convulsão febril benigna simples

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CONVULSÃO FEBRIL BENIGNA SIMPLES
A convulsão febril (CF) é evento próprio da infância, geralmente ocorrendo entre três
meses e cinco anos de idade, associada à febre, mas sem evidências de infecção intracraniana ou
outra causa definida de desordem convulsiva. São excluídas do conceito as crianças que tiveram
convulsões afebris previamente. Deve ser distinguida de epilepsia, que se caracteriza por crises
afebris recorrentes.
O episódio convulsivo da CF é classificado como simples, quando a crise é generalizada,
com duração inferior a 15 minutos, sem recorrer nas 24 horas e sem apresentar anormalidade pósictal. É complexo, se o episódio for focal, ou durar mais que 15 minutos, ou recorrer em 24 horas.
Serão apresentadas as condutas para a fase aguda, que é tarefa do urgentista, e para a
profilática, que é tarefa do pediatra assistente.
CONDUTA:
SERVIÇO DE SAÚDE - SALA DE EMERGÊNCIA
Paciente chega no curso da crise convulsiva:
Adote todas as providências necessárias para crise convulsiva em curso pois, a essa
altura, não é possível definir se o quadro cederá espontaneamente (convulsão febril), ou com o uso
dos fármacos, ou mesmo se persistirá, apesar do uso dos medicamentos (estado de mal
convulsivo).
 Coloque o cliente na crise ou pós-crise, no ambiente mais preparado do serviço para
atendimento aos mais graves (com oxigênio, aspirador e todos os recursos para manter a vida);
 Mantenha vias aéreas pérveas;
 Estabeleça acesso venoso;
 Prescreva diazepam IV, 0,3-0,5mg/kg. Se for difícil o acesso venoso, faça o diazepam, na
mesma dose, por via retal, usando seringa de insulina, sem diluição;
 Faça midazolam, nos raros casos onde a crise ainda persista, após o diazepam. Dose: 0,2
mg/kg, por via IM, dose máxima de 10 mg;
 Verifique a saturometria e a glicemia (com a fita);
 Faça a família se sentir segura de que as ações cabíveis, numa condição crítica, estão sendo
adotadas;
 Indique oxigenioterapia e esteja pronto para entubar e adotar as medidas para paciente grave e
em risco de apnéia;
 Faça antitérmico – para os que não usaram diazepam, siga a rotina do serviço para o controle
da temperatura; para os que usaram o fármaco, se a febre continuar após 5-10 minutos do uso,
empregue dipirona, via IM, sem diluir, 0,2 mg/kg IM;
 Adote as medidas gerais, a seguir listadas, passada a fase convulsiva:
 Faça semiótica completa sobretudo, procurando definir se existe ou não doença do sistema
nervoso central (meningite?) e informe ao familiar, com palavras apropriadas, qual o resultado
do exame clínico;
 Solicite leucograma, LCR, glicemia e eletrólitos, quando indicados;
 Procure falar com o pediatra assistente para que ele assuma o restante da conduta;
 Dialogue com a família tranqüilamente, sobre o assunto, respondendo às perguntas usuais e
informando que o papel do urgentista é resolver a condição crítica, e que a conduta definitiva
fica a cargo do pediatra assistente e/ou do especialista;
 Dê alta, se assim for indicado pelo pediatra assistente, com orientação para casa.
Paciente chega ao serviço após a crise convulsiva:
Adote a conduta, sempre admitindo que o quadro convulsivo pode recidivar, e que a
convulsão pode fazer parte de quadro grave como meningite ou outra doença potencialmente letal.
SERVIÇO DE SAÚDE – SALA DE EMERGÊNCIA
 Coloque o paciente no ambiente com o máximo de recursos disponíveis;
 Adote todas as medidas gerais citadas para o paciente que chegou ainda convulsionando.
SERVIÇO DE SAÚDE – INTERNAÇÃO EM UNIDADE SEM UTI
 Mantenha em regime de hospitalização, para observação, no mínimo de 12 horas, se a família
estiver extremamente ansiosa com o ocorrido e/ou se houver alguma dúvida sobre a causa e
sobre a possibilidade de envolvimento neurológico;
 Faça o controle clínico que julgar oportuno, enquanto o paciente permanecer em regime de
hospitalização;
 Indique profilaxia com diazepam para os que permanecerem hospitalizados ou para os que
receberem prescrição para casa, se uma das duas condições abaixo listadas ocorrer:
a) há fatores de risco: primeira crise antes dos 15 meses de vida; antecedentes familiares de
convulsão febril (pais e irmãos); epilepsia em parentes próximos; convulsão febril complexa ou
complicada (crises que duram > de 15 minutos; que se repetem nas primeiras 24 h da febre;
crise parcial; freqüência elevada de episódios febris);
b) após o terceiro episódio convulsivo.
O diazepam pode ser feito por VO (0,3-0,5 mg/kg/dose, de 12/12 horas) ou retal (0,3 a 0,5
mg/kg/dose, a cada 8h) nas primeiras 24 horas do quadro febril. A partir daí, prescreva a cada 12
horas.
O clobazan 0,5 a 1,0 mg/kg/dose, de 12/12 horas (máximo 20 mg/dia), pode ser usado
como alternativa ao diazepam.
 Mantenha o tratamento profilático; deve ser mantido no máximo até o segundo ou terceiro dia
de febre;
 Libere para casa quando a criança estiver bem, sem risco de infecção neurológica ou de outra
doença importante, com diagnóstico de certeza de convulsão febril, quando a família estiver
tranqüila ou quando o pediatra assistente indicar alta.
DOMICÍLIO
 Instrua detalhadamente sobre o controle da febre e recomende o uso do antifebril, quando a
temperatura estiver entre 37,50C e 37,80C, e sobre a importância de atitude tranqüila e de se
evitar o excesso de drogas;
 Prescreva tratamento profilático para os casos acima enumerados, usando o esquema também
já referido;
 Oriente cuidadosamente sobre os possíveis cursos da doença febril e sobre as medidas
necessárias;
 Encaminhe, após o período de permanência hospitalar ou após o atendimento na emergência
sem internação, ao pediatra assistente para conduta posterior;
 Não é tarefa do urgentista abordagem nem decisão sobre esta orientação;
 Prescreva medicação profilática nas situações antes citadas, quando não for possível contato
com pediatra assistente.
EXPERIÊNCIA DOS MAIS VIVIDOS
A convulsão febril é urgência médica das mais complexas. O familiar, com razão, pensa
que o filho está morrendo. O serviço, o pediatra urgentista e a enfermagem devem ter plano de
ação pronto para a importância do quadro e para transmitir confiança. O tratamento intempestivo e
desprogramado é prejudicial.
Metade dos pacientes que apresentou a primeira crise pode recorrer nos próximos seis
meses. Este dado deve ser passado, para que o familiar aceite a conduta com mais tranqüilidade.
Converse também com os familiares, que sempre mostram preocupação sobre o assunto, que a
medicina definitivamente sabe que a convulsão febril benigna simples não produz seqüelas.
Informe que, a partir de agora, é melhor agir contra a febre, quando a temperatura estiver
entre 37,50C e 37,80C. Que até os cinco anos, quando desaparece o risco do reaparecimento do
quadro, é sempre bom ter plano de ação pronto para agir. Por exemplo, que a “babá” esteja
sempre habilitada a pegar um táxi e rapidamente ir com a criança para o primeiro serviço de
urgência. Que devem ser evitadas manobras em casa (puxar a língua e coisas desse tipo), que
fazem perder tempo precioso.
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