Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto Curso de Graduação em Enfermagem Eliane Giancursi Gomes Revisão literária sobre Klebsiella pneumoniae produtora de Carbapenemase do tipo KPC São José do Rio Preto 2016 Eliane Giancursi Gomes Revisão literária sobre Klebsiella pneumoniae produtora de Carbapenemase do tipo KPC Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto para obtenção de grau de Enfermeira Orientadora: Profa. Drª. Mara Correa Lelles Nogueira São José do Rio Preto 2016 Gomes, Eliane Giancursi Revisão literária sobre Klebsiella pneumoniae produtora de Carbapenemase do Tipo KPC/Eliane Giancursi Gomes São José do Rio Preto, 2016 Monografia (TCC) – Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – FAMERP Orientadora: Profa Drª Mara Correa Lelles Nogueira 1. KPC; 2. Multirresistência; 3. Carbapenemase FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO – AUTARQUIA ESTADUAL CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – TCC DATA: 02/12/2016. ORIENTADOR: Professora Doutora Mara Correa Lelles Nogueira. 1º EXAMINADOR: Professora Doutora Ligia Marcia Contrin. 2º EXAMINADOR: Professora Mestre Lara Helk de Souza. Sumário Dedicatória .................................................................................................................................... 1 Agradecimentos ............................................................................................................................ 2 Lista de Figuras .............................................................................................................................. 4 Abreviaturas .................................................................................................................................. 5 Resumo ......................................................................................................................................... 6 Abstract ......................................................................................................................................... 8 Introdução ................................................................................................................................... 10 Objetivos ..................................................................................................................................... 15 Material e Métodos .................................................................................................................... 16 Resultados ................................................................................................................................... 17 Figura 1:................................................................................................................................... 17 Figura 2:................................................................................................................................... 19 Figura 3.................................................................................................................................... 20 Figura 4.................................................................................................................................... 21 Figura 5:................................................................................................................................... 22 Discussão ..................................................................................................................................... 23 Conclusão .................................................................................................................................... 27 Referências .................................................................................................................................. 28 Dedicatória A todos os profissionais que trabalham duro para prestar uma assistência à saúde de qualidade, com amor e sem medir esforços. 1 Agradecimentos À minha orientadora, Professora Drª Mara, por ter me acolhido, pelo suporte, pela orientação e, principalmente, pela paciência; Aos meus pais, Paulo e Adriana, pelo apoio, pelo carinho, pela compreensão, por sempre acreditarem em mim e por sempre serem meu porto seguro; Ao meu namorado, João Velani, pelo incentivo, pelo companheirismo, pelo apoio e por ser meu refúgio; À minha eterna amiga-irmã, Monize Alvarenga, por sempre ter uma palavra de conforto e por todos esses anos de amizade inabaláveis; Às minhas companheiras de curso, amigas e confidentes Gabriela Alves e Gabriela Pierobon por todos os dias que passamos juntas; Aos meus amigos, Flávio Borges e Mônica Máximo, pelos dias de descontração e de fuga da rotina; A CCIH do Hospital de Base de São José do Rio Preto por fornecerem os dados; Aos meus colegas de classe e todos os profissionais que contribuíram de forma direta ou indireta para a realização desse trabalho. 