UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE CIÊNCIAS MÉDICAS FACULDADE DE VETERINÁRIA PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS LYA MADUREIRA SEPÚLVEDA Reação em Cadeia da Polimerase após Transcrição Reversa (RT - PCR) na detecção e diferenciação do vírus da Estomatite Vesicular NITERÓI 2005 LYA MADUREIRA SEPÚLVEDA Reação em Cadeia da Polimerase após Transcrição Reversa (RT - PCR) na detecção e diferenciação do vírus da Estomatite Vesicular Dissertação apresentada ao Curso de PósGraduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de concentração: Medicina Veterinária Coletiva. Orientador: Prof. Dr. ELMIRO ROSENDO DO NASCIMENTO Co-Orientador: Drª VIVIANA MALIRAT Niterói 2005 A meus pais Leleu e Ercy: minha base A meu marido Noir: minha estrutura A meus filhos Iago e Igor: minha vida (alegria – razão de viver) AGRADECIMENTOS Ao Dr. Eduardo Corrêa, diretor do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa, por ter me proporcionado a oportunidade de atualização e aperfeiçoamento com a realização do mestrado. A Dra. Ingrid Bergmann, coordenadora do Laboratório de PANAFTOSA, pelo incentivo para a realização do mestrado. A Dra. Viviana Malirat pela orientação, apoio e estímulo na elaboração desse trabalho. Ao Prof. Dr. Elmiro Rosendo do Nascimento pela confiança ao me acolher como orientada me proporcionando excelentes oportunidades de aprendizado. Ao Servicio Ecuatoriano de Sanidad Agropecuária (SESA) através do Dr. Aníbal Mantilla pelo provimento dos isolados do Equador e por disponibilizar os resultados dos testes de Fixação de Complemento realizados nesse laboratório. A todos os meus amigos do Laboratório. Aos mais novos e principalmente aos antigos que fazem parte de toda a minha trajetória profissional e que sempre me acolheram em todas as mudanças que passamos juntos. Especial agradecimento a minha grande amiga Maria da Penha, meu companheiro de todas as “barras” Antonidio, ao meu consultor para assuntos diversos Maurício, a Rossana e Pedro Jeovah que me iniciaram no fascinante mundo da Biologia Molecular e ao Jorge López pela presteza em me auxiliar nos obstáculos que inevitavelmente apareceram. Aos meus pais e minha tia Celi, presenças marcantes e constantes durante toda minha vida; pelo apoio em qualquer hora, lugar, situação e necessidade. Pelo carinho e dedicação aos meus filhos quando por muitas vezes tive que faltar para me dedicar a esse trabalho. Ao meu marido Noir por ser tudo. O seu amor incondicional me deu a força necessária para correr atrás do meu sonho, força para estudar de madrugada, confiança de que seria capaz de conseguir. Por ser um excelente pai e entreter as crianças para que eu pudesse estudar e pela compreensão e paciência durantes os meus momentos de tensão. Aos meus filhos Iago e Igor por “recarregarem” minhas pilhas. Aos meus irmãos e toda a minha maravilhosa família pelo infinito carinho. Aos meus amigos que me orgulho de serem muitos. Mesmo sem saberem são peças fundamentas no processo de construção da história de minha vida. A Astrid Pimentel pelo auxílio com as referências bibliográficas e todos os funcionários de PANAFTOSA que me ajudaram de alguma forma na realização desse trabalho. SUMÁRIO LISTA DE QUADROS, p. 8 LISTA DE TABELAS, p. 9 LISTA DE FIGURAS, p. 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS, p. 12 RESUMO, p. 14 ABSTRACT, p. 15 1 INTRODUÇÃO, p. 16 2 REVISÃO DE LITERATURA, p. 19 2.1 ESTOMATITE VESICULAR, p. 19 2.1.1 O Vírus da Estomatite Vesicular, p. 20 2.1.2 Estrutura e composição do Vírus da Estomatite Vesicular, p. 20 2.1.3 Ciclo de replicação do Vírus da Estomatite Vesicular, p. 23 2.1.4 Partículas defectivas, p. 24 2.2 HISTÓRICO E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DA ESTOMATITE VESICULAR, p. 25 2.2.1 Aspectos epidemiológicos, p. 27 2.3 DIAGNÓSTICO, p. 29 3 MATERIAL E MÉTODOS, p. 32 3.1 INFRA-ESTRUTURA, p. 32 3.2 AMOSTRAS DE REFERÊNCIA, p. 32 3.3 ESPÉCIMES CLÍNICOS, p. 33 3.4 “PRIMERS” , p. 34 3.5 EXTRAÇÃO DE RNA, p. 35 3.6 TRASCRIÇÃO REVERSA (RT) , p. 36 3.7 REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE – PCR, p. 36 3.8 ELETROFORESE EM GEL DE AGAROSE, p. 37 3.9 PURIFICAÇÃO DOS PRODUTOS DA PCR, p. 37 3.10 QUANTIFICAÇÃO DO DNA, p. 38 3.11 SEQUENCIAMENTO CÍCLICO, p. 39 3.12 PURIFICAÇÃO DO PRODUTO DA REAÇÃO DE SEQÜENCIAMENTO, p. 39 3.13 LEITURA E ANÁLISE DE SEQÜÊNCIAS, p. 39 3.14 ANÁLISE FILOGENÉTICA, p. 40 3.15 DESENHO EXPERIMENTAL, p. 40 3.15.1 Estudos preliminares, p. 40 3.15.1.1 Estudos preliminares de detecção por RT – PCR de amostras de referência, p. 40 3.15.1.2 Estudos preliminares de detecção por RT – PCR de amostras de campo, p. 41 3.15.2 Ajuste de prova, p. 41 3.15.3 Estudo de detecção de amplificação de subtipos do VEV, p. 43 3.16 SENSIBILIDADE ANALÍTICA, p. 43 4 RESULTADOS, p. 44 4.1 ESTUDOS PRELIMINARES, p. 44 4.1.1 Estudos preliminares de detecção por RT – PCR de amostras de referência (tabela 1 e figuras 5 e 6), p. 44 4.1.2 Estudos preliminares de detecção por RT – PCR de amostras de campo, p. 47 4.2 AJUSTE DE PROVA, p. 49 4.3 ESTUDO DE DETECÇÃO DE AMPLIFICAÇÃO DE SUBTIPOS DO VEV, p. 52 4.4 SENSIBILIDADE ANALÍTICA, p. 53 4.5 SEQÜENCIAMENTO, p.54 5 DISCUSSÃO, p. 68 6 CONCLUSÃO, p. 72 7 OBRAS CITADAS, p. 73 8 OBRAS CONSULTADAS, p. 79 LISTA DE QUADROS QUADRO 1: Amostras de Referência da coleção da PANAFTOSA utilizados para a implementação do RT – PCR para o diagnóstico da EV, p. 33 QUADRO 2: Espécimes clínicos provenientes do Equador utilizados para a implementação do RT – PCR para o diagnóstico da EV, p. 34 QUADRO 3: “Primers” a serem testados na implementação da RT - PCR para a detecção do vírus da Estomatite Vesicular, p. 35 QUADRO 4: Modificações propostas na temperatura de anelamento e quantidade de ciclos, na tentativa de ajuste de prova utilizando-se “primers” que reconhecem o gene L do VEV: NS / NA e IS / IA, p. 42 QUADRO 5: Seqüências do GenBank utilizadas para alinhamento e o cálculo e análise das distâncias genéticas em comparação com as seqüências obtidas nesse trabalho, p. 55 LISTA DE TABELAS TABELA 1: Resultados dos estudos preliminares de detecção por RT – PCR em amostras de referência para os sorotipos NJ e Ind, p. 45 TABELA 2: Resultado dos estudos de amplificação por RT – PCR dos isolados do Equador e amostras de referência utilizando-se “primers” que flanqueiam diferentes genes do genoma do VEV nas condições de prova recomendadas por seus autores, em comparação com os resultados obtidos por FC50 , p. 48 TABELA 3: Resultados de RT – PCR observados no ajuste de prova proposto para os “primers” NS / NA e IS / IA que flanqueiam o gene L do VEV, p. 50 TABELA 4: Resultados observados no teste de RT – PCR para as amostras de referência e controles utilizando-se “primers” NJ 102 / 744 e Ind 179 / 793, p. 52 TABELA 5: Cálculo das distâncias genéticas entre as seqüências parciais do gene P do VEV obtidas nesse trabalho e as publicadas no GeneBank utilizando-se o programa MEGA versão 3.0, p. 66 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: VEV purificado de cultivo de célula infectada. Coloração negativa do virion onde se percebe claramente a forma de um projétil. Ampliado aproximadamente x 40,000, p. 21 FIGURA 2: Esquema do genoma do VEV. Os números entre parênteses representam os nucleotídeos não codificados, p. 21 FIGURA 3: Esquema da estrutura do vírus da Estomatite Vesicular indicando a localização das principais proteínas virais e a composição do RNA viral: 3’ N-P-M-GL 5’, p. 23 FIGURA 4: Distribuição geográfica e epidemiológica do Vírus da Estomatite Vesicular, p. 27 FIGURA 5: Gel de agarose dos produtos obtidos por RT – PCR das amostras de referência NJ CR /66 (colunas 1 e 7), Ind CR /72 (colunas 2 e 8), Ind 2 Rib BR /79 (colunas 3 e 9), Ind 3 A N BR /86 (colunas 4 e 10), controle negativo (colunas 5 e 11) e controle do Kit (colunas 6 e 12) utilizando-se os “primers” para o gene P. Colunas 1 a 6: “primers” NJ 102 / 744; colunas 7 a 12: “primers” Ind 179 / 793, p 46 FIGURA 6: Gel de agarose dos produtos obtidos por RT – PCR das amostras de referência NJ CR /66 (colunas 1 e 7), Ind CR /72 (colunas 2 e 8), Ind 2 Rib BR /79 (colunas 3 e 9), Ind 3 A N BR /86 (colunas 4 e 10), controle negativo (colunas 5 e 11) e controle do Kit (colunas 6 e 12) utilizando-se os “primers” para o gene L. Colunas 1 a 6: “primers” NJ NS / NA; colunas 7 a 12: “primers” Ind IS / IA, p 46 FIGURA 7: Gel de agarose dos produtos obtidos por RT – PCR dos isolados do Equador e amostra de referência, p. 49 FIGURA 8: Gel de agarose dos produtos obtidos por RT – PCR para detecção do VEV do isolado do Equador 029-6 no ajuste de prova proposto, p. 51 FIGURA 9: Diluição seriada do RNA extraído de células BHK – 21 infectada com VEV NJ CR /66, p. 53 FIGURA 10: Diluição seriada do RNA extraído de células BHK – 21 infectada com VEV Ind CR /72, p. 54 FIGURA 11: Alinhamento entre as seqüências parciais do gene P do VEV obtidas nesse trabalho utilizando-se os “primers” 102 / 744 para NJ com seqüências publicadas no GeneBank (programa de editoração BioEdit 5.0.6), p. 57 FIGURA 12: FIGURA 12: Alinhamento entre as seqüências parciais do gene P do VEV obtidas nesse trabalho utilizando-se os “primers” 179 / 793 para Ind com seqüências publicadas no GeneBank (programa de editoração BioEdit 5.0.6), p. 61 FIGURA 13: Árvore filogenética (Neighbor-joining) baseado na seqüência parcial do gene P do VEV NJ e Ind. Vírus com seqüência total do gene P em destaque.A árvore foi obtida através do programa Mega 2.01, p. 67 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS A24 Cruz BR /55 A 24 Cruzeiro Brasil / 55 BHK-21 Baby Hamster Kidney cDNA Cadeia complementar de DNA DNA Ácido Desoxirribonucléico dNTP Deoxinucleotídeo Trifosfato DTT Dithiotreitol EDTA Ácido Etileno Diamino Tetracético ELISA Enzyme-linked Immunosorbent Assay EV Estomatite Vesicular FA Febre Aftosa FC50 Fixação de complemento 50% G Glicoproteína HCl Ácido Clorídrico ICTVdb International Committee on Taxonomy of Viruses Ind Indiana Ind 1 CR /72 Indiana 1 Costa Rica / 72 Ind 1 CR /79 Indiana 1 Costa Rica / 79 Ind 1 ES /71 Indiana 1 El Salvador / 71 Ind 1 ES /78 Indiana 1 El Salvador / 78 Ind 2 Ranc BR /66 Indiana 2 Rancharia Brasil / 66 Ind 2 Rib BR /79 Indiana 2 Ribeirão Brasil / 79 Ind 3 A N BR /86 Indiana 3 Agulhas Negras Brasil / 86 Ind 3 Esp BR /77 Indiana 3 Espinosa Brasil / 77 KCl Cloreto de Potássio L Polimerase M Proteína Matriz MgCl Cloreto de Magnésio N Nucleoproteína Nc Não consistente Neg Negativo NJ New Jersey NJ CR /66 New Jersey Costa Rica / 66 NJ Eq /85 New Jersey Equador / 85 OIE Organização Mundial de Saúde Animal OPS Organização Pan-Americana da Saúde OMS Organização Mundial da Saúde O1 Cps BR /58 O1 Campos Brasil / 58 P Fosfoproteína PANAFTOSA Centro Pan-Americano de Febre Aftosa pb Pares de bases PCR Reação em Cadeia da Polimerase Pos Positivo RNA Ácido Ribonucléico RNAm RNA mensageiro RT – PCR Reação em Cadeia da Polimerase após Transcrição Reversa TA Temperatura Ambiente Taq Thermus aquaticus TBE Tampão Tris-Borato-EDTA TCID50 Dose infectante em cultivo de célula 50% TE Tampão Tris-EDTA Tris Tris (hidroximetil) aminometano U Unidade VEV Vírus da Estomatite Vesicular RESUMO A Estomatite Vesicular (EV) é uma enfermidade causada por um vírus da família Rhabdoviridae, gênero Vesiculovirus. O animal acometido por essa enfermidade apresenta queda na produção de leite e carne sendo sua presença um fator limitante para o comércio internacional de animais. Além do prejuízo na produtividade do rebanho, assume um importante papel nos programas de saúde animal por ser indistinguível clinicamente da Febre Aftosa. As técnicas empregadas para o diagnóstico da EV são, principalmente, a Fixação de complemento 50% (FC50), ELISA (Enzyme-linked immunosorbent assay) e Virusneutralização que permitem não somente a detecção viral, mas