Aprender e empreender na educação e na ciência Santa Maria, RS, 03 a 05 de outubro de 2012 SATISFAÇÃO DO USUÁRIO INTERNADO EM HOSPITAL PÚBLICO: UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA1 RODRIGUES, Marlene Kreutz2; SCHMIDT, Alberto Souza3; CASASSOLA, Marta4; GODOY, Leoni Pentiado5; LORENZETT, Daniel Benitti6; LOSEKANN, Andressa Girardi7; GODOY, Taís Pentiado8; SOUSA, Antão Tadeu de9 1 Trabalho de Pesquisa _UFSM Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: [email protected]; [email protected] 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 RESUMO O presente estudo possui um caráter bibliográfico e foi desenvolvido como objetivo de identificar a produção de estudos brasileiros e latino americanos, publicados nos últimos cinco anos, sobre a temática “satisfação dos usuários com o serviço recebido durante a internação hospitalar” no intuito de encontrar evidências da (não) utilização do Modelo de Excelência em Gestão. Forão encontrados 15 artigos relacionados ao tema. No que tange o ano de publicação, verificou-se um crescente interessen pela temática nos últimos anos, sendo o ano de 2010 com maior número de publicações (40%). A maioria das pesquisas sobre satisfação do usuário abordou apenas um dos seguintes aspectos: o atendimento da equipe de enfermagem, o atendimento médico, a alimentação fornecida durante a internação, o atendimento de outros profissionais. Essas abordagens se deram de forma fragmentada, com exceção de um estudo que abordou estruturas, processos e resultados com prevê o Modelo de Excelência em Gestão. Palavras chaves: satisfação do usuário, satisfação do cliente, hospital. 1. INTRODUÇÃO A satisfação do cliente nem sempre foi analisada abordando todos os seus aspectos dentro das organizações. Durante muito tempo a qualidade era baseada apenas nas decisões, habilidades e competências da equipe médica. A partir dos anos 90, passou-se a falar em qualidade na área de saúde hospitalar. Porém, recentemente o cliente passou a ter um papel fundamental neste processo e sua opinião foi introduzida no processo de avaliação (MALIK e TELES, 2001). Conceitualmente, a expressão “cliente” ou “usuário” caracteriza-se como aquele que recebe o serviço, ou o benefício de determinado trabalho, ou seja, para quem alguém efetuou ou oferece um serviço e sua satisfação tornou-se fator de sucesso (POLIZER e INNOCENZO, 2006). Conhecer a percepção do cliente e sua satisfação é uma estratégia importante na gestão da qualidade nos serviços de saúde, podendo servir como um guia no gerenciamento do serviço. O desempenho do serviço e os seus resultados, na maioria das vezes, estão focados nas necessidades dos clientes e em suas expectativas. Assim, a qualidade do serviço depende de quanto o instrumento de avaliação realmente reflete e 1 Aprender e empreender na educação e na ciência Santa Maria, RS, 03 a 05 de outubro de 2012 corresponde às expectativas dos clientes. Entretanto, as expectativas podem ser influenciadas por diversos fatores. Assim, reconhecê-las nem sempre é tarefa fácil e exige preparo. Dentre os fatores que influenciam a qualidade em serviços, destacam-se: competência profissional, satisfação do usuário, acessibilidade, eficácia e eficiência. Donabedian (1979) entende qualidade como aquilo que é bom para o consumidor, definido por ele e pelo prestador de serviços, mediante a análise da satisfação dos usuários em relação aos aspectos estruturais, processos e resultados. A avaliação do ponto de vista do usuário é feita, sobretudo, por meio da categoria aceitabilidade, que se refere à conformidade dos serviços oferecidos em relação às expectativas e aspirações dos pacientes e seus familiares. Para Parasuraman et al. (1985), uma das metodologias mais conhecidas para avaliar serviços privados de diferentes naturezas integra cinco dimensões do atendimento: agilidade, confiabilidade, empatia, segurança e tangibilidade, a partir do cálculo da taxa de satisfação relativa e do cálculo de gaps, expressão inglesa que significa “intervalo”. Essa metodologia considera a expectativa do usuário em relação ao serviço e a importância que ele confere a cada uma das dimensões. Conceitualmente, as duas propostas são similares em seus pressupostos, pois implicam em expectativas atendidas ou não. Por outro lado, metodologicamente, a dimensão da aceitabilidade comporá as variáveis por meio das quais os pacientes podem influir de forma mais direta na definição e avaliação da qualidade dos serviços de saúde, tais como condições de acessibilidade ao serviço, relação médico-paciente, adequação das dependências e instalações, preferências em relação aos