Alguns motivos da escravidão e da abolição *Magnus de Souza A escravidão é a prática social em que um ser humano assume direitos de propriedade sobre outro designado por escravo, ao qual é imposta tal condição por meio da força. Em algumas sociedades, desde os tempos mais remotos, os escravos eram legalmente definidos como uma mercadoria. Os preços variavam conforme as condições físicas, habilidades profissionais, a idade, a procedência e o destino. Mas a escravidão se tornou uma atividade mais visível com a colonização da África pelos portugueses. Eles foram os primeiros a explorar a costa da África em meados do século XV, onde encontraram povos com uma significativa produção de artesanato têxtil e ferro. Os portugueses vinham em busca de riquezas, principalmente ouro, e descobriram que o tráfico de escravos poderia render altos lucros. A escolha pelos africanos não foi feita de maneira aleatória, mas sim, principalmente levados por preconceitos inseridos ao longo da história. Na simbologia da Idade Média, a cor branca estava associada ao dia, a superioridade; já a cor preta representava a noite, a tristeza, a maldição. Essa doutrina entre preto e branco, claro e escuro, foi transferida pelos europeus para os seres humanos quando os portugueses chegaram à África. Devido a cor e aos costumes, os africanos foram considerados inferiores, passiveis da escravidão. Esse pensamento europeu baseava-se na bíblia, onde no antigo e no novo testamento, a escravidão aparece como uma fato natural. Até Lutero, considerava que o reino deste mundo não se sustentaria sem homens livres e escravos. A proposta de escravizar os africanos ganhou um apoio importante quando a Santa Sé garantiu a Portugal, por meio de bulas papais, o direito de tomar posse de territórios na África e de praticar o comércio de escravos africanos. Por trás das justificativas “científicas”, morais e religiosas, escondiam-se interesses econômicos. O tráfico negreiro foi uma das atividades comerciais mais lucrativas da Idade Moderna. Estima-se que 10 milhões de escravos africanos desembarcaram na América entre os séculos XVI e XIX, destes 3,8 milhões vieram para o Brasil. No Brasil, a escravidão teve início já no século XVI, proporcionando a sustentabilidade da produção de cana de açúcar e café. A maioria desses escravos vieram da Guiné e da Angola, os quais eram capturados, batizados com nomes cristãos e transportados até os pontos de comércio no litoral brasileiro. Nestas travessias, devido as más condições nos navios, cerca de 20% dos cativos acabavam sucumbindo. A abolição da escravatura não foi feita de maneira heróica, romântica, como relatado nos livros de história. Foi um processo construído ao longo do tempo, idealizados por líderes envolvidos com a causa e principalmente por que surgiu uma fonte substituta de mão-de-obra mais barata, os europeus. Com o fim da escravidão, os libertos foram abandonados a sua própria sorte, formando um grande contingente de mendigos. Muitos desses morreram de fome ou voltaram a trabalhar em troca de comida. Assim, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea em treze de maio de 1888, somente quando existia um número reduzido de escravos e o fim desse processo era irreversível. *Professor de geografia, mestre em desenvolvimento sustentável regional