2 “Ame todas as coisas, porque em amar está a verdadeira força. Quem ama muito conquistará muito, e o que for feito com amor estará bem feito” Van Gogh 3 Lista de Figuras Figura 1: Sítios acometidos por infecção por K. pneumoniae produtora de KPC entre abril de 2011 e agosto de 2016 Figura 2: Distribuição temporal dos casos de infecção por K. pneumoniae produtoras de KPC. Figura 3: índice de infecção por K. pneumoniae dividido por setor no ano de 2014. Figura 4: índice de infecção por K. pneumoniae dividido por setor no ano de 2015. Figura 5: índice de infecção por K. pneumoniae dividido por setor até agosto de 2016. 4 Abreviaturas CCIH: Comissão de Controle de Infecção Hospitalar HB: Hospital de Base KPC: Klebsiella pneumoniae carbapenemase K. pneumoniae: Klebsiella pneumoniae 5 Revisão literária sobre Klebsiella pneumoniae produtora de Carbapenemase tipo KPC Resumo Introdução: Nos dias atuais, as infecções por Klebsiella pneumoniae produtoras de carbapenemase tipo KPC são um importante problema de saúde pública em todo o mundo. Apresentam resistência aos antibióticos betalactâmicos, e estão entre os principais patógenos resistentes a carbapenêmicos isolados de infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS). As infecções provocadas por estas bactérias são graves e atingem pacientes vulneráveis e variados sítios do organismo. Em muitos casos, ocorre co-resistência a outras classes de antibióticos, como aminoglicosídeos e quinolonas, o que dificulta o tratamento e leva a altas taxas de mortalidade. Objetivos: avaliar a literatura relacionada à K. pneumoniae produtora de Carbapenemase tipo KPC, às infecções no Brasil, analisar os índices de infecção no Hospital de Base (HB) de São José do Rio Preto entre os anos de 2011 e 2016 e identificar estratégias para diminuir os índices de infecção por este patógeno. Metodologia: foram realizadas revisão da literatura científica relacionada às infecções por K. pneumoniae produtora de carbapenemase KPC e consulta do prontuário eletrônico de pacientes do Hospital de Base de São José do Rio Preto acometidos por tais infecções, visando o levantamento de dados epidemiológicos. Resultados: de abril de 2011 a agosto de 2016 ocorreram 933 casos de infecção por K. pneumoniae produtora de carbapenemase do tipo KPC no Hospital de Base. O primeiro caso registrado 6 foi em abril de 2011 e nesse ano totalizaram-se onze casos e 46% de mortalidade. Em 2012 foram registrados três casos e 33% de mortalidade. Já em 2013 ocorreram 44 casos e 54,5% mortalidade. Em 2014 foram confirmados 193 casos com 50,7% de mortalidade. Em 2015 ocorreram 381 com 50% de mortalidade. Até agosto de 2016 foram registrados 299 casos com 42,4% de mortalidade. Os setores com os maiores índices de infecção foram as UTIs e admissão. O principal sítio acometido foi o trato urinário. Conclusão: observa-se que as infecções por K. pneumoniae produtora de KPC são graves devido a ampla resistência aos antimicrobianos, ao estado crítico dos pacientes acometidos e ao alto índice de mortalidade. Como há poucas opções de tratamento, a melhor estratégia é a prevenção. Para isso é necessário a conscientização dos profissionais quanto a gravidade dessas infecções e quanto a importância dos cuidados em relação à higienização de mãos e uso de EPIs no ambiente hospitalar. 7 Abstract Introduction: Nowadays, infections by Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC)-producing are an important matter of public health worldwide. It exhibits resistance to beta-lactam antibiotics and are among the main carbapenems resistant pathogens isolated from healthcare-associated infections (HAI). The infections caused by these bacteria are severe and reach vulnerable patients and various sites of the body. In many cases, co-resistance occurs to other classes of antibiotics such as aminoglycoside and quinolone antibiotics, which complicates treatment and leads to high mortality rates. Objectives: to evaluate the literature related to K. pneumoniae carbapenemase (KPC)-producing, and infections in Brazil; to analyze the rates of infection in the Hospital de Base (HB) of São José do Rio Preto between 2011 and 2016, and identify strategies to reduce infection rates by this pathogen. Methodology: review of the scientific literature related to infections by K. pneumoniae