efeitos e custos do tratamento, bem como tudo aquilo que o paciente considera justo ou equânime. A satisfação é definida como a reação do cliente à experiência de utilizar um serviço ou adquirir um produto de acordo com a sua expectativa. Assim, a expectativa do cliente constitui padrões de qualidade, pois eles avaliam a qualidade do serviço comparando o que desejam ou esperam consequentemente, quanto mais se conhece o cliente, melhor se conhece suas expectativas, criando a possibilidade de estratégias de melhorias. Nas últimas décadas, conhecer a satisfação do usuário passou a ser objetivo tanto de serviço público quanto privado. Assim, o termo usuário passa a aparecer nas pesquisas de avaliação em saúde. É preciso levar em conta algumas diferenças relevantes quando se avaliam serviços públicos e privados. No setor público, o usuário pode se colocar ora como consumidor, avaliando os serviços do ponto de vista de seus ganhos individuais, ora como cidadão, 2 Aprender e empreender na educação e na ciência Santa Maria, RS, 03 a 05 de outubro de 2012 avaliando os serviços ao levar em conta a sociedade como um todo. Como consumidor, ele pode desejar um tempo de espera menor para a consulta e atendimento mais ágeis, mas, como cidadão, pode querer que todas as pessoas sejam atendidas, implicando um tempo de espera maior. No que se refere à escolha, no setor privado, o cliente, pode procurar outro serviço ou outro profissional, enquanto no setor público essa possibilidade é limitada, quando não impossível (VAITSMAN e ANDRADE, 2010). Na Europa e nos EUA, a partir do final dos anos 70, vários movimentos fizeram parte de um processo mais amplo de transformações econômicas, políticas e culturais, e que deram aos pacientes um novo lugar na avaliação dos serviços de saúde. No setor saúde, um dos elementos que favoreceram as políticas reformadoras e de restrição de gastos foi o aumento dos custos com os serviços de saúde, e o surgimento de novos modelos de gestão visando maior transparência, qualidade e eficiência dos serviços (CESARINO et al., 2009). No Brasil, existem 45 hospitais públicos universitários, conforme o CNES (2011). Diante desses números, é preciso que essas instituições, especializadas em atender o indivíduo fragilizado, reconheçam a realidade e o comportamento dos seus pacientes, para oferecer um tratamento que os satisfaça de acordo com as suas necessidades (ESPIRIDIÃO e TRAD, 2006). Na saúde, o conceito de qualidade desenvolvido por Donabedian (1979), permitiu avançar no sentido de incorporar os não especialistas, no caso os pacientes, na definição de parâmetros e na mensuração da qualidade dos serviços. A partir de então, os usuários não puderam mais ser ignorados, e a idéia de satisfação do paciente como um atributo da qualidade se tornou um objetivo em si e não apenas um meio de produzir a adesão do paciente ao tratamento como era comum anteriormente (WILLIAMS, 1994). No Brasil, movimentos e associações reivindicando melhores serviços, seja como consumidor, cidadãos ou usuários de serviços públicos, tomaram força a partir dos anos 80, culminando com a criação do SUS na constituição de 1988. No período de 1997 a 2003 foi consolidado o Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ) como marco referencial para a excelência em gestão no País e, desde 2004 busca conscientizar e disseminar os conceitos e fundamentos do Modelo da Excelência em Gestão, por meio de critérios de excelência. No Rio Grande do Sul, foi criado o Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade (PGQP), a partir dos critérios estabelecidos pelo PNQ, a fim de aumentar a competitividade do Estado (FNQ, 2008). O Ministério da Saúde, conforme o manual das organizações prestadoras de serviços de saúde (2010), influenciado pela experiência da Joint Comission, do Colégio 3 Aprender e empreender na educação e na ciência Santa Maria, RS, 03 a 05 de outubro de 2012 Americano de Cirurgiões, criou 1990 a Organização Nacional de Acreditação Hospitalar, com a intenção de melhorar a gestão nas instituições de saúde brasileiras com a implantação do Programa Brasileiro de Acreditação Hospitalar, atualmente coordenado pelo Consórcio Brasileiro de Acreditação Hospitalar. Tais sistemas de gestão são semelhantes em sua essência, incluindo em sua sistemática de avaliação estruturas, processos e resultados. Assim, em seus fundamentos prevalece a visão sistêmica da organização gerando indicadores de estrutura, processos e resultados (POLIZER e INNOCENZO, 2006). Nesse contexto, nas instituições de saúde, criou-se um campo propício e um mercado de pesquisas de avaliação a partir das percepções dos