HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA EM CIRURGIA GERAL MARIANA MARCONATO MONJE HÉRNIA LOMBAR: RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA FORTALEZA-CE 2016 MARIANA MARCONATO MONJE HÉRNIA LOMBAR: RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Cirurgia Geral, sob a orientação do Professor Dr. Francisco de Assis Costa FORTALEZA-CE 2016 AGRADECIMENTOS A família e aos amigos que foram a base e a sustentação Aos companheiros residentes, por compartilhar os momentos. Aos meus preceptores, pela paciência e dedicação. Ao paciente, em sua totalidade. RESUMO Hérnias lombares são defeitos raros envolvendo áreas enfraquecidas da parede abdominal posterior. A região do triângulo lombar superior, de Grynfeltt, é o local acometido com maior frequência, seguido pelo o triângulo lombar inferior de Petit. Em casos de hérnias grandes, sejam elas congênitas, póscirúrgicas ou traumáticas, o defeito da parede abdominal pode afetar toda a região lombar. A dor lombar é o sintoma mais comum, embora pequenas hérnias possam ser assintomáticas, exceto por uma massa palpável. Ainda há controvérsias acerca da classificação dos defeitos da parede abdominal, do diagnóstico pré-operatório adequado e do tratamento de escolha para estas hérnias. A abordagem laparoscópica parece ser a melhor opção para o tratamento de defeitos pequenos ou moderados, estando a cirurgia aberta reservada para grandes defeitos ou refratárias à abordagem laparoscópica. O objetivo deste estudo é descrever um caso de hérnia de Grynfeltt em uma paciente de 64 anos atendida em um ambulatório de cirurgia geral de um hospital de atenção terciária da cidade de Fortaleza – Ceará – Brasil e apresentar uma revisão de Literatura acerca das hérnias lombares, procurando-se enfatizar aspectos relacionados à embriologia, anatomia, etiologia, manifestações clínicas, achados radiológicos e tratamento. Palavras-chave: laparoscopia. Hérnia; região lombossacra; hérniorrafia; cirurgia; ABSTRACTS Lumbar hernias are rare defects involving weakened areas of the posterior abdominal wall. The region of the upper lumbar triangle of Grynfeltt, is the site affected most often, followed by the lower lumbar triangle of Petit. In cases of large hernias, whether congenital, post-surgical or traumatic, the defect of the abdominal wall can affect the entire lower back. Low back pain is the most common symptom, but small hernias may be asymptomatic except for a palpable mass. There is still controversy about the classification of abdominal wall defects, the appropriate preoperative diagnosis and the treatment of choice for these hernias. The laparoscopic approach seems to be the best option for the treatment of minor or moderate defects, with the open surgery reserved for large defects or refractory laparoscopic approach. The objective of this study is to describe a case of hernia Grynfeltt in a 64 year old patient treated in a general surgery clinic of a tertiary care hospital in Fortaleza - Ceará - Brazilgite aqui seu abstracts. Keywords: Hernia; Lumbosacral Region; Herniorrhaphy; General Surgery; Laparoscopy SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO………………………………………. 8 2 METODOLOGIA……………………………………. 9 3 RELATO DE CASO………………………………… 10 4 REVISAO DE LITERATURA E DISCUSSÃO DO 15 CASO...................................................................... 4.1 CONTEXTO HISTÓRICO....................................... 15 4.2 EMBRIOLOGIA....................................................... 16 4.3 CONSIDERAÇÕES ANATÔMICAS....................... 17 4.4 ETIOLOGIA........................................................................ 20 4.5 APRESENTAÇÃO CLINICA.............................................. 23 4.6 DIAGNÓSTICO POR IMAGEM......................................... 25 4.7 TRATAMENTO................................................................... 26 4.8 ABORDAGEM POR VIA ABERTA.................................... 28 4.9 ABORDAGEM POR VIA LAPAROSCOPICA.................... 29 5 CONCLUSÃO..................................................................... 32 6 BIBLIOGRAFIA.................................................................. 33 7 ANEXOS.............................................................................. 38 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Hérnia lombar esquerda. ..................................................................... 5 Figura 2. Tomografia computadorizada. ............................................................. 5 Figura 3. Tomografia computadorizada. ............................................................. 6 Figura 4. Saco herniário. .................................................................................... 6 Figura 5. Redução saco herniário . .................................................................... 7 Figura 5. Aposição da tela ..................................................................................7 8 1 INTRODUÇÃO A hérnia lombar pode ser definida como a protrusão de um órgão (seja intraperitoneal ou extraperitoneal) ou de um tecido extraperitoneal através de um defeito congênito ou adquirido na parede abdominal póstero-lateral. Hérnias lombares são uma entidade rara e de difícil diagnóstico até mesmo por cirurgiões, levando a uma detecção tardia, com a maioria dos pacientes chegando ao departamento de emergência dos hospitais com uma hérnia já encarcerada ou estrangulada. Foi descrita pela primeira vez em 1672, havendo uma escassez de relatos desde então. Em estudo publicado em 2007 por Moreno-Egea et al. (1), estima-se que 300 casos foram relatados no literatura. De acordo com Hafner et al. (2), um cirurgião geral terá a oportunidade de reparar apenas uma hérnia lombar em sua vida. A hérnia geralmente se projeta através de duas estruturas anatômicas principais, que são o triângulo inferior de Petit e o triângulo superior de Grynfeltt-Lesshaft, apresentando-se comumente como uma protuberância saliente na parede abdominal posterior, podendo ser diagnosticada tanto clinicamente, através da detecção de sinais clássicos de hérnias; como radiologicamente, utilizando-se a tomografia computadorizada, que pode identificar a localização e o conteúdo desses defeitos da parede abdominal. O tratamento deve ser sempre cirúrgico para evitar complicações. Evidências recentes recomendam a abordagem laparoscópica em vez da cirurgia aberta, originalmente definida como tratamento padrão para hérnias da coluna lombar (3). 