universidade vale do paraíba instituto de pesquisa e

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UNIVERSIDADE VALE DO PARAÍBA
INSTITUTO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOENGENHARIA
FRANCISCA MIRIANE DE ARAÚJO BATISTA
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA
NO MUNICÍPIO DE ALTOS - PIAUÍ
São José dos Campos – SP
2013
FRANCISCA MIRIANE DE ARAÚJO BATISTA
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA
NO MUNICÍPIO DE ALTOS - PIAUÍ
Dissertação apresentada ao programa de PósGraduação em Bioengenharia, como exigência
parcial para obtenção do Título de Mestre
Engenharia Biomédica
Orientadores: Profª. Drª. Josane Mittmann e Profª.
Drª. Andreza Ribeiro Simioni
São José dos Campos – SP
2013
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial
desta dissertação, por processos foto copiadores ou transmissão eletrônica, desde que citada a
fonte.
Assinatura do aluno:
Data:
FRANCISCA MIRIANE DE ARAÚJO BATISTA
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA
NO MUNICÍPIO DE ALTOS - PIAUÍ
Dissertação de Mestrado aprovada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em
Engenharia de Biomédica do Programa de Pós-Graduação em Bioengenharia, do Instituto de
Pesquisa e Desenvolvimento da Universidade do Vale do Paraíba - UNIVAP, São José dos
Campos, SP, pela seguinte banca examinadora:
Presidente: Prof. Dr. Paulo Roxo Barja (UNIVAP)
Orientadora: Profª. Dra. Josane Mittmann (UNIVAP)
4º Membro: Profª. Dra. Andreza Ribeiro Simioni (UNIVAP)
Membro Externo: Prof. Dr. Claudemis de Carvalho (FAPI)
Profª. Dra. Sandra Maria Fonseca da Costa.
Diretora do IP&D – UNIVAP.
São José dos Campos, 08 de maio de 2013.
“Ao meu marido Fabrício, pela paciência,
companheirismo e por acreditar no meu
potencial.
A minha família, pais, avôs e irmãos que
sempre
foram
as
minhas
fontes
de
entusiasmo”
Dedico.
AGRADECIMENTOS
Escolher os agradecimentos de um trabalho acadêmico como a dissertação torna-se
uma tarefa muito difícil, pois mesmo sendo individual esse trabalho, existem nos bastidores
pessoas que passaram e que de alguma forma ajudaram na produção dessa dissertação, seja
com as críticas e sugestões sobre o trabalho ou até mesmo com conforto emocional. Por essa
razão, quero expressar os meus sinceros agradecimentos:
Às professoras Dra. Josane Mittmann e Dra. Andreza Ribeiro Simioni, pela
disponibilidade, boa vontade, incentivo, compromisso, empenho, sugestões e críticas
relevantes feitas durante a orientação. Muito obrigada!
A meu marido Fabrício, por aceitar minha ausência todos os meses que tive que ir à
São Paulo assistir as aulas e pelo seu amor incondicional. Amo você!
A minha família por acreditar no meu potencial. Em especial, a meu pai Fabiano
Pereira da Silva que sempre me apoiou em todos os meus projetos e sempre vibrou pelo meu
sucesso.
Aos amigos, que sempre me apoiaram, dos quais destaco, Etielle Andrade e Indira que
me ajudaram e incentivaram a conquistar mais esta etapa.
À Faculdade CHRISFAPI - Piauí que me incentivou financeiramente e concordou com
a minha ausência todos os meses para que eu viesse a me capacitar.
Aos meus colegas de Mestrado, principalmente Layana Pacheco, Maria Helena,
Priscilla, Marcus e Eliel que se tornaram grandes amigos.
Por fim, agradeço a todos que estiveram ao meu lado.
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA
NO MUNICÍPIO DE ALTOS - PIAUÍ
Resumo
O Brasil está entre os países com o maior número de casos de leishmaniose no mundo,
acometendo todas as regiões brasileiras, com destaque para as regiões Norte, Centro-Oeste e
Nordeste. Dentre os estados do Nordeste, o Piauí é o que apresenta maior incidência de
infecção dessa enfermidade, devido aos limitados recursos investidos em diagnóstico,
tratamento e controle. Além disso, essa doença está diretamente associada à pobreza, e o
Estado ainda apresenta parte representativa da população nessa condição social. Em relação às
leishmanioses diagnosticadas no Estado do Piauí, o município de Altos se configura como um
dos que apresentam as maiores taxa de incidências da doença, o que justifica a realização de
trabalhos que levantem dados sobre a situação epidemiológica da doença no município.
Assim, o presente trabalho tem como objetivo descrever o perfil epidemiológico da
Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) no município de Altos no Estado do Piauí no
período de 2007 a 2011, fornecendo dados sobre a ocorrência, frequência e distribuição dos
casos notificados. A pesquisa foi realizada a partir de dados epidemiológicos coletados no
Sistema de Informações de Agravos de Notificações – SINAN/DATASUS e na Vigilância
Epidemiológico e Ambiental do Estado do Piauí. Foram notificados durante o período de
estudo 150 casos de LTA, com coeficiente de incidência crescente entre os anos de 2007 a
2010 e uma pequena redução em 2011. O maior número de casos foi observado entre
indivíduos com idade produtiva entre 20 e 59 anos, distribuídos homogeneamente entre as
regiões urbana e rural. Não foi constatada diferença significativa em relação ao gênero, apesar
de se observar um número maior de casos entre os homens nos anos de 2007 e 2011. O
principal método para o diagnóstico da LTA foi o clínico-epidemiológico (84%) e maioria dos
casos evoluíram para cura (67,3%), sem nenhuma notificação de óbito nesse período. Os
dados evidenciam a importância das medidas de controle e/ou prevenção às quais devem ser
incorporadas aos hábitos dos moradores locais e priorizadas pela Secretária de Saúde do
Estado para diminuir a elevada incidência da doença no município.
Palavras-chave: Leishmaniose Tegumentar Americana; Epidemiologia; Saúde Pública.
EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF AMERICAN CUTANEOUS LEISHMANIASIS
IN THE MUNICIPALITY OF ALTOS – PIAUÍ
Abstract
Brazil is among the countries with the highest number of cases of leishmaniasis in the world.
Leishmaniasis is mainly found in the North, Midwest, and Northeast regions of Brazil.
Among the northeastern states, the Piauí has the highest infection rate of this disease, due to
limited resources invested in diagnosis, treatment, and control, and it is directly associated
with poverty. For leishmaniasis diagnosed in the state of Piauí, the city of Altos has one of the
greatest incidence of the disease, which justifies the collection of data on the epidemiological
situation of the disease in the city. Thus, this work aims to describe the epidemiology of
American cutaneous leishmaniasis (ACL) in the municipality Altos, PI, between 2007-2011,
providing data on the occurrence, frequency, and distribution of reported cases. The survey
was conducted from epidemiological data collected from the Disease Information Notification
System (SINAN / DATASUL) and the Epidemiology and Environmental Surveillance of
Piaui State. A total of 150 cases of cutaneous leishmaniasis was reported, with an increase in
incidence between the years 2007 to 2010 and a slight decrease in 2011. The largest number
of cases was observed among individuals in the productive age between 20 and 59 years, and
evenly distributed between urban and rural regions. There was no significant difference in
relation to sex, despite observing a larger number of cases among men in the years of 2007
and 2011. The main diagnosis method of ACL was clinical-epidemiological (84%) and most
cases were cured (67.3%), without any death notification in this period. The data show the
importance of control measures and / or prevention which should be incorporated in the habits
of the population and prioritized by the state health secretary to decrease the high incidence of
the disease in the city.
Key-words: Cutaneous Leishmaniasis Epidemiology, Public Health.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Diferentes estágios do ciclo evolutivos do gênero Leishmania ............................. 17
Figura 2 - Fêmea de flebotomíneo engurgitada...................................................................... 19
Figura 3 - Ciclo biológico do Leishmania, protozoário causador das leishmanioses. ........... 20
Figura 4 - Casos de leishmaniose tegumentar americana e visceral no Piauí entre 1994-2003
................................................................................................................................................. 22
Figura 5 - Localização do Município de Altos no Estado do Piauí, evidenciando sua
localização na mesorregião do Centro-Norte Piauiense. ......................................................... 23
Figura 6 - Limites Geográficos do Município de Altos, Estado do Piauí .............................. 24
Figura 7 - Estratificação dos casos de Leishmaniose Tegumentar Americana por municípios
no estado do Piauí, de 2007-2011............................................................................................ 26
Figura 8 - Coeficiente de incidência de LTA no período de 2007-2011 no município de Altos,
Piauí. ........................................................................................................................................ 27
Figura 9 - Casos de Leishmaniose Tegumentar Americana no município de Altos-PI no ano
de 2007 .................................................................................................................................... 38
Figura 10 - Casos de Leishmaniose Tegumentar Americana no município de Altos-PI no ano
de 2008 .................................................................................................................................... 39
Figura 11 - Casos de Leishmaniose Tegumentar Americana no município de Altos-PI no ano
de 2009. ................................................................................................................................... 39
Figura 12 - Casos de Leishmaniose Tegumentar Americana no município de Altos-PI no ano
de 2010. ................................................................................................................................... 40
Figura 13 - Casos de Leishmaniose Tegumentar Americana no município de Altos-PI no ano
de 2011. ................................................................................................................................... 40
Figura 14 - Forma clínica da LTA no período de 2007-2011 no município de Altos, Piauí .
