Titulo: UM DILEMA DA EDUCAÇÃO NA PÓS

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Titulo: UM DILEMA DA EDUCAÇÃO NA PÓS-MODERNIDADE: UMA
PEDAGOGIA DO PASSADO CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO PARA O
FUTURO
Autor: ALVES, José Índio – PPGEDU ULBRA/CANOAS – [email protected]
Eixo: Educação, comunicação e novas tecnologias / Nº 9
UM DILEMA DA EDUCAÇÃO NA PÓS-MODERNIDADE: UMA PEDAGOGIA
DO PASSADO CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO PARA O FUTURO
"A principal questão inquietante de hoje: estar vivo num mundo que decreta nossa
falência cotidianamente através da obsolescência de tudo".
Nélida Piñon
A questão do tempo tem sido uma permanente temática dos pensadores de todas as
épocas. Recordo ter lido a idéia cosmológica de Platão sobre o tempo: o tempo é a
imagem da eternidade. Guardei também na memória, entre tantas coisas lidas, as
afirmações que Heráclito de Éfeso teria feito em VI a.C. sobre algo que poderia ser o
tempo: o fluxo contínuo do universo, onde tudo é movimento, nada permanece estável e
a mudança é o estado fundamental de tudo que existe. Já o filósofo alemão G. Wilhelm
Leibniz advogava que o tempo não poderia ser considerado independentemente dos
fenômenos porque ele se constitui precisamente da relação entre os esses fenômenos. E
mesmo que a teoria newtoniana tenha se tornado o principal instrumento da mecânica
clássica, a maior parte dos filósofos posteriores tende a tomar o tempo como
representação intelectual. Quando Albert Einstein surge no palco dos acontecimentos
teóricos, apresentando a sua Teoria da Relatividade, introduz a idéia da tetradimencionalidade do universo onde o tempo seria a quarta dimensão. Em sua teoria,
espaço e tempo estão em contínua relação e interdependência embora à percepção
humana se apresentem como entidades diversas.
Independente dessas conceituações teóricas, é certo que num primeiro momento
nos foi ensinado uma divisão do tempo em três frações, denominadas passado, presente
e futuro. No entanto, ao analisarmos com maior atenção nos deparamos com, no
mínimo, duas reflexões importantes quais sejam, a inexistência do futuro e do presente.
A primeira afirmativa – da inexistência do futuro – decorre do fato de não existir um
futuro no sentido de um tempo que já está lá, pronto, esperando por nós e contendo
todas aquelas promessas que nossa subjetividade construiu. O que usualmente
chamamos futuro é uma construção mental que nos auxilia a nortear nossas ações ao
longo de uma trajetória vital. O que há de real na seqüência dos acontecimentos é um
devir, o qual pode ser dramaticamente diverso do futuro. Em outras palavras, futuro é o
que pensamos e desejamos para nós e para o mundo enquanto devir é o que realmente
vem a acontecer, constituindo aquilo que chamamos realidade. Grande parte do
sentimento desconfortável a que denominamos ansiedade é resultante do gradiente de
tensão e da diferença de potencial entre futuro e devir, na medida em que um não se
superpõe ao outro. Esta constatação da inexistência de um futuro como um tempo certo
e definido, conformado e formatado dentro de um planejamento lógico, pode produzir
efeitos na educação ao refletir-se diretamente na elaboração de um pensamento
pedagógico, como veremos adiante.