carbapenemase (KPC)-producing and consultation of electronic health record of patients from the Hospital of São José do Rio Preto with such infections were held, aiming the epidemiological data collection. Results: From April 2011 to August 2016 occurred 933 cases of infection with K. pneumoniae carbapenemase (KPC)-producing in the Hospital de Base. The first case was registered in April 2011 and, in that year, there was a total of 11 cases and a mortality taxa of 46%. In 2012 were registered three cases and 33% of mortality. In 2013, 44 cases occurred and 54.5% of mortality. In 2014 were confirmed 193 cases with 50.7% mortality. In 2015, 381 cases registered and 50% mortality. Until August 2016, 299 cases were recorded with 42.4% 8 mortality rate. The sectors with the highest rates of infection were the ICUs and admission. The main site affected was the urinary tract. Conclusion: It was observed that the infections by K. pneumoniae producing KPC are severe due to the broad antimicrobial resistance, to the critical condition of the patients and the high mortality rate. As there are few treatment options, the best strategy is prevention. This requires awareness of the professionals related to the severity of these infections and the importance of care in relation to the cleaning of hands and use of PPE in the hospital environment. 9 Introdução Com a introdução dos antimicrobianos como terapia foram relatados quase simultaneamente os primeiros casos de resistência bacteriana. Ressaltase que esses mecanismos foram desenvolvidos não apenas devido ao uso inadequado dos antibióticos na medicina humana, mas também em outros setores como a agricultura e agropecuária, que utilizam antibióticos em plantações e rações dos animais1. Klebsiella pneumoniae é um bacilo gram-negativo não esporulado, imóvel e anaeróbio facultativo, da família Enterobactericeae. O nome foi designado em homenagem ao microbiologista alemão Edwin Klebs, em 1885, por Trevisan. É facilmente encontrada na água, esgoto, solo e plantas bem como em mucosas da orofaringe e trato gastrointestinal de seres humanos e animais2. É um patógeno oportunista associado a infecções relacionadas à assistência a saúde (IRAS), sendo importantes agentes de infecção de corrente sanguínea, infecção associada ao uso de cateter, pneumonia associada a ventilação mecânica e infecção de trato urinário3,4,5. Há também registros de infecção por incisões cirúrgicas e em partes moles3. Sendo um micro-organismo adaptado ao ambiente hospitalar, deve-se destacar os grupos vulneráveis a infecção por esse patógeno, sendo eles os pacientes com história de uso prévio de antibióticos de amplo espectro e com longa permanência hospitalar6. Há também vulnerabilidade em pacientes 10 transplantados, com idade avançada4, em uso de cateter de acesso central, sonda vesical de demora, sonda nasogastrica/nasoentérica 6, comorbidades cardiovasculares e imunossupressão8. Também foram citados com o maior risco de infecção os pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva3,4,5,6. Sua virulência está associada à presença de cápsula polissacarídica, sistema de captação de ferro, adesinas fimbriais e lipopolissacarídeo 2. A cápsula constitui seu principal mecanismo de virulência, pois o protege de fagocitose e de fatores bactericidas presentes no soro, além de atuar na aderência ao epitélio, favorecendo assim a ocorrência de uma infecção 7. Nos dias atuais, um aspecto importante das infecções por K. pneumoniae é a resistência aos principais antibióticos usados para o tratamento de infecções nosocomiais, o que dificulta o tratamento e resulta em altos índices de morbidade e mortalidade7,8. Neste contexto, os carbapenêmicos representam uma importante alternativa, pois possuem amplo espectro de atividade e são bem tolerados pelos pacientes, sendo considerados a última linha de defesa contra infecções por linhagens multirresistentes1,9. Seu uso é restrito ao ambiente hospitalar, para o tratamento de infecções graves, e não deve ser usada como profilaxia cirurgica9. Porém, o uso intenso colaborou para o desenvolvimento de mecanismos de resistência, tornando as opções de tratamento ainda mais restritas5,6. 