ADENOMA PLEOMÓRFICO DO PALATO: relato de caso clínico Flávio Sirihal Werkema1, Hermínia Marques Capistrano2 Trabalho desenvolvido no Curso de Graduação em Odontologia do Departamento de Odontologia da PUC Minas Correspondência: Profa. Hermínia Marques Capistrano Departamento de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Av. Dom José Gaspar, 500 - Prédio 45 30.535-901 - Belo Horizonte/MG - Brasil Fone: +55-31-3319-4341 – Fax: +55-31-3319-4415 E-mail: [email protected] 1 Aluno do Curso de Graduação em Odontologia da PUC Minas. 2 Professora Adjunto IV do Curso de Graduação em Odontologia da PUC Minas. 1 RESUMO O adenoma pleomórfico é um tumor benigno que representa cerca de 70 a 90% dos tumores das glândulas salivares. Quando ele ocorre nas glândulas salivares menores sua localização mais comum é o palato. Ele geralmente se apresenta como uma tumefação de crescimento lento e indolor. O diagnóstico é feito principalmente através de biópsia. O melhor tratamento é a ressecção cirúrgica com margem de segurança. O objetivo deste trabalho é relatar um caso clínico de adenoma pleomórfico do palato de grandes dimensões, seu tratamento e complicações. Descritores – Adenoma, Pleomórfico, Palato, Glândulas salivares 2 PLEOMORPHIC ADENOMA OF THE PALATE: a case report ABSTRACT The pleomorphic adenoma is a benign tumor that represents around 70 to 90% of salivary gland tumors. When it occurs in the minor salivary glands the most common location is the palate. It generally is a slow growing and painless tumor. The diagnosis is mainly made by biopsy. The best treatment is surgical resection with margin of safety. The purpose of this work is to describe a clinical case of a pleomorphic adenoma of the palate of large dimensions, its treatment and complications. DESCRIPTORS Pleomorphic, Adenoma, Palate, Salivary glands 3 INTRODUÇÃO As neoplasias das glândulas salivares são raras e constituem cerca de 2% de todos os tumores da região da cabeça e pescoço. Noventa por cento destas lesões são de origem epitelial sendo o resto composto por lesões metastáticas, linfomas e neoplasias mesenquimais.1,2 O adenoma pleomórfico é o tumor de origem epitelial mais comum nas glândulas salivares correspondendo a 70 a 90% das neoplasias benignas. Ele ocorre principalmente nas glândulas parótida e submandibular. Quando acomete as pequenas glândulas salivares a localização mais comum é o palato (cerca de 50% dos casos) seguidos pelo lábio superior e mucosa jugal.3,4 A idade média no diagnóstico inicial é de 46 a 51 anos sendo o gênero feminino mais acometido.5 A ocorrência em crianças é extremamente rara.6 Os adenomas pleomórficos que acometem o palato manifestam-se geralmente como lesões nodulares, crescimento lento, indolores e, geralmente, bem delimitadas.4,7 A transformação maligna ocorre em menos de 5% e, geralmente, em casos de múltiplas recidivas.8 O objetivo deste trabalho é relatar um caso de adenoma pleomórfico de grandes dimensões localizado no palato, seu tratamento e complicações. RELATO DO CASO CLÍNICO Paciente M.E.M.C, gênero feminino, 51 anos, feoderma e natural de Matipó-MG. Relatava que há cerca de 10 anos iniciou com uma tumefação na região do palato, indolor e com crescimento lento. Nos últimos anos vinha apresentando dificuldade para mastigar e deglutir. O exame intra-oral mostrava uma lesão no palato duro de consistência firme, bem delimitada, superfície lisa, séssil, com mobilidade discreta e que media cerca de 50x40mm. A 4 radiografia panorâmica não mostrava sinais sugestivos de invasão óssea e a tomografia computadorizada do pescoço em cortes axiais mostrava uma lesão na região palatina, bem delimitada, localizada apenas nos tecidos moles. Foi realizada uma biópsia incisional. Os achados histológicos mostraram uma proliferação de células de epitélio glandular e células mioepiteliais em um estroma de aspecto mesenquimal, formando lençóis, ilhas e estruturas ductiformes e císticas. Observaram-se alterações no estroma com presença de material mixóide e condróide e áreas de degeneração hialina. Contornando a lesão havia uma cápsula fibrosa com áreas de descontinuidade. O diagnóstico foi de adenoma pleomórfico. A paciente foi submetida à ressecção da lesão sob anestesia geral. No ato cirúrgico foi realizado remoção da mucosa palatina junto com o tumor e, também, o periósteo do palato duro. O pós- operatório imediato transcorreu sem intercorrências. Após algumas semanas houve a formação de uma comunicação bucossinusal com cerca de 2 cm de diâmetro. Optouse inicialmente por uma conduta de observação em que se esperava a redução do calibre da comunicação, o que não