SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA – SOBRATI MESTRADO EM TERAPIA INTENSIVA Flaviana Ribeiro de Medeiros Batista Freire A Importância da Espiritualidade e Religiosidade Aplicada ao Paciente em Unidade de Terapia Intensiva João Pessoa 2016 Flaviana Ribeiro de Medeiros Batista Freire A Importância da Espiritualidade e Religiosidade Aplicada ao Paciente em Unidade de Terapia Intensiva Artigo apresentado à Banca Examinadora do Programa de Mestrado Profissionalizante da Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva como requisito para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva. Orientador: Mestre Viña-Del-Mar da Silva Martins JOÃO PESSOA – PB 2016 Flaviana Ribeiro de Medeiros Batista Freire A Importância da Espiritualidade e Religiosidade Aplicada ao Paciente em Unidade de Terapia Intensiva Dissertação apresentada ao Mestrado Profissionalizante em Terapia Intensiva – MPTI, da Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva – SOBRATI, como requisito final para obtenção do titulo de Mestre. Data de Aprovação:_____/____/____ BANCA EXAMINADORA ______________________________________ Orientador ______________________________________ Examinador RESUMO A presente pesquisa abordou a importância da espiritualidade e religiosidade aplicada ao paciente em unidade de terapia intensiva. Visto que atualmente, profissionais de saúde, pesquisadores e a população em geral, têm valorizado e reconhecido a importância da dimensão espiritual e/ou religiosa na saúde É considerada uma temática complexa mas que pode ser relevante para o enfrentamento do paciente, família e profissionais diante da gravidade da doença e da terminalidade. O processo metodológico teve como tipo de pesquisa bibliográfica, a busca dos dados se deu através das publicações indexadas nas seguintes bases de dados online: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), além de periódicos e livros. Os critérios de inclusão foram, trabalhos publicados na língua portuguesa; em formato de artigo, monografias, dissertação, normas e resoluções com resumos disponíveis na integra, no período de 2004 a 2015. Desta forma o presente estudo tem como objetivo analisar sistematicamente os estudos acerca da temática espiritualidade e ou religiosidade aplicada à saúde do paciente em unidade de terapia intensiva e caracterizar a relevância deste estudo foi compreender de que forma a espiritualidade ou religiosidade pode influenciar e contribuir no enfrentamento do paciente e da família diante da gravidade de uma doença ou terminalidade. DESCRITORES: Espiritualidade. Religiosidade. Unidade de Terapia Intensiva. Terminalidade. INTRODUÇÃO Atualmente, profissionais de saúde, pesquisadores e a população em geral, têm valorizado e reconhecido a importância da dimensão espiritual e/ou religiosa na saúde. A prática da assistência a saúde das pessoas que envolvem o campo da espiritualidade humana, tem despertado grande interesse da sociedade, pois estudos científicos evidenciam a relevância no enfrentamento frente ao acometimento de doenças bem como a adesão ao tratamento, principalmente aos doentes crônicos ou terminais. O termo espiritualidade deriva do latim spiritus que significa “a parte essencial da pessoa que controla a mente corpo”, (Rizzardi; Teixeira; Siqueira, 2010 apud Pereira 2015). Eliopolus (2010) define que a espiritualidade seria o âmago do ser, conectando o indivíduo ao Ser divino. Para alguns a espiritualidade não estaria conectada à prática de determinada religião e sim com o sentido da vida, com o senso de humanidade, companheirismo, amizade e amor. (Rocha; Fleck, 2004 apud Pereira, 2015) Convém definir que a religiosidade e a espiritualidade, apesar de relacionadas, não são claramente descritas como sinônimos. A religiosidade envolve sistematização de culto e doutrina compartilhados por um grupo. A espiritualidade está afeita a questões sobre o significado e o propósito da vida, com a crença em aspectos espiritualistas para justificar sua existência e significados. Espiritualidade poderia ser definida como uma propensão humana a buscar significado para a vida por meio de conceitos que transcendem o tangível: um sentido de conexão com algo maior que si