcar (Saccharum sp) foram selecionadas para objeto de estudo devido sua rusticidade e alta capacidade de proliferação. 3 2 - REVISÃO DE LITERATURA Bombas de prótons são proteínas integrais da membrana que funcionam a partir da hidrólise de moléculas de ATP, no caso das ATPases, e PPi, no caso das PPases. Efetuam o transporte ativo dos prótons através da membrana da célula e possuem como objetivos a manutenção da composição iônica intracelular, a importação de solutos contra o gradiente de concentração, o balanço da pressão osmótica dos dois lados da membrana celular e também, a manutenção do potencial da membrana celular. As bombas podem funcionar contra o gradiente de concentração, bombeando os prótons e, neste caso, consumindo energia. No entanto, as ATPases podem também funcionar de forma reversa, sintetizando ATP a partir de ADP e Pi, quando permitem a passagem dos prótons a favor do gradiente de concentração. Pedersen e Carafoli (1987) baseados em considerações de estrutura e mecanismo de ação, agruparam as ATPases em 3 classes principais: P, V e F. Essas ATPases estão distribuídas nas diversas membranas celulares e sua função básica é a hidrólise ou síntese de ATP e o transporte de íons. Além desses sistemas existe um quarto tipo de bomba de prótons que foi posteriormente identificado, as H+pirofostatases (PPase). Células vegetais são as únicas que contém vacúolos, que ocupam grande parte de seu volume celular, e as principais enzimas, presentes no tonoplasto, responsáveis pela acidificação do vacúolo central são a V-ATPase e a PPase (Sze 1985, Taiz, 1992; Rea e Poole, 1993,). Essas 2 bombas de prótons fornecem o gradiente eletroquímico de H+ que energiza o transporte de outros metabólitos (Rea e Sanders, 1987). 2.1 – H+-ATPase Vacuolar A H+-ATPase vacuolar (V-ATPase) é a enzima responsável pela acidificação do vacúolo central. Também está presente no Golgi e em vários outros sistemas de endomembranas das células vegetais 4 (Ratajczak et al., 1999). A maior parte dos processos de transporte secundário são impulsionados por um gradiente eletroquímico de prótons gerado pela V-ATPase, incluindo reações de osmoregulação, homeostase, armazenamento, defesa vegetal e muitas outras funções. Ela exerce um importante papel no controle do pH extra e intra cellular nas células eucarióticas, que é essencial para o bom funcionamento dos processos celulares (Yao et al., 2007). A V-ATPase de vegetais é estruturalmente muito semelhante a de outros seres eucariotos e suas subunidades são codificadas por uma família de múltiplos genes, que desempenha um importante papel na regulação da expressão gênica e na separação das isoformas das V-ATPase para as diferentes organelas (Taiz, 1992). É uma enzima multimérica que exibe uma estrutura molecular complexa. Mais de 10 diferentes subunidades da V-ATPase já foram descritas para algumas plantas (DuPont e Morrissey, 1992; Ward e Sze, 1992). Três dessas subunidades, que foram encontradas em todas as V-ATPases estudadas até o momento parecem ser mais importantes para o seu funcionamento, são elas a subunidade calalítica A (~ 70kDa) e a subunidade regulatória B (~ 60kDa), ambas localizadas na periferia da membrana no domínio V1 e o canal de prótons hidrofóbico, formado pela subunidade C (~ 16kDa) que formam o domínio V0, integral da membrana (Rockel et al., 1998). No tonoplasto, a V-ATPase é a mais abundante, atingindo 6,5 – 35% da proteína total do vacúolo de diferentes espécies (Xiao et al., 2007). Sua estrutura pode ser visualizada na figura 1. 5 Figura 1 - Modelo esquemático de uma V-ATPase de planta (Drory e Nelson, 2006; Gaxiola et al., 2007) Devido a sua função como uma bomba de H+ no tonoplasto, a VATPase está envolvida no transporte de metabólitos para dentro do vacúolo. Por outro lado, em condições de estresse ambiental, a VATPase funciona como uma enzima de resposta a estresses sofrendo modificações moderadas na expressão de suas subunidades e modulação de estrutura (Dietz et al., 2001). Visto que está envolvida em adaptações ecofisiológicas em níveis moleculares, a V-ATPase foi, também denominada como uma “eco-enzima” (Lüttge et al., 1995, ). Pouca atenção tem sido dada para a função da V-ATPase em situação de estresse hídrico. Dietz et al.(2001) alertavam para a necessidade de estudos da atividade e expressão da V-ATPase em plantas submetidas ao déficit hídrico. 2.2 - H+-PPase Vacuolar Uma característica própria de plantas é a existência de vias metabólicas paralelas que usam tanto nucleotídeos quanto pirofosfato como fontes alternativas de energia. Uma delas é a H+-ATPase, a qual está presente em todos os eucarióticos e a outra é a Pirofosfatase (PPase) que tem sido encontrada em todas as plantas e em algumas bactérias fototróficas (Rea e Poole, 1993) e protozoários. Já está bem 6 estabelecido que a membrana vacuolar (tonoplasto) de células vegetais possui 2 bombas de prótons, a H+-ATPase e a PPase. São sugeridas duas hipóteses para a existência de duas bombas numa mesma membrana: que a PPase agiria como um sistema back-up para a H+ATPase nas condições em que o fornecimento de ATP fosse limitado ou que a PPase é reversível e pode usar o gradiente de H+ do transtonoplasto para sintetizar PPi (Leigh et al., 1992). A localização da PPase é ainda controvertida. Quando ela foi primeiramente isolada em tonoplasto, acreditava-se que ela fosse uma enzima marcadora de vacúolo (Maeshima, 1990), porém estudos recentes têm mostrado que a PPase é encontrada em membrana plasmática (Long et al. 1995; Robinson et al.. 1996), complexo de Golgi e retículo endoplasmático. Por algum tempo já se suspeitava da existência de PPase associada à membrana. Foi em meados dos anos 70, que Karlsson (1975) demonstrou uma atividade PPase estimulada por K+ e Walker e Leigh (1981) caracterizaram uma PPase dependente de Mg2+. Somente em 1985 é que finalmente identificaram que o transporte de H+ dependente de PPi era mediado por uma PPase e não uma V-ATPase capaz de usar PPi em algumas circunstâncias. Seguidas caracterizações mostraram que essa PPase diferia da V-ATPase em vários aspectos: A PPase era estimulada pelo K+ enquanto que a VATPase era seletivamente ativada por halógenos; nem a hidrolise nem o transporte de prótons pela PPase são inibidos por nitrato; finalmente foi mostrado que a PPase é específica para MgPPi (ou Mg2PPi) como substrato enquanto que a V-ATPase não mostra nenhuma atividade em relação a esse composto. As atividades tanto de transporte de prótons dependente de PPi quanto a de hidrólise estimulada por K+ e /ou insensível a molibidato tem sido demonstrada em membranas vacuolares da maioria dos principais tipos de plantas vasculares (plantas monocotiledôneas, dicotiledôneas, C3, C4 e CAM) como também em seus prováveis ancestrais, a algas clarófitas. Mais ainda, a PPase é o componente principal das membranas vacuolares e é capaz de gerar um gradiente 7 de prótons de magnitude similar ou superior do que a V-ATPase (Maeshima e Yoshida, 1989). A estimativa de abundância sugere que essas enzimas constituem de 1% (em Beta vulgaris) e 5-10% (em Mung bean) da proteína total da membrana vacuolar (Maeshima e Yoshida, 1989). A membrana vacuolar preparada a partir de várias espécies de plantas, incluindo musgos, samambáias, e algas, apresenta atividades PPásicas em adição a V-ATPase (Nakanishi e Maeshima, 1998). Notáveis exemplos de PPases transportadoras ou conservadoras de energia são as PPases reversíveis transportadoras de prótons encontradas em cromatóforos de bactérias não sulfurosas, Rhodospirillum rubrum, as PPases transportadoras de Prótons vacuolares de células vegetais e PPase associada a membrana de animal e mitocondria de levedura. Essa última, porém, apresenta padrões de sensibilidade a inibidores bem diferentes das duas primeiras (Baykov et al., 1993). Baseado nestes resultados considera-se que as PPases associadas a mitocôndria pertencem a um grupo distinto de PPases (Baykov et al., 1993). A PPase está amplamente distribuída entre as plantas superiores, algas e bactérias fotossintéticas, Rhodospirillum rubrum. Embora Lichko e Okorokov (1984) tenham demonstrado uma atividade de transporte de prótons dependente de PPi em frações enriquecidas de tonoplasto de Saccharomyces carlsbergenesis, a H+-PPase é ainda considerada restrita a plantas (Rea et al., 1992) e certos procariotos. A PPase consiste de um único peptídeo com uma massa molecular de aproximadamente 73KDa (Nakanishi e Maeshima, 1998), embora tenham sido encontrados valores de pesos moleculares diferentes em várias espécies, 67,000 (Beta vulgaris) e 73,000 (Vigna radiata) para