116 Maçã Produção 11 Frutas do Brasil, 37 DOENÇAS INTRODUÇÃO A sarna da macieira é a doença mais importante da macieira, principalmente, porque, se não controlada, pode inutilizar toda a produção de fruta. Outras doenças da parte aérea da macieira são conhecidas como doenças de verão, porque seus sintomas são visíveis, em maior intensidade, nesse período do ano. Entre elas, encontram-se a podridãobranca (Botryosphaeria dothidea, sin. B. berengeriana), a podridão-amarga (Glomerella cingulata/C. gloesporioides e C. acutatum), a mancha-foliar da ‘Gala’ (Glomerella cingulata/ C. gloesporioides e C. spp.) e a podridão-olhode-boi (Pezicula malicorticis). O impacto potencial destas doenças no Sul do Brasil foi constatado no ciclo 1997-1998, quando verificaram-se perdas de 10% a 20% em pomares da cv. Fuji, com alta infestação por podridão branca e por podridão amarga, e em 2000, quando verificou-se que a podridãoolho-de-boi se constituiu na segunda doença de maior importância. Estas doenças continuaram a se manifestar durante a frigorificação. Na cv. Gala, 90% dos pomares foram afetados pela mancha foliar. As podridões de raízes da macieira têm sido a causa de perdas crescentes de plantas, tanto em pomares novos como naqueles em produção. Levantamentos mostram que, somente nos anos de 1985 e 1986, a morte de plantas em pomares do Rio Grande do Sul variaram de 0,5% a 15%, representando, em média, 1% a 2% da área do pomar. Os fatores que têm contribuído para a ocorrência dessas perdas são, principalmente, mudas contaminadas, plantio de pomares em áreas recémdesmatadas ou de campo sem cultivo prévio, deficiência no preparo e correção do solo na implantação, uso freqüente de grade lateral que corta as raízes e dissemina os patógenos, e a falta de orientação técnica para identificar as doenças, que dificulta a correta definição dos métodos de controle. Rosa Maria Valdebenito Sanhueza DOENÇAS QUE AFETAM RAMOS, FOLHAS E FRUTAS Sarna-da-macieira Sintomas A sarna-da-macieira, causada por Venturia inaequalis, ocorre em folhas, pecíolos, flores e frutas. As primeiras infecções ocorrem em pontas verdes, iniciando-se na parte inferior das folhas. Sobre as lesões desenvolve-se uma massa aveludada de conídios (Fig. 1A). Infecções graves geralmente causam a queda das folhas e das frutas debilitando a planta e prejudicando o seu desenvolvimento no ciclo seguinte. A infecção nas frutas novas é inicialmente superficial, com massas marrom-esverdeadas (Fig. 1B). As lesões mais velhas desenvolvem aspecto de cortiça, que racham à medida que ocorre o crescimento das frutas. Nessa situação, acontece também a deformação das maçãs. As lesões cicatrizam-se nas frutas após os tratamentos químicos, mas não há cura total e novas áreas com conídios surgem na presença de alta umidade relativa e na ausência de proteção (Fig.1C). Nas folhas, os tratamentos curativos são mais eficazes e as lesões curadas são, em geral, irregulares e de coloração amarelo-avermelhadas. Controle A redução das perdas causadas pela doença se obtém com o uso de cultivares resistentes, obtidas por diferentes programas de melhoramento. Entre as selecionadas no exterior, destacam-se as cvs. Prima, Priscilla, Jonafree, Liberty e Freedom e, no Brasil, as cvs. Fred Hough e Catarina. A maior parte das cultivares resistentes à sarna-da-macieira é suscetível 117 Maçã Produção Fotos: R. M. V. Sanhueza Frutas do Brasil, 37 A B C Fig. 1. Folha com lesões esporuladas de sarna da macieira (A). Sarna inicial em frutas novas (B). Frutas maduras com lesões de sarna apresentando massas conidiais escuras (C). às doenças de verão e têm suscetibilidade variável às outras doenças que ocorrem na primavera. A redução do inóculo inicial é obtida com práticas que estimulam a decomposição das folhas que caem no período de outonoinverno. Isso é conseguido pela aplicação de uréia a 5% nas plantas com cerca de 30% de queda de folhas, molhando também o solo na faixa da projeção da copa na fileira. Tratamentos adicionais podem ser feitos com suspensões de esterco. O manejo equilibrado das plantas, o uso correto de fertilizantes, a abertura da copa e o raleio são indispensáveis para reduzir a incidência da doença. O controle químico é feito com fungicidas de contato, sistêmicos e parcialmente sistêmicos. Eles podem ter efeitos protetores, curativos em pré-sintomas e /ou erradicantes. Os fungicidas de contato têm efeito protetor de até 7 dias, mas uma chuva acumulada com volume superior a 20 mm nesse período lava os produtos. Os fungicidas sistêmicos e parcialmente sistêmicos não são afetados por chuvas até 4 horas após a aplicação. Esses devem ser aplicados em intervalos de 7 dias. No caso dos inibidores de síntese do ergosterol, há perda de eficiência sob condições de temperatura inferior a 10ºC. Um resumo das características e das recomendações de uso dos fungicidas usados para o controle dessa doença consta das Tabelas 1 e 2 . Nos períodos de grande crescimento vegetativo e risco grave de epidemia os fungicidas devem ser aplicados nas doses máximas e em intervalos menores aos usados normalmente. O conhecimento das condições ambientais que possibilitam o início das epidemias de sarna (Tabela 3) e o monitoramento da disponibilidade de inóculo