usuários, que passam a ser importantes ferramentas de gestão na organização dos processos de trabalho. As pesquisas passam a ser feitas por meio de coletas direta de informações junto aos respondentes por meio de questionários, principalmente a partir da segunda metade da década de 1990, com a promoção da accountabillity e a partir do fortalecimento do controle social no âmbito do SUS, por intermédio da comunidade nos processos de planejamento e avaliação (ZEN, 2008). A partir de então, diversos estudos foram realizados contemplando a temática satisfação do usuário em relação aos serviços recebidos durante a internação hospitalar, em unidades internação como pediatria, centro de tratamento intensivo, unidade materno infantil. Porém, evidencia-se que os estudos ainda são segmentados, ou seja, não possuem uma abordagem sistêmica. Este estudo foi motivado pela seguinte quastão problema de pesquisa: as metodologias utilizadas no desenvolvimento das pesquisas de satisfação do usuário seguem o fundamento de visão sistêmica da organização preconizado pelo Modelo de Excelência em Gestão? O estudo teve por objetivo identificar a produção de estudos brasileiros e latino americanos, publicados nos últimos cinco anos, sobre a temática “satisfação dos usuários com o serviço recebido durante a internação hospitalar” no intuito de encontrar evidências da (não) utilização do Modelo de Excelência em Gestão. 2. METODOLOGIA DA PESQUISA O estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica. A pesquisa bibliográfica implica em um conjunto ordenado de procedimentos na busca por soluções, tendo-se em vista o objeto de estudo (LIMA e MIOTO, 2007). A busca dos resumos foi realizada no mês de junho de 4 Aprender e empreender na educação e na ciência Santa Maria, RS, 03 a 05 de outubro de 2012 2011, junto à base de dados de Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), disponível na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Para tal, utilizou-se as seguintes expressões como critério de busca: “satisfação do usuário”, ou “satisfação do paciente”. Posteriormente, para refinar a pesquisa, definiu-se que para compor a amostra da pesquisa o artigo deveria conter em seu resumo a palavra “hospital”. Na sequência procedeu-se a leitura de todos os títulos e resumos tendo-se em vista os critérios de inclusão e de exclusão do estudo. Na pesquisa bibliográfica, a leitura constitui-se na principal técnica, pois permite identificar as informações e os dados contidos no material selecionado, bem como verificar as relações existentes entre eles de modo a analisar a sua consistência. Os critérios de inclusão foram: apresentar o desfecho “satisfação do usuário no atendimento recebido durante a internação hospitalar”; ter sido publicado nos últimos cinco anos (2006 a 2010), ter o resumo disponível on line e apresentar como população/sujeitos estudados os usuários ou familiares de serviço público hospitalar, internados, independentemente do porte da instituição. Foram excluídos os resumos que não apresentavam o desfecho pretendido, os que não explicitavam que o estudo pesquisava satisfação de usuários e/ou pacientes, os estudos de caso realizados em serviços hospitalares privados e/ou a nível ambulatorial. Foram incluídos teses, dissertações e artigos. Dessa forma, foram lidos os títulos e resumos de 462 estudos. Destaca-se que 162 publicações foram excluídas por serem estudos desenvolvidos a nível ambulatorial, 184 não possuíam o desfecho pretendido para este estudo, 20 pesquisas não explicitavam que haviam sido realizados com usuários de serviço, 70 estudos foram realizados com profissionais de saúde, 10 estudos tratavam de estudo de caso com pacientes em internação domiciliar e 14 não possuíam o resumo disponível on line. Ao final da análise, 15 resumos atenderam aos critérios de inclusão previamente estabelecidos e compuseram o corpus deste estudo. A análise dos resumos que atenderam aos critérios de inclusão foi realizada em duas etapas. Na primeira etapa, para facilitar a análise dos dados, os estudos foram organizados em um quadro-resumo com os seguintes itens: número da publicação, título do resumo, ano de publicação, tipo de publicação, periódico, tipo de estudo, região ou país, material e método, população, cenário, abordagem. Na segunda etapa, utilizou-se a estatística descritiva para calcular as freqüências absolutas e relativas dos itens que compunham o quadro resumo. 