UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA ANATOMIA FOLIAR E VALOR NUTRITIVO DE POINCIANELLA PYRAMIDALIS (TUL.) L. P. QUEIROZ EM DIFERENTES FASES FENOLÓGICAS ANDREZZA ARAÚJO DE FRANÇA Zootecnista AREIA-PB JULHO - 2012 ANDREZZA ARAÚJO DE FRANÇA ANATOMIA FOLIAR E VALOR NUTRITIVO DE POINCIANELLA PYRAMIDALIS (TUL.) L. P. QUEIROZ EM DIFERENTES FASES FENOLÓGICAS Tese apresentada ao Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia, da Universidade Federal da Paraíba do qual participam a Universidade Federal Rural de Pernambuco, e Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Doutora em Zootecnia. Área de Concentração: Forragicultura Comitê de Orientação: Professor Dr. Divan Soares da Silva – Orientador Principal Professor Dr. Alberício Pereira de Andrade – Co-orientador Professor Dr. José Carlos Batista Dubeux Jr – Co-orientador AREIA-PB JULHO-2012 Ficha Catalográfica Elaborada na Seção de Processos Técnicos da Biblioteca Setorial do CCA, UFPB, Campus II, Areia – PB. F814a França, Andrezza Araújo de. Anatomia foliar e valor nutritivo de Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz. / Andrezza Araújo de França. - Areia: UFPB/CCA, 2012. 80 f. : il. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Centro de Ciências Agrárias. Universidade Federal da Paraíba, Areia, 2012. Bibliografia. Orientador: Divan Soares da Silva. 1. Forragicultura 2. Planta nativa – semiárido 3. Caatinga – Poincianella pyramidalis 4. Poincianella pyramidalis I. Silva, Divan Soares da (Orientador) II.Título. UFPB/CCA CDU: 633.2(043.2) ii ANDREZZA ARAÚJO DE FRANÇA ANATOMIA FOLIAR E VALOR NUTRITIVO DE POINCIANELLA PYRAMIDALIS (TUL.) L. P. QUEIROZ EM DIFERENTES FASES FENOLÓGICAS Tese defendida e aprovada pela Comissão Examinadora em 30 de Julho de 2012 Comissão Examinadora: ________________________________________ Professor Dr. Divan Soares da Silva Presidente Universidade Federal da Paraíba/DZ/CCA – Campus II ________________________________________ Professor Drª. Geane Dias Gonçalves Ferreira Examinadora Universidade Federal Rural de Pernambuco/DZ/UAG – Garanhuns-PE ________________________________________ Professor Drª. Juliana Espada Lichston Examinadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte/CB – Natal-RN __________________________________________ Professor Dr. Josean Fechine Tavares Examinador Universidade Federal da Paraíba/DCF – Campus I ___________________________________________ Professor Dra Mércia Virgínia Ferreira dos Santos Examinadora Universidade Federal Rural de Pernambuco/DZ – Recife-PE AREIA-PB JULHO-2012 iii DADOS CURRICULARES DO AUTOR Andrezza Araújo de França – nasceu em Natal/ RN, aos 14 dias de julho de 1979, filha de Sérgio Luiz de França e Maria das Neves Araújo de França. Cursou Zootecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN, no período de 2000 a 2005; ano em que ingressou no curso de Mestrado em Zootecnia, pelo Programa de PósGraduação em Zootecnia da Universidade Federal de Pernambuco-UFRPE, defendendo dissertação, na área de Produção Animal, em fevereiro de 2007; durante este ano, participou de atividades educacionais no Serviço Nacional de Aprendizagem RuralSENAR/RN. Em 2008 lecionou como professora substituta, as disciplinas Zootecnia Geral, Animais de Médio e Grande Porte e Suinocultura, na Escola Agrícola Federal de Vitória de Santo Antão/PE. Em outubro deste mesmo ano, ingressou no curso de Doutorado em Zootecnia do Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia pela Universidade Federal da Paraíba-UFPB, concentrando os estudos na área de Forragicultura, submetendo-se a defesa de tese em julho de 2012. iv “... não há limites para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne; no entanto, tudo quanto vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças... ...Pois não há coisa melhor do que alegrar-se o homem nas suas obras, visto que esta é a sua recompensa, assim, alegra-te, teme a Deus e guarde os seus mandamentos, pois isto é o dever de todo homem” Salomão, 935 a.C “Oh profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos! Quem, pois conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Quem primeiro deu a Ele e depois recebeu? Porque Dele, e por meio Dele, e para Ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente, Amém!” Paulo, 57-58 d.C v Dois se fazem Um amam-se, geram e amam sua Cria que um dia se irá... amam, educam, sofrem, alegram-se, choram, amam. E embora ela vá, continuam a proteger, cuidar, segurar, amar. E os dois continuam a se amar, pois em amor Àquele que os uniu, estarão sempre a lhe amar... À Sérgio e Neves Dedico vi AGRADECIMENTOS “Àquele que atrai para si as gotas de água que de seu vapor destilam em chuva, a qual as nuvens derramam e gotejam sobre o homem abundantemente” Ao Povo brasileiro, pelos impostos pagos. Ao Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq pela concessão de bolsa. Às instituições públicas de ensino e pesquisa, em especial à Universidade Federal da Paraíba. Ao Professor Divan Soares da Silva, pela orientação e ensinamentos, por sua confiança e liberalidade, por permitir o desenvolvimento desta pesquisa e o alcance de encontros e descobertas. Aos Professores co-orientadores Alberício Pereira de Andrade José Carlos Batista Dubeux Junior, pelos ensinamentos e incentivos à percepção de novos conhecimentos. Ao Professor Edson Mauro, à Jacilene Castro e colegas da área de forragicultura: Daniele Guedes, Jussara Telma, Francinilda, Luiza Daiana, Ariane, Dinara, Ana Paula, Leonardo e Henrique, pela convivência e contribuições acadêmicas. Ao Professor Severino Gonzaga e demais professores da Pós-Graduação por todas as contribuições durante a realização do curso de doutorado. À Graça Medeiros, por seus serviços como secretária do Programa de PósGraduação em Zootecnia. Ao Professor Ariosvaldo Medeiros, pela pronta atenção e contribuição às atividades desta pesquisa no laboratório de nutrição animal. Aos Professores Paulo Sérgio e Patrícia Givisiez, aos colegas Alexandre, Fátima e Geovânia, pelo apoio e uso de equipamentos no laboratório de produtos de origem animal. À Professora Riselane de Lucena, pelos incentivos e à Camila Azevedo e Givanildo pela ajuda inicial com os cortes anatômicos. Aos Professores Lenny Neves, Américo Perazzo, Luciana Cordeiro e Manoel Bandeira, pelas colaborações acadêmicas. vii Ao Professor Leonardo Félix, pelas contribuições em seu laboratório e durante a qualificação de doutorado. À Dona Carmem, aos funcionários da Biblioteca Central em Areia, ao Sr. Saulo e à Srª. Francisca, funcionários do Departamento de Botânica, por sempre bem receberem. Ao Sr. José Moraes coordenador da Estação Experimental em São João do Cariri e ao Sr. Alessandro, pelas contribuições durante as avaliações de campo. Ao Professor Josean Fechine Tavares, pela solicitude em contribuir com as análises de compostos secundários no Laboratório de Tecnologia Farmacêutica de UFPB, e ainda por sua avaliação e contribuições durante a defesa da tese. Ao Sr. Nonato, técnico do LTF, por sua atenção e contribuições com as análises. Aos Professores da UFRPE: Adriana Guim, Ângela Maria, Marcelo Ferreira e Rejane Pimentel, por todo incentivo sempre prestado. À Professora Mércia Virgínia dos Santos, por sua avaliação e contribuições durante a qualificação e defesa de tese. À Professora Geane Dias Gonçalves Ferreira, por sua importante contribuição e incentivo à continuidade do estudo anatômico de forrageiras, e pela participação na e contribuições na avaliação da defesa de tese. Ao Professor Egídio Bezerra Neto, pela realização de análises no laboratório de química agrícola da UFRPE. À Professora Juliana Espada Lichston, do Centro de Biociências da UFRN, por sua atenção e prontidão inicial em resposta a questões, contato este que se tornou ainda mais valioso, por sua participação durante a qualificação e defesa de tese. Ao Professor Djalma da Silva e à Artejose Revoredo, responsável técnico do Núcleo de Estudos em Petróleo e Gás Natural/UFRN, pela realização das eletromicrografias de varredura. Aos professores de Zootecnia da UFRN, que muito contribuíram através de seus ensinos: Henrique Medeiros, Luiz Henrique, Nésio de Barros, Dinarte Aeda e Magna Guilhermino. À Professora Márcia Rita F. Machado e ao colega Leandro Martins da Universidade Estadual Paulista, em Jaboticabal e à Mateus Avilé, pela atenção e grande contribuição na obtenção e mensuração das imagens de microscopia ótica. viii À Kelen Bastos e André Leonardo, pelo importante apoio durante os trabalhos realizados naquela instituição. Aos Professores, de diversas instituições, com os quais, a momentânea convivência, contribuiu para construção de valiosos conhecimentos: Ana Cláudia Rugiere, Beatriz Lempp, Cacilda do Valle, Celso Carrer, Elizanilda Ramalho, Jacob Souto, José Moraes, Jim Muir, Magno Cândido, Odilon Pereira, Ricardo Reis e Walter Pereira. Aos professores dos tempos de outrora, cujos ensinamentos também foram base para a conclusão deste trabalho: Ana Lúcia, Ilza Medeiros, Conceição Lemos, “Cidinha”, “Bila”, Verônica, Ferdinando, Rejane, Áurea, Valdete, Vilelme, Alexandre Viana e Karina Praxedes. Àqueles que, mesmo sem saber, ensinaram e sustentaram a realização desta etapa que se conclui: Sérgio Luiz e Neves de França, Euraci de Araújo e Andréia Araújo de França, pelo amor, cuidado e proteção. À Ana Maria Duarte Cabral, verdadeiramente “há amigo mais chegado que um irmão”. À Lígia Maria Barreto e Jone Pereira, Rinaldo Souto Maior Jr e Regina, pelos momentos em família, por todos os exemplos, pela convivência e amizade sincera. À Aldivan Rodrigues, Alenice Ramos, Anaiane Pereira, Aurinês Borges, Caroline Cavalcanti, Cláudio Junior, Darklê Luiza, Luana Paula, Manuela Tosto, Romildo, pela ótima convivência e ajudas acadêmicas, pela companhia, risadas e alegria de viver de cada um. À Vanessa Santos e Adda, por espontaneamente distribuírem amizade. À Ângela Gracindo e Genildo Pereira, Andrea Guimarães, Flávia Alessandra, Kedes Pereira, Marcelo Ferreira, Tibéria Vanessa e Wellington Samay, por terem feito parte. Àqueles amigos e familiares de longe e de perto, aos de antes e de agora, aos de sempre. A todas as pessoas importantes para o que hoje há; para o que amanhã será! ix SUMÁRIO Lista de Tabelas.................................................................................................... Lista de Figuras.................................................................................................... Resumo Geral....................................................................................................... Abstract................................................................................................................. Página ix x xii xiv Considerações Iniciais........................................................................................ 1 Capítulo 1- Referencial Teórico - Referencial Teórico - Anatomia Foliar e Valor Nutritivo de Poincianella pyramidalis (tul.) L. P. Queiroz em Diferentes Fases Fenológicas ................................................................................................ Componentes da Caatinga................................................................................. Fatores qualitativos das plantas forrageiras....................................................... Importância do estudo anatômico na avaliação de plantas forrageiras............. Catingueira - Poincianella pyramidalis............................................................. Referências Bibliográficas................................................................................. 3 6 7 10 12 15 Capítulo 2 - Padrão Histo-Anatômico e Degradabilidade dos Tecidos de Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz em Diferentes Fases fenológicas............................................................................................................. Resumo............................................................................................................... Abstract.............................................................................................................. Introdução.......................................................................................................... Material e Métodos............................................................................................ Resultados e Discussão...................................................................................... Conclusões......................................................................................................... 20 21 22 23 25 30 40 Referências Bibliográficas................................................................................. 41 Capítulo 3 - Composição Química e Degradabilidade de Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz em Diferentes Fases fenológicas...................... Resumo.............................................................................................................. Abstract.............................................................................................................. Introdução.......................................................................................................... Material e Métodos............................................................................................ Resultados e Discussão...................................................................................... Conclusões......................................................................................................... Referências Bibliográficas................................................................................. Considerações Finais........................................................................................... 44 45 46 47 49 52 59 60 64 x LISTA DE TABELAS Capítulo 2 - Padrão Histo-Anatômico e Degradabilidade dos Tecidos de Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz em Diferentes Fases fenológicas Página Tabela 1. Características dos períodos de coleta de folíolos e pecíolos de Poincianella pyramidalis em São João do Cariri-PB......................... Tabela 2. Proporção média dos tecidos de folíolos e pecíolos de Poincianella pyramidalis em diferentes fenofases.................................................. Tabela 3. Correlação entre a proporção média dos tecidos do folíolo e os totais de precipitação em milímetros......................................................................... 28 30 34 Capítulo 3 - Composição Química e Degradabilidade de Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz Diferentes Fases fenológicas Página Tabela 1. Porcentagem de nutrientes, taninos e degradabilidade in situ de MS e FDN de Poincianella pyramidalis em diferentes fenofases............ Tabela 2. Presença ou ausência de compostos secundários em Poincianella pyramidalis......................................................................................... 53 55 LISTA DE FIGURAS Capítulo 2 - Padrão Histo-Anatômico e Degradabilidade dos Tecidos de Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz em Diferentes Fases fenológicas Página Figura 1. Figura 2. Figura 3. Totais diários de precipitação de chuva (mm), temperatura (ºC) e umidade relativa do ar - URA (%), ocorridas na estação experimental de São João do Cariri-PB, no período de janeiro a agosto de 2010.................................................................................. Vista geral de Poincianella pyramidalis nas fenofases: A. Vegetativa inicial; B. Vegetativa plena; C. Floração; D. Frutificação; E. Senescência foliar e F. Detalhe da folha marcada. Distribuição diária de precipitação (mm) e número de plantas de Poincianella pyramidalis apresentando emissão foliar (EmFol), 25 26 27 xi Figura 4. Figura 5. Figura 6. Figura 7. Figura 8. Figura 9. botões florais (BtFlor), flores (Flor), frutos (Frut) e senescência foliar (SenFol) Folíolo e pecíolo de Poincianella pyramidalis após 48h de incubação ruminal. A-B. Aspecto dos fragmentos de folíolos e pecíolos logo após retirada do rúmen indicando barreira física (setas); C,D. Eletromicrografias de varredura da superfície externa dos fragmentos folíolo (C) e pecíolo (D). Vistas transversais e paradérmicas de folíolos de P. pyramidalis. A. Região da nervura central. B. Estômato e câmera estomática na epiderme abaxial (seta). C. Detalhe da camada de cutícula sobre epiderme abaxial. D. Epiderme abaxial indicando tricomas tectores (seta). E. Camada de cera epicuticular em forma de cristais. F. Tricoma peduncular. Vistas transversais e paradérmicas de folíolos e pecíolos de P. pyramidalis. A,B. Tricomas tectores (setas). C,D. Tricoma peduncular (setas). E,F. Tricoma peduncular rompido (setas). Vistas transversais de folíolos e pecíolos de P. pyramidalis. A. Bainha do feixe vascular, células lignificadas (seta). B. Ducto secretor no limbo foliar (seta) e cristais ao redor das fibras (setas tracejadas). C. Ductos secretores no pecíolo. D. Parênquima medular do pecíolo com grânulos de amido (seta) Histoquímica com Iodo para identificação de amido em folíolos e pecíolos de Poincianella pyramidalis em diferentes fenofases. A. Fase vegetativa inicial; B. Fase vegetativa plena; C. Floração; D. Frutificação; E. Senescência foliar. (negro=amido). Vistas transversais de folíolos e pecíolos de Poincianella pyramidalis. A. Sistema vascular central detalhe da espessura das células de esclerênquima e dos cristais entorno destas (setas). B. Detalhe dos vasos de xilema e cristais em torno de fibras de esclerênquima no pecíolo (setas) 31 32 33 35 37 38 Capítulo 3 - Composição Química e Degradabilidade de Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz em Diferentes Fases fenológicas Página Figura 1. Figura 2. Figura 3. Figura 4. Totais diários de precipitação de chuva (mm), temperatura (ºC) e umidade relativa do ar - URA (%), ocorridas na estação experimental de São João do Cariri-PB, no período de janeiro a agosto de 2010.................................................................................. Vista geral e detalhe das folhas de Poincianella pyramidalis....................................................................................... RMN 1H espectro de Poincianella pyramidalis [200 MHz, CD3OD]............................................................................................ - RMN 13C espectro de Poincianella pyramidalis [50 MHz, CD3OD]............................................................................................ 48 48 57 58 xii ANATOMIA FOLIAR E VALOR NUTRITIVO DE POINCIANELLA PYRAMIDALIS (TUL.) L. P. QUEIROZ EM DIFERENTES FASES FENOLÓGICAS RESUMO GERAL As características anatômicas e nutritivas das plantas forrageiras da caatinga, bioma exclusivo do semiárido brasileiro, estão em função das condições climáticas próprias deste ambiente, o qual pode influenciar a maturidade vegetal e relacionar-se a aspectos de seu aproveitamento pelos microrganismos ruminais, portanto, objetivou-se com este estudo foi descrever o padrão anatômico de folíolos e pecíolos de Catingueira (Poincianella pyramidalis), estudar os efeitos da degradação ruminal in situ e in vitro em seus tecidos e avaliar a bromatologia e degradabilidade de catingueira, em diferentes fases fenológicas. Os períodos foram distintos por cinco fenofases: vegetativa inicial e plena, floração, frutificação e senescência e os seguintes quantitativos de chuva: 126,5; 46,7; 75,4; 156,7; 19,4 mm, respectivamente. A avaliação anatômica antes e após a degradação ruminal foi realizada por meio de microscopia ótica e eletrônica. A partir de seções transversais foram realizadas mensurações, em µm², das áreas ocupadas pelos tecidos da epiderme, mesofilo e sistema vascular, as quais foram expressas em percentual. A composição bromatológica e a degradabilidade de matéria seca (MS) e fibra em detergente neutro (FDN) foi obtida a partir de amostras composta por folhas e ramos com até 0,5 cm de diâmetro. Foi realizada detecção da presença de compostos secundários e determinação do teor de taninos. Através da estrutura anatômica observou-se diferentes aspectos anatômicos e fisiológicos: 1. Presença de grãos de amido, nos folíolos, em quantidade visualmente diferenciada; 2. Fenômeno de rompimento em tricomas pedunculados, somente na senescência foliar; 3. Diferenças estatísticas e correlação positiva à precipitação hídrica das proporções de parênquima medular da nervura central dos folíolos; 4. A formação de uma barreira física nos fragmentos foliares restringiu a degradação dos tecidos, o que pode estar relacionado às respostas de defesa vegetal. Observou-se correlação negativa do percentual de MS com o total de precipitação hídrica de cada período, enquanto os teores de proteína bruta, matéria mineral e fibra em detergente neutro variaram de acordo com o avanço das xiii fenofases. Ao longo de todo o período fenológico, a degradabilidade dos componentes da parede celular foi afetada pelo alto teor de taninos e lignina, a presença destes compostos fenólicos foi elevada e deve ser considerada quanto aos seus potenciais anti nutricionais. Fragmentos foliares de até 1cm² apresentam limitações à degradação pelos microrganismos ruminais, contudo a composição química e os valores degradabilidade in situ de Catingueira, indicam potencialidades forrageiras desta espécie nativa, no entanto, pesquisas devem ser desenvolvidas visando avaliar a resposta de variadas formas de fornecimento aos animais, de modo a se promover a utilização dos recursos naturais do semiárido. Palavras-chave: compostos fenólicos; planta nativa; parede celular; semiárido xiv LEAF ANATOMY AND NUTRITIONAL VALUE OF POINCIANELLA PYRAMIDALIS (Tul.) L. P. QUEIROZ IN DIFFERENT PHENOLOGICAL PHASES ABSTRACT The characteristics of the fodder plants from the Caatinga, biome exclusive of the Brazilian semiarid are according to the climatic conditions of this environment, which can influence the vegetal maturity and aspects of utilization by rumen microorganisms. So aim of this study was to describe the anatomical pattern of folioles and petioles Catingueira (Poincianella pyramidalis), studying the effects of in situ ruminal degradation and in vitro in their tissues and evaluate the nutritional quality in terms of bromatology and degradability in different phenological phases of plants. characterized by different rainfall amount and phenological phases, respectively: initial vegetative, full vegetative, flowering, fructification, and senescence and 126,5; 46,7; 75,4; 156,7; 19,4 mm respectively. The anatomical measurement before and after ruminal degradation was performed using images obtained by scanning optical microscopy. The occupied area was measured, in µm2, by epidermal tissues; mesophyll; medullar parenchyma; vascular tissues; whose percentages of proportion were analyzed according to the variety between the seasons. The chemical composition was determined, the tannins content, and the degradability in situ of dry matter and fiber in neutral detergent for 48 hours, obtained from samples consisting of leaves and thin branches up to 0.5 cm in diameter. Through anatomical structure observed different anatomical and physiological aspects: 1. Presence of starch grains, in folioles, visually differentiated in quantity 2. Phenomenon of disruption in trichomes stalked, only leaf senescence; 3 Statistical differences and positive correlation with precipitation water in the proportion of pith parenchyma of the midrib of the folioles; 4. The formation of a physical barrier in the fragments of leaves restricted tissue breakdown, which may be related to plant defense responses. As for nutrition, correlation was observed in the percentage of DM with total precipitation water of each period, while the crude protein, mineral matter and neutral detergent fiber vary according to the progress of their phenophases. Throughout the phenological period, the degradation of cell wall components was affected by the high content of tannins and lignin. Keywords: cell wall, compounds phenolic, native plant, semiarid 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A pesquisa e a utilização racional dos recursos naturais da Caatinga são extremamente necessárias para que se mantenham a diversidade e a sustentabilidade do ecossistema, das quais depende a sobrevivência de diversas populações habitantes do semiárido brasileiro. As características climáticas do semiárido determinam todos os aspectos de sua vegetação e fauna, e de forma integrada os componentes da pastagem nativa da caatinga (planta – solo – animal – clima) interferem entre si, proporcionando diferentes respostas à produção animal. A água, em vista de sua função nos diversos processos biológicos, é o componente climático mais definitivo das relações ocorridas no ambiente semiárido, principalmente, por distribuir-se em baixos níveis de precipitação, cuja frequência é bastante irregular dentro de um ano. A Catingueira é uma espécie nativa da Caatinga, cuja abundância na composição botânica da pastagem e a participação na dieta de pequenos ruminantes do semiárido têm sido apontadas por diversos estudos. Sua participação na alimentação de pequenos ruminantes dá-se especificamente, quando esta planta encontra-se me fase de senescência, tendo em vista o alto teor de taninos nas fases vegetativas, e por isso é um importante recurso para o período seco. As características climáticas influenciam o tempo de maturidade da forrageira e, portanto, suas características qualitativas, as quais determinam o aproveitamento do potencial nutricional das forrageiras, em vista do espessamento e lignificação das paredes celulares dos tecidos vegetais, como também em face da mobilização de nutrientes ao longo do tempo. De acordo com cada tipo de tecido, os microrganismos presentes no sistema digestivo dos ruminantes, após acessarem o interior das partículas de forragem, previamente mastigadas, degradam com maior ou menor velocidade as paredes celulares, aproveitando os nutrientes em diferentes gradientes. Portanto, o estudo anatômico sobre o arranjo e proporção dos tecidos de plantas forrageiras é uma importante ferramenta na avaliação da qualidade de forragens, o qual, através de ensaios da degradação de tecidos, promove conhecimentos específicos sobre os agentes promotores do aproveitamento da forragem em nível ruminal. Adicionalmente, permite inferências sobre as relações anatômicas com o teor de nutrientes e fatores anti-qualitativos das plantas forrageiras. 2 Deste modo, a fim de conhecer características nutritivas de Poincianella pyramidalis ao longo de seu ciclo fenológico foi desenvolvida esta pesquisa a qual se apresenta em três capítulos: 1 – Referencial Teórico; 2 – Padrão histo-anatômico e degradabilidade dos tecidos de catingueira Poincianella pyramidalis em diferentes fases fenológicas e 3 - Bromatologia e degradabilidade de Catingueira (Poincianella pyramidalis) em diferentes fases fenológicas. 