................................................................................................................................................. 41
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Principais agentes etiológicos, forma clínica, vetor e reservatório da Leishmaniose
Tegumentar Americana (LTA). ............................................................................................... 18
Tabela 2 - Coeficiente de Incidência de Leishmaniose Tegumentar Americana no período de
2007-2011 no município de Altos, Piauí. ................................................................................ 27
Tabela 3 - Casos confirmados de LTA por sexo segundo ano de notificação 2007-2011 no
município de Altos, Piauí. ....................................................................................................... 28
Tabela 4 - Casos confirmados de LTA por zona segundo ano de notificação 2007-2011 no
município de Altos, Piauí. ....................................................................................................... 29
Tabela 5 - Casos confirmados de Leishmaniose Tegumentar Americana por faixa etária
segundo ano de notificação 2007-2011 no município de Altos, Piauí. ................................... 31
Tabela 6 - Distribuição mensal, média e desvio padrão (dp) dos casos confirmados de
Leishmaniose Tegumentar Americana no período de 2007-2011 no município de Altos, Piauí.
................................................................................................................................................. 32
Tabela 7 - Distribuição dos casos confirmados de Leishmaniose Tegumentar Americana no
período de 2007-2011 no município de Altos, Piauí. .............................................................. 34
Tabela 8 - Critérios de confirmação de LTA no período de 2007-2011 no município de Altos,
Piauí. ........................................................................................................................................ 35
Tabela 9 - Exames de confirmação de LTA no período de 2007-2011 no município de Altos,
Piauí. ........................................................................................................................................ 35
Tabela 10 - Distribuição de Casos Positivos segundo Localidade na Zona Urbana de
Residência do Paciente. ........................................................................................................... 36
Tabela 11 - Distribuição de Casos Positivos segundo Localidade na Zona Rural de
Residência do Paciente. ........................................................................................................... 37
Tabela 12 - Desfecho dos casos de LTA no período de 2007-2011 no município de Altos,
Piauí. ........................................................................................................................................ 42
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
ATP - Adenosinas Trifosfatos
CNES - Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde
DNA – Ácido Desoxirribonucleico
GTP - Guanosina Trifosfato
HUT - Hospital de Urgência de Teresina
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDRM - Intradermorreação de Montenegro
IDTNP - Instituto de Doenças Tropicais Natan Portela
LC - Leishmaniose Cutânea
LCM - Leishmaniose Cutâneomucosa
LM - Leishmaniose Mucosa
LTA - Leishmaniose Tegumentar Americana
LVA - Leishmaniose Visceral Americana
OMS - Organização Mundial da Saúde
PS – Posto de Saúde
RIFI - Reação da Imunofluorescência Indireta
SIM - Sistema de Mortalidade
SINAN - Sistema de Informações de Agravos de Notificações
WHO – Organização Mundial de Saúde
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 13
1.1 MOTIVAÇÃO .............................................................................................................. 13
1.2 OBJETIVOS ................................................................................................................. 14
1.2.1 Objetivo Geral ..................................................................................................... 14
1.2.2 Objetivos Específicos .......................................................................................... 14
2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 15
2.1 LEISHMANÍASES ....................................................................................................... 15
2.2 LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA ................................................... 16
2.3 ETIOLOGIA ................................................................................................................. 17
2.4 FLEBOTOMÍNEOS E HOSPEDEIROS RESERVATÓRIOS .................................... 18
2.5 CICLO BIOLÓGICO ................................................................................................... 20
2.6 DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO E CONTROLE .................................................... 21
2.7 EPIDEMIOLOGIA DA LEISHMANIOSE TEGUMENTAR NO PIAUÍ................... 22
3 MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................................. 23
3.1 CARACTERÍSTICA DA PESQUISA ......................................................................... 23
3.2 CENÁRIO DE ESTUDO.............................................................................................. 23
3.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO ....................................................................................... 24
3.4 COLETA DE DADOS.................................................................................................. 24
3.5 TRATAMENTO DOS DADOS ................................................................................... 25
3.6.1 Análise estatística ................................................................................................ 25
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 26
4.1 COEFICIENTE DE INCIDÊNCIA .............................................................................. 26
4.2 PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA LTA NO MUNICÍPIO DE ALTOS ..................... 28
4.3 DISTRIBUIÇÕES DE OCORRÊNCIAS MENSAIS DOS CASOS NO MUNICÍPIO
DE ALTOS ......................................................................................................................... 31
4.4 UNIDADE NOTIFICADORA NO MUNICÍPIO DE ALTOS .................................... 33
4.5 DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS SEGUNDO CRITÉRIO E EXAME DE
CONFIRMAÇÃO DA LTA NO MUNICÍPIO DE ALTOS .............................................. 34
4.6 DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS SEGUNDO LOCALIDADE E ANÁLISE ESPACIAL
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................ 36
4.7 TAXA DE LETALIDADE PARA LTA NO MUNICÍPIO DE ALTOS ..................... 40
4.8 FORMA CLÍNICA DA LTA NO MUNICÍPIO E DESFECHO DOS CASOS........... 41
5 CONCLUSÃO..................................................................................................................... 43
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 44
ANEXO A: SINAN ............................................................................................................... 51
ANEXO B: BANCO DE DADOS PLUVIOMÉTRICOS ...................................................... 54
13
1 INTRODUÇÃO
1.1 MOTIVAÇÃO
Este estudo foi motivado pela alta incidência das leishmanioses, considerada como
uma doença de grande impacto na saúde pública, em todo mundo (ALVAR et al., 2012;
PITTNER et al., 2009). Apesar disso, ainda existem grandes lacunas no conhecimento sobre a
epidemiologia desta endemia, como em relação a frequência, distribuição espacial, perfil
epidemiológico, populações de mosquito e identificação de vetores envolvidos na
transmissão. A vigilância em saúde é a responsável por detectar qualquer risco que possa
interferir na saúde do ser humano, seja individual ou coletivo, procurando notificar doenças
que causem maior impacto no processo de vida humana e que apresentem uma alta incidência
de morbimortalidade, maior capacidade de disseminação, surtos, epidemias, dentre outros
fatores (BRASIL, 2010). Tanto a Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) quanto a
Leishmaniose Visceral Americana (LVA) devem ser registradas, de acordo com as normas do
Sistema de Informações de Agravos de Notificações (SINAN), para que possa ser realizada a
investigação epidemiológica (BRASIL, 2002).
A investigação epidemiológica deve ser realizada logo após a notificação, objetivando
saber como se deu a transmissão, qual a fonte de infecção, quais os fatores determinantes, os
tipos de agentes biológicos envolvidos no processo, determinar o período de
transmissibilidade, fatores de risco, entre outros, que busquem o controle ou a erradicação de
um evento qualquer que possa causar um surto ou epidemia em uma população (BRASIL,
2002).
Neste cenário, a identificação pode contribuir como um indicador da intensidade da
transmissão em áreas endêmicas, associada com a distribuição e abundância, permitindo
estabelecer medidas mais efetivas para o controle dos vetores. Estudos epidemiológicos da
doença, nas últimas décadas, têm sugerido mudança em seu comportamento. Considerada
inicialmente como antropozoonose de animais silvestres que acometia ocasionalmente
pessoas em contato com florestas em zonas rurais desmatadas, atualmente passando a ocorrer
em regiões urbanas e periurbanas (HEUSSER JUNIOR, 2010; NEVES et al., 2011).
Além disso, é considerada pela Organização Mundial da Saúde (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DE SAÚDE, 2012) como uma das cinco doenças infecto-parasitárias endêmicas
de maior relevância (DESJEUX, 2004; GUERRA et al., 2007; SILVA et al., 2008; MOTTA;
MIRANDA, 2011). No Brasil é encontrada a maior prevalência de todo o continente
14
Americano, destacando-se as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste como regiões endêmicas
(SILVA et al., 2007; SAMPAIO et al., 2009; MOTA; MIRANDA, 2011). Em um
levantamento bibliográfico realizado foi verificado que no Nordeste, especificamente no
estado do Piauí, vários trabalhos já foram desenvolvidos com intuito de notificar casos de
leishmaniose e identificar as espécies de flebotomíneos. No entanto, não foram suficientes
para definir um perfil epidemiológico dos municípios que compõem o estado, devido aos
problemas relacionados às questões ambientais e sociais, incluindo o desflorestamento,
urbanização e de leituras dos bancos de dados epidemiológicos (COSTA; PEREIRA;
ARAÚJO, 1990; VEXENAT et al., 1994; ANDRADE FILHO, 2001; WERNECK et al.,
2008; SILVA et al., 2007).
A realização desse trabalho no município de Altos, estado do Piauí, justifica-se por
apresentar o segundo maior índice da doença no estado, perdendo apenas para a capital
Teresina, necessitando, portanto, de trabalhos que avaliem principalmente o perfil
epidemiológico da doença no município. Diante desses fatos, a pesquisa servirá de apoio a
outros trabalhos, além de enfatiza medidas de intervenção em saúde.
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo geral
Descrever o perfil epidemiológico da Leishmaniose Tegumentar Americana no
município Altos – PI, no período de 2007 a 2011.
1.2.2 Objetivos específicos
• Determinar a ocorrência, a frequência e a distribuição espacial dos casos de
leishmaniose a partir de dados notificados;
• Identificar a distribuição dos casos segundo características da doença, dos serviços de
notificação e do diagnóstico;
• Fornecer subsídio para a elaboração de estratégias de controle da doença;
15
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 LEISHMANIOSES
As leishmanioses são zoonoses causadas por protozoários digenéticos da ordem
Kinetoplastida, família Trypanosomatidae, gênero Leishmania (ROSS, 1903). Nas Américas,
são transmitidas entre os animais e o homem pela picada das fêmeas de diversas espécies de
flebotomíneos (Diptera, Psychodidae, Phlebotominae) pertencentes ao gênero Lutzomyia
(SHAW et al., 1987; MARZOCHI, 1992; YOUNG; DUNCAN, 1994). Compreendem um
espectro de doenças distribuídas mundialmente em regiões tropicais e subtropicais, com alta
capacidade do protozoário de se adaptar a diferentes ecossistemas do inseto e de infectar
diferentes espécies de mamíferos (WHO, 2000; ROUGERON et al., 2010).