9 2 METODOLOGIA 2.1 LOCAL DO ESTUDO O presente estudo foi desenvolvido no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), localizado na Rua Ávila Goulart, nº 900, bairro Papicu, Fortaleza – CE. 2.2 MÉTODO 2.2.1 Revisão de Prontuário Foi, inicialmente, feita revisão de prontuário do paciente durante o período em que esteve internado na enfermaria da cirurgia geral, além de acompanhamento ambulatorial do HGF. 2.2.2 Pesquisa Bibliográfica Foi realizada, a seguir, pesquisa bibliográfica em literatura pertinente, nacional e internacional, abrangendo relatos de casos, estudos de casos, artigos de revisão, artigos originais, consensos e metanálises. 2.2.3 Critérios de Inclusão e Exclusão Os artigos selecionados para a revisão tiveram como critérios relevância e publicação em revistas conhecidas e confiáveis. Foram descartados, após leitura, os artigos que não apresentavam metodologia adequada ou não abordavam a área de interesse. 2.3 ASPECTOS ÉTICOS Os aspectos éticos foram obedecidos de modo a respeitar a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde / Ministério da Saúde, sendo guiada 10 pelos princípios bioéticos de autonomia, beneficência, não maleficência e justiça. As informações relatadas neste trabalho só serão utilizadas para fins científicos, e o anonimato dos sujeitos participantes é preservado. 2.4 NORMAS ADOTADAS Este trabalho foi realizado segundo os padrões estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para apresentação e elaboração de trabalhos acadêmicos. 3 RELATO DE CASO Paciente, feminina, 64 anos, dona de casa e cabeleireira, tabagista de longa data, compareceu à consulta no ambulatório de Cirurgia Geral de um hospital terciário de Fortaleza-CE, encaminhada de uma unidade básica de saúde, com queixa principal de “caroço nas costas”. Referiu que, há cerca de um ano, após subir um degrau de cerca de dois palmos de altura em sua casa, notou surgimento de um abaulamento no dorso à esquerda, redutível e indolor à palpação. Não referia outras queixas. Revelou ser fumante (10 cigarros/dia) há cerca de 50 anos e diabética. Negou tosse crônica (referiu internamento no ano passado por pneumonia). Negou traumas em região abdominal ou cirurgias prévias. Conciliava bem a dieta e o sono, referia evacuações e diurese presentes e fisiológicas. De acordo com a paciente, logo no início do quadro, ao procurar uma unidade básica de saúde, foi informada que seu caso se tratava de uma distensão muscular, recebendo prescrição de analgésicos e recomendação de repouso. Diante da permanência do quadro e após quatro consultas na mesma unidade, um médico suspeitou que o abaulamento poderia tratar-se de uma hérnia, recomendando realização de ultrassonografia, cujo laudo, além de revelar litíase biliar e esteatose hepática, recomendava realização de tomografia para melhor esclarecimento diagnóstico de abaulamento em região dorsal à esquerda. Após realização de tomografia, paciente foi encaminhada à 11 consulta em ambulatório de cirurgia geral para mostrar o laudo e prosseguir acompanhamento. O exame físico ambulatorial evidenciou abdome flácido, globoso por adiposidade, com ruídos hidroaéeos presentes, indolor á palpação e sem visceromegalias. Em região lombar esquerda, identificou-se abaulamento, medindo cerca de 9 x 7 cm, de consistência amolecida e redutível (Figura 1). O laudo da tomografia computadorizada abdominal (Figura 2 e 3) revelava hérnia lombar superior (Grynfeltt) à esquerda, contendo cólon descendente, com gás e fezes no interior, sem sinais inflamatórios e cujo colo mede 4,1cm. Diante do exame físico e da tomografia, recomendou-se internamento hospitalar eletivo para abordagem cirúrgica da hérnia e foram solicitados exames préoperatórios. Para a abordagem cirúrgica, com a paciente em decúbito lateral direito, realizou-se incisão transversa sobre o local da hérnia, com diérese por planos e divulção do músculo latíssimo do dorso, havendo identificação e isolamento do saco herniário (Figura 4), redução conteúdo herniário (Figura 5) com subseqüente fixação de tela de prolene abaixo da aponeurose do músculo oblíquo interno com fio prolene 2-0 seguido da fixação de tela de prolene acima da aponeurose do músculo oblíquo externo com fio prolene 2-0 (Figura 6), reaproximação do músculo latíssimo do dorso e síntese por planos, com cobertura da ferida operatória com curativos. A paciente evoluiu sem intercorrências, obtendo alta no 2º dia pós-operatório. 12 Figura 1. Hérnia lombar esquerda. Foto de Dra Mariana no Ambulatório de Cirurgia Geral Figura 2. Tomografia computadorizada. 13 Figura 3. Tomografia computadorizada. Figura 4. Saco herniário. 14 Figura 5. Redução saco herniário. Figura 6. Aposição tela. 15 4 REVISÃO DA LITERATURA E DISCUSSÃO DO CASO 4.1 CONTEXTO HISTORICO O primeiro a documentar a existência de hérnias lombares foi Paul Barbette em 1672, na França. Alguns escritores equivocadamente citaram Dolée como o primeiro a fazer uma descrição de uma hérnia lombar em trabalho escrito no ano de 1703. No entanto, Jeannel (4) afirma que não há nenhuma passagem nos escritos de Dolée que prove essa afirmação. Por volta de 1728, Budgeon descreveu as características do que poderia ser o primeiro relato conhecido de uma hérnia lombar congênita, embora ele tenha ignorado a essência da origem congênita, e alguns autores tenham refutado essa etiologia (5). Nessa perspectiva, foi apenas em 1731 que Garangeot (6) escreveu a primeira publicação sobre hérnias lombares, relatando um caso de hérnia encarcerada redutível em um cadáver durante autópsia. Em 1750, Ravaton realizou o primeiro relato de abordagem cirúrgica de hérnia lombar em uma mulher grávida