3 CAPÍTULO I Referencial Teórico Anatomia foliar e valor nutritivo de Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz em diferentes fases fenológicas 4 REFERENCIAL TEÓRICO No nordeste brasileiro, a pastagem nativa da região semiárida, denominada Caatinga, é influenciada pelos componentes edafoclimáticos próprios deste ambiente; as atividades fisiológicas das plantas como produção de biomassa, fixação de carbono e ciclo fenológico tem seu início e duração em resposta aos pulsos de precipitação (Noy Meir, 1973; Huxman et al., 2004; Karnieli, 2003). Além disto, os tipos funcionais da composição botânica da pastagem apresentam diferentes respostas aos componentes climáticos e, portanto, proporcionam diferentes respostas de produção animal (Karnieli, 2003). A caatinga apresenta grande diversidade botânica e embora apresente diversos níveis de degradação, sua riqueza e potencialidades são utilizadas por diversas cadeias de produção (Sampaio, 2010). Como substrato para pecuária de pequenos ruminantes sustenta-se nela, a maior parte do efetivo nacional de caprinos e ovinos, de 90,6 e 56,9%, respectivamente, (IBGE, 2009), cujas cadeias produtivas ainda apresentam baixos índices. Estes índices reforçam a importante necessidade de se investigar mais profundamente as potencialidades nutricionais das forrageiras nativas da caatinga, região, cuja disponibilidade territorial deve ser adequadamente aproveitada para o plantio de forrageiras nativas potencialmente nutritivas, viabilizando uma maior oferta de alimentos (Costa et al., 2008). Estas plantas têm sido avaliadas recentemente (Sampaio, 2010; Santos et al., 2010), contudo, são necessários conhecimentos que possibilitem alternativas de utilização e aumento da disponibilidade botânica das pastagens, de acordo com as condições ambientais em que se encontram. Desta forma, a investigação sobre os atributos de qualidade nutricional das diversas espécies de plantas forrageiras da caatinga tem no estudo histo-anatômico uma importante ferramenta para determinações sobre seu aproveitamento pelos pequenos ruminantes. E o conhecimento a respeito das influências entre os componentes do ecossistema proporcionará ferramentas para uma adequada utilização podendo ainda, contribuir e instigar, não apenas a comunidade científica, mas instituições governamentais e não governamentais, ao lançamento de estratégias para utilização 5 sustentável destas espécies vegetais e como também a conservação e preservação do ecossistema de pastagem como um todo, atualmente em progressivo processo de degradação (Dias-Filho, 2011), inserindo assim, as atividades de pesquisa e produção científica no contexto da sustentabilidade (Barbosa, 2006; Leff, 2000). Os potenciais qualitativos das plantas forrageiras estão diretamente relacionados ao conjunto de interelações ocorridas dentro da própria estrutura do vegetal submetidas à influência das diversas variáveis do ecossistema de pastagens, como também ao próprio ciclo de vida do vegetal (maturidade). As células, ligadas entre si pela lamela média - a qual funciona como um cimento entre as paredes celulares - formam os mais variados tipos de tecidos, que podem desenvolver apenas uma parede celular, ou ainda a parede celular secundária, a qual pode possuir até três camadas. Além de diversas funções biológicas, como a proteção do conteúdo celular, a associação da celulose com lignina na parede celular, faz com que esta seja definida como uma estrutura complexa e variável que promove sustentação e defesa aos diferentes tipos de espécies vegetais (Leningher, 2002; Taiz e Zeiger, 2009; Wilson, 1993). Contudo, a energia contida nas células vegetais é eficientemente obtida pelos ruminantes, estes animais possuem microrganismos ruminais capazes de quebrar a parede celular e promover energia para manutenção e produção animal. De acordo com Wilson e Mertens (1995), o modo como a parede celular é atacada pelas bactérias ruminais acontece a partir da superfície interior (lúmen) das células, visto que a lamela média da parede primária é consistentemente indigestível. Os tecidos da planta estão organizados conforme a função que exercem no interior dos diferentes órgãos; apresentam diferentes potenciais de digestão, em virtude da espessura, quantidade de camadas e lignificação de suas paredes celulares. Segundo Wilson (1993), a anatomia da planta influencia diretamente sua ingestão pelo animal, através da facilitação na quebra de suas partículas e a natureza destas partículas, que consequentemente refletem na sua taxa de passagem pelo rúmen, determinando uma maior ou menor digestibilidade. 6 Caracterização da caatinga A Caatinga ocupa uma área de 844.453 km² do nordeste brasileiro (BRASIL, 2011), em um ambiente de clima semiárido, determinado por condições singulares quanto à quantidade e distribuição da precipitação pluviométrica; de acordo com NoyMeir (1973) existem três atributos correlacionados que caracterizam este ambiente: a) a baixa precipitação torna a água um fator dominante, que controla todos os processos biológicos; b) a precipitação é altamente variável durante o ano e ocorre em discretos eventos; c) a alta variabilidade da precipitação é um componente casualizado (imprevisível); Em geral, de acordo com a localidade, as precipitações médias anuais são em torno de 300 a 1000 mm de chuva (Sampaio, 2010), distribuídas em pulsos e interpulsos de precipitação (Noy-Meier, 1973; Andrade et al., 2006). Adicionalmente, as médias anuais do potencial de evapotranspiração são entre 1500-2000 mm e de temperatura entre 25-30 ºC; há alta incidência solar, e em geral os solos sobre o embasamento cristalino podem ser rasos, argilosos e pedregosos, com rochas afloradas na forma de lajedos. Estes solos são classificados como litossolos, regossolos e brunos não-cálcicos. Os localizados sobre superfícies sedimentares são profundos e arenosos, geralmente classificados como latossolos, podzólicos e areias quartzosas (Sampaio, 2010). Em conjunto, estes fatores promovem uma grande diversidade de tipos de vegetação, cujas características adaptativas conferem às plantas a qualidade de xerófitas (Fahn e Cutler, 1992). Esta diversidade está em função de grandes extensões geomorfológicas e à variação na intensidade do déficit hídrico, topografia e condições físicas e químicas do solo locais, as quais são determinantes também na ocorrência dos eventos fenológicos. Como exemplo, Queiroz (2009) cita que os ritmos fenológicos da vegetação ocorrida nas áreas sedimentares, não apresentam a sazonalidade marcante apresentada pelas áreas situadas sobre o cristalino. As espécies vegetais da Caatinga são, em sua maioria, caducifólias, característica que justifica o nome indígena dado a esta vegetação, visto perderem suas folhas no período seco. Além disto, apresentam acúleos e espinhos, algumas são suculentas (como as cactáceas) e há predominância de arbustos e árvores de pequeno porte, e em geral, as herbáceas são anuais. 7 De acordo com Sampaio (2010) as principais famílias encontradas na caatinga conforme o número de espécies são: Leguminosae, Convolvulaceae, Euphorbiaceae, Malpighiaceae, Poaceae e Cactaceae. Sendo importantes nas áreas de transição entre mata e cerrado, as famílias: Rubiaceae, Cyperaceae, Melastomataceae, Myrtaceae. Dentre todas estas espécies, muitas são palatáveis e têm qualidades nutricionais que as potencializam como forrageiras, e enquanto pastagem nativa, a composição botânica da caatinga pode fornecer, de acordo com a localidade e época do ano, além da combinação de animais em pastejo, variações entre as proporções de gramíneas, leguminosas e outras eudicotiledôneas herbáceas e lenhosas (Santos et al., 2008). Evidentemente, caprinos e ovinos aproveitam melhor do que bovinos a diversidade e disponibilidade forrageira neste tipo de pastagem nativa, no entanto, há uma carência por estudos que visem o estabelecimento de taxas de lotação de acordo com os mais variados ambientes, uma vez que dado o hábito de pastejo e seletividade destas espécies animais, a composição botânica poderá ser alterada, conforme relatado por Pereira Filho et al. (1997). Somadas, as características adaptativas das plantas da caatinga e a alta taxa de exploração das pastagens, podem interferir no aproveitamento das plantas forrageiras pelos animais, em termos qualitativos e principalmente quantitativos. Fatores qualitativos das plantas forrageiras A qualidade das plantas forrageiras pode ser descrita pelo nível com que ela atende a demanda nutricional do animal, e depende do seu valor nutritivo, do consumo e do potencial animal (Allen et al. 2011). A qualidade das plantas forrageiras da caatinga está diretamente relacionada às suas características xeromórficas, as quais proporcionam sua adaptação ao clima semiárido, portanto, a disponibilidade hídrica é um fator preponderante nos atributos qualitativos destas espécies forrageiras. Para adaptar-se às variações de déficit hídrico, estas plantas desenvolvem fatores de adaptação em sua anatomia interna e morfologia externa, a fim de reduzir a perda de água; contudo, estes fatores caracterizam a facilidade de quebra da forrageira em menores partículas pelos ruminantes, as quais, de acordo com sua natureza podem apresentar maior ou menor degradabilidade ruminal influenciando a taxa de passagem e, 8 portanto, o consumo. Além disto, os tecidos da planta estão organizados conforme as funções que exercem no interior dos diferentes órgãos da planta e por isso, apresentam diferentes potenciais de digestão (Wilson, 1993). Uma série de modificações histo-anatômicas podem ser desenvolvidas pelas plantas, caracterizando-as como xerófitas, dentre elas, destacam-se a produção de mais de uma camada de epiderme foliar em uma ou ambas as faces, menor tamanho de células, cutícula espessa (alta deposição de cera), poucos espaços intercelulares, maior proporção de tecidos mecânicos, fibras gelatinosas, várias camadas de tecido paliçádico, criptas estomatais, lignificação celular, acúmulo de corpos de sílica. E ainda, estas plantas podem ter a área foliar reduzida, ou, folhas compostas por pequenos folíolos, folhas coriáceas, além de grande quantidade de acúleos e espinhos (Fanh e Cutter, 1992, Dickson, 2000). Como estratégia de adaptação e defesa, as plantas xerófitas desenvolvem uma série de compostos secundários, alguns, se destacam como antiqualitativos de acordo com a quantidade presente na planta forrageira, pois reduzem a palatabilidade das plantas ou provocam efeitos tóxicos aos animais, suas principais classes são: compostos fenólicos (lignina, taninos, flavonóides); terpenos (saponinas) e compostos nitrogenados (alcalóides, glicosídeos cianogênicos). De acordo com Pereira Filho e Bakke (2010), os taninos são os compostos mais relatados para as forrageiras da caatinga; em geral, estes compostos provocam diminuição da degradabilidade ruminal da matéria seca e da proteína bruta da forragem. Porém pode exercer efeito positivo sobre parasitas gastrointestinais (Muir, 2011) e podem aumentar a qualidade de produtos ruminantes como carne, leite e derivados, tendo recebido atenção de pesquisadores da região mediterrânea, em vista dos benefícios que estes produtos podem oferecer para uma alimentação humana saudável (Vasta e Luciano, 2011; Zervas e Tsiplakou, 2011). Os terpenos mais conhecidos como antinutricionais são as saponinas, contudo há outros tipos, como os óleos essenciais. Villalba et al. (2006) relataram que o efeito antibacteriano dos terpenos afeta a fermentação ruminal e a digestibilidade de MS, retardando a digestão da celulose e reduzindo a produção de ácidos graxos voláteis. A importância dos glicosídeos cianogênicos, presentes em plantas do gênero Manihot, tem sido bastante destacada nas pesquisas sobre a utilização estratégica de 9 maniçoba para alimentação de rebanhos na caatinga; com a hidrólise dos glicosídeos há formação imediata do ácido cianídrico, a qual de acordo com a dosagem consumida, o mínimo de 2,4 mg HCN kg-1 de peso vivo animal, pode causar diversos transtornos metabólicos e até a morte do animal (Soares, 2000). No entanto, o ácido cianídrico é quase totalmente volatizado (em torno de 80%) quando as folhas e partes de caules da maniçoba são cortadas e/ou trituradas e exposto ao ar para emurchecimento ou secagem, (Matos et al. 2005; França et al. 2010). Há poucos relatos sobre o efeito de flavonóides e outros compostos secundários como os alcalóides em ruminantes, contudo, estes assumem relevante importância farmacológica e são responsáveis pelo uso medicinal das plantas da caatinga (Albuquerque et al. 2007). A lignina é um composto fenólico de grande importância dentro da planta, pois participa ativamente do metabolismo primário conferindo resistência e sustentação ao vegetal, presente em todos os seus tecidos, como constituinte da parede celular (Taiz e Zeiger, 2009). A lignina, de acordo com a quantidade e localização, juntamente com a celulose e a hemicelulose, constituem-se os principais componentes químicos que estabelecem barreiras à degradação da forrageira pelos microrganismos ruminais, (Wilson, 1993). Já a fibra em detergente neutro (FDN) está presente em elevadas proporções no conteúdo de matéria seca das plantas da caatinga e pode apresentar variados níveis de degradação. Contudo, apesar do conteúdo de lignina presente na FDN, de acordo com Wilson e Mertens (1995) e França et al. (2010) a indegradabilidade dos tecidos está mais diretamente ligada à espessura das paredes celulares em virtude de sua deposição ao longo do crescimento e maturação da planta. Adicionalmente, a taxa de degradação microbiana da parede