Apresentam-se sob duas formas clínicas distintas: a Leishmaniose Tegumentar
Americana (LTA), que acomete pele e mucosas, e a Leishmaniose Visceral Americana
(LVA), que causa comprometimento de órgãos internos, especialmente o fígado e o baço. A
importância das leishmanioses reside não somente na sua alta incidência e ampla distribuição
geográfica, mas também na possibilidade de assumir formas graves, com altas taxas de
mortalidade nos casos não tratados de LVA e alta morbidade nos casos de LTA, que podem
causar desde infecções inaparentes, oligossintomáticas, até lesões destrutivas e desfigurantes,
constituindo-se em um importante problema de saúde pública (GONTIJO; CARVALHO,
2003; MARZOCHI, 1992).
A estimativa de infecção é de 12 milhões de casos por ano, com uma incidência de 11,5 milhão de casos para leishmaniose cutânea e 500 mil para a forma visceral (WHO, 2002;
PICADO et al., 2010; RAMAN et al., 2012). O Brasil está entre os países com o maior
número dessa doença, acontecendo principalmente nas regiões Norte, Centro-Oeste e
Nordeste. Dentre os estados do Nordeste, o Piauí apresenta maior incidência da infecção
diagnosticada, principalmente por ser uma doença classificada como negligenciada, devido
aos limitados recursos investidos em diagnóstico, tratamento e controle, e estar diretamente
associada com a pobreza (ANDRADE FILHO; SILVA; FALCÃO, 2001; GONÇALVES,
2010; NUNES et al., 2010).
16
2.2 LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA
É uma afecção dermatológica que continua sendo endêmica em várias regiões do
mundo. No Brasil já foram reconhecidas sete espécies dermotrópicas que causam a doença,
sendo uma do subgênero Leishmania e seis do subgênero Viannia, dos quais as principais são
L. (Leishmania) amazonensis, L. (Viannia) brazilieses, e L.(Viannia) guyanensis (GONTIJO;
CARVALHO, 2003; BRASIL, 2009).
A LTA tem diferentes características epidemiológicos, diversificando de acordo com o
ambiente biogeográfico em que prevalece a infecção, ocorrendo principalmente em áreas
florestais desmatadas, urbanizadas, locais em que houve a adaptação do vetor às modificações
do meio, em áreas rurais e urbanas. Dessa forma o homem participa de uma variedade de
fatores que predispõem a sua exposição ao parasito, por estar cada vez mais presente fora dos
focos naturais de seus limites geográficos (MAYWALD et al., 1996; GOMES; NEVES,
1998). Apresenta-se sob diferentes formas clínicas: cutânea, mucosa ou mucocutânea, nas
quais os sinais clínicos vão depender da espécie do parasita (BRASIL, 2009).
As lesões cutâneas geralmente são associadas à picada do mosquito. Após um período
determinado de incubação, a doença pode manifestar os sintomas depois de um trauma local,
ativando assim uma infecção latente, acometendo principalmente as palmas das mãos, planta
dos pés e couro cabeludo. A lesão inicial na pele pode medir alguns milímetros, aparecendo
ulcerações, com fundo granulotematoso e bordas infiltradas em moldura, mas também podem
aparecer lesões disseminadas, verrucosas ou nodulares e sem dor (PERU, 2000; MEJÍA;
RESTREPO; TORO, 2008; BRASIL, 2009).
Podem ser as lesões cutâneas de forma localizada, aparecendo lesões únicas ou
múltiplas no mesmo local da picada do mosquito, geralmente causada pela espécie L. (V.)
braziliensis; disseminada, que surge por propagação na corrente sanguínea do hospedeiro,
com lesões distantes do local da picada e distribuídas em várias partes do corpo, sendo
ocasionada principalmente por L. (V.) guyanensis; e difusa, mais difícil de acontecer, sendo
considerada forma grave da leishmaniose cutânea (LC), é mais comum em pacientes que não
desenvolvem resposta imunológica ao antígeno da Leishmania (CIMERMAN; CIMERMAN,
2008).
Uma pequena parte dos indivíduos que apresentam a LC desenvolvem a leishmaniose
mucosa (LM) ou cutâneomucosa (LCM). Muitas vezes LM ou LCM se desenvolve devido a
um tratamento mal sucedido ou mesmo após anos da cura da LC inicial, ocasionando assim a
forma severa da doença, que geralmente atinge os tecidos das vias aéreas superiores,
17
principalmente à mucosa nasal e oral, causando danos consideráveis (BRASIL, 2009;
GONZÁLEZ et al., 2009; DINIZ; COSTA; GONÇALVES, 2011). Os sinais mais observados
nas mucosas afetadas são lesões infiltradas, ulcero-crostosas, perfuração septo nasal, ulcero
destrutivas, em sua forma crônica leva à mutilação e severas deformidades (MOTA;
MIRANDA, 2011).
As principais formas que a LM apresenta são: tardia, que podem aparecer depois de
meses ou anos da lesão de pele, geralmente acomete a via oro-respiratória; de origem
indeterminada, em que as lesões na via oro-respiratória surgem isoladas, não se detectando
nenhuma forma de LC prévia; primária, onde a picada do mosquito pode, eventualmente, ser
na mucosa dos lábios ou genitais, originando a lesão; concomitante, na qual ocorre a lesão
cutânea ativa ao mesmo tempo que a lesão mucosa, que ocorre quando há disseminação
direta da lesão cutânea para outras partes do corpo, perto de orifícios corporais,
principalmente para regiões aerodigestivas (BRASIL, 2009; MOTA; MIRANDA, 2011).
2.3 ETIOLOGIA
Os agentes etiológicos da leishmaniose no Brasil, segundo o Ministério da Saúde
(2006), são protozoários tripanosomatídeos do gênero Leishmania, parasita intracelular
obrigatório das células do sistema fagocítico mononuclear, com uma forma flagelada ou
promastigota (Figura 1A), encontrada no tubo digestivo do inseto vetor e outra aflagelada ou
amastigota (Figura 1B) nos tecidos dos vertebrados.
Figura 1 - Diferentes estágios do ciclo evolutivos do gênero Leishmania. A - Forma Promastígota; B - Forma
Amastigota.
Fonte: Brasail (2006).
As principais espécies de Leishmania pertencem a dois subgêneros: Viannia e
Leishmania. No Brasil, várias espécies comumente isoladas em pacientes com LTA (Tab. 1)
18
são responsáveis pela transmissão dessa doença; no entanto, a espécie usualmente presente é
a L. (V.) braziliensis, esta sendo mais conhecida por ser o agente etiológico causador da
“úlcera de Bauru”, “nariz de tapir” ou “ferida brava” (CALDAS et al., 2001; BASANO;
CAMARGO, 2004), seguida da L. (L.) Amazonensis que também é amplamente distribuído
em áreas endêmicas, e mais escassa a L. (V.) guyanensis (RIBEIRO, 2009).
Tabela 1 - Principais agentes etiológicos e forma clínica.
Agente Etiológico
L. (V.) guyanensis
L. (L.) amazonensis
L. (V.) braziliensis
L. (V.) lainsoni
Forma
Clínica
Cutânea
Cutânea
Cutânea,
cutâneomucosa
Cutânea
L. (V.) shawi
Cutânea
L. (V.) naiffi
L. (V.) lindenbergi
Cutânea
Cutânea
Fonte: Alvar et al. (2012).
2.4 FLEBOTOMÍNEOS E HOSPEDEIROS RESERVATÓRIOS
Os flebotomíneos transmissores da leishmaniose são mosquitos fêmeas pertencentes a
ordem Diptera, Família Psychodidae, Sub-Família Phlebotominae e gênero Lutzomyia. No
Brasil existem mais de 200 espécies de vetores da doença em humanos, as principais
transmissoras da LTA são Lutzomyia whitmani, Lu. intermedia, Lu. wellcomei, Lu. umbratilis,
Lu. anduzei, Lu. flaviscutellata, Lu. olmeca, dentre outras, e a principal responsável pela LVA
é a espécies Lu. longipalpis (GONTIJO; CARVALHO, 2003; BASANO; CAMARGO, 2004;
SILVA et al., 2007; MAIA-ELKHOURY et al., 2008).
São insetos pequenos, de coloração clara, corpo coberto de pelos, voos com pequenos
saltos e pousos com asas entreabertas (Figura 2), e que na fase adulta tem a capacidade de se
adaptar a diferentes climas, tendo um tempo de vida médio de 20 dias. Dentre as suas
denominações as mais conhecidas são mosquito palha, tatuquiras, cangalhinha e asa dura
(BRASIL, 2009).
Mudanças climáticas como a chuva e temperatura são fatores propícios para a
reprodução desses seres, já que há uma interligação entre o aumento de flebotomíneos e a
19
humidade e incidência de chuvas, que favorecem o desenvolvimento da vegetação e o
acúmulo de matéria orgânica no solo contribuindo para o surgimento de novos criadouros.
O sangue é o alimento essencial para o mosquito fêmea, pois este possui uma proteína
que favorece o desenvolvimento de seus ovos. A procura desse nutriente frequentemente
acontece ao amanhecer e ao entardecer, sua mordida ocasiona uma pápula cor-de-rosa envolta
por uma superfície eritematosa de 10-20 mm de diâmetro (SHARMA; SINGH, 2008).
