ASPECTOS FISIOLÓGICOS E PRODUÇÃO DE GIRASSOL CULTIVADO SOB TÉCNICAS DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DA CHUVA F. C. Alvino1; J. A. C. Wanderley2; P. D. Fernandes3; M. E. B. Brito4; C. F. Barreto1; D. T. Leite5 RESUMO: A cultura do girassol apresenta ciclo de cultivo curto, diante do fato, pode ser adaptável à região semiárida, a qual apresenta período de chuvas limitado no tempo e em quantidade, notadamente se forem usadas técnicas de conservação de água. Assim, objetivou-se avaliar os aspectos fisiológicos e a produção na cultura do girassol sob técnicas de captação de água da chuva. Para tanto, foi conduzido um experimento em campo, com quatro tratamentos, camalhões, sulcos, bacias e sem estrutura, repetidos em seis blocos, sendo avaliado as trocas gasosas no período de maior estiagem e a produção da cultura no final do ciclo. Verificou-se que houve diferença entre as técnicas de cultivo quanto aos aspectos fisiológicos e de produção, sendo que o cultivo do girassol é mais adequado em bacias de cultivo, obtendo-se melhores aspectos fisiológicos e produção. PALAVRAS-CHAVE: Bacias, sulcos e camalhões. PHYSIOLOGICAL ASPECTS AND PRODUCTION OF SUNFLOWER UNDER TECHNIQUES OF CAPTURE OF RAINWATER SUMMARY: The Sunflower has short crop cycle, before the fact, can be adapted to the semiarid region, the rainy season which has limited time and quantity, especially if they are used for the conservation of water. Thus, in order to evaluate the physiological aspects and production in sunflower cultivation techniques in capturing rainwater. To that end, were conducted a experiment with four treatments, ridges, furrows, basins and without structure, repeated in six blocks, evaluated gas exchange during drought and higher crop yield at the end of the cycle. It was found that there was no difference between the cultivation techniques in the physiological and production, and the cultivation of sunflower is most suitable for cultivation in ponds, resulting in better physiological and production. KEYWORDS: basins, furrows and ridges. 1 Graduando Agranomia, Centro de Ciência e Tecnologia Agroalimentar, (UFCG). Rua Jairo Vieira Feitosa, s/n, CEP: 588840-000, Pombal, PB. E-mail: [email protected] 2 Mestrando em Engenharia Agrícola-Universidade Federal de Campina Grande, (UFCG), Campina Grande – PB 3 Prof. Doutor, Depto de Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande, PB. 4 Prof. Doutor, Centro de Ciência e Tecnologia Agroalimentar, UFCG, Pombal, PB. 5 Mestranda Sistemas Agroindustriais, , Centro de Ciência e Tecnologia Agroalimentar, UFCG, Pombal, PB F. C. Alvino et al. INTRODUÇÃO A importância da cultura do girassol (Helianthus annuus L.) no mundo deve-se à excelente qualidade do óleo que se extrai de suas sementes (Rossi, 1998). Comparado a outras culturas o girassol tende a ser tolerante ao estresse hídrico devido a características morfológicas e fisiológicas, ao sistema radicular profundo e também a algumas modificações metabólicas induzidas pela redução da disponibilidade da água no solo. A taxa de transpiração pode ser utilizada como um indicador do metabolismo, que está intimamente ligada ao processo fisiológico da planta. A resistência à difusão da água pelos estômatos é baixa; os estômatos são grandes, numerosos e densos, principalmente na face inferior do limbo. No Nordeste, principalmente na região semiárida são muitos os problemas relacionados com o manejo de água de chuva e a conservação do solo, influenciados principalmente pelos fatores climáticos, com baixa ocorrência de chuvas e sua irregularidade no espaço e no tempo, com alta intensidade em curtos períodos. Uma das alternativas seria o sistema de captação de água in situ que consiste na modificação da superfície do solo de modo que o terreno entre as fileiras de cultivo sirva de área de captação. Essa área apresenta uma inclinação que intensifica o escoamento superficial ao mesmo tempo em que direciona a água para a porção do solo explorada pelo sistema radicular da planta (Porto et al.,1990). Diante do exposto objetivou-se avaliar os aspectos fisiológicos e produção de girassol cultivado em sistema de captação de água in situ no sertão da Paraíba. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em campo, sob sequeiro, entre abril e junho de 2011, em uma área localizada na Universidade Federal de Campina Grande, situada no Município de Pombal, PB, Sertão Paraibano. O delineamento experimental foi o de blocos casualizados, com quatro tratamentos sendo três técnicas de preparo do solo em camalhões, sulcos e bacias, mais uma testemunha sem preparo do solo, repetidas em seis blocos, totalizando de 24 parcelas. Cada parcela foi constituída de quatro linhas de seis metros espaçadas em 0,8m entre si, perfazendo uma área de 19,2 m2, utilizaram-se sementes da cultivar Hélio 250 (H250) obtidas junto a EMBRAPA, utilizando-se do espaçamento de 0,5 m entre covas nas linhas (Castro et al., 1996). A todos os tratamentos foram adicionado 10 litros de esterco bovino para cada m2, como também restos de palhada como cobertura morta. Durante a condução, com uso de termohigrometro, foram coletados dados climático referente a umidade relativa, temperatura, sendo, ainda, mensurada a precipitação com uso de um pluviometro, realizou-se monitoramaneto referente a umidade do solo por gravimetria de acordo com metodologia contida em (Guerra, 2000). As avaliações fisiológicas foram realizadas com o uso de um IRGA (Analizador de gases na faixa infravermelho) aos 50 e 57 dias após a semeadura (DAS) em quatro plantas de cada parcela. A avaliação de produção se deu pela ocasião da colheita aos 75 (DAS), mensurando-se a produtividade dos grãos e peso dos capítulos. F. C. Alvino et al. Os dados obtidos para indices fisiológicos e produção foram submetidos às análises de variâncias e teste de tukey a niveis de 1 e 5% de probabilidade com base em metodologia contida em Ferreira (2000). RESULTADOS E DISCUSSÃO Analisando-se a primeira situação (Tabela 1), verifica-se que as plantas de girassol tiveram comportamento diferente quanto à fotossíntese e a eficiência na carboxilação em função das técnicas de cultivo utilizadas. Tal fato leva a considerar duas situações, a primeira relacionada a sensibilidade destas variáveis, notadamente a taxa de assimilação de CO2, aqui denominada de fotossíntese, pois a partir desta calcula-se a segunda, para a segunda observação deve-se considerar as condições de umidade do solo e a demanda hídrica da cultura, pois, sendo o girassol uma planta de demanda maior de água em sua fase inicial e, como mencionado, ter havido maior quantidade de água em algumas técnicas, isso pode ter favorecido um incremento no potencial fisiológico. Aprofundando o estudo dos aspectos fisiológicos das plantas de girassol sob condições de menor conteúdo de água no solo, verifica-se, principalmente para a taxa de assimilação de CO2 (A) e Eficiência intrínseca da Carboxilação (EICi) (Figura 1D e F) maiores médias nas plantas cultivadas sob bacias e sulcos. Embora tenha havido diferenciação quanto a fotossíntese e a eficiência na carboxilação, os dados observados em todas as técnicas para estas variáveis são satisfatórios, notadamente quanto a fotossíntese, onde pode-se notar valores acima de 20 µmol de CO2 m-2 s -1, e a concentração interna de CO2, onde os valores estão acima de 200 mmol de CO2 m-2, demonstrando que o aparato fotossintético foi danificado mesmo onde o estresse foi mais expressivo. Tais resultados justificam o cultivo da cultura na região semiárida. Com restabelecimento da umidade do, não foi notado diferenciação entre as técnicas de cultivo nos aspectos fisiológicos (Tabela 2). Estes resultados são ilustrados na Figura 2, onde não há distinção entre as técnicas de cultivo em nenhuma das variáveis estudadas. Na segunda avaliação atenta-se quanto à taxa de assimilação de CO2, onde os valores, assim como mencionado para a situação de maior estresse, estão acima de 25 µmol de CO2 m-2 s-1, enfatizando o