Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem

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Trabalho 360
RELATO DE EXPERIÊNCIA: ORIENTAÇÃO E TREINAMENTO PARA O
AUTOCATETERISMO VESICAL INTERMITENTE LIMPO
SERRA, Raimunda Araújo1, SOUSA, Santana de Maria Alves de 2, SILVA, Andréa Cristina Oliveira 3,
ARAUJO, Adely Fátima Dutra Vieira4, FERNANDES, Darci Ramos5, COSTA, Silvana Mendes6.
INTRODUÇÃO: A primeira referência conhecida sobre invasão do trato urinário é da civilização egípicia
do ano 3000 a 1440 A.C. Os gregos, romanos e chineses usavam tubos de cobre e laca para dificuldades
na drenagem de urina. Nas ruínas de Pompéia, 79 D.C. foram encontrados vários modelos. Avicena, um
cientista do século X idealizou uma sonda de couro animal. No século XIII foram elaborados cateteres de
prata e seda trançada. Já no século XIX, os franceses idealizaram as sondas de Beniqué, Mercier, Nelaton,
Guyon e Malecot1,2. O controle da bexiga é um elemento essencial de autocuidado após uma lesão
medular e tem o duplo objetivo de preservação da função renal e continência social. Estratégias ineficazes
para controlar a bexiga no passado levaram a uma alta incidência de morbidade e mortalidade; por
exemplo, antes de 1973, a insuficiência renal era a principal causa de morte e continência 3. O cateterismo
intermitente é um método que permite o esvaziamento cíclico da bexiga, ou de um reservatório urinário
criado através de procedimento cirúrgico1,2. Trata-se da introdução de um cateter através da uretra ou de
um estoma continente. Idealizado inicialmente como forma de aliviar quadros obstrutivos e inflamatórios,
foi a partir grandes guerras, preconizado como de esvaziamento da bexiga em pacientes com lesão
medular traumática. Em 1972, Lapides e colaboradores trouxeram grande contribuição quando
introduziram o autocateterismo intermitente - técnica limpa, ressaltando que a manutenção da bexiga em
estado fisiológico normal e condições de defesa do hospedeiro eram suficientes para prevenir a
infecção1,2,4,5. Após quatro anos, através de outras pesquisas concluíram que o autocateterismo vesical
intermitente diminui a infecção urinária e em alguns casos promovem retorno da função vesical.
Enfatizam que a freqüência do cateterismo é mais importante do que a esterilidade dos materiais, pois o
cateterismo a intervalos longos poderá ocasionar a hiperdistensão da bexiga que causa isquemia do
detrusor resultando em cistite, pielonefrite e sepsis. E, que a maior parte das infecções do trato urinário
nos pacientes que realizam o cateterismo intermitente limpo é causada por anormalidades estruturais ou
Enfermeira do Serviço Neurocirurgia e Traumatoortopedia do HU/UFMA. Especialista em Enf. Clínico Cirúrgica,
Especialista em Traumatoortopedia.
2
Enfermeira, Doutora, Professora Adjunto I do Departamento de Enfermagem – UFMA.
3
Enfermeira, Mestre, Professora Assistente I do Departamento de Enfermagem – UFMA.
4
Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde, Especialista em Enf. Clínico Cirúrgica, Mestranda em Saúde e Ambiente.
E-mail: [email protected] .
5
Enfermeira Assistencial do HU/UFMA, Mestranda em Ciências da Saúde.
6
Enfermeira do Serviço Neurocirurgia e Traumatoortopedia do HU/UFMA, Especialista em Enf. Clínico Cirúrgica, Especialista
em Traumatoortopedia.
1
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funcionais do trato urogenital1,2,4,5. A técnica limpa do autocateterismo vesical intermitente é um recurso
seguro para os pacientes com disfunção vesicoesfincteriana, já comprovado por pesquisas nacionais e
internacionais. É um procedimento considerado de fácil execução, que mais se aproxima da função
vesical normal, reduz episódios de infecção urinária, melhora a auto-estima e preserva a função renal.
Outras vantagens:relação custo benefício, promoção de reeducação vesical,favorecendo a micção
espontânea e tornando-se livre das cateterizações4. Specht e Hunt ressaltam que a freqüência das
cateterizações deva ser ajustada de tal forma, que não ultrapasse o volume entre 300 e 400ml em cada
cateterização, pois acima desse valor pode causar hiperdistensão da bexiga levando ao refluxo
vesicoureteral1,3,4. O cateterismo vesical intermitente limpo constitui a melhor opção para os pacientes que
apresentam distúrbios do esvaziamento vesical nos quais o tratamento clínico ou cirúrgico não sejam
viáveis, podendo ser utilizado em qualquer idade, incluindo crianças e recém-nascidos. Com o passar dos
anos, o cateterismo vesical intermitente limpo foi reconhecido mundialmente como método adequado de
esvaziamento vesical e passou a ser considerado como um tratamento seguro, efetivo e conveniente para
pacientes com disfunção secundária à lesão medular5. O cateterismo intermitente é contra indicado
quando a uretra não pode ser cateterizada com segurança, quando falta ao paciente destreza manual e/ou
capacidade mental, em obesidade que dificulte o acesso à genitália e na impossibilidade de contar com
auxílio de outra pessoa nos casos em que o paciente não tenha capacidade para se autocateterizar 5,6,7.
