Relato de Caso Adenoma pleomórfico de palato mole Pleomorphic adenoma of the soft palate Resumo Introdução: Adenoma Pleomórfico , ou tumor misto benigno, é a neoplasia salivar mais comum, sendo o local de maior acometimento a glândula parótida. O sitio mais comum entre as glândulas salivares menores é o palato. O tratamento envolve a excisão cirúrgica da lesão. Relato de Caso: Paciente masculino, 29 anos, caucasiano, estudante, queixa de disfagia com piora há 1 mês. Teve evolução com lesão tumoral no palato mole e tratamento cirúrgico da lesão sem intercorrências. Discussão: Adenoma plemórfico acomete geralmente em pacientes de 30-60 anos. Há risco de transformação maligna para Ex-adenoma pleomórfico em 5% dos casos. Conclusão: É de grande importância a realização de biópsia, visto que as características clínicas da forma benigna e da forma maligna são muito semelhantes, o que pode modificar a conduta terapêutica. Vanessa Brito Campoy Rocha 1 Guilherme Machado de Carvalho 2 Edi Lúcia Sartorato 3 Patícia Bette 4 Vanessa Golçalves Silva 4 Carlos Eduardo Monteiro Zappelini 4 Abstract Background: The pleomorphic adenoma or benign mixed tumor, is the most common salivary gland tumor, being this the most affected parotid gland local. The most common site among the minor salivary glands is the palate. Treatment involves surgical excision of the lesion. Case report: Male, 29 years old, male, caucasian, student. The complaint is due discomfort on swallowing worsening a month ago. Discussion: Neoplasia commonly found in patients between 30-60 years old. There is a risk of malignant transformation to the former pleomorphic adenoma in 5% of the cases. Conclusion: It is of great importance the performance of biopsy, seen that the clinical characteristics are very similar on both benign and malignant forms. Key words: Adenoma, Pleomorphic; Palate, Soft; Salivary Glands. Descritores: Adenoma Pleomorfo; Palato Mole; Glândulas Salivares. INTRODUÇÃO O adenoma pleomórfico (AP), ou tumor misto benigno, é a neoplasia benigna de glândula salivar mais comum, sendo responsável por 40% a 70% de todos os tumores destas estruturas. Ocorre com maior frequência na glândula parótida, seguido pela glândula submandibular e glândulas salivares menores. O sítio mais comum do adenoma pleomórfico de glândulas salivares menores é o palato, seguido do lábio superior, mucosa jugal, assoalho de boca, língua, tonsila, faringe, área retromolar e cavidade nasal 1-3. A lesão manifesta-se como uma massa firme, nodular, com consistência fibroelástica, de crescimento lento e indolor, que se negligenciada, pode crescer a proporções grotescas. Eventualmente, a lesão da parótida pode crescer em direção medial entre o ramo ascendente e o ligamento estilomandibular, resultando em um tumor que se apresenta como massa da parede lateral de faringe ou palato mole1-3. Na microscopia apresentam-se como tumores lisos que não se fixam ao tecido adjacente. Por ocasião do diagnóstico, geralmente têm dimensões entre dois e três centímetros, mas, se deixados à própria sorte podem atingir grandes volumes. Pode ocorrer, ocasionalmente, aumento rápido de volume, indício presuntivo de transformação maligna3,4. O tratamento envolve a total excisão cirúrgica com margem de tecido normal não envolvido. Caso não seja totalmente ressecado, a taxa de recidiva aumenta 1)Doutora. Residente em otorrinolaringologia. 2)MD Médico Otorrinolaringologista, Fellowship em Otologia no HC-FCM UNICAMP (Médico Otorrinolaringologista no HC-FCM UNICAMP. 3)PhD (Diretora adjunta do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética - CBMEG UNICAMP. 4)Doutor (a). Médico Otorrinolaringologista, UNICAMP. Instituição:UNICAMP. Campinas / SP – Brasil. Correspondência: Vanessa Brito Campoy Rocha - Rua Tessália Vieira de Carvalho, 126 - Campinas / SP – Brasil - CEP: 13083-887 - Telefone: (+ 55 19) 3521-7454 / 3521-7523 - Fax: (+ 55 19) 3521-7380 - E-mail: [email protected] Artigo recebido em 22/06/2014; aceito para publicação em 31/10/2014; publicado online em 18/12/2015. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. 116 e������������������������������������������������ Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.44, nº 2, p. 116-118, Abril / Maio / Junho 2015 Adenoma pleomórfico de palato mole. Rocha et al. proporcionando maiores chances de transformação maligna do tumor4. Este artigo objetiva relatar caso de lesão de adenoma pleomórfico de palato mole através de revisão de literatura médica. Relato de CASO Paciente de 29 anos, homem, caucasiano, estudante, natural e procedente de Campinas, procurou atendimento médico referindo desconforto à deglutição de longa data, com piora dos sintoma há um mês. No exame físico, pela oroscopia, foi observado abaulamento de tonsila palatina e palato mole à direita não ultrapassando linha média. À palpação apresentavase lesão nodular indolor e de consistência fibroelástica. Apresentava aspecto físico