primário (ascosporos) constituem a base do sistema de alerta sobre a sarna-da-macieira para os produtores. Esse monitoramento é utilizado na maioria dos países produtores de maçãs, inclusive no Brasil. Aplicação dos fungicidas A quantidade de ingrediente ativo necessário para proteger as plantas e registrada para uso é indicada normalmente pela quantidade de produto em 100 L de água. Dependendo do país e da região, essa dose é relacionada à aplicação de 1000 a 2000 L pelo sistema convencional. Contudo, a dose por hectare utilizada é variável e depende da estimativa que o produtor faz da quantidade necessária para molhar o volume da copa de suas plantas e da maquinaria utilizada (800-2000 L) e, de 100 a 400 L, no caso de uso de técnicas melhoradas de pulverização. Dessa forma, recomenda-se a racionalização da aplicação dos pesticidas, utilizando-se o conceito do “volume da fileira de plantas”, citado na literatura como Tree Row Volume(TRV). O volume é calculado pelas seguintes fórmulas: • Volume da copa: 10.000 m2 x altura da copa (m) x diâmetro médio da copa (m)/distância entre as filas (m). • Volume de calda (L/ha) : volume de copa (m 3 ) x 0,015 +150 L. 118 Maçã Produção Frutas do Brasil, 37 Tabela 1. Fungicidas registrados no Brasil para uso na macieira em pré-colheita. Dosagem para 100 L de água1 (PC) Nome PC/ia* Captan 500 PM 2/captan Captan SC 2/captan Orthocide 500 2/captan Folpan/folpet Bravonil 752 PM/chlorothalonil Frowncide 500 SC/fluazinam Mythos/pirimethanil Manzate 800/mancozeb Dithane PM/mancozeb Delan/dithianon Stroby/kresoxim methil Isolado Em mistura 240 g 240 mL 240 g 240 g 200 g 100 mL 100 g 200 g 200 g 50-125 g 20 mL 160 g 180 mL 160 g 160 g 130 g 75 mL 160 g 160 g 50 g - Período de carência (dias) 1 1 1 1 7 14 14 21 7 21 35 ------------------------------------------------------------ Curativos para a sarna 5 ------------------------------------------------------------ Folicur 200 CE/tebuconazole Score/difenoconazole Baycor/bitertanol Palisade/fluquinconazole Venturol/dodine Dodex/dodine Systhane CE/miclobutanil Rubigan 120 CE/fenarimol Trifmine/triflumizole Anvil/hexaconazole Anvil 100 SC 50 g 14 mL 60g 20 50-90 g 90 mL 11-12 g 60 mL 70 g 15-25 mL 30 g 10 mL 25g 20 10 g 40 mL 40 g 10 mL 20 5 14 14 7 7 14 28 7 20 ------------------------------------------------------------------ Benzimidazóis 5 ------------------------------------------------------------------ Cercobin/tiofanato metilico Metiltiofan/tiofanato metilico Support /tiofanato metilico Tiofanato Sanachen/tiofanato metilico 70 g 90 g 100 g 100 g 7 14 14 14 -------------------------------------------------------------------- Erradicantes -------------------------------------------------------------------- Venturol/dodine Dodex 450 SC/dodine 50-90 g 85-130 mL 7 7 * PC = Produto Comercial / i.a. = ingrediente ativo. 1 Corresponderá à dose média no ciclo de 1000 l/ha. 2 Captan + Ag: para mancha foliar. 3 Utilizar 3 kg/ha para mancha foliar. 4 Uso eficaz somente no início de detecção de lesões. 5 Será importante conhecer a sensibilidade do patógeno aos IBE , benzimidazóis e ao Dodine, para definir a estratégia de utilização. • TRV (Kg ou L/ha): quantidade registrada x volume de calda /300. Resistência de Venturia inaequalis aos fungicidas O uso freqüente de fungicidas com ação específica sobre o metabolismo do patógeno, tais como os benzimidazóis, os inibidores da síntese do ergosterol, as anilino-pirimidinas e as estrobilurinas, pode conduzir à seleção de estirpes resistentes a esses produtos. No Brasil, o alto número de períodos de infeção por V. inaequalis que ocorrem anualmente nos pomares de macieiras, a Frutas do Brasil, 37 119 Maçã Produção Tabela 2. Principais características dos fungicidas no controle de sarna Grupo: ß Metoxiacrilate(MOA) ou Estrobilurinas *Kresoxim-methil /(Stroby) • Efeito curativo baixo • Efeito protetor alto • Aplicar em intervalos de 10 dias e repetir quando ocorrer 40-50 mm de chuva acumulada • Mistura adequada: MOA com IBE • Efeito secundário: acelera a maturação em alguns anos. Grupo:Anilino-Pirimidinas(ANP)*Pirimethanil / (Mythos) • Efeito curativo médio (72h) • Efeito menor em frutos • Efeito da temperatura: Não há redução do controle ANP a 0ºC, 5ºC, e 10ºC • Absorção rápida • Dose/ha:300-450-700g/ha. Grupo:Inibidores da Síntese do Ergosterol(IBE ou DMI)*Fenarimol, Hexaconazole, Bitertanol, Miclobutanil, Tebuconazole, Triflumizole, Difenoconazole, Fluquinconazole • Efeito curativo alto (96h) • Efeito protetor médio • Mistura adequada: IBE - protetores • A ação curativa é reduzida pela baixa temperatura (<10C). *Ingrediente ativo / nome comercial Tabela 3. Molhamento foliar necessário para o início da infecção primária em diferentes condições de temperatura e período requerido para o desenvolvimento de conídios. Temperatura média Molhamento (h) (ºF) (ºC) Infecção leve Infecção moderada Infecção grave 78 77 76 63-75 62 61 60 59 58 57 56 55 54 53 52 51 50 49 48 47 46 45 44 43 42 41 40 39 38 37 33-36 25.6 25.0 24.4 17.2-23 16.7 16.1 15.6 15,0 14.4 13.9 13.3 12.8 12.2 11.7 11.1 10.6 10.0 9.4 8.9 8.3 7.8 7.2 6.6 6.1 5.5 5.0 4.4 3.9 3.3 2.7 0.5-2.2 13 11 9.5 9 9 9 9.5 10 10 10 11 11 11.5 12 12 13 14 14.5 15 15 16 17 19 21 23 26 29 33 37 41 