Prof Marco Aurelio

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AUTONOMIA: um caminho para a superação do
estresse na vida pessoal e no trabalho.
Autoria - Marco Aurélio de Patrício Ribeiro,
Titulação - Professor do curso de administraçao do IESC (Instituto de Ensino Superior do
Ceará).
RESUMO
No livro A Era dos Extremos, Erick Hobbsbawm dividiu o século XX em três grandes períodos
fugindo da periodização histórica tradicional, ele propõe o início e o fim do século a partir de
acontecimentos marcantes. O marco inicial seria em 1914 com o início da I guerra mundial e o
término se daria em 1991 com a dissolução da União Soviética e dos regimes socialistas. Com a
decadência do Socialismo, o Capitalismo aparece como vencedor de uma disputa entre modelos e
práticas sócio-econômicas. Esse século ficaria dividido assim: entre 1914 e 1945 a “era da
catástrofe”, período marcado por duas guerras mundiais, pela crise econômica, pelo Nazifascismo, pelo holocausto e pela bomba atômica. O período seguinte seria a “era do ouro”
aproximadamente entre 1945 e 1973, caracterizado por grande crescimento econômico e
possibilidade de democratização, apesar da guerra fria. O terceiro período seria a “era da
incerteza”, aproximadamente entre 1973 e 1991, que o autor define como um tempo de “perda
total de referências”. A abordagem deste artigo é o terceiro período. Neste contexto ele tem como
objetivo analisar a autonomia como um caminho para a superação do estresse na vida pessoal e no
trabalho. O estudo se classifica como uma pesquisa qualitativa, uma vez que avalia a qualidade de
vida baseada em valores propostos pelo pós-modernismo. A tipologia de pesquisa utilizada e
exploratória uma vez que descreve e confronta a opinião de diversos autores e caracteriza-se como
uma pesquisa secundaria bibliográfica. O trabalho está dividido em quatro etapas, onde na
primeira faz-se uma introdução ao tema proposto, seguindo-se da apresentação da metodologia
utilizada. Em um terceiro momento apresenta-se o resgate teórico e ao final apresentam-se
algumas considerações como fechamento das reflexões propostas pelo trabalho.
1. INTRODUÇAO
O século XX foi dividido em três grandes períodos, segundo Erick Hobbsbawm, fugindo da
periodização histórica tradicional. O autor propõe o início e o fim do século a partir de
acontecimentos marcantes. Esse século ficaria dividido assim: entre 1914 e 1945 a “era da
catástrofe”, período marcado por duas guerras mundiais, pela crise econômica, pelo Nazifascismo, pelo holocausto e pela bomba atômica. O período seguinte seria a “era do ouro”
aproximadamente entre 1945 e 1973, caracterizado por grande crescimento econômico e
possibilidade de democratização, apesar da guerra fria. O terceiro período seria a “era da
incerteza”, aproximadamente entre 1973 e 1991, que o autor define como um tempo de “perda
total de referências”. A abordagem deste artigo é o terceiro período. Neste contexto ele tem como
objetivo analisar a autonomia como um caminho para a superação do estresse na vida pessoal e no
trabalho. O estudo se classifica como uma pesquisa qualitativa, uma vez que avalia a qualidade de
vida baseada em valores propostos pelo pós-modernismo. A tipologia de pesquisa utilizada e
exploratória uma vez que descreve e confronta a opinião de diversos autores e caracteriza-se como
uma pesquisa secundaria bibliográfica. O trabalho está dividido em cinco etapas, onde na primeira
faz-se uma introdução ao tema proposto, seguindo-se se uma discussão sobre o dano moral na
sociedade atual. Na terceira etapa apresenta-se uma etapa sobre a heteronomia e por fim apresentase a autonomia. Ao final apresentam-se algumas considerações como fechamento das reflexões
propostas pelo trabalho.
2. METODOLOGIA
O estudo se classifica como uma pesquisa qualitativa, uma vez que avalia a qualidade de vida
baseada em valores propostos pelo pós-modernismo. A tipologia de pesquisa utilizada é
exploratória uma vez que descreve e confronta a opinião de diversos autores. Segundo Vergara
(2004) a investigação exploratória é realizada em área na qual há pouco conhecimento acumulado
e sistematizado. E ainda quanto aos meios configura-se como uma pesquisa secundária
bibliográfica, que segundo a autora é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material
publicado em livros e acessível ao público em geral. Fornece instrumental analítico para qualquer
tipo de pesquisa, mas também pode esgotar-se em si mesma.
