os novos requisitos exigidos do trabalhador e o processo

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OS NOVOS REQUISITOS EXIGIDOS DO TRABALHADOR E O PROCESSO
EDUCACIONAL VIGENTE: ELEMENTOS DE REFLEXÃO PARA UMA
POLÍTICA DE QUALIFICAÇÃO
Dinah dos Santos Tinôco
PPGA/DEPAD/UFRN
1-Introdução
Há uma transformação dos paradigmas produtivos e organizacionais em curso iniciada com
a terceira revolução industrial que deu origem a “Era da Informação” . A qual introduziu mudanças
tanto no que se refere a rapidez e difusão das inovações tecnológicas como a maior importância do
conhecimento com amplos reflexos nas sociedades .Nesse contexto, a globalização da economia
constitui um fenômeno novo, viabilizado pelas tecnologias da informação e da comunicação.
Castells ( 1999:111)esclarece : Uma economia global ... é uma economia com capacidade de
funcionar como uma unidade em tempo real em escala planetária
Junto com a economia global, foi estabelecida uma nova Divisão Internacional do
Trabalho(DIT) que beneficiou-se das possibilidades abertas pelas facilidades de comunicação em
tempo real sob a forma de redes inter e intra empresas. Essa nova DIT é comandada pela esfera
financeira, apresenta uma maior concentração e centralização do capital nos setores produtivos,
bancários , financeiros e comerciais através das grandes corporações transnacionais, junto à
expansão dos investimentos externos diretos no exterior (IED).Os diferentes países e regiões são
atingidos de forma diversa e heterogênea perpetuando e mesmo agravando as desigualdades e
disparidades internas e externas(Pochmann, 2.001).
As economias do centro concentram “...as atividades produtivas vinculadas aos processos
de concepção do produto, definição do design, marketing, comercialização, administração,
pesquisa e tecnologia e aplicação das finanças empresariais” (Pochmann, 2.001:32). Enquanto os
países da semi-periferia especializam-se em atividades vinculadas a industria de transformação ,
produção de baixo coeficiente tecnológico, com uso intenso de matéria prima e energia, atividades
muitas vezes insalubres e com elevado nível de poluição industrial((Pochmann, 2.001:34).
Castells(1999:111) ressalta que, os mercados de trabalho não são globais, salvo no que diz
respeito a um pequeno segmento de trabalhadores especializados e cientistas, embora a mão de obra
seja um recurso global, visto que :
1- as empresas podem escolher onde se situar para ter a mão de obra que precisam em termos de
especialização, custos, ou controle social,
2-as empresas podem requerer mão de obra altamente especializada de qualquer lugar e
3- a mão de obra pode ir para qualquer lugar onde haja trabalho, sujeita todavia aos controles cada
vez mais rigorosos dos serviços de imigração que tentam impedí-la de entrar.
O núcleo da economia global, é formado principalmente por EUA, Japão e Europa
Ocidental, onde estão concentrados capacidade tecnológica, capital, mercados e produção
industrial. Os países da OCDE somados aos quatro tigres asiáticos representavam juntos em 1988
72,8% da produção industrial mundial tendo apenas 15,7% da população do mundo.
Em 1990, o Grupo dos 7 dispunha de 90,5% da industria mundial de alta tecnologia e 80,4% da
informática mundial. As despesas de R&D são também concentradas. A América do Norte detinha
então 42,8% do total dessas despesas em 1990, a América Latina e Africa juntas somavam um
montante inferior a 1% do total de R&D mundial ( Castells, 1999).
A integração da América Latina à economia global se faz segundo o referido autor em uma
posição subordinada. Embora a economia brasileira seja a 10ª economia do mundo, é a mais
desigual do planeta. Uma grande proporção da população latino-americana está excluida dos setores
dinâmicos como produtora e como consumidora. Outros agravantes são o analfabetismo, a falta de
formação de uma parte importante de sua população e a elevação do desemprego no país.
O Brasil, tem se submetido aos ditames do capital financeiro internacional ao longo de toda
sua trajetória, recentemente com a adoção do Plano Real teve êxito no contrôle da inflação mas foi
penalizado pela abertura comercial e financeira devido, a baixa competitividade dos produtos
nacionais frente aos importados. No que se refere às políticas sociais tem seguido as orientações de
instituições multilaterais tais como o Banco Mundial, que tradicionalmente impõe pacotes de
reformas para um conjunto de países em desenvolvimento , sem considerar, todavia, as diferentes
realidades nacionais. O país ja ocupa o terceiro lugar em termos de número de desempregados.
