Nesse diálogo, Platão contesta, como podemos observar

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as noções abstratas e gerais que a alma discerne nos objetos sensíveis, para que
possa ter dúvida sobre a conclusão e o alcance do diálogo. (SCHOURÉ, 1987, p.
74–75.)
Nesse diálogo, Platão contesta, como podemos observar, aqueles que atribuem a origem da
ciência aos sentidos e numa ótica universalista, em que procura transcender a linguagem, opõe-se
ao relativismo sofista, em relação ao conhecimento. Esta conduta platônica influenciou a consideração da epistemologia como uma disciplina especial dentro da filosofia, atribuindo aos filósofos a
tarefa de discutir criticamente a ciência, e nunca propriamente os cientistas.
As reflexões epistemológicas sobre a ciência tinham como objetivo investigar os caminhos para se chegar ao conhecimento pelas vias da ciência e para estudar a natureza dos objetos
aos quais os conhecimentos científicos se aplicam. Isso significava perguntar-se sobre o que é
a verdade; se é possível alcançá-la, absoluta ou relativamente, e quais as condições devem ser
preenchidas para que se possa alcançá-la total ou parcialmente. Esta concepção da epistemologia,
como filosofia da ciência, está registrada no Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia, de André
Lalande:
Esta palavra designa a filosofia das ciências, mas com um sentido mais preciso (...)
É essencialmente o estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos resultados das
diversas ciências, destinado a determinar sua origem lógica (não psicológica), o seu
valor e a sua importância objetiva. (LALANDE, 1993, p. 313.
Nesta ótica, a epistemologia não é o estudo dos métodos científicos, que é objeto de estudo da metodologia. É essencialmente um estudo crítico com vistas a determinar a origem lógica
da ciência, seu valor e seu alcance. Assim sendo, diz Japiassu (1991, p. 13) que a filosofia usaria
a ciência como pretexto para filosofar. O que para nós fica comprovado, quando resgatamos as
funções que costumeiramente se atribuem à filosofia da ciência: situar o lugar do conhecimento
científico dentro do domínio do saber; estabelecer os limites do conhecimento científico, “pois este
não pode tudo conhecer”; buscar a natureza da ciência. As três funções por nós expostas possuem
questões fundamentais, subjacentes, sobre o que é o conhecimento e quais as possibilidades de
alcançá-lo.
Impossível seria concebermos o termo “paradigma” equivalente a “epistemologia”, por razões
um tanto óbvias. O paradigma, na ciência, compõem-se de um conjunto de crenças e valores subjacentes à prática científica. Esses valores e crenças, partilhados por uma comunidade científica,
fornecem os princípios que norteiam a construção das teorias que, naquele momento histórico,
fornecem explicação e apontam pistas de soluções para os quebra-cabeças com os quais a sociedade se depara. Por exemplo, no período medieval, o paradigma era de natureza racional-teológica;
portanto, todas as teorias consideradas válidas cientificamente deveriam obedecer a esse princípio
fundamental. No período moderno, o paradigma hegemônico era de natureza empírico-analítica;
portanto, o conhecimento que fosse produzido fora desses pressupostos não seria considerado
válido cientificamente. Já então a epistemologia, tendo como tarefa exercer uma vigilância crítica
sobre esses princípios paradigmáticos, orientou a construção de modelos “epistemológicos”, que,
contendo em si esses princípios, nortearam a construção do conhecimento, no âmbito específico
da ciência.
O paradigma é o modelo pronto e acabado, a epistemologia, “o grilo falante, companheiro
do Pinóquio”, que o persegue com advertências, para que não fuja dos princípios morais fundamentais. Toda ciência, regida por um paradigma, traz em suas pegadas a marca da reflexão epistemológica, que conduz o cientista a um constante transitar entre a certeza e a incerteza, advindas
das limitações cognitivas que fazem parte de sua natureza. Esta condição é defendida por Karl
Popper, em sua obra Lógica da Pesquisa Científica. A conduta científica de Popper (1989) é marcada por uma preocupação epistemológica, que consiste em tornar claro o grau de confiança que
podemos depositar numa teoria científica. Segundo Popper, um enunciado terá validade científica
quando sua forma lógica for aberta à possibilidade de falseação. Com isso deseja dizer que todos
os enunciados considerados legítimos estão abertos a críticas, e que tudo o que não esteja aberto
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