UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA Campus Dom Pedrito – Curso de Enologia BOTÂNICA E MORFOLOGIA DA VIDEIRA Morfologia e Fisiologia Vegetal Março 2017 Dr. Juan Saavedra del Aguila Professor Adjunto INTRODUÇÃO • Groelândia – período terciário. • Período quaternário - era glacial – refugio para 3 centros: – Americano –V. labrusca, V. vulpina, V. rupestris, etc.... – Asiatico ocidental –V. vinifera caucásica. – Europeu –V. vinifera silvestris. Classificação Divisão Magnoliophyta (ou Angiospermae) Classe Magnoliopsida Subclasse Rosidae Ordem Rhamnales Família Vitaceae São plantas com raiz, caule, folhas, flores, frutos e sementes. Filoxera (Daktulosphaira vitifoliae) • Pulgão de menos de 2 mm, munido de um bico com o qual suga a seiva das raízes e folhas da videira. ESCALA DE TOLERANCIA A FILOXERA • Para indicar a resistência a filoxera, é utilizada uma escala de índices, na qual são considerados imune a seção Muscadinia, com índice 20/20. • Na seção Euvitis, as espécies apresentam graus de resistência variável, que vão de 0 (nenhuma resistência, como Vitis vinifera) a 19/20 (muito resistente, como Vitis riparia e Vitis rupestris). Tabela 1. Resistência de espécies de Vitis à forma radicular da filoxera. Adaptado de Bravo & Oliveira, 1974. Muscadinia Vitis rotundifolia: - resistência 20/20 em relação a filoxera, - com difícil hibridação com espécies Euvitis devido a diferença cromossômica, - muito sensível ao frio. - Utilizada em cultivo comercial nos EUA; - Originária dos bosques úmidos do Sul dos Estados Unidos. Euvitis Vitis rupestris: - ótima resistência a filoxera (19/20); - resistente ao míldio, oídio; - tolerante a seca. - espécie fundamental para obtenção de porta enxertos. Euvitis Vitis berlandieri: - resistência 18/20 em relação a filoxera, - tolerante a seca; - raízes com grande poder de penetração no solo; - espécie fundamental obtenção porta enxertos; - 1103 Paulsen (Vitis berlandieri x V. rupestris) e SO4 (Vitis berlandieri x V. riparia). Euvitis Vitis riparia: - ótima tolerância à filoxera (19/20); - resitente ao míldio e oídio; - pouco tolerante a seca (ângulo geotrópico muito aberto); - dentre as americanas é a mais resistente ao frio; - é fundamental para obtenção de portas-enxerto; Euvitis Vitis labrusca: - pouco tolerante a filoxera (5/20); - pouco atacada pelo míldio, e resitente ao oídio; - utilizada em vinificação transmitindo sabor foxado ao mosto; - principais cultivares são Concord, Bordô e Isabel; Euvitis Vitis vinifera L.: - sensível à filoxera (0/20); - sensível ao frio; - sensível ao míldio e oídio; - tolerante a seca; - Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay, Itália. Videira Gavinha Feminela Cacho Esporão Ramo de 2 anos Lenho velho Broto Ramo de um ano Videira Raiz • Funções: absorção de água e nutrientes e fixação planta ao solo. • Também apresenta importante papel no armazenamento, visto que em seus tecidos depositam-se numerosas substâncias de reserva, principalmente o amido. Raiz • Propagação sexuada - raiz principal, pivotante, originaria da radícula do embrião. • Propagação assexuada - raízes adventícias. • Raízes aéreas - raízes se desenvolvem dos ramos desenvolvidos em ambientes sombrios, quentes e úmidos. Raiz • Ângulo geotrópico - Ângulo que a direção da raiz forma com a vertical. Variável função da cultivar a característica do solo – Qto < ângulo > resistência a seca. • Vitis riparia e Vitis cinerea – MAIOR ÂNGULO • Vitis vinifera, Vitis rupestris e Vitis berlandieri - < angulo – mais resistentes a deficiência de água. Caule • Sustentar a copa (folhas, flores e frutos) devido à presença de lignina (substância muito dura que dá resistência e flexibilidade aos troncos) nos vasos lenhosos; • Transportar a seiva bruta, devido a presença de vasos condutores denominados vasos lenhosos, que são muito finos e localizados próximo da região central do caule; Caule • Transporte de seiva elaborada, devido a presença de vasos liberianos, localizados próximo da casca; • Armazenar substâncias de reserva. • Quando jovens os caules são verdes e podem realizar fotossíntese. Caule • Encontram-se cepas da cultivar Isabel de 50-60 anos de idade, com 70-80 cm de