também a diferenciação dos dois sorotipos descritos para o vírus da Estomatite Vesicular (VEV): o New Jersey (NJ) e o Indiana (Ind). A metodologia molecular de reação em cadeia da polimerase (PCR) após transcrição reversa (RT – PCR) baseada na amplificação específica de genes do VEV foi implementada, podendo ser utilizada como um método alternativo para a detecção do vírus. Um total de 12 amostras de referência do VEV e 14 espécimes do Equador foram utilizados para a implementação da RT – PCR. Inicialmente utilizou-se “primers” que flanqueiam regiões dentro dos genes que codificam as proteínas L e P do vírus. Os resultados mostram uma melhor adequação dos “primers” que reconhecem o gene P na amplificação específica do VEV de cepas de referência dos sorotipos NJ e Ind 1, assim como nos espécimes colhidos de episódios a campo. Esses “primers” amplificam um produto de 642 pb para NJ e 614 pb para Ind. Os resultados foram concordantes com os dados obtidos por Fixação de complemento 50% e confirmados pelo seqüenciamento das bases nucleotídicas que foram alinhadas e comparadas entre si e com seqüências do VEV publicadas. Palavras-Chave: Reação em Cadeia da Polimerase após Transcrição Reversa, RT – PCR, Estomatite Vesicular, Diagnóstico molecular. ABSTRACT Vesicular Stomatitis (VS) is a disease caused by a virus from the Rhabdoviridae family, Vesiculovirus genus. The disease has a great impact in animal health, as infected animals present marked decrease in meat and milk production. Its presence is a limiting factor for international animal trade. Besides the damage in the livestock productivity, such disease assumes an important role in animal health programs since it is clinically indistinguishable from Foot-and-Mouth Disease. The diagnosis of the VS has been made, mainly, through Complement Fixation, ELISA (Enzymelinked immunosorbent assay) and Virus Neutralization tests, assays that allow not only for viral detection but also for differentiation of the two serotypes described for Vesicular Stomatitis Virus (VSV): New Jersey (NJ) and Indiana (Ind). A molecular diagnostic approach the polymerase chain reaction (PCR) performed after reverse transcription (RT – PCR) based on the specific amplification of VSV genes was implemented, becoming an alternative method for the detection of the virus. A total of 12 VSV reference samples and 14 specimens collected from field episodes in Ecuador were used for the implementation of the RT–PCR. Initially, "primers" that amplify regions within the L and P genes of the virus were used. Our results showed a better fitness of the “primer” that recognizes the P gene for specific amplification of VSV, both for reference NJ and Ind1 strains, as well as for samples collected from field episodes This "primer" amplifies a product of 642 bp for NJ and 614 bp for Ind. The results were compatible with data obtained through Complement Fixation test and confirmed by nucleotide sequencing of the amplified products. The sequences obtained were aligned and compared with published sequences of VSV. Keywords: Polymerase Chain reaction; RT – PCR, Vesicular Stomatitis, molecular diagnosis. 1 INTRODUÇÃO A disponibilidade de fonte de proteína animal contribui significativamente para a melhoria de qualidade de vida da população. Os ruminantes domésticos são importante fonte dessas proteínas sendo as enfermidades transmissíveis a esses animais, responsáveis por elevadas perdas econômicas e conseqüentemente perda na qualidade de vida da população. Dentre as diversas enfermidades transmissíveis temos a Estomatite Vesicular (EV), uma enfermidade viral contagiosa que acomete principalmente eqüinos, bovinos e suínos, podendo também afetar uma diversidade de animais domésticos e silvestres, incluindo o homem. Atualmente está restrita ao Continente Americano (HANSON, 1952). O vírus da Estomatite Vesicular (VEV) é o protótipo da família Rhabdoviridae, com dois sorotipos principais: New Jersey (NJ) e Indiana (Ind) (BISHOP, 1979). Possui propriedades que contribuem para que seja um excelente modelo para estudo em virologia molecular: é um vírus infectante com genoma simples composto de uma cadeia de RNA com peso molecular de aproximadamente 3,5 x 106 daltons; o virion serve de molde para a síntese de pequenos RNA mensageiros (RNAm) possuindo sua própria RNA trascriptase que é capaz de sintetizar RNAm “in vitro” e é muito utilizado no estudo de interação entre célula – vírus devido à variedade de hospedeiros, vertebrados e invertebrados, que possui na natureza (EMERSON, 1976). A EV é uma enfermidade de reconhecida importância em saúde animal com graves conseqüências sócio–econômicas uma vez que o animal acometido apresenta queda na produção de leite e carne (MASON, 1978). Sua presença é um fator limitante para o comércio internacional de animais e seus subprodutos 17 (HAYEK et al., 1998). Além do prejuízo na produtividade do gado, assume um papel importante para os programas de saúde animal por ser indistinguível clinicamente, em suínos e bovinos, da Febre Aftosa (FA) (FERRIS; DONALDSON, 1988) - severa enfermidade vesicular que vem provocando grandes prejuízos na economia das Américas (OLASCOAGA et al., 1999). Os animais acometidos pela EV apresentam febre e formação de vesículas na mucosa da boca, epitélio lingual, lábios, região interdigital das patas e tetas. Deixam de se alimentar e conseqüentemente perdem peso cessando, por vezes, a lactação. (BISHOP, 1979). A enfermidade clínica é geralmente observada em bovinos adultos sendo as lesões raramente observadas em bezerros. Pode ser observada sob forma subclínica apresentando um quadro de debilidade geral. A incidência da enfermidade clínica pode variar de 5 a 50 % podendo atingir a 90% do rebanho. A mortalidade raramente excede a 5% (OIE, 2005). EV está incluída na Lista das enfermidades de declaração obrigatória da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), classificada como uma doença que pode se estender além das fronteiras nacionais, com conseqüências sócioeconômicas ou sanitárias graves e importantes conseqüências no comércio internacional de animais e produtos de origem animal (OIE, 2005). Esta inclusão resulta na imposição de quarentena e na realização de testes para controle da doença. As lesões dos animais acometidos pela EV são ricas em partículas virais sendo o vírus facilmente isolado por inoculação em cultivo celular ou em camundongos lactentes. A identificação do vírus pode ser feita principalmente por provas de Fixação de Complemento (FC50), testes imunofluorescentes com uso de anticorpos monoclonais ou por testes imunoenzimáticos (ELISA) (ALONSO, 1983; ALLENDE et al.,1992). A identificação do VEV por amplificação do RNA viral através da técnica de RT – PCR (Reação em Cadeia da Polimerase após Transcriptase Reversa) tem sido descrita na literatura (RODRIGUEZ et al., 1993; HOFNER et al., 1994; NÜÑEZ et al., 1998). Essa técnica amplifica milhões de vezes uma região delimitada por “primers” detectando pequenas quantidades de ácido nucléico presente nas amostras. Esse método possui a vantagem de ser sensível e específico permitindo a detecção do VEV diretamente de amostras de tecidos, possibilitando um diagnóstico rápido e 18 seguro o que contribui para respostas imediatas e direcionadas na tomada de medidas sanitárias. Esse estudo teve como objetivo a implementação da técnica da RT - PCR para detecção e diferenciação do VEV NJ e Ind. Em seu desenvolvimento utilizou-se amostras de referência do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (PANAFTOSA) e isolados de animais com suspeita clínica de enfermidade vesicular para: • Extração o RNA viral e amplificação de diferentes regiões do genoma. • Estabelecimento de condições mais apropriadas (“primers”, tampões, ciclos e temperatura de anelamento) para a amplificação e identificação do material por RT - PCR. • Comparação dos resultados obtidos dos diferentes ensaios da RT PCR com os resultados dessas mesmas amostras por prova de FC50. • Seqüenciamento da região genômica delimitada pelos “primers” para confirmação dos resultados obtidos pela RT – PCR através da comparação dessas seqüências com as obtidas no banco de dados disponíveis na Internet (GenBank). 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 ESTOMATITE VESICULAR A Estomatite Vesicular é uma enfermidade viral transmissível que acomete preferencialmente eqüinos, bovinos e suínos. Ovinos, caprinos e mamíferos silvestres também podem se infectar (ALONSO et al., 1991; OIE, 2005). Com menor freqüência pode acometer o homem causando sintomas semelhantes à gripe (MASON, 1978), mas existem relatos da forma cutânea da enfermidade devido à infecção acidental de trabalhadores de laboratório por aerossóis ou trabalhadores que realizaram necropsia de animais infectados (HANSON, 1981; BISHOP, 1979). Os animais acometidos pela EV apresentam febre e formação de vesículas na mucosa da boca, epitélio lingual, lábios, região interdigital das patas e tetas. Normalmente as vesículas aparecem em um só tecido susceptível não ocorrendo generalização (BISHOP, 1979). As vesículas que ocorrem na boca, lábios e gengivas causam excessiva salivação dificultando a alimentação. O animal perde peso, pois não se alimenta adequadamente e reluta em andar devido às dores provocadas pelas lesões na banda coronária das patas. Severa mastite pode ocorrer em virtude das vesículas nas tetas dificultando amamentação dos bezerros que podem se infectar por essa via (BISHOP, 1979; MAAS, 2005; CALLIS et al., 1981). O período de incubação da enfermidade varia de 3 a 14 dias e o animal se convalesce em um período de 2 - 3 semanas (LETCHWORTH et al., 1999). Infecção subclínica pode ocorrer tanto em animais quanto em humanos que tiveram contato com o vírus uma vez que podem não desenvolver a enfermidade, mas apresentam 20 níveis elevados de anticorpos no soro (BISHOP, 1979). A enfermidade acomete uma percentagem alta do rebanho, mas a mortalidade é praticamente inexistente em bovinos e eqüinos. A infecção geralmente é inaparente com cerca de 10-15% dos animais adultos apresentando sinais clínicos (OIE, 2005). Os bovinos e eqüinos com menos de 1 ano de idade raramente são afetados. Prejuízos economicamente significativos são mais observados entre os suínos e bovino leiteiro (MAAS, 2005). Suínos afetados com a cepa New Jersey apresentam alta mortalidade (OIE, 2005). As perdas econômicas em rebanho, tanto de carne quanto de leite, sua importância para os programas de saúde animal por se similar clinicamente a FA e a possibilidade de produzir enfermidades em humanos, demonstra a importância sócio-econômica dessa enfermidade (HANSON, 1981; MASON, 1978). 2.1.1 O Vírus da Estomatite Vesicular O vírus da Estomatite Vesicular pertence à família Rhabdoviridae, gênero Vesiculovirus (ICTVdb, 2005). Estão incluídos na grande ordem Mononegavirus, ou seja, vírus que possuem RNA de cadeia simples e negativa não podendo ser traduzido diretamente em proteínas possuindo, portanto, sua própria RNA trascriptase para fazer a transcrição do seu genoma e produção de RNAm. O gênero Vesiculovirus inclui, além do VEV, os vírus Chandipura, Isfahan e Piry que produzem meningoencefalite em humanos (BONUTTI; FIGUEIREDO, 2005). São conhecidos dois tipos antigenicamente distintos do VEV: New Jersey e Indiana (MASON, 1978) sendo o Indiana dividido em três subtipos: Indiana 1 para o vírus isolado nos Estados Unidos; Indiana 2 Cocal, isolado em Trinidad e Indiana 3 isolado em Alagoas – Brasil (FEDERER et al., 1967). 2.1.2 Estrutura e composição do Vírus da Estomatite Vesicular O VEV possui morfologia semelhante a um projétil com uma extremidade arredondada e outra plana, com dimensões aproximadas de 175 X 68 nm. (PRINGLE, 1986) (FIGURA 1). 