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Braz J Periodontol - September 2011 - volume 21 - issue 03
REMOÇÃO CIRÚRGICA DE ADENOMA PLEOMÓRFICO EM
REGIÃO DO FRÊNULO LABIAL SUPERIOR
Surgical removal of pleomorphic adenoma in the region of the upper labial frenulum
Kelly Cristine Freitas Machado1, Cesário Antonio Duarte2, Samuel Junqueira1, Nelson José Bagnato3
1 Especialista
2 Professor
3 Mestre
em Periodontia.
Associado na Disciplina de Periodontia da FOUSP.
Ciência e Saúde, Especialista em Patologia Bucal.
Recebimento: 20/04/11 - Correção: 22/06/11 - Aceite: 07/07/11
RESUMO
Adenoma pleomórfico é o tumor benigno de glândula salivar mais comum na cavidade oral. O tratamento
preconizado para esse tipo de lesão é a exérese cirúrgica, além do controle pós-operatório do paciente. O presente
artigo relata um caso de remoção cirúrgica de adenoma pleomórfico de glândula salivar menor na região do frênulo
labial superior, em uma criança de 12 anos.
UNITERMOS: adenoma pleomórfico, frênulo labial superior, glândulas salivares menores. R Periodontia 2011;
21:53-56.
INTRODUÇÃO
Dos tumores de cabeça e pescoço, os localizados nas
glândulas salivares representam menos de 3%. São raros em
crianças e a incidência difere do adulto equivalente1. Apenas
0,32-5% de todos os tumores de glândulas salivares ocorrem
em crianças com 16 anos ou menos e quando surgem,
afetam preferencialmente as glândulas salivares maiores2.
A OMS classifica o adenoma pleomórfico (AP) como uma
neoplasia benigna de glândulas salivares caracterizada
pelo pleomorfismo celular 4. O adenoma pleomórfico,
também conhecido como tumor misto benigno, é a lesão
mais frequentemente encontrada, compreende cerca de
60% de todas as neoplasias de glândulas salivares1, 3, 6.
Segundo Neville et al. (1998)7, as glândulas parótidas são
os locais mais afetados com 53 a 77% dos casos, seguido
pela submandibular com 44 a 68%. Já as glândulas
salivares menores são as menos afetadas, acometendo
respectivamente o palato (geralmente na junção do palato
duro e mole), seguido de mucosa bucal, lábios, assoalho
da boca, língua, amígdalas, faringe, área retromolar e
cavidade nasal1, 3, 6, 7, 8, 9, 10. Pode ocorrer em qualquer
idade, porém geralmente é detectado entre 30 - 60 anos
sendo ligeiramente mais comuns em mulheres 3, 5, 9,11 . O
AP das principais glândulas salivares pode crescer bastante
sem maiores prejuízos ao paciente. As lesões variam de
poucos milímetros a vários centímetros de diâmetro e,
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se negligenciada, são capazes de alcançar proporções
gigantes1, 6, 9. Geralmente, os tumores são móveis, com
exceção quando ocorrem no palato duro, onde tipicamente
se apresenta como um inchaço indolor de crescimento lento
e envolve o periósteo e osso subjacente, o que dificulta sua
remoção cirúrgica9. Quando ocorre transformação maligna
de um AP, a lesão passa a se chamar carcinoma dentro
de um adenoma pleomórfico (Carcinoma ex-adenoma
pleomórfico CXAP). Ocorre principalmente na glândula
parótida, estando presente na mesma neoplasia dois
componentes: o benigno ou adenomatoso e o maligno ou
carcinomatoso 8,10. Entretanto, deve-se associar esse tipo de
alteração com outros critérios antes do estabelecimento do
diagnóstico de CXAP. A característica histológica dominante
do AP é a sua grande heterogeneidade9. Microscopicamente
observam-se elementos epiteliais e mioepiteliais imersos em
uma matriz mucoide, mixoide ou condroide, podendo os
componentes epiteliais formar ductos, cordões ou ilhotas
celulares sólidas e a lesão pode possuir ou não cápsula
fibrosa1, 5, 8. A presença de hialinização e hipocelularidade
na porção benigna do AP pode indicar seu potencial de
malignização. A presença de áreas focais de necrose,
mitoses atípicas, invasão, e extensa hialinização sugerem
a possibilidade de doenças malignas11. Como diagnóstico
diferencial deve ser considerado os tumores de partes
moles: fibroma, lipoma, neurofibroma, neurilemoma12.