48 17 14 12 12 12 13 13 13 14 14 15 16 16 17 18 18 19 20 20 23 24 26 28 30 33 37 41 45 50 55 72 26 21 19 18 18 20 20 21 21 22 22 24 24 25 26 27 29 30 30 35 37 40 43 47 50 53 56 60 64 68 96 Fonte: adaptado de Mills, 1944 e modificado por A L. Jones. Período de incubação 9 10 10 11 12 12 13 13 14 14 15 15 16 16 17 17 - 120 Maçã Produção concentração das áreas de plantio de cultivares suscetíveis, o alto vigor e o longo período de crescimento e a alta pluviosidade favorecem o uso freqüente de fungicidas específicos e com efeito curativo. Nessas condições, portanto, pode haver perda de controle, sendo favorecido o surgimento de resistência. No Brasil, levantamentos da sensibilidade de isolados selvagens desse patógeno aos IBE vêm sendo feito nos Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul . A presença de fenótipos resistentes aos IBE na população obtida nos pomares não sugere necessariamente a perda de controle da doença como ocorre no caso dos benzimidazóis, já que a distribuição da freqüência de sensibilidade a esses fungicidas na população do patógeno é contínua, podendo variar de altamente sensível a altamente resistente. Assim, estudos da população selvagem de V. inaequalis ao fluzilazole têm mostrado, por exemplo, fatores de resistência que variam de 0 a 300. Essa sensibilidade tem preservado o uso efetivo desses fungicidas, mas, na presença de alta pressão de seleção, a freqüência de isolados resistentes aumenta gradualmente, até causar falha de controle com as doses normalmente recomendadas para esses produtos. Contudo, essa mudança na composição da sensibilidade da população de V. inaequalis não tem significado quebra significativa do controle pelos IBE, talvez pelo uso geral deles em um sistema preventivo e, normalmente, em mistura com produtos protetores. Na atualidade, com a disponibilidade de outros grupos de fungicidas – as anilino-pirimidinas (Ex: Pirimetanil) e as estrobilurinas (Ex: Kresoxim methil) –, é possível diminuir o número de tratamentos por IBE, incorporando-os ao sistema de produção, usando no máximo 3-4 tratamentos de cada grupo por ciclo. Entretanto, como já foi constatada resistência de patógenos a esses dois grupos de fungicidas em outros países, será Frutas do Brasil, 37 desejável monitorar ermanentemente a sensibilidade da população de V. inaequalis a eles no país. Mancha foliar da ’Gala’ Sintomas A mancha foliar da ‘Gala’ é causada por Glomerella cingulata/Colletotrichum gloeosporioides, Colletotrichum spp. Nas folhas as lesões são inicialmente avermelhadas, sem margens definidas, distribuídas ao acaso no limbo foliar, e de tamanho que varia de 1 a 4 mm de diâmetro. Essa lesão evolui até tornar-se amarelo-acinzentada, às vezes com margens marrom-avermelhadas. No centro da lesão, desenvolvem-se pontos escuros, que são os corpos de frutificação do fungo causador da doença. As folhas afetadas caem precocemente. (Fig. 2A). As manchas nas frutas e nos pedúnculos são superficiais, de cor marromclara, esféricas, de 1 a 3 mm de diâmetro, escurecendo e cicatrizando a seguir (Fig. 2B). Não há desenvolvimento posterior dessas lesões na forma de podridão amarga. No entanto, estirpes associadas à podridão amarga que estejam contaminando a superfície das maçãs podem infetálas a partir das lesões. Infecções iniciadas logo antes da colheita podem continuar seu desenvolvimento durante a frigorificação e a comercialização das frutas. Controle As práticas de controle mais importantes são as que visam a redução das fontes de infecção para que, na primavera seguinte, haja a menor quantidade possível de inóculo. Assim, no inverno, devem-se eliminar as folhas ou promover sua decomposição, proteger as plantas no inverno com produtos cúpricos, além de retirar e queimar os restos de poda e as frutas mumificadas. Na primavera, as práticas têm por objetivo diminuir as fontes de infecção e aumentar a ventilação nas plantas. Recomenda-se manter o pomar livre de ramos, folhas ou frutas doentes, formar as plantas com ramos dispostos à altura mínima de 80 cm do solo, utilizar poda e/ ou nutrição equilibrada para obter plantas sem enfolhamento excessivo, melhorar a drenagem do pomar, eliminar ou ralear os quebra-ventos e manter no máximo, a 20 cm a altura das invasoras na fileira. Recomenda-se o controle químico da mancha foliar por Glomerella com o uso dos fungicidas mancozeb, captan, chlorothalonil e dithianon, sempre quando a chuva acumulada no intervalo atingir 30 mm. Esses produtos devem ser utilizados na dose registrada, em intervalos máximos de 10 dias, aplicando-os de acordo com volume da copa das árvores, para se conseguir a cobertura uniforme e total das frutas e das folhas. Após a colheita, as plantas infectadas devem continuar sendo tratadas até o fim de março para reduzir o inóculo no pomar e evitar a queda precoce das folhas. Assim, previnem-se prejuízos no desenvolvimento e na qualidade das gemas frutíferas das macieiras no próximo ciclo vegetativo. Os tratamentos podem ser feitos com mancozeb, enxofre ou com oxicloreto de cobre, utilizando-os alternadamente durante esse período. 