21 FIGURA 1: VEV purificado de cultivo de célula infectada. Coloração negativa do virion onde se percebe claramente a forma de um projétil. Ampliado aproximadamente x 40,000 (MURPHY, 2005). O genoma é um RNA de cadeia simples com aproximadamente 11.000 nucleotídeos, composto de 5 genes na ordem de 3’ N-P(NS)-M-G-L 5’ separados um do outro por apenas 2 nucleotídeos (região intergênica, não transcrita) (WAGNER, 1991; DEWHURST, 2005) (FIGURA2). Possuem também duas pequenas proteínas C e C’ que são codificadas em uma segunda fase de leitura aberta dentro do gene P, não se sabendo ainda a sua função (ARBOLEDA; TRUJILLO, 2002). FIGURA 2: Esquema do genoma do VEV. Os números entre parênteses representam os nucleotídeos não codificados. (WAGNER, 1991). O virion é formado por duas unidades estruturais distintas: o nucleocapsídeo ou ribonucleoproteína (RNP) interna e a membrana externa. (WAGNER, 1991) (FIGURA 3). 22 O nucleocapsídeo é composto pela nucleoproteína (N) que possui 1.333 nucleotídeos e que envolve abundantemente o RNA viral formando a RNP helicoidal. Tem função crítica no empacotamento do genoma viral dentro de um núcleo resistente a Rnases (ARBOLEDA; TRUJILLO, 2002). Está associada a duas outras proteínas em menor quantidade: polimerase (L) com 6.380 nucleotídeos e fosfoproteína (P ou NS) com 822 nucleotídeos (SCHUBERT et al. 1984). O gene que codifica a proteína L representa aproximadamente 60% do genoma do VEV. É uma proteína altamente conservada entre os sorotipos do VEV. Seu grande tamanho reflete a natureza multifuncional dessa proteína na transcrição, replicação, poliadenilação e replicação do RNA viral (ARBOLEDA, 2002). A fosfoproteína P que em combinação com a proteína L formam o complexo de transcrição ativa é fosforilada para gerar a atividade de polimerase. Através da análise genética dos diferentes genes de vários VEV identificou-se uma região bastante variável do gene da proteína P. Estudos evolucionários de árvores filogenéticas utilizando esse gene indicam que este fragmento é altamente informativo e confiável para estudos de relações filogenéticas dos diferentes isolados do VEV (BILSEL, 1990: NICHOL et al., 1993). As duas pequenas proteínas básicas C (55 aminoácidos) e C’ (65 aminoácidos) formada a partir de uma segunda fase de leitura aberta do gene P possuem funções desconhecidas, mas parecem possuir importante papel na patogenia ou na transmissão do vírus por insetos vetores (ARBOLEDA, 2002). A membrana externa é composta de camada lipoprotéica e proteínas. A camada lipoprotéica é dupla e está fortemente associada à RNP. Os lipídios são totalmente derivados da célula hospedeira, mas diferem na sua composição. Esta alteração contribui para uma melhor viscosidade da membrana do VEV em comparação com a membrana da célula hospedeira da qual foi derivada (WAGNER, 1991). As proteínas principais que compõem a membrana do VEV são a glicoproteína (G) e a proteína Matriz (M). A glicoproteína, composta de 1.672 nucleotídeos, forma pontas triplas na superfície do vírus sendo o principal determinante antigênico além de induzir a formação de anticorpos neutralizantes (SCHUBERT et al., 1984). A proteína Matriz de pequeno tamanho (838 nucleotídeos), mas em maior quantidade no virion, é responsável por manter o nucleocapsídeo firmemente ligado à membrana interna do envelope lipoprotéico. 23 Essa proteína tem importante papel na inibição da síntese de RNA para que se inicie o processo de associação das proteínas do capsídeo durante a replicação viral (SCHUBERT et al. 1984; RODRIGUEZ et al., 1996; WAGNER, 1991). FIGURA 3: Esquema da estrutura do vírus da Estomatite Vesicular indicando a localização das principais proteínas virais e a composição do RNA viral: 3’ N-P-M-GL 5’ (DEWHURST, 2005). 2.1.3 Ciclo de replicação do Vírus da Estomatite Vesicular A infecção se inicia com a adsorção - união do vírus a um receptor da célula hospedeira. O vírus penetra na célula por endocitose ocorrendo a fusão do envelope do vírus com a membrana do endossoma, evento catalisado pela proteína G. Em seguida, a proteína M se dissocia da RNP que então é liberado dentro do citoplasma da célula hospedeira (ARBOLEDA;TRUJILLO, 2002). A reação de transcrição do RNA viral depende das três proteínas estruturais; a proteína L e P e a proteína interna N que envolvendo o RNA serve de molde para a transcrição (WAGNER, 1991). Juntas compõem a polimerase, se ligam à extremidade 3’ do genoma viral transcrevendo o RNA (Líder) de 47 nucleotídeos. O RNA Líder funciona como um iniciador da transcrição (promotor) que é 24 obrigatoriamente seqüencial refletindo a posição de cada gene (WHELAN; WERTZ 2002; LETCHWORTH et al., 1999). Seqüências conservadas de dinucleotídeos aparecem no limite de cada gene como sinal de terminação e poliadenilação de um RNAm e de iniciação da próxima transcrição. (LETCHWORTH et al., 1999; ARBORLEDA, 2002). O resultado é que se produz mais RNA mensageiro a partir dos genes que estão mais próximos do promotor e sua abundância decresce à medida que se distancia dele sendo N > P > M > G > L (WHELAN; WERTZ, 2002, WAGNER, 1991). A transcrição é totalmente independente das funções da célula hospedeira. Cada RNA codifica uma única proteína. Um sinal que provavelmente envolve o acúmulo da proteína N bloqueia a poliadenilação e a clivagem do RNAm fazendo com que a polimerase passe a sintetizar uma cadeia completa de RNA positivo chamado de intermediário replicativo. Esse intermediário replicativo servirá de molde para a síntese de novas cadeias completas negativas durante a replicação (LETCHWORTH et al., 1999). Essas cadeias de RNA se unem às proteínas N, P e L para formar o complexo ribonucleoproteico (RNP). O RNP se associa com a membrana citoplasmática onde se encontram as proteínas M e G e se condensa dentro de uma estrutura fortemente espiralada. O virion completo é liberado por rompimento da membrana (ARBORLEDA, 2002; FENNER, 1974). 2.1.4 Partículas defectivas Passagens seriadas, não diluídas do VEV em cultivo de célula resultam em suspensão virulenta com baixo título se comparada com passagens seriadas diluídas. Isso se deve a presença de partículas de VEV não infecciosa, de baixa densidade, mas com constituição química similar ao vírus infeccioso (HOWATSON, 1970). Estas partículas conhecidas como partículas defectivas possuem estrutura, antigenicidade e constituição química semelhante ao vírus infeccioso (HOWATSON, 1970). São 20 – 50% de menores que as partículas infecciosas e não é infecciosa porque o genoma é cerca de 50 – 80% menor (WAGNER, 1991). A produção de partículas defectivas (DI) é característica de algumas espécies de vírus e acredita-se que possa moderar a severidade da enfermidade clínica “in vivo” (CARTER et al., 2004). 25 2.2 HISTÓRICO E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DA ESTOMATITE VESICULAR A Estomatite Vesicular é uma enfermidade restrita ao Hemisfério Ocidental, entretanto existem relatos da enfermidade na África do Sul, em cavalos, que datam do século XIX (1884 e 1887). Após esse episódio, não houve mais notificações da doença nesta localidade ou em nenhuma outra parte da África. É mais provável que sempre tenha estado presente nas Américas e que em algum momento possa ter sido levado para a África. (HANSON, 1952). Postula-se também, que a causa do surto tenha tido como agente etiológico um outro vírus membro da mesma família da EV onde seu reservatório na África do Sul tenha sido destruído (HANSON, 1981). Nos anos de 1915 – 1917, um surto de EV em cavalos, ocorrido na França, teria como origem a importação desses animais do Canadá e EUA durante a Primeira Guerra Mundial e que posteriormente teria se disseminado pela Itália e Alemanha (HANSON, 1981; BISHOP, 1979). Não ocorreram mais registros da enfermidade na Europa. Atualmente a EV está limitada às Américas (HANSON, 1984). Os primeiros relatos da EV nos Estados Unidos datam de 1821. A etiologia viral da enfermidade foi estabelecida por Cotton em 1926 (MASON, 1978) quando se isolou o agente infeccioso de um foco ocorrido em Indiana (EUA) - denominado sorotipo Indiana (Ind). Posteriormente em outro foco ocorrido em bovinos de New Jersey (EUA) demonstrou-se que o agente causal era antigenicamente distinto do Ind isolado anteriormente, sendo chamado de New Jersey (NJ) (BISHOP; 1979 HANSON, 1952). A primeira descrição da enfermidade na América do Sul data do ano de 1929, na Colômbia, apresentando ampla distribuição tanto de NJ quanto de Ind (PANAFTOSA, 2005). Em 1939 foi detectada em eqüinos da Argentina e posteriormente na Venezuela e Equador (HANSON, 1952). Embora existam registros de focos de NJ e Ind nessas regiões, no Equador o sorotipo Ind não apresenta níveis de significância (ASTUDILLO et al., 1984). Até 1961 ocorreram somente relatos dos dois tipos clássicos de EV: NJ e Ind. Nesse ano, cepas sorologicamente distintas foram descritas. A cepa Indiana 2 Cocal foi isolada de pulgas que se alimentavam de ratos de arrozais na floresta de Trinidad (América Central) e que possui relação sorológica com a posteriormente isolada em 26 Belém (Brasil) também a partir de pulgas (MASON, 1978: ANDRADE et al., 1980). Em 1963, na Argentina, uma cepa idêntica à cepa Cocal foi isolada de cavalos da província de Buenos Aires, sendo denominada cepa Salto (Indiana 2 Salto – Argentina/63) (PIRAZZI et al., 1966; ALONSO, 1983). De 1966 a 1968 o Indiana 2 foi diagnosticado no Brasil, no município de Rancharia (São Paulo) onde se isolou o vírus Indiana 2 Rancharia (Indiana 2 Rancharia – Brasil/66) vírus esse relacionado com o Indiana 2 Salto (PUSTIGLIONE NETTO et al., 1969; PANAFTOSA, 2005; ALONSO, 1983). Novas epidemias do Indiana 2 ocorreram em 1978 no Rio Grande do Sul e em 1979 no município de São José de Boa Vista (São Paulo) onde foi isolado um vírus também relacionado ao Indiana 2 Salto sendo denominado Indiana 2 Ribeirão – Brasil/79. Em 1998 novos focos ocorreram em Santa Catarina e Paraná (LÓPEZ, 1996-1997). Em 1964, ocorreu um surto em mulas, em diversas parte do Estado de Alagoas (Brasil) e no Estado vizinho de Pernambuco (MASON, 1978; ANDRADE et al., 1980). O vírus isolado era sorologicamente diferente dos VEV conhecidos como Ind e Cocal e foi denominado Indiana 3 Alagoas (Indiana 3 Alagoas – Brasil/64). O primeiro isolamento no estado de Minas Gerais ocorreu em 1977 no município de Espinosa, de uma cepa similar ao Indiana 3 Alagoas sendo designado Indiana 3 Espinosa (Indiana 3 Espinosa – Brasil/77) (ALONSO, 1983). Atualmente o vírus Indiana 3 é endêmico no norte de Minas Gerais e Ceará. Dos vírus descritos como agente etiológico da EV, somente os subtipos Indiana 2 e Indiana 3 apresentam importância epidemiológica no Brasil (LÓPEZ, 1996 -1997), não havendo relatos da ocorrência do tipo NJ provavelmente devido ao clima tropical já que este tipo é característico de climas temperados (De STEFANO et al., 2002). As relações entre as cepas dos subtipos Ind foram estudadas por FEDERER et al. (1967) que propuseram a seguinte classificação: Indiana 1 para a amostra clássica isolada nos EUA; Indiana 2 para as amostras Cocal (Trinidad) e Salto (Argentina) e Indiana 3 para a amostra Alagoas. Portanto o sorotipo NJ não possui subtipo e tem ampla distribuição nas áreas temperadas da América do Norte e o sorotipo Indiana possuiria três subtipos no qual dois estão limitados a América do Sul. (MASON, 1978). Nova classificação tem sido proposta onde os subtipos Cocal e Alagoas seriam classificados como espécie (ICTVdb, 2005). 27 Atualmente a enfermidade apresenta atividade endêmica do norte da América do Sul (Colômbia, Equador, Peru e Venezuela) ao norte do México e sudeste dos Estados Unidos. Atividade epidêmica geralmente acorre no sul da América do Sul, Estados Unidos e Canadá (RODRIGUEZ et al., 1996; ARBOLEDA; TRUJILLO, 2002) (FIGURA 4). Intervalo entre Ocorrências Não Reportado ≥ 10 anos 5 – 10 anos < 1 ano FIGURA 4: Distribuição geográfica e epidemiológica do Vírus da Estomatite Vesicular (ARBOLEDA; TRUJILLO, 2002). 