OBJETIVO: Capacitar os pacientes portadores de lesão medular e/ou seu familiar para realização do
autocateterismo vesical. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo descritivo que relata a experiência do
enfermeiro do Serviço de Neurocirurgia e Traumatoortopedia do Hospital Universitário da Universidade
Federal do Maranhão (HUUFMA), na orientação dos pacientes com lesão medular para realizarem o
autocateterismo intermitente limpo com vistas a sua independência e autocuidado em relação a
eliminação vesical. É realizado avaliação e orientação do paciente e familiar sobre cateterismo vesical
intermitente, após admissão e identificação das indicações e contra indicações do cateterismo intermitente
uma vez que, todos os pacientes com trauma raquimedular são admitidos neste serviço utilizando sonda
vesical de demora, havendo indicação, é retirado a sonda vesical de demora, após quatro horas é iniciado
o cateterismo vesical intermitente sendo nesse primeiro momento encaminhado urina para cultura e
controle do débito urinário com a finalidade de estabelecer o intervalo do cateterismo para cada paciente.
Uma semana após a admissão é iniciado as instruções teóricas enfocando a importância do
autocateterismo intermitente, utilizando-se recurso visual para melhor compreensão do paciente e
familiar, com esclarecimento de dúvidas após a apresentação. Posteriormente a cirurgia, conforme
evolução de cada paciente e suas particularidades, é iniciado o treinamento da prática do autocateterismo
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vesical intermitente limpo. O paciente e/ou o familiar iniciam o cateterismo sob supervisão até o
enfermeiro constatar total segurança dos mesmos para realização do cateterismo no ambiente hospitalar e
no domicílio. Todos os materiais necessários para realização do procedimento são relacionados e
informados ao paciente e familiar. Em caso de urocultura positiva o enfermeiro realiza o cateterismo até o
término da antibioticoterapia. RESULTADOS: Segurança na realização e na técnica do autocateterismo
vesical intermitente limpo, compreensão dos benefícios do cateterismo intermitente, identificação de
sinais de infecção, melhora da autoestima, conhecimento do corpo, independência, redução de
complicações renais, esvaziamento completo da bexiga, eliminação de um corpo estranho (sonda vesical
de demora) e, reeducação da bexiga. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os portadores de lesão medular a
princípio relatam muitas dificuldades, medo e indisposição para realizarem o autocateterismo. Após
compreensão deste procedimento em seu processo de reabilitação, aceitam participar do treinamento
durante o período de internação, dando continuidade após alta hospitalar, comprovado sua habilidade ou
do familiar para desenvolver o procedimento. Atualmente, um fator negativo é a aquisição do material
para os pacientes de baixa renda, remetendo a uma necessidade de organização dos mesmos, para
exigirem dos serviços de saúde acesso a esses materiais, garantindo a manutenção da prática do
autocateterismo em seu domicílio. CONTRIBUIÇÕES/ IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM: O
enfermeiro tem papel importante no processo de reabilitação e adaptação dos pacientes pós trauma requimedular; a prática do autocateterismo vesical intermitente limpo favorece sua independência, retorno as
atividades e convívio social.
REFERÊNCIAS:
1. Pacheco GS. Cateterismo vesical intermitente limpo: proposta sistematizada para sua realização em
pacientes com lesão medular.São Luís,2002 55f. Monografia (Especialização em Enfermagem ClínicoCirúrgica). Universidade Federal do Maranhão.
2. Azevedo VM. Trabalho sobre o autocateterismo.Brasília:HALL/Sarah,1988.28p.
3. Bruschinni H. Bexiga neurogênica. In:Bendhack DA, Damião R. Guia prático de urologia.São
Paulo:B.G.Cultural,1999.p.273-278.
4. Moroóka M, Faro ACM. A técnica do autocateterismo vesical intermitente: descrição do procedimento
realizado pelos pacientes com lesão medular. Disponível em HTTP://www.ee.usp.br, 2008.
5. Azevedo R, Vasconcellos M. Fatores de risco para infecção do trato urinário em crianças e adolescentes
portadores de disfunção vesical que realizam o cateterismo vesical intermitente limpo.Disponível em:
http://www.enf.ufmg.br/mestrado/dissertações/RobertaVasconcellos. pdf, 2011.
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6. Trindade JCS, Trindade Filho JCS. Dilatações e moldagens uretrais. In: Pohl FF, Petroianu A. Tubos
sondas e drenos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.p.513-524.
7. Redman JF. Anatomia do trato urogenital. In: Hano PM, Wein AJ. Manual de urologia clínica. Rio de
Janeiro: Prentice-Hall do Brasil,1990 p.21-22.
Descritores em saúde: Traumatismos da Medula Espinhal. Autocateterismo vesical. Enfermagem.
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