3. RESGATE TEÓRICO
3.1 Contextualização:
Uma leitura crítica deste período histórico leva-nos a perceber a importância do conceito
de autonomia na vida subjetiva e na relação social, principalmente no contexto do trabalho, onde
os conflitos e o sofrimento humano parecem se evidenciar e o estresse se fazem presentes como
uma patologia marcante na história recente.
Um tempo marcado pela revolução tecnológica, pela especulação financeira com crescente
autonomização do dinheiro, concomitante a uma profunda crise social provocada, principalmente,
pela concentração de riquezas e pelo desemprego.
No campo da ciência assiste-se a um progresso impressionante. A engenharia genética, os
supercondutores, a comunicação à distância, a fusão nuclear e a biotecnologia são alguns
exemplos da recente capacidade produtiva mundial e da aplicação imediata do conhecimento
científico.
Nas diferentes áreas do conhecimento e da compreensão do real, o saber tecnológico
adquire status como única forma de se chegar a um conhecimento eficaz e verdadeiro. Tornandose ideologia, a ciência moderna se transforma em fonte de poder e dominação, assumindo papel
fundamental no controle social. O sonho aristotélico de que os autômatos um dia libertassem o
homem das tarefas diretamente produtivas para que o ser humano se encaminhasse para atividades
cada vez mais criativas e sofisticadas, propiciando- lhe plena felicidade, não se realizou. O
desemprego em massa tem sido a grande conseqüência dessas mudanças, tornando-se ponto chave
para a compreensão de todo o contexto social internacional.
Na ideologia neoliberal o desemprego representaria uma fase transitória de ajustes sociais à
nova realidade. Contrariando essa visão, poder-se- ia afirmar que a sociedade encontra-se diante de
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um novo estágio de acumulação do capital em sua nova fase de globalização da economia. As
exigências da produção e as demandas da ciência obrigam a repensar os novos papéis da educação
em todo esse processo de apropriação e difusão do conhecimento.
A necessidade da universalização do ensino fundamental surge como necessidade do
capital em qualificar a mão-de-obra. Com ele, o processo de urbanização e dos serviços ligados à
saúde, habitação e lazer. Em um outro pólo, como conseqüência dessas mudanças no pós- guerra,
dá-se a ampliação do ensino universitário. Nesse contexto, a contradição vivida pelo capital entre
explorar e educar os trabalhadores nunca foi tão atual.
O Brasil, enquanto país periférico na divisão internacional do trabalho, vive a contradição
de adestrar o trabalhador para a ação repetitiva ou de educar-lhe para o trabalho criativo, enquanto
suas classes dominantes são educadas para a vida através da aquisição do saber universal.
O capitalismo, em sua história, tem se caracterizado por um conjunto de contradições. A
principal delas, desequilíbrio entre produção de riquezas - acumulação e a exclusão social. Nunca
na história da humanidade foram produzidos tantos bens e a vida cotidiana foi tão facilitada,
especialmente pelo desenvolv imento dos meios de transporte e comunicação. Ao mesmo tempo,
jamais se viu tão grave crescimento dos níveis de pobreza. Nesse contexto, a riqueza monetária
supera a riqueza patrimonial, terra, rebanhos, imóveis e mercadorias tornam-se riqueza secundária,
submetidas aos ditames da especulação financeira. O capital financeiro torna-se hegemônico.
3.2 Dano Moral na Sociedade Atual
Vivemos um momento histórico onde a cada instante são cometidos atos de barbárie, onde
a maior parte da população sofre às custas do bem-estar de uma minoria que concentra a riqueza
produzida.
As pessoas vivem com intensidade a experiência de ruptura com antigas formas de ver o
mundo, tendo que experienciar uma realidade onde a crescente velocidade das mudanças e o
grande volume de informações, associados a uma nova relação capital-trabalho e uma competição
cada vez mais acentuada, vêm levantando reflexões acerca do efeito desse novo modelo de
sociedade na subjetividade humana.
O padrão neoliberal de organização social tem trazido como conseqüência uma crescente
exigência social em relação aos indivíduos que vêm buscando cada vez mais a chamada
“competência social” em todos os grupos sociais a que pertencem. Há um crescimento das
tensões a olhos vistos no indivíduo e na sociedade.