próprio, que pode ou não incluir uma participação religiosa formal. (Guimarães; Avezum, 2007.) A espiritualidade está ligada tanto à busca do sagrado, por meio da meditação e orações compenetradas, quanto à solidariedade destinada aos irmãos. (Vaillant, 2010 apud Pereira, 2015) Religião pode ser definida como um conjunto de crenças e práticas desenvolvidas no seio de uma comunidade, com rituais nos quais o ser humano aproxima-se do sagrado. Geralmente suas bases fundamentam-se em textos e ensinamentos que tentam transmitir ao homem conhecimentos sobrea vida, a morte, bem como a natureza das coisas do mundo e como todos devem se portar seguindo determinada conduta moral, conservando o senso de responsabilidade entre as pessoas. (Keonig, 2012 apud Pereira, 2015). Muitos estudos se propõem a compreender a relação da espiritualidade com a saúde, no entanto pouco se sabe a cerca dos fatores que intermedeiam essa relação e, embora não seja possível determinar com exatidão os mecanismos de interação da espiritualidade na saúde, Levin e Chaterrs (citado por Gastaud et al, 2006)em seu estudo mostraram que o exercício de atividades espirituais ( a oração e outros rituais por exemplo)podem influenciar, psicodinamicamente, através de emoções positivas (como a esperança, o perdão, a autoestima e o amor)sugerindo que tais emoções podem ser importantes para a saúde , em termos de possíveis mecanismos psiconeuroimunológicos e psicofisiológicos. A UTI é um local marcado pela complexidade de cuidados, envolto de certezas e incertezas acerca da situação de saúde/doença do paciente internado. Apesar de ser considerado o melhor ambiente para recuperação dos pacientes em estado crítico ou grave, o ambiente de UTI é visto como frio agressivo e traumatizante envolvendo o paciente, a família deste e também a equipe multiprofissional (Abrão FMS, et al.,2014). Na UTI, os profissionais se voltam apenas para o corpo, os procedimentos técnicos, a utilização de equipamentos e a manifestação orgânica da doença. Os sentimentos e aspectos relacionados à espiritualidade acabam sendo ignorados, os quais poderiam contribuir, direta ou indiretamente, para atender às necessidades mais importantes do paciente (Correia JN, Rosa K,2011). A espiritualidade pode ser um aspecto importante para quem vivencia uma doença grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ou está próximo da morte, visto que auxilia no enfrentamento e na aceitação da dor e do sofrimento, ao imprimir algum significado a eles (Souza SR.et.al., 2006). Um bom relacionamento com Deus ou a crença em um poder superior permite ao doente e sua família o entendimento e a aceitação do sofrimento humano, independente da crença religiosa professada (Puggina AC, Silva MJ, 2009).Religião e espiritualidade podem estar presentes no momento de uma situação de hospitalização em uma UTI em razão do medo do desconhecido e do desfecho. Os mecanismos utilizados no enfrentamento podem se manifestar por meio de gestos, palavras ou acessórios religiosos, tais como: o terço e a bíblia. (Letícia, et.al., 2012). De maneira geral, a constatação da espiritualidade/religiosidade como sendo uma importante dimensão na vida das pessoas vem dando á temática um crescente reconhecimento e atenção por parte dos pesquisadores e constantes esforços para integrá-la na prática clínica. (Moreira, 2010 apud Leite, Seminott, 2013). Com base no que foi exposto, presente estudo teve como objetivo analisar sistematicamente os estudos acerca da temática, a importância da espiritualidade e ou religiosidade na saúde aplicada ao paciente em unidade de terapia intensiva. A relevância deste estudo foi compreender de que forma a espiritualidade ou religiosidade pode influenciar e contribuir no enfrentamento do paciente e da família diante da gravidade de uma doença ou terminalidade. OBJETIVO • Analisar sistematicamente os estudos acerca da temática espiritualidade e ou religiosidade aplicada à saúde do paciente em unidade de terapia intensiva. • Caracterizar a relevância e contribuições deste estudo para o enfrentamento do paciente, família e dos profissionais diante da gravidade de uma doença ou terminalidade. METODOLOGIA O presente estudo de caráter bibliográfico