Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade física adaptada e saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira Alergia Doenças alérgicas representam um problema de saúde pública, atingindo mais de 20% da população. As manifestações alérgicas geralmente se iniciam na infância, embora possam surgir em qualquer idade. Estão associadas a uma constituição alérgica, decorrente de fatores hereditários, ambientais e de saúde de cada indivíduo. O fator hereditário é considerado um dos mais importantes, pois dados da literatura demonstram que o risco é maior se existir alergia em membros da família. Risco de desenvolvimento de alergia em pacientes com parentes com antecedentes alérgicos Nenhum membro da família com alergia 5 a 15 % Irmão alérgico 25 a 35% Pai ou mãe alérgico 20 a 40 % Pai e mãe alérgicos 40 a 60 % Pais alérgicos apresentando os mesmos sintomas 50 a 70% Alguns indivíduos, quando expostos a determinados antígenos, acabam produzindo anticorpos da classe IgE, que se ligam a receptores específicos na superfície de mastócitos e basófilos. Quando expostos aos mesmos antígenos, ocorre uma rápida liberação na superfície de mediadores intracelulares que causam aumento de permeabilidade vascular, vasodilatação, contração de musculatura lisa visceral e dos brônquios e inflamação local. Essa reação é denominada hipersensibilidade imediata. Indivíduos propensos a desenvolver reações de hipersensibilidade imediata são chamados de atópicos ou alérgicos, podendo manifestar diferentes sintomas clínicos, entre eles rinites, conjuntivites, asma, eczema, urticária, cólicas abdominais ou diarréia e, em raros casos, o choque anafilático. Diagnóstico de alergia O diagnóstico de alergia nem sempre é fácil, pois os sintomas alérgicos variam nas suas manifestações e gravidade, de acordo com o órgão ou aparelho envolvido. Para confirmar ou eliminar um quadro alérgico, algumas premissas devem ser seguidas, principalmente para que não sejam solicitados exames desnecessários. Premissas 1 – Obter uma história minuciosa e exame físico do paciente com antecedentes dos pais e irmãos, para saber se apresentam predisposição a uma ou mais doenças causadas por alergia; 2 – Dosagem de IgE que, quando negativa, afasta a hipótese de alergia; 3 – Se a IgE for positiva, o passo seguinte é identificar o alérgeno a partir dos dados obtidos na história do paciente, de seus hábitos de vida e das manifestações clínicas, que podem variar dependendo da faixa etária, para poder orientar a pesquisa de anticorpos específicos (RAST), quer seja contra um painel de alérgenos ou contra um único alérgeno. • Entre 0 a 1 ano: Predominam manifestações gastrointestinais decorrentes freqüentemente da introdução do leite de vaca (f2) e derivados (f76,f77,f78), clara de ovo (f1), soja(f14), trigo (f4), amendoim e derivados (f13). O painel do RAST Phadiatop Infant é o teste mais indicado como triagem pois, além dos alérgenos acima citados, estão incorporando os alérgenos respiratórios. As manifestações cutâneas (dermatite atópica ou eczema) podem ser decorrentes da introdução dos alimentos citados acima e da exposição a fungos (mxI, mI, m3, m5), ácaros (hx2) e epitélio de animais (exI, eI, e2 e 3). As manifestações respiratórias são raras podendo se tornar mais freqüentes ao final do primeiro ano de vida, sendo os alérgenos inalados os principais responsáveis pelos sintomas e pelas crises de asma. Porém, alimentos não podem ser totalmente excluídos. Phadiatop Infant é o RAST mais indicado. • Entre 1 a 3 anos: Predominam as manifestações cutâneas (urticária ou eczema persistente). O detalhamento histórico da alimentação diária da criança torna-se muito importante para orientar, de forma mais precisa, a solicitação do RAST. O painel fx5 é recomendado por conter os alérgenos alimentares mais comuns, e RAST específico é indicado quando existe forte suspeita de um alérgeno alimentar dentro da dieta. As manifestações gastrointestinais, entre elas dor de estômago, vômito ou diarréia, podem ser causadas pela ingestão de clara de ovo (f1), trigo (f4), soja (f14), amendoim (f13), castanha (f202), nozes (f256), avelã (f17), chocolate (f93), frutas cítricas (f208,f31) e, mais raramente, pelo leite de vaca (f2). Dentro das manifestações respiratórias em crianças com asma, a pesquisa de alergia do trato respiratório deve estar sempre presente. É sugerida como triagem para este fim a solicitação do RAST Phadiatop Infant, pois nele estão incluídos os alimentos do painel fx5 e os principais alérgenos respiratórios. Se o Phadiatop Infant for positivo, deve-se procurar dentro dos constituintes desse teste o alérgeno mais provável, obtido pelos antecedentes de cada paciente, e então solicitar o RAST específico. • Entre 3 a 7 anos: As manifestações respiratórias predominam. Cerca de 80% das crianças começam a desenvolver sintomas de asma nesse período. Inalantes alergênicos são as principais causas que desencadeiam as crises de asma, embora