O empobrecimento do planeta é visível, influindo na perda progressiva das condições de
vida digna. Problemas como miséria, desemprego, analfabetismo, guerras, devastações ecológicas,
levam a cada dia mais pessoas a se preocuparem e a desenvolverem estudos e ações no intuito de
amenizar o mar de sofrimentos em que o mundo está mergulhado. Essas questões, embora sejam
de responsabilidade governamental, também dizem respeito a todos nós, já que instiga- nos a
retomar constantemente nossa relação com a sociedade, isto é, a rever o binômio
indivíduo/coletividade.
Solidão, estresse, desespero são algumas das características da atual crise existencial que
numa escala crescente aflige os homens. Isto leva a que a cada dia mais pessoas se preocupem e
desenvolvam esforços no intuito de amenizar o mar de sofrimentos que estamos mergulhados,
investigando seus conflitos psíquicos e éticos- morais.
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Muitas análises realizadas sobre o caos moral em que estamos inseridos citam a crise da
razão moderna que diz buscar a emancipação do homem mas, contraditoriamente, tornou-se
responsável pelo cárcere a que o homem está submetido. A razão não é mais criticada por negar
valores transcendentes
- a pátria, a religião, a família, o estado, mas sim pelo seu
comprometimento com o poder.
A razão moderna, tecnicista e manipulatória, é uma forma de racionalidade dominante e
desumana, que está colocada a mercê da dominação do homem e da natureza, servindo ao poder,
respaldando um conceito de ética pragmática.
Um conflito está sempre presente no homem atual, aceitar os valores da racionalidade
moderna onde a ênfase centra-se no binômio acumular/consumir, cabendo a ele o papel de mero
consumidor, ou seja, um elemento a mais na “cadeia alimentar capitalista”, ou buscar conhecer em
si seus verdadeiros valores.
A maior parte das pessoas “opta” pelos valores vigentes no sistema, talvez por acomodação
ou por estar de tal maneira alienado de si no mundo e impregnado de valores que lhe parecem
universais e permanentes. Tentativas de mudanças poderiam gerar uma desorganização social tida
como inaceitável e que poderia atrapalhar a evolução “ natural ” da sociedade. Mudar significa
desorganizar, o que seria um ato de subversão.
Encontrar sua individualidade e conhecer sua subjetividade, não possibilitam ainda
assimilar uma nova razão, uma nova ética, somente através de uma postura de abertura para o
diálogo e do desenvolvimento de uma capacidade de buscar o outro, sentindo-se responsável não
apenas pela sua, mas também pela felicidade dos demais é que atingiremos uma autêntica
consciência crítica ( não apenas um senso crítico), possibilitando enquanto individualidade e
socialidade, buscar superar toda forma de alienação atingindo uma vida cada vez mais autônoma.
O conceito de felicidade, compreendido aqui como realização, está diretamente ligado ao
de subjetividade e de autonomia, pois é através de uma ruptura com a alienação imposta pelo
social e a descoberta de que se pode ter projetos de vida próprios acreditando poder atingi- los que
o homem alcança a capacidade de conhecer-se como pessoa podendo descobrir-se com desejos
próprios que o levariam ao caminho da realização de seus valores pessoais.
3.3 A Heteronomia
O termo heteronomia usado em oposição ao termo autonomia, representa a força social
atuando no indivíduo através da memória e da cultura preservando através do processo de coação
moral os valores que a sociedade acredita serem importantes para o funcionamento das relações
sociais.
Uma crítica que é feita a teoria da evolução do conceito de moral de Jean Piaget é a visão
evolucionista de seus estudos. Na sua concepção todas as pessoas apesar de em diferentes períodos
de tempo, têm o potencial de chegar a fase final da formação do conceito de moral que seria a
autonomia, quando o sujeito atinge a sua maturidade moral podendo fazer uso de trocas sociais de
qualidade.
Como diante dessa visão de Piaget poderíamos explicar este fenômeno que assistimos nos
nossos dias onde as pessoas parecem ficar a cada dia mais egocêntricas, voltadas quase que
exclusivamente para si e seus interesses ?
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Recorrendo a teoria freudiana, poderemos ter alguma luz a mais para avaliarmos este
fenômeno. Para Freud, o conceito de moral da pessoa humana está vinculado não a regras sociais
externas, mas sim a um desejo interior que se apresenta em forma de pulsão (instinto),
confrontando as normas sociais que foram incorporadas pelo sujeito (Superego). O respeito a este
instinto, chamado de ID, evita a formação de tensões que gerariam desconforto psíquico.
