O Comportamento Eleitoral dos Evangélicos no Brasil: uma Leitura

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21st World Congress of Political Science - July 12 to 16, 2009
Santiago / Chile
Sesiones del Comité Local (CS16)
O Comportamento Eleitoral dos Evangélicos no
Brasil: uma Leitura Contextual
Guilherme Alberto Rodrigues
Mestrando em Ciência Política
Dpto de Ciência Política
Universidade Federal de Minas Gerais/Brasil
[email protected]
Santiago / Chile
Julho de 2009
Introdução
De acordo com o Censo de 2000, os evangélicos no Brasil correspondem a
aproximadamente 15,5% da população, ou seja, cerca de 26 milhões de indivíduos, o que
confere ao país o status de segunda maior comunidade de protestantes praticantes do
mundo, atrás somente dos Estados Unidos (FRESTON, 2003). O que chama mais atenção é
o surpreendente crescimento desse grupo nas últimas três décadas (eram 7,8 milhões em
1980) e a sua grande inserção na arena política, tornando-se objeto de diversos estudos.
Mas o protestantismo no Brasil não se faz de um grupo homogêneo. São,
basicamente, dois grandes segmentos: de um lado, os históricos (ou não-pentecostais), que
compõem pouco menos de 1/3 do total dos evangélicos no país; e de outro, os pentecostais,
que abarca a grande maioria do público protestante. Esses dois grupos apresentam
diferenças significativas em termos de perfil socioeconômico, práticas religiosas e
comportamento político. De acordo com o Censo do ano de 2000, existe uma clara
predominância entre os pentecostais de indivíduos que recebem até dois salários mínimos
(70,3%) e que apresentam baixa escolaridade (60,8% com ensino fundamental incompleto),
diferentemente dos não-pentecostais, que têm apenas 33,7% dos seus membros com ensino
fundamental incompleto. Os pentecostais adotam uma postura mais fundamentalista no
plano religioso, grande assiduidade nas atividades da igreja, alto teor proselitista e ênfase no
trabalho missionário; já os não-pentecostais, de modo geral, adotam uma interpretação mais
flexível em relação à bíblia, maior adaptação ao mundo e explicação mais racionalizada da
conduta de vida. Esses grupos distinguem-se também quanto ao comportamento político,
com maior propensão dos não-pentecostais participarem de associações do tipo político e
civil, embora se observe atualmente maior visibilidade dos pentecostais no plano político
institucional (CARNEIRO, 1998).
Desde a década de 80 no Brasil, observa-se certa politização de alguns grupos
protestantes, o que tem suscitado novas indagações a respeito da dinâmica social das
religiões como um todo. O fato é que, no decorrer dos últimos anos, tem-se atribuído maior
relevância ao pertencimento religioso para se explicar o comportamento político desse
segmento da população brasileira.
Não é sem motivo que, já há algum tempo, diversos estudos têm apontado para a
existência de certa padronização do comportamento eleitoral dos evangélicos. Poucos, no
entanto, exploram as causas dessa relação e suas conseqüências para a decisão desses
eleitores. Machado (2006), Oro (2003) e Bohn (2004) trazem importantes indicativos de
como a filiação religiosa se traduz em comportamento político. Eles demonstram que,
dentre todos os evangélicos no Brasil, os membros do segmento pentecostal são os que mais
relatam ser acionados por organizações religiosas para votar em candidatos específicos e são
os que mais recebem informações sobre candidaturas em suas igrejas. Essa afinidade seria
particularmente robusta no que se refere à igreja pentecostal Universal do Reino de Deus,
onde a mobilização dos fiéis mostrar-se-ia mais evidente e sistemática. A composição da
Bancada Evangélica na Câmara dos Deputados ilustra muito bem essa saliência pentecostal
no universo político-eleitoral brasileiro.
Alguns outros estudos demonstram não existir uma associação automática entre
filiação religiosa e voto. Bohn (2007) atribui ao contexto político de cada processo eleitoral
grande importância para que a identidade religiosa seja acionada, e somente assim perceberse-ia a influência da religião na definição do voto dos evangélicos. Novaes (2001), por outro
lado, afirma que não há garantias de consenso no universo protestante brasileiro, uma vez
que predomina no país uma miríade de denominações em intensa concorrência, e nada
garante que os fiéis votem necessariamente segundo a orientação do pastor ou da instituição.
Em comum, todas essas abordagens enfatizam o papel das igrejas e de suas
lideranças em persuadir seus membros em prol de algum objetivo político-eleitoral
específico. Poucos deles, no entanto, exploram devidamente as causas dessa relação e suas
conseqüências para a decisão dos eleitores. Nesse trabalho, busca-se argumentar a favor de
uma análise que contribua para um maior entendimento da dimensão política dos grupos
evangélicos no Brasil. Para tanto, considera-se importante levar em conta as diferenças
existentes entre as várias denominações e tendências religiosas. Similar à abordagem de
Carneiro (1998), este estudo assume que igrejas constituem ambientes políticos
responsáveis pela produção de efeitos contextuais que podem vir a influenciar nas escolhas
políticas de seus membros. Ao tomar as denominações religiosas como contexto, torna-se
possível avaliar as diferenças internas presentes no campo evangélico e, com isso, adotar um
modelo mais universal no que tange à análise do comportamento eleitoral desse segmento,
propiciando maior capacidade explicativa.
Postula-se que a maior presença de certas denominações evangélicas na arena
política institucional é decorrente de um conjunto de características peculiar a um segmento
do protestantismo, o pentecostal. Tais características parecem atuar como mecanismos que
tornam as instituições religiosas capazes de transmitir com sucesso um conteúdo político
aos seus fiéis e, assim, mobilizá-los em torno de uma candidatura. No entanto, isso só se
tornaria acentuado por conta de uma suposta coincidência dos efeitos desses mecanismos
com o típico eleitor comum brasileiro, ou seja, o uso sistemático pelas igrejas pentecostais
da mídia, da sua densa rede social e do carisma das lideranças na conformação de um voto
tipicamente personalista do eleitor de baixa sofisticação política e renda do Brasil. As
instituições religiosas, desse modo, tende a atuar como potencializadoras desse típico
comportamento eleitoral.
Esse ensaio está organizado em cinco partes: primeiro, é apresentada as grandes
linhas explicativas do comportamento eleitoral como forma de situar a produção sobre o
tema no Brasil, que é apresentado logo em seguida, dando especial ênfase ao diagnóstico
comum do eleitor brasileiro. Em seguida, na terceira parte, resume-se algumas contribuições
sobre o comportamento eleitoral de evangélicos no Brasil. Na quarta parte, é apresentada
aquela que se julga aqui a mais adequada abordagem para a compreensão do voto
evangélico. Por fim, conclui-se o texto apontando a importância de se considerar as igrejas
como ambientes intervenientes na decisão do voto do eleitorado evangélico, especialmente
o pentecostal.