Uma das variantes do adenoma pleomórfico de glândulas
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salivares menores é o mioepitelioma plasmocitóide14. Quanto
à origem das neoplasias de glândulas salivares, admite-se a
transformação neoplásica provável de tecido ectópico da
glândula salivar derivado do desenvolvimento embrionário
de restos de glândulas salivares maiores ou menores1, e há
evidências histológicas de que carcinomas mucoepidermóides
centrais sejam originários de metaplasia do epitélio de folículos
dentários e cistos odontogênicos, principalmente cistos
dentígeros15. Brookstone e Huvos (1992)16 relataram que
a cada 11 casos de tumores de glândula salivares 8 tiveram
associação com um cisto odontogênico ou dente impactado.
Caso clínico
Paciente R.M.R estudante, gênero feminino, melanoderma,
12 anos de idade, apresentou-se à clínica de especialização de
Periodontia da Associação Brasileira de Cirurgiões Dentistas
(ABCD), queixando-se de um “caroço na parte interna do
lábio superior”. Na anamnese a paciente relatou não possuir
alterações sistêmicas, apenas informou estar em tratamento
ortodôntico. No exame clínico detectou-se presença de um
Fig 1- Visualização da lesão neoplásica
Fig 2- Exposição da lesão neoplásica
Fig 4- Peça removida
nódulo submucoso móvel de consistência firme, situado na
área do freio labial superior (Fig 1). A paciente não se queixava
de sintomatologia dolorosa e relatou ainda que o crescimento
da lesão deu-se em aproximadamente seis meses. A lesão
foi removida por meio de incisão superficial submucosa com
lâmina de bisturi 15 C, divulssão do tecido lateralmente à
inserção do frênulo, exposição e remoção da lesão intacta (Fig
2) não demonstrando sinais que sugerissem uma infiltração
óssea ou tecidual. A loja cirúrgica foi regularizada (Fig 3 e 4)
e posteriormente suturada com fio de poliéster 4-0 (Fig 5).
Durante o planejamento cirúrgico não houve indicação de
frenulectomia, uma vez que o frênulo era do tipo simples e
com inserção no limite mucogengival17,18. A peça cirúrgica
com dimensões de 15 X 12 X 9 mm foi encaminhada ao
Instituto de Diagnóstico Bucal de Brasília-DF, onde se obteve
o diagnóstico definitivo de Adenoma Pleomórfico (Fig 6). A
paciente foi reavaliada aos 30 dias (Fig 7), e continua sendo
acompanhada há três anos sem mostrar sinais de recidiva
da lesão (Fig 8).
