BC0209–Fenômenos Eletromagnéticos Terceiro quadrimestre de 2013 Prof. José Kenichi Mizukoshi Aula 8 (versão 28/11/2013) Energia acumulada em um capacitor carregado ■ Considere um capacitor de capacitância C conectado a uma bateria com diferença de potencial ∆V . Para um dado instante de tempo t < tf , o capacitor está sendo carregado. Neste instante, a carga no capacitor é q ′ < q (q é a carga máxima que o capacitor pode armazenar) e a diferença de potencial é q′ ′ ∆V = C C q′ −q ′ ∆V Por outro lado, quando o capacitor estiver completamente carregado (para t > tf ), tem-se que q ∆V = C ■ Para t < tf , o trabalho realizado pela bateria para transferir uma carga dq ′ para o capacitor é dado por dWbateria = +dU = dq ′ ∆V ′ Aula 8 2 / 19 Energia eletrostática armazenada em um capacitor ■ A energia eletrostática total armazenada no capacitor é Z Z q Z q 1 q2 ′ ′ ′ ′ ∆V q dq ⇒ U= U = dU = |{z} dq = C 2C 0 0 ′ = q /C Como q = C∆V , (C∆V )2 U= 2C ■ Para um capacitor de placas paralelas, C = ε0 1 A U = ε0 (Ed)2 2 d Aula 8 ⇒ 1 U = C∆V 2 2 ⇒ A e ∆V = Ed. Logo, d 1 U = ε0 E 2 Ad 2 3 / 19 Energia eletrostática armazenada em um capacitor ■ Observe que Ad é o volume do espaço entre as placas do capacitor, ~ preenchido pelo campo elétrico E. energia Definindo u como sendo a densidade de energia, dada por u ≡ , volume temos que 1 u = ε0 E 2 2 ➠ A expressão acima foi deduzida para um capacitor de placas paralelas, mas o resultado é geral. Se existe um campo elétrico numa região do espaço, há uma energia acumulada por unidade de volume associada a ele, dada pela expressão acima. Aula 8 4 / 19 Capacitores com dielétricos ■ Em 1837, Faraday observou que um capacitor preenchido por um dielétrico armazenava mais carga elétrica do que um capacitor similar, preenchido a vácuo e sob a mesma diferença de potencial. ■ Vamos considerar uma situação similar ao experimento de Faraday, onde um capacitor com vácuo, de capacitância C, está ligado a uma bateria com diferença de potencial ∆V . Quando o capacitor estiver completamente carregado, possuirá carga q. Se inserirmos um material dielétrico entre as placas do capacitor, mantendo a bateria conectada, observa-se que a nova carga no capacitor será q ′ > q e a capacitância passa a ser C ′ . vácuo C +q ′ material dielétrico ∆V ∆V −q Aula 8 C +q ′ −q ′ 5 / 19 Capacitores com dielétricos ■ Como o capacitor mantém-se sempre ligado à bateria, q′ q = ′ ∆V = C C ⇒ ′ q C ′ = C = κe C q ➠ κe é a constante dielétrica do material. Listamos na tabela abaixo o valor da constante dielétrica para alguns materiais. Para o vácuo, tem-se que κe = 1. Material Ar (seco) Papel Vidro pirex Borracha de neopreno Silı́cio Água (20◦ C) Titanato de estrôncio Aula 8 constante dielétrica κe 1,00059 3,7 5,6 6,7 12 80,4 310 6 / 19 Capacitores com dielétricos ■ Vamos agora inserir o material dielétrico entre as placas do capacitor, desconectando-se a bateria. Inicialmente, o capacitor é carregado com carga completa q por meio de uma bateria com diferença de potencial ∆V . vácuo C