Razão e Idealismo Especulativo Dr. Ricardo Pereira Tassinari – Departamento de Filosofia - UNESP Última Atualização: 04/03/12 Neste texto, a partir da noção de Ideia (introduzida no texto didático Sobre um Possível Idealismo Absoluto), objetivamos introduzir a noção de Razão como Ideia consciente de si mesma. Vamos então fixar novos termos para destacar uma visão que considera ser a Ideia consciente de si mesma. Definição de Para-Si e Em-Si: Em relação a uma consciência, diremos que algo é para-si, se ele faz parte dessa consciência, e, dizemos que algo é em-si, se ele ainda não faz parte dessa consciência, mas tem a possibilidade vir a fazer. Assim, o processo de conhecimento de uma consciência é tornar para-si aquilo que é em-si, na Ideia. Definição de Autoconsciência: Vamos usar o termo autoconsciência para designar uma consciência enquanto ela tem a possibilidade de reconhecer que, em seu processo de conhecimento, torna para-si aquilo que é em-si na Ideia, ou seja, mais precisamente, enquanto essa consciência: (1) tem a possibilidade de reconhecer a Ideia como a própria Realidade (veja o Princípio do Idealismo Monista no texto didático “Sobre um Possível Idealismo Absoluto”); (2) tem a possibilidade de reconhecer-se como parte da Realidade enquanto Ideia, ou seja, reconhecer-se como parte imanente da Ideia; e (3) tem a possibilidade de reconhecer que em seu processo de expansão de si, a consciência realiza o próprio processo de autoexposição da Ideia (e torna para-si o que é em-si). Temos ainda que, nesse processo de tornar para-si o que é em-si na Ideia, cada autoconsciência tem a possibilidade de tornar para-si o conteúdo que já é para-si em outras autoconsciências. O Diagrama 1 abaixo representa então, esquematicamente, o que foi dito. A parte sombreada representa o em-si da Autoconsciência 3 e a parte clara representa o para-si da Autoconsciência 3. As setas indicam o sentido do processo pelo qual as autoconsciências tornam para-si o que é em-si. Diagrama 1: a Razão e as Autoconsciências. Essa concepção de autoconsciência estabelece então uma concepção possível (no sentido comentado no final do texto didático “Sobre um Possível Idealismo Absoluto”): a possibilidade de vermos a própria Totalidade, enquanto Ideia, como uma consciência suprema, a Autoconsciência (com inicial maiúscula para indicar um substantivo próprio), no qual todo o seu conteúdo é para-si. Assim, propomos as seguintes definições (novamente em homenagem a G.W.F. Hegel). Definição de Razão: Usaremos o termo Razão para designar a Ideia como Autoconsciência. Definição de Idealismo Especulativo: Chamaremos de Idealismo Especulativo ao idealismo absoluto (veja sua definição no texto didático “Sobre um Possível Idealismo Absoluto”) que considera que a Totalidade é a própria Razão, ou seja, que o Todo é a Ideia Autoconsciente. 1 Neste sentido, podemos considerar, então, a Razão como o espaço das autoconsciências, no qual está nossa consciência particular e os conhecimentos atuais, inclusive o conhecimento por construção de modelos presentes no conhecimento científico. Notemos que, em relação a expressão de nossos conhecimentos nos modelos da Psicologia, temos que nossos conhecimentos têm a possibilidade de serem representados, mas sempre de forma incompleta (cf., por exemplo, no Vocabulário de Psicologia Topológica e Vetorial, os termos Estrutura Cognitiva, Espaço Vital e Método da Aproximação). Retornando, então, à questão inicial do texto didático “Sobre um Possível Idealismo Absoluto”, sobre o que é a Realidade e como ela se comporta, temos que, segundo a visão aqui exposta: (1) o comportamento da Realidade depende do comportamento dos seres que a constitui; (2) dentre os seres que constituem a Realidade, existem seres capazes de a conhecer (inclusive você caro leitor); (3) o comportamento desses seres capazes de conhecer a Realidade depende do que é a Realidade para cada um deles; e 1 Novamente, o termo Idealismo Especulativo é usado em homenagem ao filósofo G.W.F. Hegel. Notemos, a título de comparação, que se pode considerar que a Realidade seja a Ideia, mas sem que a Ideia seja autoconsciente. Neste caso, não se assume este Princípio do Idealismo Especlativo. Um exemplo deste tipo de idealismo é o idealismo objetivo do filósofo Charles S. Peirce. (4) o que a Realidade é para cada um desses seres (inclusive para você caro leitor) é resultado do próprio processo de conhecer. E, além disso, que: (5) na Razão, existe a possibilidade de existir consciências e autoconsciências, isto é, consciências que se reconhecerem como sendo parte da Razão - sendo que, na Razão, como Ideia, está superada a dicotomia sujeito-objeto (confira o texto didático Idealismo Absoluto em Filosofia da Ciência); (6) a própria Razão se estabelece como o espaço natural dos sistemas de agentes autoconscientes; e (7) a Razão constitui o próprio princípio inteligível e inteligente do conhecimento e dos seres (confira o texto didático Idealismo Absoluto em Filosofia da Ciência). Essas são, em linhas gerais, as bases do idealismo absoluto monista e especulativo que queríamos expor aqui. A partir desta visão, podemos tratar de questões relativas a esfera das autoconsciências, como a filosofia, a lógica, a ética, a estética, a metafísica, etc. o que pretendemos fazer em trabalhos futuros. Em relação à filosofia de G.W.F. Hegel, considerando que os modelos, os sistemas formais e o Sistema das Ciências, fazem parte da Razão, podemos ainda conceber “a Ideia da Filosofia” como “Razão que se sabe” (confira a obra Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Compêndio, 1830, §577), na qual está contida todo o saber gerado pela Ciência Contemporânea (e também pelas análises filosóficas particulares), seja pelas ciências da Natureza, seja pelas ciências humanas, seja ainda pela Epistemologia Genética, que estuda a gênese das noções de base dessas ciências. Nesse sentido, mantemos ainda a intenção de Hegel (em Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Compêndio, §6) de se ter como “fim último e supremo” da Filosofia “a reconciliação da razão autoconsciente com a razão que é com a efetividade”.