As grandes linhas explicativas do comportamento eleitoral
Os estudos sobre comportamento eleitoral têm se configurado como uma das áreas
mais prósperas na Ciência Política contemporânea. São aproximadamente cinco décadas de
pesquisas sobre esse aspecto do comportamento político, o que vem a compor, atualmente,
um expressivo acervo bibliográfico sobre o assunto, variando conforme o contexto sóciopolítico investigado e de acordo com as fontes e métodos empregados. O conjunto desses
esforços pode ser decomposto em três grandes linhas explicativas do comportamento
eleitoral1: a perspectiva sociológica, a perspectiva psicológica e a teoria da escolha racional.
A tradição da sociologia política surge a partir dos trabalhos de Paul Lazarsfeld, do Bureau
of Applied Social Research, da Universidade de Columbia; da Universidade de Michigan
origina-se, nos anos 60, a vertente da psicologia política2, especialmente a partir da obra
fundamental The American Voter, conduzida por Converse, Campbell, Stokes e Miller; e,
por fim, a tradição da escolha racional que, partindo do legado de Anthony Downs (1999),
aplica o instrumental próprio da economia para analisar problemas políticos.
De modo geral, todas essas três correntes partem de um problema comum, que pode
ser resumido na seguinte questão: por que votam os indivíduos e por que destinam seu voto
a determinado partido ou candidato? Portanto, as três perspectivas se convergem no esforço
de tentar explicar a formação das preferências políticas expressas através do voto dos
indivíduos, divergindo-se precisamente quando reconstroem o processo social pelo qual se
produziu certo resultado eleitoral. Essas diferenças estão relacionadas com as premissas que
embasam cada teoria, isto é, com o modelo analítico defendido por elas de como a vida
social é organizada, que variaria conforme as precedências e a ordenação lógica de
condicionantes do comportamento dos eleitores. As divergências teóricas estão, assim, na
identificação das origens das motivações para a ação política dos indivíduos.
A perspectiva sociológica parte do suposto de que, para analisar o fenômeno eleitoral,
é preciso considerar a influência causal de variáveis que venham situar o lugar de indivíduos
na estrutura social. Nessa abordagem, os fatores sociais restringiriam – ou, em sua
abordagem mais radical, determinaria – as escolhas dos eleitores. As suas preferências, por
exemplo, estariam sujeitas a processos sociais amplos, como o de socialização e o de
pertencimento a grupos, assim como a variações de crenças e experiências políticas
anteriores. Portanto, o comportamento eleitoral de indivíduos se enquadraria, em menor ou
maior grau, nos condicionantes sociais de um dado grupo ou sociedade.
1
Ao invés de três, Figueiredo (1991) propõe quatro grandes linhas de investigação: teoria psicológica, teorias
sociológicas e economicistas, teoria da escolha racional, e o modelo demográfico-descritivo. Além dessas,
Figueiredo sugere que se pode ainda acrescentar uma quinta corrente, o dos estudos da geografia eleitoral,
embora o próprio autor reconheça que ela fique melhor acomodada nos modelos demográficos-descritivos por
não constituir um corpo teórico consolidado do comportamento político (Figueiredo 1991, p. 12-13).
2
Ao longo do texto, as referências à psicologia política estarão se referindo, de modo geral, à vertente também
conhecida com psicossociologia. Trata-se, portanto, dos esforços teóricos de autores que partiram das
contribuições iniciais de Phillip E. Converse.
De modo geral, a vertente sociológica considera a identificação do eleitor com o seu
grupo de pertença como fundamental para o entendimento de suas escolhas políticas. Para a
compreensão da direção do voto, torna-se relevante considerar variáveis como escolaridade,
status sócio-econômico, filiação religiosa, sexo etc., que estabelecem a probabilidade de se
desenvolver interesses e necessidades comuns entre semelhantes, o que vem a implicar
numa forma compartilhada dos indivíduos de certo grupo conceber o mundo à sua volta.
Além disso, o contexto influencia as possibilidades de interação social no interior dos
grupos e leva a graus diferenciados de acesso a informação política, implicando em
restrições para o eleitor.
Um bom exemplo está no clássico The People’s Choice (1965), obra seminal nos
estudos eleitorais da perspectiva sociológica. Os autores Lazarsfeld, Bernard Berelson e
Hazel Gaudet buscaram identificar o processo de formação de atitudes durante as eleições
presidenciais dos Estados Unidos de 1940. Para tanto, elaboraram um índice de
predisposição política baseando-se nas três características sociais mais salientes na
sociedade americada daquele tempo: religião, status sócio-econômico e origem
rural/urbano. Esse índice permitiu aos autores classificar o background social dos
indivíduos e a sua propensão a votar no partido Democrata ou Republicano, distinguindo
aqueles que votam em harmonia com seu background e aqueles casos desviantes aos grupos
a que pertencem. A partir dos resultados encontrados, os autores concluíram que “a person
thinks, politically, as he is, socially. Social characteristics determine political preference”
(p.27).
As contribuições da psicologia política, por sua vez, são comumente consideradas
como subproduto da vertente sociológica. Similarmente, adotam em seu modelo explicativo
os contextos estruturais nos quais estão inseridos os indivíduos, mas diferem por mostrar
que a influência desses fatores não dá conta, por completo, das flutuações de curto prazo das
decisões dos eleitores (CASTRO 1994). Como forma de corrigir essa limitação, autores
dessa corrente - como pode ser observado em The American Voter, de Converse et. alli. –
propõe um modelo baseado nas atitudes, que podem ser entendidas como aquelas variáveis
intervenientes entre fatores contextuais mais amplos (raça, religião, escolaridade, classe
social, etc.) e o comportamento político propriamente dito. Trata-se, portanto, de um modelo
analítico que propõe aproximar-se da decisão dos eleitores tendo em vista a dimensão
simbólica na configuração dos fenômenos políticos.