a mesma subunidade. Essa subunidade mostra-se não somente necessária, mas também suficiente para o transporte de H+ dependente de PPi. A subunidade que se liga ao substrato funciona como um monômero durante a hidrólise de PPi (Rea e Poole, 1993), embora tenha sido proposto uma estrutura dimérica para a PPase 8 funcional nativa (Sato et al., 1991). A estrutura primária da PPase foi deduzida a partir do cDNA de Arabdopsis thaliana, cevada, beterraba, tabaco e arroz, no entanto, poucos resíduos característicos foram determinados (Takasu et al.., 1997). A estrutura da PPase pode ser visualizada na figura 2. A abundância e a ubiqüidade da PPase em plantas necessita um fornecimento regular de PPi citossólico e uma taxa de ação de massa PPi:Pi em favor da translocação de prótons. O nível de PPi em tecidos vegetais varia na faixa de 5-39 nmol/g de peso fresco (Smyth et al.., 1984) e esse PPi parece está quase que limitado ao citossol. Já foi calculado em folhas de espinafre e protoplasto de mesófilo de trigo o PPi citossólico de 200 a 300 µM (Weiner et al. , 1987), enquanto que em outras organelas como vacúolo e cloroplasto de alga, Chara, foi encontra <1 e 2-3µM respectivamente, contra 193µM para o citossol (Takeshige e Takawa, 1989). Considerando uma estequiometria de H+: PPi igual a 1, considera-se que a energia livre liberada pela hidrólise do PPi citossólico exceda o mínimo teórico requerido para energização vacuolar. Figura 2 – Modelo de H+-PPase de Streptomyces coelicolor (Gaxiola et al.., 2007) 9 Gaxiola (2001) mostrou que a PPase é codificada por um único gene e, provavelmente por esse motivo, é mais fácil de ser sintetizada que a V-ATPase em condições de estresse metabólico. 2.3 - Estresse nas Plantas O termo estresse é definido como qualquer fator físicoquímico ou ambiental capaz de produzir uma tensão prejudicial ao organismo vivo (Levitt, 1980) e a definição mais aceita para estresse ambiental é, uma força adversa ou uma condição que inibe o funcionamento normal de um sistema biológico como as plantas (Jones e Jones, 1989). Na natureza o estresse, normalmente, não acontece isoladamente, mas sim em conjunto com outros, assim, existem diversas vias para que as plantas sejam capazes de sobreviver a uma situação de estresse (Mahajan e Narendra, 2005). As plantas são constantemente expostas a uma série de fatores de estresses como, baixas temperaturas, salinidade, seca, alagamento, calor, estresses oxidativos e toxidade por metais pesados, sendo que os estresses abióticos são a principal causa da queda na produtividade mundial, causando perdas de centenas de milhões de dólares por ano (Bray et al.., 2000). As plantas respondem ao estresse ambiental de maneira complexa e dinâmica. Um número crescente de evidências mostra que as membranas possuem um papel central na percepção do estresse, respondendo ao estímulo ambiental (e hormonal) através da alteração do bombeamento de íons e da conformação das proteínas ligadas a membrana e suas atividades. As membranas participam diretamente ou indiretamente, determinando a compartimentalização de precursores, intermediários, produtos, e efetores de sistemas enzimáticos não ligados à membrana, influenciando o pH. Em resposta a situações de estresses, vários genes são regulados de modo a minimizar os efeitos do estresse em questão (Shinozaki et al., 2003). Amzallag e Lerner (1994) dividem a resposta ao estresse em 2 grupos principais: os de resposta rápida, que está relacionada a um programa de defesa preexistente na planta e ou outro denominado 10 adaptação, onde o tempo influencia de maneira crucial na elaboração dessa resposta. A adaptação é uma resposta prolongada durante a qual as plantas ajustam sua fisiologia as condições ambientais numa maneira orientada pelo meio. Quando uma planta responde ao estresse através de sua resistência (resposta pré-adaptativa) ela expressa um programa preexistente que lhe permite sobreviver ao estresse mantendo (mais ou menos) seu programa original de desenvolvimento, onde o estresse é considerado como o gatilho da expressão genética. A resistência reflete a capacidade da planta de expressar, sob estresse, seu programa de desenvolvimento original. Em geral, a expressão deste programa preexistente ocorre relativamente rápido, em 48h de exposição ao estresse. A reação não é específica ao estresse particular e rapidamente estabiliza ao nível atual. A diminuição do crescimento é proporcional a intensidade do estresse e inversamente proporcional a tolerância (capacidade pré-adaptativa) da planta. Durante a adaptação a planta estabelece um novo programa de desenvolvimento como função das condições precisas de estresse. No início do processo de adaptação existe uma considerável diminuição no crescimento, que é comumente mais importante do que a preadaptação. Uma vez a planta esteja adaptada, a velocidade de crescimento aumenta, e pode atingir níveis similares a média de velocidade de crescimento relativo (RGR – relative growth rate) comparada as plantas controle de mesma idade. Um aumento da RGR no final do processo de adaptação indica que o fim do estresse à planta. A resposta adaptativa inclui modifições do balanço hormonal, processos metabólicos e expressão de genoma. Em contraste a resposta pré-adaptativa não é completamente pré-programada no genoma. Enquanto a resposta adaptativa não é programada, a capacidade de responder ao estresse por adaptação é geneticamente controlada. Nem toda espécie possui essa capacidade de adaptação. Dentro de uma espécie capaz de se adaptar, nem todo o cultivar é 11 capaz . E mais ainda, dentro de uma espécie, nem todo o cultivar que se adapta o faz com a mesma extensão (Amzallag e Lerner, 1994). Quando ocorrem severas mudanças nas condições ambientais, a célula pode responder de uma maneira específica e rápida selecionando o aumento ou diminuição da expressão de genes específicos. Os genes cuja expressão é aumentada durante o tempo de estresse, são, presumivelmente críticos para a adaptação do organismo à condição adversa; um exame dos genes ativados em resposta ao estresse podem mostrar-se útil no entendimento da resposta biológica de plantas em condições de estresse. Os sistemas genéticos que respondem ao estresse são de interesse não somente devido ao seu papel de apoiar a planta sob estresse, mas também por sua utilidade no estudo dos eventos moleculares que controlam o nível quantitativo da expressão gênica (Matters e Scandallos, 1986). Nem toda resposta metabólica é considerada deletéria ou prejudicial, e o maior desafio para os bioquímicos é distinguir as respostas que representam um sintoma prejudicial e aquelas que são verdadeiramente adaptativas, ou seja, que favorecem o crescimento continuado durante a recuperação ao estresse. Na verdade para qualquer variável no metabolismo deve existir uma faixa ótima, onde abaixo dela a planta pode sofrer privação, e exceder essa faixa pode levar a toxicidade (DeRocher e Bohnert, 1993). 2.3.1 - O estresse hídrico O estresse hídrico pode ser causado por excesso ou por falta de água. O estresse hídrico mais comum é o causado por falta de disponibilidade de água para as plantas. A remoção de água das membranas rompe a estrutura normal da bicamada lipídica e a membrana plasmática fica extremamente porosa, podendo levar a um desarranjo das proteínas presentes na membrana, o que contribui para a perda de sua integridade e seletividade e também, na perda da capacidade enzimática (Crowe et al., 1992; Hoekstra et al.., 2001; Mahajan e Narendra, 2005). Além dos danos à membrana, o estresse hídrico pode causar redução na atividade de proteínas citossólicas ou 12 de organelas. A alta concentração de eletrólitos durante a desidratação pode causar rompimento no metabolismo celular (Liu e Zhu, 1998; Yanqiong et al.., 2007). Um outro efeito fisiológico causado pelo estresse hídrico é a redução do crescimento vegetativo das plantas. A parte aérea é, normalmente, mais sensível que as raízes e a redução da expansão da parte aérea em situação de estresse hídrico é benéfica para a planta, tendo em vista a redução na transpiração. Já o crescimento radicular recebe um estímulo de crescimento, com o objetivo de explorar novas áreas do solo a procura de água (Liu e Zhu, 1998). O aumento da temperatura ou a rápida queda na umidade resultam em uma condição de déficit hídrico para as plantas. A primeira resposta de todas as plantas ao déficit hídrico é, em geral, o fechamento dos estômatos, para evitar a perda de água por transpiração (Mansfeld e Atkinson, 1990). O fechamento estomático pode ser resultado da evaporação direta da água das células guarda sem envolvimento metabólico, sendo conhecido como fechamento hidropassivo, ou pode ser dependente do metabolismo, envolvendo fluxo de íons que causam o fechamento estomático. 