2.2.1 Aspectos epidemiológicos A enfermidade ocorre anualmente ou em intervalos de 2 – 3 anos em áreas tropicais e subtropicais. Os intervalos aumentam quando se move dos trópicos para regiões temperadas da América do Norte e América do Sul (HANSON, 1981). Os surtos iniciam repentinamente no verão e aparecem em várias localidades 28 simultaneamente de uma área restrita. Possuem distribuição irregular e freqüentemente não são observados casos em propriedades adjacentes (MASON, 1978). O mecanismo de transmissão do VEV e o modo pelo qual é mantido na natureza durante os surtos endêmicos e epidêmicos não estão totalmente esclarecidos (VANLEEUWEN et al., 1995). Estudos de patogenia comprovam que o VEV não é capaz de penetrar a pele intacta nem de ser introduzida através de alimentos ou por reservatório de água. A infecção natural deve ocorrer por meio de lesões na língua, tetas ou na pele da banda coronária das patas entre animais suscetíveis. A maioria dos animais susceptíveis pode ser infectada por via nasofaringe (MASON, 1978). A maior ocorrência de focos de EV em meses quentes e chuvosos, a rápida difusão da enfermidade em grandes áreas de vasta vegetação e correntes de água natural sugere a hipótese de que o VEV poderia ser transmitido por insetos (MASON, 1978). Essa hipótese poderia explicar a variação sazonal da doença com maior freqüência na estação chuvosa em áreas tropicais, desaparecendo no início do inverno em áreas temperadas (BILSEL et al., 1990; LETCHWORTH et al., 1999) e seria corroborada pelo fato do vírus já ter sido isolado em artrópodes. Os Phlebotomus são o grupo de insetos freqüentemente associado à transmissão do VEV, porém pouco se sabe sobre o mecanismo e locais de replicação do vírus nesses insetos (WEAVER et al, 1992). O vírus Indiana tem sido repetidamente isolado em Phlebotomus e em mosquitos do gênero Aedes (MASON, 1978). O vírus da EV foi propagado em “in vitro”, em células de Aedes aegypti, Aedes albopictus (ARTSOB; SPENCER, 1974) e em células de mosca de frutas Drosophila melanogaster (PRINTZ, 1970). O vírus Indiana 1, Indiana 3 Alagoas e New Jersey têm sido isolados de Phlebotomus naturalmente infectado onde a transmissão transovariana tem sido demonstrada pelo isolamento de vírus em macho, uma vez que somente as fêmeas se alimentam de sangue (COMER et al., 1992). Existem, porém, várias objeções a essa hipótese. Uma delas postula que eqüinos, bovinos e suínos não produziriam viremia suficiente para infectar artrópodes hematófagos sendo, portanto os animais domésticos hospedeiros terminais (CALLIS et al., 1981; ARBOLEDA; TRUJILLO, 2002); ou que a distribuição espacial da enfermidade durante o foco não seria típico de enfermidade transmitida por insetos onde regiões 29 contíguas não são afetadas; e de não ter sido possível isolar o vírus de artrópodes durante algumas ocorrência da enfermidade (CALLIS et al., 1981). Existe também a teoria de que o VEV seria um vírus de planta, sendo os animais o final de uma cadeia epidemiológica ou que em alguma circunstância possa sofrer um processo de adaptação para infectar animais (MASON, 1978; OIE, 2005). O VEV poderia ser transmitido aos insetos quando se alimentam de sucos da planta e estes insetos passariam o vírus aos vertebrados quando acidentalmente fossem ingeridos junto com os alimentos vegetais (MASON 1978). 2.3 DIAGNÓSTICO O aparecimento de sinais clínicos de doenças vesiculares em animais na América do Sul causa suspeita de um episódio de FA, trazendo grandes implicações sócio-econômicas. Na dificuldade do diagnóstico clínico, o diagnóstico laboratorial se torna imprescindível para a identificação de amostras clínicas negativas a essa enfermidade (MASON, 1978; HOFNER et al., 1994; De STEFANO et al., 2003; RODRIGUEZ et al., 1993; ALONSO, 1991). Com o objetivo de facilitar o diagnóstico diferencial, a coleta de material para detecção do VEV deve estar em concordância com os métodos utilizados para o diagnóstico de FA e outras enfermidades confundíveis. Material de fluidos vesiculares e epitélio de vesículas rompidas de lesões da boca, patas ou outros locais são os indicados para testes laboratoriais (OIE, 2005; CALLIS et al., 1981). Quando não é possível se obter o tecido epitelial de bovinos, pode-se coletar fluidos esofágico-faríngeo (OIE, 2005). As ferramentas disponíveis para o diagnóstico do VEV são a identificação e/ou isolamento viral que pode ser feito por inoculação em cultivo de célula, ovos embrionados ou camundongos lactentes. Para a identificação do vírus utiliza-se os testes de FC50 (FEDERER et al., 1967; ALONSO, 1986), ELISA Sanduíche-Indireto (Enzyme-linked immunosorbent assay) (ALONSO et al., 1991), imunofluorencência com Anticorpos Monoclonais e Virusneutralização (FEDERER et al., 1967; ALONSO, 1986). Quando não é possível a identificação do agente, pode-se utilizar amostras pareadas de soro de um mesmo animal com intervalo de 1 a 2 semanas entre 30 coletas, para detectar e quantificar anticorpos específicos. O aumento no título de anticorpos pode ser um indicativo de infecção recente. A identificação e quantificação de anticorpos no soro podem ser feitas por prova de ELISA e Virusneutralização. A FC50 também pode ser utilizada quando se coleta o soro de animais logo após o início da infecção (OIE, 2005). O uso de técnicas moleculares para a caracterização do agente vem sendo cada vez mais utilizado (MALIRAT; BERGMANN, 2003). Dentre essas técnicas temos a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), um método de diagnóstico rápido e sensível, onde uma parte do genoma viral pode ser detectado de variados tipos de espécimes e amostras. Essa técnica vem substituindo a maioria dos métodos diretos clássicos de detecção de agente infeccioso. Possui a vantagem adicional de utilizar tanto o tecido epitelial quanto suspensão viral inativadas, não oferecendo risco biológico à saúde humana e animal e podendo também ser realizado em áreas livres ou exóticas da doença (THOMPSON et al., 1998). Além do mais, as amostras de campo enviadas para o diagnóstico, em muitos casos chegam ao laboratório em mal estado de conservação dificultando o isolamento devido à contaminação bacteriana ou a conteúdos citotóxico como, por exemplo, os anti-sépticos utilizados pelos criadores para tratar as lesões dos animais. Essas contaminações não afetam a PCR (RODRIGUEZ et al., 1993). A detecção do VSV por amplificação do RNA viral por RT – PCR tem sido descrito na literatura (RODRIGUEZ et al., 1993; HOFNER et al., 1994; NÜÑEZ et al., 1998). Essa técnica amplifica milhões de vezes uma região delimitada por “primers” detectando pequenas quantidades de ácido nucléico presente nas amostras e que são reveladas por bandas observadas em gel de agarose. Provém ainda DNA suficiente para o seqüenciamento e tipificação genética (RODRIGUEZ et al., 1993). A aplicação de técnicas moleculares na caracterização do agente e posterior análise filogenética em estudo epidemiológico tem sido muito utilizado, resultando em importante aporte na identificação, caracterização e possível rastreamento das fontes de disseminação do vírus (MALIRAT; BERGMANN, 2003). A aplicação apropriada da ferramenta molecular auxilia na vigilância da enfermidade e na detecção da fonte da infecção (THOMPSON et al., 1998). Através do cálculo de distâncias genéticas com alinhamento de amostras seqüenciadas pode-se construir árvores filogenéticas (MALIRAT; BERGMANN, 2003) que proporcionam informações valiosas sobre a dinâmica das populações, 31 história evolucionária, classificação e taxonomia do vírus (MALIRAT; BERGMANN, 2003). Regiões altamente conservadas podem revelar relações taxonômicas entre as espécies, moderadamente conservadas pode diferenciar cepas ou relações entre espécies relacionadas, moderada variação pode indicar a estrutura genética da população e altamente variável permite traçar uma verdadeira identidade do isolado dentro da população. A região do DNA examinada deve ser apropriada ao que se pretende esclarecer (THOMPSON et al., 1998). 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 INFRA-ESTRUTURA O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Biologia Molecular do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (PANAFTOSA). 3.2 AMOSTRAS DE REFERÊNCIA Um total de 12 cepas da coleção do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (PANAFTOSA – OPS – OMS) foi utilizado no experimento (QUADRO 1). Os sobrenadantes obtidos através de inoculação em monocamada de células BHK-21 (Baby Hamster Kidney), conservadas à -70°C, foram descongelados e colocadas em TRIZOL (Invitrogen, SP, Brasil) para a extração do RNA. 33 QUADRO 1: Amostras de Referência da coleção da PANAFTOSA utilizados para a implementação do RT – PCR para o diagnóstico da EV. Amostras de Referência Abreviação Vírus da Estomatite Vesicular New Jersey Costa Rica / 66 NJ CR /66 New Jersey Equador / 85 NJ Eq /85 Indiana 1 Costa Rica / 72 Ind 1 CR /72 Indiana 1 El Salvador / 71 Ind 1 ES /71 Indiana 1 El Salvador / 78 Ind 1 ES /78 Indiana 1 Costa Rica / 79 Ind 1 CR /79 Indiana 2 Rancharia Brasil / 66 Ind 2 Ranc BR /66 Ind 2 Ribeirão Brasil / 79 Ind 2 Rib BR /79 Indiana 3 Ag. Negras Brasil / 86 Ind 3 A N BR /86 Indiana 3 Espinosa Brasil / 77 Ind 3 Esp BR /77 Vírus da Febre Aftosa O1 Campos Brasil / 58 O1 Cps BR /58 A 24 Cruzeiro Brasil / 55 A24 Cruz BR /55 3.3 ESPÉCIMES CLÍNICOS Foram utilizados 14 espécimes (epitélio de animais com suspeitas clínicas de enfermidades vesiculares) proveniente do Equador coletados no ano de 2004 caracterizados antigenicamente por FC50 e enviados ao Laboratório de Biologia Molecular do PANAFTOSA em TRIZOL para o diagnóstico molecular. Uma replica foi enviada ao Laboratório de Diagnóstico primário para confirmação por FC50, seguindo metodologia descrita por Alonso, 1986. (QUADRO 2). 34 QUADRO 2: Espécimes clínicos provenientes do Equador utilizados para a implementação do RT – PCR para o diagnóstico da EV. Identificação Tipo de tecido Identificação Tipo de tecido 029 - 2 029 - 3 029 - 4 029 - 5 029 - 6 029 - 8 029 - 9 Epitélio Lingual Bovino Epitélio Lingual Bovino Glândula Mamária Bovino Epitélio Lingual Bovino Epitélio Lingual Bovino Epitélio Lingual Bovino Epitélio Bovino 029 - 10 029 - 11 029 - 12 029 - 18 029 - 19 029 - 20 029 - 33 Epitélio Bovino Epitélio Lingual Bovino Epitélio Bucal Bovino Epitélio Bucal Bovino Epitélio Bucal Bovino Epitélio Gengival Bovino Epitélio Bucal Bovino Adicionalmente foram testadas 30 isolados diagnosticados como Febre Aftosa por FC50 e por RT – PCR. 3.4 “PRIMERS” Dois pares de “primers” foram inicialmente testados para a implementação da RT - PCR (QUADRO 3). Utilizou-se os “primers” publicados por RODRIGUEZ et al. (1993) que reconhecem um fragmento específico do RNA dentro do gene que codifica a fosfoproteína (gene P) e gera um fragmento de 642 pb para New Jersey ("Primer” NJ 102 / 744) e de 614 pb para Indiana (“Primer” Ind 179 / 793). Também foram testados “primers” publicados por NÜÑEZ et al. (1998) que delimitam uma região do gene L originando um fragmento de 301 pb para New Jersey (“Primer” NS / NA) e de 359 pb para Indiana (“Primer” IS / IA). 