tem sua fundamentação a partir da investigação cientifica, visando apresentar um conhecimento à cerca da temática abordada neste trabalho. Segundo (Martins, 2007) “trata-se de estudo para conhecer as contribuições cientificas sobre determinado assunto. Tem como objetivo recolher, selecionar, analisar e interpretar as contribuições teóricas já existentes sobre determinado assunto”. A pesquisa foi obtida, utilizando-se as bases de dados online consultados através do site da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS): Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde- Lilacs, Scientifc Eletronic Library Online - Scielo, assim como, parecer,resoluções, manuais e normas de órgãos oficiais específicos que abordam a temática em estudo. Para atingir os objetivos da pesquisa foram adotados os seguintes critérios de inclusão, trabalhos publicados na língua portuguesa; em formato de artigo, monografias, dissertação, livros, manuais, normas e resoluções com resumos disponíveis na integra, no período de 2004 a 2015. Após seleção e analise dos textos, foi realizada a discussão, e conclusão. REFERENCIAL TEÓRICO Diante do objetivo proposto neste estudo, torna-se pertinente discorrer sobre o referencial teórico que sustenta a temática relacionada à importância da espiritualidade e ou religiosidade para o enfrentamento do paciente em unidade de terapia intensiva e da família diante da gravidade de uma doença ou da terminalidade. 1. Aspectos Legais e éticos A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso VII, garante, “nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva”. Desta forma, assegura-se a assistência a religiosa nos hospitais.A Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde do Conselho Nacional de Saúde assegura ao paciente o respeito “aos seus valores éticos, culturais e religiosos” (artigo 4º, inciso III, d), bem como o “recebimento de visita de religiosos de qualquer credo, sem que isso acarrete mudança da rotina de tratamento e do estabelecimento e ameaça à segurança ou perturbações a si ou aos outros” (artigo 4º, inciso XIV). Este dispositivo legal, portanto, tanto garante a assistência religiosa como faz ressalvas em relação à segurança e à manutenção da rotina do serviço hospitalar. Orientação mais específica encontra-se na Lei nº 9.982/2000 que, em seu artigo 1º, diz: “Aos religiosos de todas as confissões assegura-se o acesso aos hospitais […] para dar atendimento religioso aos internados […]”. Assim, o paciente tem direito legal a assistência religiosa, e aos religiosos foi concedida a garantia de acesso aos hospitais para a respectiva prestação. (Parecer CFM Nº 43/15) O artigo 2º da Resolução CFM 1.805/2006 assim escreve: “O doente continuará a receber todos os cuidados necessários para aliviar os sintomas que levam ao sofrimento, assegurada a assistência integral, o conforto físico, psíquico, social e espiritual.”Desta forma assegura-se ao doente uma morte digna permeada pela dignidade humana. Além dos aspectos legais e éticos, há aspectos científicos a serem considerados. Os cuidados paliativos tornaram-se recentemente uma especialidade médica, e sua definição, atualizada pela Organização Mundial da Saúde em 2002, inclui a dimensão espiritual por meio dos seguintes termos: “avaliação adequada e tratamento rigoroso dos problemas não só físicos, como a dor, mas também dos psicossociais e espirituais”. Desta forma, faz-se necessário pela equipe multiprofissional o respeito as crenças e interesses do doente, cabendo ao mesmo o direito de receber ou recusar o conforto espiritual e moral, bem como a escolha de um membro de sua religião, de forma a garantir esta assistência espiritual/religiosa e os benefícios ao doente diante do conforto possibilitado pela sua crença religiosa e espiritual. 