Os primeiros estudos dessa corrente baseiam-se nos trabalhos desenvolvidos por
Philipe Converse, tendo como principal referência o seu artigo The Nature of Belief System
in Mass Publics, de 1964. O ponto central do trabalho desse autor está em identificar as
diferenças existentes entre a estrutura de crenças da massa e a da elite entre eleitores norteamericanos. Para tanto, ele utiliza o conceito sistema de crenças3, que pode ser definido
como “(...) a configuration of ideas and attitudes in which the elements are bound together
by some form of constraint or functional interdependence” (CONVERSE, 1964, p. 181). A
organização lógica do sistema de crenças estaria assegurada por duas formas de constraint4:
3
O termo sistema de crenças, tal como a concebeu Converse, envolve uma discussão sobre as noções de
ideologia. Tendo em vista seus modestos objetivos, nesse trabalho não se entrará no mérito da questão.
4
Constraint, ou restrição, ou estruturação, é a capacidade de assegurar a um individuo a interligação de
atitudes específicas a partir de uma perspectiva lógica (CONVERSE, 1964).
no caso estático, a coação determina a capacidade de predizer a manutenção de certas
atitudes em um evento futuro, dada algumas informações iniciais (p.ex.: se um indivíduo é a
favor de uma ampla reforma agrária, supostamente também será simpático à atuação de
movimentos sociais da luta pela terra e durante eleições vota em partidos socialistas cujo
programa prevê a redistribuição de terras). Diferentemente, no caso dinâmico a coação se
refere à probabilidade de que uma mudança no status de um dos elementos da configuração
de atitudes tenda a implicar em mudança de status noutro elemento do sistema de crenças
(p.ex.: considerando o exemplo anterior, e supondo que o partido político da preferência do
indivíduo não seja mais à favor de uma ampla reforma agrária, ele tende ou a mudar sua
concepção sobre reforma agrária ou a mudar a sua escolha partidária). Ou seja, “quando
novas informações operam mudanças no status de uma idéia-elemento, em um sistema de
crenças, alguma outra mudança deve ocorrer” (CONVERSE 1979, p. 145).
As observações de Converse levam-no a concluir que os eleitores norte-americanos
apresentam níveis diferenciados de conceituação, que são organizados por ele em estratos
que deram origem a uma tipologia do eleitorado. Converse identifica cinco tipos de
eleitores, nessa ordem: os “ideólogos”, os “quase-ideólogos”, o estrato do “interesse de
grupo”, o estrato “natureza dos tempos” e o estrato “sem conteúdo ideológico”. A variação
entre os níveis se dá conforme a capacidade do eleitor mobilizar conceitos e idéias abstratas
para conferir uma organização lógica aos elementos que compõem o seu sistema de crenças,
permitindo-o localizar e conferir sentido “a uma mais ampla gama de informações sobre um
domínio particular do que lhe seria possível sem tal organização” (CONVERSE 1979,
p.213).
A terceira e última grande linha explicativa do comportamento eleitoral é a que se
convencionou chamar de escolha racional. A principal referência dessa tradição no campo
da Ciência Política está no clássico Uma Teoria Econômica da Democracia (1999 [1957]),
de autoria de Anthony Downs. Nessa obra, o autor lança mão de um modelo teórico baseado
em um instrumental próprio da economia para analisar os problemas da política em qualquer
Estado democrático. A mesma lógica implícita na máxima “firmas maximizam o lucro e
consumidores maximizam a utilidade” é aplicada por ele para análise do comportamento
partidário e da escolha do eleitor.
A análise econômica na qual se baseia consiste em dois importantes passos: (1)
descoberta dos objetivos daquele que toma a decisão; e (2) a análise dos meios mais
razoáveis para atingi-los. Como pressuposto, Downs conjectura que eleitores agem
racionalmente tendo em vista os seus interesses. Racionalidade, no sentido dessa tradição,
significa que os indivíduos apresentam planos coerentes e buscam maximizar a satisfação de
suas preferências ao agir, ao mesmo tempo em que pretendem minimizar os custos
envolvidos nesse processo. Portanto, para ser considerado racional, o eleitor deve conhecer
suas metas, as alternativas para atingi-las e as possíveis conseqüências da escolha de cada
uma delas. Ele deve saber ainda ranquear suas preferências e economizar o máximo possível
de recursos para alcançar as suas metas.
O processo de tomada de decisão do eleitor onera o seu tempo e outros recursos
escassos, pois requer a obtenção de informações suficientes por ele. É nesse sentido que a
informação5 se torna de suma importância em seu modelo: o seu custo e a forma de utilizála são fundamentais na tomada de decisão. Em seu modelo, Downs não trabalha com uma
noção de informação análoga àquela elaborada pelas tradições da sociologia e da psicologia
política, que tende a classificar o eleitor pouco informado como irracional ou nãocompetente. Diferentemente, para ele, tendo em vista os custos de se manter informado, não
se informar pode ser entendido como uma ação racionalmente orientada. Evidentemente,
eleitores não decidem suas escolhas de modo puramente aleatório; eles tendem a construir
suas tomadas de decisão com o mínimo necessário de informações. A melhor forma para
isso é estabelecer atalhos que lhes forneçam informações a respeito das opções e questões
relevantes que são colocadas. Lupia & McCubbins (1998) e Sniderman, Brody & Tetlock
(1991), dentre outros, demonstram como os eleitores podem agir de modo racional apesar da
informação incompleta de que dispõem. Uma ampla literatura, conhecida com heurística,
tem trabalhado sobre essa perspectiva nos últimos anos.
O comportamento eleitoral no Brasil
Grande parte dos estudos eleitorais no Brasil parte das proposições dessas três
correntes explicativas expostas acima. Baseando-se nesses paradigmas, as principais
pesquisas sobre o tema buscam replicar instrumentais típicos a cada uma dessas correntes
ou, ainda, integrar diferentes perspectivas.
Os primeiros estudos partiram do referencial sociológico para explicar as
peculiaridades do fenômeno no país ao supor que fatores estruturais compunham o contexto
em que cada eleitor se insere, influindo sobre suas escolhas políticas. Nesses estudos,
predominavam análises que enfatizavam processos sociais mais amplos, sobretudo os
processos de industrialização e de urbanização, que produziriam determinadas clivagens
sociais responsáveis pelo apoio do eleitor brasileiro a certos partidos e candidatos. Diversos
deles demonstraram existir alta correlação entre indicadores socioeconômicos (urbanização,
alfabetização, ocupação, renda, etc.) e variáveis eleitorais, tais como a proporção de votos
para partidos dispostos em um espectro ideológico conservador-progressista (SOARES
1973; REIS 1975; LAMOUNIER 1975; FARIA 1975). Em linhas gerais, conjeturava-se
que, com a modernização, seria desenvolvido no Brasil um conjunto de características
similar àquele de países centrais, de tal modo que progressivamente vícios políticos da
ordem tradicional seriam superados, tais como o clientelismo e o voto do tipo personalista.