Por outro lado, pensar que o presente existe é tentar colocar limites nos
acontecimentos. Senão vejamos, o que é o presente: é apenas este momento? Ou é o dia
de hoje? Pensemos numa situação prática: no exato instante em que terminamos de
dizer agora, esta palavra já pertence ao passado. Então, trata-se apenas de uma questão
de unidade de medida? Podemos medir o presente pela instantaneidade de
nanosegundos ou devemos usar algum outro critério? Nessa direção de pensamento, é
permitido imaginar a vida transcorrendo incessantemente numa sucessão de fenômenos,
do devir para o passado, do que está vindo para o que já foi, numa caleidoscópica e
surpreendente paisagem na qual o ser é ao mesmo tempo ator e sujeito.Nesse modelo, os
acontecimentos se sucedem em fantástica velocidade, provenientes de um lugar-tempolá-adiante, o mesmo ponto para o qual nos dirigimos. Ocorre algo semelhante ao que
aconteceria se caminhássemos na contra-mão de uma multidão de corredores, como
numa maratona. Conseguiremos, com certa habilidade, no desviarmos de muitos desses
velozes corredores que vindo não se sabe de onde, passam por nós. Outros tantos nos
tocarão e modificarão nosso estado e nossa trajetória. Destes, seremos passivos,
sofredores da ação. A alguns, identificaremos como sendo interessante tocá-los. Mas o
máximo que conseguiremos é tocá-los tangencialmente, às vezes o suficiente para
modificar-lhes o rumo. Nesse caso, seremos partícipes das mudanças, agentes sociais
operando intencionalmente as possibilidades resultantes de nossas escolhas.
Surge então o dilema do educador: como pensar um processo pedagógico que dê
conta de preparar o indivíduo para o enfrentamento de um devir ignorado, baseando-se
tão somente nas experiências acumuladas do passado e com os olhos num devir sonhado
chamado futuro? Quais os elementos indispensáveis no programa educacional do
futuro? Que aspectos da cultura (ou das culturas, adjetivadas), devem integrar a pauta de
discussões pedagógicas?
Numa era tida como pós-moderna, onde os conceitos de cultura sofreram tantas
tensões e deformações, onde há um permanente questionamento sobre a validade de
cânones sacramentados da ciência moderna, os aspectos relativos à cultura passam a ser
um dos dilemas do projeto educacional. Nesse sentido, Forquin (1993) nos ensina que a
construção de um currículo é uma seleção de algo da cultura. Admitindo que educação
e cultura sejam indissociáveis, e admitindo também que a cultura é, em boa parte,
representada por eventos passados, podemos dizer que a educação ensina o passado.
Mas certamente não é toda a cultura que deve ser “transmitida”, ou ensinada. Até
mesmo se tomarmos cultura na sua acepção perfectiva, seremos obrigados a fazer uma
rigorosa seleção de conteúdos culturais que constituirão o programa curricular em
determinada época e em uma geografia definida. Nesse sentido, caberia perguntar quem
são as forças legitimadoras de tal escolha? Quem pode validar tal ou qual projeto
pedagógico, e com que finalidades ele está sendo construído? Na medida em que não há
escola neutra, fica implícita a noção de forças de poder atuando na regulação das
escolhas de conteúdos e em suas estratégias de utilização.
É por essa razão que se torna importante pensar na educação como transmissão
de cultura e esta como expressão de um passado. Por outro lado podemos pensar que,
sendo o passado algo comum a todos os viventes de um determinado tempo-espaço, os
ensinamentos baseados nesse passado deveriam ser, teoricamente, neutros e
desinteressados, uma vez que universais e genéricos. Sabemos que não é isso que
ocorre, porque é nesse momento que intervém o poder dominante, seja de um estado, de
uma religião, de uma etnia ou de um grupo social qualquer, efetivando uma criteriosa
escolha dos elementos constitutivos do currículo, aquilo que se deseja perpetuar,
constituindo-se num ato de poder, bastante afastado da neutralidade. É também nesse
momento que se operam os esquecimentos ativos, ou seja, conteúdos que não serão mais
estudados e ficarão para sempre perdidos no tempo, por desinteressarem aos propósitos
do atual projeto.
Pensando dessa forma, é difícil entender a escola como instituição de
desenvolvimento humano. Fica mais fácil entendê-la como formadora, ou seja, a
instituição encarregada de colocar as pessoas numa fôrma. E tal procedimento de
formatação, levará sempre em conta as vivências do passado, experiências. Será uma
forma cujo desenho está em acordo com os modelos modernos, ou seja, ortogonais,
normais, prescritivos.