35 QUADRO 3: “Primers” a serem testados na implementação da RT - PCR para a detecção do vírus da Estomatite Vesicular. Gene Fragmento N° acesso * Gene P 642 M31868 Gene L 301 M29788 Gene P 614 X04453 Gene L 359 J02428 New Jersey Direção Iniciador Direto NJ-P 102 Reverso NJ-P 744 Direto NS Reverso NA Indiana Direto IN-P 179 Reverso IN-P 793 Direto IS Reverso IA Seqüência 5' GAGAGGATAAATATCTCC 3' 5' GGGCATACTGAAGAATA 3' 5’ACTCATGCGGTATTTACCCTTG 3’ 5’ TTGGTTTGGAACTTGGATTC 3’ 5' GCAGATGATTCTGACAC 3' 5' GACTCT(C/T)GCCTG(A/G)TTGTA 3' 5’GGTGGTTATTCCATTTTTCG 3' 5’GGTGTTGCAGACTATGTTGGAC 3’ * GenBank 3.5 EXTRAÇÃO DE RNA Para a extração do RNA utilizou-se o produto comercial TRIZOL seguindo as orientações do fabricante. Esse método desenvolvido por Chomczynski e Sacchi (1987), baseia-se na desnaturação e precipitação de proteínas através do fenolclorofórmio e solução de isotiocianato de guanidina que é um poderoso inibidor da enzima Rnase, para posterior precipitação do RNA com álcool. Utilizou-se, aproximadamente, 1 g de epitélio dos espécimes do Equador (epitélio) que foi macerado em 1 mL de TRIZOL. Os sobrenadantes (suspensão virulenta) obtidos através de inoculação em monocamada de células BHK-21 das amostras de referência VEV e a suspensão celular (BHK-21) utilizada como controle de células foram colocadas em tubo “eppendorf” de 1,5 mL, na proporção de 250 µL de suspensão para 750 µL de TRIZOL e conservados a temperatura de -70°C até a data de extração. Para a extração, os espécimes e amostras foram, separadamente descongelados, homogeneizados e deixados por cinco minutos à temperatura ambiente (TA) onde, após esse período, se acrescentou 200 µL de clorofórmio. Foram incubadas por 15 minutos a TA e centrifugadas por 15 minutos a velocidade de 12.000g em centrifuga refrigerada (4°C). A fase superior da mistura (aquosa) onde se encontrava o RNA foi transferida para um novo tubo eppendorf de 1,5 mL 36 contendo 500 µL de isopropanol que foi brevemente homogeneizado e incubado a TA por 15 minutos para a precipitação do RNA. Após esse período. Foi feita nova centrifugação a 12.000 x g durante 15 minutos a 4°C onde o sobrenadante foi descartado e o precipitado de RNA (“pellet”) lavado uma vez com 1 mL de etanol 75% e uma vez com 1 mL de etanol absoluto. O RNA viral, depois de seco à TA, foi suspenso em 20 µL de água livre de Rnase e foi armazenado a -70°C até o momento de uso. 3.6 TRASCRIÇÃO REVERSA (RT) O RNA extraído serviu de molde para a produção de uma cadeia complementar de DNA (cDNA) utilizando o sistema de pré-amplificação Superscript para RT-PCR (Invitrogen, SP, Brasil) com “primers” randômicos. A transcrição reversa foi feita em duas etapas. Inicialmente em uma mistura (Mistura 1) de 4 µL de água livre de Rnase com 1 µL de “primer” randômico onde se acrescentou 5µL do RNA em estudo. Essa mistura foi incubada no termociclador (Applied Biosystens modelo: GeneAmp PCR System 9700) a 70° C por 10 minutos Na segunda etapa da RT se preparou outra mistura (Mistura 2) contendo 2,5 µL de 10X tampão RT- PCR (200mM tris-HCl pH 8.4 – 500 mM KCl), 2,5 µL de 25mM MgCl, 2,5 µL de 0,1 M DTT (dithiotreitol), 1,5 µL de 10mM dNTPs, 1,0 µL da enzima (transcriptase reversa) Superscript II 50u/µL, 0,5 µL de Rnase OUT 40u/µL e 4,5 µL de água livre de Rnase perfazendo um total de 15µL por reação, que foram acrescentados ao tubo que continha a Mistura 1 e incubado no termociclador, por 60 minutos a 42°C seguido de 15 minutos a 70°C. O produto da transcrição reversa, agora designadas cDNA, foi conservado a temperatura de -70°C até sua utilização. 3.7 REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE – PCR Para cada 5,0 µL de cDNA a ser estudado preparou-se uma mistura de 5,0 µL de 10X PCR tampão (200mM tris-HCl pH 8.4 – 500 mM KCl), 1,5 µL de 50mM MgCl2, 1,0 µL de 10mM dNTPs, 1,0 µL de “primer” direto (25 pmol/µL), 1,0 µL de 37 “primer” reverso (25 pmol/µL), 0,5 µL de Taq DNA polimerase 5U/µL e 35,0 µL de água livre de Rnase totalizando 50 µL por reação. A reação da PCR foi processada em um termociclador da Applied Biosystens modelo: GeneAmp PCR System 9700. As temperaturas de anelamento e quantidade de ciclos da PCR utilizadas foram baseadas nas padronizações dos autores, com o objetivo de implementar o teste para as variantes da América do Sul. 3.8 ELETROFORESE EM GEL DE AGAROSE Para a observação e análise dos resultados, 5 µL do produto amplificado por PCR foi misturado a 1µL do tampão de arrasto (azul de Bromofenol 2,5%, TBE 10X 10% e Glicerol 50%) e aplicado em gel de agarose a 1% em TBE (Tris - Borato 0,089 M e EDTA 0,002M) para tamanho de banda esperado de 642 pb ou 614 pb e gel a 2% em TBE para tamanhos esperados de 301 pb e 354 pb, contendo brometo de etídio na concentração final de 0,5 µg/ mL. O gel foi submetido a corrente de 100 V imerso em solução de TBE. As bandas foram visualizadas e fotografadas em um transiluminador de luz ultravioleta. Também foi incluído no gel de agarose um padrão de peso molecular (Marcador 100 pb, Invitrogen) para identificação do tamanho do produto. Os produtos amplificados que apresentaram bandas na altura esperada foram recuperados do gel e purificados para posterior seqüenciamento. 3.9 PURIFICAÇÃO DOS PRODUTOS DA PCR Para a purificação dos produtos da PCR utilizou-se o Kit “Concert Rapid Gel Extraction System” (Life Technology, SP, Brasil) seguindo as orientações do fabricante. A quantidade de 45 µL do produto da PCR foi homogeneizado em 15 µL de tampão de arrasto e submetido à eletroforese em gel de agarose 1%, conforme descrito anteriormente. 38 Após a eletroforese, o pedaço do gel que continha a banda desejada foi, por visualização de luz ultravioleta, cortado com auxílio de bisturi. A purificação (purificação por afinidade) se baseia na diluição do gel de agarose para a recuperação do DNA e na afinidade do DNA com a sílica. Pesou-se a banda cortada em um “eppendorf” de 1,5 mL e acrescentou-se o tampão de solubilização L1 e sílica (providos pelo Kit “Concert Rapid Gel Extraction System”) nas proporções de 30 µL e 1 µL por 10 mg de agarose respectivamente. A mistura foi incubada por 20 minutos a 50°C em bloco térmico, sendo homogeneizada a cada três minutos e centrifugados a 12.000 x g por trinta segundos. O sobrenadante foi descartado e o sedimento foi novamente suspendido em tampão L1 com o mesmo volume anteriormente utilizado, seguido de nova centrifugação a 12.000 x g. Na etapa subseqüente, a sílica contendo o DNA foi suspensa e centrifugada (12.000 x g / trinta segundos) por duas vezes em tampão L2 (providos pelo Kit “Concert Rapid Gel Extraction System”) na proporção de 30 µL / 10 mg de agarose onde em cada etapa o sobrenadante foi descartado. O tubo contendo o pellet com sílica e DNA foi deixado aberto, a TA, por um breve período, até que se evaporasse o resíduo de L2 e o DNA foi eluído da sílica mediante a adição de 20 µL de tampão TE (providos pelo Kit “Concert Rapid Gel Extraction System”). Após homogeneização e incubação à 50°C por cinco minuto, DNA purificado (sobrenadante) foi recuperado por centrifugação de 12.000 x g por trinta segundos. 3.10 QUANTIFICAÇÃO DO DNA Para a quantificação do DNA (produto da PCR purificado ou “amplicon”), necessário para a reação de seqüenciamento, comparou-se a intensidade da banda do material purificado com a de um marcador de massa molecular (Low Molecular Mass Ladder, Invitrogen), em gel de agarose a 1% em TBE, preparado e visualizado conforme descrito anteriormente. 3.11 SEQUENCIAMENTO CÍCLICO 39 O Kit utilizado para o seqüenciamento foi o “ABI Prism Big Dye Terminator v3. 1 Cycle Sequencing” (Applied Biosystems, SP, Brasil). O método se baseia na incorporação de dideoxinucleotídeos com marcação fluorescente às cadeias de DNA durante as reações cíclicas de desnaturação, anelamento e extensão. Aproximadamente 60 - 80 ng de DNA foram acrescentadas à reação que continha: 3,2 pmoles de “primers”, 2µL de BigDye – Tampão de seqüenciamento para BigDye v 3.1 Cycle Sequencing e 2µL de tampão de seqüenciamento (provido pelo Kit BigDye), completando o volume final de 10 µL com água livre de Rnase. Para cada amostra foram feitas reações com “primer” direto e reverso em reações individuais. Os “primers” para a reação foram os mesmos utilizados para a PCR gene P (NJ P 102/744 e Ind P 179/193). A incubação das amostras foi de 40 ciclos a 94°C por 45 segundos, 50°C por 30 segundos e 60°C por 4 minutos feitas em termociclador já descrito. 3.12 PURIFICAÇÃO DO PRODUTO DA REAÇÃO DE SEQÜENCIAMENTO Para a purificação do produto da reação de seqüenciamento utilizou-se a coluna de exclusão “Centri-Sep” (Princeton Separations, Applied Biosystems). A resina contida na coluna foi hidratada por 1 hora a TA com 800 µL de água livre de Rnase. Após hidratação, a coluna foi centrifugada a 750g por 2 minutos dentro de um tubo coletor, para retirar o líquido intersticial. O volume total (10 µL) do produto da reação de seqüenciamento foi cuidadosamente colocado no centro da coluna de exclusão e esta, dentro de um tubo “eppendorf” de 1,5 mL que foi centrifugada a 750g por mais 2 minutos. Secou-se o produto recolhido no tubo “eppendorf” em micro centrifuga a vácuo (“Speed-Vac”) por aproximadamente 45 minutos. Para leitura das seqüências o produto foi reconstituído em 10 µL de formamida, aquecido a 95 °C por 2 minutos e imediatamente transferido a um banho de gelo. 3.13 LEITURA E ANÁLISE DE SEQÜÊNCIAS 40 As leituras das seqüências foram feita em seqüenciador automático de capilar ABI-Prism 3100 Avant genetic Analyser (Applied Biosystems) seguindo instruções do fabricante. Os “cromatogramas” (leitura dos comprimentos de onda das seqüências genômicas) foram editorados utilizando o programa BioEdit 5.0.6 -2005 (HALL, 1999). Esse programa fornece funções básicas para edição, alinhamento e análise de múltiplas seqüências de ácidos nucléicos e proteínas. O alinhamento das seqüências foi feito para comparação entre as diversas seqüências obtidas no presente trabalho e entre as seqüências pré-existentes nos bancos de dados disponíveis pela Internet (GenBank, 2005). 3.14 ANÁLISE FILOGENÉTICA Análise filogenética tem sido utilizada para estudos de classificação e taxonomia viral, onde se observa a porcentagem de homologia entre as seqüências estudadas em uma dada região genômica. A árvore filogenética foi construída por comparação entre as seqüências parciais obtidas para o gene P e entre seqüências publicadas no banco de dados disponível na Internet (GenBanK, 2005), através do cálculo e análise das distâncias entre elas, utilizando-se o programa MEGA versão 3.0 (KUMAR et al., 2004). 3.15 DESENHO EXPERIMENTAL 3.15.1 Estudos preliminares 3.15.1.1 Estudos preliminares de detecção por RT – PCR de amostras de referência As amostras de referência NJ CR /66, Ind 1 CR /72, Ind 2 Rib BR /79, Ind 3 AN BR /86 foram inicialmente testadas na RT – PCR utilizando-se as mesmas condições de temperatura de anelamento e ciclos descritos pelos autores dos “primers”. Utilizando-se os “primers” do gene P (NJ 102 / 744 e Ind 179 / 793), a mistura foi submetida à temperatura de 94°C por três minutos e 40 ciclos a 93°C por 41 um minuto, 50°C por um minuto e 72°C por um minuto seguido por uma extensão final a 72°C por cinco minutos. Quando se utilizaram os “primers” para o gene L (NJ NS / NA e Ind IS / IA) a mistura foi submetida à temperatura de 94°C por três minutos e 30 ciclos a 93°C por um minuto, 37°C por um minuto e 72°C por dois minutos seguidos por uma extensão de cinco minutos a 72°C. Como controle negativo da reação utilizou-se água livre da enzima Rnase (Sigma) e para o controle da reação, o RNA e os “primers” providos pelo Kit utilizado para a reação de transcrição reversa (Superscript –Invitrogen). 3.15.1.2 Estudos preliminares de detecção por RT – PCR de amostras de campo Após os estudos preliminares com amostras de referência, 14 isolados do Equador (epitélio de animais com suspeitas clínicas de enfermidades vesiculares) foram testadas utilizando-se os “primers” para o gene P e gene L, nas mesmas temperaturas de anelamento e quantidade de ciclos recomendados pelos autores (descritos no item 3.15.1.1). As amostras de referência NJ CR /66 e Ind CR /72 foram novamente incluídas no ensaio. As amostras também foram testadas para FA em PANAFTOSA segundo o Manual de RT-PCR y seqüenciamento cíclico para estudos de epidemiologia molecular do vírus da Febre Aftosa – “FIEBRE AFTOSA - Instrumentos moleculares para caracterización viral” (MALIRAT; BERGMANN, 2003). 