2. Espiritualidade/Religiosidade no cuidado com o paciente internado na UTI Desde os primórdios da formação da sociedade humana, o trabalho em saúde voltado para a cura e a prevenção das doenças tem se organizado estreitamente ligado às práticas religiosas. Entre os usuários dos serviços de saúde há um grande reconhecimento da importância dessa vivência religiosa no enfrentamento das crises pessoais e familiares que acompanham as doenças mais graves. Também entre muitos profissionais de saúde é bastante reconhecida a importância da vivência religiosa na estruturação do sentido e significado de suas práticas, o que é fundamental na elaboração da motivação para o empenho no trabalho e na orientação ética das condutas no atendimento cotidiano, bem como na avaliação dos impasses pessoais da prática profissional. São numerosos os grupos de vivência e reflexão religiosa entre os profissionais de saúde. (Vasconcelos,E.,2010) A religião e a ciência romperam relações no passado, mas têm se reaproximado sobretudo nos últimos dois séculos. Sob a ótica de autores como Jeff Levin, Harold Koening e Dolores Krieger, desenvolveram importantes e significativas pesquisas este campo e deram grandes contribuições com seus respectivos trabalhos, na tentativa de unir corpo e a mente, a Ciência e a Religião.(Pereira,V.,2015) A partir do final do século XX, o tema da correlação entre vida religiosa e espiritualidade com os níveis de saúde da população passou a merecer amplo interesse de pesquisadores de várias instituições acadêmicas. Um número considerável de pesquisas mostra que a participação como membro de religiões está fortemente associada a um comportamento saudável. Quase todas as religiões ditam comportamentos com relação à saúde, à doença e à morte. Para as pessoas que seguem uma religião, muitas das doutrinas ou ensinamentos de sua fé oferecem orientação moral e prática com relação a como promover, conservar ou recuperar a saúde ou o bem-estar físico e emocional. (Vasconcelos,E.,2010) LEVIN, 2011 Aponta para o resultado de pesquisas onde segundo suas observações, a religiosidade ou a espiritualidade constituem um fator de proteção para a saúde, bem como afirma em seus estudos que foram observados a diminuição da taxa de mortalidade de enfermidades graves, como o câncer e doenças cardiovasculares, nos indivíduos religiosos. Além disso, chama a atenção o fato de que o interesse do médico pela religiosidade do paciente melhora a relação entre ambos (Pereira et al, 2013). Massonetto,2007 ressalta que “os profissionais de saúde devem viver a espiritualidade em sua vida pessoal e no exercício da profissão, a fim de realmente contribuirem para melhorar a saúde das pessoas”. A espiritualidade presente no cuidado com o indivíduo internado não invade sua opção, mas ajuda-o a ter menos sofrimento, maior segurança e aceitação dos momentos difíceis, contribuindo para que tanto ele quanto seus familiares tenham melhor qualidade de vida,como nos esclarecem (Manenti;Soratto,2012). A espiritualidade tem a ver com nós mesmos quando mergulhamos em nosso interior e experimentamos a realidade como um todo. O espírito é aquele momento de nossa consciência que nos abre a percepção de que somos parte de um todo e que pertencemos a esse todo.(Boff, L.,2006) É fundamental, em um processo de interação, o compromisso emocional dos profissionais com aqueles que requerem ajuda para serem cuidados e como é importante desenvolver a capacidade de enfrentar diferentes situações em um ambiente como a UTI, o que contribui para que , os pacientes e familiares trilhem caminhos que possam reduzir o sofrimento. No cuidado terapêutico, pacientes e familiares devem ser respeitados em sua individualidade, seus direitos e valores. O paciente precisa ser reconhecido como um ser integrante de uma família, por isso algumas considerações e cuidados devem ser centrados nela, propiciando, assim, um clima acolhedor, humanizado, espiritualizado e de proximidade. Essa integração necessita o envolvimento da equipe, da família e do paciente, considerando aspectos físicos, emocionais, éticos, sociais e espirituais do cuidar. (Silveira et. al., 2005) “Cuidar na UTI desvela-se por envolver a expressividade do ser humano, por meio da presença, da preocupação, da solidariedade e da afetividade de quem cuida para quem é cuidado”. A espiritualidade se faz presente no mundo do cuidado terapêutico na UTI. O homem pela sua essência é considerado um transcendente, sua dimensão espiritual interage como força impulsionadora e motivador. (Lucena;Crossetti.,2004). A espiritualidade é reconhecida no ser humano como essência do ser. O cuidar