Artigo 13

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Relato de Caso
Adenoma pleomórfico de palato mole
Pleomorphic adenoma of the soft palate
Resumo
Introdução: Adenoma Pleomórfico , ou tumor misto benigno,
é a neoplasia salivar mais comum, sendo o local de maior
acometimento a glândula parótida. O sitio mais comum entre as
glândulas salivares menores é o palato. O tratamento envolve a
excisão cirúrgica da lesão. Relato de Caso: Paciente masculino,
29 anos, caucasiano, estudante, queixa de disfagia com piora há 1
mês. Teve evolução com lesão tumoral no palato mole e tratamento
cirúrgico da lesão sem intercorrências. Discussão: Adenoma
plemórfico acomete geralmente em pacientes de 30-60 anos. Há
risco de transformação maligna para Ex-adenoma pleomórfico em
5% dos casos. Conclusão: É de grande importância a realização
de biópsia, visto que as características clínicas da forma benigna
e da forma maligna são muito semelhantes, o que pode modificar
a conduta terapêutica.
Vanessa Brito Campoy Rocha 1
Guilherme Machado de Carvalho 2
Edi Lúcia Sartorato 3
Patícia Bette 4
Vanessa Golçalves Silva 4
Carlos Eduardo Monteiro Zappelini 4
Abstract
Background: The pleomorphic adenoma or benign mixed tumor,
is the most common salivary gland tumor, being this the most
affected parotid gland local. The most common site among the
minor salivary glands is the palate. Treatment involves surgical
excision of the lesion. Case report: Male, 29 years old, male,
caucasian, student. The complaint is due discomfort on swallowing
worsening a month ago. Discussion: Neoplasia commonly found
in patients between 30-60 years old. There is a risk of malignant
transformation to the former pleomorphic adenoma in 5% of the
cases. Conclusion: It is of great importance the performance of
biopsy, seen that the clinical characteristics are very similar on
both benign and malignant forms.
Key words: Adenoma, Pleomorphic; Palate, Soft; Salivary Glands.
Descritores: Adenoma Pleomorfo; Palato Mole; Glândulas
Salivares.
INTRODUÇÃO
O adenoma pleomórfico (AP), ou tumor misto
benigno, é a neoplasia benigna de glândula salivar
mais comum, sendo responsável por 40% a 70% de
todos os tumores destas estruturas. Ocorre com maior
frequência na glândula parótida, seguido pela glândula
submandibular e glândulas salivares menores. O sítio
mais comum do adenoma pleomórfico de glândulas
salivares menores é o palato, seguido do lábio superior,
mucosa jugal, assoalho de boca, língua, tonsila, faringe,
área retromolar e cavidade nasal 1-3.
A lesão manifesta-se como uma massa firme,
nodular, com consistência fibroelástica, de crescimento
lento e indolor, que se negligenciada, pode crescer
a proporções grotescas. Eventualmente, a lesão da
parótida pode crescer em direção medial entre o ramo
ascendente e o ligamento estilomandibular, resultando
em um tumor que se apresenta como massa da parede
lateral de faringe ou palato mole1-3.
Na microscopia apresentam-se como tumores lisos
que não se fixam ao tecido adjacente. Por ocasião do
diagnóstico, geralmente têm dimensões entre dois e três
centímetros, mas, se deixados à própria sorte podem
atingir grandes volumes. Pode ocorrer, ocasionalmente,
aumento rápido de volume, indício presuntivo de
transformação maligna3,4.
O tratamento envolve a total excisão cirúrgica com
margem de tecido normal não envolvido. Caso não
seja totalmente ressecado, a taxa de recidiva aumenta
1)Doutora. Residente em otorrinolaringologia.
2)MD Médico Otorrinolaringologista, Fellowship em Otologia no HC-FCM UNICAMP (Médico Otorrinolaringologista no HC-FCM UNICAMP.
3)PhD (Diretora adjunta do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética - CBMEG UNICAMP.
4)Doutor (a). Médico Otorrinolaringologista, UNICAMP.
Instituição:UNICAMP.
Campinas / SP – Brasil.
Correspondência: Vanessa Brito Campoy Rocha - Rua Tessália Vieira de Carvalho, 126 - Campinas / SP – Brasil - CEP: 13083-887 - Telefone: (+ 55 19) 3521-7454 / 3521-7523 - Fax: (+ 55 19)
3521-7380 - E-mail: [email protected]
Artigo recebido em 22/06/2014; aceito para publicação em 31/10/2014; publicado online em 18/12/2015.
Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há.
116 e������������������������������������������������ Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.44, nº 2, p. 116-118, Abril / Maio / Junho 2015
Adenoma pleomórfico de palato mole.
Rocha et al.
proporcionando maiores chances de transformação
maligna do tumor4.
Este artigo objetiva relatar caso de lesão de
adenoma pleomórfico de palato mole através de revisão
de literatura médica.
Relato de CASO
Paciente de 29 anos, homem, caucasiano,
estudante, natural e procedente de Campinas, procurou
atendimento médico referindo desconforto à deglutição
de longa data, com piora dos sintoma há um mês.
No exame físico, pela oroscopia, foi observado
abaulamento de tonsila palatina e palato mole à direita
não ultrapassando linha média. À palpação apresentavase lesão nodular indolor e de consistência fibroelástica.