Com o processo de homogeneização, de padronização e de conformação dos
alunos, ficaria assegurada a manutenção do estatuto social e cultural vigente. Mais uma
vez, a escola-máquina-do-estado, cumpriria seu papel de ser uma organização que
prepara as pessoas para estarem perfeitamente adaptadas e acomodadas ao mundo préformatado que aí está. Interessante observar que o professor, em uma ingênua postura,
crê fielmente estar trabalhando no desenvolvimento de “indivíduos críticos, autônomos
e capazes de mudar a realidade do mundo”. Talvez porque nem ele mesmo se dê conta
de estar, a cada momento, sendo atravessado pelas forças do circuito da cultura que
operando significados na arena social, constituem identidades enquanto fazem mover os
cambiantes fluxos que formam o tecido social.
Talvez o grande desafio das próximas gerações seja exatamente o repensar da
educação enquanto prática rotineira, programada e conduzida. Isso porque, na mesma
medida em que a instituição escolar e os paradigmas da educação esmaecem seu
colorido, ganham novas dimensões as estratégias pedagógicas não-formais e informais.
Nessa dimensão, o avanço das tecnologias midiáticas vem operando uma drástica
modificação nas tradições epistemológicas e sociológicas como cultura, culturas,
identidade e comunidade. Numa perspectiva da tecnologia contemporânea, a noção de
comunidade transmuta-se de sua loco-regionalidade para um indecifrável espaço virtual.
E certamente, nesse espaço virtual, hoje habitado por “seres humanos verdadeiros” e
também por avatares de uma segunda vida1, operam-se processos pedagógicos que
podem ser tão ou mais contundentes – no sentido de provocarem modificações
comportamentais – que as tradicionais práticas escolares. Mais grave ainda (sem juízo
de valor, apenas com o significado de importante) é o fato da escola, dos professores e
da educação como um todo, estarem ainda muito distanciados dessa realidade virtual.
Em verdade, o que parece haver é uma obstinada resistência às novas expressões
culturais.
Ouve-se freqüentemente referências a uma crise na educação, como se educação
fosse uma entidade hermeticamente encerrada dentro da instituição, deslocada do
universo social. Sabemos que educação, cultura e sociedade são inseparáveis, uma
agindo sobre a outra num contínuo embate. Tal crise não parece ser da educação em si,
mas do modelo cultural e social no qual ela se constitui e ao qual ajuda a construir.
Crise que já foi denominada de crise dos paradigmas, crise da pós-modernidade ou
1
Refiro-me ao sitio second life(www.secondlife.com), sucesso absoluto no mundo inteiro, onde pessoas
criam seus avatares e vivem uma segunda vida tão ou mais vívida e intensa quanto a “real”.
qualquer outra nomenclatura que lhe denomine. Essa crise, em grande parte decorrente
da aceleração imposta pela tecnologia às mudanças nos processos sociais e culturais, é
uma crise da humanidade contemporânea. Por outro lado, devemos pensar que a
contemporaneidade só adquire a conotação de crise quando comparada ao relativamente
estável estado de coisas próprio da modernidade, onde as certezas davam conta de
nossas demandas. E nesse cambiante universo cultural, um dos nossos principais
instrumentos de interlocução, aquele que a escola mais utiliza na práxis educacional, a
linguagem, parece estar no eixo dos grandes embates do momento.