Na sua teoria, Freud contrapõe Piaget ao demonstrar que não é natural a evolução no
sentido da aceitação da norma social, muito pelo contrário, normalmente a ordem social
contrapõe-se frontalmente ao desejo só que este terminará sempre de alguma forma tendo que ser
satisfeito pelo indivíduo. Quanto mais autônomo for o sujeito, mais ele conseguirá satisfazer seus
desejos sem traumas para si ou para os que convivem com ele.
Seria um engano pensar que a teoria freudiana pretende respaldar este aparente retrocesso
ao egocentrismo que vemos na sociedade atual onde parece vigorar a lei do levar vantagem em
tudo. O que Freud fez foi estudar o funcionamento do inconsciente humano tendo sempre em
mente que é no social que o fenômeno se desencadeia.
Na sua teoria foram estudados além de conceitos de juízo moral, a ação moral e a estrutura
das sociedades capitalistas e comunistas, acreditando ser o homem um ser biopsicossocial.
Na sua crítica ao Capitalismo Freud antecipa muitos dos conflitos sociais hoje vivenciados.
Esse sistema econômico é criticado pela sua ênfase no binômio acumular/consumir, que permite
fazer um paralelo com a fase anal da evolução da personalidade humana onde a ênfase está em
controlar e liberar.
Uma outra crítica levantada é que esse modelo social ao superexa ltar o direito a
individualidade encontra respaldo no egocentrismo infantil em parte ainda presente em todos,
mesmo nos adultos. Esta ênfase exagerada na individualidade é que estaria gerando muitos dos
problemas que tornam a sociedade capitalista e neoliberal, uma sociedade doente, pois termina
impossibilitando que vigorem valores solidários que são característicos das pessoas que
conseguem atingir a personalidade adulta.
Uma sociedade doente impossibilita que a pessoa humana atinja a maturidade gerando
fixações em fases anteriores. Esta observação é válida seja analisando do ponto de vista freudiano
ou do piagetiano.
Respaldada em uma ética neoliberal, o sistema vigente ao mesmo tempo em que na sua
essência fortalece e favorece o individualismo e o egocentrismo, cria leis cada vez mais rigorosas
para controlar esta sociedade de egocêntricos.
Compreende-se daí como ao mesmo tempo em que a publicidade das montadoras e
vendedoras de automóveis fala cada vez mais em liberdade, velocidade, potência e luxo, sempre
ampliando seus limites pessoais e atingindo a realização, implanta-se um código de trânsito para
controlar todos os limites e instala-se em grandes cidades rodízios de carros para reduzir a
poluição e melhorar o tráfego em uma clara dicotomia com a mensagem anterior. Enquanto a
primeira enfatiza os direitos individuais numa clara intenção comercial, a segunda a pretexto do
bem estar social impõe suas normas em uma clara “coação solidária”.
O mesmo ocorre em relação a venda de bebidas alcoólicas: “É per mitido comprar, mas se
for dirigir não beba” e em relação à doação de órgãos onde em nome do bem estar e da
coletividade todos são coagidos a serem doadores obrigatórios.
3.4 A autonomia
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O homem só é verdadeiramente homem na autonomia, para tanto, é necessária a supressão
de toda forma de heteronomia. Somente assim será possível a conquista da humanidade do
homem.
Na atuação do sujeito no mundo é que a autonomia se expressa, nesse contexto a
intersubjetividade está sempre presente pois não estando só no mundo há sempre que haver no
processo de atuação social a mediação do direito individual ambicionado pelo que desejamos e o
direito dos demais. O limite entre estas atuações implica num processo de domínio da autonomia
por parte do indivíduo e uma personalidade com maturidade para não temer o contato com o
outro.
Em relação ao outro, o domínio da autonomia nos impele a lutar para afastar tudo aquilo
que proíbe o crescimento do próximo, e de trabalhar para que existam as condições fundamentais
para que cada ser humano se realize
A autonomia nos responsabiliza por lutar pela ampliação das oportunidades da realização
humana e contribuir para que o outro descubra sua posição no mundo e tenha possibilidade de
concretizar seu projeto pessoal através da opção consciente, do diálogo, da organização
comunitária e do esforço criador.
O domínio da criticidade é também importante, esta levará as pessoas a compreenderem a
estrutura de organização da sociedade e acreditarem na capacidade da pessoa humana em superar
seus contrastes tornando o mundo um lugar onde se possa conviver em harmonia solidária.
A sociedade capitalista subjugou todos os demais valores humanos em troca da
priorização absoluta do capital. Em nome do dinheiro que se expressa através da valorização do
acumular sempre para consumir mais, a sociedade incorporou uma ética desumana e exploratória
que na sua natureza é aética.