A expectativa era de que a modernização da sociedade brasileira implicaria no
desenvolvimento da “consciência de classe” e no “comportamento ideológico” do
eleitorado.
No entanto, outros estudos identificaram a persistência do voto personalista e das
relações clientelistas entre eleitores e lideranças políticas, mesmo nos centros urbanos
desenvolvidos do país. Essas características eram comumente atribuídas ao Brasil
tradicional, onde prevaleceria o comportamento político de um eleitorado rural de baixa
posição social, tal como apontado por Victor Nunes Leal em Coronelismo, enxada e voto
5
Diferentemente da teoria econômica tradicional, que presume a existência ilimitada de informações gratuitas,
o modelo de Downs procura entender a tomada de decisões quando a informação apresenta custos.
(1975), o que vem a sugerir a existência de um “neo-coronelismo” de tipo urbano no Brasil
(REIS 1971; DINIZ 1982). A observação desse fenômeno já era indicada desde os
trabalhos de Francisco Weffort junto a operários de São Paulo, nas décadas de 50 e 60,
demonstrando como as massas populares paulistanas atribuíam qualidades carismáticas a
lideranças políticas regionais.
O voto do tipo personalista nos centros urbanos, destinado a líderes carismáticos,
resultante da mobilização populista de uma grande parte do eleitorado das camadas mais
baixas das grandes cidades do país, é comumente trabalhado na literatura como a expressão
da ausência de comportamento ideológico e de consciência de classe. A verificação desse
traço no comportamento político do eleitorado levou ao reconhecimento de que o
desenvolvimento e a modernização não eliminariam os resquícios “tradicionais” da vida
política brasileira, tornando-se manifesta a necessidade de se incorporar maior capacidade
explicativa à teoria sobre comportamento eleitoral, incluindo variáveis atitudinais e
cognitivas na análise (CASTRO 1997).
Desde então, surgem estudos mais fortemente influenciados pela perspectiva da
psicologia política, particularmente na tentativa de identificar preferências partidárias do
eleitorado. Os resultados demonstravam que as opiniões sobre questões políticas expressas
pelos eleitores se articulavam com suas preferências partidárias somente quando se
observava camadas de status socioeconômico mais elevado, sendo muito baixo o grau de
consistência ideológica da grande maioria do eleitorado (REIS 1978; CINTRA 1981).
Marcello Baquero (1985), por exemplo, verifica que mais da metade do eleitorado da cidade
de Porto Alegre (RS) se enquadraria nos estratos mais baixos da tipologia elaborada por
Converse, situando-se nas escalas “natureza dos tempos” e “sem conteúdo político”, os dois
estratos cujos sistemas de crenças se apresentam de modo menos estruturado na
classificação. Em estudos posteriores, esse mesmo autor identificou a predominância de um
eleitor personalista e pragmático, que apresenta baixo nível de confiança nas instituições
políticas e nos políticos (BAQUERO 1994).
Compartilhando do mesmo diagnóstico, Mônica Mata Machado Castro (1997)
analisa os mecanismos de decisão do voto a partir do grau de sofisticação política do eleitor.
Articulando os paradigmas da psicossociologia e da escolha racional, a autora defende a
centralidade do conceito de sofisticação política para a compreensão do caso brasileiro, pois
possibilita averiguar o “grau de informação e capacidade de conceituação política e
interesse e atenção à política”, contemplando assim tanto aspectos subjetivos quanto
variáveis sociológicas. Ela demonstra que existem basicamente dois grupos no eleitorado
brasileiro: uma minoria sofisticada, que tende a votar orientada por issues diversos e de
acordo com as informações que tem sobre partidos e candidatos; e uma grande maioria do
eleitorado com baixíssimo nível de sofisticação, não apresentando qualquer estruturação
ideológica ao se posicionar em relação às questões mais salientes do debate político. Esse
grupo orientaria a decisão do voto de modo pragmático, pautando suas escolhas a partir de
imagens difusas e vagas dos candidatos e conforme a distinção dicotômica entre interesses
dos mais pobres e interesses dos mais ricos (CASTRO 1994; 1997).
Flávio Eduardo Silveira (1998), por sua vez, enumera um conjunto de variantes da
decisão do eleitor brasileiro, que podem ser agrupadas em três tipos principais de
comportamento político: o comportamento não-racional tradicional, que está fundamentado
em fenômenos políticos tradicionais, tais como o clientelismo e as relações de cunho
pessoal, não apresentando apelo ideológico ou identidade partidária; o “novo
comportamento não-racional”, que seria aquele do eleitor que define o voto baseando-se na
imagem e nos atributos pessoais do candidato, geralmente se guiando pela intuição ou
afinidade; e, por fim, o tipo racional, que corresponderia ao comportamento de eleitores
informados cujos sistemas de crenças se apresentam de modo mais estruturado. Os dois
primeiros tipos corresponderiam à grande maioria do eleitorado brasileiro, estando o tipo
racional restrito a uma pequena parcela dos eleitores.
Como é possível perceber nessa literatura sobre comportamento eleitoral no Brasil,
parece existir certa convergência quanto ao diagnóstico do eleitor brasileiro, a quem é
conferido um conjunto bastante similar de características básicas, embora persistam as
diferenças quanto ao modo de interpretar tais resultados. Observa-se certo consenso quanto
às conclusões que apontam para o baixo nível de sofisticação política do eleitorado
brasileiro, para a vigência de eleitores com sistema de crenças pouco estruturado, cujo
conhecimento sobre política é desordenado. O voto tende ao personalismo, de acordo com
os atributos pessoais dos candidatos. Trata-se, portanto, de um eleitor desinteressado e
desinformado sobre política, a quem o custo de se manter informado é supostamente
elevado.
O comportamento eleitoral dos evangélicos no Brasil
Essa observações mais gerais sobre o eleitorado brasileiro pouco ou nada têm
referido a segmentos específicos da população e a particularidades de alguns grupos. Isso se
torna particularmente importante por conta de fenômenos eleitorais que têm despontado no
cenário político recente. Nas duas últimas décadas, tem chamado a atenção, sobremaneira, o
elevado número de candidatos eleitos a partir do seu pertencimento religioso,
particularmente candidatos evangélicos pentecostais.