A linguagem – elemento chave como construtor/descritor do mundo – vem
sofrendo torções e distorções quando ocupa o espaço virtual. Das páginas de um livro
para uma tela de computador a escrita se transmuta. Novos elementos lingüísticos
surgem a cada dia, sendo validados e naturalizados nos espaços virtuais. Tal velocidade
exige de todos um constante esforço de atualização, sem o qual corre-se o risco da
alienação social. Já se verifica um distanciamento entre as linguagens geracionais, onde
um avô e um neto podem ter dificuldades de entendimento recíproco, mesmo na
oralidade. Na escrita, o surgimento de uma variante de língua portuguesa, o internetês,
surge para tornar a comunicação mais ágil e padronizada àqueles que se habilitarem
para tal uso. Nesse sentido, SCHNEIDER (2006) nos mostra que já se pode observar
uma forte repercussão da escrita eletrônica na escrita manual em sala de aula. Essa
nova língua da web, o internetês, com seus códigos icônicos e seu novíssimo e mutante
código escrito, ao tornar-se de uso rotineiro pelos internautas passa a ter uma validação
indiscutível, a ponto de ser a linguagem “esperada” a ser usada por um interlocutor
virtual.
Vejamos, como exemplo, uma pequena parte de um diálogo em português:
- Oi, tudo bem contigo?
- Beleza.
- Um beijo pra você..
Agora, o mesmo trecho, “traduzido” para o internetês:
- Oi.☺ td?
- Blz.
- Bj.
Ninguém duvida que as novas tecnologias da comunicação vieram para ficar.
Até aí parece que todos concordam e aplaudem. Afinal, as velhas cartas que demoravam
até uma semana para serem lidas pelo destinatário foram substituídas pelas mensagens
de correio eletrônico, salas de bate-papo virtuais e diálogos quase instantâneos
oferecidos por uma gama de programas, em especial o famoso MSN. Não bastasse isso,
é possível conversar em tempo real, com visualização da imagem do interlocutor,
usando a tão badalada tecnologia voip (voice over Internet protocol), bastando para isso
estar na frente de um computador com câmera e microfone, conectado à Internet. Mais
ainda, os “antigos” aparelhos de telefonia celular já ofereciam a seus usuários, a
possibilidade de enviarem mensagens curtas, em alguns segundos, denominadas
torpedos. Os aparelhos mais atuais, os chamados smartphones podem navegar na
Internet, redigir e enviar mensagens eletrônicas, compor textos em editores muito
semelhantes ao tradicional Word, bem como “incrementar” seus textos com imagens
sugerindo o estado afetivo do remetente.
Atualmente, todos os sistemas de comunicação instantânea via Internet utiliza
uma coleção de ícones descritores de humor e de ações. Essas pequenas imagens,
chamadas emoticons, tornaram muito mais fáceis a descrição de um determinado estado
de espírito. Basta teclar uma combinação de teclas previamente configuradas e pronto,
lá está na mensagem uma imagem que descreve muito claramente se estou triste, se
estou deprimido, se estou assustado, se estou desconfiado, se estou emocionado e assim
por diante. Uma pequena imagem é capaz de substituir algo como quatro ou cinco
linhas bem escritas.
Em geral, somos maus descritores de nós mesmos. Assim, transmitir uma idéia
correta de como nos sentimos em determinado momento é algo complexo e exige além
de uma especial habilidade na escrita, o domínio de um vocabulário vasto e abrangente.
Com tudo isso, ainda corremos o risco de não enviarmos a nosso destinatário, um retrato
fiel de nosso atual humor, de nossas intenções ou de nossos desejos.
Pois os emoticons fazem isso com maestria e simplicidade, com a vantagem de
cobrirem uma gama de emoções padronizadas, ou seja, a emoção será sempre
transmitida dentro de uma escala universal válida para todo mundo.
Assim, não será necessário dizer:
- fiquei muito feliz com a notícia que acabas de me dar...
Basta inserir
☺.
Da mesma forma:
... e não imaginas como isso tudo me entristeceu...