Figura 2 - Fêmea de flebotomíneo
Fonte: Brasil (2007).
Os hospedeiros das diferentes espécies de Leishmania podem ser invertebrados e
vertebrados; estes últimos incluem vários mamíferos: roedores, canídeos, marsupiais, até
mesmo o homem que e considerado um reservatório acidental. O cão (Canis familiaris), por
exemplo, é considerado o reservatório doméstico que mais participa da cadeia de transmissão
da infecção tanto na LVA quanto na LTA (NEVES, 2005). Entre os animais silvestres, o
roedor da espécie Proechimys sp., a raposa Cerdocyon thous, os marsupiais Metachirus sp. e
Didelphis sp., dentre outros, são os principais reservatórios da L. (L.) amazonensis
(BASANO; CAMARGO, 2004; PITTNER et al., 2009).
20
2.5 CICLO BIOLÓGICO
O protozoário Leishmania apresenta duas fases evolutivas em seu ciclo biológico: a
promastigota e a amastigota. Esta é encontrada no sistema mononuclear fagocitário (SMF) do
hospedeiro, e aquela é encontrada no trato digestório do flebotomíno, podendo estar livre ou
aderida a parede intestinal. Quando a fêmea hematófoga pica um organismo que esteja
infectado, ingere os macrófagos que estão parasitados pelas amastigotas, as quais sofrem
divisão binária e se transformam em formas promastigotas, que se multiplicam e migram para
o aparelho bucal do inseto, prontas para transmitir a infecção (REY, 2008).
Ao picar uma pessoa, o flebotomíneo libera com sua saliva as formas promastigotas
flageladas, que são fagocitadas pelos macrófagos, e em seu interior diferenciam-se em
amastigotas, que não possuem flagelo, mas uma única organela com seu DNA, em seguida
multiplicam e após a morte do macrófago são liberadas podendo infectar outros macrófagos
livres (Figura 3). O tempo em que as amastigotas vão se disseminar no corpo vai depender da
espécie de Leishmania (NEVES, 2005; HABIF, 2012).
Figura 3 - Ciclo biológico do Leishmania, protozoário causador das leishmanioses.
Fonte: Pereira (2009)
O estágio de propagação do parasita no corpo pode demorar de meses a anos, sem que
os sintomas e sinais aparentes da infecção se manifestem, o que vai depender da
susceptibilidade do hospedeiro e de seu estado imunológico. Quando os macrófagos
infectados se localizam na pele desenvolve-se a LC, na disseminação para os órgãos a LVA,
21
podendo atingir ainda as mucosas LM ou as regiões mucocutâneas na qual desenvolve a LCM
(SHARMA; SINGH, 2008).
2.6 DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO E CONTROLE
O diagnóstico pode ser clínico e epidemiológico, associado a resultados de exames
laboratoriais (BRASIL, 2011). Os exames mais realizados na LTA são a Intradermorreação de
Montenegro (IDRM) que indica a hipersensibilidade tardia aos parasitas da Leishmania,
Reação da Imunofluorescência Indireta (RIFI), que geralmente é positivo na forma cutânea
difusa e mucosa disseminada (SAMPAIO et al., 2009) e o Parasitológico, que possibilita
encontrar o parasita no corpo do hospedeiro, sendo o exame mais confiável (LOPES, 2006;
BRASIL, 2010).
Os tratamentos mais empregados desde 1945 até os dias atuais são os que fazem uso
de antimoniais, entre os quais o mais utilizado é o antimonial pentavalente, disponibilizado
sob duas formas: antimoniato de N-metilglucamina e o estibogluconato de sódio. Ambos têm
resultados semelhantes nas formas clínicas da LTA, a eficácia equivalente é explicada pelo
fato de serem da mesma classe farmacológica e apresentarem mecanismos de ação e
farmacocinética semelhantes, sendo o primeiro distribuído pelo programa de controle da LTA
do Ministério da Saúde do Brasil (BRASIL, 2007; LIMA et al., 2007).
Os antimoniais pentavalente (Sb5+) agem no organismo interferindo na estrutura do
macrófago infectado com amastigotas de Leishmania, interrompendo o processo metabólico
do ciclo do acido cítrico e da glicólise, o que leva a uma diminuição ou até mesmo inibição
das adenosinas trifosfatos (ATP) e guanosina trifosfato (GTP), provocando a morte das
amastigotas (BRASIL, 2007; LIMA et al., 2007).
Quando não há resposta ao tratamento outros medicamentos são utilizados, como os
antibióticos pentamidinas e anfotericina B, de ação leishmanicida, geralmente de segunda
escolha (LIMA et al., 2007; ALMEIDA; SANTOS, 2011). Essas drogas são tóxicas, e muitas
vezes, causam reações adversas graves levando, em algumas ocasiões, a interrupção do
tratamento.
O insucesso do tratamento na maioria das vezes está relacionado à resistência do
parasita às drogas, ao uso irregular e à distância dos indivíduos que moram bastante afastados
dos serviços de saúde (RODRIGUES et al., 2006).
O controle da LTA deve ser abordado de maneira abrangente, incluindo ações como:
vigilância epidemiológica, medidas de atuação na cadeia de transmissão, medidas educativas,
22
medidas administrativas e vacinas. São apontadas alternativas que passam pela estruturação
dos serviços de saúde, com respeito ao diagnóstico, no desenvolvimento de drogas de
aplicação tópica ou por via oral. Com relação ao perfil de transmissão peri-urbano, além das
medidas antivetoriais e de um eficiente sistema de vigilância epidemiológica, a redução da
transmissão está intimamente relacionada com a melhoria das condições de vida da população
(OLIVEIRA, 2011).
2.7 EPIDEMIOLOGIA DA LEISHMANIOSE TEGUMENTAR NO PIAUÍ
Com base na análise epidemiológica da doença no Piauí, pode-se perceber que o
Estado notificou 152 casos de LTA no ano de 2003, com incidência de 5,2 casos/100 mil hab.
(Figura 4). Em 2005, o Piauí notificou 248 casos de LTA, com coeficiente de detecção de 8,3
casos por 100 mil hab. e percentual de cura clínica de 63,7%, destacando-se os municípios de
Teresina, Pedro II e Altos, com 54,4% do total de casos do estado. Em 2009, o Estado
notificou 104 casos de LTA, com coeficiente de detecção de 3,3 casos por 100 mil hab.,
destacando-se novamente os municípios de Altos e Teresina com 51% do total de casos do
estado.
Figura 4 - Casos de leishmaniose tegumentar americana e visceral no Piauí entre 1994-2003.
Fonte: SVS/MS
O gênero masculino representou 60,6% dos casos e 95,2% eram maiores de 10 anos. O
percentual de cura clínica foi de 67,3% e 42,3% foram confirmados por critério laboratorial
(BRASIL, 2005; 2007; 2009; 2011).
23
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 CARACTERÍSTICA DA PESQUISA
Trata-se de uma pesquisa retrospectiva, com abordagem descritiva e quantitativa,
realizada através de dados epidemiológicos de problema em saúde pública no município de
Altos, no estado do Piauí, no período de 2007 a 2011.
As pesquisas quantitativo-descritivas se delimitam em investigações de busca de
dados relevantes que tem como finalidade análise de dados, fenômenos, variáveis, dentre
outros. Podem ser realizadas técnicas formais que se aproximam de estudos experimentais,
caracterizados pela obtenção de dados estatísticos, com o objetivo de averiguar as hipóteses
(LAKATOS; MARCONI, 2010).
3.2 CENÁRIO DO ESTUDO
O município de Altos está localizado na região norte de estado do Piauí, na
mesorregião do Centro-Norte Piauiense (Figura 5), compreende uma área de 958 km2 e tem
como limites os municípios de José de Freitas e Campo Maior a norte, ao sul Pau D`arco, a
leste Coivaras, e a oeste Teresina (Figura 6).
Figura 5 - Localização do Município de Altos no Estado do Piauí, evidenciando sua localização na mesorregião
do Centro-Norte Piauiense.
24
Figura 6 - Limites Geográficos do Município de Altos, Estado do Piauí.
O município foi criado pelo Decreto-Lei nº 52 de 29 de março de 1938 e está
localizado entre as coordenadas geográficas 05º02’17” de latitude sul e 42º27’36” de
longitude oeste, e dista cerca de 37 km da capital do estado Teresina. A população total é de
38.822 habitantes com uma densidade demográfica de 40,5 hab/km2, onde cerca de 71,6% das
pessoas estão na zona urbana (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATISTICA, 2010).
Situada a 180 m acima do nível do mar, possui clima tropical quente, com baixas
amplitudes térmicas, variando de 20ºC a 30ºC. A precipitação pluviométrica média anual é
definida no Regime Equatorial Marítimo, com isoietas anuais entre 800 a 1.600 mm, cerca de
5 a 6 meses como os mais chuvosos e período restante do ano de estação seca. Os meses de
fevereiro, março e abril correspondem ao trimestre mais úmido da região (AGUIAR, 2004).
3.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO
Foram incluídos no estudo 150 casos de pacientes residentes no município de Altos,
registrados e notificados nas Unidades Básicas de Saúde ou Unidades de Referência para o
atendimento de casos, após confirmação laboratorial, com ou sem localização precisa do local
25
de infecção, no período de 2007 a 2011. Foram excluídos aqueles cuja suspeita não foi
confirmada por testes laboratoriais.
