UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO Curso de Comunicação Social Habilitação em Jornalismo Relatório Final de Reportagem Porto do Capim: a luta pela apropriação do espaço onde vive uma comunidade Dayse Furtado Rodrigues da Costa João Pessoa 2015 RELATÓRIO DE REPORTAGEM PORTO DO CAPIM: A LUTA PELA APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO ONDE VIVE UMA COMUNIDADE Relatório Final da Grande Reportagem PORTO DO CAPIM: A LUTA PELA APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO ONDE VIVE UMA COMUNIDADE, de Dayse Furtado Rodrigues da Costa, orientada pelo Prof. Dr. Edônio Alves Nascimento, apresentada como exigência parcial para obtenção do bacharelado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. João Pessoa 2015 Dayse Furtado Rodrigues da Costa Porto do Capim: a luta pela apropriação do espaço onde vive uma comunidade Orientador: Prof. Dr. Edônio Alves Nascimento Banca Examinadora: _______________________________________________________ Nota: _____________ _______________________________________________________ Nota: _____________ _______________________________________________________ Nota: _____________ Média Final: ____________ Aprovado em ______ de Março de 2015. DEDICATÓRIA À cidade de João Pessoa AGRADECIMENTOS Agradeço à professora Regina Célia Gonçalves, por ter sido a primeira pessoa a me contar a história do Porto do Capim, servindo de inspiração para que eu escolhesse este tema para me debruçar durante os últimos meses. Aos moradores da comunidade Porto do Capim, que me acolheram, confiaram em mim e me transformaram após cada conversa. Aos engajados em defender a causa da comunidade, que me emocionaram profundamente e sempre tiraram minhas dúvidas com muita paciência: Pablo Honorato, Emanuel Braga, Valeska Asfora. À minha supervisora de estágio e amiga Diana Reis, que me socorreu nas horas mais difíceis do processo de produção do texto e de diagramação da reportagem. Aos meus pais, pelo apoio, compreensão e paciência durante todo esse processo. “a cidade de joão pessoa nunca olha de frente para o rio sanhauá talvez por ter vergonha das suas margens a cidade não veste a pele dos que encharcam os pés nas beiradas do porto do capim onde as chuvas aniquilam o pouco dos que pouco possuem onde os barcos atracam no assoreamento e no abandono onde um estupro urbanístico é prometido pelos que mandam e fazem pelos que arrancam as árvores porque acreditam não precisar dos pássaros a cidade de joão pessoa esqueceu do seu nascedouro virou as costas para onde a verdade maior é o reflexo da lua nas águas do rio um lugar onde o esquecimento fez morada no tempo e a beleza é o alimento de cada manhã suas mulheres transformaram a luta num lugar de morada” Lau Ciqueira SUMÁRIO 1 Apresentação ........................................................................................................................... ....5 2 Justificativa ..................................................................................................................................7 3 Objetivos ......................................................................................................................................8 3.1 Objetivo Geral ...........................................................................................................................8 3.2 Objetivos Específicos ................................................................................................................8 4 Fundamentação Teórica ...............................................................................................................9 5 Metodologia ...............................................................................................................................12 6 Cronograma ................................................................................................................................13 7 Referências .................................................................................................................................14 1 APRESENTAÇÃO A comunidade do Porto do Capim está localizada no bairro do Varadouro, em João Pessoa (PB), precisamente em torno da bacia do Rio Sanhauá, onde a cidade começou a se formar. Nela residem aproximadamente 500 famílias, dentre as quais cerca de 80 moram em áreas de risco e em condições de insalubridade, de acordo com a Comissão Porto do Capim em Ação – formada pelos próprios moradores. A área do Porto do Capim passou a ser ocupada a partir da década de 1950. O terreno havia sido abandonado, após a não concluída reforma de ampliação do Porto Internacional do Varadouro, 30 anos antes. A obra era inviável tecnicamente, em razão do assoreamento do rio. Mesmo assim, tentaram prosseguir. Mas os recursos nunca foram utilizados para esse fim, como mostra a realidade. Em 1935, o Porto foi transferido para o município