Desde então, assiste-se a um crescente interesse pelo comportamento eleitoral dos
evangélicos como forma de se explicar a eleição de lideranças religiosas eleitas para os
poderes Legislativo e Executivo em todo o país. Alguns trabalhos atribuem à filiação
evangélica forte apelo eleitoral e elevada capacidade de gerar lealdade política, no sentido
de privilegiar as candidaturas que estejam atreladas ao evangelismo, conferindo ao grupo
evangélico certo padrão em seu comportamento eleitoral (PIERUCCI & PRANDI 1995;
FRESTON 1993; MACHADO 2006; ORO 2003). Outros, no entanto, destacam a
importância da variável religião para a decisão do eleitor, desde que ponderada pelo
contexto político peculiar a cada eleição (BOHN 2007). Existem ainda estudos que
conferem maior ênfase às relações entre o ambiente peculiar a cada denominação evangélica
e a conduta política de seus membros, dando especial importância aos efeitos contextuais na
conformação do comportamento eleitoral (CARNEIRO 1998).
Pierucci & Prandi (1995), valendo-se de um survey de abrangência nacional com
vinte mil casos, demonstram existir forte associação entre voto e religião no Brasil,
independentemente das diferenças sociais que caracterizam os grupos. Os autores sustentam
a hipótese de que existe um efeito significativo da filiação religiosa na definição do voto,
constituindo numa das principais motivações para as escolhas políticas de seus adeptos. As
conclusões a que chegaram estiveram baseadas nas intenções de voto para a presidência da
República no pleito de 1994.
Machado, similarmente, sugere que a identidade religiosa cumpre função tão ou mais
determinante que as identidades partidárias. Os êxitos nas disputas eleitorais atestam essa
evidência; a isso se deve atribuir a alta competitividade e a grande capacidade das diferentes
denominações religiosas de transformar “capital religioso” em capital político. Segundo
Machado, “esse sucesso nas disputas eleitorais é resultado, entre outras coisas, de um rápido
processo de formação de lideranças e uma intensa socialização dos fiéis, e expressa, sem
dúvida, uma revisão na concepção de política e de cidadania de parte dos grupos
pentecostais” (MACHADO, 2006, p. 22). Esses fatores permitiram que o evangelismo
(particularmente o de viés pentecostal) adquirisse uma plasticidade e uma dinâmica que
contrastavam com a rigidez moral e o alheamento político vigentes até o final de década de
70.
As mudanças mencionadas acima resultam no aparecimento de um novo tipo de
político evangélico. Campos (2006), buscando identificar essa transformação, contrapõe
esses dois momentos apresentando dois tipos de políticos protestantes no Brasil: os políticos
evangélicos e os políticos de Cristo. O primeiro, personificado nos protestantes pioneiros na
política brasileira, é representado por aqueles que se identificam com a igreja de origem,
mas que foram eleitos, principalmente, por eleitores cujas motivações não eram
necessariamente religiosas. Para esse caso, o principal mecanismo de afirmação política está
na transformação do capital econômico em capital político, não recorrendo apenas ao apelo
religioso. Os políticos de Cristo, por sua vez, seriam aqueles que têm sua carreira vinculada
à igreja de onde são oriundos, de tal modo que a função pública que ocupam é determinada
pelas orientações da denominação religiosa a que dizem representar. Para esse caso, o grau
de autonomia do candidato eleito é eminentemente reduzido, ficando circunscrito às
demandas da estrutura eclesiástica. Estes seriam os candidatos “oficiais” das Igrejas.
Grande parte dos evangélicos que hoje ocupam uma cadeira na Câmara Federal e em
outras instâncias legislativas do país pertence a esta última categoria. O exemplo mais
paradigmático desse tipo está nos políticos da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).
Segundo Oro (2003), a IURD é responsável por um “efeito mimético” no campo religioso
evangélico, isto é, suas práticas políticas se tornaram o modelo a ser imitado por outras
igrejas evangélicas na busca do mesmo sucesso alcançado na conquista de cargos eletivos
em todo o país. Suas práticas políticas exibem os traços mais importantes do evangelismo
político brasileiro, a saber: o carisma, o corporativismo, a candidatura oficial e o uso dos
cultos e da mídia para promover seus candidatos, além das características peculiares
apontadas por Oro, tais como a existência de um conselho político - que teve no Bispo
Carlos Rodrigues seu principal dirigente e idealizador -, através do qual se delibera sobre
quais e quantos serão os candidatos para cada cargo, levando-se em conta o potencial
eleitoral que dispõem, representado pelo número de fiéis habilitados a votar6. Oro (2003)
chama ainda atenção para o fato da IURD apresentar um carisma institucional dotado de
maior influência nas práticas políticas que as qualidades individuais de seus candidatos.
A leitura de Simone Bohn (2007) assemelha-se com a desses autores por constatar a
importância da filiação religiosa na definição do voto dos evangélicos. A autora, no entanto,
pondera sua análise destacando que a clivagem religiosa no comportamento eleitoral varia
conforme o contexto político peculiar a cada pleito, pouco ou nada se relacionando com as
preferências partidárias e/ou candidaturas específicas. No caso, o que exerceria papel
primordial na capacidade de mobilizar a filiação religiosa como variável interveniente seria
a presença ou ausência de candidatos publicamente identificados como pertencentes ao
evangelismo, como pôde ser verificado nas eleições presidenciais de 2002, tendo Anthony
Garotinho como o “candidato dos evangélicos”. Trata-se, portanto, de atribuir ao eleitorado
evangélico o status de identidade religiosa que eventualmente é despertada pelo contexto
político, ao contrário do que se poderia verificar no comportamento eleitoral de grupos de
interesses com plataformas de ação claramente definidas (BOHN, 2007). Para a sua análise,
a autora fez uso dos dados para os pleitos presidenciais de 2002 e 2006, o que se configura
como uma limitação na medida em que a lógica eleitoral de eleições proporcionais é
bastante diferente dessa trabalhada pela autora. Uma identificação mais robusta da relação
necessitaria de estudos que incluíssem as escolhas de eleitores evangélicos também em
eleições legislativas.
Partindo de premissas diferentes do que foi apresentado agora, Leandro Piquet
Carneiro (1998) argumenta a favor de uma análise do comportamento político dos
evangélicos que leve em conta a variável contexto denominacional, isto é, considerando (i)
o processo de socialização política dos indivíduos e (ii) a produção de efeitos ambientais
decorrentes do tipo de estrutura eclesial da igreja. O seu modelo parte da constatação de que
as diferentes denominações apresentam tipos distintos de organização eclesial7, o que
implicaria em diferenças quanto à capacidade do apelo religioso intervir no comportamento
político dos evangélicos. Para classificar os efeitos contextuais, o autor lança mão de uma
adaptação da análise de Fernandes (1994), que tem por base as seguintes dimensões: (i) o
grau de autonomia das igrejas locais8 e (ii) a centralidade do carisma na vida da igreja9
6
Freston (1999) aponta a IURD como a principal representante dessa nova política evangélica no Brasil. Para
o autor, a IURD polarizara o campo evangélico e assusta pelo tamanho que adquiriu rapidamente. Em apenas
30 anos de existência, a Universal aglomera cerca de 15 milhões de fiéis espalhados por mais de 40 países, é
dona de uma das maiores redes de televisão do país (Tv Record) e tem um poder financeiro muito superior
àquele apresentado por outras igrejas.