3.15.2 Ajuste de prova Levando em consideração os resultados obtidos nos estudos preliminares, propôs-se um ajuste de prova para a reação de RT - PCR feita com os “primers” que flanqueiam o gene L. Com a finalidade de melhorar o desempenho da prova evitando o aparecimento de bandas espúrias na amplificação, se propôs modificações na temperatura de anelamento, aumentando-se as condições de adstringência da reação. O aumento na quantidade de ciclos também foram propostas na tentativa de suprir a perda da sensibilidade da reação acarretada pelo aumento na temperatura. 42 Para as modificações na temperatura de anelamento se considerou as Temperaturas de Fusão (TM) dos “primers”. A temperatura utilizada pelo autor é de 37°C com repetição de 30 vezes por ciclo (30 ciclos). Considerando-se que as TM dos “primers” NS / NA tem a temperatura aproximada de 51 °C e dos ”primers” IS / IA de 50°C e recomenda-se que a temperatura de anelamento seja de 5°C abaixo da menor TM do par de “primers” (INNIS; GELFAND, 1990) propôs-se o seguinte ensaio esquematizado no quadro 4: QUADRO 4: Modificações propostas na temperatura de anelamento e quantidade de ciclos, na tentativa de ajuste de prova utilizando-se “primers” que reconhecem o gene L do VEV: NS / NA e IS / IA. “Primers” NJ NS / NA “Primers” Ind IS / IA Gene L Gene L Gene L Gene L Gene L Gene L 45°C 30 ciclos 45°C 40 ciclos 50°C 30 ciclos 45°C 30 ciclos 45°C 40 ciclos 50°C 30 ciclos 029 - 2 029 - 5 029 - 6 029- 19 029- 20 NJ CR / 66 Ind 1 CR / 72 Para esse novo ensaio foram selecionados cinco isolados do Equador e as amostras de referência NJ CR/66 e Ind 1 CR/72. O isolado 029-6 e a amostra de referência Ind 1 CR / 72 foram escolhidos pelos resultados anteriores terem sido, respectivamente, falso negativo e resultados não consistente com os “primers” para o gene L; O isolado 029-5 por ser o único de campo positivo para Ind e os isolados 029 – 2, 19, 20 e amostra NJ CR / 66 por já terem sido analisados e serviram de parâmetro de comparação. Como os resultados encontrados com a proposta de ajuste de prova para os “primers” NS / NA e IS / IA não melhoraram o desempenho observado inicialmente e induziam a resultados falsos positivos e falsos negativos, os “primers” NJ 102 / 744 e Ind 179 / 793 foram escolhidos em continuação ao processo de implementação da RT – PCR. 43 3.15.3 Estudo de detecção de amplificação de subtipos do VEV As amostras de referência NJ Eq /85, Ind 1 ES /71, Ind 1 ES /78, Ind 1 CR /79, Ind 2 Ranc BR /66, /86, Ind 3 Esp BR /77 foram testadas na RT – PCR utilizando-se os “primers” NJ 102 / 744 e Ind 179 / 793 mantendo-se as mesmas condições de prova descritas pelo autor. Também foram incluídas para teste de reação cruzada, as amostras de referência de Febre Aftosa O1 Cps BR /58, A24 Cruz BR /55 além dos controles negativo e de células. As amostras NJ CR /66, Ind 1 CR /72, Ind 2 Rib BR /79 e Ind 3 A N BR anteriormente estudas foram acrescentadas novamente a título de confirmação dos resultados. 3.16 SENSIBILIDADE ANALÍTICA Diluições seriadas do RNA extraído do sobrenadante de monocamada de células BHK 1 infectada com as amostras de referência NJ CR /66 com o título de 108 dose infectante em cultura de célula 50% / mL (TCID50 / mL) e Ind CR /72 com o título de 108,25 TCID50 / mL foram utilizadas para determinar a sensibilidade analítica da RT – PCR. A TCID50 foi obtida por técnica de virusneutralização seguindo metodologia descrita por Alonso, 1986. O RNA foi mensurado em espectrofotômetro (Beckman – Model 1098) no comprimento de onda de 260 nm. 4 RESULTADOS O RNA genômico foi extraído com sucesso utilizando-se o TRIZOL, tanto dos espécimes clínicos (epitélio) quanto de suspensões de vírus em passagem celular (amostras de referência). Concentrações ótimas dos reativos para a prova de RT - PCR foram determinadas em estudos anteriores. Com os “primers” utilizados para amplificação do gene P foram geradas bandas dos tamanhos esperados de aproximadamente 642 pb para os “primers” NJ e 614 pb para os “primers” do sorotipo Ind. Na amplificação do gene L as bandas geradas foram de aproximadamente 301 pb para NJ e de 359 pb para Ind. 4.1 ESTUDOS PRELIMINARES 4.1.1 Estudos preliminares de detecção por RT – PCR de amostras de referência (tabela 1 e figuras 5 e 6) - Sorotipo NJ • A amostra NJ CR /66 apresentou banda (POS) na altura esperada de 642 pb com os “primers” NJ 102 / 744 e de 301 pb com os “primers” NS / NA, ambos referidos como específicos para sorotipo NJ pelos autores. • Não foram observadas bandas com os “primers” Ind 179 / 793 e IS / IA. • Não foram observadas bandas nas amostras Ind 1 CR/72, Ind 2 Rib BR /66, Ind 3 A N BR /86 e controle negativo. 45 - Sorotipo Ind • Na amostra Ind 1 CR /72, se observou banda (POS) na altura esperada de 614 pb com os “primers” Ind 179 / 793, referidos pelos autores como específicos para o sorotipo Ind. • No entanto, no caso dos “primers” IS / IA também referidos pelos autores como específicos para o sorotipo Ind, resultados não consistentes (nc) foram obtidos sendo observado banda em alguns ensaios e em outros não. • Não foram observadas bandas com os “primers” NJ 102 / 744 e NS / NA. • Não foram observadas bandas nas amostras Ind 2 Rib BR /66, Ind 3 A N BR /86 e controle negativo, com nenhum dos primers testados. Em todos os casos o controle do Kit apresentou banda positiva. TABELA 1: Resultados dos estudos preliminares de detecção por RT – PCR em amostras de referência para os sorotipos NJ e Ind. POS: observação de banda; NEG: não observação de banda; nc: não consistente Amostras Referência NJ CR / 66 Ind CR / 72 Ind 2 Rib BR /79 Ind 3 A N BR /86 Controle Negativo NJ NJ 102 / 744 NS / NA POS POS NEG NEG NEG NEG NEG NEG NEG NEG Ind Ind 179 / 793 NEG POS NEG NEG NEG IS / IA NEG Nc NEG NEG NEG 46 M 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 600pb FIGURA 5: Gel de agarose dos produtos obtidos por RT – PCR das amostras de referência NJ CR /66 (colunas 1 e 7), Ind CR /72 (colunas 2 e 8), Ind 2 Rib BR /79 (colunas 3 e 9), Ind 3 A N BR /86 (colunas 4 e 10), controle negativo (colunas 5 e 11) e controle do Kit (colunas 6 e 12) utilizando-se os “primers” para o gene P. Colunas 1 a 6: “primers” NJ 102 / 744; colunas 7 a 12: “primers” Ind 179 / 793. M 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 M 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 300pb FIGURA 6: Gel de agarose dos produtos obtidos por RT – PCR das amostras de referência NJ CR /66 (colunas 1 e 7), Ind CR /72 (colunas 2 e 8), Ind 2 Rib BR /79 (colunas 3 e 9), Ind 3 A N BR /86 (colunas 4 e 10), controle negativo (colunas 5 e 11) e controle do Kit (colunas 6 e 12) utilizando-se os “primers” para o gene L. Colunas 1 a 6: “primers” NJ NS / NA; colunas 7 a 12: “primers” Ind IS / IA. 47 4.1.2 Estudos preliminares de detecção por RT – PCR de amostras de campo Os resultados obtidos na RT – PCR para ambos os “primers” são mostrados no tabela 2 onde se compara com os resultados obtidos por FC50. - Sorotipo NJ • Na detecção do VEV sorotipo NJ pela RT - PCR, utilizando-se os “primers” NJ 102 / 744 e NS / NA foram observadas bandas (POS) para os isolados caracterizados como NJ por FC50: 029 – 2, 3, 8, 9, 10, 11, 18, 19, 20 e 33 e na amostra NJ CR /66. • No isolado 029-6, observou-se banda com os “primers” NJ 102 / 744, porém não foi detectada amplificação com os “primers” NS / NA. • Não foi observada banda (NEG) nos isolados 029-4, 5 e 12 e amostra Ind CR /72 com nenhum dos “primers” para NJ. - Sorotipo Ind • Quando o ensaio foi feito para a detecção de Ind, bandas foram observadas no isolado 029-5 e na amostra Ind 1 CR /72 para os “primers” Ind 179 / 793. • Com os “primers” IS / IA bandas foram observadas no isolado 029-5, mas resultados não consistentes (nc) continuaram a aparecer com a amostra Ind 1 CR /72, visualizando-se banda em alguns ensaios e em outros não. • Não se observou banda nos isolados 029 – 2, 3, 4, 6, 8, 9, 10, 11, 12, 18, 19, 20 e 33 e na amostra NJ CR /66 com nenhum dos “primers” para Ind. 48 TABELA 2: Resultado dos estudos de amplificação por RT – PCR dos isolados do Equador e amostras de referência utilizando-se “primers” que flanqueiam diferentes genes do genoma do VEV nas condições de prova recomendadas por seus autores, em comparação com os resultados obtidos por FC50. POS: observação de banda; NEG: não observação de banda; nc: não consistente; nr: não realizado. FC50 Material estudado 029 – 2 029 – 3 029 – 4 029 – 5 029 – 6 029 – 8 029 – 9 029 – 10 029 – 11 029 – 12 029 – 18 029 – 19 029 – 20 029 – 33 NJ CR /66 Ind1 CR /72 Equador NJ NJ NJ Ind NJ NJ NJ NJ NJ NJ NJ NJ NJ NJ nr nr "Primer" NJ Gene P Gene L PANAFTOSA NJ 102 / 744 NS / NA NJ POS POS NJ POS POS NEG NEG NEG Ind NEG NEG NJ POS NEG nr POS POS nr POS POS NJ POS POS nr POS POS NEG NEG NEG NJ POS POS NJ POS POS NJ POS POS NJ POS POS NJ POS POS Ind 1 NEG NEG "Primer" Ind Gene P Gene L Ind 179 / 793 IS / IA NEG NEG NEG NEG NEG NEG POS POS NEG NEG NEG NEG NEG NEG NEG NEG NEG NEG NEG NEG NEG NEG NEG NEG NEG NEG NEG NEG NEG NEG POS nc Exemplos das amplificações referidas são mostrados na FIGURA 7. Pode-se observar bandas geradas por amplificação do cDNA viral por RT – PCR para detecção do VEV NJ utilizando-se os “primers” que reconhecem o gene P: NJ 102 / 744 (FIGURA 7 – A) e que reconhecem o gene L: NS / NA (FIGURA 7 – B). Para os “primers” que reconhecem o gene P, os produtos da RT - PCR apresentam bandas do tamanho esperado somente para isolados caracterizados na FC50 como NJ (no exemplo os isolados 029-3, 6, 9, 10, 33 e amostra NJ CR /66). Utilizando-se os “primers” para o reconhecimento do gene L, o isolado 029-6 (tipificado NJ por FC50 e em amplificação pelos “primers” para o gene P , específicos para o sorotipo NJ) resulta negativo (coluna 4 – FIGURA 7 – B). A falha na amplificação dessa amostra reforça a observação de que esses “primers” seriam menos adequados para a detecção do VEV por RT – PCR do que os que 49 reconhecem o gene P. Adicionalmente, pode-se observar bandas espúrias (de tamanhos diferentes do esperado) na reação de RT-PCR utilizando esses ”primers” . A: “primers” NJ 102 / 744 B: “Primers” NJ NS / NA M 1 2 3 M4 1 5 2 63 47 5 8 69 7108 M9 10 M M 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 M M 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 M 300 pb 600 pb FIGURA 7: Gel de agarose dos produtos obtidos por RT – PCR dos isolados do Equador e amostra de referência. Colunas 1 a 7 correspondem aos isolados 029-3, 4, 5, 6, 9, 10, 33; a coluna 8 é o controle negativo (água), a coluna 9 é a amostra de referência NJ CR /66 e a coluna 10, o controle do Kit. M é o marcador de peso molecular de 100 pb. As amostras resultaram todas negativas por RT-PCR para FA quando se utilizou o Manual de y seqüenciamento cíclico para estudos de epidemiologia molecular do vírus da Febre Aftosa – “FIEBRE AFTOSA - Instrumentos moleculares para caracterización viral” (MALIRAT; BERGMANN, 2003), 4.2 AJUSTE DE PROVA Nos resultados obtidos (TABELA 3) observa-se que nas condições recomendadas pelo autor, a amostra Ind 1 CR /72 continuou a apresentar resultados 50 não consistente (nc) com os “primers” para o gene L (IS / IA), mesmo nas diferentes condições de temperatura e ciclos testados, chegando a registrar resultados negativos. O espécime 029-6 que por FC50 e PCR com “primers” para o gene P foi diagnosticado como NJ, não apresentou banda com os “primers” NJ para o gene L (NS / NA) nas condições recomendadas pelo autor (37°C com 30 ciclos). Somente quando se aumentou o número de ciclos para 40 e a temperatura para 45°C esse isolado foi amplificado. No entanto, nessa mesma temperatura e quantidade de ciclos, foi também amplificado para os “primers” Ind para o