Saúde Mental dos Imigrantes e Refugiados: Espiritualidade como fator de proteção Maria José Rebelo Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS Portugal) Abstracto O Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) é uma organização internacional não-governamental fundada em 1980 pelo padre Pedro Arrupe, então Superior Geral da Companhia de Jesus, que se inspirou no sofrimento dos "boat people", refugiados da Guerra do Vietname. A missão do JRS é acompanhar, servir e defender os imigrantes e refugiados nos cinco continentes. Em Portugal o JRS está presente desde 1992. Nas últimas décadas, tem vindo a acentuar-se na literatura a importância crucial da espiritualidade para o bem-estar físico e psicológico do indivíduo, independentemente da raça, idade, cultura. A Espiritualidade e a religião são muitas vezes apontadas como tendo uma influência tendencialmente positiva (embora em alguns casos, também poder ser negativa) no curso da doença mental, porque ajudam a pessoa a dar sentido ao sofrimento. Por esta razão, foi enfatizado que os profissionais de saúde mental saibam como lidar de forma sensível questões espirituais e religiosas, na relação com os seus pacientes. Os dados das consultas do JRS-Portugal (desde 2007) confirmam esta dimensão da literatura. Numa amostra de 269 imigrantes acompanhados, 190 apresentavam uma situação de grande vulnerabilidade; Por esta razão, foi-lhes colocada a questão: "O que lhe deu forças para continuar a lutar e não desistir?" Destes, mais de metade apontou alguma dimensão da espiritualidade. Numa outra amostra de 114 pacientes imigrantes (em 2013), aos quais foi aplicada a escala de Ulysses, 60% apontaram a espiritualidade como o principal, se não o único fator de proteção. Fazendo uma retrospectiva a alguns dos casos acompanhados, apresentam-se dois casos concretos em que a espiritualidade foi o único meio que possibilitou a um paciente combater a depressão e a uma paciente evitar o suicídio. Em ambos os casos, a espiritualidade foi apontada como o único meio que ajudou a dar algum sentido ao sofrimento, sem que este destruísse estas pessoas física e psicologicamente.