3.4 COLETA DE DADOS
Os dados foram colhidos na base de dados do Sistema de Informações de Agravos de
Notificações – SINAN/DATASUS e na Vigilância Epidemiológico e Ambiental do Estado do
Piauí. Em seguida foi feita uma investigação epidemiológica contemplando (TELES, 2011):
•
Descrição do perfil epidemiológico - sexo, idade, localidade, raça, escolaridade,
zona, frequência anual de casos, recursos utilizado para diagnóstico (critério de
confirmação e exames realizados) e tratamento (desfecho);
•
Cálculos dos indicadores epidemiológicos - coeficiente de incidência de LTA,
coeficiente de prevalência, proporção de casos com cura clínica e taxa de
letalidade, média.
Após, foi feito um georreferenciamento das áreas com casos confirmados de LTA
utilizando mapas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para análise
espacial das áreas urbanas, periurbanas e rurais do município de Altos. Por fim, foi feito um
levantamento em consultas à base de dados do IBGE buscando: área geográfica, população e
distribuição. Os dados das variáveis ambientais tais como chuvas foram obtidos na base de
dados da Secretária do Meio Ambiente do Estado do Piauí.
3.5 TRATAMENTO DOS DADOS
Para os cálculos estatísticos e compilação de gráficos, todos os casos foram
organizados em planilhas eletrônicas para que se procedesse à análise, a determinação do
perfil epidemiológico e a identificação de eventuais problemas que necessitem ser tratados
nas ações de vigilância epidemiológica. Os dados foram estatisticamente analisados para
estimativas de risco. Áreas com frequência de casos confirmados identificados foram
referenciadas para análise geoestatística (geoprocessamento).
26
3.5.1 Análise estatística
Nas análises univariadas foi aplicado o Teste Qui-Quadrado (χ²) de aderência e para
análise bivariada foi aplicado o Teste Qui-Quadrado (χ²) de independência para verificar
associação entre as variáveis; os dados foram distribuídos em tabelas de contingência de dupla
entrada; para amostras com população conhecida, foi utilizado o Teste Qui-Quadrado (χ²) de
tendência. Considerando sempre um nível de significância de p < 0,05. O processamento dos
dados e a análise estatística foram realizados através do programa SSPS®, versão 18.0.
27
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No que se refere a estudos da situação de LTA no estado do Piauí, percebe-se que
pouco tem se realizado. A maioria dos estudos (COSTA; PEREIRA; ARAÚJO, 1990;
VENEXAT, 1994; SILVA et al., 2007; WERNECK et al., 2008; RODRIGUES, 2008;
SILVA, 2009; GOUVÊA, 2011; SOARES et al., 2011) enfatizam principalmente dados sobre
a LVA.
Em pesquisa realizada na base do DATASUS entre os anos de 2007 e 2011, foi
possível observar que no estado do Piauí foram notificados e confirmados 779 casos de LTA.
Destes, 672 dos casos confirmados de LTA eram residentes no estado. Os municípios com os
maiores números de casos de LTA nesse período (2007 a 2011) foram: Teresina (27%), Altos
(21,8%) e Pedro II (3,8%), todas essas cidades localizadas na região centro-norte do Estado
(Figura 7).
Figura 7 - Estratificação dos casos de Leishmaniose Tegumentar Americana por municípios no estado do Piauí,
de 2007-2011.
4.1 COEFICIENTE DE INCIDÊNCIA
Os números de ocorrências de LTA no município de Altos no período de 2007 a 2011
totalizaram 150 casos confirmados e residentes no local. Deste total, 144 (96%)
28
corresponderam a novos casos, três (2%) equivaleram às recidivas e três (2%) aos casos
ignorados.
A incidência da leishmaniose no período estudado se comportou conforme o que se
observa na Tabela 2 e Figura 8. Evidencia-se a alça epidêmica da leishmaniose no município
de Altos, com correlação positiva até o ano de 2010, em que se observa pico de incidência
(100,5/100.000 habitantes). Ressaltando que, segundo os parâmetros de classificação de áreas
de transmissão de LTA, coeficientes maiores ou iguais a 71,0/100.000 habitantes são
classificados como “muito alto” para o risco de transmissão do agravo (BRASIL, 2010).
Tabela 2 - Coeficiente de Incidência de Leishmaniose Tegumentar Americana no período de 2007-2011 no
município de Altos, Piauí.
Ano
Nº casos
População
Coef. Incidência
2007
2008
2009
2010
2011
21
28
32
39
30
38.328
39.430
39.735
38.822
39.030
54,8
71,0
80,5
100,5
76,9
χ2 de tendência A = 28,38 e p = 0,099.
Figura 8 - Coeficiente de incidência de LTA no período de 2007-2011 no município de Altos, Piauí.
Coeficiente (por 100.000 habitantes)
120
100
80
60
40
20
0
2007
2008
2009
2010
2011
Ano
Ao observar esses dados, percebe-se que os índices no município seguem o mesmo
padrão observado para o Estado, com pico epidêmico no ano de 2010, havendo a necessidade,
portanto, de se avaliar uma série histórica maior, com o intuito de se confirmar o mesmo
29
comportamento cíclico nos coeficientes de detecção da população. Além disso, análises
mostram também que o coeficiente segue uma tendência nacional, apresentando flutuações
cíclicas em intervalos regulares (BRASIL, 2007).
O Brasil é o país com maior número de casos de LTA da América do Sul. Desde os
anos 1980, tem havido um aumento no número de casos registrados de 4.560 casos em 1980
para 35.748 em 1995, com surtos frequentes. No período de 1988 a 2009, o país apresentou
média anual de 27.093 casos registrados e coeficiente médio de detecção de 16,0 casos por
100 mil habitantes, observando uma tendência ao crescimento da endemia, registrando os
coeficientes mais elevados nos anos de 1994 e de 1995, quando atingiram níveis de 22,83 a
22,94 casos por 100.000 habitantes, respectivamente (BRASIL, 2011; ALVAR et al., 2012).
Analisando ainda, o número de casos e a população residente no município de
Teresina e Altos no quinquênio do estudo, constata-se que a incidência da doença em Teresina
é aproximadamente 01(um) caso para cada 4.523,5 habitantes, no município de Altos a
incidência é de aproximadamente 01(um) caso para cada 258,8 habitantes. Isso mostra que o
município de Altos tem maior risco para a doença, necessitando de atenção maior do estado e
da Saúde Municipal para esta doença.
4.2 PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA LTA NO MUNICÍPIO DE ALTOS
Com relação ao gênero, as populações masculina e feminina do município de Altos
não tiveram diferença significativa em relação ao número total de casos, esse dado foi
comprovado pelo Test “t” pareado com média de 15 ± 6 para gênero feminino e 15 ± 3 para
masculino (p = 0,90), não havendo associação significativa no período do estudo (p = 0,162)
(Tab. 3).
Tabela 3 - Casos confirmados de LTA por sexo segundo ano de notificação 2007-2011 no município de Altos,
Piauí.
Ano
2007
2008
2009
2010
2011
N
08
17
17
22
10
Feminino
(%)
10,9
22,9
22,9
29,8
13,5
N
13
11
15
17
20
Masculino
(%)
17,2
14,4
19,8
22,3
26,3
χ2 independência = 6,55 e p = 0,162 (associação não significativa); #χ2 aderência
30
Comparando a incidência por sexo com dados do Estado obtido no DATASUS/MS,
percebe que a média é de 55 ± 16 por ano para sexo feminino e 78 ± 16 por ano para sexo
masculino, evidenciando diferença por sexo no Estado, com índices maiores no sexo
masculino.
Estudos já realizados por outros pesquisadores, dentre os quais pode-se mencionar
Barros et al. (1985), confirmam esses dados. Neste trabalho realizado no Espirito Santo, os
autores observaram o acometimento da LTA indiferenciado quanto ao sexo, constatando que
nas localidades estudadas a leishmaniose, não se reveste de características puramente
profissionais, ou seja, na divisão do trabalho entre homens e mulheres do campo
principalmente. Lima et al. (1988) corroboram o trabalho feito por Barros et al. (1985) ao
afirmarem que as pessoas são atingidas pela enfermidade, independentemente de gênero,
ocupação ou tipo de habitação, bastando apenas, estarem expostas ao ambiente do vetor.
Já Guerra et al. (2007) e Oliveira (2011), enfatizam em seus trabalhos que a maior
frequência de LTA ocorre no sexo masculino, essa ocorrência está intimamente ligado a fato
desses estarem mais presentes em locais extradomiciliares realizando atividades laborais,
principalmente no hábitat natural do vetor. O que poderia justificar a ocorrência do percentual
maior nesse sexo no município de Altos nos anos de 2007 e 2010. Acredita-se também, que a
percentagem de mulheres atingidas no município se deve ao fato delas estarem expostas às
regiões agrícolas, ajudado seus maridos no aumento da renda familiar, inseridas nas
atividades de produção econômica.
O percentual de casos de LTA apresentou uma distribuição semelhante entre a zona
urbana e rural, com 53,3%, dos casos relacionados na área urbana e um valor de 46,7% dos
casos na zona rural (Tab. 4), não havendo associação significativa no período do estudo (p =
0,344). No entanto, no ano de 2007 houve uma diferença no percentual de casos em relação à
zona urbana.
Tabela 4 - Casos confirmados de LTA por zona segundo ano de notificação 2007-2011 no município de Altos,
Piauí.
2007
N
%
2008
N
%
2009
N
%
2010
N
%
2011
N
%
Total
N
%
Urbano
15
71,4
14
50,0
18
56,3
17
43,6
16
53,3
80
53,3
Rural
06
28,6
14
50,0
14
43,8
22
56,4
14
46,7
70
46,7
Zona
χ2 = 4,48 e p = 0,344 (associação não significativa).
31
De acordo com dados do censo 2010 do IBGE, 71,6% da população do município vive
na zona urbana e a 28,33% na zona rural. Calculando o coeficiente de prevalência da doença
pela população de cada zona, percebe-se que a taxa de prevalência é de 0,28 para cada 100
hab. na zona urbana e de 0,63 para cada 100 hab. da zona rural.