compatível com abscesso peritonsilar, sem os sinais de doença aguda, sem trismo, dor local ou febre. A palpação cervical e o exame de nasofibrolaringoscopia encontravam-se sem alterações. Tinha antecedentes de faringotonsilites de repetição (5 episódios por ano nos últimos 3 anos). Paciente negava comorbidades e uso de medicações de forma regular, antecedentes cirúrgicos, tabagismo ou etilismo. Procedeu-se com excisão cirúrgico, por acesso transoral. No intraoperatório observou-se lesão de aspecto nodular, irregular, junto ao palato mole e à tonsila direita, de consistência fibroelástica. Teve ressecção cirúrgica completa. A peça cirúrgica teve medidas de 5,9 x 4,3 x 2,3 cm e superfície externa pardo-acastanhada (Figura 1). A peça foi encaminhada para estudo anatomopatológico que evidenciou adenoma pleomórfico. Apresentou excelente evolução pós operatória, com melhora das queixas, sem apresentar sinais de recidiva, ou sequelas funcionais, já com 52 meses de seguimento. DISCUSSÃO Desde a sua publicação inicial este tumor foi alvo de diferentes nomenclaturas (endotelioma, encondroma, branquioma, enclavoma)4. Missen foi quem introduziu o termo “tumor misto” acreditando ser a origem desse tumor, epitelial e mesenquimatosa, todavia, posteriormente soube-se que ela não se originava de mais de uma camada germinativa, apesar de ter uma aparência mesenquimal proeminente2. A maioria das lesões diagnosticadas como tumor misto benigno é encontrada em pacientes com idade entre 30 e 60 anos, e em adultos jovens, mas podem se desenvolver em qualquer idade, inclusive em crianças e recém-nascidos. É pouco mais frequente a ocorrência em mulheres, em proporção de 6:41,4. Quanto ao comprometimento das glândulas salivares menores, o tumor geralmente tem diâmetro menor de um ou dois centímetros. Quando compromete o palato, os tumores são encontrados comumente na região póstero-lateral, no limite entre o palato duro e mole. Figura 1. Da esquerda para direita: tonsila direita, lesão retirada do palato mole e seringa de 5 ml. Apresentam-se inicialmente como nódulos sésseis, indolores, consistentes à palpação e relativamente fixos e bem delimitados. Em algumas zonas podem ser moles ou flutuantes, podendo haver ulceração secundária e sangramento devido a fatores mecânicos ligados à mastigação 4,5. Pelo fato de este tumor causar dificuldades à deglutição e articulação da palavra, ele é descoberto e tratado mais precocemente do que os tumores das glândulas maiores 3. Quanto à possibilidade de transformação maligna, há variações estatísticas segundo diferentes estudos. Neville et al publicou que o adenoma pleomórfico tem um risco de transformação maligna em carcinoma exadenoma pleomófico provavelmente pequeno, mas pode ocorrer em 5% dos casos.5. Regezi et al diz que a probabilidade de malignização está em torno de 25% quando as lesões ficam muito tempo sem tratamento e aumenta quando a área é tratada previamente com radioterapia 6. A ressecção total, com margens livres, do tumor é fundamental para sucesso terapêutico, sendo o prognóstico considerado excelente quando a cirurgia é feita de maneira adequada, com um índice de cura de aproximadamente 95% 2-4. COMENTÁRIOS FINAIS Uma lesão tumoral da orofaringe tem o adenoma pleomórfico como diagnóstico diferencial a ser lembrado e é a principal lesão tumoral das glândulas salivares. A biópsia prévia da lesão deve ser sempre considerada, tanto para diferenciar de outras lesões malignas quanto para avaliar a transformação maligna da lesão, visto a similaridade das lesões. A excisão cirúrgica com margens livres é o tratamento de escolha, apresentando baixo índice de recidiva. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.44, nº 2, p. 116-118, Abril / Maio / Junho 2015 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 117 Adenoma pleomórfico de palato mole. REFERÊNCIAS 1. Moraitis D, Papakostas K, KarkanevatosA, Coast GJ, Jackson SR. Pleomorphic adenoma causing acute airway obstruction. J Laryngol Otol. 2000;114(8):634-6. 2. Utumi ER, Bernabé DG, Zambon CE, Pedron IG, Peres MPSM, Rocha AC. Adenoma pleomórfico em palato mole. Rev Inst Ciênc Saúde. 2009;27(1):77-80. 3. Boros LF, Júnior JB, Boros LF, Boros LH, Silva PA. Adenoma Pleomórfico de glândula salivar menor do palato. Odontologia. Clín.Científ. 2004;3 (1): 67-72. Rocha et al. 4. Jorge J, Pires FR, Alves FA, Perez DE, Kowalski LP, Lopes MA. Juvenile intraoral pleomorphic adenoma: report of five cases and review of the literature. Int J Oral Maxillofac Surg. 2002;31(3):273-5. 5. Neville BW, Damm DD, Allen CM, Bouquot JE. Patologia Oral e Maxilofacial, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998, 11: 332 – 335. 6. Regezi JÁ, Sciubba JJ. Patologia Bucal, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991, 8: 179 – 171. 118 e������������������������������������������������ Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.44, nº 2, p. 116-118, Abril / Maio / Junho 2015