celular, pode ser limitada, pois se desenvolve somente a partir da superfície interior (lúmen), visto que a lamela média adjacente é indigestível (Wilson e Mertens, 1995). O espessamento da parede celular ocorre com o encerramento do crescimento primário da planta, e segue ao longo da vida do vegetal, podendo haver formação de até três paredes celulares secundárias, ricas em lignina. Portanto, o aumento no teor de fibra está particularmente relacionado com a maturidade do vegetal (Taiz e Zeiger, 2009). Como consequência disto, em geral, há aumento no acúmulo de matéria seca e redução 10 do valor nutricional, visto a diminuição da área luminar no interior das células e pela mobilização de nutrientes para estruturas reprodutivas (Wilson, 1993; Van Soest, 1994). As diferenças anatômicas e fisiológicas das plantas da caatinga, também estão relacionadas à via de assimilação de carbono, distinguindo-as entre C3, C4 e CAM implicando em diferentes graus de aproveitamento destas forrageiras. Gramíneas C 4 possuem uma camada de células que envolvem os feixes vasculares, chamada de bainha vascular, a qual pode conferir maior resistência à degradabilidade das folhas, enquanto as leguminosas, plantas C3, além de apresentarem um arranjo anatômico de mais fácil degradação em geral, possuem maior teor de proteína que gramíneas. Além da maturidade, a associação de alguns componentes do ecossistema semiárido como, radiação, temperatura ambiente, disponibilidade hídrica e fertilidade do solo, afeta fortemente a estrutura dos vegetais da caatinga, influenciando diretamente sua composição química, em termos de nutrientes e compostos secundários. E ainda, os elementos interagem entre si, afetando suas distribuições dentro da planta. Como exemplo, pode-se citar os carboidratos que fornecem energia e esqueletos de carbono para síntese de aminoácidos, proteínas e enzimas (Marenco e Lopes, 2009). Portanto, a qualidade das plantas forrageiras da caatinga está diretamente relacionada às influências ambientais que interferem nos parâmetros de aproveitamento das forrageiras pelos ruminantes, através dos diversos processos adaptativos à sobrevivência e maturidade do vegetal (Taiz e Zeiger, 2009). Importância do estudo anatômico na avaliação de plantas forrageiras O estudo botânico sobre a anatomia vegetal é atualmente uma importante ferramenta na avaliação da qualidade de forragens, pois promove um conhecimento profundo e específico sobre os agentes promotores do aproveitamento da forragem em nível ruminal (Lempp, 2007). O conhecimento sobre a proporção e a forma como estão arranjados os tecidos das plantas forrageiras nativas da caatinga quando associado às características de maturação, proporcionam informações para promoção da melhor utilização destas plantas como forrageiras, e ainda enriquecendo os conhecimentos a respeito destas espécies vegetais. 11 Além disto, estes estudos promovem elucidações sobre o nível de degradação dos tecidos vegetais submetidos à microbiota ruminal, visto que o aproveitamento do conteúdo celular e dos carboidratos constituintes da parede celular é alcançado, principalmente, após o rompimento da folha e consequente quebra das paredes celulares, sendo o ataque de tecidos de paredes espessas realizado a partir do lúmen para o exterior das células (Wilson e Mertens, 1995). As pesquisas iniciais datam da década de 70, a partir da incubação in vitro de cortes histológicos, das folhas e colmos de gramíneas temperadas, desenvolvidas por Danny E. Akin principal precursor desta extraordinária linha de pesquisa. No Brasil, os estudos anatômicos de tecidos degradados de forrageiras têm sido realizados desde o final da década de 90, principalmente com gramíneas dos gêneros Brachiaria, o capim-araúna - Panicum maximum, capim-elefante - Pennisetum purpureum, dentre outros (Lempp, 1997; Alves de Brito et al., 1999; Alves de Brito e Deschamps, 2001; Lima et al., 2001). A avaliação anatômica contribui para distinguir anatomicamente as mais variadas espécies forrageiras. Silva et al. (2007) caracterizaram diferentes variedades de palma forrageira – Opuntia sp. Recentemente, forrageiras nativas da caatinga como maniçoba - Manihot sp, jurema - Mimosa caesalpiniifolia, mororó - Bauhinia cheilantha e forrageiras adaptadas ao semiárido como a leucena - Leucaena leucocephala, têm sido avaliadas quanto às suas características anatômicas e qualitativas (França et al., 2010; Silva, 2011). A proporção de tecidos tem sido correlacionada ao seu potencial nutritivo, geralmente sendo medida a área relativa em seções transversais das frações da planta. Segundo Wilson (1993), devido ao arranjo paralelo longitudinal das principais estruturas de tecidos, essas medidas aproximam-se do volume de cada tipo de tecido, contudo em folhas de leguminosas, em função de sua venação reticulada, esta área deve ser previamente delimitada. É possível, portanto, a partir das proporções dos tecidos, determinar correlações entre suas medidas com mais variáveis nutritivas, como proteína bruta, fibra em detergente neutro e lignina (Pacciullo, 2002; Ferreira et al., 2007), como também determinar a taxa e extensão de digestão diferenciadas de diferentes tipos de tecidos (Akin et al, 1974; Akin e Amos, 1975). 12 De modo geral, a proporção de mesofilo relaciona-se positivamente com a digestibilidade e negativamente com o teor de parede celular. As proporções de bainha parenquimática dos feixes, tecido vascular e esclerênquima, ao contrário, relacionam-se negativamente com a digestibilidade e positivamente com o teor de parede celular, enquanto que a epiderme não tem apresentado correlações consistentes; enfatiza-se, portanto, a evidência do papel da anatomia sobre o aproveitamento das forrageiras pelos ruminantes (Queiroz et al., 2000). Adicionalmente, a avaliação anatômica de forrageiras de plantas da caatinga, principalmente, pode contribuir com a identificação e localização dos locais de acúmulo de metabólitos secundários. A coloração nos tecidos e estruturas vegetais, própria de cada classe de produtos formada pela reação com o corante utilizado, possibilita a identificação dos metabólitos e seus locais de acúmulo, sendo visualizados por microscopia óptica de luz (Johansen, 1940). As avaliações anatômicas de plantas forrageiras, a respeito do potencial de digestão e valor nutritivo, contribuem para a escolha de cultivares e ou genitores, visando o desenvolvimento de novas cultivares por meio de seleção ou cruzamentos (Lempp, 2007). Catingueira - Poincianella pyramidalis A espécie Poincianella pyramidalis, conhecida popularmente como Catingueira, é uma Leguminosae, pertencente a sub família das Caesalpinioidae, tribo Caesalpinieae, gênero Poincianella; é arbustiva, endêmica da Caatinga com características morfofisiológicas promotoras de sua tolerância ao ambiente semiárido, dentre eles o mecanismo de caducifólia, perda das folhas na época seca (Queiroz, 2009). Os arbustos podem apresentar um tronco único ou múltiplo troncos, com casca acinzentada a amarronzada; sua altura varia de 1 a 6 metros e a copa pode ser densa ou aberta, os ramos jovens podem ou não apresentar tricomas, sendo o eixo foliar com tricomas glandulares pedunculados densos ou esparsos; tricomas plumosos presentes ou ausentes nos eixos da inflorescência; os folíolos são alternos, variando de cartáceos (lâmina fina, rígida e quebradiça) a coriáceos (lâmina espessa, consistente, rígida, mas flexível), mais longos do que largos, glabros ou esparsamente pubescentes na face 13 adaxial; a nervura principal é oblíqua e excêntrica na base, juntamente com as secundárias e as terciárias salientes e reticuladas em ambas as faces (Queiroz, 2009). Apresenta crescimento rápido e boa capacidade de rebrota, às vezes se comportando como uma espécie colonizadora. Segundo Araújo Filho e Carvalho (1998), o ciclo fenológico de catingueira dura aproximadamente 238 dias, culminando com a queda das folhas, época em que é preferida pelos ruminantes. Essa espécie está amplamente distribuída na caatinga com elevados valores de freqüência e densidade apontados por diversos estudos florísticos e fitossociológicos (Amorim et al., 2009; Santos e Santos, 2010). Recentemente, estudos têm apontado para as relações entre as variações climáticas e a dinâmica fenológica desta espécie (Sousa, 2011; Lima, 2011). De acordo com Sousa (2011) e Amorim et al., (2009) a fenologia desta espécie está diretamente relacionada à disponibilidade hídrica, ambos os autores observaram a influência da distribuição da precipitação sobre as fenofases de formação de folhas, floração e frutificação. É uma planta utilizada pela população regional para fins energéticos, medicinais e forrageiros, cujos potenciais têm sido demonstrados por diversas pesquisas (Araújo Filho e Carvalho, 1998; Gonzaga Neto et al., 2004; Figuerôa et al., 2008; Silva et al., 2009; Bahia et al., 2010). Sobre suas características forrageiras, Araújo Filho e Carvalho (1998) apontam as variações da composição química em relação às fenofases da planta. De acordo com estes autores, esta planta tem um consumo reduzido no início de sua fase vegetativa, devido ao elevado teor de taninos, que influem em sua palatabilidade, mas as folhas são bastante consumidas logo após a fase reprodutiva, quando secam e caem. O teor de proteína bruta varia de acordo com a maturidade de 17 a 11% (Araújo Filho e Carvalho, 1998), quando avaliado durante fase de frutificação os autores Gonzaga Neto et al., (2001); Mendonça Jr et al., (2008) e Valadares Filho, (2006) encontraram os seguintes teores de proteína bruta 11,25%, 12,31% e 11,58%, respectivamente. Já a digestibilidade in vitro da matéria seca de Catingueira foi estudada por Araújo Filho e Carvalho, (1998) ao longo das fases fenológicas da planta, demonstrando o aproveitamento da matéria seca nas fases vegetativa (58%) de floração (52,5%) e 14 fruitificação (50,4%), e durante a senescência (30,9%), enquanto Valadares Filho (2006) encontrou o teor de 31, 8% de digestibilidade in vitro de matéria seca. A participação desta espécie durante a fase de senescência, na dieta de ovinos a pasto foi de 6,5% (Santos et al., 2008). Adicionalmente, Araújo et al., (2010) relatam que no período seco do semiárido, os caprinos ingerem cascas dos troncos de catingueira, fato que está relacionado a adaptabilidade destes animais. Quanto ao desempenho de produção animal submetidos a dietas com catingueira, não se tem relatos, contudo Gonzaga Neto et al., (2004) estudando o balanço protéico e energético de ovinos alimentados com 3 níveis (0, 50 e 100%) de feno de catingueira constataram não haver diferenças no aproveitamento destes nutrientes com aumento da inclusão do feno desta forrageira na dieta, indicando que este pode ser bem aproveitado pelos animais. Desta forma, a fim de garantir forragem para o período seco e evitar o extrativismo vegetal, esta forragem pode ser utilizada como feno, a qual confere aumentos no consumo de PB, como relatado por Gonzaga Neto et al., (2001), pois apresenta considerável teor protéico independente da fase vegetativa (Araújo Filho e Carvalho, 1998) ou ainda, como silagem (Guim et al., 2004). 15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AKIN, D.E.; AMOS, H.E. Rumen bacterial degradation of forage cell walls investigated by electron microscopy. Applied Microbiology, v. 29, n.5, p. 692-701, 1975 AKIN, D.E.; et al. Rumen bacterial interrelationships with plant tissue during degradation revealed by transmission electron microscopy. Applied Microbiology, v. 27, n.6, p. 1149-1156, 1974 ALBUQUERQUE, U.P.; et al. Medicinal plants of the caatinga (semi-arid) vegetation of NE Brazil: A quantitative approach. Journal of Ethnopharmacology v.114 p.325–354, 2007 ALLEN, V.G. et al. 