circunferência, produzindo boa quantidade. • A haste formada mais recentemente apresenta a casca lisa. • No ano seguinte se destaca em forma de lâminas, sem cair totalmente, assumindo, assim, uma superfície rugosa, onde se abrigam muitos parasitas Caule • A cepa, a certa altura, se divide em grossos ramos ou braços, denominados cordões e varas compridas. • Dos braços se originam ramos, que se chamam brotos quando herbáceos e ramos ou sarmentos quando têm a idade de um ou mais anos. • As posições do ramo onde ocorrem as folhas são chamadas de nós, e as porções entre os nós, são denominados entrenós. Ramo Gemas Na videira distinguem cinco tipos de gemas: •Prontas. •Francas ou axilares. •Latentes. •Basilares, da coroa ou casqueiras. •Cegas. Gemas • Gemas prontas: formam-se na primavera-verão, cerca de 10 dias antes das gemas francas. Assim que formadas podem dar origem a uma brotação chamada feminela ou neto (ramo antecipado), que pode ser estéril, pouco fértil, segundo a cultivar. Localiza-se, também, na axila das folhas, ligeiramente descentralizada e abaixo da gema franca. Gemas • Gemas francas ou axilares: formam-se na base das gemas prontas, junto à inserção do pecíolo foliar e permanecem dormentes durante o ano de formação, mas sofrem uma série de transformações. • A formação do esboço dos cachos se completa somente na primavera seguinte. Essas gemas podem produzir de um a quatro cachos, e até cinco como por exemplo na Couderc 13. Gemas • Gemas latentes: São gemas não muito desenvolvidas, localizadas na madeira velha, que foram cobertas pela sucessiva formação de tecidos. Quando brotam, dão origem a ladrões estéreis, que surgem por ocasião de uma poda drástica, quando ocorrem danos por geadas tardias nas outras gemas e quando há problemas com a circulação da seiva. Gemas • Basilares, da coroa ou casqueiras: são um conjunto de gemas não bem diferenciadas que se formam na base do ramo, junto da inserção do broto do ano com a madeira do ano anterior. Somente brotam quando houver poda curta, mediante aplicação de regulador de crescimento ou se ocorrerem problemas com as gemas francas. Geralmente, são férteis nas cultivares americanas e inférteis nas europeias. Gemas • Gemas cegas: são as mais desenvolvidas das gemas basilares, sendo as primeiras gemas visíveis localizadas logo acima dessas. Geralmente elas são férteis nas americanas. Ramos Ladrões • Apresentam entrenós mais compridos • Produzem uvas na cultivar Isabel e em diversos híbridos ,também nas cultivares Barbera e Gamay • Gemas da base dos ramos são menos nutridas do que as que se encontram na sua parte mediana. • Brotação ocorre mais cedo quando a poda é realizada com maior antecedência. • As gemas resistem às temperaturas mais baixas do que -15°C. As figuras abaixo mostram o brotamento das folhas: Folhas • Inseridas sobre os nós em disposição dística – oposta ao cacho • No gênero Vitis a forma de folha predominante é a PALMEADA, na qual todas as nervuras principais surgem de um mesmo ponto. Existem 5 nervuras principais e estas servem os cinco lobos da folha. Folhas • Pecíolo diversos comprimento, cor, forma e o limbo de tamanho e forma diferentes – IDENTIFICAÇÃO ESPÉCIES – AMPELOGRAFIA • Estômatos – abaxial folha • Mudança na coloração das folhas antes da queda – coloração amareladas e avermelhadas. face inferior da lâmina não há pelos a folha se chama glabra quando possui poucos é pubescente quando têm muitos pêlos tomentosa As margens da lâmina foliar se apresentam denteadas, serreada, crenada (arredondados) e até mucronada (ponta aguda) Vitis labrusca (americana) Vitis vinífera (européia) Gavinhas órgãos filiformes homólogos aos cachos função de sustentação da planta. os cachos estão inseridos ao lado oposto à folha Gavinhas contínua após o cacho, existe sempre gavinha oposta à folha (Vitis labrusca) descontínua quando há dois nós com gavinhas e um sem (Vitis vinífera) intermitente quando não há regularidade entre ausência ou presença de gavinha oposta à folha (híbrido entre Vitis vinifera e Vitis labrusca). Em geral, a gavinha e bifurcada, porém no sub gênero Muscadinia a gavinha é simples. Flores • Reunidas em inflorescências, • Denominadas cachos compostos ou