121 Maçã Produção Fotos: R. M. V. Sanhueza Frutas do Brasil, 37 A B Fig. 2. Queda precoce de folhas provocada pela Mancha Foliar da Gala e ausência de sintomas na cv. Fuji (A). Manchas e amarelecimento de folhas pela Mancha Foliar (B). Podridão-amarga ficações conidiais (Fig. 3A). Em lesões iniciais a polpa afetada pode apresentar forma de cone invertido. Se as lesões forem originadas pela fase perfeita do patógeno (G. cingulata), pequenas elevações pretas (peritécios), se desenvolverão no centro das lesões (Fig. 3B). Sintomas Controle A podridão-amarga é causada por Glomerella cingulata/C. gloesporioides e por C. acutatum. Podridão firme, aquosa, deprimida, circular e de cor marrom. Na epiderme afetada podem ser observados círculos concêntricos, com pontos alaranjados de aspecto ceroso correspondentes às fruti- A redução do inóculo inicial é obtida pela remoção e pela destruição das frutas doentes e dos ramos com cancros, prática que deve continuar durante a primavera. O controle químico tem resultados variáveis, provavelmente pelo fato de seu sucesso depender da sensibilidade aos fungicidas dos isolados patogênicos dominantes no pomar. 122 Frutas do Brasil, 37 Fotos: R. M. V. Sanhueza Maçã Produção Cancros-dos-ramos, podridão-branca e podridão-preta as lesões crescem, a epiderme desprendese do lenho, semelhante a uma folha de papel, sintoma que é conhecido como cancro-papel. Na superfície dos ramos infectados desenvolvem-se pontuações pretas, os peritécios e picnídios, que correspondem às fases sexuada e assexuada do patógeno (Fig. 4A). A podridão é marrom-escura, relativamente seca, não-deprimida e, geralmente, profunda na epiderme. Iniciase com um ponto marrom-escuro ou vermelho, às vezes com o centro preto, a partir do qual se desenvolve uma podridão circular de cor marrom, às vezes com círculos concêntricos mais escuros (Fig. 4B). As podridões iniciais não apresentam corpos de frutificações do patógeno e a polpa apresenta lesão marrom, de margem definida e geralmente circular. A seguir, e mais freqüentemente no caso das podridões por B. dothidea, desenvolvese, nas frutas, uma decomposição interna firme, de cor marrom-clara, que apresenta exsudação (Fig. 4C). Nas podridões com B. obtusa (Fig. 4D), a fruta pode escurecer e mumificar-se a seguir. Na superfície dessas maçãs, observam-se picnídios pretos e, às vezes, micélio verde-escuro. A podridão desenvolve-se lentamente nas câmaras frias e continua rapidamente durante a comercialização. Sintomas Controle O cancro-dos-ramos e a podridãobranca das maçãs são causados por Botryosphaeria dothidea = B. beringeriana = B. ribis spp., já a podridão-preta das maçãs é causada por Botryosphaeria obtusa / Physalospora malorum Os cancros iniciam-se por lesões marrom-avermelhadas, com margem definida, e que afetam principalmente o córtex dos ramos ou o caule das mudas ou o tronco das plantas adultas. À medida que A eliminação das frutas mumificadas e dos ramos com cancros reduz o inóculo inicial. Outra prática necessária é a destruição dos ramos grossos de poda e a trituração ou queima dos ramos de poda de inverno e da poda verde. O controle químico é feito com fungicidas protetores a cada 10 dias, alternando-se benzimidazóis em uma aplicação mensal, especialmente nas cvs. Fuji , Golden Delicious e Granny Smith. A B Fig. 3. Podridão-amarga com massas conidiais alaranjadas (A). Podridão-amarga de maçãs por isolados de G. cingulata (B). Os produtos recomendados para o controle dessa doença são os de contato (folpet, captan, dithianon, chorothalonil), doses baixas de cúpricos e os benzimidazóis. Estes últimos, porém, são efetivos para C. gloeosporioides e o não são para C. acutatum. 123 Maçã Produção Fotos: R. M. V. Sanhueza Frutas do Brasil, 37 A C B D Fig. 4. Cancro-de-ramos por Botryosphaeria dothidea (A). Diferentes sintomas de podridão branca (B). Frutas com fermentação interna causada pela podridão branca (C). Podridão-preta por Botryosphaeria obtusa (D). Podridão-olho-de-boi e cancro-perene Sintomas A podridão-olho-de-boi é causada por Pezicula malicorticis/Cryptosporiopsis perennans. Podridão de cor marrom-clara com o centro amarelo-pálido, de forma mais ou menos circular, às vezes com margens marrom-escuras ou avermelhadas, deprimidas, de textura firme e desenvolvimento lento. Internamente os tecidos apresentamse desidratados e com cavernas que surgem no centro da lesão e/ou em outras áreas da podridão, como resultado da compactação de áreas afetadas (Fig. 5). As margens entre os tecidos doentes e os sadios são bem definidas. Sob condições de alta umidade relativa, no centro das lesões mais velhas podem se desenvolver acérvulos, estruturas escuras que produzem massas de conídios branco-alaranjados. Nos cancros os tecidos internos são amarelados e a epiderme se separa do cortex (Fig. 5A, 5B e 5C). Controle A redução de inóculo é obtida principalmente eliminando os cancros. O uso de fungicidas cúpricos no inverno e de protetores em pré-colheita auxilia na redução das perdas por esta doença. Podridão-carpelar Sintomas A podridão-carpelar é causada por: Alternaria ssp., Fusarium ssp., Botrytis cinerea, Botryosphaeria dothidea e Cryptosporiopsis perennan. 