com hérnia estrangulada (7). Mais tarde, em 1768, Balin escreveu uma descrição superficial da área anatômica envolvendo a hérnia (5). Apesar de sua obra e de outras descrições anteriores, o crédito foi finalmente dado em 1783 para Jean Louis Petit (8), que além de descrever o caso de uma hérnia estrangulada em uma paciente do sexo feminino, determinou os limites anatômicos do triângulo lombar inferior, tendo, assim, dado o seu nome a essa estrutura anatômica (7). A partir de então, passou-se a acreditar que todas as hérnias lombares originavam-se do triângulo inferior de Petit [6-1] até que, um século mais tarde, em 1866, Grynfeltt (9) descreveu os limites anatômicos do triângulo lombar superior. Em 1869, Larrey, de forma independente de Grynfelt, também identificou o triângulo lombar superior, referindo-se à fragilidade desta região como uma '' hérnia costo-ilíaca '' (7). Em 1870, o pesquisador alemão Lesshaft descreveu a mesma área que Grynfeltt, razão pela qual este espaço também é conhecido na Alemanha como Triângulo de Lesshaft, de forma que seu nome próprio deve ser triângulo de Grynfeltt- Lesshaft (5). Lesshaft evidenciou que 84 de 108 adultos cadáveres apresentavam o triângulo de Petit, enquanto apenas 9 de 34 embriões ou recém-nascidos tinham a referida estrutura, concluindo que este triângulo encontra-se geralmente presente em adultos e ocasionalmente em embriões ou recém-nascidos. Ele também observou que o triângulo lombar 16 superior era maior, mais constante e presente do que o triângulo lombar inferior (5). Em 1916, Goodman (5) propôs que as hérnias lombares eram predominantes no triângulo lombar inferior, porém estudos realizados após 1920 evidenciaram predominância dessas hérnias no triângulo superior (7). Estudos referentes à etiologia das hérnias lombares tiveram início no século 20 quando Selby (10) relatou a primeira hérnia lombar traumática da literatura moderna em 1906 a partir de um relato de caso de um paciente do sexo masculino que sofreu uma queda de uma altura de seis pés. Mais tarde, Kelton descreveu, em 1939, um caso de uma hérnia lombar pós-incisional iatrogênica e Kretchmer (11) publicou, em 1951, o primeiro estudo de caso (11 casos) de hérnias lombares após cirurgia renal. Mais recentemente, em 1973, Payne et al. (12) relataram os dois primeiros casos de hérnias lombares após acidentes com veículos automotores e McCarthy e Lemmon (13) descreveram a hérnia lombar como um exemplo de lesão relacionada com o cinto de segurança. Em 1907, C.N. Dowd foi o primeiro a usar abas músculo-aponeuróticas para reparação cirúrgica das hérnias lombares, utilizando os músculos glúteo máximo e médio. Foi Thorek, no entanto, que introduziu a utilização de tela em 1950. Mais tarde, em 1996, Burick e Parascandola (14) introduziram a técnica de reparação por vídeolaparoscópica transabdominal. Eles relataram o reparo de uma hérnia traumática do triângulo lombar superior usando esta técnica. Os autores consideraram essa abordagem segura e eficiente, com a vantagem de que uma laparoscopia diagnostica também poderia descartar outras lesões. 4.2 EMBRIOLOGIA A parede abdominal do embrião primitivo consiste na somatopleura, que surge durante a formação do celoma embrionário, e inclui uma camada de ectoderma e uma camada de mesoderme (15). Durante a 5º semana do desenvolvimento embrionário, a somatopleura é invadida pela mesoderme derivada dos somitos localizados em ambos os lados da coluna vertebral. Este componente mesodérmico é então dividido em duas partes: a parte paraxial é chamada epímero; a parte lateral é chamada hipômero (Fig. 1A -2). As bordas do hipômero formam os músculos retos abdominais direito e esquerdo (Fig. 1B 17 -2) (16). O hipômero se divide em três camadas: a camada externa se diferencia no músculo oblíquo externo; a camada intermediária forma o músculo oblíquo interno; e a camada interna forma o músculo transverso do abdome (Fig. 1B-2). Todos estes músculos podem ser reconhecidos por meio da sétima semana de desenvolvimento (15). O septo intermuscular (Fig. 1A-2), que se desenvolve durante a quinta semana, divide o epímero do hipômero (16). Em estágios tardios do desenvolvimento embrionário, não é esperado encontrar qualquer músculo formado nessa região (Fig. 1B-2), a qual deve estar ocupada pelas fáscias e aponeuroses dos músculos oblíquos derivados do hipômero. O enfraquecimento desta região onde se localizava o septo intermuscular embrionário pode levar ao surgimento de hérnias lombares em potencial (7). 4.3 CONSIDERAÇÕES ANATÔMICAS A região lombar pode ser definida anatomicamente ou cirurgicamente. Anatomicamente, a região lombar (direita e esquerda) é definida como a área da parede abdominal lateral à linha médio-clavicular e entre o plano subcostal e o plano transtubercular (que junta os tubérculos das cristas ilíacas) (7). Cirurgicamente, é definida como a área abaixo da 12ª costela, acima da crista ilíaca e entre os músculos eretor da espinha (medialmente) e o oblíquo externo (lateralmente) (1). A parede lombar apresenta as seguintes entidades anatômicas subsequentes: 1) tecido extraperitoneal; 2) fáscia transversalis; 3) camada muscular profunda, que compreende os músculos quadrado lombar e psoas; 4) camada muscular intermediária constituída pelos músculos sacro-espinhal, oblíquo interno, e serrátil posterior inferior; 5) fáscia toracolombar (dorsolombar), que representa a união das fáscias que recobrem os músculos e suas aponeuroses na área da parede do lombar; 6) camada muscular superficial, que consiste no músculo latíssimo do dorso posterolateralmente e no músculo oblíquo externo anterolateralmente; 7) fáscia superficial, formada pelas duas camadas: membranosa e adiposa; e 8) pele. A maioria dessas 18 entidades pode ser vista em uma secção transversal da zona lombar, devendo o cirurgião ter um vasto conhecimento dessas estruturas (Fig. 2-2). Noventa e cinco por cento das hérnias lombares ocorrem em dois espaços da parede lombar: o triângulo superior (hérnia de Grynfeltt) e triângulo inferior (hérnia de Petit) (17). No entanto, forças