7
De acordo com Carneiro, “em algumas igrejas, os fiéis participam ativamente da escolha do pastor, decidem
sobre as finanças da igreja e participam de associações de vários tipos (jovens, mulheres, casais, etc.), em
outras, o carisma e a vontade da liderança é o principal elemento organizador das relações no espaço eclesial,
substituindo o apelo à participação e à tradição” (CARNEIRO 1998, p.182).
8
Trata-se do “tipo de relação que a comunidade eclesial local mantém com organizações nacionais e
internacionais”. Existiriam comunidades religiosas locais mais autônomas, mas também comunidades
diretamente sujeitas ao controle da organização central (regional, nacional e/ou internacional). Existiriam
ainda as comunidades que, embora mantenham certa sujeição às instâncias superiores, apresentam elevado
grau de autonomia para definirem os rumos da própria igreja.
9
Trata-se de uma forma peculiar de poder: a autoridade não está baseada na tradição ou na racionalidade legal,
mas antes na capacidade extraordinária conferida por dons excepcionais a certos agentes da igreja.
(p.185). O autor dispôs de dados sobre a forma de organização das igrejas na Região
Metropolitana do Rio de Janeiro (Censo Institucional Evangélico) e sobre o comportamento
político, social e religioso da população evangélica dessa mesma região (Pesquisa Novo
Nascimento).
Os resultados encontrados por Carneiro demonstram que quanto mais carismático e
centralizado é o grupo denominacional, menos seus membros participam de atividades
educacionais, sociais e administrativas da igreja. Quando o assunto foi participação
eleitoral10, a relação mostrou-se inversa, o que a princípio constitui certo paradoxo no
comportamento político dos evangélicos: em geral, níveis mais altos de participação
eleitoral são compatíveis com estruturas eclesiásticas verticalizadas, marcadas pelo baixo
engajamento em atividades no âmbito da igreja, embora sejam encontrados também alguns
casos onde essa participação seja alta. Enfim, os resultados sugerem ser relevante o contexto
eclesiástico para a análise do comportamento político dos religiosos, pois se observa claras
distinções no interior do campo quanto ao engajamento dos evangélicos em associações
civis e políticas e no processo eleitoral.
Até aqui, a literatura sobre o eleitorado evangélico apresentada parece convergir
quanto a um diagnóstico comum. Verifica-se que a filiação religiosa evangélica desempenha
uma função importante na definição do voto, sobretudo no que se refere aos membros de
igrejas pentecostais. Embora apresentando organização eclesial mais centralizada, com
baixa propensão à participação em atividades associativas, seriam nas denominações
pentecostais onde se observaria o maior índice de participação e mobilização eleitoral.
Existiria, assim, uma cisão no campo evangélico entre pentecostais e não-pentecostais. Essa
conclusão é confirmada pelo elevado número de casos de sucesso de candidatos
pentecostais em diversos pleitos, sendo a bancada evangélica na Câmara dos Deputados
uma clara evidência desse fenômeno. Cabe ainda explicar quais as causas dessa relação
entre pentecostalismo e comportamento eleitoral.
Pierucci & Prandi não demonstraram quais os mecanismos responsáveis por traduzir
filiação religiosa em comportamento político. Limitando-se a uma análise descritiva, os
autores apenas sugeriram pontualmente que o segmento onde essa relação se mostra mais
forte, o pentecostal, é justamente aquele mais susceptível às investidas de lideranças e
instituições religiosas, como conseqüência da sua vulnerabilidade social (PIERUCCI &
PRANDI 1995, p.219) decorrente da baixa escolaridade e status socioeconômico.
Machado (2006) e Oro (2003) dão um passo à frente ao verificar que algumas
características típicas de denominações pentecostais são de grande relevância para a
obtenção de sucesso nos processos eleitorais. Ambos concordam que a “formação de
lideranças carismáticas”, o “culto à personalidade”, a “intensa socialização dos fiéis” e o
“uso estratégico da mídia” são fundamentais para que as denominações religiosas sejam
capazes de mobilizar seus membros em torno de certas candidaturas. Essas características
destacadas pelos autores guardam uma forte relação com a centralidade ocupada pelos
líderes religiosos nas igrejas pentecostais e com a elevada assiduidade dos seus membros
10
Carneiro mediu participação eleitoral pelo nível de engajamento do entrevistado em diversas atividades de
campanha, tais como discussões sobre candidatos na igreja, presença em comícios, comparecimento a debates
em associações locais, e ainda se o entrevistado havia dedicado orações a candidatos e eleição.
nos cultos, o que resulta em uma grande exposição dos fiéis às autoridades religiosas e às
mensagens políticas transmitidas na igreja.
Esse diagnóstico que aponta os pentecostais como aqueles mais propícios a votarem
por orientação das suas igrejas coincide, em certa medida, com o diagnóstico do típico
eleitor brasileiro. As características atribuídas aos eleitores evangélicos pentecostais são
bastante próximas daquelas que definem a escolha do eleitor de baixa escolaridade e baixa
informação política no Brasil. Há, portanto, certa correspondência entre o perfil da grande
maioria dos membros das igrejas pentecostais e o do típico eleitor brasileiro: o voto
personalista, pragmático, sem conteúdo político-ideológico, pautado pelas qualidades
pessoais dos candidatos. As igrejas, assim, tornam-se grandes potencializadoras desse típico
comportamento eleitoral, pois encontram as condições mais propícias para a transmissão de
informação política e a promoção de candidatos “oficiais”. Resta, no entanto, esclarecer
como as mensagens políticas são recebidas e processadas pelos eleitores pentecostais.
Tendo em vista todas essas considerações, busca-se argumentar nesse texto a favor
de uma análise que contribua para um maior entendimento dessa dimensão eleitoral dos
grupos religiosos no Brasil. A teoria da análise contextual parece fornecer bons indicativos
de como a religião pode produzir efeitos sobre as orientações políticas.