124 Frutas do Brasil, 37 Fotos: R. M. V. Sanhueza Maçã Produção A B C Fig. 5. A) Podridão-olho-de-boi; B) Tecidos internos do ramo da macieira infectado por Pezicula malicorticis; C) Epiderme solta em ramo com cancro perene da macieira. Controle Sendo uma doença secundária somente podem ser reduzidas as perdas com o manejo da cultura que propicie melhor desenvolvimento dos frutos e com o uso de cultivares menos suscetíveis. Fotos: R. M. V. Sanhueza As frutas afetadas no campo são mais coloridas, geralmente deformadas, não se desenvolvem e caem antes da colheita. Na região dos carpelos, dependendo do tipo de patógeno envolvido, desenvolvem-se podridões secas ou aquosas, de cor preta ou marrom-clara ou escura (Fig. 6A, 6B e 6C). A B C Fig. 6. A) Sintoma externo de podridão-carpelar; B) Sintoma interno de podridão-carpelar; C) Podridão-carpelar por Pezicula malicorticis. Frutas do Brasil, 37 125 Maçã Produção Sintomas Fotos: R. M. V. Sanhueza Caracteriza-se pela ocorrência de manchas necróticas irregulares nas folhas maduras. Em geral, as folhas do segmento médio dos ramos são mais afetadas. As lesões são inicialmente amareladas e logo tornam-se necrosadas, amarelescendo e caindo em seguida (Fig. 7A e 7B). O problema ocorre geralmente a partir de dezembro e é mais grave no fim do verão. foram identificados em outros países, como Peltaster fructicola, Gastrumia polystigmata, Leptodontium elatius e como Zygophiala jamaicencis (Fig. 8). Outras manchas de folhas ocasionalmente constatadas são as causadas por Alternaria e Marssonina. O controle dessas doenças é obtido quando são feitos os tratamentos citados para outras doenças de verão. Foto: R. M. V. Sanhueza Mancha-necrótica-foliar (distúrbio de origem nãopatogênica) A Fig. 8. Fuligem em maçãs. Podridão-de-raízesda-macieira B Fig. 7. A) Sintomas da mancha-necrótica em folhas velhas de macieira; B) Amarelecimento e queda foliar causados pela mancha-necrótica. Controle A redução de perdas ocorre com o uso de fungicidas do grupo dos ditiocarbamatos. Resultados semelhantes são obtidos com a aplicação de óxido de zinco. DOENÇAS DE MENOR IMPORTÂNCIA Neste grupo incluem-se a fuligem e a sujeira de mosca, cujos agentes causais Sintomas na parte aérea Na primavera as plantas doentes têm brotação esparsa, lançamentos e folhas pequenas de coloração verde-clara ou amarelada. Nos meses de novembro e dezembro, esses sintomas são mais marcantes, observando-se também floração antecipada e grande quantidade de frutas estabelecidas. No verão, além da redução do crescimento, pode ocorrer um avermelhamento das folhas e uma pigmentação amarelada ou rosa, nos ramos expostos ao sol. Isso ocorre pela falta de enfolhamento das plantas doentes. Nessa época, é evidente, também, um número de frutas pequenas e muito coloridas. Logo após a colheita, o desfolhamento é antecipado. 126 Maçã Produção Frutas do Brasil, 37 Podridão-de-Armillaria Sintomas A podridão-de-Armillaria causada por Armillariella mellea, é medianamente úmida, mole, branco-amarelada e o cerne mantém-se firme. Entre a casca e o lenho, observam-se placas de micélio em forma de leques branco-amarelados, aveludados e firmes. Às vezes, na superfície das raízes, desenvolvem-se estruturas semelhantes a raízes finas (rizomorfos), de cor marromescura. No colo das plantas, podem desenvolver-se grupos de cogumelos amarelados e pequenos (Fig. 10). Foto: R. M. V. Sanhueza Foto: R. M. V. Sanhueza Esses sintomas podem apresentar-se em toda a planta ou, às vezes em alguns ramos. Dependendo da intensidade da doença, a morte da planta pode ocorrer tanto logo após o início da brotação como durante o período de crescimento (Fig. 9A). Esses sintomas também são comuns a outros tipos de doenças, como: cancros-do-tronco ou cancro-dos-ramos, galha-da-coroa ou galha-das-raízes (Fig. 9B) ou, ainda, com encharcamento do solo e morte das raízes. Fig. 10. Podridão-da-raiz e podridão-dotronco por Armillariella. A Controle B Fig. 9. A) Definhamento e morte de plantas pela podridãodas-raízes, B) Galhas-das-raízes na macieira (burr knots). A redução das perdas por esta doença pode ser obtida com a eliminação de todas as raízes das plantas mortas e de 2 a 3 plantas vizinhas, a desinfecção do solo com brometo de metila ou com formol, e a colonização com Trichoderma. Além do manejo cuidadoso que previna ferimentos nas raízes e aumente o vigor das plantas, deve-se evitar o deslocamento de solo de plantas doentes para as vizinhas, uso de mudas sadias com tratamento das raízes com fungicidas e adubação e calagem do solo na cova. Frutas do Brasil, 37 Fotos: R. M. V. Sanhueza Podridão-do-colo e podridão-das-raízes Sintomas A podridão-do-colo e a podridão-dasraízes são causadas por Phytophthora cactorum e Phytophthora spp. As lesões podem estar localizadas na região do colo, na inserção das raízes principais, na raiz pivotante e, às vezes, no extremo distal das raízes. Nas podridões iniciais, observam-se tecidos amarelados a marrom-avermelhados, úmidos, localizados no córtex das raízes (Fig.11A). As lesões avançadas são marrom escuro-avermelhadas, úmidas, e, na região afetada, os tecidos são facilmente destacáveis, desfiam-se, sendo que epiderme apresenta-se separada dos tecidos internos. O lenho das raízes podres permanece duro e escurecido. Nessa podridão não ocorrem estruturas dos fungos (micélio visível) e não existem desenhos, com exceção das regiões de avanço da podridão (Fig.11B). Nas raízes mortas encontra-se somente o lenho. Em condições de solo seco, podem ser encontrados restos de tecidos mortos, de cor marrom a preta, secos aderidos ao lenho das raízes, com a epiderme solta. Controle Desinfecção do solo após o arranquio das plantas doentes e colonização do solo com Trichoderma. Em áreas de alta incidência, deve-se fazer tratamentos das plantas vizinhas às mortas, com fungicidas sistêmico específico e evitar condições que favoreçam a manutenção de umidade na região do colo da planta, como, por exemplo: presença de invasoras e má drenagem. Deve-se, também, realizar o uso cuidadoso de ferramentas para capina, além da seleção de mudas, eliminando aquelas que apresentam lesões nas raízes e tratando o sistema radicular com fungicida antes do plantio. 