externas (especialmente as do tipo contundentes) podem criar hérnias classificadas como difusas, que não se limitam a estes dois triângulos (18). Conforme descrito por Petit, em seu livro "Traite des Maladies Chirurgicales", publicado em 1774 (8), o triângulo lombar inferior é uma área enfraquecida da parede abdominal posterior limitada inferiormente pela crista ilíaca, lateralmente pelo músculo oblíquo externo e medialmente pela borda lateral do músculo grande dorsal (19) (Fig. 4-1). O limite posterior compreende a fáscia superficial e a pele, enquanto o limite anterior pode variar. Alguns autores propõem a fáscia lombar (toracolombar) como a única separação entre o triângulo e o tecido extraperitoneal; outros propõem a inclusão do músculo oblíquo interno e parte do músculo transverso do abdome muscular, além da fáscia lombar (19). O seu tamanho varia de apenas uma fenda para uma área de superfície maior que 12 cm², com consequente exposição ampla do músculo oblíquo interno (5; 19). Fatores predisponentes para a herniação podem incluir alterações na origem do músculo oblíquo externo e na porção mais medial do músculo grande dorsal (dando origem a uma base maior, comum em mulheres com quadris largos), afinamento do músculo oblíquo interno e a presença de uma fissura de Hartmann no seu vértice (1). Raramente essas hérnias dão origem a complicações devido ao seu largo espaço. A variabilidade anatômica do Triângulo de Petit tem sido amplamente descrita e Loukas et al. (19) sugeriram que essa variabilidade é clinicamente pertinente devido à possibilidade de desfechos desfavoráveis dado um tipo ou outro, classificando o triângulo lombar inferior em quatro tipos: I. Triângulo Pequeno (área de superfície <8 cm²); II. Triângulo Intermediário (área de superfície entre 8 e 12 cm²); III. Triângulo Grande (área de superfície > 12cm²) e IV. Sem Triângulo; 19 com prevalência de, respectivamente 43,7%, 26,2%, 12,5% e 17,5%. (Tabela 1-1). Os autores também concluíram que a prevalência de simetria nos triângulos é baixa e que triângulos localizados no lado direito tenderam a ser maiores do que aqueles localizados no lado esquerdo, mas não encontraram diferenças em relação à idade, sexo, ou raça. O triângulo lombar superior, ou triângulo de Grynfeltt-Lesshaft, é outra área enfraquecida da parede abdominal dorsal em forma de um triângulo invertido com seu ápice apontando inferiormente (20). Ele é geralmente maior do que o triângulo de Petit e, provavelmente, um local mais comum de hérnia lombar (21). Ele é limitado lateralmente pela borda posterior do músculo oblíquo interno e medialmente pela borda anterior do músculo eretor da espinha. Sua base é formada pela 12ª costela e pelo músculo serrátil posterior inferior, o seu ápice está ligado pelos músculos oblíquo externo e grande dorsal, e seu piso é limitado pela aponeurose do músculo transverso do abdome e pela fáscia transversalis (17; 20; 21); (Fig. 4-1). Conforme Goodman (5), de um total de 76 cadáveres, o triângulo de Petit existia em 63% deles, enquanto o triângulo de Grynfeltt esteve presente em quase 94%, constituído por uma característica anatômica mais constante. O triângulo lombar superior está relacionado ao 12º nervo lombar e ao 1º nervo torácico. A área de penetração fascial do pedículo neurovascular do 12ª nervo intercostal (localizada abaixo da 12ª costela) é um sítio muito comum de herniação dado o fato de que nessa região a fáscia transversalis não se encontra coberta pelo músculo oblíquo externo, sendo ainda penetrada pelo conjunto de nervos e vasos da região subcostal (22). Esta pode ser uma das razões pelas quais a hérnia do triângulo superior é mais comum do que a hérnia do triângulo inferior (21). Como sugerido por Stamatiou et al, são três os principais determinantes da formação de hérnia nesta área: (1) tamanho e forma do triângulo; (2) comprimento e angulação da 12ª costela; e (3) o tamanho dos músculos quadrado lombar e serrátil posterior. As hérnias seriam, portanto, mais frequentemente encontradas em indivíduos baixos, obesos e com costelas mais horizontalizadas e grandes triângulos (7). Tal como ocorre com o triângulo de Petit, Loukas et al. (20) também relataram variabilidade na apresentação do 20 triângulo de Grynfeltt e propuseram uma classificação: I. Triângulo Pequeno (área de superfície <5 cm²); II. Triângulo Intermediário (área de superfície entre 5 e 15 cm²); III. Triângulo Grande (área de superfíce > 15cm²) e IV. Sem Triângulo; com prevalência de, respectivamente 50%, 22%, 10% e 18%. (Tabela 2-1). Ele concluiu que a prevalência de simetria nos triângulos é baixa, porém superior a encontrada no triângulo de Petit, que triângulos no lado direito tendiam a serem maiores do que os do lado esquerdo, porém não evidenciou nenhuma diferença de idade, sexo ou raça, da mesma forma como se observou no estudo do triângulo de Petit. Eventos traumáticos violentos ou incisões cirúrgicas anteriores (a partir de uma nefrectomia ou adrenalectomia, por exemplo) pode causar hérnias que geralmente não se limitam às áreas previamente delimitadas, podendo, portanto, serem classificadas como hérnias lombares difusas (17; 21). Em ambos os casos, as camadas anatômicas muitas vezes são destruídas e a parede lombar encontra-se enfraquecida, facilitando, assim, a penetração do conteúdo abdominal. Esta alteração anatômica é um dos principais fatores pelos quais o tratamento desses tipos de hérnias lombares difere daquele empregado para as hérnias lombares primárias (21). Os conteúdos das hérnias lombares podem ser de origem intraperitoneal, como no caso de uma pequena protrusão intestinal; de origem a partir de um deslizamento de conteúdo peritoneal, como no caso de uma deiscência do cólon; ou de origem extraperitoneal como no caso de protrusão de gordura na ausência de um saco herniário (7). Houve relatos de hérnias lombares contendo cólon, baço, fígado e rim, além de outros órgãos (1; 5). 