POEMs: Patients-oriented evidence that matters Qual é o melhor controle da frequência cardíaca na fibrilação atrial? Autores da tradução: Pablo Gonzáles BlascoI Marcelo Rozenfeld LevitesII Sociedade Brasileira de Medicina de Família QUESTÃO CLÍNICA O controle leniente da frequência cardíaca é tão eficaz como o controle rigoroso para evitar resultados adversos em pacientes com fibrilação atrial crônica? RESUMO Em pacientes com fibrilação atrial (FA) crônica (definida como fibrilação atrial presente por mais de um ano na qual a desfibrilação não foi tentada ou não teve sucesso), a manutenção da frequência cardíaca (FC) em menos de 110 batimentos por minuto (bpm) é tão eficaz como o controle rigoroso desta frequência (FC < 80 bpm em repouso e < 110 bpm com o exercício moderado) com relação ao número de efeitos adversos, sintomas e hospitalizações.1 Nível de evidência: 1b = ensaio clínico randomizado DESENHO DO ESTUDO Ensaio clínico randomizado, aberto e multicêntrico. FINANCIAMENTO Netherlands Heart Foundation e apoio educacional da AstraZeneca, Biotronik, Boehringer Ingelheim, Boston Scientific, Medtronic, Roche and Sanofi Aventis. CASUÍSTICA Pacientes com diagnóstico de FA crônica em acompanhamento periódico no Ambulatório de Cardiologia na Holanda do Centro Médico Universitário de Croningen, supervisionados pelo Instituto Interuniversitário de Cardiologia da Holanda. SINOPSE Atualmente o American College of Cardiology/Diretrizes da American Heart Association recomenda rigoroso controle da frequência cardíaca em pacientes com FA com FC = 60 a 80 bpm em repouso e 90 a 115 bpm em exercício. Neste estudo, os pesquisadores recrutaram pacientes de 80 anos ou menos com diagnóstico de FA crônica por menos de um ano. Todos os pacientes apresentavam uma FC de repouso superior a 80 bpm no início do estudo, estavam recebendo anticoagulação oral ou aspirina e eram capazes de fazer exercício. Aqueles com marcapasso ou desfibrilador, insuficiência cardíaca instável ou história de acidente vascular cerebral (AVC) foram excluídos. Trezentos e onze pacientes foram randomizados para a estratégia branda de taxa de controle (meta: FC < 110 bpm em repouso) e 303 foram randomizados para a estratégia de controle rigoroso (meta FC < 80 bpm em repouso e < 110 bpm com o exercício moderado). A randomização foi feita por meio de uma central telefônica eletrônica interativa. Durante uma fase de ajuste da dose, os pacientes em ambos os grupos foram acompanhados a cada duas semanas e receberam uma ou mais drogas (i.e., betabloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio e digoxina) para alcançar a FC alvo. No final desta fase, dos 311 envolvidos no controle leniente somente sete não atingiram as metas e no grupo de controle rigoroso dos 307 envolvidos, 100 não atingiram as metas propostas. Para atingir o controle da frequência proposta foram necessárias 75 consultas médicas de acompanhamento no grupo leniente e 684 consultas no grupo de controle rigoroso. A idade média era de 69 ± 8 anos no grupo leniente e de 67 ± 9 anos no grupo rigoroso. As medicações utilizadas por ambos os grupos foram betabloqueadores, verapamil, diltiazem, digoxina, amiodaronae sotalol. No final da fase de ajuste de dose, a média de repouso no grupo controle foi de 93 ± 9 bpm em comparação com 76 ± 12 bpm no grupo controle rigoroso (P < 0,001). O desfecho primário foi composto de morte por causas cardiovasculares, hospitalização por insuficiência cardíaca, acidente vascular Médico de família, doutor em Medicina, diretor científico e membro-fundador da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Médico de família e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). I II Diagn Tratamento. 2010;15(4):179-80. 180 Qual é o melhor controle da frequência cardíaca na fibrilação atrial? cerebral, embolia sistêmica, hemorragia e vida em risco para eventos arrítmicos. Estes desfechos foram avaliados separadamente e em conjunto, como um desfecho único (primário). Em três anos, a incidência do desfecho primário entre os dois grupos não diferiu significativamente, sendo 12,9% no grupo leniente, e 14,9% no grupo de controle rigoroso (risco absoluto de – 2,0; intervalo de confiança, IC 90%: 7,6% a 3,5%; P < 0,001). E um odds ratio de 0,80 (IC 90%, 0,55 a 1,27). No final do estudo, 129 dos 283 pacientes (46%) no grupo de controle leniente e 126 dos 274 pacientes (46%) no grupo de controle rigoroso tiveram sintomas associados com fibrilação atrial: dispneia (30% versus 29,6%; P = 0,9), fadiga (24,4% versus 22,6%; P = 0,63) e palpitação (10,6% versus 9,5%; P = 0,66). Quando avaliados separadamente, todos os desfechos incluídos no desfecho primário também não mostraram diferenças entre os dois grupos. INFORMAÇÕES Tradução e adaptação: Sobramfa (Sociedade Brasileira de Medicina de Família) Rua Sílvia, 56 Bela Vista — São Paulo (SP) CEP 01331-000 Tel. (11) 3253-7251/3285-3126 E-mail: [email protected] http://www.sobramfa.com.br Data de entrada: 23 de agosto de 2010 Data da última modificação: 15 de setembro de 2010 Data de aceitação: 15 de outubro de 2010 Responsável pela edição desta seção: Sobramfa REFERÊNCIA 1. Van Gelder IC, Groenveld HF, Crijns HJ, et al. Lenient versus strict rate control in patients with atrial fibrillation. N Engl J Med. 2010;362(15):1363-73. EDITORES RESPONSÁVEIS POR ESTA SEÇÃO Pablo Gonzáles Blasco. Médico de família, doutor em Medicina, diretor científico e membro-fundador da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Marcelo Rozenfeld Levites. Médico de família e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Diagn Tratamento. 2010;15(4):179-80.