potencial de produção de fotoassimilados, os quais serão usados para a formação do capítulo. Estudando-se a produção do girassol, nota-se coerência com os aspectos fisiológicos , sendo que houve diferença entre as técnicas quanto à produção de grãos (Tabela 3), assim como ao se estudar o peso do capítulo. Na produtividade da cultura, nota-se que os valores variaram entre 10 e 35 g/planta, valores que, caso sejam estimados para um hectare, resultariam em uma produção média entre 250 e 875kg, respectivamente, sendo os maiores valores obtidos nas plantas cultivadas em bacias. Comparando com a literatura os dados de produção estão na faixa indicada da cultura, já que, segundo informações contidas em Agrobyte, a produção pode variar entre 800 e 2000 kg/ha. Porém, conforme variedade, a produção pode chegar a 4000 kg/ha, a exemplo, Silva (2005) estudando lâminas de água e doses de boro no cultivo do girassol, obteve produção de 2800 kg/ha no melhor tratamento. Considerando-se o sistema de sequeiro, há viabilidade no cultivo do girassol no semiárido sem adição de tecnologias como a irrigação, pois a cultura apresenta ciclo curto, cerca de 75 dias. Quanto ao peso do capítulo, o comportamento foi semelhante ao obtido para a produtividade da F. C. Alvino et al. cultura, sendo as maiores médias obtidas nas plantas cultivadas em bacias e em sulcos. Um fato intrigante é que a média obtida nas plantas cultivadas sob sulco foi superior às cultivadas em bacias, inverso do que aconteceu na produtividade em peso de grãos por planta, fato que pode estar relacionado ao estágio de maturação e de umidade do capítulo, já que estes não foram pesados secos, diferente das sementes que foram submetidas a armazenamento e secagem. CONCLUSÕES O cultivo do girassol é mais adequado em bacias de cultivo, obtendo-se maior umidade do solo, aspectos fisiológicos e produção; O cultivo do girassol em sulcos compromete o stand das plantas, por haver maior acumulo de água; A produtividade do girassol sob as condições impostas é aquém do observado para a cultura, sendo necessário o uso de outras tecnologias para aumento do rendimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CASTRO, C. ; CASTIGLIONI, V. B. R. ; BALLA, A. Cultura do girassol: tecnologia de produção. Londrina: EMBRAPA-CNPSo, 1996. 19p. (EMBRAPA-CNPSo. Documentos, 67). FERREIRA, P. V. Estatística experimental aplicada à agronomia. 2ed. Revisada e ampliada. Maceió: UFAL/EDUFAL/FUNDEPES, 2000. 437p. GUERRA, H.O.C. Física dos solos. Campina Grande: Editora Universitária. 173p., 2000. PORTO, E. R. ; VIVALLO PINARE, A. G. ; WILLIAMS FUENTES, C. O. ; SILVA, A. S. ; LOPES, L. H. O. Pequenos Agricultores V: métodos de execução de sistemas integrados de produção agropecuária (SIP). Petrolina: EMBRAPA, 1990. ROSSI, R. O. Girassol. Curitiba: Tecnoagro, 1998. 333p. SILVA, M.L.O. Aplicações de lâminas de água e doses de boro na cultura do girassol. Lavras, 2005, 115p, Universidade Federal de Lavras, Tese de doutorado. Tabela 1: Resumo da análise de variância para a Concentração interna de CO 2 (Ci) (mmol de CO2 m²), Transpiração (E) (mmol de H2O m-2 s-1), condutância estomática (gs) (mol de H2O m-2 s-1), Fotossíntese (A) (µmol de CO2 m-2 s-1), Eficiência intrínseca no uso da água (EUA) [(µmol m-2 s1 ) (mol H2O m-2 s-1)-1] e eficiência intrínseca da carboxilação (EICi) (A/Ci) medida na segunda semana de junho (50 dias após semeadura) em função das técnicas de captação de água in situ (Técnicas) para a cultura do girassol. Pombal, PB, 2011. 