paraibano de Cabedelo. Dessa forma, o Porto localizado no bairro do Varadouro foi desativado e um novo foi construído no município paraibano de Cabedelo, em 1935. Isso gerou uma decadência econômica no local e aumentou a massa de desempregados na região, prevalecendo o esquecimento por parte do poder público, que permanece até hoje. O Porto do Varadouro passou a ser conhecido como Porto do Capim, porque ainda circularam embarcações com pequenas quantidades de produtos, como frutas, que eram trazidas por habitantes de ilhas próximas, para vender na cidade. O nome se tornou popular devido ao capim ser o produto que mais desembarcava no porto, já que servia para alimentar os animais que serviam como transporte na cidade. Atualmente, a população que vive na comunidade, em sua maioria famílias que foram sendo constituídas pelos primeiros moradores que chegaram ao local, está prestes a ser retirada para que seja implantado um projeto da Prefeitura Municipal de João Pessoa. A prefeitura e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em parceria com o governo federal, através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), elaboraram um projeto de revitalização para a área onde fica a comunidade. Para sua execução, os moradores da comunidade Porto do Capim precisam ser removidos para que seja construído um complexo turístico, que abrigará uma praça e um parque ecológico. 5 A ideia de “revitalizar” a área da comunidade exista há cerca de 20 anos, entretanto, agora pode ser concretizada por meio dos recursos do governo federal. O projeto apresentado pela prefeitura tem custará R$106 milhões e abrange duas linhas do programa: o PAC Sanhauá e o PAC Cidades Históricas. O PAC Sanhauá prevê a retirada de moradias localizadas perto dos 11 kilômetros de extensão do rio, em áreas de preservação, e a revitalização do rio poluído e assoreado. Já o PAC Cidades Históricas daria um novo uso à área do centro histórico onde está a comunidade Porto do Capim. O projeto de “revitalização”, no entanto, não considera a história da comunidade, do ponto de vista da identidade que formou os que ali criaram raízes, nem procura inserir os moradores através do turismo comunitário, por exemplo. Além disso, a prefeitura não os incluiu no processo de elaboração dessa política que irá afetar diretamente a vida deles, tendo em vista que vão ser retirados de um lugar onde eles desenvolveram raízes e laços afetivos. Por isso, produzimos uma grande reportagem impressa que abordou a questão do projeto que visa remover a comunidade. Foram ouvidos tanto moradores, como representantes do poder público sobre a execução do projeto e as articulações diante disso. 6 2 JUSTIFICATIVA A escolha do Porto do Capim como tema desta grande reportagem como projeto de conclusão de curso se deu pelo fato de a comunidade ser excluída por políticas públicas e viver na iminência de ser removida, para que seja construída uma praça no lugar de residências que estão lá há aproximadamente 60 anos. O poder público se afastou do local desde a transferência do porto para Cabedelo, o que contribuiu decisivamente para que a região perdesse seu poder econômico e fosse esquecida pelo Estado. Apesar de carente de serviços básicos, a população que vive naquela área construiu memórias e formou sua identidade, no decorrer dos anos. As relações comunitárias existentes são claramente perceptíveis, e o projeto de “revitalização” parte do pressuposto de que precisa devolver vida ao lugar, como se já não existisse. Esse projeto só revela como se trata de uma prática higienista para com uma comunidade que, na visão dos gestores públicos, não deveria fazer parte do centro histórico da cidade. Não são consideradas alternativas para melhorar as condições dos habitantes sem que seja preciso eles irem para outro lugar. A comunidade do Porto do Capim é realmente uma comunidade no sentido sociológico. Grande parte da população tem relação com o rio e existem relações de parentesco e de amizade entre os moradores, que temem se separar. As mudanças as quais o projeto da prefeitura propões implicam em benefícios que não estão voltados para o desenvolvimento humano da comunidade local, e sim finalidades econômicas e turísticas – que excluem a participação dos habitantes que mais conhecem o lugar. A importância de ter desenvolvido essa pesquisa se deu pelo fato de compreender a complexa situação de forma aprofundada, ouvindo os lados que diferem, para conseguir explicar a dimensão do que pode resultar para uma comunidade ser expulsa do território ocupado durante décadas, o que pensam em relação ao projeto e que direitos os moradores têm. 7 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral Escrever uma reportagem sobre os moradores da comunidade Porto do Capim, localizada no bairro do Varadouro, em João Pessoa/PB, e o projeto de remoção elaborado pela Prefeitura Municipal de João Pessoa para que seja construída uma praça e um parque ecológico no lugar das residências. 