2.4 - Tiririca (Cyperus rotundus L.) As plantas daninhas verdadeiras são, segundo Fisher (1973), as que apresentam rusticidade e grande vigor vegetativo e reprodutivo, tendo capacidade de sobreviver, crescer e reproduzir em condições extremas de ambiente, como seca, encharcamento, altas e baixas temperaturas, solos com problemas de salinidade, alcalinidade e acidez. Além disso, são resistentes a pragas e doenças. De acordo com Cardenas et al.. (1972), as principais características das plantas daninhas são: ciclo de vida semelhante ao da cultura, plasticidade populacional, germinação desuniforme (mecanismo de sobrevivência em função da dormência), produção de inibidores (efeitos alelopáticos ou teletóxidos) e produção de grande número de sementes (reprodução sexuada) e/ou estruturas reprodutivas (reprodução assexuada). 13 Os danos causados pelas invasoras tendem a ser medido, através do número de culturas que afetam, pela dificuldade de controle, e pelo número de países em que ocorrem. A Cyperus rotundus, que pode ser visualizada na figura 3, é considerada uma das espécie mais nociva entre as plantas daninhas (Holm et al., 1977), sendo inclusive citada no Guinnes Book (1994), como infestante de 52 importantes culturas em 92 países. É uma planta altamente competitiva e de difícil controle químico e/ou mecânico, ocorrendo com freqüência nas regiões compreendidas entre as latitudes 30º Norte a 35º Sul (Junqueira Neto et al.., 1982). No Brasil a Cyperus rotundus ocorre em toda extensão territorial. É a invasora mais conhecida no país, possui ampla distribuição, rápida disseminação, crescimento e desenvolvimento, alta capacidade de competição e rusticidade. Pode ser ainda hospedeira alternativa para fungos como e Fusarium spp, insetos, ácaros e para diversas espécies de nematóides, além de causar efeitos alelopáticos, produzindo substâncias que afetam a germinação, a brotação e o desenvolvimento de outras espécies (Kissmann, 1991; Lorenzi, 1994). A Cyperus rotundus é altamente beneficiada pelos cultivos intensivos do solo, o que favorece a sua multiplicação e dispersão e, além disso, é resistente a grande maioria dos herbicidas registrados (Forster e Cerdeira, 1993; Sharma e Gupta, 2007). Em conseqüência destas características e de sua rápida propagação vegetativa, esta ciperácea passa a dominar áreas agrícolas com quase total exclusividade. A Cyperus rotundus é uma planta de metabolismo C4 (Mercado, 1979), e por este motivo é beneficiada por alta intensidade luminosa e temperatura elevada (Holm et al., 1977) mantendo uma alta atividade fotossintética nestas condições, com ausência aparente de fotorespiração (Taiz e Zeiger, 1995; Guimarães, 1993). Essas características fazem com que essa planta daninha se torne muito mais competitiva nas regiões tropicais. Muitas culturas de importância econômica são afetadas pela Cyperus rotundus, como a cana-deaçúcar, o milho, o feijão, o arroz, a soja e hortaliças. 14 Na cana-de-açúcar, cerca de 1 milhão de hectares plantados com esta cultura apresentam infestação de Cyperus rotundus, no Brasil (Kissmann, 1991). Os prejuízos decorrem de competição, durante todo o ciclo, mas especialmente é na fase inicial da cultura e nas reformas que a invasora ocasiona maiores problemas. Pela exudação de substâncias químicas de efeito alelopático a Cyperus rotundus inibe a brotação de gemas e o perfilhamento da cana, o que resulta em estandes muito baixos (Lorenzi, 1983; Durigan, 1991). Na Colômbia Cruz et al. (1971), demonstraram que uma competição inicial por 10 dias reduziu em 10% a produtividade da cana-de-açúcar, enquanto a competição por 30 dias reduziu em 30%. Experimentos conduzidos na Argentina, em 1965, citados por Kissmann (1991), mostraram que em casos extremos de infestação há uma queda de até 75% na colheita de cana e uma redução de 65% na produção de açúcar. 15 Rede de tubérculos Figura 3 – A Cyperus rotundus L. 16 2.5 - Cana-de-açúcar (híbrido interespecífico de Saccharum L.) Originária do sudeste da Ásia, onde é cultivada desde épocas remotas, a exploração canavieira assentou-se, no início, sobre a espécie S. officinarum. O surgimento de várias doenças e de uma tecnologia mais avançada exigiram a criação de novas variedades, as quais foram obtidas pelo cruzamento da S. officinarum com as outras quatro espécies do gênero Saccharum e, posteriormente, através de recruzamentos com as ascendentes (Doorembos e Kassam, 1979)). Os trabalhos de melhoramento persistem até os dias atuais e conferem a todas as variedades em cultivo uma mistura das cinco espécies originais e a existência de cultivares ou variedades híbridas. A importância da cana-de-açúcar pode ser atribuída à sua múltipla utilização, podendo ser empregada in natura, sob a forma de forragem, para alimentação animal, ou como matéria prima para a fabricação de rapadura, melado, aguardente, açúcar e álcool (Orlando Filho, 1983) . O Brasil encontra-se em primeiro lugar no ranking mundial da produção de cana-de-açúcar (Saccharum spp.), atualmente com uma área total cultuvada de aproximadamente 5.400.000 há e uma produção anual da ordem de 400.000.000 de toneladas (cana colhida). O estado de Alagoas com aproximadamente 7,7% da área colhida do Brasil (Agrianual, 2007). Com essa produção a cultura da cana-deaçúcar demonstra ser de grande importância para a economia do Brasil. As características dos cultivares influenciam a eficiência fotossintética da cana, além das variações climáticas que prevalecem durante o desenvolvimento da cultura. A fotossíntese é correlacionada negativamente com a largura das folhas e positivamente com a sua espessura. A temperatura e a disponibilidade de água no solo, dos fatores climáticos, são os mais importantes para a produção de canade-açúcar (Vitória Filho e Christoffoleti, 2004). Sendo a cana-de-açúcar uma planta de metabolismo fotossintético C4, é considerada altamente eficiente na conversão de energia radiante em energia química. 17 Para o aprimoramento do cultivo da cana-de-açúcar, existe a necessidade de melhor entendimento sobre o metabolismo do processo fotossintético. É necessário conhecer-se mais e melhor o sistema de transporte e de acúmulo dos metabólicos, principalmente sacarose, o mais valioso produto da cana-de-açúcar . 2.6 – Milho (Zea mays L.) O milho é uma das mais importantes plantas comerciais com origem nas Américas. Há indicações de que sua origem tenha sido no México, América Central ou Sudoeste dos Estados Unidos. É uma das culturas mais antigas do mundo, havendo provas, através de escavações arqueológicas e geológicas, e através de medições por desintegração radioativa, de que é cultivado há pelo menos 5.000 anos. Logo depois do descobrimento da América, foi levado para a Europa, onde era cultivado em jardins, até que seu valor alimentício tornou-se conhecido. A importância econômica do milho é caracterizada pelas diversas formas de sua utilização, que vai desde a alimentação animal até a indústria de alta tecnologia. Na realidade, o uso do milho em grão como alimentação animal representa a maior parte do consumo desse cereal, isto é, cerca de 70% no mundo. Nos Estados Unidos, cerca de 50% é destinado a esse fim, enquanto que no Brasil varia de 60 a 80%, dependendo da fonte da estimativa e de ano para ano (Fanceli e Dourado Neto, 2000) O milho é uma planta característica de clima tropical, ou seja, exige calor e umidade para produzir satisfatoriamente e proporcionar rendimentos compensadores (Resende et al., 2000). Em plantas de milho, o déficit hídrico afeta praticamente todos os aspectos relacionados ao desenvolvimento das plantas, reduzindo a área foliar, diminuindo a fotossíntese e afetando vários outros processos, além de alterar o ambiente físico das culturas, por modificar o balanço de energia do sistema (Bergamaschi, 1992). 18 As restrições causadas pela baixa disponibilidade de água do solo ou pela alta demanda evaporativa ativam certos mecanismos fisiológicos que permitem aos vegetais escapar ou tolerar essas limitações climáticas, modificando seu crescimento e desenvolvimento, e até mesmo atenuando as reduções na produção final. O milho é cultivado em regiões cuja precipitação varia de 300 a 5.000 mm anuais, sendo que a quantidade de água consumida por uma lavoura de milho durante o seu ciclo está em torno de 600 mm. Dois dias de estresse hídrico no florescimento diminuem o rendimento em mais de 20%, quatro a oito dias diminuem em mais de 50% (Magalhães e Durães, 2006). Segundo Kramer (1969), os efeitos causados pelo déficit hídrico são devidos às modificações na anatomia, morfologia, fisiologia e bioquímica das plantas. 