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Queiroz em Diferentes Fases fenológicas RESUMO As características das plantas forrageiras da caatinga, bioma exclusivo do semiárido brasileiro estão em função das condições climáticas próprias deste ambiente, o qual pode influenciar a maturidade vegetal e consequentemente seus aspectos anatômicos e fisiológicos, estudos relacionando os aspectos de aproveitamento dos tecidos de leguminosas forrageiras por microrganismos ruminais são escassos, assim objetivou-se determinar o padrão anatômico e a degradabilidade dos tecidos foliares de Poincianella pyramidalis em distintas fenofases, relacionando-as à precipitação hídrica. Coletaram-se folíolos e pecíolos de 10 plantas adultas em cinco períodos cujas fenofases foram: vegetativa inicial, vegetativa plena, floração, frutificação e senescência foliar. Realizouse ensaios de degradação ruminal in situ e in vitro por 48h, protegendo-se os fragmentos foliares de qualquer ação mecânica. Lâminas semipermanentes dos pecíolos e da região mediana dos folíolos foram obtidas a partir de seções transversais confeccionadas à mão livre. Obtiveram imagens por microscopia ótica e eletrônica de varredura. Mediu-se a área ocupada, em µm2, por tecidos epidérmicos; mesofilo; parênquima medular; feixes vasculares; cujos percentuais de proporção foram analisados quanto à variância entre os períodos, segundo um delineamento inteiramente casualizado e as médias comparadas pelo teste Tukey a 5% de probabilidade, as quais foram correlacionadas aos dados de precipitação ocorrida de cada período. O padrão anatômico e a degradabilidade de catingueira não apresentaram variações entre os períodos, contudo a degradação dos tecidos de catingueira, em ambos os métodos de avaliação, foi restringida devido a uma barreira física, atribuída a mecanismos de defesa vegetal. Palavras-chave: anatomia; defesa vegetal; microrganismos ruminais; parede celular 22 Anatomical Pattern and Degradability of Tissues Poincianella pyramidalis (Tul.) L.P. Queiroz in Different Phenological Phases ABSTRACT The characteristics of the fodder plants from the Caatinga, biome exclusive of the Brazilian semiarid are according to the climatic conditions of this very environment, which can influence the vegetal maturity and consequently its anatomic and physiologic aspects, Studies relating the aspects of usage of the tissues of fodder plants by ruminal microorganisms are scarce, so the aim was to detect the anatomic pattern and the degradability of the foliar tissues of Poincianella pyramidalis in different phenophases, relating them to the rainfalls. Folioles were collected and petioles of 10 adult plants in five periods whose phenophases were: initial vegetative, full vegetative, flowering, fructification and foliar senescence. Experiments of ruminal degradation in situ and in vitro were performed for 48 hours, protecting the foliar fragments from any mechanic action. Semi-permanent blades of the petioles and from the median region of the folioles were obtained from handmade transversal sections. Images were obtained by scanning optical microscopy. The occupied area was measured, in µm2, by epidermal tissues; mesophyll; medullar parenchyma; vascular tissues; whose percentages of proportion were analyzed according to the variety between the seasons, according to a delimitation entirely randomized and the average rates compared by the Tukey’s test at 5% of probability, which were correlated to the data about rainfalls which occurred each season. The anatomic pattern and the degradability of Catingueira did not show variations between the seasons; however, the degradation of the tissues in both the evaluation methods, was limited due to a physical barrier, attributed to mechanisms of vegetal defense. .Keywords: anatomy, cell wall, plant defense, rumen microorganisms 23 INTRODUÇÃO As avaliações anatômicas de forrageiras leguminosas e outras famílias ainda são escassas, principalmente em se tratando de plantas nativas da caatinga, bioma cuja diversidade e potencial forrageiro tem sido exaustivamente relatados (Sampaio, 2010; Bakke et al., 2010; Santos et al., 2010). A espécie Poincianella pyramidalis endêmica da Caatinga conhecida popularmente como catingueira, é uma leguminosa arbustiva caducifólia (Queiroz, 2009). De acordo com Araújo Filho e Carvalho (1988) esta planta é preferida pelos ruminantes na última fase de seu ciclo fenológico. Ela apresenta elevados teores de proteína, contudo, o teor de taninos parece ser limitante para o consumo das folhas jovens. Portanto, a avaliação e o estudo conjunto das interelações entre as entradas de precipitação no ambiente semiárido e as respostas das espécies forrageiras (fenologia, aspectos anatômicos, morfo-fisiológicos e nutricionais) podem promover ferramentas que auxiliem no melhor aproveitamento desta espécie. De acordo com Noy Meir, (1973) a irregularidade da distribuição pluviométrica de ambientes áridos e semiáridos pode ser definida pela ocorrência de pulsos e interpulsos de precipitação, os quais influem diretamente nas respostas dada pela vegetação em termos principalmente, de composição botânica, produção de fitomassa, e ciclo fenológico, fatores importantes quanto a disponibilidade e maturidade de plantas forrageiras. Plantas nativas destes ambientes demonstram adaptabilidade às condições climáticas através de sua periodicidade fenológica, ou seja, o tempo de ocorrência e duração dos eventos fenológicos. Adicionalmente, o padrão fenológico de uma espécie vegetal, está sob influência dos demais fatores bióticos e abióticos do ecossistema (Lesica e Kittelson, 2010; Karnieli, 2003). A avaliação anatômica de como estão arranjados as células e tecidos vegetais pode proporcionar dentre outros conhecimentos, elucidações sobre o aproveitamento do conteúdo celular e dos componentes de suas paredes, pelos microrganismos ruminais. Esta determinação ao longo das fenofases de cada planta torna-se ainda mais importante, em vista do efeito que a maturidade pode exercer no espessamento da parede celular, adicionado pela influência das variações ambientais como precipitação e temperatura (Wilson et al., 1991; Wilson, 1993; Lempp, 2007). Os tecidos vegetais apresentam diferentes níveis de degradação ruminal devido, principalmente, ao tipo de parede celular de cada unidade constituinte e do grau de 24 lignificação destas paredes (Wilson, 1993). Em geral, o acesso dos microrganismos ao interior dos tecidos é proporcionado pelo rompimento da folha e consequente quebra das paredes celulares; o ataque de tecidos de paredes espessas se dá do lúmen para o exterior das células (Wilson e Mertens, 1995). Assim, os tecidos podem ser classificados quanto à velocidade e proporção de degradação, sendo de rápida e alta degradação as paredes internas da epiderme, os parênquimas clorofilianos e os tecidos do floema, enquanto os tecidos formados por esclerênquima e os feixes da bainha vascular são parcialmente e vagarosamente degradáveis; já os tecidos de xilema não são degradáveis (Akin e Amos, 1975; Akin, 1989; Wilson, 1993; Wilson e Mertens, 1995). Assim, objetivou-se determinar o padrão anatômico e a degradabilidade dos tecidos de folíolos e pecíolos de Poincianella pyramidalis em distintas fenofases da planta e suas relações com a precipitação hídrica. 25 MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi desenvolvida em uma área de Caatinga, de aproximadamente 10 ha, na Estação Experimental da UFPB, no município de São João do Cariri-PB. O clima local da região é BSh, Semiárido quente, segundo classificação de Köppen, caracterizado por chuvas pobres e irregulares. A estação experimental tem médias históricas anuais de umidade relativa do ar, temperatura e precipitação de 71,8%, 25,6ºC e 517 mm, respectivamente. A área apresenta uma cobertura florística arbustiva-árborea com quatro espécies predominantes Poincianella pyramidalis, Croton sonderianus, Aspidosperma pyrifolium, Jatropha mollissima além de cactáceas e diversas espécies herbáceas e sub-arbustivas; o solo é franco arenoso, com clareiras e afloramentos rochosos (Andrade et al., 2009). O período total de avaliação foi de janeiro a agosto de 2010, no gráfico 1 apresenta-se a distribuição diária dos índices climatológicos durante estes meses, os quais foram obtidos na Bacia Escola da estação, integrante da Área de Engenharia de Recursos Hídricos da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Figura 1. Totais diários de precipitação de chuva (mm), temperatura (ºC) e umidade relativa do ar - URA (%), ocorridas na estação experimental de São João do Cariri-PB, no período de janeiro a agosto de 2010. 26 Foram selecionadas ao acaso e identificadas, dez plantas adultas da espécie Poincianella pyramidalis, as quais apresentavam aproximadamente 3m de altura de 3, caules ramificados, copa densa e folhas impari-bipinadas com 5 pinas de folíolos alternos, em geral coriáceos (Figura 2). A B C D E F Figura 2.A-F. Vista geral de Poincianella pyramidalis nas fenofases: A. Vegetativa inicial; B. Vegetativa plena; C. Floração; D. Frutificação; E. Senescência foliar e F. Detalhe da folha marcada. Em cada planta foram marcadas 3 folhas, cujos folíolos estavam completamente expandidos, livres de sombreamento, a uma altura média de 1,5m do nível do solo. 27 As coletas foram realizadas em 5 períodos, distintos pela quantidade e distribuição de precipitação e pela fenofase apresentada pela planta (Gráfico 2 e Tabela 1). No gráfico 2 apresenta-se o pulso de precipitação, gatilho para a rebrota foliar (em dezembro de 2009) e a duração dos eventos fenológicos, em conseqüência dos demais pulsos de precipitação durante o período de avaliação. As dez plantas marcadas foram observadas a cada dois dias, conforme o surgimento e duração de folhas, botões florais, flores e frutos, senescência e abscisão foliar. Os períodos de coleta foram designados de acordo com a ocorrência de cada fenofase em, no mínimo, 70% das plantas. O período 1 foi caracterizado pelo início da fase vegetativa, onde havia emissão de novas folhas e desenvolvimento das folhas completamente expandidas. O período 2 foi marcado por altas temperaturas e um acumulado de 46,7 mm de precipitação, distribuídos em 3 dias, provocando sintomas de estresse hídrico nas folhas. Os períodos 3 e 4 foram marcados pelas fenofases de reprodução, sendo a 3ª coleta realizada quando as plantas encontravam-se em início de floração, e a 4ª coleta no início da frutificação. O 5º período foi marcado pela fase de senescência foliar, quando as folhas encontravam-se totalmente amarelas e em abscisão. Figura 3. Distribuição diária de precipitação (mm) e número de plantas de Poincianella pyramidalis apresentando emissão foliar (EmFol), botões florais (BtFlor), flores (Flor), frutos (Frut) e senescência foliar (SenFol). 28 Tabela 1. Características dos períodos de coleta de folíolos e pecíolos de Poincianella pyramidalis em São João do Cariri-PB. Períodos de Coleta Data de Coleta Total de Chuvas (mm) /período Dias com chuvas Dias sem chuvas Fenofase da planta Desenvolvimento Foliar Período 1 06/fev 126,5 7 30 24 Vegetativa inicial Vegetativa plena 5 26 Floração 156,7 13 32 19,4 11 31 Frutificação Senescência foliar Completamente expandido Completamente expandido Completamente expandido Completamente expandido Período 2 05/mar 46,7 3 Período 3 05/abr 75,4 Período 4 20/maio Período 5 11/ago Senescência A cada período foi coletado 1 folíolo completamente expandido, de umas das pinas intermediárias de cada folha marcada e os pecíolos foram retirados de 3 folhas aleatórias; totalizando 10 amostras de folíolos e pecíolos para cada ensaio. As coletas eram sempre realizadas pela manhã no intervalo compreendido entre às 5:30h e 6:30h. Para determinação do padrão anatômico as amostras em estado natural foram mantidas íntegras, armazenadas em solução de formol:ácido acético: álcool 50 (FAA 50) para fixação dos tecidos. Para o estudo da degradação de tecidos, as amostras foram preparadas de modo a permitir acesso dos microrganismos ruminais ao interior das células; os pecíolos foram cortados logo acima do pulvino até 1,2 cm de cumprimento do eixo foliar e os folíolos foram cortados em sua base e ápice, formando fragmentos de aproximadamente 1 cm², ambos foram armazenados juntos, em cassetes plásticos histológicos, a fim de não permitir ação mecânica ruminal, seguindo metodologia adaptada de Lima et al., (2001) Para avaliação da degradabilidade dos tecidos in situ, os cassetes histológicos contendo os fragmentos foliares foram transportados em isopor com gelo ao local de incubação, colocados em uma bolsa de náilon, com porosidade de 45 µm, a qual permaneceu no rúmen de um caprino adulto fistulado por um período de 48h. Após este, a bolsa foi retirada, colocada em água com gelo para paralisação da atividade ruminal e os resíduos dos fragmentos de cada cassete foram lavados com água destilada e armazenados em potes identificados contendo solução fixadora FAA 50. Para avaliação da degradação dos tecidos in vitro os cassetes histológicos foram incubados em rúmen 29 artificial Daisy II Ankon® com líquido ruminal de um caprino adulto e soluções tampão A e B por 48h, após este período, o material foi tratado como no ensaio in situ. Lâminas semipermanentes dos pecíolos e da região da nervura central dos folíolos foram obtidas a partir de seções transversais confeccionadas à mão livre, para avaliação do padrão anatômico antes e após a degradação dos tecidos. As seções transversais foram clarificadas em solução comercial de hipoclorito de sódio a 50%, neutralizadas em água acética a 1:500, lavadas em água destilada, coradas com Safranina e Azul de Alcian, montadas em glicerina a 50% e as lamínulas lutadas com esmalte de unhas incolor. Para identificação de amido e substâncias lipídicas foram utilizados Iodo a 2% e Sudam Black, respectivamente (Johansen, 1974). Utilizou-se microscópio ótico com câmera Leica, DM5000 B para obtenção das imagens e o software Leica LAS v.3.6 para realização das medidas de área (µm2) ocupada pelos tecidos. Os resíduos de fragmentos dos folíolos e pecíolos foram fotografados e a área degradada foi obtida por diferença entre a área total e a residual, medida através do software Sigma Scan Pro 5, expressa em percentual. Imagens dos tecidos também foram obtidas por microscópio eletrônico de varredura (MEV) modelo: XL-30 – ESEM/Phillips no Núcleo de Estudos e Pesquisa em Gás Natural e Petróleo (NEPGN) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde as amostras conservadas em FAA 50 foram submetidas à desidratação alcoólica, e após secas, metalizadas em equipamento metalizador "Sputter Coater" modelo: SCD-005/BAL-TEC. As proporções da área ocupada pela epiderme abaxial e adaxial; parênquima paliçádico e lacunoso (mesofilo); parênquima medular; feixes vasculares (esclerênquima, floema, xilema) foram avaliadas quanto à variância entre os períodos segundo um delineamento inteiramente casualizado e comparadas pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. Aplicou-se teste de correlação entre as proporções dos tecidos e os totais de precipitação de cada período avaliado, utilizando-se SAS (Statistical Analysis System, versão 9.2.) 