A análise contextual da política
A abordagem contextual da política é fortemente influenciada pelas contribuições da
Escola de Columbia, encontradas particularmente nas pesquisas eleitorais empreendidas por
Lazarsfeld et al.. Atualmente, umas das principais e mais completas referências nesse
campo encontra-se nos trabalhos de Huckfeldt & Sprague (1995). De acordo com os
autores, as pesquisas conduzidas pelas Escola de Columbia introduziram algumas
importantes considerações para a análise do comportamento político. Primeiro, porque
consideraram os indivíduos como unidades interdependentes e conceberam a escolha
individual como contigente às escolhas dos outros indivíduos. Segundo, porque analisaram
o comportamento político a partir do agregado social do qual fazem parte os indivíduos, em
seus múltiplos níveis. Terceiro, por destacar a importância da informação no processo de
decisão e sua circulação por meio das interações sociais. Por fim, por demonstrar que a
influência social varia sistematicamente entre indivíduos e ambientes (HUCKFELDT &
SPRAGUE 1995, p.8).
Os autores estabelecem a distinção entre efeitos ambientais e efeitos contextuais. A
definição de efeitos contextuais se baseou nos trabalhos de Przeworski & Teune (1970) e
Eulau (1986), que entendem o termo como um subconjunto dos efeitos ambientais
(Huckfeldt & Sprague 1995). De acordo com os autores, fatores ambientais seriam todos
aqueles que incidem sobre o comportamento dos indivíduos e são originados de
determinantes externos a eles, ou seja, qualquer efeito sobre o comportamento individual
que surgiu de fatores extraindividuais. Efeitos contextuais, por sua vez, são entendidos como
determinantes do comportamento constituídos por meio de interações sociais no interior de
um ambiente particular delimitado – o contexto. Essa distinção permite considerar o
impacto de organizações e grupos sobre o acesso dos indivíduos a informações.
Em Citizens, Politics, and Social Communication (1995), Huckfeldt & Sprague
defendem a tese de que a experiência social, responsável pela conformação do
comportamento político, é marcada por múltiplas bases interdependentes. O objetivo
fundamental do estudo que os autores realizaram em South Bend, Indiana (EUA), foi
elaborar um desenho de pesquisa acerca dos contextos sociais em que os indivíduos vivem e
agem politicamente. O pressuposto é que a realidade política toma forma a partir das
opiniões que os indivíduos elaboram a partir interações a que estão sujeitos no trabalho, na
família, na vizinhança, na igreja. De acordo com essa abordagem, no processo de definição
do voto, os indivíduos só tomam decisão por meio das informações que obtêm de variadas
fontes, sejam elas institucionalizadas (jornais, partidos, TV, campanha) ou informais,
encontradas nas várias formas de interação social. Ou seja, existem diversas formas de
comunicação política que podem variar em termos de conteúdo, foco, viés e potencial de
influenciar os cidadãos, muitas delas em evidente concorrência.
Cada um dos ambientes são potencialmente importantes para a formação da opinião
dos indivíduos porque atuam de modo a criar oportunidades e fixar limites, circunscrevendo
a transmissão de informações através das interações possíveis. Sendo assim, torna-se
probabilisticamente mais provável que um eleitor americano negro e católico receba algum
tipo de informação simpática ao partido Democrata em sua igreja do que um americano
prostetante branco. Isso porque existe um histórico alinhamento entre católicos e negros
com o partido Democrata, o que restringe, no jogo das interações interpessoais, a
transmissão de informações políticas possíveis.
No entanto, os indivíduos não são meros artefatos das forças sociais que atuam nos
ambientes a que estão sujeitos. Eles não agem apenas como recipientes passivos das
mensagens transmitidas pelas fontes. Eles tendem a conceder maior importância a alguns
ambientes e menor a outros, sendo, portanto, atraído mais por informações de determinados
grupos que frequentam e levados a reinterpretar aquelas recebidas de grupos secundários.
Os indivíduos fazem escolhas, selecionam fontes, calculam os custos de se informar
conforme seus interesses e predisposições.
Os contextos particulares que caracterizam a realidade social de uma dada população
proporcionam ambientes contigenciais com um determinado fluxo de informações. Os
diferentes ambientes podem levar a interpretações variadas de questões políticas em
consequência dos múltiplos níveis de significado conferidas a elas, mas é no interior delas
que se produz certa homogeneidade de preferências, daí a obervação de regularidades no
comportamento político de alguns grupos. O importante, no entanto, não é que o
comportamento dos indivíduos sejam socialmente determinado, mas sim que “seus
comportamentos operam probabilisticamente no interior de uma externalidade imposta,
sistematicamente enviesada” (Ibdem, p.12).
De acordo com os autores, isso se torna mais saliente por conta dos custos
intrínsecos na aquisição de informação. Tal como postulado pela escolha racional, os
autores argumentam que os eleitores se encontram diante de um dilema, pois eles devem se
informar sobre política durante o processo eleitoral, mas isso implica em custos. Sendo
racionais, esses cidadãos tendem a reduzir tais custos procurando um caminho mais objetivo
e fácil de obtê-las. Partindo do suposto de que os indivíduos têm liberdade para escolher
suas fontes conforme as opções disponíveis, os custos informacionais são menores quando
procuram adquiri-las a partir de outros indivíduos com quem já mantem interações.
Informação socialmente obtida é de menor custo porque ela é resultado eficiente de
diversos recursos. Primeiro porque ela é sob medida, pois em jornais impressos ou na TV,
por exemplo, o indivíduo interessado não necessariamente encontra informações relevantes
e suficientes para a formação de sua opinião a respeito de um determinado assunto
(digamos, a respeito da legalização do aborto), mas quando ele procura acionar um outro
indivíduo ele pode selecionar aquele que julga deter informações mais precisas (talvez o
padre ou o pastor da própria igreja, que tem opinião formada sobre o assunto). Segundo,
porque indivíduos exercem maior controle sobre as fontes informacionais quando se
baseiam nas suas interações sociais, isso devido ao fato de ser mais provável que os
indivíduos conheçam melhor os vieses daquelas informações transmitidas por seus contatos
do que os vieses de outras fontes, como jornais e redes de TV. Ao selecionar a origem de
suas informações, torna-se possível optar por contatos que apresentam pontos-de-vista
próximos aos do próprio interessado, diminuindo os custos do processo de tomada de
decisão.