Apresentava aspecto físico compatível com abscesso
peritonsilar, sem os sinais de doença aguda, sem trismo,
dor local ou febre. A palpação cervical e o exame de
nasofibrolaringoscopia encontravam-se sem alterações.
Tinha antecedentes de faringotonsilites de repetição
(5 episódios por ano nos últimos 3 anos). Paciente
negava comorbidades e uso de medicações de forma
regular, antecedentes cirúrgicos, tabagismo ou etilismo.
Procedeu-se com excisão cirúrgico, por acesso
transoral. No intraoperatório observou-se lesão de
aspecto nodular, irregular, junto ao palato mole e à tonsila
direita, de consistência fibroelástica. Teve ressecção
cirúrgica completa.
A peça cirúrgica teve medidas de 5,9 x 4,3 x 2,3 cm e
superfície externa pardo-acastanhada (Figura 1). A peça
foi encaminhada para estudo anatomopatológico que
evidenciou adenoma pleomórfico.
Apresentou excelente evolução pós operatória, com
melhora das queixas, sem apresentar sinais de recidiva,
ou sequelas funcionais, já com 52 meses de seguimento.
DISCUSSÃO
Desde a sua publicação inicial este tumor foi alvo de
diferentes nomenclaturas (endotelioma, encondroma,
branquioma, enclavoma)4. Missen foi quem introduziu
o termo “tumor misto” acreditando ser a origem
desse tumor, epitelial e mesenquimatosa, todavia,
posteriormente soube-se que ela não se originava de
mais de uma camada germinativa, apesar de ter uma
aparência mesenquimal proeminente2.
A maioria das lesões diagnosticadas como tumor
misto benigno é encontrada em pacientes com idade
entre 30 e 60 anos, e em adultos jovens, mas podem se
desenvolver em qualquer idade, inclusive em crianças e
recém-nascidos. É pouco mais frequente a ocorrência
em mulheres, em proporção de 6:41,4.
Quanto ao comprometimento das glândulas salivares
menores, o tumor geralmente tem diâmetro menor de
um ou dois centímetros. Quando compromete o palato,
os tumores são encontrados comumente na região
póstero-lateral, no limite entre o palato duro e mole.
Figura 1. Da esquerda para direita: tonsila direita, lesão retirada do
palato mole e seringa de 5 ml.
Apresentam-se inicialmente como nódulos sésseis,
indolores, consistentes à palpação e relativamente
fixos e bem delimitados. Em algumas zonas podem
ser moles ou flutuantes, podendo haver ulceração
secundária e sangramento devido a fatores mecânicos
ligados à mastigação 4,5. Pelo fato de este tumor causar
dificuldades à deglutição e articulação da palavra, ele
é descoberto e tratado mais precocemente do que os
tumores das glândulas maiores 3.
Quanto à possibilidade de transformação maligna,
há variações estatísticas segundo diferentes estudos.
Neville et al publicou que o adenoma pleomórfico tem
um risco de transformação maligna em carcinoma exadenoma pleomófico provavelmente pequeno, mas
pode ocorrer em 5% dos casos.5. Regezi et al diz que
a probabilidade de malignização está em torno de 25%
quando as lesões ficam muito tempo sem tratamento
e aumenta quando a área é tratada previamente com
radioterapia 6.
A ressecção total, com margens livres, do tumor
é fundamental para sucesso terapêutico, sendo o
prognóstico considerado excelente quando a cirurgia é
feita de maneira adequada, com um índice de cura de
aproximadamente 95% 2-4.
COMENTÁRIOS FINAIS
Uma lesão tumoral da orofaringe tem o adenoma
pleomórfico como diagnóstico diferencial a ser lembrado
e é a principal lesão tumoral das glândulas salivares.
A biópsia prévia da lesão deve ser sempre
considerada, tanto para diferenciar de outras lesões
malignas quanto para avaliar a transformação maligna
da lesão, visto a similaridade das lesões.
A excisão cirúrgica com margens livres é o tratamento
de escolha, apresentando baixo índice de recidiva.
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Adenoma pleomórfico de palato mole.
REFERÊNCIAS
1. Moraitis D, Papakostas K, KarkanevatosA, Coast GJ, Jackson SR.
Pleomorphic adenoma causing acute airway obstruction. J Laryngol
Otol. 2000;114(8):634-6.
2. Utumi ER, Bernabé DG, Zambon CE, Pedron IG, Peres MPSM,
Rocha AC. Adenoma pleomórfico em palato mole. Rev Inst Ciênc
Saúde. 2009;27(1):77-80.
3. Boros LF, Júnior JB, Boros LF, Boros LH, Silva PA. Adenoma
Pleomórfico de glândula salivar menor do palato. Odontologia. Clín.Científ. 2004;3 (1): 67-72.
Rocha et al.
4. Jorge J, Pires FR, Alves FA, Perez DE, Kowalski LP, Lopes MA.
Juvenile intraoral pleomorphic adenoma: report of five cases and
review of the literature. Int J Oral Maxillofac Surg. 2002;31(3):273-5.
5. Neville BW, Damm DD, Allen CM, Bouquot JE. Patologia Oral e
Maxilofacial, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998, 11: 332 – 335.
6. Regezi JÁ, Sciubba JJ. Patologia Bucal, Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 1991, 8: 179 – 171.
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