A secularização da Igreja

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A secularização da
Igreja
A secularização é o processo pelo qual uma sociedade se torna cada vez mais distante
das suas raízes Cristãs.
Embora a teoria sociológica formal seja mais complicada que isso, a essência da
secularização é o facto de que essa cultura já não depende de símbolos, da moral, de
princípios ou práticas Cristãs. Enquanto que a maior parte do mundo é decididamente
não secular, uma grande parte da Europa é permissivamente secular – incluindo a GrãBretanha.
Ainda assim, a secularização da sociedade é uma coisa, mas a secularização da Igreja é
outra. No entanto, pelo menos um importante líder da Igreja Anglicana assume agora o
que só pode ser descrito como uma visão laica da igreja.
Escrevendo para uma nova publicação do Instituto de Pesquisa de Política Pública em
Londres, o Dr. John Sentamu, Arcebispo de Iorque, apela à Igreja de Inglaterra para
representar as pessoas de todas as religiões, e também as que não têm qualquer fé.
Escrevendo em Fé na Nação: Religião, Identidade, e a Esfera Pública na Grã-Bretanha
de Hoje, o arcebispo afirma que a Igreja Anglicana merece o seu lugar como a igreja
estabelecida da Grã-Bretanha porque ela agora serve como um "serviço público" em
prol do bem comum.
Como o The Times [Londres] reportou a história:
A Igreja Anglicana deveria estar aberta para uso das pessoas de qualquer religião ou
de nenhuma, tal como um hospital, diz o Dr. John Sentamu, Arcebispo de Iorque.
Há fortes razões para considerar a Igreja como um organismo público que não existe
simplesmente para servir os crentes, ele argumenta. Quer a maioria das pessoas
frequente regularmente a igreja ou não, é irrelevante.
Esta é uma visão estranha e patética da igreja. Não sendo mais a assembleia dos
crentes, a igreja está agora definida como um mero serviço público. E o que é que faz
este serviço público? Existe – argumenta ele – com a finalidade de prestar serviços, tais
como educação, funerais, e no contexto de importantes eventos nacionais – por
exemplo, como ele sugere, o funeral da Princesa Diana.
No seu capítulo do livro, o Arcebispo Sentamu argumenta que a Igreja Anglicana serve
como serviço público que oferece serviços "consoante as necessidade das populações
que requererão os seus serviços mais cedo ou mais tarde." Citando a pesquisadora Grace
Davie, uma especialista em religião da Grã-Bretanha, o Arcebispo Sentamu explica que
"o facto destas populações não verem necessidade de frequentar estas igrejas não
significa que elas não as apreciem."
Isto só pode ser uma dos conceitos mais estranhos e biblicamente desajustados da Igreja
a alguma vez ter sido ser publicado. Ou seja: a igreja agora está mais ou menos ao
serviço de uma população que não a frequenta mas que, no entanto, assume que aprecia
a existência desta mesma igreja. Confuso?
Bem, o Arcebispo passa a citar Grace Davie novamente ao propor a ideia de "religião
vicária". Conforme ela explica, "religião vicária" é "a noção de religião praticada por
uma minoria activa – mas em nome de um número muito maior que (pelo menos
implicitamente), não só compreende, como também aprova muito claramente aquilo que
a minoria faz."
Por último, o Arcebispo afirma que a Igreja presta "capital fiel" à sociedade em geral,
construindo uma coesão social, de comunidade e de relacionamentos. Claro que, como
ele reconhece, tudo isto é suposto funcionar sem grande (ou nenhuma) ênfase em
crenças ou ensinamentos Cristãos propriamente ditos. De facto, ele supõe que a maioria
das pessoas nunca irá sequer frequentar a igreja de qualquer das formas. Mas, como é
evidente, o Arcebispo já não considera isso um grande problema.
Este é o resultado final da teologia liberal: uma igreja metodicamente secularizada. Este
Arcebispo celebra o multiculturalismo e a diversidade religiosa. Não se encontra
nenhum conceito urgente de evangelismo na sua exposição, pois ele parece considerar
que tal esforço não é necessário.
O Arcebispo Sentamu elimina efectivamente a fronteira entre crença e descrença,
sugerindo que a igreja pertence de igual forma aos crentes e não crentes. A mensagem
salvífica do Evangelho – a mensagem de redenção do pecado através da fé no Senhor
Jesus Cristo – é substituída por uma função social. O Corpo de Cristo é transformado
numa utilidade pública.
Em Mateus 16, Jesus afirma que a Sua igreja é construída sobre a confissão de que Ele é
"o Cristo, o Filho do Deus vivo." Mas na igreja da teologia liberal, qualquer crença (ou
até crença nenhuma) é suficiente. Além disso, ninguém precisa de vir realmente. Seja
como for, também não está nada de eternamente significante em jogo. Uma clara
proclamação do Evangelho e a pregação arrojada do Verbo de Deus podem estar em
falta, mas a arquitectura é grande e a música gloriosa.
Claro, o Arcebispo Sentamu está a tentar lutar pela existência continuada da Igreja de
Inglaterra como uma igreja de estado estabelecida. O seu argumento representa o que
acontece quando os interesses do estado são tudo o que resta. Mas os Cristãos nos
Estados Unidos da América ((e Portugal) – que felizmente não tem igreja de estado –
não são imunes à mesma tentação de reduzir o significado e a missão da Igreja a capital
social e entidade de serviço público.
Isto é, em última instância, onde nos leva a teologia liberal, e onde a igreja encontra o
seu fim. As portas do inferno facilmente prevalecerão sobre qualquer coisa reduzida ao
estatuto de "utilidade pública".
R. Albert Mohler, Jr.
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