C +q ∆V ∆V −q Ao se inserir o material dielétrico, a capacitância muda para C ′ = κe C, a carga no capacitor permanece constante e a diferença de potencial passa a ser ∆V ′ . Logo, ′ q = C∆V = |{z} C ∆V = κe C Aula 8 +q material dielétrico ′ −q ■ ′ ′ ⇒ ∆V ∆V = κe ′ 7 / 19 Capacitores com dielétricos ■ Como ∆V = V+ − V− = − Z + ~ · d~ℓ E − tem-se que κe ∆V ′ = − Z + − ~ · d~ℓ E ⇒ ∆V ′ = − Z ~ E ·d~ℓ κe | {z } + − ~′ ≡E ➠ Com a bateria desconectada, o campo elétrico diminui na presença do dielétrico. Veremos mais adiante porque isso ocorre. Aula 8 8 / 19 Capacitores com dielétricos – exemplos Ex. 1 Obtenha a capacitância do capacitor de placas paralelas preenchido com dois dielétricos, de constantes dielétricas κe,1 e κe,2 , conforme indicado na figura ao lado. Solução O capacitor acima pode ser pensado como um conjunto de dois capacitores, cada um preenchido com um tipo de dielétrico, ligado em série. ■ Aula 8 Temos que ∆V = ∆V1 + ∆V2 e q = C∆V q q q ⇒ + = q = C1 ∆V1 C C C2 1 q = C2 ∆V2 ∆V +q + ~ =0 +q E + + + + + + + x κe,1 d κe,2 − − − − − − − − −q área A ~ =0 E ~ =0 E + + + + + + + ∆V1 κe,1 −q − − − − − − − − +q + + + + + + + + x + ∆V2 κe,2 −q − − − − − − − − ~ =0 área A E d−x 9 / 19 Capacitores com dielétricos – exemplos Portanto, ■ 1 1 1 + = C C1 C2 Como se tratam de capacitores de placas paralelas preenchidas por materiais dielétricos, ε0 κe,1 A ε0 κe,2 A C1 = e C2 = x d−x Logo, C= C1 C2 = C1 + C2 ε0 κe,1 A ε0 κe,2 A x d−x ε0 κe,2 A ε0 κe,1 A + x d−x ∴ Aula 8 ε0 A C= d ⇒ ε0 Aκe,1 κe,2 x(d − x) C= 1 κe,1 (d−x)+κe,2 x x(d−x) κe,1 κe,2 κe,1 (d−x) d + κe,2 x d 10 / 19 Capacitores com dielétricos – exemplos Ex. 2 Um capacitor é construı́do a partir de duas placas quadradas de lados ℓ e separação d, com ℓ ≫ d. Um material de constante dielétrica κ é inserido a uma distância x no capacitor, como mostra a figura ao lado. Obtenha a capacitância do capacitor. Solução Neste caso, o capacitor com dielétrico +q1 é equivalente a um conjunto com dois capacitores ligados em paralelo, visto que a diferença ∆V de potencial entre as placas é igual em todos os pontos. −q1 ■ Temos que q1 = C1 ∆V ⇒ q1 + q2 = C1 ∆V + C2 ∆V q2 = C2 ∆V q = C∆V Aula 8 +q2 ℓ−x d −q2 11 / 19 Capacitores com dielétricos – exemplos Como q1 + q2 = q, segue que κε0 ℓx ε0 ℓ(ℓ − x) C = C1 + C2 = + d d ⇒ ε0 2 C = [ℓ + ℓx(κ − 1)] d Se a diferença de potencial entre as placas for ∆V , obtenha a energia armazenada no capacitor. Solução Como 1 U = C∆V 2 2 temos que 1 ε0 ∆V 2 2 U= [ℓ + ℓx(κ − 1)] 2 d Aula 8 12 / 19 Capacitores com dielétricos – exemplos Se o capacitor é mantido a uma diferença de potencial de ∆V , obtenha a força exercida sobre o dielétrico. Solução Do item anterior, vemos que a energia potencial eletrostática é função de ~ (Aula 5, pág. 22) temos que neste caso, x: U = U (x). Como F~ = −∇U dU ~ ı̂ F =− dx ⇒ 2 1 ε ∆V 0 F~ = − ℓ(κ − 1) ı̂ 2 d ➠ A força sobre o dielétrico é horizontal e para à esquerda. É necessário que um agente externo empurre o dielétrico até uma distância x, aumentando a energia