gene L (IS / IA). Os outros isolados NJ apresentaram resultados positivos inclusive em condições de maior temperatura de pelo menos até 45°C e de 50°C para a amostra de referência NJ CR /66. TABELA 3: Resultados de RT – PCR observados no ajuste de prova proposto para os “primers” NS / NA e IS / IA que flanqueiam o gene L do VEV. POS: observação de banda; NEG: não observação de banda; nc: não consistente. Material Estudado “Primers” NJ “Primers” NJ “Primers” Ind “Primers” Ind NJ 102/744 NS / NA Ind 179/793 IS / IA Gene P 50°C 40 ciclos Gene L 37°C 45°C 45°C Gene P 50°C 30 ciclos 30 ciclos 40 ciclos 30 ciclos 50°C 40 ciclos Gene L 37°C 45°C 45°C 50°C 30 ciclos 30 ciclos 40 ciclos 30 ciclos 029 – 2 POS POS POS POS NEG NEG NEG NEG NEG NEG 029 – 5 NEG NEG NEG NEG NEG POS POS POS POS POS 029 – 6 POS NEG NEG POS NEG NEG NEG NEG POS NEG 029- 19 POS POS POS POS NEG NEG NEG NEG NEG NEG 029- 20 POS POS POS POS NEG NEG NEG NEG NEG NEG NJ CR / 66 POS POS POS POS POS NEG NEG NEG NEG NEG Ind CR / 72 NEG NEG NEG NEG NEG POS nc NEG nc NEG Na figura 8 podemos observar o resultado do ajuste de prova para o isolado 029-6. Resultado positivo utilizando-se os “primers” NJ 102 / 744 pode ser observado com banda na altura esperada de 642 pb com temperatura de anelamento de 50°C por 40 ciclos (coluna 1). Resultado negativo utilizando-se os “primers” NS / NA com a temperatura de anelamento a 37°C por 30 ciclos se observa na coluna 2 apresentando resultado positivo (coluna 3) com esses mesmos 51 “primers” com banda na altura esperada de 301pb com a temperatura de anelamento de 45°C por 40 ciclos. Nessa mesma tabela podemos observar os resultados utilizando-se os “primers” para VEV Ind. Resultado negativo foi obtido utilizando-se os “primers” Ind 179 / 793 na temperatura de 50°C por 40 ciclos (coluna 4) e na coluna 5 com os “primers” IS / IA na temperatura de 37°C por 30 ciclos. Na coluna 6 aparece como positivo com banda na altura de 359 pb apareceram utilizando-se os “primers” IS / IA na temperatura de 45°C por 40 ciclos. M 1 2 3 4 5 600 pb 6 M 300 pb FIGURA 8: Gel de agarose dos produtos obtidos por RT – PCR para detecção do VEV do isolado do Equador 029-6 no ajuste de prova proposto. Coluna 1: “primers” NJ 102 / 744 a 50°C – 40 ciclos. Colunas 2 e 3: “primers” NJ NS / NA a 37°C – 30 ciclos e 45 °C – 40 ciclos respectivamente. Coluna 4: “primers” Ind 179 / 793 a 50°C – 40 ciclos. Colunas 5 e 6: “primers” Ind IS / IA a 37°C – 30 ciclos e 45 °C – 40 ciclos respectivamente. M é o marcador de peso molecular de 100 pb. 4.3 ESTUDO DE DETECÇÃO DE AMPLIFICAÇÃO DE SUBTIPOS DO VEV 52 Os seguintes resultados foram obtidos e que estão resumidos na tabela 4. • As amostras NJ CR /66 e NJ Eq / 85 apresentaram banda (POS) na altura esperada de 642 pb com os “primers” NJ 102 / 744. • Nas amostras Ind 1 CR /72, Ind 1 ES / 71, Ind 1 ES / 78, e Ind 1 CR /79 foram observadas bandas (POS) na altura esperada de 614 pb com os “primers” Ind 179 / 793. • Não foram observadas bandas nas amostras Ind 2 Ranc BR /66, Ind 2 Rib BR /79, Ind 3 A N BR /86, Ind 3 Esp BR /77. • Resultados negativos foram registrados com os dois pares de “primers” para as amostras do vírus da Febre Aftosa testadas, O1 Cps BR /58, e A24 Cruz BR /55. • Não foram registradas bandas com o controle negativo e controle de célula com nenhum dos dois “primers” e o controle do Kit apresentou banda positiva. TABELA 4: Resultados observados no teste de RT – PCR para as amostras de referência e controles utilizando-se “primers” NJ 102 / 744 e Ind 179 / 793. POS: observação de banda; NEG: não observação de banda. Amostras de Referência PCR Gene P PCR Gene P e controles NJ Ind NJ CR /66 POS NEG NJ Eq /85 POS NEG Ind 1 CR /72 NEG POS Ind 1 ES /71 NEG POS Ind 1 ES /78 NEG POS Ind 1 CR /79 NEG POS Ind 2 Ranc BR /66 NEG NEG Ind 2 Rib BR /79 NEG NEG Ind 3 A N BR /86 NEG NEG Ind 3 Esp BR /77 NEG NEG O1 Cps BR /58 NEG NEG A24 Cruz BR /55 NEG NEG Controle Negativo NEG NEG Controle BHK – 21 NEG NEG 53 4.4 SENSIBILIDADE ANALÍTICA Diluições de 10 -1até 10 -5 da cepa NJ CR /66 foram amplificada com sucesso e a diluição 10 -6 não pode ser visualizada (FIGURA 9). M 1 2 3 4 5 6 7 8 9 600 pb FIGURA 9: Diluição seriada do RNA extraído de células BHK – 21 infectada com VEV NJ CR /66. Coluna 1: 108 TCID50 / mL, coluna 2: diluição 10-1, coluna 3: diluição 10-2, coluna 4: diluição 10-3, coluna 5: diluição 10-4, coluna 6: 10-5, coluna 7: diluição 10-6, coluna 8, 10-7, coluna 9: controle negativo (água). No teste de sensibilidade para a amostra de referência Ind CR /72 diluições de 10 -1 até 10 -3 puderam ser observadas, não sendo observadas bandas da diluição 10-4 em diante (FIGURA 10). 54 M12 34 56 7 89 600pb FIGURA 10: Diluição seriada do RNA extraído de células BHK – 21 infectada com VEV Ind CR /72. Coluna 1: 108,25 TCID50 / mL, coluna 2: diluição 10-1, coluna 3: diluição 10-2, coluna 4: diluição 10-3, coluna 5: diluição 10-4, coluna 6: 10-5, coluna 7: diluição 10-6, coluna 8, 10-7, coluna 9: controle negativo (água). 4.5 SEQÜENCIAMENTO Foram seqüenciadas as amostras amplificadas por RT – PCR com os “primers” P. Cada seqüência foi determinada em reações individuais com os dois “primers” (direto e reverso) para cada sorotipo e foi repetida duas vezes para a confirmação dos dados. Um total de 18 seqüências parciais do gene da fofosproteína (gene P) foi obtida. • Amostras seqüenciadas utilizando-se os “primers” NJ 102 / 744: isolados do Equador 029-2, 3, 6, 8, 9, 10, 11, 18, 19, 20 e 33 e as amostras NJ CR /66 e NJ Eq /85. • Amostras seqüenciadas utilizando-se os “primers” Ind 179 / 793: o isolado do Equador 029-5 e as amostras Ind CR /72, Ind ES /71, Ind ES /78, e Ind CR /79. Esses fragmentos foram utilizados para o alinhamento entre eles e entre as seqüências publicadas no GeneBank. 55 O número de acesso das seqüências obtidas no GenBank para o alinhamento podem ser observadas no Quadro 5. Seqüências parciais do gene P utilizadas foram as publicadas por RODRIGUEZ et al. (2002). Utilizou-se sete seqüências do sorotipo New Jersey, cinco de focos ocorridos no México nos anos de 1986, 1989, 1996 e 1997 com números de acesso AF252230, AF252232, AF252234, AF252236 e AF252238 e dois dos Estados Unidos dos anos de 1995 e 1997, números de acesso AF252233 e AF252253. Para Ind 1 foram selecionadas 11 seqüências parciais sendo uma de um foco ocorrido no México em 1997, número de acesso AF252217 e dez de focos ocorridos nos Estados Unidos nos anos de 1997 e 1998 com números de acesso AF252218, AF252219, AF252220, AF252221, AF252222, AF252223, AF252224, AF252225, AF252226, AF252227. Também se utilizou as seqüências completas do gene P publicada por Bilsel et al. (1990) com número de acesso M31868 para o sorotipo NJ. Para o sorotipo Ind, a seqüência completa do gene P utilizada foi a com número de acesso X04453 Ind publicada por Vandepol e Holland (1986). QUADRO 5; Seqüências do GenBank utilizadas para alinhamento e o cálculo e análise das distâncias genéticas em comparação com as seqüências obtidas nesse trabalho. A: Seqüências para o sorotipo NJ. B: Seqüências para o sorotipo Ind 1. B Sorotipo Indiana A Seqüência completa do gene P Sorotipo New Jersey N° Acesso Origem Seqüência completa do gene P X04453 Estados Unidos (EU) N° Acesso Origem M31868 Estados Unidos (EU) Seqüência parcial do gene P N° Acesso Origem AF252217 México (Mex) N° Acesso Origem AF252218 Estados Unidos (EUA) AF252230 México (Mex) AF252219 Estados Unidos (EUA) AF252232 México (Mex) AF252220 Estados Unidos (EUA) AF252234 México (Mex) AF252221 Estados Unidos (EUA) AF252236 México (Mex) AF252222 Estados Unidos (EUA) AF252238 México (Mex) AF252223 Estados Unidos (EUA) AF252233 Estados Unidos (EUA) AF252224 Estados Unidos (EUA) AF252253 Estados Unidos (EUA) AF252225 Estados Unidos (EUA) AF252226 Estados Unidos (EUA) AF252227 Estados Unidos (EUA) Seqüência parcial do gene P 56 Todas as seqüências foram editoradas, analisadas e interpretadas com sucesso utilizando o programa BioEdit 5.0.6. Nenhuma inserção ou deleção foi observada em comparação com as seqüências publicadas e as mutações foram pontuais. As seqüências obtidas nesse trabalho abrangem fragmentos entre os nucleotídeos 110 e 720 do gene P para NJ e entre os nucleotídeos 190 e 680 do gene P Ind aproximadamente (FIGURA 11 e 12). 57 FIGURA 11: Alinhamento entre as seqüências parciais do gene P do VEV obtidas nesse trabalho utilizando-se os “primers” 102 / 744 para NJ com seqüências publicadas no GeneBank (programa de editoração BioEdit 5.0.6). 58 FIGURA 11: Continuação 59 FIGURA 11: Continuação 60 FIGURA 11: Continuação 61 FIGURA 12: Alinhamento entre as seqüências parciais do gene P do VEV obtidas nesse trabalho utilizando-se os “primers” 179 / 793 para Ind com seqüências publicadas no GeneBank (programa de editoração BioEdit 5.0.6). 62 FIGURA 12: Continuação. 63 FIGURA 12: Continuação. 64 FIGURA 12: Continuação. 65 O cálculo e análise das distâncias genéticas na região estudada foram utilizados para a construção de uma árvore filogenética. Na Tabela 5 temos o cálculo entre as distâncias genéticas (em percentagem) entre as seqüências do gene P do VEV obtidas nesse trabalho e as publicadas no GeneBank utilizando-se o programa MEGA versão 3.0. Constata-se que os sorotipos NJ e Ind podem ser facilmente distinguidos, separando-se nitidamente os dois grupos que diferenciam entre si de aproximadamente 54 % (destaque em verde), confirmada na topologia da árvore (FIGURA 13). A topologia da árvore também mostra claramente dois grupos genéticos distintos. Nessa tabela também podemos observar no destaque em rosa, que dentro dos sorotipos Ind a diferença foi de no máximo 21%. Entre os NJ (destaque em amarelo), valores menores de 23% foram encontrados entre os isolados do Equador e amostras de referência e do GenBank. Entre os isolados do Equador e amostra de referência NJ Eq/85 se observa homologia de pelo menos 94% (destaque em amarelo, negrito). 66 TABELA 5: Cálculo das distâncias genéticas entre as seqüências parciais do gene P do VEV obtidas nesse trabalho e as publicadas no GeneBank utilizando-se o programa MEGA versão 3.0. Seqüências NJ: 1 a 19; Seqüências Ind: 20 a 36. Identificação 1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 M 31868 NJ 2 NJ CR/66 3 AF252230 NJ 17 2 17 4 AF252232 NJ 2 17 3 5 AF252233 NJ 3 19 4 3 6 AF252234 NJ 3 16 4 4 5 7 AF252253 NJ 3 19 4 3 0 8 NJ Eq /85 5 20 10 21 20 22 20 22 9 029 - 2 18 9 19 19 21 18 20 4 10 029 - 3 21 12 22 21 23 21 23 2 6 11 029 - 6 21 12 21 21 23 21 22 3 5 2 12 029 - 8 22 12 22 21 23 21 23 2 6 0 3 13 029 - 9 21 12 22 21 23 21 23 2 6 0 2 0 14 029 - 10 22 12 22 21 23 22 23 2 6 1 3 0 1 15 029 - 11 21 12 22 21 23 21 23 2 6 0 2 0 0 1 16 029 - 18 18 9 19 19 21 18 20 4 1 6 5 6 6 6 6 17 029 - 19 21 12 22 21 23 21 23 2 6 0 2 0 0 1 0 6 18 029 - 20 21 12 22 21 23 21 23 2 6 0 2 0 0 1 0 6 0 19 029 - 33 22 12 22 21 23 21 23 2 6 0 3 1 0 1 0 6 0 20 X 04453 Ind 53 52 54 53 53 52 53 55 54 56 55 55 56 56 56 54 56 56 56 21 Ind CR /72 52 51 52 52 51 52 51 51 52 51 51 52 51 52 51 51 51 51 52 20 22 Ind CR /79 55 54 56 55 55 54 55 55 55 55 55 55 55 56 55 55 55 55 56 15 20 23 Ind ES /78 54 53 54 54 54 53 54 55 54 56 55 55 56 56 56 54 56 56 56 5 21 15 24 Ind ES /71 55 52 55 55 55 53 55 55 54 56 55 55 56 56 56 54 56 56 56 5 20 14 1 0 25 AF252217 Ind 53 51 54 54 53 52 54 54 53 54 54 54 54 54 54 52 54 54 55 4 19 14 5 4 26 AF252218 Ind 54 51 54 54 54 53 54 54 53 55 54 54 55 55 55 53 55 55 55 5 19 14 5 4 1 27 AF252219 Ind 54 51 54 54 54 53 54 54 53 55 54 54 55 55 55 53 55 55 55 5 19 14 5 4 1 1 28 AF252220 Ind 54 51 54 54 54 53 54 54 53 55 54 54 55 55 55 53 55 55 55 5 19 15 6 5 1 1 0 29 AF252221 Ind 53 51 54 54 53 52 54 54 53 54 54 54 54 54 54 52 54 54 55 4 19 14 5 4 1 0 0 1 30 AF252222 Ind 54 51 54 54 54 53 54 54 53 55 54 54 55 55 55 53 55 55 55 5 19 14 5 4 1 1 0 0 0 31 AF252223 Ind 54 51 54 54 54 53 54 54 53 54 54 54 54 54 54 52 54 54 55 5 19 14 6 5 1 1 0 1 1 0 32 AF252224 Ind 54 51 54 54 54 53 54 54 53 55 54 54 55 55 55 53 55 55 55 5 19 14 5 4 1 0 1 1 0 1 1 33 AF252225 Ind 54 51 54 54 54 53 54 54 53 55 54 54 55 55 55 53 55 55 55 5 19 14 5 4 1 1 1 1 0 1 1 1 34 AF252226 Ind 53 51 54 54 53 52 54 54 53 54 54 54 54 54 54 52 54 54 55 4 19 13 5 4 3 3 3 3 3 3 3 3 35 AF252227 Ind 54 52 54 54 54 53 54 54 53 55 54 55 55 55 55 53 55 55 55 5 19 15 6 5 1 0 1 1 1 1 1 0 1 3 7 5 5 5 6 5 5 6 5 5 5 36 029 - 5 52 51 53 52 53 52 52 54 53 55 54 55 55 55 55 53 55 55 55 6 19 14 7 3 6 67 029 20 029 33 029 19 029 11 029 9 029 3 029 8 029 10 NJEq85 0.04 029 6 029 2 0.03 029 18 0.04 NJCR66 0.16 AF252234NJ Mexico AF252230NJ Mexico 0.07 M31868 NJ EUA AF252232NJ Mexico AF252233NJ EUA AF252253NJ EUA 0.11 IndCR72 0.08 0.15 IndCR79 0.03 029 5 0.03 IndES78 IndES71 0.04 0.02 X04453 Ind EUA AF252226IND EUA AF252217IND Mexico AF252219IND EUA AF252222IND EUA AF252220IND EUA AF252223IND EUA AF252225IND EUA AF252221IND EUA AF252218IND EUA AF252224IND EUA AF252227IND EUA 0.05 FIGURA 13: Árvore filogenética (Neighbor-joining) baseado na seqüência parcial do gene P do VEV NJ e Ind. Vírus com seqüência total do gene P em destaque. A árvore foi obtida através do programa Mega 2.01. 