11 O principal mecanismo de resistência aos carbapenêmicos é a produção de carbapenemases do tipo KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase). Estas enzimas são beta-lactamases, que hidrolisam o anel beta-lactâmico impedindo que os antimicrobianos da classe dos beta-lactâmicos interajam com as proteínas ligadoras de penicilina da parede celular bacteriana 4,10,7,11. Estão entre as beta-lactamases mais versáteis, pois apresentam uma ampla atividade hidrolítica, conferindo resistência a quase todos os β-lactâmicos e aos inibidores de β-lactamases2,11,12,13. Hidrolizam cefalosporinas (cefalotina, cefazolina, cefoxitina, cefuroxima, cefotaxima, ceftazidima, ceftriaxona, cefepima) penicilinas (oxacilina, ampicilina, amoxicilina), monobactâmicos (aztreonam) e os carbapenêmicos9 (ertapenem, imipenem, meropenem)2. Os inibidores de beta-lactamases como ácido clavulânico, sulbactam e tazobactam não apresentam efeito inibitório sobre as carbapenemases2,10,13. As carbapenemases tipo KPC são codificadas por genes localizados em plasmídios4, o que permite sua transferência para outras bactérias através do processo denominado conjugação3. Além disso, as bactérias produtoras de KPC são frequentemente resistentes a várias outras classes de antibióticos, como aminoglicosídeos (amicacina, neomicina, gentamicina) e quinolonas (ciprofloxacina, levofloxacina, norfloxacina). Como consequência, o tratamento é restrito ao uso de polimixinas, tigeciclina e aminoglicosídeos associados ao imipenem. Esta realidade é preocupante, pois a limitação das opções terapêuticas resulta em alta mortalidade14. 12 O primeiro caso de infecção por K. pneumoniae produtora de carbapenemase do tipo KPC ocorreu em 1996 no estado da Carolina do Norte, Estados Unidos e, posteriormente, entre os anos de 2001 e 2002 foram registrados em Nova York2,15. Até o final de 2007 cerca de vinte estados dos Estados Unidos registraram casos de infecções por K. pneumoniae produtora de carbapenemase KPC16. O primeiro caso internacional foi registrado em Paris no ano de 2004, em um paciente previamente tratado em Nova York. Foi considerada, portanto, a transmissão intercontinental15. Em seguida foram registrados casos em outros países como Grécia, Israel e China16. Na América Latina, o primeiro caso foi registrado em Meddelin, Colombia, no ano de 2005. Nesse mesmo período mais dois casos foram registrados em pacientes sem história de viagem ao exterior15. No Brasil, o primeiro relato ocorreu em 2009, com a descrição de K. pneumoniae carreadoras de blaKPC-2 isoladas em Recife no ano de 200617. Desde então sua incidência tem aumentado significativamente 18 e encontramse amplamente disseminadas no país19. No Hospital de Base de São José do Rio Preto (HB), o primeiro caso de infecção por K. pneumoniae produtora de carbapenemase tipo KPC foi registrado em abril de 2011. Até o mês de agosto de 2016, foram confirmados 933 casos. Esta realidade é preocupante, pois o HB é um importante hospitalescola de nível terciário do Estado de São Paulo, com 727 leitos, que atende a uma população de dois milhões de habitantes dos 102 municípios pertencentes 13 à Divisão Regional de Saúde de São José do Rio Preto (DRS 15). Na instituição são realizadas cirurgias cardíacas, neurocirurgias, atendimento ao trauma e transplantes. Devido à complexidade da assistência médica prestada na instituição e à gravidade dos quadros clínicos dos pacientes atendidos, programas de prevenção e controle das infecções são de grande importância. Neste contexto, estudos visando o conhecimento do perfil epidemiológico das infecções por K. pneumoniae produtora de carbapenemase tipo KPC podem auxiliar no estabelecimento de protocolos de prevenção da disseminação deste patógeno no ambiente hospitalar. 14 Objetivos Avaliar os casos de infecção por Klebsiella pneumoniae produtora de Carbapenemase tipo KPC no Hospital de Base de São José do Rio Preto entre os anos de 2011 e 2016. Identificar estratégias para diminuir o índice de infecção por este patógeno. 15 Material e Métodos Os prontuários eletrônicos dos pacientes acometidos por infecção pela Klebsiella pneumoniae produtora de Carbapenemase tipo KPC no Hospital de Base de São José do Rio Preto entre os anos de 2011 e 2016 foram consultados. Informações relacionadas aos tipos de espécimes clínicos de origem da bactéria, setores de internação dos pacientes, período do ano de maior prevalência das infecções foram obtidas e organizadas em planilhas e gráficos. 16 Resultados A Figura 1 mostra a origem das K. pneumoniae produtoras de KPC isoladas no HB entre abril de 2011 e agosto de 2016. Estas bactérias foram isoladas de uma grande diversidade de espécimes clínicos, que correspondem aos sítios acometidos pela infecção. As infecções do trato urinário (32%) foram as mais comuns. Além disso, uma importante parcela das K. pneumoniae produtoras de KPC foram isoladas de swabs de vigilância (39%). 