19 3 - OBJETIVO GERAL Caracterizar a nível celular, bioquímico e molecular as enzimas transdutoras de energia em espécies vegetais que expressem diferentes suscetibilidades ao estresse hídrico. A abordagem visa atender a grande demanda de conhecimento básico da área e desenvolver ferramentas de suporte a programas de geração de variedades mais adaptadas e tolerantes a condições de estresses abióticos (extremos de seca). 3.1 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS 1. Gerar conhecimento científico básico sobre o funcionamento e distribuição dos sistemas de transdução de energia da planta daninha Cyperus rotundus, e da planta cultivada Saccharum spp., as quais apresentam impressionante tolerância a estresses ambientais e das quais pouco se conhece sobre sua energética celular, além de estabelecer comparação entre a planta daninha e a cultivada Zea mays ; 2. Identificar padrões de distribuição, abundância e atividade das bombas de prótons V-ATPase e PPase que possam ser usados como indicadores para fenotipagem de plantas tolerantes ao estresse hídrico. 3. Elucidar mecanismos envolvidos na ativação de vias alternativas do metabolismo energético que utilizam pirofosfato ao invés de ATP, durante a adaptação ao estresse hídrico em plantas visando o futuro desenvolvimento de variedades adaptadas de culturas importantes. 20 4 - MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi realizado em duas fases, a primeira com plantas retiradas de uma área experimental do campo e a segunda com plantas cultivadas em casa de vegetação e submetidas ao estresse hídrico. As médias dos dados climatológicos obtidos pelo Setor de Irrigação e Agrometeorologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense na estação evapotranspirométrica em Campos dos Goytacazes, RJ, entre março de 2002 e dezembro de 2003 e março de 2004 e dezembro de 2005 , foram: precipitação, 620 mm; umidade relativa, 79,8 %; temperatura máxima, 28,3ºC; temperatura mínima, 18,9 ºC e temperatura média, 24,5 ºC. A segunda fase foi realizada em casa de vegetação, também na Unidade de Apoio à Pesquisa, no campus da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF, no município de Campos dos Goytacazes, RJ. 4.1 – Plantas Na primeira fase foram utilizadas plantas adultas de Cyperus rotundus coletadas em campo aberto, na Unidade de Apoio à Pesquisa, no campus da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF, no município de Campos dos Goytacazes, RJ, região, segundo Andreazzi (1997), localizada ao Norte do Estado do Rio de Janeiro a uma altitude de 13 m do nível médio do mar, tendo como coordenadas geográficas 21º 45´15” de latitude Sul e 41º 19´28” de longitude Oeste. O clima da região, conforme W. Koppen é classificado como Awi, com temperatura média em torno de 24 ºC e precipitação pluvial de 932 mm por ano. Na segunda fase foram utilizados tubérculos de C. rotundus, colmos de cana-de-açúcar e sementes de milho, que foram plantados em vasos com capacidade para 8 litros, contendo uma mistura de substrato e areia na proporção de 2 :1. As características químicas da mistura de areia e substrato utilizada são apresentadas no Quadro 1. 21 Quadro 1 - – Resultado da análise química do solo utilizado Características Químicas pH Ca 2+ Mg2+ Na+ K cmolc.dm3 H2 O 7,2 Al3+ 2,2 2,3 0,0 P mg.dm3 0,26 1,518 18,70 Análise realizada no Laboratório de Solos da UFRRJ em Campos dos Goytacazes, RJ. As plantas cultivadas foram irrigadas diariamente e após 15 a 20 dias da germinação, foram selecionadas para os procedimentos experimentais. O monitorando do estresse hídrico foi feito por quantidade (%) de água no solo através do peso fresco comparado ao peso seco de três amostras de 25 cm3 de solo, e após o estresse atingir o nível de 70% de ressecamento do solo, a irrigação foi re-estabelecida e mantida constante por 5 dias (120h). A parte vegetal utilizada das plantas de C. rotundus e de milho foi o pseudocaule (como indicado na figura 3). Também foram utilizados colmos de cana-de-açúcar (Saccharum spp.), de onde foram separadas casca (parte mais externa) e miolo para fracionamento celular. No local do experimento, as temperaturas máxima, mínima e média do ar e a umidade relativa (UR) foram monitoradas, entre as 8h e às 17h, por meio de um termohigrômetro modelo 450, Spectrum Technologies. A umidade do solo foi monitorada por um sensor Spectrum Technologies. 4.2 - Preparacão da fração microssomal A metodologia aplicada permite que de uma só vez, partindo-se de uma mesma amostra, as frações de vesículas de membrana plasmática e tonoplasto sejam isoladas. A fração microssomal contendo vesículas de membrana plasmática e de tonoplasto foram isoladas de pseudocaule das plantas de C. rotundus e do colmo de Saccharum spp, através de centrifugação diferencial, essencialmente como descrito por Giannini e Briskin (1987), com algumas modificações. Foram cortadas e pesadas cerca de 15 a 20g de tecido e estes foram então 22 homogeneizadas em meio tamponado, usando grau e pistilo. O tampão de extração é composto de sacarose 250 mM, glicerol a 10 %, 5 mM DTT, 5 mM EDTA, 0,4 % de PVP-40, 100 mM KCl, 0,3 % BSA, PMSF 1 mM, Benzamidina 1mM, Tris-HCl (pH 8,0) 100 mM, na relação peso de tecido/volume de tampão de 1:2. As soluções usadas na preparação foram mantidas no gelo e toda a manipulação foi realizada a 4°C. O homogenato resultante foi filtrado através de quatro camadas de gaze e submetido a centrifugação a 3.000 x g durante dez minutos para a remoção de células não rompidas, e núcleos. O sobrenadante foi submetido a nova centrifugação a 100.000 x g por 30 minutos. O precipitado dessa centrifugação é solubilizado em solução tampão contendo: glicerol a 10 %, DTT 5 mM, PMSF 1 mM, Benzamidina 1mM, Tris-HCl 100 mM pH 7,6 e EDTA 5 mM. 4.3 - Purificação das vesículas de tonoplasto e membrana plasmática A purificação das vesículas de membrana plasmática, foi realizada essencialmente como descrito por Serrano (1990). 1,5 mL da fração microssomal foi aplicada sobre um gradiente descontínuo bifásico de sacarose nas concentrações de 25/46 % p/p, contendo ainda: Tris-HCl 100 mM pH 7,6, EDTA 5 mM, DTT 5mM, PMSF 1mM e Benzamidina 1mM. O gradiente com a fração microssomal foi submetido a uma centrifugação de 100.000 x g em um rotor SW40 (Beckman), durante 2 horas. Após a centrifugação a banda contendo as vesículas de membrana plasmática purificadas localizava-se na interface entre 30 e 46 %, enquanto as vesículas de tonoplasto situavase na interface de 10 e 25 % ou 10 e 30 %. As bandas foram coletadas e congeladas em nitrogênio líquido e armazenadas a –70ºC até utilização. A proteína total contida na preparação foi dosada pelo método clássico descrito por Lowry et al.. (1951) e Bradford (1976). 23 4.4 - Determinação das atividades PPásicas e ATPásicas As atividades PPásicas e ATPásica foram determinadas colorimetricamente, segundo o método clássico descrito por Fiske e Subbarrow (1925). A reação foi iniciada com a adição da proteína e parada através da adição de ácido tricloroacético em baixas temperaturas, para uma concentração final de 10 % (v/v). A composição do meio de reação foi de Tris , 50 mM em pH 6,5 para frações de membrana plasmática e 7,0 para frações de tonoplasto; MgSO4, 3 mM, KCl 100 mM, ATP 1 mM para as ATPases e PPi 1 mM para as PPases e 0,03mg.ml-1 de proteína. Como inibidores da atividade ATPásica foram utilizados 0,2 mM de vanadato no caso de vesículas de membrana plasmática (Bowman et. al., 1988) A hidrólise de PPi foi aferida através de sua dependência por K+. 4.5 - Monitoramento do gradiente de prótons O gradiente de próton foi monitorado pelo decréscimo da fluorescência da sonda fluorescente metacromática, 9-amino-6-cloro-2metoxiacridina (ACMA), excitada com um feixe de λ 415 nm e a emissão captada a 485 nm. O meio de reação era composto de 250mM sacarose, 10 mM de Tris pH 6.5 ou 7,0, KCl 100 mM, ACMA 1,3 µM, MgSO4 1 ou 3 mM e ATP 3 mM ou PPi 0,4mM e 50 µg de proteína. O gradiente foi dissipado com NH4Cl 1,5 mM. 4.6 - Determinação da condutância estomática e da transpiração A taxa fotossintética líquida (A, µmol m-2 s-1), a condutância estomática (gs, mol m-2 s-1) e a transpiração foram determinadas nas plantas de C. rotundus mantidas sob tratamento, por meio do sistema portátil de medição das trocas gasosas, modelo LI-6200 (LI-COR). Para tanto, foi utilizada uma câmara de 0,25L com área de medição de aproximadamente 7,5 cm2. Todas as medidas foram efetuadas entre 7h e 14h com intervalos de 1h nos dias estabelecidos de estresse por déficit hídrico, utilizando sempre a luz ambiente. 