Apresenta uma renda muito concentrada nas camadas mais ricas enquanto grande parte da
população empregada recebe salários baixíssimos.
Este artigo tem por objetivo fazer uma reflexão sobre as novas exigências do mercado de
trabalho devido às mudanças de valores dos novos paradigmas produtivos e organizacionais frente
às orientações políticas e institucionais seguidas pelas entidades de formação e qualificação
existentes no país.
2- As Transformações dos Paradigmas Produtivos e Organizacionais e seus Reflexos no Mundo do
Trabalho
O mundo tem passado nos fins do século XX por grandes transformações que repercutem na
organização e gestão do trabalho. Os três principais modos de organização da produção e de gestão
do trabalho: taylorismo, fordismo e toyotismo partiram de bases tecnológicas diferentes e se
apoiaram em concepções de trabalhador igualmente diversas.
O taylorismo ficou conhecido pela “gestão de tempos e movimentos” e pela “separação do
trabalho manual e intelectual ”.Desde então concebeu-se o príncipio de organização piramidal e
hierárquica mas sem maiores preocupações com o desenvolvimento tecnológico.
O fordismo foi difundido em todo o mundo pelo slogan; “produção de massa para consumo
de massa” e diferentemente do taylorismo deu ênfase a automação, a robótica, as grandes linhas
automatizadas de produção de forma a obter maiores ganhos de produtividade pela produção em
série. Persistem as organizações verticais hierarquizadas e a distinção entre trabalhador manual e
intelectual ou melhor, separação entre a concepção e a execução do trabalho.
O toyotismo, conhecido também por “modo de produção flexível” rompe com as grandes
unidades produtivas, acúmulo de estoques, estruturas rígidas e pesadas do fordismo e lança a
produção em pequenos lotes, feita sob medida para agradar a diversidade de clientelas, busca
diferenciar-se pela qualidade e “baixo custo”, reduzindo desperdícios e estoques. Persegue a
produtividade através da cooperação do trabalho em equipe , incorpora e assimila o “ savoir faire”
de todos os envolvidos que são incentivados a cooperar em busca da “qualidade total” e da
“satisfação do cliente”. Esse modo de organização dito flexível foi estendido para diversos setores e
provocou uma completa transformação de valores, práticas e requisitos exigidos do trabalhador
enquanto agente de mudança.
Todavia, as aplicações do chamado “modo de produção flexível” nos mais diversos setores
produtivos e organizacionais trouxe um amplo conjunto de práticas ditas inovadoras como a
“reengenharia” Para reduzir o tamanho das empresas fez-se preciso repensar as próprias bases das
organizações sem condescendências para antigos modelos e estruturas, promovendo na maioria das
vezes mudanças radicais. Isso ocorreu principalmente nos anos 1990 através da “reengenharia”.
Para Micklethwait e Wooldridge(1998:6) a reengenharia constituiu o grande modismo gerencial da
década de 1990 e causou a perda de empregos de milhões de pessoas no setor privado e depois
também no setor público e transformou as relações de trabalho de outra grande parcela da
população inicialmente nos EUA , mais tarde também em outros países. Segundo os citados autores
“a reengenharia de processos de negócios , como implica o termo é uma tentativa de dividir a
organização em seus componentes e em seguida reunir novamente alguns deles para criar uma
nova máquina” Todavia, quase sempre a reengenharia veio associada ao downsizing ou seja corte
de pessoal.
Essas mudanças organizacionais ocorreram junto com a difusão da ideologia neoliberal que
atribui ao indivíduo a total responsabilidade pelo seu êxito ou fracasso enquanto trabalhador
integrado na economia de mercado. Uma espécie de meritocracia foi incorporada ao imaginário
coletivo. Barbosa( 1999: 22) define meritocracia “... no nível ideológico como um conjunto de
valores que postula que as posições dos indivíduos na sociedade devem ser conseqüência do mérito
de cada um. Ou seja, do reconhecimento público da qualidade das realizações individuais.” A sua
aplicação não considera fatores socio-econômicos e políticos para distinguir os indivíduos entre si.