5 Aprender e empreender na educação e na ciência Santa Maria, RS, 03 a 05 de outubro de 2012 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Pesquisas de satisfação destacam o paciente como parte integrante e fundamental nos serviços de saúde, oferecendo subsídios no processo de gestão e consequentemente possibilitam apontar algumas opções para um repensar na organização dos processos de trabalho, objetivando a melhoria contínua do serviço. No que tange o ano de publicação, nos 15 resumos deste estudo observou-se que a temática “satisfação dos usuários com o serviço recebido durante a internação hospitalar” tem sido publicada de forma crescente nos últimos anos, sendo o ano de 2010 com maior número de publicações (40%). Nos anos de 2006, 2007 e 2009 houve três publicações (20%), e no ano de 2008 uma publicação (6,66%), acredita-se que o interesse pela temática esteja em crescimento. Observou-se nos últimos dois anos um crescente interesse em Programas de gestão da qualidade. A preocupação em ouvir o cliente e conhecer sua percepção a respeito dos serviços oferecidos, além da necessidade de conhecer sua expectativa tem aumentando nos últimos anos. Certamente, a partir de 1990, iniciativas relacionadas ao processo de acreditação hospitalar, prêmio nacional de qualidade, e o Modelo de Excelência em Gestão do Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade começaram a ser incorporadas, visando implantar um processo de melhoria da assistência (POLIZER e INNOCENZO, 2006), pois a qualidade consiste nas características do produto e deve visar às necessidades do consumidor, proporcionando satisfação em relação ao produto ou serviço, afirmado por alguns ideólogos, considerados gurus na área da gestão como Juran e Deming. A avaliação da satisfação na ótica dos usuários dos serviços de saúde exibe quadro complexo, ainda em fase de produção de conhecimento mais do que de consolidação desse conhecimento, exigindo dos pesquisadores grande flexibilidade na escolha do método avaliativo e dos indicadores que mais se ajustem às necessidades do sistema (GOUVEIA, 2005). A maioria dos resumos (13) era de artigos científicos, dois eram resumos de dissertações (13,33%) e um de tese (6,66%). Quanto ao tipo de estudo, todos (100%) foram pesquisas de campo. Nos últimos cinco anos, dos 12 artigos publicados sobre a temática, a Revista Avances en Enfermería Publicou dois estudos (16,66%), e as Revistas Ciência e Saúde Coletiva, Ciência médicas e Biológicas, Texto & Contexto em Enfermagem, Panamericana em Saúde Pública, Arquivo Brasileiro de Oftalmologia, Repertorio de medicina y cirugía, Revista da rede de enfermagem do Nordeste, Administração em Saúde, Brasileira de Enfermagem, Escola Enfermagem da USP, Caderno de Saúde Pública 6 Aprender e empreender na educação e na ciência Santa Maria, RS, 03 a 05 de outubro de 2012 publicaram um estudo cada. Para a classificação quanto à região ou País em que foram realizados os estudo, considerou-se treze estudos, uma vez que duas pesquisas não informavam a região ou Pais de origem. Assim, Os estudos concentram-se na região sudeste e nordeste (53,33%). Em Córdoba foram encontrados 2 estudos (13,33%), e Colômbia e Bogotá tiveram um estudo cada (6,66%). Quanto ao método utilizado, o maior percentual, seis (40%) dos estudos utilizaram a abordagem qualitativa, quatro estudos (26,66%) foram quantitativos e cinco (33,33%) não informaram o tipo de estudo. No que tange a população estudada, a maioria dos estudos, treze (86,66%) foi realizada com usuários adultos e duas pesquisas (13,33%) foram realizadas com pais de crianças internadas. Dentre os 15 estudos, os cenários mais pesquisados foram: hospitais, onze (73,33%) e unidade intensiva, três (20%). As unidades de urgência e emergência e obstétrica foram cenários de um estudo (6,66%). No que se refere à abordagem dos estudos, a maior parcela, sete (46,66%) tinha como foco de avaliação a satisfação do usuário/paciente com o atendimento da equipe de enfermagem. Dois estudos abordavam a validação de instrumentos de pesquisa de satisfação. A satisfação com a alimentação, com o atendimento oftalmológico, na urgência e emergência, em relação à atenção médica, a percepção materna a cerca da assistência ao filho, assistência materna ao nascimento foram pesquisados em um (6,66%) estudo. Aspectos sociodemográficos, estruturas, processos e resultados foram abordados em apenas um estudo (6,66%). Constata-se o predomínio de pesquisas relacionadas à satisfação do usuário com a assistência recebida, de forma fragmentada, desenvolvidas em alguns setores/unidades dos hospitais. Não se verificou a preocupação com a visão sistêmica, ou seja, conhecer a percepção do cliente em relação aos processos relacionados ao cuidado prestado; a categoria estrutura que se remete ao espaço físico, número de trabalhadores, bem