alérgenos alimentares não possam ser descartados. Para triagem, é indicada a solicitação de painel para alérgenos respiratórios (Phadiatop) e se, positivo, procurar identificar o alérgeno pelo RAST específico. As manifestações gastrointestinais podem ser desencadeadas por diferentes alimentos, mais comumente por aquele que o paciente (ou familiar) já tem conhecimento de alergia no passado. As manifestações cutâneas que se iniciaram na infância podem ser responsáveis por lesões recorrentes. Os antecedentes históricos podem orientar a solicitação correta do RAST. • Entre 7 e 15 anos: Rinite é a principal manifestação de fundo alérgico. Polens são considerados os principais alergênicos transportados pelo ar no ambiente externo. Poeira domiciliar (hx2), ácaros (hx2,dI, d2, Rd201), fungos (mxI,mI,m3,m5), epitélio de cão e gato (e!,e2) e antígenos da barata (i6) são os principais agentes inalados encontrados nas residências. Alérgenos alimentares devem ser investigados quando os alergêncios inalantes são eliminados da lista de agentes causadores. Crises de asma são freqüentes em pacientes nessa faixa etária e desencadeados principalmente pelos mesmos alérgenos responsáveis pelas formas clínicas de rinite alérgica. Manifestações Gastrointestinais são freqüentemente observadas em indivíduos nessa faixa etária, decorrentes da ingestão de determinados alimentos, sendo que clara de ovo (f1), proteínas de soja (f14), peixes e crustáceos (f80, f3, f24, f207) e amendoim (f13) são os mais comumente citados como agentes desencadeantes dos sintomas alérgicos. • Adultos: As manifestações alérgicas podem ser gastrointestinais, respiratórias ou cutâneas, dependendo do estímulo alergênico. Alérgenos inalados são freqüentemente responsáveis pelos sintomas das vias respiratórias, enquanto alimentos são responsáveis pelos sintomas gastrointestinais e cutâneos. Nem sempre é fácil identificar a substância alergênica ou mesmo concluir que as manifestações e sintomas tenham outras causas e origens, não sendo mediadas imunologicamente. Por essa razão, existe a necessidade do paciente colaborar fazendo um diário de suas atividades, para que o clínico possa orientar seu raciocínio diagnóstico. Questões freqüentes sobre testes alérgicos 1 - O RAST é mais específico e sensível que o teste cutâneo (Prick Test), para o diagnóstico de alergia? O teste cutâneo ainda é considerado como padrão-ouro, mas dados da literatura mostram uma concordância excelente entre ambos os testes. A vantagem da técnica do RAST é que,com uma única amostra de sangue, pode ser feita, além da pesquisa da IgE total, a pesquisa de anticorpos específicos contra diferentes painéis de alérgenos ou isoladamente para diferentes alérgenos, além de não ser afetada pelo uso de anti-histamínica. O RAST é indicado em pacientes com eczema ou dermatite atópica, em razão das lesões cutâneas prejudicarem a leitura dos testes cutâneos. 2 - Existe a necessidade de ser solicitada a dosagem da IgE total? Não. Se o clínico tem fortes suspeitas de qual é o aleérgeno responsável pela manifestação clínica, ele pode solicitar somente uma dosagem de IgE específica (RAST) para o alérgeno em questão. A dosagem de IgE total pode ser útil para triagem de doença alérgica, pois uma dosagem negativa elimina a possibilidade de alergia. Existe uma forte correlação entre IgE total positiva e alergia. As únicas exceções são algumas parasitoses que apresentam níveis elevados de IgE total, sem que o paciente apresente qualquer sintoma de alergia. 3 - Existe RAST falso-positivo? Sim. É muito raro e decorre da reatividade cruzada entre carboidratos existentes em alguma estruturas celulares e alguns alimentos que podem ocasionar RAST positivos ou entre glicoproteínas existentes também no pólen de grama, látex e frutas, mas as dosagens apresentam sempre baixa concentração. 4 - Existe reação cruzada entre os diferentes alérgenos? Sim. São mais freqüentes do que suspeitamos e a reatividade pode ser contra múltiplos alérgenos. Como por exemplo, podemos citar a reatividade cruzada que ocorre entre tropomiosina da barata e antígenos de ácaros, epitélio de cão, gato, caranguejo e camarão. Inúmeras outras reatividades cruzadas são descritas. 5 - Existe RAST para drogas ou medicamentos? Apesar da grande freqüência de reações de hipersensibilidade ou alergia a diferentes medicamentos, os únicos testes de RAST disponíveis no mercado são para penicilina e a amoxicilina. 6 - Qual a explicação para um RAST negativo para o painel hx2 quiando existem fortes evidências que as manifestações de alergia respiratória são causadas por ácaros? O reagente (painel hx2) que utilizamos é produzido na Suécia plea Pharmacia e lees não incluem, na sua formulação, antígeno de Blomia tropicalis, que é um ácaro só encontrado em países tropicais. É relatado com muita freqüência, em nosso meio, RAST negativo contra o painel hx2 ou contra os alérgenos isolados que fazem parte dele, e ao RAST positivo para Blomia.