Na meritocracia “... o critério básico de organização social deve ser o desempenho das pessoas, ou
seja, o conjunto de talentos, habilidades e esforços de cada um.(Barbosa, 1999: 22) De acordo com
a citada autora o problema maior é acerca da maneira apropriada de avaliar desempenho, sobre a
qual não há consenso.
A ideologia meritocrática tem sido aplicada principalmente pelos Estados Unidos da
América e em alguma medida começa a ser incorporada em outras sociedades, a exemplo da
brasileira, a qual tem introduzido recentemente formas diferenciadas de “avaliação de desempenho”
em instituições as mais diversas dos setores público e privado a exemplo das universidades.
Todavia, essas avaliações têm sido objeto de críticas e insatisfações devido as enormes dificuldades
de se medir e quantificar aspectos complexos como o “conhecimento”.
3-Os Requisitos Exigidos do Trabalhador frente ao Processo Educacional
A sociedade do conhecimento como se observou não atinge todas as economias da mesma
maneira, nem se dissemina com o mesmo impacto no conjunto das economias desenvolvidas, visto
que determinados setores econômicos são mais afetados do que outros pelas mudanças da Era da
Informação.
Todavia, há uma profunda mudança do que se espera do trabalhador hoje em relação ao que
se esperava dele até então. Boyett e Conn(1992) citando Lyman Ketchum listou os seguintes
aspectos a serem considerados:
1-trabalhar em equipe
2- fazer uso do intelecto;
3- aprender continuamente;
4-ter a liberdade de tomar decisões sobre a maneira como o trabalho está sendo realizado ;
5-ser reconhecido pelas suas contribuições ao desenvolvimento do trabalho pelos colegas,
supervisores e pessoal de suporte;
6- receber informações sobre como o seu trabalho está sendo feito (feedback)
7- ser informado das principais ocorrências dentro e fora de sua área de trabalho e
8-sentir que sua contribuição é parte importante do conjunto.
É necessário e oportuno que o empregado traga uma sólida educação básica e a disposição e
habilidade para aprender novas habilidades. A característica essencial para o trabalhador é a
educação. Muitos países reconhecem deficiências nos respectivos sistemas educacionais. Boyett e
Conn(1992) diz que um terço dos adultos americanos são iletrados. Destacam alguns aspectos
essenciais para o trabalhador:
• Ler e entender as informações,
• ter capacidade de redigir de forma clara e objetiva,
• lidar com números e operações matemáticas de baixa e média complexidade
• deter conhecimentos básicos de história, geografia
• se comunicar em uma língua estrangeira,
Poucos detêm todas essas habilidades essenciais para o novo espaço de trabalho. A
formação, a qualificação e o treinamento tornam-se necessidades permanentes, como forma do
trabalhador se manter sempre atualizado e capaz de apresentar um melhor desempenho.
O novo local de trabalho, segundo Ketchum citado por Boyett e Conn(1992:236,265)
apresenta características completamente diferentes do que se conhecia:
⇒ Trabalhadores não tem funções específicas, mas tornam-se membros de equipes, às quais são
atribuídas total responsabilidade pela produção de um produto ou prestação de um serviço.
⇒ Equipes deverão ter uma “missão” bem definida. Os integrantes das equipes devem ser flexíveis.
Espera-se que cada componente aprenda várias funções e quando necessário possa desempenhálas. Os membros das equipes precisam aprender continuamente. As equipes precisam ser
autônomas.
⇒ É importante que o ambiente seja propício para estimular os componentes das equipes a
compartilhar idéias, cooperar, resolver problemas em conjunto e que os membros das equipes
recebam informações extensivas sobre as suas tarefas para a tomada de decisões , bem como
recebam feedback sobre os respectivos desempenhos.
Todavia, as exigências quanto a qualificação e treinamento num contexto multifuncional não
é algo de fácil obtenção num curto espaço de tempo. Recentemente algumas empresas vêm
realizando treinamento intensivo de jovens, em todas as áreas da empresa. Essa espécie de
treinamento capacita o indivíduo a atuar em várias áreas ao mesmo tempo ou a se deslocar de uma
área para outra sem dificuldades ou períodos de adaptação.1
De uma maneira geral, as observações acerca das competências e habilidades esperadas do
trabalhador referem-se as atividades mais dinâmicas, aos trabalhadores mais especializados.