30 RESULTADOS E DISCUSSÃO Em todos as fases fenológicas, as plantas avaliadas de Catingueira (Poincianella pyramidalis) apresentaram o mesmo padrão para a proporção dos tecidos (Tabela 02), a degradabilidade dos tecidos (Figura 4) e o arranjo anatômico de folíolos e pecíolos (Figuras 5 a 8). De acordo com Wilson (1993), as proporções teciduais representam a quantidade de área ocupada por tecidos de maior ou menor facilidade de degradação, com relação à espessura de suas paredes e lignificação. Segundo este autor, em uma lâmina foliar, os diferentes tipos de tecidos não apresentam variações de suas proporções, de acordo com a idade, no entanto, esclerênquima e tecidos vasculares podem apresentar maior ou menor proporção de acordo com a região ou inserção foliar. Tabela 2. Proporção média dos tecidos de folíolos e pecíolos de Poincianella pyramidalis em diferentes fenofases. Folíolo Fenofases Pecíolo EPI MES PAR FV EPI+PAR FV Vegetativa inicial 15,16ª 38,31ª 16,39b 30,84ª 35,58ª 64,42ª Vegetativa plena 14,75ª 38,62ª 17,24ª 30,53ª 37,25ª 62,75ª Floração 13,05ª 34,25ª 15,98b 30,68ª 32,68ª 67,32ª Frutificação 14,12ª 37,00a 18,95a 30,55ª 35,26ª 64,82ª c 30,45ª 35,22ª 64,78ª 19,69 7,72 14,42 Senescência foliar 15,28ª 41,83ª 12,43 Coeficiente de Variação 14,62 14,51 21,65 EPI – epiderme adaxial e abaxial; MES – mesofilo: parênquima paliçádico e esponjoso; PAR– parênquima de preenchimento medular; EIC+PAR – espaço intercelular + parênquima; FV – fibras de esclerênquima, elementos de vaso de floema e xilema. Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem pelo Teste de Tukey (P>0,05). De modo geral, as características físicas dos tecidos de folíolos e pecíolos de Catingueira demonstraram haver possibilidade de degradação por microrganismos ruminais, dentro do que está estabelecido para cada tecido (Akin, 1989; Wilson e Mertens, 1995). Contudo, a degradação dos fragmentos foliares em ambos os ensaios de degradação in situ e in vitro por 48h, foi impedida, aparentemente, devido a um mecanismo de defesa vegetal, visto a presença e alto teor de compostos fenólicos (ver 31 capítulo 3), o qual indica um aspecto adaptativo da planta (Barbehenn e Constabel, 2011). Os flavonóides e taninos presentes na plantas podem sofrer oxidação e causar morte celular (Taiz e Zeiger, 2009), provocando a formação de uma barreira física o que parece ter sido impedimento à entrada de microrganismos no interior dos fragmentos. Além disto, o tempo de 48h de incubação é suficiente para degradar parcialmente até os tecidos de paredes mais espessas, como esclerênquima e fibras gelatinosas (Akin, 1989; Wilson e Mertens, 1995; Lima et al, 2001; França et al, 2010). A B C D Figura 4.A-D. Folíolo e pecíolo de Poincianella pyramidalis após 48h de incubação ruminal. A-B. Aspecto dos fragmentos de folíolos e pecíolos logo após retirada do rúmen indicando barreira física (setas); C,D. Eletromicrografias de varredura da superfície externa dos fragmentos folíolo (C) e pecíolo (D). Barras: A,B= 1 cm; C= 100 µm.; D=500 µm. A epiderme de folíolos e pecíolos de catingueira é unisseriada (Figura 5A,B), os estômatos nos folíolos apresentam-se apenas na face abaxial, são do tipo anomocíticos e estão sobre pequenas câmaras estomáticas (Figura 5C). A cutícula, presente em ambas as faces da epiderme apresentou 2,26 µm de espessura no início da fase vegetativa (Figura 5D) e a camada de cera epicuticular pode possuir forma de cristais em locais diferenciados (Figura 5E). Em geral, os microrganismos podem ter sua entrada facilitada para o interior dos tecidos, via estômatos ou fissuras no tecido foliar, visto a 32 cutícula ser um forte impedimento à adesão destes (Alves de Brito et al., 1999), contudo, na forrageira em estudo este mecanismo não foi utilizado, certamente em virtude do fechamento dos ostíolos no momento de coleta das amostras (Figura5C). ESC PP PAR PAR ESC XIL PAR XIL EPI FLO FLO OP PP PE EPI PAR A B PE EPI E C D E Figura 5. A-H. Vistas transversais e paradérmicas de folíolos de P. pyramidalis. A. Região da nervura central. B. Estômato e câmera estomática na epiderme abaxial (seta). C. Detalhe da camada de cutícula sobre epiderme abaxial. D. Epiderme abaxial indicando tricomas tectores (seta). E. Camada de cera epicuticular em forma de cristais. F. Tricoma peduncular. Barras: A,E=500µm; B,C= 20µm; D=10µm. EPI – Epiderme; PP – parênquima paliçádico; PE – parênquima esponjoso; PAR – parênquima fundamental; ESC – esclerênquima; FLO – floema; XIL - xilema; FVS – Feixe vascular secundário; Detectou-se a presença de tricomas tectores em ambas as faces da epiderme do folíolo e também do pecíolo (Figura 6 A,B); na Figura 6 C,D percebe-se a ocorrência de tricomas multicelulares de formato peduncular em folíolos e pecíolos respectivamente, os quais apesar da morfologia não demonstram característica glandular, visto a coloração da cabeça não apresentaram reação com sudanblack. Além disto, nos folíolos este tipo de tricoma, apresentou rompimento quando durante a fase de senescência foliar, observados tanto em cortes transversais por microscopia ótica (Figura 6E), como em vista paradérmica por eletromicrografia de varredura (Figura 6F). 33 Ambos os tipos de tricomas, devem ser considerados quanto a sua influência sobre a palatabilidade da forrageira, tendo em vista sua densidade e tamanho; os tricomas pedunculados presentes nos pecíolos, como relatados por Queiroz (2009) são estruturas morfológicas visíveis a olho nu, eles apresentam-se em uma consistência levemente rígida e em densidade considerável. Portanto, embora não pareçam ser limitantes diretos à degradação, a lignificação de ambos os tricomas pode contribuir negativamente no aproveitamento da planta como um todo. A B 150 µm C E D F Figura 6. A-F. Vistas transversais e paradérmicas de folíolos e pecíolos de P. pyramidalis. A, B. Tricomas tectores (setas). C,D. Tricoma peduncular (setas). E,F. Tricoma peduncular rompido (setas). Barras: A=500µm; B= 200µm; C=300µm. E=200µm, F=50µm. 34 Não há relatos sobre o rompimento de tricomas de qualquer tipo, como o que ocorreu nesta espécie, este fato pode indicar alguma função fisiológica da planta para o período ou apenas pode ser resultante de uma infestação por patógenos, portanto, há necessidade de estudos para elucidações sobre esta estrutura morfológica. O mesofilo dorsiventral constitui-se de duas camadas de parênquima paliçádico densamente justapostas, e três ou quatro camadas de células do parênquima esponjoso com poucos espaços intercelulares (Figura 7A). A proporção deste tecido na região da nervura central, juntamente com o parênquima medular ocuparam maior área que os tecidos vasculares (Tabela 02), e devido à presença apenas de paredes primárias (Akin, 1989) destes tecidos isto pode representar bom aproveitamento pelos microrganismos ruminais. Ao longo de todo o limbo foliar podem ocorrer vários ductos secretores com até 57 µm de diâmetro, assim como nos pecíolos (Figura 7 B,C). As substâncias produzidas pelos ductos de folíolos e pecíolos podem ser fenólicas e, ou, óleos essenciais (Fanh e Cutter, 1992; Apezzato da Glória e Carmello-Carneiro, 2006). A presença de compostos fenólicos, como os taninos, é de fundamental importância no aproveitamento de nutrientes como a proteína, mas eles podem ser rapidamente oxidados em folhas injuriadas, formando quinonas, caracterizadas pela coloração marrom da extremidade rompida (Barbehenn e Constabel, 2011), fato que pode estar ligado à formação da barreira física que impede a degradação desta forrageira. A proporção de parênquima fundamental na região cortical da nervura central dos folíolos de Catingueira variou significativamente entre as fenofases (Tabela 02), e apresentou fraca correlação positiva (Tabela 03) com os totais de precipitação em cada período avaliado, fato que pode estar relacionado à turgidez destes tecidos (Marenco e Lopes, 2009). Tabela 03 - Correlação entre a proporção média dos tecidos do folíolo e os totais de precipitação em milímetros. mm p *<0,05 EPI -0,13539 0,3867 MES -0,19883 0,2012 PAR 0,34315* 0.0243 FV 0,08810 0,5743 35 PP EPI FVS EPI PE EPI A C B D Figura 7. A-D. Vistas transversais de folíolos e pecíolos de P. pyramidalis. A. Bainha do feixe vascular, células lignificadas (seta). B. Ducto secretor no limbo foliar (seta) e cristais ao redor das fibras (setas tracejadas). C. Ductos secretores no pecíolo. D. Parênquima medular do pecíolo com grânulos de amido (seta). Barras: A=50µm; B,= 20µm; C=300µm D=20µm. EPI – Epiderme; PP – parênquima paliçádico; PE – parênquima esponjoso; PAR – parênquima fundamental; FVS – Feixe vascular secundário. No pecíolo, o parênquima fundamental encontrado na região cortical ocupou, juntamente com a epiderme, uma área média de 35%, embora suas células não desenvolvam parede secundária, a impregnação de lignina, pode tornar este tecido indigestível (Wilson, 1993). Além disto, podem apresentar monocristais, drusas de oxalato de cálcio, ductos secretores (Figura 7B) os quais podem se acumular ao longo do ciclo vegetal, sendo importantes sobre a quantidade de minerais na planta forrageira, visto que podem passar intactos pelo trato digestivo, mas também, se digeridos, influenciar a absorção de outros minerais (Alvarez et al., 2010; Nicodemo e Laura, 2001). A medula parenquimática e córtex dos pecíolos e os tecidos clorenquimáticos do folíolo, apresentaram de acordo com a fenofase, variada quantidade de grânulos de 36 amido (Figura 7D e 8), fato que pode estar relacionado aos resultados do processo de fixação fotossintética de C atmosférico; em virtude deste, ocorre normalmente, aumento na concentração de amido nos cloroplastos que pode representar, no final do período fotossintético, 10-30% da matéria seca da folha ( Sousa et al., 2005). Em geral o amido acumulado durante o dia é mobilizado e translocado durante a noite para outras partes da planta, ocorrendo redução no conteúdo de açúcares da folha, atingindo valores mínimos próximo ao amanhecer do dia seguinte (Taiz e Zeiger 2009), o que depende de um sistema de transporte especializado como o floema (Travaglia et al., 2012). Nas folhas sob condições de semiárido, onde a incidência luminosa é alta, a proporção de amido observada nas primeiras horas do dia, pode estar relacionada à estratégia da planta em limitar sua taxa fotossintética como resposta à luminosidade e temperatura, em vistas a aumentar a eficiência no uso da água, tendo como consequência o aumento da estocagem de carboidratos (Marenco e Lopes, 2009). Isto implica, portanto, no conteúdo e composição da fração de carboidratos não estruturais desta forrageira, favorecendo sua qualidade nutricional. O sistema vascular dos folíolos é reticulado, tanto a nervura central como as secundárias são circundadas por células parenquimáticas que formam a endoderme (bainha do feixe) podendo apresentar monocristais, e ainda paredes lignificadas (Figura 7A). As fibras de esclerênquima possuem paredes celulares altamente lignificadas, com média de 3,45 µm de espessura (Figura 9A), na região da nervura central dos folíolos, apresentando-se também em algumas nervuras secundárias. A área ocupada por feixes vasculares nos folíolos é três vezes maior que a relatada para leguminosas por Wilson (1993). Silva (2011) demonstrou que a área ocupada por tecidos vasculares é de 10,8% em duas leguminosas forrageiras adaptadas a caatinga, Leucaena leucocephala, (Leucena) e Bauhinia cheuilantha (Mororó). Devido à espessura e lignificação que conferem resistência às paredes destes tecidos, a proporção destes tecidos implica em baixa degradabilidade da forrageira (Wilson, 1993). Em média, 30 elementos de vasos de xilema compõem os feixes vasculares da nervura central, havendo em média 11 grandes vasos com diâmetro médio de 7,68 µm (Figura 9A). No pecíolo, os vasos de xilema podem variar de 110 a 160 unidades por pecíolo, havendo em média 45 elementos de diâmetro médio de 17 µm (Figura 9B). 37 A B C D E Figura 8. A-E. Histoquímica com Iodo para identificação de amido em folíolos e pecíolos de Poincianella pyramidalis em diferentes fenofases. A. Fase vegetativa inicial; B. Fase vegetativa plena; C. Floração; D. Frutificação; E. Senescência foliar. (negro=amido). Barras A-E=300 µm 38 Nos pecíolos, os tecidos de sistema vascular ocupam até 70% da área (incluindo floema que é um tecido de fácil degradação), fato que indica um sistema de condução de água e fotossimilados bem desenvolvido, mas que, no entanto, representa limitações à degradação do teor de fibra, como componente nutricional. Verifica-se que as características do padrão anatômico de catingueira promovem sua capacidade de adaptação ao ambiente semiárido ao longo de seu ciclo fenológico, padronizando-a como planta xerófita; além disto, esta espécie apresenta diversos mecanismos fisiológicos de adaptação às variações climáticas do semiárido (Bahia et al., 2010). A proporção e degradação dos tecidos não foram alteradas de acordo com a maturidade da planta, contudo, a ocorrência e duração dos eventos fenológicos desta espécie é totalmente dependente condições climáticas, como confirmam Sousa (2011) e Amorim et al.,(2009). PAR XIL ESC XIL FLO ESC PAR PAR A B Figura 9. A-B. Vistas transversais de folíolos e pecíolos de Poincianella pyramidalis. A. Sistema vascular central detalhe da espessura das células de esclerênquima e dos cristais entorno destas (setas). B. Detalhe dos vasos de xilema e cristais em torno de fibras de esclerênquima no pecíolo (setas). PAR- parênquima; XIL – xilema; FLO – floema; ESC – esclerênquima. Barras: A=300 µm; B=100 µm. Portanto, o padrão anatômico de catingueira apresenta características potenciais à sua degradabilidade, contudo esta degradação depende exclusivamente dos microrganismos poderem acessá-los, tendo em vista que mecanismos fisiológicos ligados à defesa da planta impedem o aproveitamento, sendo imprescindível o estudo e 39 a aplicação de técnicas que viabilizem a utilização da planta como forrageira nas áreas de caatinga. Adicionalmente, a avaliação histológica da presença de amido, em diferentes horários, pode ser um indicativo a respeito do seu potencial nutricional, sendo uma ferramenta para utilização de catingueira como forrageira. 