Em entrevista a revista Veja (1988, edição 1533), Norman Mailer, jornalista americano,
nos diz o seguinte: - ... no capitalismo, o dinheiro tende a subjugar todos os demais valores. Meu
temor é que o capitalismo, ao se alastrar globalmente sem freios, acabe por devorar os demais
valores humanos em todas as partes do mundo. Nesse ritmo, em pouco tempo ficaremos sem uma
reserva de valores e concepções que não tenham sido contaminadas pelo capitalismo. Podemos vir
a precisar desses valores no futuro.
Na sociedade capitalista neoliberal a maior expressão desse tipo de perda do caráter ético
está na relação capital-trabalho, qualquer pessoa sabe que onde há exploração e baixos salários
não se pode ter uma sociedade justa, e é no trabalho humano onde o sujeito mais se relaciona com
o mundo e com o outro, que a exploração se faz mais presente. Hoje não se discute mais apenas a
questão da alienação do trabalhador, que tanto preocupava Marx, mas sim seu direito a ter um
trabalho, em um mundo globalizado onde existem quase um bilhão de desempregados.
O trabalho quando presente e abrindo espaço para a elaboração criadora pode tornar-se
uma forma riquíssima da expressão da subjetividade humana no mundo, por ser motivo de
transformação social e processo de realização do ser humano.
A essência subjetiva humana pode ser concebida no trabalho; num trabalho oposto ao
alienado, no trabalho criador, consciente e livre. Marx viu a essência do trabalho humano com os
olhos de um artista. O trabalho para ele deve espelhar a atividade artística: uma expressão da
criatividade e da inteligência humanas, que possibilite a transformação da natureza, constituindose em fonte de prazer e alegria.
No mundo atual, e da forma como as relações de trabalho estão constituídas, são poucos os
que podem participar efetivamente da alegria do trabalho. Há um trabalho maldito e sofrido.
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O trabalho vem transformando o trabalhador em mais uma mercadoria, perdendo assim a
sua capacidade de ser sujeito das situações. Manipulado no universo do trabalho, manipulado no
mundo do consumo, o homem vai perdendo sua humanidade. Na sociedade capitalista, o dinheiro
ocupa o centro das atenções.
Por não conseguir atingir a crescente “competência social” exigida, o trabalhador expõe-se
a situações de estresse, cada vez mais constantes no nosso cotidiano. Esse estresse social vai mais
além, cria uma concepção de mundo levando o sujeito a uma ansiedade de produção onde a busca
pela perfeição em sua habilidades pessoais levam a mesma tensão vivida no trabalho para todos os
ambientes sociais que participa.
Analisando o contexto social moderno e cotidiano do homem, percebemos como é
estressante. O homem moderno vive estressado pelo tipo de vida que se leva nas grandes cidades,
por ser um prisioneiro no seu próprio lar e vivencia o drama de buscar a todo instante os valores
sociais criados.
O conflito é uma constante, levando a desajustes até na formação da personalidade.
Simbolicamente, vive-se a todo instante suas angústias e tensões, dentro de sua própria casa ele
personaliza um ser reprimido, fora de casa torna-se objeto manipulado. Seu trabalho é algo
necessário, preso a horários, perde o referencial de um tempo para relaxar, pois seu salário muitas
vezes não dá nem para sobreviver.
Num mundo de trabalho restrito e competitivo o homem se perde. A sua civilidade e
individualidade não são características tidas como fundamentais, a violência urbana ao mesmo
tempo que o violenta, o transforma em um violentador. Nesse contexto embrutecido, o indivíduo
esquece que seu corpo é o prolongamento de sua mente, sua família a extensão de si e de suas
emoções, neste contexto o homem moderno deixa de “ser humano”. Sua subjetividade e seu saber
são expropriados em função dos interesses de produtividade e competitividade empresarial.
Diante deste quadro, a família tem sua função repensada como uma forma de resgate da
segurança perdida. Mas apesar de representar a nível de desejo a harmonia social que o homem
não mais encontra no mundo, a família termina repassando, nas suas relações internas
características que são inerentes a um mundo que rompeu com utopias e se torna cada vez mais
pragmático e empírico.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na vida moderna percebemos que os efeitos provocados pelas condições de vida afetam a
dinâmica familiar, a forma como são cobradas as responsabilidades por ocasião do casamento são
bastante significativas pois o casal assume compromissos que não poderão esquivar-se. É a
educação, a saúde, o lazer e o trabalho dos indivíduos envolvidos que serão os enfoques das
preocupações.