Pochmann(2.001) classifica a estrutura ocupacional em ocupações profissionais superiores e
ocupações profissionais inferiores, as primeiras para referirem-se aos postos diretivos que utilizam
trabalhadores mais qualificados com maior escolaridade. As segundas referem-se as ocupações
simples e manuais. Segundo essa classificação, a estrutura ocupacional brasileira se distingue da
observada nas economias avançadas, visto que tem alta concentração de trabalhadores nas
ocupações profissionais inferiores e baixa concentração de trabalhadores nas ocupações
intermediárias e superiores.
Segundo o citado autor( Pochmann, 2.001:68) as ocupações profissionais que apresentaram
maior crescimento no Brasil nos anos 90, referem-se as seguintes atividades econômicas: a) asseio e
conservação, b)segurança pública e privada, c)construção civil, d)professores e e)funcionários
publico, as quais não são atividades profissionais consideradas mais modernas e especializadas, ao
contrário do observado nos países desenvolvidos, a exemplo dos EUA, que conforme estimativa
realizada pelo Bureau of Labor Statistics para o ano 2.000 estima maior evolução das categorias
ocupacionais especializadas, que por ordem decrescente de importância são: a)os profissionais
especializados, b)técnicos superiores e direção, seguidos de c)serviços básicos e vendas.
A estrutura ocupacional brasileira pode ser observada na tabela 1, a qual apresenta um
acentuado decréscimo do emprego na agricultura entre os anos 1940 e 1990 , uma elevada
participação da indústria entre 1940 e 1970, a qual sofre um decréscimo entre 1970 e 1990 e um
crescimento constante das ocupações no setor de serviços, ainda que bem menor se comparado às
ocupações nesse setor observadas nos países desenvolvidos, a exemplo dos EUA.
1
Em geral os “trainees” passam por uma ampla seleção de forma que os escolhidos tenham excelentes condições de
aprendizagem e desempenho. O Jornal Folha de São Paulo anunciou na edição de 15 de outubro de 2.000 a realização
de entrevistas com 40 candidatos selecionados de um total de 248 inscritos para a escolha de oito finalistas para
participar do treinamento em Jornalismo Gráfico da Folha. Os treinandos aprenderão a utilizar os programas de
computador usados pelo jornal e a elaborar gráficos, mapas e tabelas de forma clara e didática. Essa formação inclui um
amplo conjunto de práticas pedagógicas diversificadas .
Todavia, é o detalhamento do setor serviços por tipo que permite observar a importância
relativa e absoluta dos diversos serviços. Os de distribuição são os mais significativos e os que
apresentaram maior índice de crescimento no país nos anos 1990, setor esse que concentra
atividades mais dinâmicas a exemplo das telecomunicações. Esse segmento como pode ser
observado na tabela 1 reune 39,3% , o que representa 66% do total do setor serviços. Os serviços
sociais encontram-se estabilizados em torno de 15% do total . A representação dos demais setores,
pessoais e de produção é pequena ou incipiente, sobretudo se forem comparados com esses setores
nos países desenvolvidos, onde os mesmos são relevantes.
TABELA 1 -Evolução da Distribuição dos Empregos por Setor Econômico em Anos e Países Selecionados
PAÍS
SETORES ECONÔMICOS
*SERVIÇOS
Agropecuária
66,7%
30,8%
20,9%
Total
da Total
dos a)DistribuiIndustria
Serviços
ção
12,8%
20,5%
8,8%
27,5%
41,7%
16,7%
19,6%
59,5%
39,3%
b)Produção
Anos 40
1,1%
Anos 70
1,7%
Anos 90
1,2%
EUA
Anos 40
28,9%
32,9%
38,2%
18,7%
2,8%
Anos 70
4,6%
33,0%
62,4%
22,4%
8,2%
Anos 90
3,5%
24,7%
71,8%
20,6%
14,0%
Elaborado a partir de POCHMANN(2.001) apud Castells & Aoyama, 1994,IBGE.