espiritualmente caracteriza-se por compreender, relacionar-se, comunicar-se, interagir e estar com o outro. O cuidar espiritualmente caracteriza-se por compreender, relacionar-se, comunicar-se, interagir e estar com o outro,“Humanizar responde pela convivialidade, pela solidariedade, pelo amor e pelo respeito. Logo humanizar corresponde a cuidado”(Waldow ,2007). Silveira et. al. (2005) comentam que, num envolvimento com o outro, precisamos entender a necessidade do reconhecimento e da aceitação de nós mesmos como pessoas distintas e termos a capacidade de perceber os outros como únicos, o que requer conhecimento, introspecção, autodisciplina, franqueza e liberdade para nos revelarmos como seres humanos dotados de emoções e sentimentos. Fica evidente que na afirmação das autoras (Manenti;Soratto,2012) que a interferência da fé, das orações, do acolhimento, da humanização, das emoções e dos sentimentos se faz presente ao prestar um cuidado espiritual. A espiritualidade interfere no processo de recuperação dos pacientes quando esta é vivida pela própria equipe e pela família. A espiritualidade é parte integrante do indivíduo, é ela que lhe possibilita encontrar significado e propósito para a vida, motivando-o e dando-lhe razão para viver. A família busca na espiritualidade respostas, força, consolação e esperança para o processo vivenciado. Confiar no poder de Deus, estar com Ele e com nós mesmos, buscando a paz, sendo amigo um do outro, amando as pessoas e auxiliando-as! Desta forma ressalta-se a importância da equipe multiprofissional e o apoio a família no cuidado ao paciente que se encontra internado na Unidade de Terapia Intensiva, ambos comprometendo-se com o aspecto emocional e espiritual, uma vez que juntos, equipe intensivista, paciente e família passam pelo processo de sofrimento, evidentemente na singularidade pertinente a cada um, mas que consequentemente estabelecerá uma relação de confiança mútua entre ambos, o que de fato subjetivamente ou não, favorecerá os benefícios subjetivos ou não ao paciente, família e consequentemente a equipe. 3. Terminalidade na Unidade de Terapia Intensiva A espiritualidade, a fé, a espera de um milagre e a crença numa força maior se faz presente no mundo da UTI. O reconhecimento da espiritualidade como parte do paciente é revelada como essência do ser. O ser humano, ao se colocar na perspectiva de espiritualidade, ressignifica os momentos de dor e sofrimento, avançando em um processo de autoconhecimento e individuação. A espiritualidade, parte da essência, é comum à pessoa humana, ou seja, está disponível a quem desejar, não se limita exclusivamente a uma religião específica. (Sinsen, Crossetti, 2004 apud Oliveira, 2014). Atualmente, cerca de mais de 70% dos óbitos dos pacientes que se encontram hospitalizados, ocorrem mais especificamente no ambiente das unidades de terapia intensivas, o que confirma o sentimento das pessoas com relação a este setor crítico, de repulsa, medo... Pois este lugar os “aproxima da morte”, diante da possibilidade de irreversibilidade da doença. No ambiente crítico como a Unidade de Terapia Intensiva torna-se imprescindível priorizar a comunicação da equipe multiprofissional com o paciente e seus familiares, uma vez que uma má comunicação acarretará conflitos no tratamento do paciente que se encontra em estado terminal. Os cuidados ao paciente terminal em Unidade de Terapia Intensiva é importante a interatividade, atuação interdisciplinar, o respeito aos valores e crenças, a singularidade e particularidade, solidariedade, fortalece a confiança do paciente e seus familiares. O processo da espiritualidade na equipe multiprofissional deve servir como apoio em direção para o preparo da equipe diante do sofrimento e morte do paciente e, ao mesmo tempo, servir de suporte para os envolvidos que estão sofrendo por uma perda ou doença.