40 CONCLUSÕES As características anatômicas e a área ocupada pelos tecidos foliares de Poincianella pyramidalis apresentam o mesmo padrão ao longo do seu ciclo fenológico, o qual proporciona sua degradabilidade, contudo esta pode ser limitada por aspectos fisiológicos relacionados à defesa vegetal. 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AKIN, D. E. Histological and physical factors affecting digestibility of forages. Agronomy Journal, v. 81, n. 1, p. 17-25, 1989 AKIN, D. E.; AMOS, H. E. Rumen Bacterial Degradation of Forage Cell Walls Investigated by Electron Microscopy. Applied Microbiology, v.29, n.5. p. 692-701, 1975 ALVAREZ, J. M. et al., Descritores epidérmicos de eudicotiledôneas forrageiras - Guia para identificação da dieta de herbívoros usando o programa delta. 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Queiroz em Diferentes Fases Fenológicas RESUMO Poincianella pyramidalis é uma planta nativa da caatinga, forrageira, cuja potencialidade nutricional deve ser avaliada para proporcionar sua utilização racional pelos produtores do semiárido. O objetivo desta pesquisa foi avaliar a composição bromatológica, os compostos secundários e a degradabilidade de Poincianella pyramidalis em diferentes fenofases relacionadas à precipitação hídrica. Os períodos de avaliação foram marcados pelo total de precipitação, onde se determinou as seguintes fenofases: vegetativa inicial, vegetativa plena, floração, frutificação e senescência foliar. A cada período coletou-se amostras compostas por folhas e galhos de até 0,5 cm de diâmetro, ao longo de toda a circunferência da copa de três plantas, a uma altura média de 1,5 m. Realizou-se a determinação da composição química (matéria seca, matéria mineral, proteína bruta, fibra em detergente neutro, fibra em detergente ácido, celulose, hemicelulose e lignina), do teor de taninos, e da degradabilidade in situ por 48h de matéria seca e fibra em detergente neutro. Utilizou-se um pool das amostras para detecção da presença de esteróides, taninos e flavonóides, estes últimos foram confirmados através da ressonância magnética nuclear. Os dados de composição química e degradablidade foram analisados quanto à variância entre as fenofases e suas médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Efetuou-se análise de correlação, entre os valores de composição química e percentuais de degradabilidade in situ com a quantidade em milímetros do total de precipitação em cada período avaliado. Constatou-se que o teor de matéria seca das plantas de catingueira está em função do total de precipitação hídrica de cada fenofase, enquanto os teores de proteína bruta, matéria mineral e fibra em detergente neutro variam de acordo com suas características fisiológicas em cada fenofase. A degradabilidade dos componentes da parede celular é afetada pelo alto teor de taninos e lignina, e as presenças de taninos, flavonóides e biflavonóides indicam a alta adaptação da espécie ao semiárido e deve ser considerada quanto aos seus potenciais anti nutricionais. Palavras-chave: forrageira nativa; lignina; maturidade; nutrientes; taninos 46 Chemical Composition and Degradability of Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz in Different Phenological Phases ABSTRACT Poincianella pyramidalis is a native forage plant from the Caatinga. The study of its nutritious potential relating them to the environmental conditions may contribute to the better rational usage by the producers in the semiarid. It was aimed to evaluate its bromatological composition, the secondary compounds, and the degradability in situ in five seasons characterized by different rainfall amount and phenological phases, respectively: initial vegetative, full vegetative, flowering, fructification, and senescence. Samples composed by leaves and branches, at most 0.5cm of diameter, were collected every season along the circumference of the crown of three plants in an average height of 1.5m. The chemical composition was determined, the tannins content, and the degradability in situ of dry matter and fiber in neutral detergent for 48 hours. By the phytochemical prospecting, the presence of steroids, tannins and flavonoids was detected; these flavonoids were confirmed by NMR by ¹H and ¹³C. The variation between the average rates of each season was compared by the Tukey’s test at 5%; it was performed the analysis of correlation of these variations with the total amount of rain in millimeters in each season. The differences between the dry matter contents show correlation with the total rainfall amount, while the contents of crude protein, mineral matter and fiber in neutral detergent ranged according to the maturity of the plants. The degradability of the compounds of the cell wall decreased along the seasons. The high tannin and lignin contents, and the presence of flavonoids and biflavonoids must be considered in their anti-nutritional potentials. Keywords: lignin, maturity, native forage; nutrients, tannins 47 INTRODUÇÃO Muitas espécies forrageiras, em todos os estratos da caatinga, têm sido avaliadas quanto ao seu potencial nutricional e estratégias de uso na alimentação animal. Embora apresentem sazonalidade, a produção de fitomassa durante o período chuvoso pode ser melhor aproveitada se conservada na forma de feno e ou silagem (Soares, 2000; Santos et al.,2010). A espécie Poincianella pyramidalis, conhecida popularmente como Catingueira, é uma leguminosa arbustiva, endêmica da Caatinga com características morfofisiológicas promotoras de sua tolerância ao ambiente semiárido, dentre eles a caducifolia - perda das folhas na época seca. É uma planta de crescimento rápido e com alta capacidade de rebrota, podendo ser uma importante fonte de forragem na época seca, quando os demais estratos vegetais já estiverem escassos (Queiroz, 2009). De acordo com Araújo Filho e Carvalho (1988), esta planta é preferida pelos ruminantes na última fase de seu ciclo fenológico. Seu potencial nutricional dá-se principalmente pelos elevados teores de proteína, contudo, também é alto o teor de taninos. Apesar disto, também há relatos do consumo desta planta quando ainda verde (Queiroz, 2009). A maturação do vegetal, ao longo do desenvolvimento de seu ciclo fenológico, proporciona variações no teor de nutrientes, em face da mobilização destes entre os órgãos da planta; além disto, as condições ambientais como precipitação hídrica, temperatura e fertilidade do solo, também podem interferir nos processos metabólicos do vegetal, alterando a composição química das plantas (Reis et al., 2006; Taiz e Zeiger, 2009). Estes aspectos apresentam grande relevância em pastagens nativas da caatinga, pois as particularidades climáticas do clima semiárido são preponderantes no desencadeamento da periodicidade fenológica dos vegetais (Noy Meir, 1973; Karnieli, 2003), como também, do desenvolvimento de mecanismos fisiológicos de adaptação e defesa, os quais comprometem o consumo e o aproveitamento das forrageiras pelos animais. Dentre os mecanismos de defesa vegetal está a produção de compostos secundários; entre esses, os fenólicos, como lignina e taninos, apresentam-se em grande quantidade nas plantas, mas ainda, flavonóides podem estar significativamente 48 presentes. Além de promoverem limitações à nutrição animal, estes últimos, juntamente com terpenóides podem ser absorvidos e transferidos para os produtos alterando suas características organolépticas, como relatado por Feo et al. (2006). Compostos fenólicos em geral podem ser auto oxidados e limitar a digestão no interior do rúmen auxiliados por outros mecanismos de defesa vegetal (Taiz e Zeiger, 2009; Barbehenn e Constabel, 2011). A lignina exerce sua função secundária nas plantas ao interferir na degradação dos demais compostos da parede celular pelos microrganismos ruminais (Jung e Vogel, 1986; Grabber, 2005). E os taninos, polímeros fenólicos de alto peso molecular, complexam-se com proteínas e outras macromoléculas provocando efeitos positivos ou negativos aos ruminantes, de acordo com sua quantidade na dieta animal (Muir, 2011). A avaliação conjunta dos fatores que interferem na qualidade das plantas forrageiras da caatinga é complexa, pois está em função de muitas variáveis; a padronização de seus fatores qualitativos exige a soma de esforços das diversas áreas do conhecimento em busca de potencializar o uso desta pastagem e ainda manter os seus recursos. O objetivo desta pesquisa foi avaliar a composição química, compostos secundários e a degradabilidade de Poincianella pyramidalis em diferentes fenofases relacionadas à precipitação hídrica. 49 MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi realizada em uma área de Caatinga da Estação Experimental da UFPB, no município de São João do Cariri-PB, a qual é caracterizada por médias históricas anuais de umidade relativa do ar, temperatura e precipitação de 71,8%, 25,6ºC e 517 mm respectivamente. A distribuição destes índices durante o período de avaliação (janeiro a agosto de 2010), obtidos diariamente na Bacia Escola da estação, integrante da Área de Engenharia de Recursos Hídricos da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) é apresentada na Figura 1. Foram selecionadas ao acaso três plantas de Catingueira para coleta de amostras para análises de determinação da composição química e degradabilidade in situ. As coletas foram realizadas em cinco períodos, distintos pelas fenofases: 1 - vegetativa inicial, 2 - vegetativa plena, 3 – início da floração, 4 – início da frutificação e 5 senescência foliar, as quais estiveram em função dos seguintes quantitativos de chuva em milímetros: 126,5; 46,7; 75,4; 156,7; 19,4, respectivamente. Amostras compostas por folhas e galhos de até 0,5 cm de diâmetro, coletadas ao longo de toda a circunferência da copa de cada planta, a uma altura média de 1,5 m. Os detalhes da planta inteira e das folhas são apresentados na Figura 2. Para análise do teor de nutrientes, após secas em estufa de ventilação forçada a 65°C por 72h, as amostras foram moídas e preparadas para determinação de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN) com e sem o uso de amilase, fibra em detergente ácido (FDA), celulose, hemicelulose e lignina de acordo com metodologias descritas por Silva e Queiroz (2002), as quais foram efetuadas no Laboratório de Nutrição Animal do CCA/UFPB. 50 Figura 1. Totais diários de precipitação de chuva (mm), temperatura (ºC) e umidade relativa do ar - URA (%), ocorridas na estação experimental de São João do Cariri-PB, no período de janeiro a agosto de 2010. Poincianella pyramidalis Figura 2. Vista geral e detalhe das folhas de Poincianella pyramidalis. Avaliou-se a degradabilidade ruminal in situ de catingueira em cada período, utilizando-se um caprino adulto fistulado no rúmen; adotou-se o tempo de 48h para incubação das amostras. Foram acondicionadas em sacos de tecido não tecido (TNT), 0,5g das amostras moídas a 2 mm, os quis após a incubação, foram retirados, lavados e secos em estufa de ventilação forçada a 105°C, pesados, e posteriormente submetidos à 51 lavagem em detergente neutro. Determinaram-se as degradabilidades de MS e FDN pela proporção de seu desaparecimento na amostra (Casali et al., 2009). A avaliação da presença de compostos secundários foi realizada no Laboratório de Tecnologia Farmacêutica CCS/UFPB, utilizando-se um pool de todos os períodos de cada leguminosa. Foi realizado um prospecção fitoquímica para detecção da presença (+) ou ausência (-) de alcalóides, terpenos, taninos e flavonóides, sendo a abundância expressa pela quantidade de sinais. Realizou-se uma análise de ressonância magnética nuclear (RMN) de 1H e 13C em aparelho Varian Mercury 200 [200 MHz (1H) e 50 MHz (13C)] sobre o extrato bruto do pool (todas as fenofases) de Catingueira para detecção de flavonóides; para isto 30mg foram diluídas em 0,6 mL de metanol deuterado e o tetrametilsilano (TMS) foi utilizado como referência interna. A análise do teor de fenóis totais foi realizada no Laboratório de Bioquímica Vegetal do Departamento de Química Agrícola da UFRPE, de acordo com o método de Folin-Denis com o uso de Polivinilpirrolidona (PVP) de acordo com Bezerra Neto e Barreto (2011). Os dados de composição química e degradabilidade foram analisados quanto à variância entre os períodos e ao nível de 5% de significância pelo teste de Tukey. Efetuou-se análise de correlação, entre os valores de composição química e percentuais de degradabilidade in situ com a quantidade em milímetros do total de precipitação em cada período avaliado, utilizando-se o SAS. 52 RESULTADOS E DISCUSSÃO As diferenças encontradas para o teor de MS nas diferentes fenofases de Catingueira foram atribuídas principalmente à precipitação hídrica de cada período, as quais se correlacionaram negativamente (r= -0,5; p>0,05). O teor de MS das forrageiras está em função da quantidade de água contida em diversos tecidos, a qual varia principalmente com as condições de umidade de solo e do ar, da temperatura e das taxas fotossintéticas e de respiração da planta, mas também varia com o desenvolvimento e atividades metabólicas das plantas (Buxton e Fales, 1994; Marenco e Lopes, 2009). As plantas de Catingueira apresentaram aumento significativo na concentração de minerais entre as fenofases, sendo maior nas duas últimas; o que pode estar relacionado principalmente ao acúmulo ao longo do tempo de oxalato de cálcio, em vista de sua baixa mobilidade, e também de sílica (Van Soest, 1994; Webb, 1999; Nicodemo e Laura, 2001; Currie e Perry, 2007). A proporção de proteína encontrada nas plantas de Catingueira foi inferior aos valores relatados na literatura, variando de 13 a 8,6% da fase vegetativa à senescência foliar, fato este, relacionado à maior mobilidade de N dentro da planta, durante suas fenofases, e de sua concentração e disponibilidade no solo (Marenco e Lopes, 2009). Tal variação também foi observada por Araújo Filho e Carvalho (1998), cujos teores de PB variaram de 17 a 11% da fase vegetativa à senescência. O teor de proteína bruta encontrado nas fases de floração e frutificação foi de 10%; em geral, recomenda-se o início do período reprodutivo para o corte de forrageiras a serem utilizadas para conservação (Guim et al., 2004), tendo em vista que este nutriente pode ser redistribuído para os órgãos reprodutivos e ainda para os órgãos de reserva da planta, antes da queda das folhas. Deste modo, Gonzaga Neto, et al. (2001) e Mendonça Jr. et al. (2008) encontraram teores de PB de 11,25% e 12,31%, respectivamente, para o feno de catingueira confeccionado durante a fase de frutificação, valores próximos àqueles tabelados por Valadares Filho (2006). 