*Nota : o setor serviços dividido em quatro principais classes
a) distribuição- refere-se a comunicação, transporte e comércio,
b)produção- diz respeito aos insumos e serviços para as industrias,
c) social- trata de atividades ligadas ao consumo coletivo, tais como educação, saúde ...
d) pessoal- atende ao consumo vinculado ao lazer, alimentos e embelezamento
c)Sociais
d)Pessoais
4,7%
14,2%
14,6%
5,9%
9,1%
5,6%
8,7%
22,0
25,5
8,2
10,0
11,7
Contudo, apesar da estrutura ocupacional brasileira ainda está centrada nas ocupações
consideradas por Pochmann como inferiores, mudanças estão ocorrendo e tornam-se perceptíveis.
Porém, a sociedade brasileira ainda apresenta inúmeras deficiências para enfrentar essa nova
realidade que começa a se desenhar no mundo todo e da qual não é possível se esquivar. Os
esforços até agora empreendidos parecem não está conseguindo superar o atraso acumulado e
colocar os trabalhadores aptos a enfrentar os desafios impostos pelos novos imperativos
tecnológicos e educacionais exigidos pelo chamada Era da Informação”.
4-As Novas Tendências da Educação
A educação tem sido considerada em todo o mundo como o fator essencial para alavancar os
diversos países a graus mais elevados de desenvolvimento, sobretudo no momento atual, quando o
rápido desenvolvimento tecnológico está centrado na capacidade das economias em processar,
aplicar e gerar informação a velocidades cada vez maiores. Isso exige dos recursos humanos maior
agilidade de pensar, agir e criar, para possibilitar o surgimento de inovações, a antecipação de
mudanças, o desenvolvimento de seres proativos e criativos no contexto de maior interdependência
da economia global.
A enorme defasagem educacional entre os países, sobretudo os desenvolvidos e os do
mundo em desenvolvimento e subdesenvolvidos, além da grande heterogeneidade dos indicadores
educacionais vigentes no interior dos países, gerando maior desigualdade entre e inter nações ,
fizeram da educação um baluarte para pospostas das instituições internacionais.
Nesse sentido vale destacar a Conferência Mundial sobre Educação para Todos realizada
em março de 1990, em Jomtien, Tailândia convocada por um amplo conjunto de instituições
internacionais, tais como: UNESCO, UNICEF, PNUD e Banco Mundial. Nessa ocasião foi
atribuída prioridade a educação fundamental, que passou a integrar a Declaração Mundial de
Educação para Todos Os países signatários desse documento, inclusive o Brasil comprometeram-se
com a elaboração do Plano Decenal de Educação para Todos-1993-2003( 1994: 12), o qual teve por
objetivo “assegurar, até o ano 2.003, a crianças, jovens e adultos, conteúdos mínimos de
aprendizagem que atendam a necessidades elementares da vida contemporânea” . Segundo o
referido documento , esse Plano se diferencia do Plano Nacional de Educação, conforme previsto
pela Constituição de 1988, o qual inclui todas os níveis e modalidades de ensino.
O Banco Mundial tem tido forte influência nas políticas educacionais. Essa instituição
constitui a principal agência de assessoria técnica aos países em desenvolvimento . No que se refere
a política educacional o pacote de reforma do Banco Mundial para os países em desenvolvimento é
segundo Torres(2.000: 131, apud BM, 1995) baseado nos seguintes aspectos:
1-A prioridade depositada sobre a educação básica,
2- A melhoria da qualidade( e da eficiência da educação como eixo da reforma educativa);
3-A prioridade sobre os aspectos financeiros e administrativos da reforma educativa;
4-Descentralização e instituições escolares autônomas e responsáveis por seus resultados;
5-A convocação para uma maior participação dos pais e da comunidade nos assuntos
escolares;
6-O impulso do setor privado e os organismos não-governamentais(ONGs) como
agentes ativos no terreno educativo tanto nas decisões como na implementação;
7- A mobilização e a alocação eficaz dos recursos adicionais para a educação de primeiro
grau;
8-Um enfoque setorial(eminentemente escolar);
9-A definição de políticas e prioridades baseadas na análise econômica.