4.4 ETIOLOGIA O estudo publicado em 2007 por Moreno-Egea et al. (1) relatou que cerca de 300 casos de hérnias lombares haviam sido publicados até então, tornando-as entidades muito raras. Portanto, devido à sua raridade, ainda não se estabeleceu uma classificação definitiva para hérnias lombares. No entanto, vários autores têm proposto que as hérnias lombares podem ser classificadas 21 de acordo com suas características anatômicas, fatores etiológicos e de acordo com o seu conteúdo (1; 7; 17); (Tabela 3-1). Hérnias lombares congênitas são aquelas que aparecem durante a infância. Cerca de 20% das hérnias lombares são congênitas (23). De acordo com Al Salem et al, menos de 45 casos de hérnia lombar congênita foram relatados até 1996 (24) . As causas incluem defeitos musculares embrionários (24), neuropraxia localizada (25), compressão de nervo em casos de espinha bífida (26), e pressão devido a uma massa abdominal (27). Cerca de 67% dos casos de hérnia lombar congênita estão associadas a outras anomalias (27), tais como a síndrome de regressão caudal, hérnia diafragmática, obstrução da junção ureteropélvica, extrofia da cloaca, hiperplasia nodular focal do fígado, hidrocefalia, agenesia renal, mielomeningocelo, anomalias anorretais altas e criptorquidia (7; 17; 28). Hérnias lombares adquiridas são responsáveis pelos outros 80% das hérnias lombares (29). Elas são classificadas como primárias (espontâneas) ou secundárias, em função da existência de um fator causal (1). 55% dessas hérnias são primárias ou espontâneas, sendo geralmente encontradas no triângulo lombar superior esquerdo (30; 31; 32). Tal como acontece com outras hérnias, elas são precipitadas por condições associadas a aumento da pressão intra-abdominal, tais como gravidez, obesidade, ascite, ou bronquite crônica (1). Existem também algumas alterações anatômicas da parede abdominal posterior que podem predispor ao desenvolvimento de hérnias, tais como o envelhecimento, a atrofia muscular (1), doenças debilitantes ou magreza extrema (7), isso porque a perda de tecido adiposo pode levar à ruptura dos orifícios neurovasculares que penetram na fáscia tóraco-lombar. 25% das hérnias lombares espontâneas são diagnosticadas como encarceradas, enquanto que 18% encontram-se estranguladas no momento do diagnóstico (17). Os outros 25% pertencem às hérnias adquiridas secundariamente (33). Elas guardam uma relação de causalidade com incisão cirúrgica prévia, trauma ou abscesso lombar (29). O mecanismo patogênico dessas hérnias pode estar relacionado à dissecção do nervo subcostal com resultante atrofia muscular, predispondo à herniação da região lombar (34; 35). 22 Hérnias lombares associadas com trauma podem ser causadas por contusão direta, esmagamento, ou fraturas da crista ilíaca (1). Elas podem estar limitadas aos triângulos lombares anteriormente descritos, porém uma força contundente também pode perturbar outras camadas da parede muscular e causar uma hérnia difusa, sendo este o caso na maioria das vezes (33). O estudo de Faro et al. relatou que sete em cada 850 pacientes com trauma abdominal agudo foram diagnosticados com hérnia lombar traumática em exames de tomografia computadorizada (36). Em 2004, um estudo retrospectivo de Burt et al. (29) documentou 66 casos de hérnias lombares traumáticas publicados na literatura inglesa. Apesar da alta prevalência de trauma abdominal, hérnias lombares secundárias a traumas são rara (29) e a maioria é provocada por colisões de veículos automotivos. Portanto, os pacientes que sofreram trauma contundente no abdômen e têm sinais clínicos ou sintomas incomuns devem ser avaliados quanto à probabilidade de terem uma hérnia lombar (33). O cinto de segurança provavelmente contribui para a formação de hérnia devido à aplicação de uma força ao longo da linha do cinto durante o momento da desaceleração súbita, o que pode causar perturbação da musculatura (37). Ao contrário das hérnias lombares primárias, a hérnia lombar secundária ao trauma, na maioria das vezes, ocorre no triângulo lombar inferior (70%) devido à força de cisalhamento contra a crista ilíaca causada pelo cinto de segurança. O local da hérnia não se correlaciona necessariamente com a localização do trauma, mas com a fraqueza da musculatura (29). Lesões de múltiplos órgãos são comuns em vítimas de grandes traumas, portanto um exame físico completo deve ser feito no paciente. As lesões podem ser tão corriqueiras como fraturas ou lesões hepáticas, esplênicas e colônicas ou tão raras como uma combinação de uma hérnia lombar e uma ruptura da junção ureteropélvica, como relatado em um caso descrito por Shuhaiber et al. (37). Em eventos traumáticos, o conteúdo das hérnias lombares são principalmente gordura (42%), cólon (41%), e intestino delgado (32%) (29). Hérnias incisionais também podem ocorrer após cirurgias, tais como nefrectomias, adrenalectomias, reparação de aneurisma aórtico ou quaisquer outras incisões 23 no flanco ou explorações da crista ilíaca (29; 38). Hérnias lombares incisionais geralmente são difusas e devem ser diferenciadas de casos de atrofia da musculatura da parede abdominal por desnervação. Doze a 23% dos pacientes submetidos à incisão no flanco para abordagem retroperitoneal de aneurismas aórticos desenvolvem hérnias lombares incisionais (38). Devido ao fato de não existir um defeito fascial, ela não é considerada uma hérnia verdadeira, sendo sua correção realizada apenas por questões estéticas. Correções de hérnias incisionais são consideradas difíceis e por vezes insatisfatórias (38). Hérnias lombares incisionais eram entidades mais comuns nos pacientes submetidos a cirurgia renal tradicional ou convencional (39); no entanto, sua incidência tem aumentado de 10 para 31% (1), provavelmente, devido a um aumento no número de cirurgias que realizam incisões no flanco. Quanto às hérnias lombares infecciosas, a possível patogenicidade pode ser o mecanismo de inflamação aguda, o qual pode precipitar a alteração das características anatômicas, contribuindo para a formação de hérnia. Elas podem surgir após infecções dos ossos pélvicos e costelas, abscessos hepáticos, hematomas retroperitoneais infectados ou quaisquer outros processos infecciosos que possam alterar as estruturas anatômicas da parede abdominal (1). A sua incidência, no entanto, tem diminuído bastante de 17 para 2% (1), provavelmente devido ao melhor conhecimento do tratamento das doenças infecciosas. 