127 Maçã Produção A B Fig. 11. A) Podridão-por-Phytophtora em mudas de macieira; B) Podridão-porPhytophtora cactorum em macieira. Não deve ser estabelecido pomar em área recém desmatada ou de campo bruto. Usar porta-enxertos resistentes. Roseliniose Sintomas A Roseliniose é causada por Rosellinia necatrix/Dematophora necatrix. A podridão é marrom amarelada, úmida e mole. Afeta raízes e o colo das plantas, podendo comprometer a casca e o cerne das raízes. A epiderme da raiz fica preta e na superfície observa-se micélio cotonoso verde-escuro a preto. Em algumas condições, observa-se micélio branco na região abaixo da epiderme, o qual se desprende com facilidade. Na superfície das raízes, podem ser observados riscas ou pontos pretos com o centro branco no tecido lesionado e cordões marrom-escuros de micélio sobre a raiz (Figuras 109A, 109B, 109C). 128 Maçã Produção A Frutas do Brasil, 37 B C Fig. 12. A) Podridão-branca-das-raízes causadas por Rosellinia necatrix; B) Pontos pretos com centro branco nos tecidos da raiz com a podridão branca, C) Podridão branca das raízes em macieira jovem. Controle O controle se faz pela eliminação das plantas com sintomas, retirando-se todas as raízes, pela desinfecção do solo com brometo de metila e a aplicação de Trichoderma antes do replantio, pela seleção das mudas, pelo tratamento das raízes com fungicida, pela adubação e pela calagem do solo na cova. Não devem ser estabelecidos pomares em solos recém desmatados ou de campo bruto. Xilariose, cortiça ou podridão-pretadas-raízes Sintomas A xilariose, cortiça ou podridão-pretadas-raízes é causada por Xylaria e Xylaria ssp. Podridão amarelada, medianamente úmida, com bolsões de micélio branco. As raízes com podridão avançada são amareladas, leves, quebram-se como cortiça e têm desenhos ou linhas pretas irregulares. Na primavera, podem surgir, no colo das plantas, estruturas semelhantes a raízes novas, com ápice amarelo, branco no início e preto na maturação. Outros agrupamentos de estruturas associadas são semelhantes cabeça de palito de fósforo sobre um pedúnculo, com tamanho de 3 a 5 cm de comprimento. As plantas que apresentam podridão avançada quebram-se facilmente no colo quando arrancadas (Fig. 13A e 13B). Controle Eliminação da planta com todas as raízes, desinfecção das covas com brometo de metila e colonização com Trichoderma. Podridão-por-Sclerotium causada por Sclerotium rolfsii Sintomas A podridão-por-Sclerotium é causada por Sclerotium rolfsii. Podem ocorrer no colo e nas raízes de plantas, no viveiro ou no pomar. A podridão é marrom-amarelada, mais ou menos úmida 129 Maçã Produção Fotos: A. Lessa Frutas do Brasil, 37 A B Fig. 13. A) Podridão por Xilaria na base do tronco; B) Estruturas de Xylaria desenvolvida sobre a raiz infectada. Foto: R. M. V. Sanhueza e às vezes com micélio branco no tecido afetado. Geralmente, em plantas adultas, não afeta o cerne das raízes. No colo das plantas e no solo ao redor, há desenvolvimento de micélio branco e de escleródios branco-amarelados, semelhantes a sementes (Fig. 14). Controle Devem-se selecionar as mudas e proteger suas raízes com fungicida. Nos pomares com plantas infectadas deve-se providenciar o arranquio das macieiras com sintomas e a eliminação da maior parte das raízes, realizar adubação e calagem do solo na cova, desinfectar o solo com brometo de metila e aplicar Trichoderma. Devem-se evitar práticas que causam ferimentos e diminuam o vigor das plantas. O uso do fungicida carboxim (0,1%) tem sido eficiente para controle de focos da doença no viveiro. Podridão-brancapor-Corticium Sintomas Fig. 14. Podridão por Sclerotium em mudas de macieira. A podridão-branca-por-Corticium, causada por Corticium galactinum, é brancoamarelada, mais ou menos seca e mole. Às vezes apresenta-se na forma de manchas brancas da raiz. Em estádios avançados, afeta a raiz inteira. Na superfície das raízes ocorre um crescimento pulverulento branco com o centro amarelado, onde são 130 Maçã Produção encontrados os basidiósporos. Essa estrutura pode encontrar-se aderida às raízes ou colo das plantas. As raízes infectadas são quebradiças e esmigalham-se com facilidade permanecendo sempre brancas (Fig. 15). Frutas do Brasil, 37 principais e raízes finas. No caso de Rhizoctonia, ocorre desenvolvimento de micélio marrom, cotonoso, na superfície das raízes. Controle Foto: R. M. V. Sanhueza As mudas devem ser sadias e tratadas com fungicida. Efetuar o arranquio das plantas