Não obstante, essas informações devem ser confiáveis aos olhos do interessado. Por
isso os cidadãos tendem a buscar referências mais seguras nas suas redes de interações de
modo a sanar suas dúvidas mais imediatas e, assim, auxiliá-los na decisão. Partindo dessa
constatação, Huckefeld e Sprague invocam a noção de atalhos cognitivos (shortcuts), uma
variação do legado Downs empregada por autores como Lupia e McCubbins (1998),
entendendo-a como um mecanismo que é acionado recorrentemente na tentativa de diminuir
os custos da tomada de decisão. Tais atalhos tendem a ser fontes de informação confiáveis
para os indivíduos, e uma dessas fontes menos onerosas e mais confiáveis são os contatos e
grupos com os quais os indivíduos interagem e confiam. Colocando nesses termos,
Huckefeld e Sprague percebem que a análise do comportamento eleitoral dos indivíduos,
baseada no processo de decisão, torna-se mais promissora quando utiliza de forma
complementar o modelo cognitivo dos atalhos à teoria contextual da política.
As Igrejas como contexto
Essas considerações deixam evidente a importância de se considerar os efeitos
contextuais das congregações religiosas na conformação do comportamento eleitoral dos
evangélicos. Considerar o ambiente religioso e os efeitos contextuais proporcionados pelas
igrejas, tal como feito por Carneiro, torna o diagnóstico mais promissor na medida em que
preza pela localização dos indivíduos no interior de grupos responsáveis por estruturar suas
possibilidades de acesso a informações políticas. E as denominações religiosas podem atuar
nesse processo de modo decisivo. As igrejas, enquanto associações de indivíduos ligados
por fortes laços afetivos e uma interação social regular, possuem muitas das características
que potencializam o contágio comportamental, constituindo um fértil terreno para a
disseminação de uma visão de mundo comum. Elas constituem ambientes propícios à
propagação de um conteúdo simbólico, pois dispõem de amplas oportunidades para que suas
lideranças religiosas transmitam mensagens políticas através de canais diretos - tais como
sermões, mensagens pastorais, cursos e publicações da igreja-, ou por meio de mensagens
políticas implícitas que Parenti (1967 apud WALD 1988) apropriadamente descreve como
‘cultura política latente’ - atitudes voltadas para autoridade, solidariedade, compromisso
social, etc..
“As igrejas fornecem muitas avenidas para o reforço de tais
mensagens ao trazer os membros simultaneamente sobre uma base
regular para rezar e promover interações sociais informais entre seus
membros. Similarmente, a congregação tem a capacidade de punir
desvios das normas coletivas ao desaprovar membros que exibem
formas proibidas de comportamento ou atitudes não aceitáveis. Essa
disposição poderosa de mecanismos de influência social equipa
congregações com a capacidade de promover uniformidade na visão
de mundo sociopolítico” (WALD et.ali 1988, p. 533. tradução livre).
Diversos estudos atestam a proficuidade dessa perspectiva analítica. Wilcox &
Sigelman (2001) demonstram como as igrejas, por meio das interações face-a-face, orientam
seus membros no processo eleitoral. Eles observaram o comportamento de quatro diferentes
grupos religiosos norte-americanos – protestantes brancos, católicos brancos, evangélicos11 e
protestantes negros – através dos dados dos National Election Studies, para os anos de 1994,
1996 e 1998. Seus resultados demonstram que a frequência com que grupos religiosos
contactaram membros com objetivo eleitoral foi pouco menor que os contatos feitos pelos
partidos políticos, mas com efeitos sensivelmente mais efetivos porque a mensagem pode
ser mais estreitamente direcionada no contexto religioso. Similarmente, Huckfeld, Plutzer &
Sprague (1993) observam como as igrejas podem atuar de modo a desempenhar o papel de
ambiente político mais importante para certos indivíduos, “protegendo-os” dos efeitos de
outros ambientes e, assim, sustentando suas opiniões diante das informações concorrentes.
De acordo com os autores, isso se dá possivelmente porque as pessoas exercem maior
controle sobre as relações que mantém nas igrejas do que em contextos tais como suas
vizinhanças.
Mas as igrejas não são homogêneas. Elas variam conforme um amplo conjunto de
características. Como demonstrado ao longo desse texto, no universo protestante brasileiro,
pentecostais e não-pentecostais se distinguem significativamente: uns são mais assíduos que
outros aos cultos e demais atividades da igreja, estando mais ou menos expostos às
informações políticas desse ambiente, e concedem a ele, também, variados níveis de
importância; o perfil socioeconômico dos dois segmentos também apresentam fortes
diferenças, concentrando entre as denominações pentecostais os de menor escolaridade,
renda e sofisticação política; e também se distinguem, acentuadamente, quanto ao fluxo de
informações políticas presente nas igrejas e quanto à adoção de estratégias política11
Nos Estados Unidos, a categoria “evangélico” é destinada aos grupos religiosos pentecostais, diferentemente
do Brasil, onde todo protestante é reconhecido como evangélico.
eleitoreiras. Ou seja, algumas igrejas atuam de modo estratégico e dispõem de condições
objetivas bastante favoráveis para a transmissão de informações políticas, o que seria
responsável pelo seu sucesso eleitoral.
No Brasil, algumas poucas pesquisas trazem conclusões que destacam esses
elementos. O já mencionado estudo de Bohn (2004), que se baseou nos dados do ESEB
2002 (Estudo Eleitoral Brasileiro), traz importantes apontamentos para a explicação do peso
religião no comportamento eleitoral do brasileiro, embora a autora não invista na
comprensão dessa relação. Os dados apresentados por ela demonstram ser as igrejas, para
alguns segmentos religiosos, um dos critérios mais importantes para a escolha do candidato
a Presidência da República, além de serem um dos principais determinantes na escolha do
partido político e, o mais importante, um emissor recorrente de informações políticas.
Torna-se evidente no seu estudo as marcantes diferenças no fluxo de informações de
natureza política entre os maiores grupos religiosos e, no interior deles, entre as principais
tendências – notadamente de modo mais acentuado para o segmento evangélico (que se
distingue entre pentecostais e não-pentecostais). Portanto, torna-se importante, para
qualquer esforço de análise da influência da religião no comportamento eleitoral do
brasileiro, contemplar as diferenças que caracterizam os grupos religiosos no país.
Percebe-se, assim, que o apelo ao personalismo da liderança carismática, quando
conjugado com a intensa presença dos fiéis nos cultos, a utilização dos meios de
comunicação e a inserção estratégica na política institucional, eleva significativamente a
capacidade de mobilização do público de suas congregações em torno de um objetivo
político específico: a eleição de candidatos oficiais. Isso se torna particularmente eficaz na
medida em que essas agremiações religiosas dispõem de um público mais susceptível às
investidas das lideranças, por se tratar de um corpo social onde se verifica uma clara
preponderância de características próximas ao do típico eleitor brasileiro.
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