(OLIVEIRA,2014). Diante da possibilidade de irreversibilidade da doença e da morte, esta última vamos chamar de luto e entender como um ritual de passagem. Assim, serão cinco os estágios a serem vivenciados. Primeiro Estágio: negação e isolamento. A Negação e o Isolamento são mecanismos de defesas temporários do Ego contra a dor psíquica diante da morte. Em geral, a Negação e o Isolamento não persistem por muito tempo. Segundo Estágio: raiva. Os relacionamentos se tornam problemáticos e todo o ambiente é hostilizado pela revolta de quem sabe que vai morrer. Nessa fase, a dor psíquica do enfrentamento da morte se manifesta por atitudes agressivas e de revolta; – porque comigo? Terceiro Estágio: barganha. A maioria dessas barganhas é feita com Deus e, normalmente, mantidas em segredo. Nessa fase o paciente se mantém sereno, reflexivo e dócil (não se pode barganhar com Deus, ao mesmo tempo em que se hostiliza pessoas). Geralmente este movimento volta-se para à religiosidade. Quarto estágio: A Depressão aparece quando o paciente toma consciência de sua debilidade física, quando já não consegue negar suas condições de doente, quando as perspectivas da morte são claramente sentidas. Aqui a depressão assume um quadro clínico mais típico e característico; desânimo, desinteresse, apatia, tristeza, choro, etc. Quinto estágio: Nesse estágio o paciente já não experimenta o desespero e nem nega sua realidade. Esse é um momento de repouso e serenidade antes da longa viagem, estágio de aceitação em paz, com dignidade e bem estar emocional, o paciente e família experimenta o processo até a morte em clima de serenidade, de conforto, bem como de colaboração para com o paciente. Percebe-se que é imprescindível que seja respeitado o tempo de entendimento do paciente e a decisão da família, pois, o processo do morrer envolve inúmeros sentimentos, diante das adversidades enfrentadas por parte do paciente e dos familiares, não podendo ser considerado somente do ponto de vista racional. Durante o tratamento de um paciente terminal muitas das medidas curativas/restaurativas, podem configurar tratamento fútil, tais como: nutrição parenteral ou enteral, administração de drogas vasoativas, terapia renal substitutiva, instituição ou manutenção de ventilação mecânica invasiva e, inclusive, a internação ou permanência do paciente na UTI. Existe um enorme desgaste emocional dos membros da equipe que conduzem o tratamento do paciente em condição terminal nas UTIs. Portanto, essa equipe deve ser reconhecida como provedora, mas também como objeto dos cuidados. Para tal sugere-se que sejam oferecidos treinamento e educação continuada, que capacite os profissionais, de modo permanente. (Moritz et.al.,2008). CONSIDERAÇÕES GERAIS A vivência da espiritualidade cultiva o amor ao próximo, proporcionando tanto ao profissional como ao paciente criticamente enfermo um cuidado mais integral, como estratégia para o alívio da dor, sofrimento, bem como para o processo eminentemente de morte. Esse exercício diário possibilita uma relação de intimidade com Deus. Portanto, quanto à temática em análise evidenciou que há um reconhecimento ético da importância da dimensão espiritual e/ou religiosa do doente bem como que este tem o direito de receber o cuidado necessário. Os artigos mostraram a importância dessa dimensão campo da espiritualidade/religiosidade e estas oferecem muitas oportunidades de estudo e pesquisa de maneira que possa trazer relevantes contribuições positivas mesmo diante da complexidade do assunto. Pertinente enfatizar que a adoção de estratégias que possibilitem a dimensão do cuidar espiritual na prática clínica do paciente em unidade de terapia intensiva contribui para o cuidar humanizado e holístico. Sugere-se que outros avanços relacionados a esta temática é de suma importância para a melhoria da qualidade do cuidado prestado bem como o entendimento do paciente diante da hospitalização em unidade de terapia intensiva, a prática da espiritualidade e a atitude religiosa constitui uma dimensão importante na compreensão do paciente, familiares e profissionais, diante do enfrentamento da doença ,das possibilidades terapêuticas e na terminalidade. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 1. ABRÃAO, F. M. S.; SANTOS, E. T. dos; ARAÚJO. R. A. de et al.; Sentimentos do paciente durante a permanência em unidade de terapia intensiva. Rev. Enferm. UFPE on line, Recife, p. 523-529, 2014. 2. BOFF, L. Espiritualidade: um caminho de transformação. Rio de Janeiro: Sextante, 2006, p.60. 3. 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