potencial do capacitor com o dielétrico, em relação ao capacitor com vácuo. Aula 8 13 / 19 Dielétricos e a lei de Gauss ■ Nos materiais dielétricos não há elétrons livres, como no caso dos condutores. E apesar de neutros, as moléculas geralmente possuem momento de dipolo elétrico não nulo e estão distribuı́das aleatoriamente em todas as direções. ■ ~ 0 faz com que as moléculas se A presença de um campo elétrico externo E alinhem parcialmente a esse campo – elas passam a ser polarizadas; ■ As moléculas polarizadas produzem um excesso de cargas negativas e positivas (cargas induzidas) nas superfı́cies do material; ■ As cargas superficiais induzidas produzem um campo elétrico de polarização ~ ind , que é paralelo a E ~ 0 , mas em sentido contrário. (ou campo induzido), E ~ ind E ~0 E Aula 8 ~0 E 14 / 19 Dielétricos e a lei de Gauss ■ O campo elétrico resultante no material é dado por ~ =E ~0 + E ~ ind E ⇒ E = E0 − Eind (✻) ou seja, o campo elétrico resultante dentro do material dielétrico é menor do que o campo externo aplicado. ■ Para muitos materias, chamados de materiais lineares, o campo de polarização aumenta proporcionalmente ao campo externo. Usando a Eq. (✻), podemos escrever 1 E = E0 κe onde κe é a constante dielétrica do material. Aula 8 15 / 19 Dielétricos e a lei de Gauss ■ ■ Considere um capacitor de placas paralelas de área A, separadas por uma distância d. Se a carga no capacitor é q, as placas terão uma densidade superficial de carga, cujo módulo é σ = q/A. z ~0 = 0 +q E S + + + + + + + + ~0 E d − − − − − − − − −q área A ~0 = 0 E Desprezando-se os efeitos de borda, vimos que o campo externo ao capacitor é nulo e que no seu interior possui valor constante. Logo, pode-se utilizar a lei de Gauss para calcular esse campo: Z σA⊥ ~ ~ E0 · d A = ε0 S onde tomamos a superfı́cie gaussiana S como um cilindro de área transversal A⊥ . Segue que q E0 A⊥ = σA⊥ ⇒ E0 = ε0 A Aula 8 16 / 19 Dielétricos e a lei de Gauss ■ ■ Com a presença do dielétrico entre as placas do capacitor, haverá uma carga induzida q ′ na superfı́cie do material dielétrico. z ~ =0 +q E S + + + + + + + + ′ − − − − − − − − −q ~ A⊥ E d ′ +q + + + + + + + + − − − − − − − − −q área A ~ =0 E Aplicando a lei de Gauss para um cilindro de área transversal A⊥ : Z ′ )A ′ )A ′ (σ − σ (σ − σ q − q ⊥ ⊥ ~ · dA ~= E ⇒ EA⊥ = ⇒ E= ε0 ε0 ε0 A S 1 q 1 , Temos que, como E = E0 = κe κ e ε0 A q′ 1 q q− = κ e ε0 A ε0 A Aula 8 ⇒ 1 ′ q =q 1− κe 17 / 19 Dielétricos e a lei de Gauss ■ Temos também que q q−q = κe ′ ⇒ σ σ−σ = κe ′ Portanto, a lei de Gauss na presença do dielétrico fica Z ′ )A σA⊥ (σ − σ ⊥ ~ ~ = E · dA = ε0 κ e ε0 S onde σA⊥ é a carga livre q dentro da superfı́cie gaussiana S e ε0 κ e ≡ ε é a permissividade do material. ■ Aula 8 De uma forma geral, a lei de Gauss na presença de um material dielétrico é dada por I ~ · dA ~ = qlivre E ε S 18 / 19 Referências Aula 8 ■ R. A. Serway, e J. W. Jewett Jr., Princı́pios de Fı́sica, Vol. 3, Cengage Learning; ■ D. Halliday, R. Resnick e K. S. Krane, Fı́sica, Vol. 3, LTC; 19 / 19