3.2 Objetivos Específicos 1 Explicar o projeto de revitalização da Prefeitura Municipal de João Pessoa 2 Abordar a perspectiva da remoção através do ponto de vista dos habitantes locais. 3 Abordar as relações comunitárias e de identidade existentes no Porto do Capim. 8 4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA De acordo com Sodré e Ferrari (1986, p. 15), a reportagem é uma narrativa ampliada e completa, cujas informações se fundamentam no aprofundamento da história e despertam o interesse do leitor. Diferente da notícia, que apenas descreve o fato e suas prováveis consequências, a reportagem se caracteriza por ser um gênero que busca compreender os fenômenos sociais e seus contextos. Sodré e Ferrari (1986) ainda assinalam como características da reportagem a predominância da forma narrativa, a humanização do relato, o texto de natureza impressionista e a objetividade dos fatos narrados. Assim, buscamos, neste trabalho, mergulhar nos fatos e no contexto no qual eles estão inseridos. Através da apuração deles, vamos entender as causas, razões e efeitos que a questão da remoção da comunidade implica para a população local. Com o intuito de abordar o conteúdo de forma profunda e humana, seguiremos os princípios do jornalismo interpretativo e do jornalismo literário. O jornalismo literário é uma narrativa que utiliza técnicas literárias e, dessa forma, se baseia em contar histórias de vidas reais, proporcionando visões amplas da realidade e privilegiando a perspectiva humana e subjetiva do relato. Como Pena coloca: [...] Não se preocupa com a novidade, ou seja, com o desejo do leitor em consumir os fatos que aconteceram no espaço de tempo mais imediato possível. A preocupação do jornalismo literário, então, é contextualizar a informação da forma mais abrangente possível, o que seria muito mais difícil no exíguo espaço de um jornal. Para isso, é preciso mastigar as informações, relacioná-las com outros fatos, compará-las com diferentes abordagens e, novamente, localizá- las em um espaço temporal de longa duração. (PENA, 2006, p. 7) Já o jornalismo interpretativo, é baseado na apreensão significativa de um fato. Lima (2004, p. 21) nos direciona a cinco pontos para exercer o jornalismo interpretativo: 1. A contextualização do fato ou situação nuclear proposto para a reportagem, relacionando a “rede de forças” que o mantém; 2. O resgate dos antecedentes do fato, onde ele se origina, a história desse fato ou situação para chegar à situação atual; 3. A imprescindível busca de especialistas, testemunhas, enquete e pesquisa de opinião pública, que servirão de embasamento para toda informação veiculada; 4. A projeção para medir o alcance das consequências do fato ou situação; 9 5. O perfil, a busca da ação humana para aproximar a reportagem do leitor por meio de emoção e da vivência humana. Dessa forma, tentamos focar a narrativa nas personagens e também contextualizar as informações partindo da percepção delas. Para a reportagem, o intuito foi compreender as relações sociais construídas entre os moradores e como eles participam dos processos políticos e sociais. A comunidade Porto do Capim fica localizada às margens do rio Sanhauá e se consolidou, em geral, por famílias de pescadores a partir da década de 1950. O lugar ocupado por elas havia sido aterrado durante a obra de reforma do Porto Internacional do Varadouro, que não foi concluída. O canteiro de obras foi abandonado como estava, e a região entrou em decadência. Até que as primeiras pessoas foram construindo suas casas e se perpetuando em um ambiente que foi se tornando comunitário. Mais de 60 anos depois, os moradores que construíram uma identidade no local, hoje estão ameaçados de remoção, para que seja construída uma praça no lugar das residências. Dentre os processos de intervenção para revitalizar e restaurar o centro histórico de João Pessoa, somente esse envolve a relocação da comunidade para outro espaço. Então buscamos saber o posicionamento dos moradores e do poder público em relação a esse projeto e suas consequências. A reportagem impressa foi escolhida como o formato para o trabalho fosse realizado, e procuramos, na medida do possível, relacionar histórias de vida dos habitantes da comunidade e as visões de mundo de cada um com a questão da remoção. Alves e Sebrian (2008), citam a opinião de Cremilda Medina a respeito do gênero: De certa forma a ação coletiva da grande reportagem ganha sedução quando quem a protagoniza são pessoas comuns que vivem a luta do cotidiano. Descobrir essa trama dos que não têm voz, reconstruir o diário de bordo da viagem da esperança, recriar os falares, a oratura dos que passam ao largo dos holofotes da mídia convencional [...] Contar uma boa história humana, afinal, é o segredo da reportagem. (MEDINA, 