4.5 APRESENTAÇÃO CLINICA Hérnias lombares são bastante raras, ocorrem mais comumente no sexo masculino (cerca de 2/3 de todos os casos notificados) (17) e em sua grande maioria são unilaterais (40), sendo duas vezes mais comuns no lado esquerdo do que no lado direito. A maioria dos pacientes diagnosticados encontra-se entre a sexta e a sétima década de vida (41; 42) Noventa e cinco por cento das hérnias lombares surgem no triângulo superior ou inferior (17), com predominância das localizadas no triângulo lombar superior (40), provavelmente por este ser maior e estar localizado em uma região com 24 musculatura mais enfraquecida do que o triângulo inferior (Tabelas 1-1 e 2-1). A história natural consiste em uma expansão lenta e benigna do tamanho da hérnia ao longo do tempo. Dado que as hérnias podem estar encarceradas ou mesmo estranguladas no momento do diagnóstico, é recomendado que todas as hérnias lombares sejam reparadas precocemente (17). Uma vez que apenas 9% das hérnias lombares são agudas e exige reparação imediata, a avaliação completa é indicada em todos os casos nãoemergenciais (1). A apresentação típica de um paciente com hérnia lombar é a presença de uma protuberância semi-esférica saliente na parede abdominal posterior, particularmente na zona supra-ilíaca posterior, que pode ser tanto assintomática ou associada a graus variáveis de dor (21; 40). É geralmente redutível com o paciente em decúbito dorsal (1). Se assintomática, pode ser difícil de diagnosticar até mesmo com um exame minucioso, particularmente em pacientes obesos (19; 28), especialmente se a hérnia não foi suspeitada inicialmente (29). Convém realizar a manobra de Valsalva durante o exame clínico a fim de observar se há protrusão do saco herniário (19). Outros sintomas podem incluir náuseas, vômitos, insuficiência renal (com obstrução urinária nos casos em que há conteúdo renal na hérnia) (19), edema, dor na região lombar ou outros sinais clínicos de obstrução intestinal em casos de encarceramento ou estrangulamento (20). Pode haver, ainda, dor ao longo da distribuição do nervo ciático ou dor referida na parede abdominal anterior caso haja aprisionamento visceral (17). Se o paciente possuir história recente de trauma, o médico deve investigar outros sinais clínicos, tais como equimoses, hematomas, ou o '' sinal do cinto de segurança '' (29; 33). À palpação, pode-se detectar uma área de fraqueza na parede abdominal (40). À ausculta, ruídos hidroaéreos podem estar presentes sobre a protuberância herniária, caso esta apresente conteúdo intestinal (41). O diagnóstico diferencial inclui: lipoma, tumores de tecidos moles, tais como fibroma (42), hematoma, abscessos (41), tumores renais, hidrocele renal (40), rabdomioma, sarcoma (17), hérnia 25 muscular, paniculite, ou hérnia panicular lombosacroilíaca (1). É importante notar que nenhuma destas patologias pode causar obstrução intestinal ou qualquer sintoma relacionado à obstrução. 4.6 DIAGNÓSTICO POR IMAGEM O '' padrão ouro '' para o diagnóstico de uma hérnia lombar é a Tomografia Computadorizada (TC), uma vez que é capaz de delinear as camadas fascial e muscular, detectando defeitos nessas camadas, bem como a presença de conteúdos no interior da hérnia (42), diferenciando atrofia muscular de uma hérnia real, além de servir como uma ferramenta útil no diagnóstico diferencial com tumores. Embora o diagnóstico seja essencialmente clínico, dada a história do paciente e o exame físico, alguns autores defendem que a TC deve ser utilizada rotineiramente na avaliação de um paciente com hérnia lombar (1; 42). Alternativamente, uma radiografia abdominal simples ou um enema baritado pode ser realizado para detectar quaisquer sinais radiológicos de obstrução intestinal (43). Em um artigo revisão publicado por Burt et al. (29), relatou-se que a TC possui uma sensibilidade de 98% para o diagnóstico de pacientes com hérnia lombar traumática. Quanto às hérnias lombares secundárias, um estudo realizado em 2004 relatou que a TC deve ser recomendada para todos os pacientes com uma protrusão lombar após incisão no flanco para diferenciar uma hérnia lombar de atrofia muscular (38). Alguns autores têm referenciado o uso da ressonância magnética (RM) como uma técnica de diagnóstico para hérnias lombares; no entanto, Lillie e Deppert (44) mencionaram que não há estudos específicos sobre o uso da RM em hérnias lombares. No caso de ultrassonografia, pode haver falha na detecção da hérnia devido à falta de suspeita clínica ou presença de gordura, especialmente em indivíduos obesos (41). Nos casos em que a pelve renal ou ureteres fazem parte do conteúdo da hérnia lombar, uma urografia excretora pode ser útil para visualizar tais deslocamentos (41). 26 4.7 TRATAMENTO O tamanho da maioria das hérnias lombares passa por uma expansão lenta e benigna ao longo do tempo. Conforme elas aumentam, torna-se mais difícil a reparação. (17). Além disso, há um risco de 25% de encarceramento e 8% de chance de estrangulamento em todas as categorias das hérnias lombares (32). Por esse motivo, recomenda-se que hérnias lombares, sejam primárias ou secundárias, sejam reparadas precocemente (17). O mesmo é válido para hérnias congênitas (27), seja realizando fechamento primário (45) ou usando material protético (46). O objetivo é eliminar o defeito, reconstruindo uma parede abdominal firme e elástica, que pode resistir ao estresse futuro (41). O cirurgião, no entanto, deve ter em mente que a abordagem da parede abdominal posterior é difícil devido à ausência de uma camada musculoaponeurótica bem definida, fraqueza dessa parede em comparação com a parede abdominal anterior, além da presença de estruturas ósseas que limitam a dissecção e a adequada sobreposição e fixação da tela (47). Exames préoperatórios deveriam incluir pielograma intravenoso, enema