Em internetês fica assim:
Ao adquirirmos algumas poucas habilidades no uso de um determinado
programa de computador, como Skype, MSN, Talk, iPhone ou outro qualquer software
de comunicação, certamente pouparemos preciosos minutos de digitação no envio de
mensagens de nosso cotidiano. Isso é bom? Parece ser prático. Com o passar do tempo,
com a repetição das ações desse tipo de escrita codificada, e principalmente, com a
rápida difusão dessa técnica, um tipo de escrita comunicacional vai se estabelecendo e
sendo naturalizada e validada pelas práticas culturais da contemporaneidade. Começa a
nascer uma nova linguagem, com suas regras, suas normas, seus padrões e suas técnicas
redacionais.
Aos poucos, essa linguagem que chamo internetês vai adquirindo uma
consistência, um regramento, uma padronização e também uma ética. Nesse sentido já
existem cursos que ensinam aquilo que poderíamos chamar de ética das relações sociais
no mundo virtual.
Se isso tudo é uma realidade incontestável e sem volta, adaptemo-nos a ela. Isso
parece ser válido para a vida pessoal dos indivíduos e das organizações em geral. As
perguntas que talvez caibam nesse espaço, à guisa de reflexão, seriam: Está a escola
apta a absorver e inscrever-se nesse novo e desafiador panorama? As práticas
pedagógicas estão emparelhadas com a corrida tecnológica? A educação contempla
essas novas práticas? O professor da escola básica domina essa tecnologia e essa
linguagem?
MORAES (2006) ao analisar o uso da Internet nas práticas docentes acredita que
ainda há um distanciamento significativo entre escola e realidade virtual, pelo menos no
Brasil, constituindo o que ela denomina “silêncio tecnológico”. Em verdade, os
programas governamentais de inclusão digital ainda estão em fase de gestação e há um
longo caminho até seu amadurecimento. Mesmo porque não basta um computador na
sala de aula se não existirem as condições de infra-estrutura adequadas como, por
exemplo, a possibilidade de comunicação de dados em alta velocidade.
Voltando à questão básica representada pelo choque cultural entre a linguagem
“oficial” da escola e a linguagem “descolada” da juventude, percebemos um vácuo
cultural. Esse abismo cultural entre as duas linguagens afasta os agentes da educação de
seus alvos. Cria-se com isso, condições de deturpação do espaço escolar, não mais tido
como o sagrado local onde se aprendia para a vida.
A linguagem tem sido apresentada como solução, mas também como problema.
Platão em sua Farmácia de Platão já usava a linguagem, especialmente a escrita, como
um phármakon, algo que poderia ser a um tempo remédio e veneno.
A linguagem é um organismo vivo e como tal, experimenta modificações
adaptativas a toda mudança de cenário social. Como o que está a ocorrer em outros
cenários da pós-modernidade, aqui também não estaria havendo um silencioso embate
entre, por um lado, uma “elite intelectualizada” utilizadora de uma escrita formal e por
outro, uma comunidade de “adeptos das novas tecnologias da comunicação”? Se há uma
luta ou não, não sabemos. Mas parece já existir um certo preconceito em relação às
pessoas que ainda não aderiram às práticas dos novos tempos, chamados “analfabetos
digitais”. Essas posturas parecem sinalizar uma certa vantagem ao internetês no embate
com o português “normal”.
Ainda mais, como a maioria dos equipamentos e dos programas de computador
são desenvolvidos em língua inglesa, assistimos a uma nunca experimentada
estrangeirização de nossa língua. Dificilmente alguém dirá SIDA ao referir-se à
Síndrome de Imunodeficiência Adquirida porque a sigla AIDS já está consagrada. Da
mesma forma dizemos mouse quando queremos indicar o dispositivo apontador auxiliar
do computador. Por outro lado, em inglês o plural de mouse é mice, mas nunca ouvi
alguém dizer que comprou dois mice e sim dois mouses a indicar uma incorporação da
palavra às regras formadoras do plural no português. As pizzas são solicitadas por
telefone às deliveries e não às distribuidoras e assim por diante. Claro que essa invasão
cultural patrocinada pelas novas tecnologias já vem acontecendo há tempos. O laser, por
exemplo, entrou nas nossas vidas na década de sessenta, embora dificilmente nos
lembremos que laser é apenas a sigla de Light Amplification by Stimulated by Emisson
of Radiation, ou seja, uma luz amplificada pela estimulação de uma emissão radiante.