4% 3% 2% 5% 6% 39% 9% 32% Swab Urina AT Sangue P. de Cateter Outros Liquidos Pele/Osso/P.M Figura 1: Sítios acometidos por infecção por K. pneumoniae produtora de KPC entre abril de 2011 e agosto de 2016 (A.T.: aspirado traqueal, P.M: partes moles, Outros: bile, secreções e abcessos, Líquidos: ascítico, pleural, perfusão, cefalorraquidiano, LBA e sinovial) 17 A Figura 2 mostra a distribuição dos 933 casos, por mês e ano. Com relação ao ano de 2011, com total de 11 casos, os meses de maior incidência foram abril e julho, e o índice de mortalidade foi de 46% (6). Em 2012 foram confirmados 3 casos. Os meses em que foram registradas as infecções foram julho, agosto e dezembro. Desses casos, 1 (33%) evoluiu para óbito. Em 2013 foram registrados 44 casos. Os meses de maior incidência de infecções foram novembro e dezembro. O índice de mortalidade nesse ano foi de 54,5% (24). Em 2014 foram confirmados 193 casos. Os meses com maiores incidências de infecções foram setembro e novembro. O índice de mortalidade em 2014 foi de 50,7% (97). Em 2015 foram registrados 381 casos, sendo os meses com maiores índices de infecção julho, abril e dezembro. O índice de mortalidade foi de 50% (191). Em 2016 foram registrados 299 casos até o mês de agosto. A maior incidência de infecções foi nos meses de maio e março. O índice de mortalidade até o mês de agosto foi de 42,4% (127). 18 51 48 50 43 44 42 40 50 40 36 29 30 31 29 29 28 26 23 20 17 16 14 12 13 13 1091110 8 10 4 3 1 11 21 111 21122211 14 15 21 18 9 4 Apr-11 Jun-11 Aug-11 Oct-11 Dec-11 Feb-12 Apr-12 Jun-12 Aug-12 Oct-12 Dec-12 Feb-13 Apr-13 Jun-13 Aug-13 Oct-13 Dec-13 Feb-14 Apr-14 Jun-14 Aug-14 Oct-14 Dec-14 Feb-15 Apr-15 Jun-15 Aug-15 Oct-15 Dec-15 Feb-16 Apr-16 Jun-16 Aug-16 0 23 22 29 31 Figura 2: Distribuição temporal dos casos de infecção por K. pneumoniae produtoras de KPC. Os dados fornecidos pela Comissão de Controle de Infecção (CCIH) do HB permitiram estimar a incidência de infecções por K. pneumoniae produtoras de KPC em pacientes admitidos em diferentes setores do hospital, nos anos de 2014 a 2016 (Figuras 3, 4 e 5). 19 Índice de infecções por setores - 2014 31 16 11 10 6 5 2 1 16 9 8 3 1 3 1 1 1 1 2 Figura 3: índice de infecção por K. pneumoniae dividido por setor no ano de 2014 20 Índice de infecções por setores - 2015 75 57 55 32 25 13 4 22 20 19 3 12 12 13 2 5 2 3 4 1 Figura 4: índice de infecção por K. pneumoniae dividido por setor no ano de 2015 21 Índice de infecções por setores - 2016 78 36 31 22 15 2 11 37 22 13 6 6 6 3 7 3 1 Figura 5: índice de infecção por K. pneumoniae dividido por setor até agosto de 2016 22 Discussão Os dados coletados mostram que o número de casos de infecção por K. pneumoniae produtora de carbapenemase KPC na insitituição estudada aumentou de forma não gradativa. A primeira diferença significativa ocorreu entre os anos de 2012 - 2013 com 41 casos a mais. Já entre os anos de 2013 2014 e 2014 – 2015 as diferenças foram 149 e 188 casos a mais, respectivamente. Em relação a mortalidade, o ano de 2013 apresentou a maior porcentagem, com 54%. Dos anos de 2014 a 2016 os setores que apresentaram o maior número de infecções foram as UTI e admissão. Os pacientes de UTI são, na maioria, graves e críticos que necessitam de mais procedimentos invasivos (sonda nasogastrica/nasoentérica, sonda vesical de demora, cateter central, cateter periférico, gasometria, ventilação mecânica, traqueostomia, etc) e do uso de antimicrobianos. Portanto, a internação em UTI tem o risco de colonização e infecção por K. pneumoniae produtora de carbapenemase KPC aumentado20. Com relação à “admissão”, este termo refere-se ao grupo de pacientes transferidos de outras instituições. Nesses casos, a instituição adota protocolos que preconizam a realização de swab retal e inguinal para a vigilância, visando identificar pacientes colonizados. Os pacientes permanecem em a utilização de precaução de contato até o resultado desses exames (CCIH/HB, comunicação pessoal). A forma de disseminação da K. pneumoniae produtora de KPC não difere dos outros microorganismos. A transmissão ocorre no ambiente hospitalar e 23 ocorre por contato com secreções do paciente infectado ou colonizado. Os veículos dessa transmissão, na maioria das vezes, são as mãos dos profissionais de saúde e os instrumentos de trabalho usados em vários pacientes, como estetoscópio, esfigmomanômetro e termômetro11,21. Sendo assim, a vigilância dos pacientes admitidos consiste em importante medida de prevenção. Oliveira et all destacam em seu estudo que o jaleco e uniformes dos profissionais de saúde também são importantes veículos de disseminação desses microorganismos hospitalares. As regiões dos