ocorreu. Diante disto, a paciente foi encaminhada para o Departamento de Odontologia da PUC Minas para confecção de prótese obturadora. DISCUSSÃO O adenoma pleomórfico é uma lesão de crescimento lento e indolor podendo haver um intervalo prolongado desde os primeiros sinais e sintomas até o seu diagnóstico e tratamento, como ocorreu na paciente do caso relatado. A demora no diagnóstico pode estar associada a diversos fatores tais como as características de crescimento lento e indolor da lesão e dificuldade de acesso aos profissionais de saúde Apresenta-se clinicamente como uma lesão nodular de consistência firme e com mobilidade variável, dependendo de sua localização. Quando localizado no palato manifesta- 5 se como uma lesão submucosa e sem mobilidade, geralmente localizada na região pósterolateral. Caso ocorra um trauma pode haver a formação de uma ulceração secundária.4,5 O diagnóstico pode ser feito através de biópsia ou PAAF (punção aspirativa por agulha fina), mas o resultado desta última depende muito da experiência do patologista. Os exames de imagem podem ser utilizados de acordo com a localização e tamanho da lesão.2,3 Neoplasias malignas de glândulas salivares, outras neoplasias benignas de origem salivar ou não e lesões odontogênicas fazem parte do diagnóstico diferencial.4,9 A principal modalidade de tratamento é a ressecção cirúrgica com margem de segurança. No caso de lesões localizadas no palato é indicado a remoção da lesão acompanhado da mucosa palatina e periósteo subjacente. Esta conduta foi adotada na cirurgia realizada neste caso relatado. A natureza inserida desta mucosa não permite uma enucleação total através de dissecção extracapsular.4 As recidivas ocorrem com mais frequência em cirurgia com técnica inadequada. Quando realizado tratamento adequado as taxas de cura chegam a 95%.8 A radioterapia pode ser utilizada como terapia complementar em casos de margens cirúrgicas comprometidas ou recorrência multifocal.10,11 O acompanhamento pós tratamento é de extrema importância e deve ser de pelo menos cinco anos.8 Exames de imagem podem auxiliar neste controle. A paciente do caso aqui relatado está em proservação há dois anos sem evidências, até o momento, de recidiva. CONCLUSÃO As alterações patológicas das glândulas salivares devem ser do conhecimento do cirurgião dentista para que seja realizado um diagnóstico mais precoce que permita um tratamento mais conservador evitando possíveis sequelas que podem afetar a qualidade de vida dos pacientes como ocorreu no caso relatado. 6 REFERÊNCIAS 1. Shaaban H, Davenport PJ. Recurrent pleomorphic adenoma of the palate in a child. Brit J Plast Surg 2001:245-7. 2. Abrahão PGS. Estudo retrospectivo de 3091 casos de neoplasias epiteliais primárias de glândulas salivares maiores e menores intra-orais. 2009. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Estomatopatologia - Faculdade de Odontologia da Universidade de Campinas, Piracicaba. 3. Sahho NK, Rangan MN, Gada RD. Pleomorphic adenoma palate: major tumor in a minor gland. Ann Maxillofac Surg. 2013 July/Dec;3(2):195-7. 4. Silva DN, Guimarães KB, Bezerra MF, Hertz C. Enucleação de adenoma pleomórfico: considerações terapêuticas e relato de caso. Rev Cir Traumatol Buco-Maxilo-Fac. Camaragibe 2007 out/dez;7(4):25-30. 5. Zbären P, Vander Poorten V, Witt RL, Woolgar JA, Shaha AR, Triantafyllou A, et al. Pleomorphic adenoma of the parotid gland: formal parotidectomy or limited surgery. Am J Surg. 2013 Jan;205(1):109-18. 6. Yilmaz AD, Unlu E, Orbay H, Sensoz O. Giant pleomorphic adenoma of soft palate leading to obstruction of the nasopharyngeal port. J Craniofac Surg. 2006 Sept;17(5):1001-4. 7. Neville BW, Damm DD. Patologia oral e maxillofacial. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005. 8. Lawall MA, Simonato LE, Ribeiro ACP, Crivelini MM, Moraes NP. Adenoma pleomórfico: relato de caso clínico. Rev Odontol UNICID. 2007 set/dez:19(3):336-40. 9. Mubeen K, Vijayalakshmi KR, Pati AR, Giraddi GB, Singh C. Benign pleomorphic adenoma of minor salivary gland of palate. J Dentist Oral Hyg. 2011 June;3(6):82-8. 7 10. Wallace AS, Morris CG, Kirwan JM, Werning JW, Mendenhall WM. Radiotherapy for pleomorphic adenoma. Am J Otolaryngology-Head Neck Med Surg. 2013;34:36-40. 11. Hodge, CW, Morris CG, Werning JW, Mendenhall WM. Role of Radiotherapy for pleomorphic adenoma. Am J Clin Oncol. 2005;28(2):148-51. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Adenoma pleomórfico do palato-aspecto clínico Figura 2: Adenoma pleomórfico-aspecto histopatológico 9 Figura 3: Adenoma pleomórfico após ressecção Figura 4: Fístula oroantral - aspecto clínico 10