Da mesma forma, a sigla radar (Radio Detection and Ranging: Detecção e telemetria
por rádio) já há muito faz parte de nosso vocabulário cotidiano sem que nos demos
conta de sua origem. Igualmente a mouse, a forma plural já está aportuguesada para
radares. Alguns verbos como clicar, checar, deletar, estartar e editar já estão com suas
conjugações completas dentro da gramática oficial. No caso de editar, agora com o
segundo sentido, qual seja, o de “modificar”.
E assim por diante, poderíamos relacionar uma enormidade de elementos
lingüísticos já incorporados ao nosso cotidiano e inexistentes há menos de três décadas.
Não levar isso em consideração e não se preocupar com isso é tentar negar o inexorável.
Não se trata aqui de adotar uma postura ortodoxa e conservadora, mas de colocarmos
um ponto de reflexão aos estudiosos da educação: de que forma a escola admite e
incorpora ou rejeita e nega tais práticas comunicacionais. Mais ainda, a educação está se
dando conta de que existem estratégias pedagógicas operando significados, construindo
identidades e constituindo sujeitos para além dos muros escolares? E que tais
pedagogias, por serem significativamente mais atraentes e lúdicas, recebem validação e
reconhecimento? O professor está ciente da existência de um outro professor, virtual,
que nunca está mal-humorado, que nunca se atrasa, que está sempre disponível, que não
cobra nada, que nada exige e que está acessível sem que o aluno tenha que sair de casa?
Por outro lado, no âmbito das instituições, assistimos fantásticos debates em
sérios e intelectualizados fóruns e seminários sobre educação. A literatura especializada
está repleta de teorizações e abundam as fontes de referência quando se fala em
educação. Debatem-se as especificações dos currículos, discutem-se teorias da
aprendizagem e redigem-se tratados sobre os mais variados aspectos da práxis
educacional. No entanto, na prática, parece que assistimos a um verdadeiro monólogo
dos educadores a falar uma linguagem de métodos e sistemas, distantes da vivida e
cambiante comunidade infanto-juvenil a comunicar-se numa outra linguagem.
Está colocado na cena teórica um novo desafio aos filósofos da educação:
fomentar ou não um interesse na comunidade teórica pelo estudo das novas vertentes
sociais.Que caminhos seguir para estabelecer uma aproximação entre os dois mundos
pedagógicos e comunicacionais, ao mesmo tempo tão próximos geograficamente e tão
distantes em suas manifestações culturais. Certamente que não será um labor de fácil
empreendimento. Mas é fundamental que se estabeleça uma discussão e um debate
sobre essa empolgante temática ou estaremos cada vez mais distanciados das
comunidades jovens com quem pretendemos interagir.
OK?
Blz. ☺
Fui
Referências
BABIN, Pierre et alii.Os novos modos de aprender: a geração do audiovisual e
do computador. São Paulo, Paulinas, 1989.
FORQUIN, Jean-Claude. Escola e Cultura.As bases sociais e epistemológicas
do conhecimento escolar. Porto Alegre:Artes Médica, 1993.
LEITE, Márcia. A influência da mídia educação. TVE Rede Brasil Internet.
Rádio Mec: Revista Mídia e Educação. Disponível em : <
http://www.redebrasil.tv.br/educacao/> acesso em 19.11.07..
SCHNEIDER, Magalis B.D. As Repercussões da escrita eletrônica no
desenvolvimento da escrita manual na sala de aula e as conseqüências no
código verbal. Trabalho disponível em: www.
Educacaoonline.pro.br/art_as_repercussoes_da_escrita_eletronica.asp,
Acessado em 19.11.2007
SILVA, Tomaz Tadeu da, Documentos de Identidade.Uma introdução às teorias
do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
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