baritado gastrointestinal, preparo intestinal, além de radiografias dorsal e lombossacral para descartar patologias vertebrais (48). Por estas razões e devido à raridade da doença e à inexperiência dos cirurgiões sobre o assunto, não há uma recomendação clara sobre qual técnica cirúrgica é a mais eficaz nestes doentes (47). Além disso, alguns urologistas possuem pouco conhecimento ou treinamento em cirurgia da parede abdominal e, portanto, não consideram a possibilidade de prevenção de uma hérnia lombar como uma complicação pósoperatória. Existem duas técnicas possíveis para a correção cirúrgica: a primeira é uma abordagem aberta direta com uma incisão na pele sobre o local da hérnia (49); e a segunda por meio de uma abordagem laparoscópica. Moreno-Egea et al. (1) criaram uma classificação que objetiva a abordagem terapêutica e, com base, nela recomendam o uso da abordagem laparoscópica para reparação de 27 defeitos da parede abdominal de até 15 cm de diâmetro e abordagem aberta para defeitos maiores ou recorrentes. São poucos os estudos realizados comparando abordagem aberta com a laparoscopia em hérnias lombares primárias, e a maioria desses estudos correspondem a relatos de casos ou abordagem de hérnias lombares secundárias. Em um estudo prospectivo, não-randomizado, realizado em 2005 por Moreno-Egea et al. (47), comparando-se a reparação de hérnias lombares secundárias por via aberta com relação à via laparoscópica, observou-se maior morbidade pós-operatória na abordagem aberta, enquanto que houve mais casos de complicações intra-operatórias com a técnica laparoscópica (especificamente, dois casos de hematomas e um caso de lesão da artéria epigástrica inferior durante a fixação da tela). Houve provas suficientes para apoiar o uso da laparoscopia devido aos benefícios já bem conhecidos da cirurgia minimamente invasiva, como menor dor pós-operatória, menor consumo de analgésicos e alta hospitalar mais precoce. A laparoscopia permite a visualização de toda a região lombar, uma completa reconstrução da área, bem como a fixação da tela em uma extensão muito além do limite dos defeitos, incluindo até mesmo estruturas ósseas (47). A hospitalização pode ser três vezes maior com a cirurgia aberta, enquanto que os candidatos à laparoscopia podem ser acompanhados ambulatorialmente com maior precocidade, permitindo que o paciente retorne às suas atividades habituais mais rapidamente. Embora a cirurgia laparoscópica tenha custos mais elevados, estes são compensados pela menor despesa com hospitalização (47) e, a longo prazo, pode até ser mais econômica do que a abordagem aberta, considerando outros fatores, como readmissões ou recorrências. No estudo de Moreno et al. (47), não houve recorrências no grupo laparoscópico e relatou-se um episódio de recorrência com a abordagem aberta. Eles concluíram que a correção laparoscópica de hérnia lombar é mais eficiente e rentável do que a abordagem tradicional por via aberta e pode ser realizada com o mesmo custo. Portanto, uma reparação cirúrgica minimamente invasiva deve ser considerada como a primeira escolha no tratamento de uma hérnia lombar (50). Circunstâncias controversas que possam precisar de maior compreensão englobam os casos em que a anatomia esteja comprometida por 28 trauma ou por cirurgia anterior, produzindo um grande defeito que ocupe a maior parte da região lombar. Nestes casos, em que existem grandes áreas de tecido debilitado, exigindo-se ampla dissecção e forte ancoragem de uma tela grande; a abordagem tradicional pode ser a preferível (3). 4.8 ABORDAGEM VIA ABERTA A hérnia pode ser reparada através de uma abordagem posterior com o paciente em decúbito lateral, ou através de uma abordagem anterior retroperitonial (51). O tamanho da hérnia determina a escolha da técnica de reparação (48). Nos casos de hérnias pequenas, a fáscia dorsolombar, bem como os músculos, podem ser fechados diretamente (48). Nos casos de hérnias grandes, uma tela (52), um retalho mioaponeurótico (53), ou ambos (48), podem ser utilizados. Quando a hérnia é pequena, o saco é liberado e reduzido, sendo o defeito da parede corrigido por aproximação da fáscia dorsolombar e dos músculos que a recobrem com fios de sutura nãoabsorvíveis. Em casos de defeitos maiores, a tela protética se torna uma necessidade. Uma incisão oblíqua ou vertical é feita sobre o local da hérnia (fig 4A-2). No caso de uma hérnia do triângulo superior, o cirurgião pode encontrar o saco herniário abaixo da pele, da fascia superficial e do músculo latíssimo do dorso. No caso de uma hérnia do triângulo inferior, não há camada muscular recobrindo o saco herniário. O saco herniário é liberado e ressecado ou reduzido para o interior da cavidade abdominal. Uma tela é posta sobre o defeito da parede e suturada aos músculos oblíquo externo e latíssimo do dorso, bem como ao periósteo da crista ilíaca, usando fios de sutura nãoabsorvíveis (fig. 4B-2). Os músculos oblíquo externo e latíssimo do dorso são aproximados o máximo possível sobre a tela e um retalho da fáscia gluteal é recortado (fig. 4C-2). Este retalho da fáscia é utilizado para recobrir o defeito remanescente e é suturada aos músculos anteriormente aproximados (fig. 4D2). No caso de um anel herniário grande, uma segunda camada de tela deve ser suturada aos músculos. Para finalizar, a gordura subcutânea e a pele são fechadas (48). Em 2007, Cavallaro et al. (49) descreveram que, diante de uma hérnia lombar primária, a conduta mais viável é a abordagem por via aberta, 29 visto que essas hérnias são tipicamente pequenas, com defeitos da parede bem definidos, quase sempre contendo gordura retroperitoneal e raramente contendo vísceras. O paciente é colocado sob anestesia geral e é feita uma incisão sobre o defeito herniário; os conteúdos da hérnia são removidos e as margens do defeito são identificadas (47). O uso de uma tela sintética localizada sob a camada muscular livre de tensão parece ser a melhor técnica a ser escolhida, por poder garantir reparo ideal, curto período de internação e rápido retorno às atividades normais, além de ser segura e fácil de executar (49). A tela deve sobrepor o defeito da parede abdominal em pelo menos 3 cm em torno do conjunto muscular e ser fixada com fios de sutura não-absorvíveis. Os mesmos princípios aplicam-se a outras hérnias da parede abdominal. Antes de a ferida operatória ser fechada, um dreno fechado deve ser inserido (47). Recentemente, o uso de retalhos fasciais ou rotacionais tem sido associado a possibilidade de isquemia do retalho, hematomas ou seromas, podendo, portanto, levar à insuficiência de reparação e a uma maior incidência de recorrência (33; 49; 54). Grauls et al. (55) realizaram uma técnica alternativa: a reparação retroperitoneoscópica de uma hérnia do triângulo lombar inferior empregando um trocarte balão para gerar o espaço de trabalho com resultados positivos. 