24 4.7 - Determinação da fluorescência da clorofila a A variável da fluorescência emitida pela clorofila a foi determinada, nas mesmas folhas que as trocas gasosas, por meio de um fluorímetro de luz modulada modelo Mini-PAM (WALZ). As folhas das plantas foram adaptadas ao escuro, com o uso de pinças, por 30 minutos, para que os centros de reação, do PSII, adquiram a condição de “abertos” (todos os aceitadores primários oxidados) e a perda de calor seja mínima. A fluorescência inicial (F0) foi obtida com luz modulada de baixa intensidade (< 0,1 µmol m-2 s-1) para não induzir efeito na fluorescência variável. A fluorescência máxima (Fm) foi determinada por um pulso de luz saturante de 0,3 s de duração, com freqüência de 20000 Hz. A fluorescência variável (FV) foi determinada pela diferença entre F0 e Fm. Esse pulso permite o fechamento dos centros de reação do PSII. Com os valores de FV e Fm foi obtida a relação FV/Fm. 4.8 - Determinação do teores de clorofila Os teores de clorofila foram determinados a partir do início do tratamento pelo estresse por déficit hídrico, por meio do medidor portátil de clorofila modelo SPAD-502, Minolta, Japão. 4.9 - Microscopia Eletrônica de Transmissão e Imunocitoquímica As amostras de plantas submetidas ao estresse hídrico e após restabelecimento da irrigação foram fixadas em solução de glutaraldeído 2,5 % em tampão fosfato por 24 horas a temperatura ambiente. Após a fixação primária, as amostras foram lavadas por três vezes em tampão fosfato para remoção do glutaraldeído residual e desidratadas em série etanólica crescente. Amostras destinadas a microscopia eletrônica de transmissão (MET) foram pós-fixadas por 1 hora em solução de tetróxido de ósmio 1% em água, lavadas por três vezes em tampão fosfato e só então sofreram desidratação em séria etanólica crescente. Após a desidratação as amostras foram embebidas 25 em resina UNICRIL durante um período de 72h, sendo mantidas em estufa para polimerização da resina. Para visualização do material antes de ser levado ao MET foram obtidas seções semi-finas (0,7 - 1 µm) utilizando um ultramicrótomo Reichert-Jung Ultracut S (Leica) e facas de vidro preparadas em um Knife maker II Reichert-Junga partir dos blocos obtidos. Seções semi-finas coradas com azul de toluidina solução 0,1% foram examinadas em um microscópio ótico Axioplan (Zeiss). Seções ultra-finas para observação da imunocitoquímica ao MET foram recolhidas em grades de níquel e incubadas com anticorpo anti-PPase, subsequentemente contrastadas em acetato de uranila solução 5% em água por 20 minutos e citrato de chumbo por 5 a 7 minutos e então examinados em um microscópio eletrônico de transmissão Zeiss modelo EM 900 (Carls Zeiss). 4.10 - Microscopia Eletrônica de Varredura Amostras de raízes e mesocótilos fixadas em glutaraldeído e tetróxido de ósmio da mesma forma como descrito para amostras preparadas para MET, foram lavadas por três vezes em tampão fosfato e desidratadas em série etanólica crescente. Em seguida, amostras selecionadas foram transferidas para o equipamento Critical Point Drying Apparatus (Mod CPD 030, Bal-tec), e após secagem, foram metalizadas utilizando o Automatic Sputter Coater SCD 050, Bal-tec. Finalizado este processo, as amostras estavam prontas para observação no microscópio eletrônico de varredura DSEM 962 (Zeiss). 26 5 - RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 - Atividade hidrolítica e de transporte de H+ da P-ATPase, da V-ATPase e da H+-PPase em plantas de C. rotundus O trabalho teve início com a caracterização das atividades das bombas de prótons de membrana plasmática e de vacúolo da planta daninha C. rotundus, crescidas em condições de campo. A Figura 4 mostra os resultados de atividade hidrolítica e a Figura 5 de transporte de H+ pelas bombas P-ATPase, V-ATPase e PPase isoladas de plantas crescidas no campo, ou seja, os resultados encontrados relatam a atividade dessas bombas em condições de campo para tal espécie vegetal. Atividade µ mol.mg-1.min-1 3.0 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 0.0 P-ATPase V-ATPase V-PPase Figura 4 - Atividade hidrolítica das bombas de prótons em vesículas enriquecidas de membrana plasmática e de vacúolo de plantas de C. rotundus crescidas em condições de campo (média representativa de cinco experimentos). 27 Fluorescência (%) 120 100 80 b c 60 40 a 20 0 0 200 400 600 800 Tempo (segundos) Figura 5 – Transporte de prótons pelas bombas ATP/PPi dependente de vesículas de membrana plasmática e tonoplasto de plantas em condições de campo. P-ATPase (a), V-ATPase (b) e PPase (c). Fluorescência do ACMA na presença de 50 µg de proteína de membrana. Os experimentos mostraram que a atividade da V-ATPase de membranas enriquecidas de tonoplasto na C. rotundus, foi, em média de 1,6 µmol.mg ptn-1.min-1 e a atividade da PPase, de 0,5 µmol.mg ptn1 .min-1 (Figura 4), apresentando, portanto valores superiores aos encontrados na literatura para Vigna unguiculata (Otoch et al., 2000) e para Suaeda salsa (Han et al., 2005), porém, o balanço na atividade entre as duas bombas de prótons vacuolares está coerente com o padrão estabelecido para a maioria das preparações de tecido vegetal, em que a V-ATPase, que é a principal bomba vacuolar, podendo gerar um gradiente de H+ através da membrana vacuolar de magnitude parecida ou maior que PPase (Perotti et al.,1994; Giannini e Briskin, 1987; Rea e Sanders, 1987), como é possível observar na figura 5. Em condições ótimas para a planta, a atividade da V-ATPase supera a da PPase (Nakanishi e Maeshima, 1998). Segundo Maeshima (2000), uma maior quantidade da enzima PPase está presente em 28 tecidos jovens, ou em condições de estresse energético. Esta fase do experimento foi realizada com plantas adultas não estressadas. Tendo o conhecimento de que a C. rotundus possui característica de tolerância a condições adversas do ambiente, esperava-se encontrar um padrão diferenciado do descrito para outras plantas mais sensíveis a alterações ambientais, com uma atividade hidrolítica e de transporte pela PPase mais alto que a da V-ATPase, mostrando um padrão diferenciado da C. rotundus, porém, os valores encontrados para as atividades das bombas de prótons PPase e V-ATPase da C. rotundus seguem o padrão descrito na literatura para outras plantas. Quando o assunto é estresse abiótico, muitos grupos, com muitos resultados contraditórios, têm estudado os efeitos do estresse salino nas bombas de prótons vacuolares (V-ATPase e PPase). Otoch et al. (2001) mostraram que a atividade de transporte dependente de PPi sofre uma redução na germinação de sementes de Vigna unguiculata crescidas sob condição de estresse salino. Qiu et al. (2007) mostraram que em vesículas enriquecidas de tonoplasto de S. salsa a atividade hidrolítica e de transporte de prótons da V-ATPase aumentaram quando as plantas foram submetidas ao tratamento com estresse salino em comparação com plantas controle. Russak e Klobus (2007) mostraram que plantas submetidas ao estresse salino apresentaram aumento na atividade da V-ATPase. Porém, estudos de energética associados ao estresse hídrico estão limitados a poucos grupos. Com o objetivo de buscar características diferenciadas na bioenergética da C. rotundus quando submetidas à situação de estresse por déficit de água, realizamos experimentos em casa de vegetação. Os resultados apresentados a seguir mostram o comportamento das bombas de prótons de membrana plasmática e vacuolares da C. rotundus sob condição de déficit hídrico. A figura 6 mostra a atividade de hidrólise da bomba de prótons de membrana plasmática P-ATPase. Uma importante característica da 29 P-ATPase é que ela funciona como um indicador do funcionamento celular e sua atividade é afetada por diversos fatores ambientais (Serrano, 1990; Palmgren, 1998). Sendo assim, é possível detectar a presença de estresse em nível celular através do funcionamento da PATPase. Observou-se que durante o estresse hídrico a atividade hidrolítica dessa bomba cai, chegando a aproximadamente 60% de inibição em relação ao controle, indicado no eixo 0 (zero) da figura 7, e após 24h do restabelecimento da irrigação a atividade retorna a níveis próximos ao do controle, indicando o final do período de estresse. hidrólise ATP -1 -1 µ mol.mg .min 3 2 1 0 controle dh.30% dh.50% dh.70% ri.10min ri.24h ri.48h ri.120h Figura 6 – Atividade hidrolítica da bomba de próton P-ATPase em vesículas enriquecidas de membrana plasmática de plantas de C. rotundus submetidas a déficit de água (dh) e após o restabelecimento da irrigação (ri) (média representativa de três experimentos). 