21 C APÍTULO 3 D INÂMICA DA P ARTÍCULA : T RABALHO E E NERGIA Neste capítulo será analisada a lei de Newton numa de suas formas integrais, aplicada ao movimento de partículas. Define-se o conceito de trabalho e energia cinética e através da integração da lei de Newton ao longo da trajetória do movimento podemos relacionar as forças aplicadas num intervalo de tempo com a variação da velocidade. 3.1 T RABALHO R EALIZADO POR UMA FORÇA O conceito de trabalho como definido na Mecânica da partícula está relacionado à ação de forças aplicadas na direção do movimento. Numa forma diferencial, o trabalho U de uma força F é dado por dU (3.1) F dr A Figura 3.1 ilustra as grandezas envolvidas nesta definição. Logo dU F cos ds (3.2) Podemos observar que dU F cos ds 0 quando 0 dU F cos ds 0 quando dU F cos ds 0 quando 90 90 90 180 22 F ds dr r’ P r S Figura 3.1 - Elementos da definição de trabalho de uma força. Logo, a partir de (3.1) e (3.2), o trabalho U de uma força F durante o movimento que vai da posição r 1 até a posição r 2 é uma grandeza escala dada por U1 r2 2 r1 F dr s2 s1 (3.3) F cos ds Observe que o trabalho de uma força constante F C , ao longo de uma trajetória retilínea, é dado por U1 r2 2 r1 FC dr FC cos s2 s1 ds FC cos ( s2 (3.4) s1 ) FC s s s1 s2 Figura 3.2 - Trabalho de uma força constante. O trabalho da força peso W, sendo y a direção vertical, é dado por U1 ou seja r2 2 r1 F dr r2 r1 ( W j ) (dx i dy j dz k ) (3.5) 23 U1 y2 2 y1 Wdy W ( y1 (3.6) y2 ) W y y P r1 r2 W x z Figura 3.3 - Trabalho da força-peso W. O trabalho da força de uma mola linear aplicada a uma partícula P que se desloca ao longo do eixo x pode ser obtido a partir de: U1 x2 2 (3.7) Fm dr x1 O modelo linear de força de mola estabelece que sua intensidade é proporcional ao seu deslocamento x, quando x = 0 corresponde à posição de mola livre. Assim a força sobre uma mola de constante elástica k possui a forma kx. Aplicada sobre a partícula P esta força tem sinal contrário ao deslocamento x. Portanto, a força de mola sobre a partícula P é dada por Fm (3.8) kx Logo U1 3.2 x2 2 x1 k x dx 1 k ( x12 2 x22 ) (3.9) PRINCÍPIO DO T RABALHO E E NERGIA Considere agora a lei de Newton dada pela equação do movimento, aplicada a uma partícula P de massa m: 24 F (3.10) ma Vamos calcular o trabalho da força resultante, num movimento desta partícula entre duas posições r 1 e r 2 , com t 2 > t 1 : r2 F dr r1 r2 r1 (3.11) ma dr Nesta equação, como o processo de integração é linear, então: r2 r1 F dr r2 r1 (3.12) ma dr ou seja U1 r2 2 r1 (3.13) ma dr Aplicando a relação cinemática diferencial a dr U1 v2 2 v1 v dv em (3.13) obtemos mv dv (3.14) Realizando a integração do lado direito da igualdade (3.14) obtemos U1 v2 2 v1 mv dv 1 2 mv2 2 1 2 mv1 2 (3.15) Definindo a energia cinética de uma partícula de massa m como T 1 2 mv 2 (3.16) e aplicando em (3.15), obtemos o princípio do trabalho e energia para uma partícula P, da seguinte forma U1 2 T2 T1 (3.17) ou T1 U1 2 T2 (3.18) 25 3.3 PRINCÍPIO DO T RABALHO E E NERGIA : S ISTEMAS DE PARTÍCULAS Vamos estender o princípio do trabalho e energia para um sistema de partículas. Seja um sistema formado por n partículas, cada uma de massa m i . Aplicando (3.18) para a i-ésima partícula T1i U (1 (3.19) T2i 2)i Somando para todas a i partículas do sistema resulta: T1i U (1 2)i (3.20) T2i ou, de forma compacta (3.21) T1 U1 T1 1 mi v12i é a energia cinética do sistema no instante 1 2 T2 1 mi v22i é a energia cinética do sistema no instante 2 2 2 T2 onde U1 r2 i 2 r1i f i dri r2 i r1 i Fi dri é o trabalho do sistema. Para a definição do trabalho do sistema entre as posições iniciais e finais, foi usada a notação f para forças internas e F para forças externas ao sistema. Deve-se notar que em determinadas condições, o trabalho total das forças internas é nulo: isto ocorre quando todas as partículas têm igual deslocamento (translação) e as conexões entre elas são rígidas. Estas condições são satisfeitas, por exemplo, para o caso de corpos rígidos em translação. Observamos que a equação (3.21) é igual a (3.18), mas cada um de seus termos tem definição diferente, como visto nesta seção. 