5 DISCUSSÃO A EV é uma enfermidade de reconhecida importância em saúde animal com graves conseqüências sócio–econômicas (MASON, 1978). Sua presença é um fator limitante para o comércio internacional de animais e seus subprodutos (HAYEK et al.,1998). Além do prejuízo na produtividade do bovino, assume um papel importante para os programas de saúde animal por ser indistinguível clinicamente da Febre Aftosa, em suínos e bovinos (FERRIS; DONALDSON, 1988). Até o momento, poucos trabalhos de pesquisas têm sido desenvolvidos na área de diagnóstico do VEV por RT – PCR (RODRIGUEZ et al., 1993, NÜÑEZ et al., 1998, HOFNER et al., 1994, RASMUSSEN el al, 2005). O presente estudo foi utilizado para o desenvolvimento e implementação dessa técnica o que permitiu a detecção e diferenciação dos dois principais sorotipos do VEV: NJ e Ind1 utilizandose variantes da América do Sul. A extração por TRIZOL mostrou ser um procedimento rápido e simples para a obtenção de RNA de boa qualidade de amostras em suspensão celular e principalmente em diferentes tipos de tecido epitelial. A grande vantagem do teste de detecção viral por RT – PCR desenvolvido no presente trabalho está no fato de se agilizar o diagnóstico para EV, utilizando-se um método que detecta o RNA diretamente de epitélio, não havendo necessidade de passagens em células, processo que demanda tempo retardando o diagnóstico conclusivo e dificultando com isso respostas e medidas sanitárias direcionadas. A diferença de resultados observados nos isolados 029-4 e 029-12 que foram diagnosticados como NJ em prova de FC50 realizada no Equador e negativos por esta mesma técnica em PANAFTOSA e também por RT – PCR, pode ser explicado pela má conservação do material ou problemas ocorridos durante o transporte 69 ao ser enviado para diagnóstico em nosso laboratório. Com o propósito de se evitar a etapa de quantificação do RNA, agilizando-se a resposta diagnóstica utilizou-se nesse estudo a quantidade de 5 µL de RNA para todas as reações baseados em resultados obtidos por RODRIGUEZ et al. (1993) que testaram 1, 5 e 10 µL de RNA em diferentes ensaios obtendo-se sempre os mesmos resultados com quaisquer volume. Para a implementação da técnica de RT – PCR utilizou-se um total de 14 isolados do Equador e 12 amostras de vírus de referência. Os resultados indicaram homologia entre os dados obtidos por RT – PCR utilizando - se os “primers” que flanqueiam o gene P com os resultados da FC50, tanto para NJ quanto para Ind, apesar de muitos isolados terem sido processados por RT – PCR alguns meses depois da FC50 ; além de proporcionarem excelentes bandas que puderam ser recuperadas e seqüenciadas e que permitiu a confirmação do agente. A eleição dos “primers” para o gene P para a implementação da técnica de RT – PCR permitiu a visualização de bandas do tamanho de 642 pb para NJ e 614 para Ind 1 conforme descrito por RODRIGUEZ et al. (1993). Não foram observadas bandas para os subtipos Ind 2 e Ind 3. Apesar da importância na detecção desses dois subtipos, o sorotipo NJ e o subtipo Ind 1 são os de maior importância para o diagnóstico na América do Sul. Mais estudos com diferentes amostras devem ser realizados, variando-se inclusive as condições de ciclagem e temperatura utilizando dados descritos na literatura quando se utiliza “primers” degenerados ou selecionando-se novos “primers”. A necessidade de continuação dos estudos para a melhoria da sensibilidade na detecção do sorotipo Ind foi corroborada pelos resultados obtidos no teste de sensibilidade analítica. O teste de RT – PCR utilizando-se o “primer” NJ 102 / 744 mostrou sensibilidade comparável com a descrita na literatura onde pôde se detectar a quantidade de até 250 TCID50 do VEV sorotipo NJ. No entanto para o “primer” Ind 179 / 793 essa sensibilidade foi de 4.445 TCID50 para o subtipo Ind 1 não detectando os subtipos Ind 2 e Ind 3. Os resultados obtidos com as amostras de FA O Cps BR / 58 e A24 Cruz BR /55 confirmam a especificidade dos “primers” importante para o diagnóstico diferencial. Nos ensaios para teste com os “primer” NS / NA para reconhecimento do VEV tipo NJ e o “primer” IS / IA para Ind os resultados não foram conclusivos. O 70 espécime 029–6, diagnosticado como NJ por FC50 e RT – PCR gene P e confirmado por seqüenciamento, não apresentou banda (falso negativo) ao se utilizar o “primer” para gene L NS / NA. As modificações propostas na temperatura de anelamento e quantidade de ciclos para detecção do NJ fizeram com que o espécime 029-6 desse resultado positivo somente quando se elevou a temperatura de 37°C para 45 °C acrescido dez ciclos na reação. Porém nessas condições também foi observado banda (falso positivo) quando usado os “primers” Ind. Para os “primers” IS / IA resultados não consistente foram observados quando se testou a amostra de referência Ind 1 CR / 72 onde em diversas repetições, nas mesmas condições de prova, esse material por vezes aparecia como positivo e por vezes negativo. Os resultados falso positivo e falso negativo encontrado nesse ensaio para o gene L podem ser explicados pelo fato dos autores terem padronizado o uso desses ”primers” em uma reação de Multiplex PCR objetivando a amplificação do RNA de três agentes etiológicos que causam importantes enfermidades vesiculares em suínos: Febre Aftosa, Enfermidade Vesicular Suína e Estomatite Vesicular. Nesse experimento, diversos “primers” foram utilizados para a amplificação de RNA dessas enfermidades em uma única reação. A temperatura de anelamento proposta pelo autor, de 37°C, proporciona grande sensibilidade à prova, mas diminui a sua especificidade. Além do que, o referido trabalho utilizou para a reação de transcrição reversa o “primer” NA para NJ e o “primer” IA para Ind. O uso de “primer” reverso específico pode também melhorar a qualidade do produto amplificado. O autor não utilizou isolados para testar a prova, apenas sobrenadantes obtidos através de inoculação dos vírus NJ e Ind, em monocamada de células BHK-21. NÜÑEZ et al., (1998) já especulava a necessidade de estudos aprofundados para se testar a sensibilidade em isolados (amostras de campo) além de necessidade de experiências utilizando os “primers” NS / NA e IS / IA em outras espécies animais diferentemente de suínos. A árvore filogenética observada na Figura 13 foi obtida da seqüência parcial do gene P. A topologia da árvore mostra a correlação entre o comportamento sorológico e parentesco genético das variantes onde se observa nitidamente a divisão das seqüências discriminando os dois grupos distintos, NJ e Ind1, corroborando os resultados obtidos por RT – PCR. 71 A seqüência nucleotídica do gene P tem sido utilizada para as análise filogenéticas do VEV. Essas análises sugerem que o fator geográfico tem maior influência na evolução deste vírus do que o fator temporal (NICHOL et al., 1989) sendo o fator ecológico mais influente na evolução do VEV em locais onde ocorre de forma endêmica do que a seleção imunológica (RODRIGUEZ et al., 1996). Esse fato também foi observado no presente trabalho onde as variantes do surto de campo do Equador mostram homologia de pelo menos 94% com a amostra do Equador (NJ Eq / 85) isolado à 20 anos atrás. Por se manterem muito tempo com poucas variações, as linhagens genéticas, dentro de áreas geográficas definidas permitem o uso de análise filogenética para especular a posição geográfica e em alguns casos a zona ecológica da qual o vírus se originou (RODRIGUEZ et al., 1996). Três domínios funcionais têm sido descritos para a proteína P do VEV. Domínio 1 (nucleotídeos 1 a 411) que é responsável pela associação da proteína P com a proteína L, Domínio II (nucleotídeos 687 a 726) essencial para o processo de transcrição e o Domínio III (nucleotídeos 729 a 795) que liga a proteína P à proteína N – RNA. A seqüência dos aminoácidos da proteína P é muito variável indicando uma grande pressão evolucionária nessa proteína. A maior parte dessa variação está na região hipervariável da proteína localizada entre os nucleotídeos 459 e 615 (RODRIGUEZ et al., 2002; BILSEL et al., 1990) Os resultados obtidos no presente trabalho nos permitem utilizar a RT - PCR para a detecção do VEV tanto de isolados quando de suspensão virulentas obtidas por inoculação do vírus em monocamada de células. A implementação do RT – PCR permitirá a rápida detecção do VEV em auxílio às respostas de episódios de enfermidades vesiculares. A padronização feita com “primers” que reconhecem o gene que codifica a proteína P permite que o produto da reação seja seqüenciado e utilizado para estudos filogenéticos. Isso permitirá, em continuação a esse trabalho, a formação de um banco de dados com cepas representantes de focos ocorridos na América do Sul e a análise filogenética auxiliará a entender os mecanismos e fatores que determinam os focos nessa região. 6 CONCLUSÃO A técnica da RT – PCR mostrou ser uma ferramenta rápida, sensível e específica que pode ser usada como um método alternativo na detecção do vírus, com a vantagem da não exigência de um laboratório de segurança para a sua realização, uma vez que o vírus é inativado com fenol-clorofórmio. Como vantagem adicional, temos que o RNA pode ser extraído de suspensões celulares infectadas pelo VEV e principalmente, diretamente de amostras clínicas (epitélio) agilizando a resposta diagnóstica. A RT – PCR provém ainda DNA suficiente para o seqüenciamento e seus dados podem ser utilizados em análises filogenéticas para futuros estudos epidemiológicos. Mais estudos são necessários para assegurar a detecção de um maior número de variantes. 7 OBRAS CITADAS ALLENDE, R.; SEPÚLVEDA, L. M.; ALONSO, A.; RANGEL FILHO, F.B. An enzymelinked immunosorbent assay for the detection of vesicular stomatitis virus antibodies. Preventive Veterinary Medicine, v.14, p. 293-301, 1992. ALONSO, F. A. Laboratório de referência par alas Américas. Diagnostico de enfermedades vesiculares. Centro Panamericano de Fiebre Aftosa (OPS/OMS), Serie de manuales didácticos, v.12, 50p., 1983. ALONSO, F. A. Manual de diagnostico de Laboratorio de las Enfermedades Vesiculares. Centro Panamericano de Fiebre Aftosa (OPS/OMS), Serie de manuales didácticos, v.15, 50p., 1986. ALONSO, A.; MARTINS, M.A.; GOMES, M. P. D.; ALLENDE, R., SÖNDAHL, M. S. Development and evaluation of an enzyme-linked immunosorbent assay for detection, typing and sub typing of vesicular stomatitis virus. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation, v.3, p. 287–292, 1991. ANDRADE, C. M.; ROSAS, C. 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