30 inibição/estímulo (%) 60 40 20 0 dh.30% dh.50% dh.70% ri.10min ri.24h ri.48h ri.120h -20 -40 -60 Figura 7 - Porcentagem de inibição ou estímulo da atividade hidrolítica (µmol.mg-1.min-1) da bomba de prótons P-ATPase dos tratamentos em relação ao controle. Os resultados que seguem (figuras 8, 9, 10, 11 e 12) mostram a atividade hidrolítica das bombas V-ATPase e PPase, principal foco do trabalho apresentado. Observou-se que ambas bombas sofreram inibição da atividade de hidrólise conforme o aumento do estresse hídrico, indicado pelo aumento na porcentagem de ressecamento do solo. O resultado apresentado na figura 12 indica claramente que a VATPase é a bomba de prótons mais inibida quando comparada a PPase. Esse resultado sugere um déficit no suprimento de ATP, levando a uma redução na quantidade de substrato para ser hidrolisado pela V-ATPase. Corbineau et al. (2004), mostraram que o estresse hídrico leva a um déficit energético avaliado pelos baixos níveis de ATP, ADP e NTP, nucleotídeos responsáveis pelo armazenamento de energia em suas ligações químicas para utilização nos diversos processos celulares. O suprimento de PPi, que é subproduto de muitos processos metabólicos, parece ter sido menos afetado, já que a atividade da PPase sofreu uma inibição cerca de 40% menor que a V-ATPase quando comparadas ao controle (figura 12). 31 hidrólise ATP -1 -1 µ mol.mg .min 2 1 0 controle dh.30% dh.50% dh.70% ri.10min ri.24h ri.48h ri.120h Figura 8 – Atividade hidrolítica da bomba de próton V-ATPase em vesículas enriquecidas de tonoplasto de plantas de C. rotundus submetidas a déficit de água (dh) e após o restabelecimento da irrigação (ri) (média representativa de inibição/estimulação (%) três experimentos). 100 60 20 -20 dh.30% dh.50% dh.70% ri.10min ri.24h ri.48h ri.120h -60 -100 Figura 9 - Porcentagem de inibição ou estímulo da atividade hidrolítica (µmol.mg-1.min-1) da bomba de prótons VATPase dos tratamentos em relação ao controle. 32 hidrólise PPi -1 -1 mmol.mg .min 2 1 0 controle dh.30% dh.50% dh.70% ri.10min ri.24h ri.48h ri.120h Figura 10 – Atividade hidrolítica das bomba de próton PPase em vesículas enriquecidas de tonoplasto de plantas de C. rotundus submetidas a déficit de água (dh) e após o restabelecimento da irrigação (ri) (média representativa de inibição/estimulação(%) três experimentos). 120 80 40 0 dh.30% dh.50% dh.70% ri.10min ri.24h ri.48h ri.120h -40 -80 -120 Figura 11 - Porcentagem de inibição ou estímulo da atividade hidrolítica (µmol.mg-1.min-1) da bomba de tratamentos em relação ao controle. prótons PPase dos inibição/estimulação (%) 33 100 V-ATPase PPase 50 0 dh. 30% dh. 70% ri. 24h ri. 120h -50 -100 Figura 12 – Comparação entre a porcentagem de inibição ou estímulo da atividade hidrolítica (µmol.mg-1.min-1) das bomba de prótons V-ATPase e PPase dos tratamentos em relação ao controle. 24h após o restabelecimento da irrigação, é possível observar um incremento de aproximadamente 20% da atividade da V-ATPase e de 100% da PPase, quando comparadas ao controle (figura 12), o que sugere que a capacidade de recuperação da PPase é muito superior que a da V-ATPase. A explicação para os resultados apresentados pode ter como base o fato da enzima PPase ser um polipeptídeo único, codificada por um único gene (Sarafian et al.., 1992), sendo assim, sua resposta de expressão após o término do estresse com a finalidade de restabelecer o metabolismo celular, torna-se mais rápida. Além disso, também é possível discutir a partir do fato de que após o término do estresse hídrico, que provocou um estresse energético com conseqüente depleção nos níveis de ATP, o substrato mais abundante presente no citossol é o PPi, então, 24h após o restabelecimento da irrigação, a atividade PPásica superou a ATPásica. A maior atividade PPásica acarreta na hidrólise do pirofosfato (PPi) e aumenta a produção de fosfato inorgânico, que, juntamente com o ADP, é substrato para formação de ATP. Na figura 12 é possível 34 observar que aos 5 dias após o restabelecimento da irrigação (120h) a atividade da V-ATPase encontra-se em níveis semelhantes ao controle e a da PPase é reduzida a um nível pouco maior que o controle. Nesta situação, a planta, provavelmente, está retomando sua atividade energética normal, onde o suprimento de ATP aos poucos está sendo normalizado. É possível que após mais alguns dias a atividade da VATPase seja recuperada e volte a ser prioritária em relação a PPase. Na figura 13, é possível observar o comportamento das plantas de C. rotundus no período do estresse hídrico e após o restabelecimento da irrigação. É possível observar que mesmo após cinco dias sem irrigação, as folhas da planta se mantêm túrgidas e os sintomas de déficit hídrico aparecem apenas aos 11 dias sem irrigação, onde é possível observar sintomas de clorose e murcha. Após o restabelecimento da irrigação, a recuperação da planta é bastante rápida, onde após 24h do restabelecimento da irrigação as folhas retomam seu aspecto de turgescência e os sintomas da desidratação sofrida podem ser observados apenas em algumas folhas. Em 1971 e 1977, Gaff descreveu um grupo de plantas que chamou de ressurection plants, que são um grupo de plantas que possuem a habilidade de tolerar longos períodos de dessecação e “ressuscitar” após o restabelecimento da irrigação. Plantas com tais características podem utilizar diferentes mecanismos fisiológicos e bioquímicos de adaptação à dessecação e de retorno ao padrão metabólico normal após a re-hidratação (Bewley e Krochko, 1982; Navari-Izzo e Rascio, 1999). No decorrer do experimento foi possível observar que cerca de 3 dias após o restabelecimento da irrigação, novas brotações foram observadas, provavelmente como uma estratégia da espécie em se reproduzir enquanto as condições do ambiente permitem (dados não apresentados). A C. rotundus não foi descrita como uma ressurection plant, porém, suas características de recuperação de seu estado metabólico 35 após a re-hidratação, como pode ser visualizado na figura 13, sugerem características próximas a essas plantas. Figura 13 – Plantas de C. rotundus. Controle (A), 5º dia de estresse hídrico (B), 11º dia de estresse hídrico (C) e 24h após o restabelecimento da irrigação (D). 36 Para facilitar a comparação com uma planta cultivada de metabolismo C4, experimentos com milho (Zea mays) foram conduzidos nas mesmas condições do experimento com a planta daninha C. rotundus. Os dados comparativos para a atividade hidrolítica das bombas de prótons vacuolares (V-ATPase e PPase) podem ser observados na tabela 1. Tabela 1 – Comparação entre a atividade hidrolítica das bombas de prótons vacuolares de C. rotundus e Z. mays em situação de déficit hídrico (dh) e após o restabelecimento da irrigação (re-irri). Valores representativos (± SD) de três experimentos. controle V-ATPase dh 30% dh 70% re-irri 24h Hidrólise ATP (µ µmol.mg-1.min-1) C. rotundus 1,77 ±0,15 1,16 ±0,18 0,54 ±0,03 1,93 ±0,08 Zea mays 0,14 ±0,04 0,09 ±0,04 0,05 ±0,03 0,13 ±0,05 V-PPase C. rotundus Zea mays Hidrólise PPi (µ µmol.mg-1.min-1) 0,92 ±0,07 0,93 ±0,07 0,63 ±0,03 1,95 ±0,05 0,1 ±,050 0,05 ±0,02 0,03 ±0,02 0,09 ±0,03 Os dados apresentados na tabela 1 mostram a diferença metabólica existente entre a planta daninha e a cultivada, onde os valores de atividade hidrolítica obtidos em preparações de plantas controle, plantas sob déficit hídrico e plantas re-irrigadas de C. rotundus superam os de Z. mays, sugerindo uma energética diferenciada, o que sustentaria a condição de rusticidade da C. rotundus. Nas figuras 14 e 15 é possível observar a atividade de transporte de prótons pelas bombas vacuolares. Normalmente o funcionamento de uma bomba de prótons é avaliado por sua capacidade de hidrolisar substrato acoplado a capacidade de transportar prótons e com isso favorecer o transporte secundário. 37 Figura 14 – Bomba de próton ATP dependente de vesículas de tonoplasto de plantas irrigadas diariamente (a), 30% dh (b), 70% dh (c) e 24h após restabelecimento da irrigação (d). Fluorescência do ACMA na presença de vesículas de tonoplasto (50 µg de proteína de membrana). Figura 15 – Bomba de próton PPi dependente e permeabilidade da membrana de vesículas de tonoplasto de plantas irrigadas diariamente (a), 30% dh (b), 70% dh (c) e após restabelecimento da irrigação (d). Fluorescência do ACMA na presença de vesículas de tonoplasto (50 µg de proteína de membrana). 