A citada autora analisa essas propostas e ressalta algumas inconsistências entre elas frente a
uma visão mais ampliada do processo educacional, visto que essa entidade prioriza os
estabelecimentos escolares e as crianças descurando da educação de adultos, da educação nãoformal entre outras modalidades. A autora faz considerações acerca da forma utilizada pela
instituição para mensurar a qualidade do ensino , visto que dirige-se mais para o rendimento escolar
,ou seja a aprendizagem do conteúdo ministrado e a conclusão do ciclo de estudos descuidando dos
métodos e procedimentos adotados. Ressalta entre outros aspectos importantes a forte presença da
visão economicista da instituição com ênfase na relação custo-benifício e na taxa de retorno, sem a
devida consideração dos aspectos qualitativos e pedagógicos. Nas palavras da autora:
“A educação passa a ser analisada com critérios próprios de mercado e a escola é
comparada a uma empresa. O ensino resume-se a um conjunto de (inputs) que intervêm na caixa
preta da sala de aula- o professor sendo mais um insumo- e a aprendizagem é vista como o
resultado previsível da presença ( e eventual combinação)desses insumos. Cada insumo se
valoriza em separado e é priorizado ou não em virtude de duas questões: sua incidência sobre a
aprendizagem (segundo estudos empíricos que mostrariam tal incidência) e seu custo.
(Torres,2.000: 140).
Assim, a educação básica foi priorizada. Todavia, ainda é elevado o número de crianças fora
de sala de aula, bem como as taxas de reprovação, repetência e evasão escolar. Embora a taxas de
analfabetismo tenham sido reduzidas para 14,7% do total da população(PNAD, 1997), ainda é
elevado o número de adultos sem instrução ou com baixo nível de escolaridade, 32,4% do total da
população brasileira dispõe de 3 anos ou menos de estudo e 33,8 apresenta entre 4 a 7 anos de
estudo, ou seja mais de 66% da população de 15 anos ou mais está abaixo da média considerada
adequada , que é de no mínimo 8 anos ou mais de estudo.
Quadro I- População de 15 anos ou mais por sexo, segundo Anos de Estudo-Brasil-1996
Anos de Estudo
Total
N° Abs.
%
Total
106.623.851
100,0
Nenhum
14.018.960
13,1
Menos de 1 Ano
1.226.355
1,1
De 1 a 3 Anos
19.418.606
18,2
De 4 a 7 Anos
36.085.455
33,8
De 8 a 11 Anos
28.515.093
26,7
12 Anos ou Mais
7.359.382
6,9
Fonte: Haddad e Di Pierro (2.000) apud Fundação IBGE. Contagem da População, 1996.
A formação profissional tradicional no país é da responsabilidade de um conjunto de
instituições tais como as escolas técnicas, os colégios agrícolas, os centros de formação tecnológica,
o SENAI, SENAC e o SENAR, além de fundações, institutos entre outros (ALVES, 1997)
Nos anos 1990, esforços tem sido empreendidos no campo educacional pelas três esferas de
governo (União, Estados e Municípios) e pela criação de fontes de recursos específicos e
obrigatórios para serem investidos em educação , a exemplo do FUNDEF( Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério).
Vale ressaltar também a iniciativa do Governo Federal que implantou em 1996 o Plano
Nacional de Formação do Trabalhador- PLANFOR, sob a coordenação da Secretaria de Formação e
Desenvolvimento Profissional do Ministério do Trabalho (SEFOR-MTB). Segundo
Posthuma(1999:361) o Plano buscou:“alavancar o atual sistema de educação profissional no País,
visando: aumentar a capacidade institucional de treinamento; promover a empregabilidade da
população trabalhadora e conseguir um avanço conceitual na abordagem para a educação
profissional incentivar e diversificar o sistema de educação profissional no país.”
A meta do Plano é qualificar e requalificar a partir de 1999 20% da PEA do país por ano, ou
seja cerca de 15 milhões de trabalhadores. No período entre 1995-1998 o Planfor investiu mais de
R$1 bilhão e realizou a capacitação de 5,7 milhões de treinandos. O sistema de educação
profissional investiu nesse período R$ 9,5 bilhões de recursos próprios para a capacitação de 16,8
milhões de treinandos. (Posthuma,1999: 360).
Embora a referida autora considere que o Plano contribuiu para aumentar o leque dos
contemplados pela formação profissional no país, principalmente os excluídos dos cursos
profissionalizantes e os trabalhadores rurais. Todavia, o acompanhamento dos egressos do curso no
período 1996 e 1997 apontou falhas, tais como: elevado índice de pessoas ocupadas fazendo o
curso, grau elevado de escolaridade entre os cursandos, divulgação dos cursos por amigos e não
pelos órgãos oficiais, grande heterogeneidade de custo e de duração dos cursos do Planfor em 1997.