53 Tabela 1. Porcentagem de nutrientes, taninos e degradabilidade in situ de MS e FDN de Poincianella pyramidalis em diferentes fenofases. Variáveis g/kg Ms Vegetativa Inicial Vegetativa Plena MS 502,4b 497,1b MM 56,8 b a 60,9 b 412,5d 59,1 b 64,6 ab 1,94 77,2ª 8,39 c 8,58 FDN s/amilase 452,4ª 476,1ªb 451,8ªb 435,1ªb 392,6c 3,67 FDN c/amilase 466,7 a ab ab bc 352,8 c 3,67 299,7 a 308,2 a 298,0ª 6,74 177,0 a 213,2 a 255,1ª 17,52 118,6 a a 166,8 a Taninos 259,3 a Deg MS 572,5ª 588,4ª a a Lignina Celulose Hemicelulose 87,3 129,2 ab 191,1 a 421,9 102,5 bc 557,9a 130,3 430,1 104,7 bc 453,8c C.V PB FDA 123,3 ab Início Início Senescência Floração Frutificação foliar 387,1 294,9 a 285,8 a 161,8 a 226,7 a 138,9 a b 44,1 40,3 b 19,73 c 17,92 ab 63,4 a 147,8ª 17,39 550,9ª 591,3ª 586,0ª 4,51 ab ab b 123,2 ab 86,7 200,7 a 101,1 185,3 Deg FDN 325,5 295,8 287,0 256,3 166,6 16,97 MS - Matéria Seca; PB - Proteína Bruta; FDN - Fibra em Detergente Neutro; FDA - Fibra em Detergente Ácido; MM - Matéria Mineral; DegMS – Degradabilidade de MS; DegFDN Degradabilidade de FDN. C.V – Coeficiente de variação. Médias seguidas da mesma letra na mesma linha, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p > 0,05). A concentração de FDN, ao contrário do esperado, tende a diminuir ao longo do ciclo fenológico (Tabela 1), verifica-se o menor teor de FDN, quando as folhas encontram-se em senescência. Com exceção da primeira fase, os resultados de análises com e sem o uso de amilase, demonstraram uma redução média de 4% da primeira para a segunda análise, percentual que pode representar resíduos de carboidratos não estruturais insolúveis, como o amido, os quais dependendo da concentração na amostra afetam a determinação real dos componentes da parede celular (Van Soest, 1994, Hall, 2003), sobre este fato, observar relações apontadas no capítulo 2, quanto à presença de grânulos de amido nas folhas e pecíolos. Os mecanismos fisiológicos envolvidos nesta fase, como a produção de etileno e ácido abscísico, tem importante efeito sobre o afrouxamento das paredes celulares nos tecidos senescentes (Taiz e Zeiger, 2009; Piotrowska e Bajguz, 2011), o que pode implicar na mobilização destes carboidratos para reserva vegetal, reduzindo a qualidade da forragem. Observou-se redução dos valores de celulose e hemicelulose em função do aumento de lignina (Tabela 1), a qual contribuiu para baixa degradabilidade da fração de FDN ao longo das fenofases. 54 Os valores de lignina foram elevados em todas as fases avaliadas, de acordo com Apezzato da Glória e Carmello Guerreiro (2006), o conteúdo de lignina pode representar até 35% da parede celular, contudo, os altos valores de tanino (Tabela 1), além de proteínas da parede celular, podem se ligar à lignina superestimando seus valores reais (Van Soest, 1994). Os valores de degradabilidade de MS (Tabela 1) não variaram ao longo dos estágios fenólogicos, enquanto a degradação da FDN diminuiu em relação às fases. Não houve correlação entre os totais de precipitação hídrica de cada fenofase e a degradação de MS e FDN. Em média, a degradabilidade in situ de MS foi mais alta que a digestibilidade in vitro tabelada por Valadares Filho (2006). Em Catingueira, a digestibilidade in vitro de MS pode variar de 58 a 50% da fase vegetativa à reprodutiva e reduzir a 30% na senescência (Araújo Filho e Carvalho, 1998). O feno de catingueira na frutificação, avaliado por Gonzaga et al., (2001) apresentou 50,5% de digestibilidade de MS e 41,7% de digestibilidade de FDN. Através de prospecção fitoquímica, foi detectada a presença, de duas classes principais de compostos secundários: terpenos e compostos fenólicos (Tabela 2). A quantidade de sinais (+) indica a intensidade da presença do composto na amostra. Verificou-se a presença de esteróides, constituintes de óleos essenciais; esteróides e saponinas podem afetar as características organolépticas do leite e seus derivados (Belviso et al., 2011). Esses compostos podem agir como hormônios vegetais, podendo atuar como toxinas e inibidores do forrageio pelas espécies herbívoras (Cheng et al., 2007). As saponinas, cuja presença não foi detectada nas plantas de Catingueira, são importantes agentes de defesa vegetal, por complexarem-se aos componentes esteróides, proteínas e fosfolipídeos das membranas de fungos e protozoários ruminais, por exemplo, desestruturando-os, além de impedirem o crescimento de bactérias gram positivas da flora ruminal (Garcia e Carril, 2009; Lima Jr, et al., 2010), acarretando portanto, em perdas ao processo de degradação dos alimentos. 55 Tabela 2. Presença ou ausência de compostos secundários em extrato bruto de Poincianella pyramidalis Poincianella pyramidalis Alcalóides Esteróides + Saponinas - Flavonóides Taninos +++ + Dentre os compostos fenólicos estão presentes flavonóides e taninos, alguns tipos de flavonóides são precursores de taninos condensados (Van Soest, 1994). O teor de taninos totais em catingueira, de acordo com Araújo Filho e Carvalho (1998) é considerado alto, decrescendo de 20 a 16% do crescimento vegetativo à frutificação, caindo para 9% na fase de senescência; Neste trabalho, embora não diferentes significativamente, os valores do teor de taninos apresentam uma tendência de diminuição ao longo das fenofases avaliadas. A variação no teor de taninos entre espécies, indivíduos e suas fenofases, tem relação com a pressão de herbivoria e as condições ambientais que influenciam o investimento das plantas na produção destes compostos, principalmente quando as condições de crescimento, como umidade e nutrientes do solo, são limitantes (Muir, 2011; Barbehenn e Constabel, 2011) Os taninos influenciam a qualidade das forrageiras principalmente pela adstringência que pode afetar a palatabilidade e o consumo das plantas verdes (Muir, 2011), e por limitações no aproveitamento da forrageira pela ligação com proteínas e outras macromoléculas, como os componentes da parede celular (Reed, 1995; Barry e MacNabb, 1999), fato que pode ter contribuído para baixa degradabilidade da fração de FDN. A quantidade de taninos pode ter forte relação com a quantidade de proteína protegendo-a da degradação no rúmen. Os relatos de estudos sobre o efeito de taninos condensados na ingestão e digestibilidade de forrageiras nativas, apontam variações entre 4 e 8% para a quantidade mínima negativa de taninos na dieta (Barry, 1984; Barry e Duncan, 1985; Cruz et al. 2007; Muir, 2011). A presença de flavonóides é intensa (Tabela 03), cuja presença é relatada por Bahia et al., (2010) e Bahia et al., (2005); o extrato de catingueira em estudo também mostrou-se rico em flavonóides através da análise por RMN 1H evidenciaram-se absorções entre 6,1 e 6,3, características do Anel A de flavonóides e entre δH 7,06 e 7,50 56 características do Anel B de flavonóides (Figura 3). Além disso, nesse mesmo espectro observou-se sinais entre δH 3,0 e 5,3 compatíveis com unidades osídicas comuns em Fabaceae. Por se tratar de análise de extrato bruto com dificuldade de interpretação dos sinais, decidiu-se fazer uma análise de carbono treze sendo possível observar dados também compatíveis com flavonóides e unidades osídicas, sendo eles: deslocamento químico em δC 183,9 atribuído a C-4, conjunto de sinais em δC 168,8 a 157,2 característicos dos carbonos C-2, C-5, C-7 e C-9 da unidade benzopirano dos flavonóides. Observaram-se também sinais entre δC 133,6 e 112,9 característicos de carbonos sp2 de flavonóides. Sinais norteadores e que corroboram com deslocamentos químicos de flavonóides foram observados em δC 96,6 e 100. Ambos CH compatíveis com deslocamentos de C-6 e C-8 e os sinais em δC 106,5,105,5 e 101,8 carbonos não hidrogenados que corroboram de acordo com a literatura para fusão de unidades flavonóidicas (Figura 4) (Bahia et al., 2005). A presença de biflavonóides é rara em espécies de leguminosas (Bahia et al., 2010) sendo importante a avaliação destes compostos e suas interelações no ecossistema de pastagem para o entendimento de seus potenciais de utilização. A presença dos compostos secundários, em geral, deve ser considerada por suas características antinutricionais e potenciais medicinais; conhecer e determinar a presença e quantidade de compostos fenólicos, como os flavonóides e taninos, é importante ainda, pois ambos podem ser rapidamente oxidados, no momento em que a planta é injuriada pela mastigação ou corte, formando barreiras físicas nestas superfícies que impedem a degradação (Barbehenn e Constabel, 2011). Assim, as concentrações de lignina e demais compostos secundários são um importante fator na utilização de catingueira como forrageira, sendo importante o estudo das formas de fornecimento desta forrageira e seus resultados em desempenho animal, tendo em vista a aproveitar de maneira sustentável os recursos naturais da caatinga. 57 OH OH C B HO O D E A OH O Figura 3 – Espectro de RMN 1H de Poincianella pyramidalis [ 200 MHz, CD3OD] 58 Figura 4 – Espectro de RMN 13C de Poincianella pyramidalis [50 MHz, CD3OD] 59 CONCLUSÕES A maturidade de Poincianella pyramidalis influencia a variação dos teores de matéria mineral, proteína bruta e fibra em detergente neutro, enquanto os valores de matéria seca estão associados à disponibilidade hídrica em cada fenofase. A presença de compostos fenólicos como flavonóides e biflavonóides, o alto teor de taninos e lignina ao longo das fenofases devem ser consideradas quanto aos seus potenciais anti nutricionais, os quais podem afetar a degradabilidade dos componentes da parede celular. 60 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, M.V.M., et al. Levantamento florístico e estrutura Fitossociológica do estrato herbáceo e subarbustivo em Áreas de caatinga no cariri paraibano. Revista Caatinga, v.22, n.1, p.229-237, 2009. APEZZATO DA GLÓRIA, B.; CARMELLO-GUERREIRO,S. M. Anatomia Vegetal. Viçosa: UFV, 2006. ARAUJO FILHO, J.A.; CARVALHO, F.C. Fenologia e valor nutritivo de espécies lenhosas caducifólias da caatinga. Sobral: Embrapa Caprinos – Centro Nacional de Pesquisa de Caprinos, 1998 (Comunicado Técnico n. 39). BAHIA, M. V., et al. Biflavonoids and other Phenolics from Caesalpinia pyramidalis (Fabaceae) J. Braz. Chem. Soc., v. 16, n. 6B, p. 1402-1405, 2005. BAHIA, M. V., et al. 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Adicionalmente, as avaliações realizadas sob diferentes períodos do ciclo fenológico da planta, os quais estão diretamente relacionados aos pulsos e interpulsos de precipitação do semiárido, permitem confirmar a alta adaptabilidade desta espécie às condições da caatinga. Em geral, relatos apontam a preferência de caprinos e ovinos por consumir as folhas de catingueira após a última fenofase (senescência) quando caem e formam a serrapilheira, contudo, apesar do elevado teor de compostos fenólicos, foi possível constatar as primeiras fases do desenvolvimento como aquelas em que a planta apresenta seu melhor teor nutricional. O uso de catingueira na alimentação animal pode vir a ser uma interessante alternativa alimentar, tendo em vista a abundância desta planta na caatinga, suas características nutricionais e a necessidade de aproveitamento dos recursos naturais do semiárido. Contudo, estudar formas de fornecimento e avaliar o desempenho de animais sob dietas compostas com catingueira na forma de feno, por exemplo, são imprescindíveis para incentivar ou descartar sua possibilidade de utilização para fins forrageiros. Além disto, aspectos anatômicos e fisiológicos, como a função de tricomas pedunculados na folha e as relações ambientais com a síntese e acúmulo de fotoassimilados podem ser importantes indicativos para estudos posteriores, cujas elucidações certamente contribuirão para a melhor utilização desta espécie em suas mais variadas finalidades.