38 % estímulo/inibição V0 100 V-ATPase PPase 80 60 40 20 0 -20 5º dia 11º dia re-irrigada -40 -60 -80 -100 Figura 16 – Porcentagem de inibição ou estímulo da velocidade inicial do transporte de prótons pelas bombas de próton V-ATPase e PPase da membrana de vesículas de tonoplasto dos tratamentos em relação ao controle. Com os resultados apresentados nas figuras 14, 15 e 16, é possível observar que a atividade de transporte de prótons da VATPase parece estar em uma situação desacoplada de sua atividade hidrolítica, pois sua atividade de transporte, mesmo com plantas sob déficit hídrico de 70% apresentou-se maior que a da PPase, enquanto que sua atividade hidrolítica foi 40% menor que a da PPase. Matsuura-Endo et al. (1992) apresentaram dados em que o tratamento com estresse por baixas temperaturas afetou a atividade hidrolítica e de transporte da V-ATPase; Darley et al. (1995) mostraram que sob condição de estresse por baixas temperaturas a V-ATPase não foi afetada em plântulas de Mung bean e que no caso apresentado a principal bomba de prótons foi a PPase; Colombo e Cerana (1993) mostraram um incremento na atividade PPásica em suspensão de células de cenoura sob tratamento com NaCl e Rea e Poole (1993) mostraram a importância dessa bomba em células de plantas sob condição de anoxia e estresse por baixas temperaturas. As diferenças encontradas nos resultados dos trabalhos supracitados são atribuídas 39 ao fato de que as condições de crescimento para as diversas plantas submetidas aos estresses variados são diferentes, favorecendo, a variabilidade dos fenômenos celulares. Os resultados seguintes mostram que a bomba de prótons VATPase apresentou-se pouco menos inibida, em relação a PPase (figuras 17 e 18) quando comparada aos resultados citados anteriomente, o que pode ser atribuído ao fato dos experimentos terem sido conduzidos em diferentes épocas do ano, porém, este fato não comprometeu as conclusões do trabalho. Como a H+-PPase vacuolar é a principal enzima capaz de hidrolisar PPi presente nas membranas do vacúolo, o estímulo observado deve estar relacionado com a ativação desta enzima induzida pelo re-estabelecimento da irrigação, sustentando a hipótese de que existe um possível acoplamento entre as duas bombas de prótons vacuolares, onde o gradiente eletroquímico gerado pela H+PPase energizaria a reversão do ciclo catalítico da H+-ATPase, favorecendo a síntese de ATP (Façanha & de Meis, 1998). Assim, a indução deste sistema regenerador de ATP durante o re- estabelecimento da irrigação pode ser parte da resposta adaptativa da planta ao estresse hídrico a que foi submetida. Importante ressaltar que os dados apresentados mostram que as duas bombas de prótons vacuolares trabalham em conjunto para manter os processos fisiológicos da planta e superar o estresse a que foi submetida. 40 Atividade µ mol.mg-1.min-1 2.5 controle 5º dia 11º dia re-irrigada 2.0 1.5 1.0 0.5 0.0 P-ATPase V-ATPase PPase Figura 17 - Atividade hidrolítica das bombas de prótons em vesículas enriquecidas de membrana plasmática e de vacúolo de plantas de C. rotundus submetidas a estresse hídrico (média inibição/estimulação (%) representativa de três experimentos). 100 V-ATPase PPase 80 60 40 20 0 -20 5º dia 11º dia re-irrigada -40 -60 -80 -100 Figura 18 - Porcentagem de inibição ou estímulo da atividade hidrolítica (µmol.mg-1.min-1) das bombas de prótons V-ATPase e PPase dos tratamentos em relação ao controle. 41 No presente trabalho, os resultados encontrados sugerem que as plantas de C. rotundus possuem um metabolismo adaptado para resistência ao estresse por déficit de água, pois mesmo após 11 dias sem irrigação, e apesar das plantas apresentarem sintomas de clorose severa e murcha, suas bombas de prótons vacuolares ainda possuíam a capacidade de hidrolisar os substratos ATP e PPi, possivelmente com a finalidade de manter as atividades celulares das plantas. Porém, pode-se observar que houve um decréscimo na atividade de ambas as bombas com o passar dos dias, sendo que a PPase foi a enzima que sofreu maior inibição, quando comparada a V-ATPase. Esses resultados corroboram com dados de literatura que apresentam a VATPase como uma enzima extraordinariamente importante para manter a homeostase iônica e o metabolismo celular. Lüttge et al. (1995) demonstraram que em condições de estresse ambiental a V-ATPase funciona como uma enzima de resposta de estresse, sofrendo pequenas modificações na expressão de subunidades. Observamos também que após o restabelecimento da irrigação a porcentagem de estímulo em relação ao controle da atividade hidrolítica da PPase superou em aproximadamente 80% a da V-ATPase, o que nos sugere a rápida recuperação dessa enzima objetivando a recuperação do metabolismo da planta. 5.2 - Determinação da condutância estomática e da transpiração Nas figuras 19, 20 e 21 é possível observar os resultados da taxa fotossintética líquida, transpiração e condutância estomática das plantas submetidas ao estresse hídrico quando comparado às plantas controle. É possível observar que as plantas sob estresse hídrico possuem taxa de transpiração e condutância estomática mais baixas que as plantas controle. Esse resultado vai de encontro aos dados encontrados na literatura, onde em situação de déficit hídrico as plantas fecham os estômatos. Esse fechamento estomático evita a transpiração excessiva, prevenindo a perda de água pela planta, porém, compromete a fotossíntese, uma vez que com os estômatos fechados, 42 as plantas não absorvem o CO2 da atmosfera, substrato para ocorrência da fotossíntese. Aparentemente, a C. rotundus segue o mesmo padrão das mais diversas espécies vegetais citadas na literatura, onde sob déficit hídrico a condutância estomática decresce, assim como a assimilação de carbono e conseqüentemente, a fotossíntese. A visualização desse fechamento estomático foi possível utilizando a técnica de microscopia de varredura, que será apresentada no seguimento do trabalho. 5.3 - Determinação da fluorescência da clorofila a A fluorescência da clorofila a indica a quantidade de energia que não é aproveitada pela planta para a realização dos processos fotoquímicos. Nos dados apresentados na figura 22, pode-se observar que as diferenças entre as plantas controle e as submetidas ao estresse somente apareceram no 11º dia, e os valores apresentados são pouco menores que a faixa considerada normal para plantas não submetidas ao estresse. Segundo Jakl e Bolhàr-Nordenkampf (1991), a eficiência quântica (Fv/Fm) pode variar em uma faixa de 0,75 a 0,85 em plantas não submetidas a estresses. A diminuição da relação Fv/Fm pode ser usada para estudar o efeito de estresse causado pela aplicação de herbicidas (Eullaffroy, 2003). Esses resultados sugerem a resistência fisiológica dessa planta daninha ao estresse ambiental a que foi submetida. 43 Figura 19- Resultado da taxa fotossintética líquida (A) em plantas de C. rotundus irrigadas todos os dias (contr.), submetidas ao tratamento de déficit hídrico (dh) e após o restabelecimento da irrigação (ri). Figura 20 – Resultados da transpiração (gs) em plantas de C. rotundus irrigadas todos os dias (contr.), submetidas ao tratamento de déficit hídrico (dh) e após o restabelecimento da irrigação (ri). 44 Figura 21- Resultado da condutância estomática (gs) em plantas de C. rotundus irrigadas todos os dias (contr.), submetidas ao tratamento de déficit hídrico (dh) e após o restabelecimento Eficiência quântica (F v/Fm) da irrigação (ri). 0,8 0,7 controle tratamento 0,6 0,5 1º dia 5º dia 11º dia re-irrigada Figura 22 – Determinação da eficiência quântica (Fv/Fm) em plantas de C. rotundus irrigadas todos os dias (controle) e submetidas ao tratamento de estresse hídrico por 11 dias (tratamento). 45 5.4 - Determinação do teor de clorofila Os dados apresentados para teor de clorofila na figura 23, mostram a redução nas plantas estressadas em relação às plantas controle ao longo dos dias de estresse. Quando comparados aos dados de eficiência quântica apresentados na figura 22 esse decréscimo no teor de pigmentos pode sugerir uma capacidade de adaptação da C. rotundus às condições adversas de modo que a quantidade de fótons captada pelas clorofilas do complexo antena que se mantiveram inalteradas é o suficiente para manter os valores de fluorescência da clorofila a nas plantas estressadas em relação ao controle até o 7º dia após a suspensão da irrigação. No 11º dia, o estresse hídrico severo contribuiu para redução do teor de pigmentos, o que também afetou o rendimento quântico, porém, após o re-estabelecimento da irrigação, com o ajuste do metabolismo da planta, o teor de pigmentos voltou a aumentar, acompanhado do rendimento quântico da fotossíntese. controle tratamento Teor de pigmentos 40 35 30 25 20 15 1º dia 5º dia 11º dia re-irrigada Figura 23 – Determinação do teor de pigmentos fotossintéticos em plantas de C. otundus irrigadas todos os dias (controle) e submetidas ao tratamento de estresse hídrico por 11 dias (tratamento). 