bolsos, punho e cintura foram avaliados como os principais locais de contaminação. Também é vetor importante na transmissão para a comunidade devido ao uso errôneo de jalecos fora do ambiente hospitalar e nas proximidades de instituições de saúde21. Em um estudo feito por Tanaka e colaboradores destacam-se as formigas como importante veículos de disseminação de bactérias no ambiente hospitalar. Nesse estudo foram coletadas 80 formigas dos setores do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Marília (com exceção do Centro Cirúrgico e UTI onde não foram encontradas) e do Hemocentro de Marília. Dessas amostras todas estavam colonizadas por espécies bacterianas e 60% foram identificadas como K. pneumoniae13. As ações de biossegurança em hospitais são fundamentais para a melhoria da qualidade da assistência prestada, para prevenção de surtos e para a segurança da saúde dos profissionais, pacientes e visitantes. Entre as 24 ações mais frequentes estão a introdução de equipamentos de proteção individual (EPI) na assistência aos pacientes (independente do diagnóstico ou suspeita de infecção), medidas de isolamento (precauções padrão e precauções por rota de transmissão (aérea, gotícula e contato)) e medidas de contenção biológica de microorganismos nas superfícies e artigos hospitalares pelos processos de limpeza, desinfecção e esterilização22. Em relação ao vestuário, o uso restrito de jalecos e aventais somente em áreas privativas de assistência ao paciente é um importante fator para a menor contaminação em relação ao vestuário utilizados em áreas não privativas à assistência como refeitório, biblioteca e outros locais extra hospitalares21. Portanto o uso indevido deve ser monitorado e advertido. É importante destacar que a contaminação da roupa pode variar de acordo com a unidade de internação sendo maior naquelas que atendem pacientes em condições críticas, como as UTIs. Nesse setor há maior possibilidade de contato direto do profissional com os pacientes e também a elevada quantidade de equipamentos, o que contribui para promover maior contaminação ambiental21. Deve-se preconizar o uso de EPIs completos (luva, máscara, óculos, avental descartável) durante a assistência com maior risco a exposição de secreções. Outro aspecto a ser considerado prioritário é higienização de mãos antes e depois do cuidado ao paciente21,22,23. É um processo simples, porém é a melhor ferramenta na prevenção das IRAS pois, quando feito corretamente, elimina os microorganismos das mães evitando sua disseminação no ambiente 25 hospitalar23. A sensibilização dos colaboradores em relação a importância desse ato na prevenção e na redução de infecções é indispensável. A realização da prática deve ser incentivada antes e depois de iniciar o turno e antes e depois da assistência ao paciente independente da complexidade 24. 26 Conclusão No período estudado, o número de casos por ano de IRAS por K. pneumoniae produtora de carbapenemase tipo KPC no HB aumentou significativamente. As UTIs são os setores com os maiores índices de infecção e mortalidade e o trato urinário é o principal sítio acometido. Pacientes admitidos colonizados podem atuar como fonte para a transmissão do patógeno para outros pacientes. A prevenção é a melhor estratégia para o controle destas infecções, já que o tratamento é dificultado pela ampla resistência aos antimicrobianos apresentada por estas bactérias. Assim sendo, o estabelecimento de medidas para impedir a contaminação cruzada entre pacientes e profissionais é indispensável para a redução do número de casos e para o cuidado seguro ao paciente. As práticas e comportamentos inseguros que coloquem em risco a saúde e a vida dos pacientes e profissionais devem ser enfatizadas e relembradas quando possível pois o comportamento favorável dos profissionais de saúde para a realização de medidas de controle de disseminação de microorganismos é imprescindível. A conscientização da gravidade de infecções por K. pneumoniae produtora de carbapenemase KPC é um fator essencial para traçar estratégias de prevenção e de adesão dos profissionais. Como mostrado, pacientes graves em UTIs estão sujeitos a estas infecções. Os profissionais responsáveis pelo 27 cuidado com tais pacientes devem ser capacitados para a realização de práticas seguras e conscientizados de sua importância. Referências 1 – Queiroz GM, et al. Multirresistência microbiana e opções terapêuticas disponíveis. [Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas] Rev Bras Clin Med; São Paulo; 2012 2 – Tolentino FM. 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