4.9 ABORDAGEM POR VIA LAPAROSCOPICA Uma alternativa à abordagem por via aberta descrita anteriormente é a por via laparoscópica - extraperitoneal ou transabdominal (17; 56), sendo a transabdominal usada com mais frequência. A abordagem totalmente extraperitoneal é usada para evitar lesões viscerais uma vez que proporciona ao cirurgião amplo espaço para operação (57). A via laparoscópica, por ser minimamente invasiva e permitir ao cirurgião a utilização de técnicas conhecidas em um campo operacional bem conhecido, pode ser mais vantajosa, pois permite a aposição da tela a partir do interior da cavidade abdominal cobrindo o defeito e permitindo, assim, que a pressão intraabdominal mantenha a tela em posição. Pelo fato de a laparoscopia permitir a 30 visualização de conteúdos viscerais, especialmente em pacientes obesos (58), a probabilidade de lesão de estruturas internas no intra-operatório é reduzida (17; 58). Na abordagem transabdominal, o paciente é colocado sob anestesia geral em uma posição semilateral com uma elevação de 45 graus do lado ipsilateral à hérnia para aprimorar a exposição e permitir a deiscência das vísceras devido à gravidade (47; 49). Três trocartes (subxifoideano, periumbilical, e suprapúbico) são inseridos, sendo os conteúdos da hérnia removidos e as margens do defeito da parede abdominal identificadas. A tela deve ser implantada no espaço retroperitoneal e, por conseguinte, o peritônio é aberto e dissecado para criar uma área suficientemente grande para acomodar a tela sem rugas ou dobras que poderiam originar uma nova hérnia. É desejável, embora não seja sempre possível, remover o peritônio formando um saco. As fronteiras da tela devem se estender a pelo menos 5 cm a partir das margens do defeito da parede abdominal (47). Recentemente, telas com dupla camada têm sido empregadas sem a necessidade de abrir o peritônio, relatando-se bons resultados. Estas telas recém-desenvolvidas são implantadas pela técnica de "Intraperitoneal Mesh Onlay" (IPOM) (3). Independentemente do método, o cirurgião deve ter em mente que a utilização da tela é praticamente obrigatória para um reparo livre de tensão em grandes defeitos da parede abdominal (59), dado que o reparo primário geralmente é menos eficaz em qualquer tipo de hérnia. Em todo caso, uma vez no seu devido lugar, a tela deve ser fixada aos músculos com quaisquer dispositivos de ancoragem disponíveis. Alguns autores têm optado por inserir grampos tanto na borda do defeito da hérnia como perto das margens da tela com distância de aproximadamente 2 cm entre si para assegurar boa fixação da tela (3). No caso da hérnia de Grynfeltt, alguns autores têm proposto fixar a tela ao redor da 12ª costela com fios de sutura não-absorvíveis (17). Uma abordagem semelhante tem sido relatada nos casos de hérnia de Petit, fixando-se a tela com suturas não absorvíveis ancorando-as à crista ilíaca, sendo os fios passados através de um orifício criado por uma broca ortopédica (17). Links e Berney (60) relataram que, em casos de hérnia lombar traumática recorrente, fixar a tela à estrutura óssea manualmente, além de ser um procedimento mais simples, reduz a probabilidade de deslizamento desta em comparação com a fixação da tela por meio de brocas. Nos casos em que o peritnio posterior 31 esteja aberto e dissecado, este deverá ser fechado ao longo da tela com uma sutura contínua de material absorvível para restaurar a anatomia e separar a tela dos órgãos intra-abdominais. Ao final, os trocartes são removidos, o pneumoperitonio é esvaziado e as incisões são fechadas. 32 5 CONCLUSÃO A As hérnias lombares de ambos os triângulos, superior e inferior, são entidades raras, com um pequeno número de relatos na Literatura e poucos cirurgiões com mais do que alguns casos a descrever e fazer recomendações sobre as mesmas. Hoje, esta situação vem mudando em muitos centros com a criação de unidades funcionais onde os pacientes podem ser referenciados e cirurgiões podem ganhar uma maior experiência em um curto período de tempo. Além disso, a cirurgia da parede abdominal tem mudado dramaticamente ao longo da última década, com a introdução de novas técnicas de diagnóstico, a utilização de materiais sintéticos, e o desenvolvimento da cirurgia laparoscópica. A abordagem atual das hérnias lombares deve refletir essas mudanças, mas ainda há controvérsias acerca da classificação dos defeitos da parede abdominal, do diagnóstico pré-operatório adequado e do tratamento de escolha para estas hérnias. A abordagem laparoscópica parece ser a melhor opção para o tratamento de defeitos pequenos ou moderados, estando a cirurgia aberta reservada para grandes defeitos ou refratárias à abordagem laparoscópica. As hérnias raras da parede anterolateral do abdome (Amyand, Garengeot, Richter, Spieghel, Littré e as lombares de Grynfelt e Petit), em conjunto, representam cerca de 7% de todas as hérnias da parede anterolateral do abdome. O cirurgião deve ter sempre em mente a existência destas hérnias de modo que, com a suspeita do diagnóstico, possa realizar uma abordagem precoce e evitar que um problema inicialmente simples evolua negativamente. 33 6 BIBLIOGRAFIA 1. Moreno-Egea A, Baena EG, Calle MC, et al. 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