eliminando-se as raízes, realizar a adubação e a calagem do solo na cova e a desinfecção do solo, além de adotar um manejo que evite ferimentos e o vigor excessivo das plantas. Doença do replantio (etiologia complexa) Sintomas Fig. 15. Podridão por Corticium. Controle Deve-se efetuar o arranquio da planta e retirar todas as raízes, desinfectar o solo com brometo de metila, e aplicar Trichoderma. Deve-se evitar danos na região do colo e nas raízes das plantas e o deslocamento de solo de locais com de plantas doentes para as vizinhas. Recomenda-se o manejo cuidadoso para aumentar o vigor das plantas, fazer adubação e calagem do solo na cova e fazer uso de mudas sadias. Podridão por Rhizoctonia solani e Fusarium spp. Sintomas A podridão é causada por Rhizoctonia solani e Fusarium spp. Podridões marrom-claras, mais ou menos secas, localizadas no colo e em raízes As plantas afetadas, em geral, apresentam redução do sistema radicular, diminuição drástica de raízes finas e crescimento reduzido da parte aérea. Nas plantas mais afetadas pode ocorrer o amarelecimento ou o avermelhamento precoce das folhas. A intensidade dos sintomas depende do local, sendo o mal mais severo nos porta-enxertos de menor vigor. Controle Recomenda-se fazer diagnóstico laboratorial da severidade potencial da doença no solo a ser replantado, visando definir melhor as práticas de manejo do solo a serem adotadas. Solos onde se localizaram pomares ou viveiros devem ser adubados, corrigidos e cultivados com gramíneas, pelo menos durante 1 ano. No solo da cova de replantio, deve ser utilizado fosfato monoamônico (MAP), na dose de 200 g/m3, incorporando-o logo embaixo da raiz da muda, por ocasião do plantio. De preferência, nos locais onde há alto potencial de ocorrência severa dessa doença, devem ser utilizados portaenxertos vigorosos e com sistema radicular avantajado. Frutas do Brasil, 37 131 Maçã Produção PODRIDÕES DE MAÇÃS FRIGORIFICADAS Podridão-por-Penicillium ou mofo-azul As podridões de frutas armazenadas constituem a maior parte do refugo nos galpões de embalagens, atingindo no Brasil perdas de 35%, que podem variar de 0,5% a 3% da maçã, quando são utilizadas todas as recomendações de manejo. A gravidade das perdas dependem, fundamentalmente, das condições de manejo das frutas e da presença de patógenos e seu contato com a fruta. Os fatores mais importantes são descritos a seguir: ponto de colheita; danos na fruta; condições de alta pluviosidade no período de pré-colheita e contaminação nos galpões de seleção de frutas. A diminuição da contaminação é obtida com o uso de desinfetantes, como o hipoclorito de sódio (0,01%), ou com o digluconato de clorhexidina (0,02%). Outra alternativa disponível para a desinfecção de frutas é o controle físico de P. expansum com luz ultravioleta de baixo comprimento de onda (UV-C/ 254 nm). A higienização e a desinfecção de bins e sacolas é uma medida adicional à de controle da contaminação do ambiente. A proteção química das frutas é feita com fungicidas benzimidazóis mais protetores antes da colheita e com iprodione (0,075%) ou tiabendadole (0,06%), com cloreto de cálcio (2%) aplicados em pós-colheita, respectivamente. O monitoramento da ocorrência de estirpes dos patógenos resistentes aos fungicidas utilizados constitui prática necessária e permanente, para detectar falhas no controle químico dessas doenças. As podridões que ocorrem em póscolheita podem ter sido iniciadas no campo ou a infecção das frutas pode ter ocorrido no período da colheita e pós-colheita. As primeiras conhecidas como doenças de verão, já foram descritas no grupo de doenças da parte aérea. O segundo grupo será descrito a seguir. Sintomas Foto: R. M. V. Sanhueza A podridão-por-Penicillium ou mofo-azul é causada por Penicillium expansum. Podridão aquosa, mole, deprimida, profunda, com margens internas e externas bem definidas. A área de penetração do fungo apresenta-se como uma mancha aquosa e translúcida, adquirindo tons bege-claros, tanto na epiderme como na polpa. Em condições de alta umidade relativa, desenvolvem-se sobre a área afetada pequenas massas brancas e azuis consti-tuídas de micélio e esporos do fungo. A podridão é de desenvolvimento rápido e os tecidos afetados podem ser destacados facilmente das frutas (Fig.16). Fig. 16. Podridão por P. expansum (mofoazul). Podridão-por-Alternaria ou podridão-marrom causada por Alternaria alternata e Alternaria sp. Sintomas Podridão mais ou menos seca, circular, firme, levemente deprimida e, geralmente, profunda. A epiderme, apresenta cor marromescura e, em condições de alta umidade, verifica-se o crescimento de micélio verdeacinzentado na superfície. Internamente, a podridão é, no início, marrom e mais tarde, na área central, observam-se áreas pretas e cinzentas, levemente desidratadas e firmes. 