Analisando os dados de LTA pode se perceber no aspecto epidemiológico da
leishmaniose que a taxa de prevalência é maior na zona rural do município, sendo, portanto a
leishmaniose cutânea uma zoonose de animais selvagens, sendo transmitida acidentalmente ao
homem quando este adentra nas florestas para exploração, extração de madeira, abertura de
estradas e mineração, o que se justifica essa equivalência de zona no estudo para LTA.
Segundo Basano e Camargo (2004), os principais fatores responsáveis pelos números
de casos na zona urbana são os processo migratório, as precariedades em saneamento básico,
a baixa condição socioeconômica, o desmatamento desenfreado para construção de
assentamentos, estradas, fábricas, o crescimento da agropecuária, entre outros, destruindo e
invadindo o hábitat natural do flebotomíneo vetor transmissor da Leishmaniose.
De acordo com Werneck et al. (2008), o Piauí foi o primeiro Estado a apresentar um
surto epidêmico em meio urbano no Brasil na década de 80, tendo vários determinantes
favoráveis para esse acontecimento, como períodos recorrentes de seca, o que levou a
movimentação de pessoas com seus animais domésticos já infectados para áreas sem
transmissão. Outro fator foi a ocupação de locais recém-desflorestados, ficando-se assim, em
contato com o ambiente de reprodução do vetor causador da doença e com reservatórios
selvagens portadores do parasita.
A Tabela 5 mostra a distribuição dos casos de LTA de acordo com a faixa etária. Os
dados mostram que indivíduos de todas as faixas etárias são acometidos, entretanto, como na
média do país, o predomínio é em maiores de 10 anos (BRASIL, 2010).Houve no estudo uma
prevalência da doença na fase adulta entre os 20 aos 39 anos (n = 64). Silveira et al. (1996) e
Lima et al. (2002) corrobora com os dados registrados nos quais a maior incidência de LTA
foram registrados entre os anos de 1993 a 1998 entre a faixa etária de 20 a 39 anos, ambos no
estado do Paraná. No entanto, a pesquisa chama atenção o acometimento da faixa etária
menor que 9 anos e maior que 60 anos, o que sugere que poderá haver mudança no padrão
epidemiológico da doença no município.
Ao analisar os dados, pode-se observar que no estado do Piauí, também há uma maior
prevalência na fase adulta entre os 20 aos 59 anos. Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL,
2007), isso acontece porque indivíduos nessa faixa etária estão na fase produtiva, o que
identifica o encontro ocupacional diante dos trabalhos relacionados ao desmatamento, entrada
32
em áreas florestais, em atividades militares, na lavoura, principalmente de subsistência,
ficando assim, com maior frequência em contato com o vetor transmissor da espécie
causadora dessa patologia. Este fato também foi constatado em estudos realizados em Brasília
(NANE et al., 2001), no Paraná (TEODORO et al., 2003) e em Pernambuco (ANDRADE et
al., 2012).
Tabela 5 - Casos confirmados de Leishmaniose Tegumentar Americana por faixa etária segundo ano de
notificação 2007-2011 no município de Altos, Piauí.
Faixa
etária
(anos)
≤9
10-19
20-39
40-59
≥ 60
2007
2008
2009
2010
2011
Total
N
%
N
%
N
%
N
%
N
%
N
%
01
02
10
06
02
4,8
9,5
47,6
28,6
9,5
01
08
08
07
04
3,6
28,5
28,5
25,0
14,4
01
04
14
08
05
3,2
12,5
43,6
25,0
15,7
01
04
20
08
06
2,6
10,3
51,3
20,5
15,3
01
01
12
09
07
3,3
3,3
40,0
30,0
23,4
05
19
64
38
24
3,3
12,7
42,7
25,3
16,0
χ2 = 12,70 e p=0,695 (associação não significativa).
Quanto à distribuição de casos por etnia da LTA no município verifica-se que a
ocorrência de notificações é maior na cor parda (80%). De acordo os dados demográficos da
população residente por cor, a região Nordeste, apresenta em sua maioria uma população
parda, com 61,5%, seguida da cor branca com 29,5% (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATISTICA, 2007), o que justifica o percentual mais elevado.
Em relação à distribuição dos casos notificados de LTA, segundo escolaridade e ano
de registro, percebe-se uma concentração de casos da doença entre os indivíduos com
escolaridade de 1º a 4 º série do ensino fundamental (completa e incompleta) com 58% casos.
Na pesquisa da ocupação dos pacientes do município de Altos, observou-se que na
ficha de investigação (em anexo) correspondente a LTA, quando notificada não se responde o
campo de ocupação, assim não é reconhecida pelo sistema de informação. Isso pode ser
decorrente das inconsistências no momento da notificação e ao desconhecimento dos códigos
pelos registradores que acabam não tendo a preocupação de denominar a ocupação dos
pacientes de uma forma que o sistema o reconheça (OLIVEIRA, 2011).
4.3 DISTRIBUIÇÕES DE OCORRÊNCIAS MENSAIS DOS CASOS NO MUNICÍPIO DE
ALTOS
Na distribuição de ocorrência mensal durante o quinquênio do estudo (Tab. 6),
observou-se uma frequência média maior de casos registrados nos meses de fevereiro a maio.
33
De acordo com as informações da Secretária de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
(SEMAR) do estado do Piauí os maiores picos pluviométricos do município de Altos
acontecem no período de fevereiro a maio, justificado com o período de maior número de
casos notificados no estudo (planilha de dados pluviométricos fornecida pelo SEMAR em
anexo).
Tabela 6 - Distribuição mensal, média e desvio padrão (dp) dos casos confirmados de Leishmaniose Tegumentar
Americana no período de 2007-2011 no município de Altos, Piauí.
Meses
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Total
2007
02
03
03
04
03
00
01
00
02
01
00
02
21
2008
03
02
06
01
03
02
02
02
06
01
00
28
2009
02
02
03
02
08
03
04
02
03
01
01
01
32
2010
01
06
06
06
07
03
00
00
04
01
04
01
39
2011
03
05
04
06
01
00
02
00
01
01
05
02
30
Total
08
19
18
24
20
09
09
04
12
10
11
06
150
Média (dp)
2,0 ± 0,8
3,8 ± 1,6
3,6 ± 1,5
4,8 ± 1,8
4,0 ± 3,3
1,8 ± 1,6
1,8 ± 1,5
0,8 ± 1,1
2,4 ± 1,1
2,0 ± 2,2
2,2 ± 2,2
1,2 ± 0,8
-
Fonte: DATASUS/MS
Em um trabalho realizado por Silva et al. (2007), analisando a infecção natural de Lu.
longipalpis por Leishmania sp. em Teresina, os autores observaram distribuição mensal e as
médias mensais de temperatura, umidade relativa do ar e precipitação pluviométrica,
constatando que não há evidência de correlação linear entre esses fatores e a proporção de
insetos infectados. O maior percentual de positividade de flebotomíneos ocorreu exatamente
quatro meses após a maior média de precipitação pluviométrica. Por tanto, os resultados
obtidos no município de Altos são discordantes do trabalho feito por Silva et al. (2007) que se
observa o maior número de casos notificados exatamente no período de maior índices
pluviométricos. No entanto, Deane (1958), no Ceará, apresentou dados que com os mesmos
resultados desse estudo, observando que o mês de maior incidência da doença, ocorreu nos
meses de maior pluviometria, levando-o a sugerir que as chuvas favorecem a proliferação do
vetor e esta, por sua vez, a maior transmissão da doença.
Alguns estudos mostram que os elevados casos de leishmaniose registrados no Estado
se dão principalmente por este local ter as condições climáticas favoráveis para o
34
desenvolvimento do vetor que abriga o protozoário causador dessa infecção (SILVA et al.,
2007; SOARES et al., 2011).
As mudanças ambientais, sócio-demográfica, ação do homem sobre o meio em que
vive, dentre outras modificações que vêm ocorrendo ao longo do tempo são causas que
contribuem para o aumento e a evolução dos agentes infecciosos que se adaptam e resistem a
diferentes diversificações que podem ocasionar um surto epidêmico difícil de ser controlado.
Outros fatores prevalentes são a pobreza, a desnutrição, vírus da imunodeficiência humana e a
ocupação não planejada em áreas urbanas (CALDAS et al., 2001; MONTEIRO et al., 2005;
XIMENES et al., 2007; BARBOSA et al., 2008; SILVA et al., 2012).
4.4 UNIDADE NOTIFICADORA NO MUNICÍPIO DE ALTOS
Quanto à rede de saúde existente no município, no ano corrente, há 20 unidades com
registro no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). Destas, 95% são
públicas, com maior prevalência de unidades básica e posto de saúdes destinadas a abrigar as
equipes responsáveis pelas ações de saúde no município.
Com relação à Atenção Básica, o município conta atualmente com 13 Equipes de
Saúde da Família (ESF), um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), um Hospital, um
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e um Núcleo de Apoio a Saúde da
Família (NASF) modalidade I, o que perfaz 99,49% de cobertura populacional.
A tabela 7 demonstra a distribuição dos casos de LTA segundo unidade notificadora. É
possível observar que as notificações dos casos de LTA se concentram na unidade de saúde
(PS) da localidade Bacurizeiro que são responsáveis por 18,6% dos casos notificados durante
o período de 2007 a 2011, sendo que a mesma se localiza na zona urbana do município. Além
disso, foi possível observar que 13 casos notificados de LTA de pacientes residente em Altos
foram feitos em Teresina (n = 12) e Luzilândia (n = 1), estas notificações foram feitas pelo
Instituto de Doenças Tropicais Natan Portela (IDTNP), Hospital de Urgência de Teresina
(HUT) e PS Bairro Coroa. Isso demostra a precariedade da atenção prestada pelo município
no diagnóstico preciso da doença.