Fig 6a - Cápsula de revestimento composta de
tecido conjuntivo dotada de área hialinizada (1)
e fibroblastos dispersos (*). Subjacente, tecido
mixomatoso (2) com inclusão de ilhas de células
mioepiteliais (3). (Coloração H.E; 100 X)
Fig 6b- Maior aumento. Agregado de células
mioepiteliais (1) envolvendo ductos rudimentares
(2), muco residual (3) e estroma hialinizado
eosinófilo (3). (Coloração H.E; 400 X)
Fig 6c- Cápsula de revestimento dotada de
área hialinizada (1) e pequena infiltração
de células mioepiteliais (2). Ilhota de células
mioepiteliais em estroma mixomatoso (3) com
foco hialinizado eosinófilo e formação cística
(4). (Coloração H.E; 100 X)
Fig 6d- Células mioepiteliais (1), fundo
mixomatoso pela deposição de material mucóide
(2), estrutura cística pequena (3), muco residual
(4), ninho de células mioepiteliais (5), cápsula
fibrosa atrófica, porém preservada (6); (Coloração
H.E; 100 X)
Fig 3- Loja cirúrgica
Fig 5- Sutura
Fig 6e- Região central. Ampla “cavidade
cística” (7), muco residual (8), células
mioepiteliais (9), estroma com alteração
eosinófila hialinizada (10). (Coloração H.E;
100 X)
Fig 7- Visualização da área com 30 dias
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Figura 8- Controle de três anos e cinco meses
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DISCUSSÃO
A maioria das lesões diagnosticadas como tumor benigno
é encontrada em pacientes entre a 3ª e 6ª década de vida,
com maior frequência no gênero feminino5,9, o que de certa
forma condiz com o presente caso clínico. As lesões de
glândulas salivares como o AP também podem acometer
crianças, mas em menor incidência quando comparadas
aos casos em adultos19, 20, 21. O local mais comum do AP
da glândula salivar menor é o palato e quando a neoplasia
atinge as demais localizações, apresenta-se com consistência
mole e normalmente móvel1, 5, 6, 7, 8, 9, 10. Já no presente caso
a localização foi o frênulo labial superior, sendo um local
incomum para este tipo de lesão, o que difere da prevalência
descrita na literatura. No que diz respeito à histogênese, as
teorias atuais relatam haver uma proliferação de diversas
células com características de células ductais e mioepiteliais1,
5. O caso descrito apresenta células mioepiteliais com fundo
mixomatoso pela deposição de material mucoide, ninho
de células mioepiteliais e cápsula fibrosa atrófica, porém
preservada. Quanto ao tratamento do AP em crianças é
o mesmo que em adultos, ou seja, exérese total da lesão
intacta, com a sua cápsula e remoção do periósteo ou osso
se eles estiverem envolvidos1, 5, 6, 8, 9 . O tratamento de escolha
proposto e realizado concorda com a literatura: exérese e
dissecção meticulosa protegendo a cápsula, uma vez que
sua ruptura pode resultar em recorrência da lesão. Não houve
ressecção óssea e sim uma regularização das bordas da loja
cirúrgica. Clinicamente a mobilidade evidenciava ausência
de infiltração no nível de periósteo. Quanto à recorrência,
autores têm mostrado taxas de 5% a 30%, sendo de
origem multifocal7. Jackson et al. (1993)22 relatou no seu
estudo 34 recidivas na glândula parótida e três na glândula
submandibular. O presente caso, acompanhado por mais de
três anos não apresentou mínimo sinal de recidiva. As lesões
que são negligenciadas por um longo tempo podem sofrer
chance de malignidade em uma proporção de 25%7.
CONCLUSÃO
Foi relatado o diagnóstico e o tratamento de um
adenoma pleomórfico em área pouco comum: o frênulo labial
superior. Demonstrou-se o cuidado cirúrgico para exérese
total do referido tumor e a preservação anatômica do frênulo,
bem como a preservação do resultado sem qualquer recidiva
após 3 anos.
ABSTRACT
Pleomorphic adenoma is the most common benign tumor
of the salivary gland in the oral cavity. The treatment for this
type of tumor is the surgical resection, besides the postoperative control of the patient. The present article reports a
case of surgical removal of pleomorphic adenoma in the region
of the upper labial frenulum, in a 12-year-old child.
UNITERMS: pleomorphic adenoma, labial frenulum,
minor salivary glands.
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Endereço para correspondência:
Kelly Cristine Freitas Machado
SCN Quadra 02 Bloco D Liberty Mall- Torre A Sala 227 Brasília – DF
E-mail: [email protected]
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