panículas, que se inserem no ramo por meio do pedúnculo, • Podem ser dividas em três tipos. Na videira existem três tipos fundamentais de flores - gineceu mais ou menos atrofiado 1 – flor masculina - estéril - estames muito longos - alto poder germinativo 2 – flor feminina - morfologicamente hermafrodita - pólen estéril - estame curto ou reflexo 3 – flor hermafrodita - ovário desenvolvido - estames longos e eretos Estrutura da Flor • Pedúnculo: eixo de sustentação; • Receptáculo: parte superior dilatada do pedúnculo; • Cálice: formado pelo conjunto de sépalas (proteção) e tem a função de proteger o botão floral (fase em que a flor ainda não se abriu); • Corola: formado pelo conjunto de pétalas, que podem apresentar várias cores, tem função de atrair os agentes polinizadores; Estrutura da Flor • Androceu: formado pelos estames, que constituem o sistema reprodutor masculino; • Gineceu: formado pelo pistilo, que constitui o sistema reprodutor feminino Corola Cálice Flores ● A grande maioria das videiras são poligamas (hermafroditas); com auto-fecundaçao ou fecundaçao autogamica; ● Entre as Americanas existem especies dioicas; ● Em geral nos vinhedos, realiza-se a fecundaçao cruzada ou heterogamica, favorecida pelos ventos, insetos, pequenas chuvas, e passagem leve da mao sobre o cacho. ● Quando possui so flores femininas, indispensavel o uso de cultivares polinizadoras, para que ocorra a fecundaçao. Fecundação ● E dificultada pela ausência de ventos, excesso de vigor da planta, atrofia do pistilo, chuvas em excesso; ● Temperatura ótima 20-22ºC; ● Na ausência da fecundação a flor seca, não originando a baga (desavinha); Flor Frutos bagas pedunculadas e reunidas em cachos cachos são de tamanho variável e se apresentam compactos ou soltos cachos podem ser simples ou alados forma classificados em cilíndricos, piramidais, cônicos, troncônicos e cilindrônicos bagas são de tamanho variável e podem ser classificadas como globosas ou esféricas, achatadas e discóides, elipsóides, ovóides, em seção, ou compridas. De acordo com o tamanho: → muito pequenos: inferiores a 6 cm; → pequenos: compreendidos entre 6,1 a 12 cm de comprimento; → medios: compreendidos entre 12,1 a 18 cm de comprimento; → grandes: compreendidos entre 18,1 a 24 cm de comprimento; → muito grandes: superiores a 24 cm de comprimento. Frutos → Cacho esta ligado ao ramo pelo pedúnculo; → ramificação do pedúnculo constitui o racimo ou engaço; → cacho varia de tamanho, forma e compacidade conforme cultivar e estado nutricional da planta; → Baga constituída pelo pedicelo, epicarpo, polpa ou mesocarpo e semente; → A baga tem película revestida de pruína; Frutos → O tamanho da baga depende: ● Cultivar; ● estado nutricional da planta; ● intensidade de raleio de bagas; ● tratamento ou não com AG3 (Acido Giberélico). Frutos → O desenvolvimento do fruto se da: ● em crescimento e tamanho, ● evolução características físicas (coloração e firmeza), e ● mudanças na sua composição química. → O fruto contem: ● Água, ● açucares (glicose, frutose e sacarose), ● ácidos orgânicos (tartárico, málico, ascórbico, cítrico e fosfórico) ● compostos nitrogenados, antocianinas, pectinas, ● vitaminas, sais minerais e substancias aromáticas Frutos → A medida que a uva amadurece, os teores de açucares aumentam e os de ácidos e taninos diminuem → O equilíbrio entre os teores de açucares e ácidos do suco da a sensação ao paladar da uva. Sementes Encontram-se, em geral, em número de 1 a 4 São periformes, com extremidade em forma de bico, ou globosas Sua casca ou epiderme é dura e rica em tanino O embrião é pequeno e rodeado por uma amêndoa ou endosperma, rica de substâncias oleosas Perdem seu poder germinativo em 2 anos MATURAÇÃO DAS UVAS A uva é uma fruta não climatérica, com baixa taxa respiratória, não evoluindo em maturação após a colheita; A colheita deve ser realizada no ponto ideal de maturação para o processamento que será destinada. A uva convenientemente monitorada ao longo da maturação será colhida no momento mais adequado à máxima expressão do seu potencial de qualidade em determinada safra ou região. UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS AGRADECIMENTOS Prof. Marcelo Barbosa Malgarim