35
Tabela 7 - Distribuição dos casos confirmados de Leishmaniose Tegumentar Americana no período de 20072011 no município de Altos, Piauí.
Unidade de notificação
IDTNP
CS Altos
HUT
PS Bacurizeio
PS Boca de Barro
PS São Luís
PS Boa Fé
PS Prata
PS Bom Gosto
PS Barrinha
PS Bom Passar
PS São José
PS Estrela Norte
PS Traqueira
PS Quilombo
PS Maravilha
PS Bairro Coroa
Total geral
2007
5
2
5
1
4
1
2
1
-
Ano de notificação
2008
2009
2010
2
1
3
3
1
4
8
4
2
1
3
3
2
4
2
2
1
4
2
2
1
9
3
1
2
1
1
3
2
1
2
5
4
1
2
2
2
1
1
1
-
21
28
33
38
2011
3
4
7
1
3
2
2
2
2
2
1
1
30
Total
11
12
1
28
7
14
6
13
13
8
2
8
13
7
3
3
1
150
Fonte: DATASUS/MS
4.5
DISTRIBUIÇÃO
DOS
CASOS
SEGUNDO
CRITÉRIO
E
EXAME
DE
CONFIRMAÇÃO DA LTA NO MUNICÍPIO DE ALTOS
De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2011), as informações clínicas e
epidemiológicas são de fundamental importância para se associar aos exames de confirmação.
O diagnóstico precoce da lesão é essencial para que a resposta terapêutica seja mais efetiva e
sejam evitadas as sequelas deformantes e/ou funcionais (MOTA; MIRANDA, 2011). A
identificação da espécie é um informe preciso no critério epidemiológico, utilizada para
elaborar medidas de controle desse agravo.
Os índices de confirmação da LTA no município foram maiores para o diagnóstico
clínico-epidemiológico (Tab. 8), com diferença de 124 (84%) do laboratorial (16%). Isso se
deve a facilidade da notificação na atenção básica, visto que o critério no clínicoepidemiológico não compromete a confiabilidade dos resultados da doença.
36
Tabela 8 - Critérios de confirmação de LTA no período de 2007-2011 no município de Altos, Piauí.
2007
Critério de
avaliação
ClínicoEpidemiológico
Laboratorial
2008
2009
2010
2011
Total
N
%
N
%
N
%
N
%
n
%
N
%
10
46,7
26
92,9
30
93,8
34
87,2
26
86,7
126
84,0
11
53,4
02
7,1
02
6,3
05
12,8
04
13,3
24
16,0
χ2 = 25,03 e p < 0,001 (associação significativa).
Fonte: DATASUS/MS
O método de exame de confirmação utilizado para o diagnóstico dos casos suspeitos
apresentou mudança no decorrer dos cinco anos. Em 2007 a predominância maior foi do
exame parasitológico (69,6%) em relação ao exame de Intradermorreação de Montenegro
(IRM) (30,4%). A partir do ano de 2008, o município teve a uma menor participação na
detecção de casos suspeitos de LTA, o que se observa uma redução do número de exame para
confirmação (Tab. 9).
Tabela 9 - Exames de confirmação de LTA no período de 2007-2011 no município de Altos, Piauí.
2007
Exame de
2008
2009
2010
2011
Total
confirmação
N
%
N
%
N
%
N
%
N
%
N
%
Parasitológico
16
69,6
00
0,0
01
25,0
01
25,0
02
33,3
20
51,3
IDRM
07
30,4
02
100
02
50,0
03
75,0
03
50,0
17
43,6
Histopatológico
00
0,0
00
0,0
01
25,0
00
0,0
01
16,7
02
5,1
Fonte: DATASUS/MS
As normativas do Ministério da Saúde indicam que o diagnóstico de certeza da doença
é o laboratorial, porque as lesões, em sua maioria, aparecem com diferentes características
que tornam difícil sua confirmação. É necessário encontrar o protozoário nos tecidos ou
fluidos corporais do hospedeiro que pode ser através: de um esfregaço direto do raspado da
borda da lesão; exame histopatológico ou isolamento em cultura (BRASIL, 2010).
O exame parasitológico é o método mais específico no diagnóstico laboratorial da
leishmaniose. Este consiste na pesquisa de parasitas nos tecidos ou órgãos supostamente
infectados, o exame oferece maior sensibilidade para apoio diagnóstico, pois torna possível a
visualização de formas amastigotas do parasita, o que proporciona maior segurança para
conclusão diagnóstica dos casos (BRASIL, 2006; BOTELHO; NATAL, 2009).
4.6 DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS SEGUNDO LOCALIDADE E ANÁLISE ESPACIAL
37
Os casos de LTA no município foram relatados para diversas localidades, distribuídos
de forma dispersa em todo o município.
Na zona urbana as localidades com registros de casos em todo o quinquênio do estudo
foram os bairros Centro e Ciana. Na análise absoluta do número de casos observa-se que o
maior índice foi na localidade Bacurizeiro (Tab. 10). Enquanto que na zona rural as
localidades com registros de casos em todo o quinquênio apresentaram distribuição
homogênea. Na análise absoluta do número de casos, observa que os maiores índices na
localidade Prata e Bom Gosto.
Tabela 10 - Distribuição de Casos Positivos segundo Localidade na Zona Urbana de Residência do Paciente.
Localidade
Alfredo rosa
Bacurizeiro
Baixão dos Paivas
Batalhão
Boa Fé
Boca de barro
Centro
Ciana
Cícero Paiva
DNER
Dom Pedro II
José Olindo
Maravilha
Mutirão
Santa Inês
Santa Luzia
Santo Antônio
São José
São Luís
Tinguis
Tranqueira
Carrasco
2007
3
1
1
2
1
1
1
4
-
Ano de notificação
2008
2009
2010
1
1
5
1
1
2
1
2
2
4
1
2
1
2
1
1
1
1
1
1
2
1
1
1
1
1
1
1
2
1
1
1
Fonte: DATASUS/MS
2011
2
1
2
2
3
2
1
Total
1
11
1
2
2
6
10
10
1
2
1
1
4
1
4
1
1
2
8
1
2
1
38
Tabela 11 - Distribuição de Casos Positivos segundo Localidade na Zona Rural de Residência do Paciente.
(continua)
Localidade
Ano de notificação
Total
2007
2008
2009
2010
2011
Anajás
-
-
-
-
1
1
Araçá
-
-
2
-
-
2
Assentamento São
Bento
-
-
-
1
-
1
Baixa Bonita
-
1
-
-
-
1
Baixinha
-
-
-
1
-
1
Barrinha
-
2
-
-
-
2
Belém
-
1
-
-
-
1
Boa Fé
-
-
1
-
-
1
Boca de Barro
-
-
1
-
-
1
Bom Gosto
1
-
-
3
1
5
Bom Passar
-
-
1
-
-
1
Brejinho
-
-
1
-
-
1
Brejo
-
-
-
-
1
1
Carrasco
-
-
1
-
-
1
Chapada
-
-
-
-
1
1
Coité
-
1
-
-
-
1
Espinheiro
-
1
-
1
-
2
Estrela do Norte
-
1
3
-
-
4
Flor de Campo
-
-
1
-
1
2
Formosa
-
-
-
1
-
1
Guaribas
-
-
1
-
-
1
Jatobá
-
1
-
-
-
1
Montanhas
-
-
-
1
1
2
Novo São Bento
-
-
-
1
-
1
Poço de Pedra
-
-
-
2
-
2
Poço dos Negros
-
-
1
-
1
2
Prata
3
3
-
-
-
6
Quadro Buritis
-
-
1
-
-
1
Quilombo
-
1
-
1
-
2
Retiro
-
1
-
1
-
2
Sambaibal
-
1
-
-
-
1
Santa Irene
-
-
-
-
2
2
39
Tabela 11 - Distribuição de Casos Positivos segundo Localidade na Zona Rural de Residência do Paciente.
(continuação)
Localidade
Ano de notificação
Total
2007
2008
2009
2010
2011
Santa Luz
-
-
1
-
-
1
Santa Maria
-
-
-
-
1
1
Santa Rita
-
-
-
2
1
3
São Bento
-
-
-
1
-
1
São João
-
-
-
2
-
2
Sete Buritis
-
-
-
-
1
1
Taboca
1
-
-
1
1
3
Tês Irmãos
-
-
-
-
1
1
Tinguis
1
-
-
-
1
2
Tranqueira
-
-
-
-
2
2
Vista Alegre
-
-
-
1
-
1
Zundão
1
-
2
1
-
4
Fonte: DATASUS/MS
A distribuição dos casos tanto na zona urbana quanto na zona rural é mostrada abaixo
de acordo com o ano de investigação. Na análise espacial dos casos por ano do quinquênio,
observa-se que no ano de 2007 os casos se concentraram na zona urbana na área nordeste e
sudeste da área urbana do município, inclusive apresentando bairro com mais de três casos. Já
na zona rural os casos focalizam-se na região norte da área rural (Figura 9).
Figura 9 - Casos de Leishmaniose Tegumentar Americana no município de Altos-PI no ano de 2007.
40
No ano de 2008 (Figura 10) observa-se uma maior distribuição dos casos, de modo
que na zona urbana os casos foram registrados nas regiões nordeste, sudeste e sudoeste. Na
zona rural, além das localidades da região norte, observa o aparecimento de casos também na
região sul da área rural.