132 Maçã Produção Foto: R. M. V. Sanhueza superfície da podridão, desenvolve-se micélio branco-cinzento, com os conidióforos visíveis (Fig. 19). Foto: R. M. V. Sanhueza As margens entre tecido sadio e doente são bem definidas (Fig. 17). Esse fungo é também associado ao desenvolvimento da podridãocarpelar-das-maçãs. Frutas do Brasil, 37 Fig. 18. Podridão-por-Botrytis (mofo-cinzento). Fig. 17. Podridão-por-Alternaria. Podridão-por-Botrytis ou mofo-cinzento causado por Botrytis cinerea Sintomas Podridão firme, relativamente seca, irregular, não-deprimida e geralmente profunda. Na epiderme e na polpa, apresenta cor bege, inicialmente clara, que escurece em lesões mais antigas (Fig. 18). Na epiderme desenvolve-se micélio abundante, acinzentado, com setores de aspecto pulverulento, onde se encontram os esporos do fungo. Algumas estirpes podem desenvolver estruturas escuras (esclerócios) na superfície das frutas. Podridão-por-Rhizopus causada por Rhizopus nigricans Sintomas e sinais Provoca lesões bege-claras, úmidas, moles, translúcidas, de margens irregulares. A polpa torna-se aquosa e as margens da área interna afetada é bem definida. Na Fig.19. Podridão-por-Rhizopus. PRINCIPAIS DOENÇAS QUARENTENÁRIAS PARA O BRASIL Cancro-europeudas-pomáceas O cancro-europeu-das-pomáceas, causado por Nectria galligena/Cilindrocarpon heteronema, é também conhecido como cancro das macieiras ou cancro por Nectria, causado pelo fungo Nectria galligena que tem como forma imperfeita Cylindrocarpon heteronema, que é uma doença quarentenária para o Brasil. Sintomas A infecção inicia-se, geralmente, pela contaminação dos ferimentos da queda Frutas do Brasil, 37 Fig. 20. Sintoma do cancro europeu em ramo com esporulação. Na medida em que a lesão se desenvolve forma-se um cancro constituído por áreas concêntricas alternadas com tecidos sadios e doentes, ao redor de um setor central mais deprimido. Esses cancros podem afetar ramos de 1 ou mais anos e o tronco das plantas. A casca nessas lesões rompe-se e, nas margens, pode ser observada a epiderme solta como papel. Na presença de umidade, as frutas podem ser contaminadas pelo fungo em pré-colheita ou após caírem no chão, desenvolvendo uma podridão firme, de cor marrom-escura, geralmente iniciada pela infecção das lenticelas, do cálice ou por ferimentos. 10:10:100, outras formas de cobre, ziram, captan ou benzimidazóis, devem ser aplicadas nas doses recomendadas para cada produto durante a queda das folhas, e no estádio B, no início da brotação. Fogo-bacterianodas-pomáceas Sintomas O fogo-bacteriano-das-pomáceas é causado por Erwinia amylovora. A bactéria causa pequenas lesões nos ramos na primavera, invisíveis a olho nu, penetrando nos tecidos pelos ferimentos ou pelos estômatos ou pelos ápices de crescimento. Esses ramos apresentam a ponta curvada, na forma de gancho (Fig. 21). A seguir, ocorre a colonização dos cachos florais, das frutas pequenas, das folhas e dos ramos. Com umidade relativa alta, todos os tecidos afetados produzem exsudações ou cirros, contendo a bactéria. Ramos secundários e o tronco também podem ser afetados. Nos portaenxertos suscetíveis, a doença torna-se sistêmica, matando a planta. Foto: R. M. V. Sanhueza Foto: R. M. V. Sanhueza das folhas, da base das gemas, nas feridas causadas pela poda no início do outono, ou em qualquer tipo de lesão das plantas. Os sintomas são evidentes somente na primavera, e consistem de manchas com margens definidas, de tonalidade avermelhada a marrom-escura, que se encontram ao redor das cicatrizes foliares, nos ramos novos, ou nos centros de frutificação, estrangulando, às vezes, os ramos afetados (Fig. 20). Controle O controle desta doença nos países onde é endêmica é fundamentado principalmente na poda dos ramos afetados, na proteção dos cortes de poda e no uso de tratamentos fungicidas. A poda e a queima dos ramos doentes devem ser feitas no verão, para diminuir a população do patógeno no pomar, quando iniciar a queda das folhas. Os ramos infectados devem ser removidos do pomar e destruídos, para evitar que deles se originem novas infecções. Calda bordalesa 133 Maçã Produção Fig. 21. Infeção de terminais florais pelo fogo bacteriano. 134 Maçã Produção As frutas podem ser infectadas em todos os estádios de desenvolvimento e, quando pequenas, após a infeção, desidratam, escurecem e ficam aderidas à planta. Frutas infectadas na fase de maturação apresentam podridão nos tecidos próximos às sementes. Sobre as lesões ocorre abundante exsudação bacteriana. Nesses tecidos, surgem os exsudatos bacterianos. Os rebrotes infectados dos porta-enxertos apresentam aspecto de queimados, com sintomas semelhantes aos que se desenvolvem nos brotos atingidos por herbicidas. Quando a infecção atingir as raízes, poderá matar a planta, mesmo se a copa for resistente. Controle Nos países onde ocorre, sabe-se que, o fogo-bacteriano é de difícil controle e Frutas do Brasil, 37 tem causado a extinção de áreas produtoras de peras e maçãs em várias regiões do mundo. As práticas de controle recomendadas incluem: a) retirada e queima dos ramos afetados; b) desinfecção das ferramentas com hipoclorito de sódio a 1% ou álcool etílico a 70%; c) uso de variedades resistentes, quando possível; d) utilização de cobre no início da brotação e aplicação de estreptomicina ou de oxitetraciclina durante a floração. A otimização das aplicações de antibióticos consegue-se com o uso do sistema de alerta “Maryblyt”, que foi desenvolvido pelo pesquisador P. W. Steiner, da Universidade de Maryland, EUA. Entretanto, o controle químico vem apresentando limitações pelo rápido surgimento de estirpes resistentes do patógeno aos bactericidas utilizados.