Há uma busca constante pela situação de equilíbrio econômico o que expõem os
indivíduos a um estado de tensão permanente. A mulher ao conquistar seu espaço no campo
profissional, acaba geralmente por acumular as atividades de mãe e de apoio financeiro na renda
familiar. Nessa condição uma das seqüelas a que o casal se expõe é o estresse. Outro ponto
importante e causador de estresse é o estado de ansiedade e expectativa causado pela expressão de
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sua sexualidade, numa sociedade de mudanças permeadas pela perfeição das habilidades pessoais,
todos buscam atingir as expectativas dos outros, na relação sexual ocorre ta mbém este processo.
O papel da família na produção do estresse não pode ser minimizado, uma vez que a
mesma atua como reprodutora das normas, crenças e valores de uma sociedade transmitindo aos
seus membros a necessidade de sucesso. Isto se apresenta na família muitas vezes através de um
clima de competição que se estabelece em especial em relação aos pais entre si e no convívio com
os filhos, aspectos como luta pelo poder se fazem presentes na família e isto afeta em muito o
desenvolvimento dos indivíduos já que estão intimamente ligados afetivamente e esta situação
estressante pode atrapalhar a capacitação do indivíduo a nível de personalidade para o
enfrentamento criativo do mundo.
A escola também passa por um processo semelhante, ela mais que possibilitar ao educando
interagir com o mundo de uma forma tranqüila, tem sujeitado jovens e crianças a uma situação
estressante que pode levar o sujeito até próximo do esgotamento através de exigências constantes
em se superar atingindo níveis que tornem o indivíduo socialmente superior.
As relações de poder na escola desencadeiam vários desgastes que podem tornar a
convivência na instituição um tormento. Educadores e educandos vítimas de um mesmo sistema se
digladiam nas salas de aula tentando fazer valer um processo educacional que na maioria das
vezes não funciona.
No trabalho, no entanto, é onde ocorre a maior carga de estresse sobre o indivíduo. Nos
dias de hoje, além da exigência social pela produção, a todo custo, os indivíduos ainda são levados
a fazer escolhas profissionais (quando fazem), levando em conta aspectos mercadológicos e não
motivação individual, além é claro, do permanente medo de perder o emprego e não encontrar
lugar no mercado de trabalho.
Existem vários fatores organizacionais que podem levar o sujeito ao estresse, a má
definição das funções, uma gerência superior conflitiva, sobrecarga de trabalho quantitativa e
qualitativa, relações pessoais tensas ou hostis, falta de perspectiva de ascensão profissional, além
da desorganização de algumas empresas.
As instituições, família, escola e empresa são de grande importância na vida do indivíduo
pois são elas que, de diferentes formas e em diferentes momentos da vida, atenderão as
necessidades humanas de alimentação, proteção, satisfação afetiva, desempenho dos papeis
sexuais e a atividade criadora de iniciativa. Daí quando estas instituições apresentam-se de forma
pouco “saudável” o indivíduo fica mais propenso a situações de “doença”.
Com a pessoa humana revalorizada através de uma ética universal e um ambiente social
adequado, o estresse não teria outro caminho a seguir a não ser entregar as armas, trazendo como
conseqüência uma redução no nível de agressividade na sociedade.
Uma reeducação no sentido de controle nos instintos de conservação e um processo de
valorização crescente da auto-estima, trarão com certeza uma significação maior a vida do
indivíduo.
A busca da intersubjetividade acompanhada de uma dialogicidade podem levar o
indivíduo a superar os conflitos hoje sentidos. É uma palavra de ordem a busca constante de
conhecer a si em um sentido socrático, e colocar-se no mundo através de todas as formas de
organização sejam comunitárias ou sindicais. No encontro com o outro nos encontramos a nós
mesmos, desenvolvemos uma consciência autônoma e vivenciamos um espaço democrático na
plenitude da palavra. É no convívio com os outros que compreendemos que nossas idéias se
enriquecem com as dos demais e como cúmplices de um mesmo processo, revemos nossos pontos
de vista e mudamos de posição sem que isso nos constranja.
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A verdadeira superação dos conflitos e do sofrimento humano só será possível de ser
atingida após um processo de reeducação onde se consiga superar a ótica reducionista de pensar o
homem como produtor-trabalhador, pensando-o numa perspectiva holística que contemple o ser
pleno que ele é, em todas as dimensões, sejam elas vinculadas ao mundo do trabalho ou ao
ambiente estético, afetivo e sexual, enfim a sua subjetividade.
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