46 5.5 – Microscopia Eletrônica de Varredura O déficit hídrico tem efeito em diversos processos fisiológicos das plantas, visto que o estresse geralmente aumenta a resistência difusiva ao vapor de água, mediante fechamento dos estômatos, reduzindo a transpiração e, conseqüentemente, o suprimento de CO2 para a fotossíntese. Muitos desses efeitos refletem mecanismos de adaptação das plantas ao ambiente (Nogueira, 1997). Mendonça (2000) estudando os estômatos de plantas daninhas monocotiledôneas observou em Cyperus rotundus L. a presença de apenas uma fileira de estômatos nos bordos foliares da superfície adaxial, e densidade estomática de 135 estômatos/mm2 na superfície abaxial. Procurou-se observar o comportamento estomático das plantas de C. rotundus conforme os tratamentos de estresse hídrico a que estavam sendo submetidas. Observou-se após o preparo das amostras que nas plantas controle, que recebiam irrigação diária, os estômatos apresentavam-se abertos (figura 24 A e B), facilitando as trocas hídricas e gasosas, porém, nas plantas submetidas ao estresse hídrico, os estômatos estavam fechados (figura 24 C e D), o que faz com que a planta não realize as trocas gasosas necessárias para o processo fotossintético, com conseqüente perda de biomassa no decorrer do tempo. Pudemos observar também que 24h após o restabelecimento da irrigação (figura 24 E e F), os estômatos ainda não estavam abertos como no controle, porém, espera-se que após o ajustamento da planta a nova situação (final do estresse hídrico), os estômatos voltem a abrir normalmente. 47 A B C D E F Figura 24 – Superfície abaxial de Cyperus roitundus. A) Visão geral da superfície foliar de planta controle (500x); B) Detalhe do estômato (3000x); C) Visão geral da superfície foliar de planta sob déficit de 50% de água (500x); D) Detalhe de estômato (1000x); E) Visão geral da superfície foliar de planta 24h após restabelecimento da irrigação (500x); F) Detalhe de estômato (3000x). 48 5.6 – Microscopia Eletrônica de Transmissão Plantas tolerantes ao estresse hídrico são capazes de manter sua pressão de turgor em situação de baixo potencial hídrico aumentando o número de moléculas de soluto dentro das células (Radin, 1983; Bray et al..,2000). Esse transporte de solutos acontece por intermédio das bombas de prótons. Uma vez que a avaliação visual do experimento mostrou que os sintomas do estresse, como a murcha e a clorose das folhas, apareceram somente após um período de 11 dias sem irrigação e que após o restabelecimento da irrigação, a recuperação da planta foi bastante rápida (figura 13), sugerindo uma maior ativação das bombas vacuolares, ou mesmo um incremento na expressão das mesmas, como mostrado por Gaxiola et al.. (2001). Esperava-se encontrar a marcação ao redor da membrana vacuolar das células das plantas, uma vez que a bomba de prótons PPase encontra-se distibuída por tal membrana. Esperava-se, também, encontrar uma maior marcação nas amostras coletadas de plantas reirrigadas, um vez que os dados bioquímicos apresentados apontavam essa etapa como a de maior atividade da bomba PPase. No entanto, as preparações obtidas não permitiram observar com clareza as estruturas celulares. A imunomarcação para PPase permitiu observar que a presença da bomba de prótons PPase é maior nas plantas controle (figura 25), sofrendo uma redução durante o estresse (figura 26) e apresentando uma quantidade ainda menor que o controle nas plantas re-irrigadas (figura 27), sugerindo que a regulação dessas bombas de prótons acontecem de maneira pós transcripcional. 49 Figura 25 – Micrografia eletrônica de transmissão com imunomarcação anti PPase em plantas controle (20000x). Figura 26 – Micrografia eletrônica de transmissão com imunomarcação anti PPase em plantas sob estresse hídrico (20000x). 50 Figura 27 – Micrografia eletrônica de transmissão com imunomarcação anti PPase em plantas re-irrigadas (20000x). 5.7 - Atividade hidrolítica e de transporte de H+ da P-ATPase, da V-ATPase e da H+-PPase em colmos de Saccharum spp. Os resultados apresentados a seguir mostram uma caracterização inicial e preliminar das atividades das bombas de prótons de membrana plasmática e de vacúolo em colmos da planta Saccharum spp., cultivadas em condições de campo. Tal espécie foi escolhida para o experimento por ser uma das plantas mais importantes economicamente para o Brasil. A figura 28 mostra os resultados de atividade hidrolítica e a figura 29 de transporte de H+ pelas bombas P-ATPase, V-ATPase e PPase isoladas de casca de colmo plantas crescidas em condições de campo, ou seja, os resultados encontrados relatam a atividade dessas bombas em tal tecido. 51 Atividade µ mol.mg-1.ptn-1 1.4 1.2 1.0 0.8 0.6 0.4 0.2 0.0 P-ATPase V-ATPase PPase Figura 28 - Atividade hidrolítica das bombas de prótons em vesículas enriquecidas de membrana plasmática e de vacúolo de casca de colmo de plantas cultivadas em condições de campo (média representativa de três experimentos). Figura 29 – Bomba de próton ATP/PPi dependente de vesículas de membrana plasmática e tonoplasto de casca de colmo de plantas cultivadas em condições de campo. P-ATPase (a), V-ATPase (b) e PPase (c). Fluorescência do ACMA na presença de 50 µg de proteína de membrana. 52 Os resultados apresentados na figura 28 sugerem o padrão de atividade hidrolítica para casca de colmo de cana-de-açúcar, onde a bomba de prótons PPase apresentou atividade mais alta que as demais, resultado esse que se confirmou no transporte de prótons (figura 29). É possível que esse resultado esteja relacionado com o transporte de solutos, pois esta espécie vegetal é conhecida por sua alta atividade de transporte de solutos e síntese de açúcares. O tecido externo do colmo (que denominamos de casca), possui atividade fotossintética e, possivelmente alta atividade de biossíntese de açúcares, o que justificaria a alta atividade da PPase, que estaria funcionando utilizando-se do PPi liberado pelas reações de biossíntese. 53 6 – CONCLUSÕES • Em condições de campo a planta daninha Cyperus rotundus apresentou um padrão de atividade hidrolítica e de transporte de prótons semelhante ao apresentado na literatura para as demais plantas, onde a atividade hidrolítica é maior para a VATPase e o gradiente H+ de apresenta magnitude semelhante ao da PPase; • Durante o estresse hídrico, observou-se que as plantas de C. rotundus apresentaram sintomas de déficit hídrico somente aos 11 dias sem irrigação e que após 24h do seu restabelecimento, as folhas retomam seu aspecto de turgescência, semelhante ao que acontece com as ressurection plants; • Após restabelecimento da irrigação a bomba de prótons PPase mostrou-se superior a V-ATPase tanto em hidrólise de substrato quanto em transporte de prótons, sugerindo que o gradiente de prótons gerado através da membrana vacuolar pela hidrólise do PPi poderia estar sendo usado para síntese de ATP, para que os processos celulares da planta fossem mantidos; • Os parâmetros fisiológicos avaliados demonstram que a planta daninha C. rotundus segue os mesmos padrões das mais diversas espécies vegetais de metabolismo C4, onde sob déficit hídrico, a condutância estomática, a eficiência quântica e o teor de pigmentos decrescem; • As avaliações microscopia de morfológicas varredura utilizando a técnica de comprovam o fechamento estomático durante o estresse hídrico; • As avaliações da quantificação e localização da bomba de prótons PPase, utilizando a técnica de imunomarcação e visualização em microscópio eletrônico de transmissão mostraram que a presença das bombas de prótons PPase é 54 maior nas plantas controle, sofrendo redução durante o estresse e não superando a quantidade encontrada no controle mesmo após o restabelecimento da irrigação, sugerindo que a regulação seja pós transcripcional; • As avaliações efetuadas em tecido de cana-de-açúcar mostraram ser maior a atividade de hidrólise e transporte de prótons pelas bombas vacuolares em casca e que, neste caso, a PPase foi a que apresentou maior atividade, sugerindo que seu funcionamento pode estar relacionado com a síntese de ATP, utilizando o gradiente gerado pela hidrólise do PPi, para ser utilizado durante os processos de biossíntese de açúcares 55 7 - BIBLIOGRAFIA Amzallag, G.N., Lerner, H.R. 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