1999, apud ALVES; SEBRIAN, p.28) Baseado nisso, a narrativa foi orientada pela narração dos personagens, procurando ter uma abordagem mais humana, apesar de em algumas partes mais explicativas, ser técnica. da perspectiva sociológica do que é comunidade e que implicações ela terá ao ser desfeita e realocada em outro lugar. A noção de comunidade evoca vários sentidos, que têm como base o sentimento de comunidade e o senso de pertencimento a uma coletividade. Na visão de Bauman 10 (2003), comunidade quer dizer “entendimento compartilhado do tipo ‘natural’e ‘tácito’ e ele define como comunidade real “aquela que não foi produzida ‘artificialmente’ ou meramente imaginada”. Para Bauman (2003, p.21) identidade “significa aparecer: ser diferente e, por essa diferença, singular – e assim a procura da identidade não pode deixar de dividir e separar. “É difícil, entretanto, conceituar identidade, tendo em vista que é um processo em constante mutação. Através da antropologia cultural e da sociologia, a identidade se torna um conceito polissêmico. De acordo com Castells (1999, p. 22), identidade é “a fonte de significado e experiência de um povo.” Sendo, assim, o resultado de pertencimento a determinado grupo social. Essa definição também usada como base para o desenvolvimento do texto e entendimento da importância de a comunidade permanecer onde está. 11 5 METODOLOGIA Este trabalho é uma grande reportagem impressa, cujo tema é a comunidade Porto do Capim, que fica no bairro do Varadouro, em João Pessoa, e impacto do projeto de revitalização da área. Primeiramente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o gênero reportagem, os conceitos de comunidade e identidade, e também sobre a História da Paraíba e da comunidade Porto do Capim. Feito isso, foi montada uma pequena lista de entrevistados formada por funcionários públicos de órgãos relacionados ao projeto e de pessoas que apoiam a comunidade. A princípio, seriam entrevistados por volta de quatro moradores, mas ao longo do processo de apuração, não seria possível devido à complexidade da situação. Durante os meses de dezembro e janeiro foram feitas visitas no Porto do Capim , para conversar com as pessoas que moram na comunidade e participar da vivência cotidiana delas. No total foram entrevistadas 24 pessoas, dentre elas 11 eram moradores, 8 servidores de órgãos públicos envolvidos com o projeto de revitalização ou direcionados em apoio ao projeto e 5 pessoas a favor do projeto e que auxiliavam os moradores, de alguma forma, a lutar pelos seus direitos. As entrevistas foram semiestruturadas e gravadas em áudio. Fotografias também são parte da reportagem. O processo de produção do texto só teve início após todas as entrevistas terem sido finalizadas. Por conta do volume de informações, no começo foi confuso encontrar a melhor forma de contar a história e a organização dos pensamentos que fizessem mais sentido, mas a elaboração de um plano de narrativa auxiliou a pensar o texto da forma mais clara para o leitor. Após várias correções e reorganizações da ordem das falas, o texto foi finalizado, apesar do curto período de tempo, e logo foi iniciada a diagramação, utilizando o programa CorelDraw. 12 6 CRONOGRAMA ATIVIDADES Levantamento de dados OUT/2014 NOV/2014 XX DEZ/2014 JAN/2015 FEV./2015 MAR/2015 XXX bibliográficos Entrevistas Análise do material e X XXXX XXXX XXXX XX XXXX elaboração da grande reportagem Revisão Apresentação XXX X 13 7 REFERÊNCIAS ALVES, Fabiana Aline; SEBRIAN, Raphael Nunes Nicoletti. Jornalismo Humanizado: o ser humano como ponto de partida e de chegada do fazer jornalístico. Guarapoava: Intercom, 2008. BAUMAN, Sigmund. Comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. BAUMAN, Sigmund. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005 BELTRÃO, L. Jornalismo interpretativo. Porto Alegre: Sulina, 1980. CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra, 1999 COIMBRA, Osvaldo. O texto da reportagem impressa. Um curso sobre sua estrutura. São Paulo: Ática, 1993. IPHAN/PB. Dossiê: proposta de requalificação das áreas urbanas do Porto do Capim e da Vila Nassau. João Pessoa: Superintendência do Iphan na Paraíba, maio de 2012. JOFFILY, José. Porto Político. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983. LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2001. LIMA, E. P. Páginas ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. Barueri: Manole, 2004. PENA, Felipe. O jornalismo Literário como gênero e conceito. Rio de Janeiro: Intercom, 2006. 14 SODRÉ, M,; FERRARI, M. H. Técnica de reportagem: notas sobre a narrativa jornalística. São Paulo: Summus, 1986. VITAL, Maria das Dôres de Queiroga. A revitalização do centro histórico de João Pessoa: discursos e representações sociais. Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Sociologia, da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2007. 15