No que se refere ao ensino superior, essa modalidade de ensino teve um crescimento
considerável . O sistema de ensino superior brasileiro é formado atualmente por 973 instituições,
sendo 153 universidades e 727 estabelecimentos isolados, dos quais 595 de natureza privada e
muito heterogêneos no que se refere a qualidade do ensino ministrado. (Martins, 2000, apud
MEC/Inep/Seec).A elevada disputa pelas vagas e a institucionalização da concorrência, bem como
os dispositivos legais tais como a LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação que estabeleceu
autonomia para as universidades facilitando a criação, organização ou extinção de cursos e
programas de educação superior incentivou a proliferação de estabelecimentos de ensino
principalmente de caráter particular em todo o país devido a lógica empresarial que guia esses
estabelecimentos (Calderón,2.000). Todavia, a qualidade dos cursos ministrados por muitas das
instituições privadas de ensino superior é questionada, sobretudo após aplicação do Exame
Nacional de Cursos de 1996, que atribuiu conceitos baixos a grande parte desses estabelecimentos.
5- Considerações Finais
Como foi observado ao longo deste trabalho, as mudanças tecnológicas atingem carreiras,
cargos e funções. Novas ocupações foram criadas, enquanto antigas foram extintas, reduzidas ou
tendem a desaparecer. A utilização dos computadores e robôs provocou uma revolução na industria
e nos serviços, passando a requerer novas habilidades e qualificações, pressionando por maior
escolaridade mesmo em ramos profissionais antes pouco exigentes.
Pastore(1998) sublinhou que o mercado do futuro apresentará grandes contingentes de
trabalhadores autônomos com atuação nos ramos da administração, cuidados pessoais (crianças,
doentes e idosos) reparação e manutenção, educação, compras , vendas e corretagem. Observou
ainda uma tendência de crescimento das profissões que envolvem interação entre profissionais e
clientes e a diminuição das que não dependem de contato interpessoal. O citado pesquisador
estabelece distinções entre o mundo dos empregos e o mundo do trabalho. No mundo dos empregos
, postos de trabalho fixos, com carteira estão sendo reduzidos enquanto no mundo do trabalho, na
visão otimista desse pesquisador trabalhos parciais, temporários intermitentes estão sendo
ampliados. As fusões, privatizações, compra de empresas de ramos diferentes tem acentuado a
distinção entre esses dois mundos.
Todavia, há um problema estrutural que é preciso enfrentar, a baixa qualidade da educação
no país. A questão da qualidade pelo que foi observado atinge praticamente todos os níveis de
ensino, do fundamental ao superior, se perpetua e se agrava na medida em que as orientações
perseguidas tangenciam o problema ao invés de enfrentá-lo, desde as orientações de
instituições multilaterais, que partem de uma ótica quantitativa e economicista na definição das
políticas educacionais, até as instituições de ensino superior que embora tenham proliferado em
termos quantitativos referente ao número de estabelecimentos , cursos e alunos matriculados,
apresentam deficiências quanto a qualidade do ensino e o conteúdo programático dos cursos, muitas
vezes totalmente alijados das necessidades do atual mundo do trabalho, além de excluir, em geral, a
população carente , seja pela má qualidade da escola pública que não permite o acesso dessa
população ao curso superior das universidades públicas, seja pela impossibilidade de acesso devido
a falta de condições financeiras para arcar com as mensalidades cobradas pelas instituições
privadas.
Ademais, faz-se preciso compreender até que ponto há adequação entre os cursos
ministrados pelas instituições de ensino superior e as necessidades requeridas pelo mercado de
trabalho.
O atual contexto parece pouco promissor, sobretudo quando a “reengenharia” e o
“downsizing” se encarregam de enxugar as estruturas organizacionais exigindo mais dos que
ocupam os postos de trabalho existentes e a ideologia meritocrática põe no trabalhador a
responsabilidade pela sua integração ou exclusão do mercado de trabalho gerando medo e
apreensão. Enquanto isso a passividade vai se instaurando na sociedade e os destinos vão sendo
moldados sem que haja uma verdadeira mobilização social contra o desemprego, o subemprego e a
exclusão. Pelo contrário há uma maior tolerância segundo Dejours(1999) para com a Injustiça
social.
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