3 Ci 661,22999** E 0,13195ns QM gs A 0,00300ns 65,37122** EUA 2,20923** EICi 0,00270** Bloco 5 66,44166ns 0,04236ns 0,00327ns 0,24813ns 0,12804ns 0,00001ns Resíduo 15 46,97438 0,18913 0,00613 0,53686 0,19727 0,00004 3,37 8,64 13,42 2,77 8,40 4,66 203,20 5,03 0,58 26,42 5,28 0,13 Fonte de Variação Técnicas CV Média GL GL = grau de liberdade; ns = não significativo; * = significativo a 5% de probabilidade; ** = significativo a 1% de probabilidade F. C. Alvino et al. Tabela 2: Resumo da análise de variância para a Concentração interna de CO2 (Ci) (mmol de CO2 m²), Transpiração (E) (mmol de H2O m-2 s-1), condutância estomática (gs) (mol de H2O m-2 s-1), Fotossíntese (A) (µmol de CO2 m-2 s-1), Eficiência intrínseca no uso da água (EUA) [(µmol m-2 s-1) (mol H2O m-2 s-1)-1] e eficiência intrínseca da carboxilação (EICi) (A/Ci) medida na terceira semana de junho (57 dias após semeadura) em função das técnicas de captação de água in situ (Técnicas) para a cultura do girassol. Pombal, PB, 2011. Fonte de Variação Técnicas QM GL 3 Ci 179,22225** E 0,51129** gs 0,00317ns A 3,11693ns EUA 0,23122ns EICi 0,000190ns Bloco 5 37,13240ns 0,71003** 0,01907** 0,61799ns 1,00976** 0,000003ns Resíduo 15 17,03611 0,07922 0,00179 1,53148 0,09974 0,000061 2,07 5,42 6,61 4,39 5,74 5,50 199,19 5,19 0,64 28,20 5,50 0,14 CV Média GL = grau de liberdade; ns = não significativo; * = significativo a 5% de probabilidade; ** = significativo a 1% de probabilidade Tabela 3: Resumo da análise de variância para a produtividade de grãos (g/planta) e peso do capítulo (g) do girassol aos 75 dias após semeadura em função das técnicas de captação de água in situ (Técnicas). Pombal, PB, 2011. Fonte de Variação QM Técnicas Bloco Resíduo CV Média Produtividade 639,69979** 3,88489ns 4,00351 7,97 25,09 3 5 15 Peso do Capítulo 3476,22240** 63,31282ns 60,59541 6,27 124,08 GL = grau de liberdade; ns = não significativo; * = significativo a 5% de probabilidade; ** = significativo a a b b 6,0 A 150 100 50 0 a a a B 3,6 2,4 1,2 0,0 b 28 Camalhão Sem estru Técnica c Sulco a D c 21 7,5 Bacia 6,0 ab Camalhão Sem estru Técnica bc Sulco a c 0,75 4,5 a 0,60 E 0,00 Bacia Camalhão Sem estru Técnica 0,16 0,08 1,5 0,04 0 0,0 Sulco a F b c 0,12 7 Sulco C a 0,15 3,0 Camalhão Sem estru Técnica a 0,30 14 Bacia a 0,45 0,20 EICi Bacia EUA Fotossintese (A) 35 a 4,8 Cond. estomática (gs) b 200 Transpiração (E) Carbono Interno (Ci) 250 c 0,00 Bacia Camalhão Sem estru Técnica Sulco Bacia Camalhão Sem estru Técnica Sulco Figura 1: Concentração interna de CO2 (Ci) (mmol de CO2 m²) (A), Transpiração (E) (mmol de H2O m-2 s-1) (B), condutância estomática (gs) (mol de H2O m-2 s-1) (C), Fotossíntese (A) (µmol de CO2 m-2 s-1) (D), Eficiência intrínseca no uso da água (EUA) [(µmol m-2 s-1) (mol H2O m-2 s-1)-1] (E) e eficiência intrínseca da carboxilação (EICi) (A/Ci) (F) das plantas de girassol em função das técnicas de captação de água in situ aos 50 dias após semeadura, correspondente ao período de menor disponibilidade hídrica no solo. Pombal, PB, 2011 a bc ab c 6,0 A 150 100 50 0 b b b B 3,6 2,4 1,2 0,0 Bacia a 28 Camalhão Sem estru Técnica a a Sulco a 6,0 D 21 14 7 0 Bacia Bacia a Camalhão Sem a a estru Técnica aSulco 0,75 E 4,8 EUA Fotossintese (A) 35 a 4,8 Camalhão Sem estru Técnica EICi 200 Cond. estomática (gs) 250 Transpiração (E) Carbono Interno (Ci) F. C. Alvino et al. 3,6 Sulco a a C 0,45 0,30 0,15 0,00 0,20 Bacia 0,16 a Camalhão Sem estru Técnica a Sulco F a a 0,12 2,4 0,08 1,2 0,04 0,0 a a 0,60 0,00 Bacia Camalhão Sem estru Técnica Sulco Bacia Camalhão Sem estru Técnica Sulco Figura 2: Concentração interna de CO2 (Ci) (mmol de CO2 m²) (A), Transpiração (E) (mmol de H2O m-2 s-1) (B), condutância estomática (gs) (mol de H2O m-2 s-1) (C), Fotossíntese (A) (µmol de CO2 m-2 s-1) (D), Eficiência intrínseca no uso da água (EUA) [(µmol m-2 s-1) (mol H2O m-2 s-1)-1] (E) e eficiência intrínseca da carboxilação (EICi) (A/Ci) (F) das plantas de girassol em função das técnicas de captação de água in situ aos 57 dias após semeadura, correspondente ao período de restabelecimento da água no solo. Pombal, PB, 2011. a A 32 b b 24 c 16 8 200 Peso Capítulo (g) Produção (g/planta) 40 160 B a ab b 120 b 80 40 0 0 Bacia Camalhão Sem estru Técnica Sulco Bacia Camalhão Sem estru Técnica Sulco Figura 3: produtividade (g/planta) (A) e peso do capítulo (g) (B) das plantas de girassol em função das técnicas de captação de água in situ aos 75 dias após semeadura, correspondente a colheita da cultura. Pombal, PB, 2011. B