como suporte tecnológico e financeiro. Os resultados se referem ao estado de saúde do usuário, após o processo de atendimento, tanto quanto seu grau de satisfação com o atendimento recebido e o conhecimento da experiência vivenciada, conforme preconizado por Donabedian, buscando atender ao Modelo de Excelência em Gestão (SELEGHIM, 2010). Sabe-se, no entanto, que não é recente a preocupação e a discussão a cerca da importância de abordar o usuário como foco central no processo de avaliação da assistência a sua saúde. Apesar disso, no Brasil, a prática de ouvir o usuário precisa ser melhorada, em razão de que a sua opinião pode servir como base para direcionar processos de mudança que visem à melhoria da qualidade nos serviços oferecidos. 7 Aprender e empreender na educação e na ciência Santa Maria, RS, 03 a 05 de outubro de 2012 O significado da satisfação do paciente ou usuário depende do papel que este atribui em relação ao sistema de saúde, aspecto que não costuma ser apreendido pelos surveys. Autores sugerem que a compreensão das visões dos usuários dos serviços deve passar primeiro pelo entendimento do sentido dos seus direitos e deveres. As pesquisas de satisfação partem do pressuposto que todos os usuários estejam desempenhando um papel crítico e acabam por interpretar os dados de acordo com isso: a possibilidade de aceitação passiva do serviço não costuma ser considerada. Na avaliação do serviço público, além da cultura relacionada a princípios e valores específicos do setor público agrega-se a dificuldade usual em conseguir o atendimento o que resulta em baixa expectativa e uma avaliação muito boa, pois, as pessoas não esperam muito das instituições públicas (VAITSMAN e ANDRADE, 2010). As práticas de saúde envolvem muitas considerações para que tenham como produto final o cuidado esperado, no qual está implícito que nos serviços ocorra: acolhimento, relações de responsabilidade, autonomia dos sujeitos envolvidos, necessidades de saúde, resolubilidade, compromisso, políticas publicas, enfim a integralidade (GOUVEIA et al., 2005). Alguns autores relatam que na visão do paciente, os atributos que ele considera mais importantes para um cuidado de qualidade estão voltados para aspectos interpessoais no relacionamento entre este e o profissional que presta o cuidado/atendimento (OLIVEIRA e GUIRARDELLO, 2006). A busca pela excelência nas ações fundamenta-se na participação de todos os integrantes da organização e tem como objetivo fornecer um serviço de qualidade, que atenda de forma confiável e segura as expectativas do usuário (BALSANELLI e JERICÓ, 2005). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A maioria das pesquisas sobre satisfação do usuário abordou apenas um dos seguintes aspectos: o atendimento da equipe de enfermagem, o atendimento médico, a alimentação fornecida durante a internação, o atendimento de outros profissionais. Essas abordagens se deram de forma fragmentada, com exceção de um estudo que abordou estruturas, processos e resultados com prevê o Modelo de Excelência em Gestão, não entanto limitado à assistência de enfermagem. Sugere-se a elaboração e validação de um instrumento de avaliação da satisfação do usuário, específico para hospitais públicos universitário, com visão sistêmica, em conformidade com o Modelo de Excelência em Gestão. Este instrumento deve seguir a metodologia de pesquisa preconizada por Donabedian e Parasuraman, tendo por base a 8 Aprender e empreender na educação e na ciência Santa Maria, RS, 03 a 05 de outubro de 2012 estrutura, processos e resultados em toda instituição. Dessa forma, a categoria estrutura avalia os aspectos tangíveis, a categoria processos, avalia o acesso, cuidado, processo de trabalho e tratamento e a categoria resultados, avalia a resolutividade e estratégias na busca da agilização das ações de saúde. Também deve ser definida uma metodologia sistemática de aplicação e análise dos resultados. Assim, esses hospitais poderão usar os resultados para referenciais comparativas que possibilitam a efetivação de melhoria na gestão com mensuração dos indicadores. Referências BALSANELLI, A.P.; JERICÓ, M.C. Os reflexos pela qualidade total em instituições hospitalares brasileiras. Acta Paul Enferm, 2005;18(4):397-402. CESARINO, et al. Avaliação do grau de satisfação de pacientes renais crônicos em hemodiálise. São Paulo: Acta Paul Enferm. V. 22 (Especial Nefrologia), p.519-523, 2009. DONABEDIAN, A. The Quality of Medical Care: A Concept in Search of a Definition. J. Fam. Practic. V. 3, nº 9, p.277-284, 1979. ESPIRIDIÃO, M.A.; TRAD, L.A.B. 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