26 3.4 POTÊNCIA E E FICIÊNCIA A potência é definida com a taxa de variação do trabalho por unidade de tempo, ou seja dU dt P (3.22) Aplicando (3.1) em (3.22), resulta F dr dt P F v (3.23) Um conceito prático utilizado em engenharia é o da eficiência, às vezes denominado rendimento. Define-se, num sistema mecânico, a eficiência mecânica como o quociente entre a potência de saída e a potência de entrada. PS PE (3.24) A potência de entrada, em geral, é aquela fornecida pelos motores que acionam o sistema. Podem ter várias fontes de energia, sendo a energia elétrica muit o utilizada. A potência de saída é a responsável pelo trabalho que se deseja realizar com o sistema. Se o sistema for considerado ideal, este quociente é igual a 1, pois não há perda de energia. Entretanto, nos sistemas reais a eficiência é sempre menor que 1, pois sempre há perda de energia mecânica ao se realizar um trabalho. 3.5 FORÇAS C ONSERVATIVAS E E NERGIA POTENCIAL Chamamos forças conservativas aquelas cujo trabalho realizado entre duas posições não depende da trajetória do movimento. Para a aplicação neste curso vamos destacar duas forças conservativas: a força peso e a força de mola. Como visto anteriormente em (3.6), o trabalho da força peso é dado por U1 2 W ( y1 y2 ) W y (3.25) 27 Definimos a energia potencial gravitacional como Vg (3.26) Wy onde y é a posição vertical da partícula em relação a um plano referencial escolhido arbitrariamente como plano de potencial nulo. Neste caso, podemos calcular o trabalho realizado pela força peso, qualquer que seja a trajetória entre as posições 1 e 2, através de U1 2 V1 g V2 g (3.27) De forma semelhante, como visto em (3.9), o trabalho da força de mola é dado por U1 2 1 k ( x12 2 x22 ) (3.28) Definimos a energia potencial elástica como 1 2 kx 2 Ve (3.29) onde x é a deformação mola em relação à posição de força nula. Neste caso, podemos calcular o trabalho realizado pela força de mola, qualquer que seja a trajetória entre as posições 1 e 2, através de U1 2 V1e V2e (3.30) Podemos definir a energia potencial como V Vg Ve (3.31) Há outras forças conservativas, geradas por campos elétricos, energia química, etc. Entretanto para os estudos que faremos neste texto, a definição dada 28 em (3.31) é suficiente. Portanto o trabalho total realizado por forças conservativas pode ser calculado por U1 3.6 2 (3.32) V1 V2 PRINCÍPIO DO T RABALHO E E NERGIA : S ISTEMAS C ONSERVATIVOS O princípio do trabalho e energia, dado em (3.18), pode ser modificado quando todas as forças atuantes numa partícula são forças conservativas. Neste caso, combinando (3.18) e (3.32), obtemos T2 (3.33) T1 V1 T2 V2 (3.34) T1 V1 V2 ou Esta igualdade é conhecida como a conservação da energia mecânica. È uma forma particular do princípio do trabalho e energia para sistemas conservativos. Nestes casos a soma das energias cinética e potencial é constante ao longo do tempo, ou T V C d (T V ) dt ou 0 (3.35) onde C é uma constante. Observe-se que, para casos gerais onde há forças conservativas e forças não conservativas, o princípio geral dado por (3.18) pode ser escrito como T1 V1 U1 2 (3.36) T2 V2 nc onde U1 2 é a soma de todos os trabalhos das forças não conservativas. nc Para um sistema de partículas sujeito apenas à atuação de forças conservativas, uma extensão de (3.34) pode ser escrita como T1 V1 T2 V2 (3.37)