Figura 10 - Casos de Leishmaniose Tegumentar Americana no município de Altos-PI no ano de 2008.
No ano de 2009 (Figura 11) observa-se a intensificação dos casos com aparecimento
de áreas com mais de quatro casos, principalmente nas localidades próximo ao centro urbano,
e acometimento das mesmas áreas dos anos de 2007 e 2008.
Figura 11 - Casos de Leishmaniose Tegumentar Americana no município de Altos-PI no ano de 2009.
41
No ano de 2010 e 2011 (Figura 12 e 13) observam-se o aparecimento de casos em
diversas localidades, distribuídos de forma pulverizada em todo o município tanto na área
urbana como na rural, No entanto no ano de 2010 constata-se o pico endêmico de casos,
podendo sugerir que isso se deve a menor participação em medidas preventivas.
Figura 12 - Casos de Leishmaniose Tegumentar Americana no município de Altos-PI no ano de 2010.
Figura 13 - Casos de Leishmaniose Tegumentar Americana no município de Altos-PI no ano de 2011.
42
4.7 TAXA DE LETALIDADE PARA LTA NO MUNICÍPIO DE ALTOS
Na série histórica do município, a taxa de mortalidade foi nula, o que se enquadra na
recomendação do Ministério da Saúde, de que não haja óbitos ou que se alcancem taxas
menores de 5% ao ano (BRASIL, 2006). Na pesquisa da taxa de letalidade para Estado do
Piauí no mesmo período, observa-se apenas um caso, mas por outra causa, indicando alcance
da taxa recomendada pelo MS tanto pelo Estado como pelo município.
Segundo Brasil (2006), todo óbito por leishmaniose deve ser investigado para saber as
suas causas determinantes, a busca e monitoramento podem ser realizados através de
notificações no SINAN, no Sistema de Mortalidade (SIM), registros comunicados
informalmente nos serviços ou localidades. Depois da coleta de dados, os profissionais
envolvidos devem examinar os casos, procurando medidas que corrijam as falhas e com isso,
diminuam a letalidade dessa infecção.
4.8 FORMA CLÍNICA DA LTA NO MUNICÍPIO E DESFECHO DOS CASOS
A forma clínica mais prevalente da LTA no Estado do Piauí foi à forma cutânea com
um percentual de 91% dos casos. Analisando os dados do município, observa-se que este
segue a mesma tendência, apresentando a forma cutânea como predominante, e um percentual
bastante elevado na série histórica, com aumento principalmente no ano de 2010 (Figura 14).
Figura 14 - Forma clínica da LTA no período de 2007-2011 no município de Altos, Piauí.
Fonte: DATASUS/MS
43
Os resultados encontrados estão de acordo com os obtidos por outros autores nos
Estados do Maranhão, Bahia, São Paulo e Pernambuco, que observa a maior ocorrência da
forma cutânea dos casos (COSTA et al., 1998; REY, 2008; BRANDÃO-FILHO, 2001).
Diniz, Costa e Gonçalvez (2011) afirmam que a forma clínica prevalente na maioria dos casos
é a cutânea, seguida de uma pequena porcentagem da forma mucosa. De acordo Mejía,
Restrepo e Toro (2008), a Leishmaniose Mucosa pode aparecer depois de vários anos após a
cutânea, ou então, ocorrer enquanto a lesão primária da pele ainda está ativa e por extensão
direta, a partir da epiderme e mucosa adjacente, quando a transmissão do parasita acontece em
um local perto de alguma mucosa, sendo de difícil tratamento e prognóstico.
Estima-se que de 3 a 5% dos casos de LC desenvolvam lesão mucosa, geralmente,
surge após a cura clínica da LC, com início insidioso e pouca sintomatologia. Na maioria dos
casos, a LM resulta de LC de evolução crônica e curada sem tratamento ou com tratamento
inadequado (MOTA; MIRANDA, 2011). Portanto, permite-se afirmar que o diagnóstico
precoce de LTA é de fundamental importância para a determinação dessas lesões, para se
evitar cicatrizações desfigurantes e/ou mutilantes, possibilitando tratamento adequado e
reduzindo as chances de prejuízos estéticos ou funcionais.
No Estado do Piauí, dos 672 casos notificados no mesmo período da pesquisa 425
evoluíram para cura clínica. No município de Altos, dos 150 casos notificados, 101 tiveram
cura, a proporção de casos com cura clínica foi de 67,3 % o que mostra valor bastante
relevante para desfecho da doença (Tab. 10).
Tabela 12 - Desfecho dos casos de LTA no período de 2007-2011 no município de Altos, Piauí.
2007
2008
2009
2010
2011
Total
N
%
N
%
N
%
N
%
N
%
N
%
Cura
14
66,7
28
100
28
87,5
08
20,5
23
76,7
101
67,3
Outros
07
33,3
00
0,0
04
12,5
31
79,5
07
23,3
49
32,7
Fonte: DATASUS/MS
Tal fato, a princípio, salienta a necessidade de avaliação da efetividade do tratamento
da LTA para que se alcance o máximo de proporção de cura clínica possível. Porém, esta
informação merece uma análise mais cuidadosa, devido à qualidade dos dados enviados ao
SINAN, visto que, o critério de cura para essa patologia é realizado durante os 12 meses de
acompanhamento do doente. Os principais critérios de avaliação da cura são clínicos, sendo
eles: redução dos órgãos hipertrofiados (baço e fígado), ausência de febre, regulação de
44
índices hematológicos, ganho gradativo de peso, presença de eosinófilo durante ou no final do
tratamento. No entanto, as notificações de abandono dos casos que não completaram o
tratamento ou que não compareceram para avaliação clínica no dia previsto devem ser
acompanhadas pelo serviço de saúde, com intuito de acompanhar sua gravidade (BRASIL,
2007).
No entanto, a insuficiência de estudo no estado, parece incapaz de explicar a totalidade
dos casos humanos no município, verificando a necessidade de atenção por parte dos órgãos
públicos do Piauí e mais estudos sobre a doença para uma definição precisa, visto que
mudanças ambientais têm sido associadas à mudanças no perfil epidemiológico da LTA, com
descrições cada vez mais frequentes de surtos.
Assim, medidas de controle e/ou prevenção da doença deverão ser incorporadas no
dia-a-dia dos moradores e priorizadas pela secretária de saúde do estado, como: atividades de
conscientização da população sobre a doença, distribuição de repelentes, distribuição de
telas/mosquiteiros e, sobretudo, melhorias nas condições de trabalho, moradia e infraestrutura,
principalmente da população rural que praticamente reside e trabalha sob situações de riscos
para a doença.
45
5 CONCLUSÃO
Conclui-se pela abordagem que há uma ocorrência endêmica de leishmaniose no
município, sendo o ano de 2010 de maior número de casos para LTA. A partir do quinquênio
estudado, podem-se inferir informações relevantes para a população do município. A
ocorrência de LTA é indiferenciada para zona urbana e rural; no entanto, a taxa de
prevalência é maior na zona rural do município, caracterizando com o perfil rural para essa
doença, mesmo com a presença de casos na zona urbana. Há a necessidade da busca ativa de
reservatórios contaminados para que sejam eliminados, interrompendo o ciclo de transmissão
da doença nessa zona, além de tratamento de todos os indivíduos infectados. A incidência da
doença foi indiferenciada quanto ao gênero mais exposto. A faixa etária de maior prevalência
de LTA foi a fase adulta entre os 20 aos 39 anos, propondo-se que investigue a contaminação
de reservatórios no ambiente de trabalho.
Ressalta-se também que os meses com maiores notificações de LTA foram entre
fevereiro e maio, sugerindo medidas profiláticas para erradicação do vetor no tempo de maior
índice pluviométrico. A maioria dos diagnósticos foi realizada pelo critério de confirmação
clínico epidemiológico, o que indica acesso nos serviço de saúde para esse critério clínico. O
número de casos tratados foi bastante relevante, indicando que a maioria dos infectados estão
seguindo o esquema terapêutico recomendado pelo Ministério da Saúde, apesar de existir
outros casos. A taxa de letalidade da LTA foi nula. A forma clínica mais incidente de LTA foi
a LC, com uma minoria de casos de LM, indicando a necessidade de medidas de vigilância e
controle para essa doença, com busca ativa de casos precocemente já que é de difícil
diagnóstico e tratamento.
46
REFERÊNCIAS
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estado do Piauí: diagnóstico do município de Altos. AGUIAR, R. B.; GOMES, J. R. C.
(Org.) - Fortaleza: CPRM; Serviço Geológico do Brasil, 2004.
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State of Piauí, Brazil (Diptera: Psychodidadae: Phlebotominae). Memórias do Instituto
Oswaldo Cruz, v. 96, n. 8, p. 1085-1087, 2001.
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Salutis, v. 2, n. 2, p. 5‐15, 2012.
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53
ANEXO A: SINAN
54
55
ANEXO B: BANCO DE DADOS PLUVIOMÉTRICOS
GOVERNO DO ESTADO DO PIAUÍ
SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS HÍDRICOS
GERÊNCIA DE HIDROMETEOROLOGIA
BANCO DE DADOS PLUVIOMÉTRICOS
ALTOS
CIDADE:
ANO
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
2007
-
617.0
294.0
313.5
0.0
0.0
2008
237.0
333.0
516.0
535.0
115.0
2009
122.5
264.5
-
105.0
528.0
2010
-
-
135.5
-
-
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
0.0
0.0
0.0
0.0
-
0.0
0.0
0.0
0.0
0.0
0.0
45.0
0.0
0.0
0.0
-
-
-
-
-
DEZ
Total Anual
-
1224.5
0.0
-
1736.0
0.0
0.0
1065.0
-
-
135.5
Download