Por: Tainá da Silva Pontes. 8 de agosto de 2015 Meu primeiro dia como vivente pelo VER-SUS começou cedo. Desde 6:15h já estava indo em direção ao porto de Manaus. Com a longa viagem rumo à Parintins, pude conhecer quem eram os outros viventes que seriam meus companheiros nessa jornada. Almerinda, Lizandra, Naiana, Ana Beatriz, Jaime, Daniel, Andreza, e eu, todos com a mesma expectativa de que deveríamos fazer daquela viagem uma lembrança de grandes experiências. O dia inteiro no barco me proporcionou muitas reflexões sobre o que estaria me aguardando naquela cidade, se as pessoas seriam receptivas, se elas colaborariam com a nossa pesquisa, se conseguiríamos cumprir tudo o que planejamos. E assim aconteceu, chegando as 4:30h no porto de Parintins, a cidade já mostrava sua beleza cultural, pegamos dois táxis que nos levaram até o hotel. 9 de agosto Dia do descanso Esse foi o dia que todos queriam apenas uma coisa: dormir e recarregar todas as energias possíveis para a semana. Porém, ainda aproveitamos para passear por algumas praças e conhecer a igreja Nossa Senhora do Carmo, que eu achei muito bonita. 10 de agosto. 1º dia de ver o SUS Acordamos às 6:30h. 8h fomos à SEMSA conversar com a enfermeira Bethânia que iria confirmar o nosso cronograma da semana. Após a conversa e apresentações, seguimos para o Centro de Saúde Dr. Toda, onde conhecemos uma enfermeira que nos mostrou todos os programas que ali tem, como planejamento familiar, programa do idoso, de prevenção, etc. Achei meio estranho por ser segunda-feira e na hora em que chegamos lá não havia muitas pessoas. Vi poucos remédios, mas a farmácia principal fica no mesmo local da SEMSA. Almoçamos, e fomos a UBS Darlinda Ribeiro, onde conhecemos uma enfermeira que nos mostrou os mesmos projetos que no Toda são feitos, mas no meu ver são feitos com mais atenção. Além do que as enfermeiras relataram que sempre fazem mutirão levando atendimento em locais mais distantes. Elas disseram que fazem tudo o que podem pra ajudar quem vai até lá, ainda falaram que até mesmo aqueles que deveriam ser atendidos no Dr. Toda são atendidos ali sem nenhuma exclusão, porém a demanda aumenta, o que acaba gerando uma interferência na boa qualidade do serviço. Fomos ao Centro Dom Arcângelo Cerqua, que fica atrás do bumbódromo. Ali, o diretor nos explicou como ele consegue lidar com a grande quantidade de pessoas que procuram atendimento(é comum atenderem muitas pessoas de outros municípios vizinhos e do Pará) além de mostrar os problemas de engenharia local que eles tem - o corredor que da acesso às salas cabe mal as cadeiras de espera, que quando alguém na cadeira de rodas precisa passar deve esperar desocuparem a passagem. Ele também comentou sobre a crise que o país enfrenta, e disse que mesmo que sejam afetados ele tenta manter tudo organizar, cortando alguns custos. 11 de agosto de 2015 Dia 2 Fomos até o CAPS II as 8h, onde conhecemos o enfermeiro Sarturnino(que trabalha ali há 9 anos) , a diretora, e a professora de educação física, que nos mostrou como acontece o trabalho com os pacientes do CAPS, que visam capacitar o paciente para que ele se restabeleça aos poucos e consigo se inserir na sociedade. Eles não se preocupam com o desvio de função - a professora de educação física também acompanha os pacientes em tarefas com artes, como pintura, costura, etc. Para os usuários, a dança é essencial, é algo que não pode faltar. Além do mais, alguns colegas dançaram carimbó e vou junto com eles. O sr. Frank foi o que mais se mostrou destemido e mostrou seus passos de dança para nós do Ver-SUS. Enquanto alguns dançavam, eu conversava com a Patrícia Evangelista, que me contou que já está há 10 anos no CAPS, ela é muito boa com as palavras então faz muitos poemas, os quais alguns já foram para dois livros. Patricia ainda se propôs a escrever um poema sobre nós do Ver-SUS, que entregaria na será-feira. Saímos de lá com o coração na mão por ter visto o quanto a ajuda àquelas pessoas é necessária e ver como eles amam aquele lugar. Logo após a visita ao CAPS II, conhecemos o hospital Jofre Cohen com uma enfermeira, e pudemos ver que lá tem uma boa organização. A diretora comentou que o hospital tem uma "parceria" com o Hospital Pe. Colombo, que da um suporte em questões de exame de Raio-X. No Hospital Pe. Colombo (filantrópico, a diocese que fundou) percebemos a grande vontade de fazer o melhor para a população, a enfermeira deu uma ótima explicação sobre o funcionamento, o que nos fez pensar que ela estava envolvida em todos os pontos do hospital. Os recursos são poucos, mas o pouco que eles recebem conseguem fazer muito. Alguns funcionários da área de assistência social fizeram cursos de enfermagem e conseguem conciliar os dois no hospital, o que facilita muito o atendimento. A diretora falou sobre as ambulâncias que são duas e que as duas revezam em suas ações, enquanto uma está na oficina a outra está sendo usada. O padre local montou um sistema no excel para que os funcionários, como enfermeiros possam tirar folga toda semana sem comprometer o atendimento. Nesse caso, pudemos perceber o interesse do Pe. em ter um atendimento de qualidade, visando a saúde de seus funcionários. 12 de agosto de 2015 Dia de bater o recorde dos km Hoje foi o dia em que a minha colega de quarto, Lizandra, passou mal e foi ao hospital com o facilitador. O restante do grupo seguiu para o DSEI/PIN, onde uma enfermeira nos mostrou a estrutura local e mostrou que ali é a parte administrativa do CASAI e das ações em áreas indígenas que são feitas. A enfermeira falou sobre as grávidas indígenas que preferem ter seus filhos em aldeia, porém muitas são trazidas à cidade semanas antes do parto. Ela falou sobre o isolamento dos agentes de saúde que ficam nos polos durante 20 dias fazendo o atendimento. Fomos apresentados aos administradores, os quais foram sinceros em dizer que tudo o que for feito para a saúde das pessoas deve ser feito com compaixão, ser bons médicos, dentistas, odontologos, enfim, para tentarmos dar todo o nosso melhor. Em seguida, fomos ao CASAI. É uma casa de apoio aos indígenas e seus acompanhantes que vem de suas aldeias e precisam de um atendimento médico. O CASAI que o insere na rede hospitalar, o encaminhando para onde deve ir. O CASAI disponibiliza estadia aos índios Saterêmaué e Skariana. Fomos almoçar, e seguimos para ao Centro do Idoso, o qual é muito distante e andamos mais de meia hora para chegarmos até lá. Chegamos 13:30 é a responsável pelo local não estava e tivemos que esperar. Esse centro fica adjacente a um centro de saúde. Os idosos que para lá vão, chegam muito antes dela e geralmente aguardam jogando baralho ou dominó. Quando a responsável chegou nos mostrou o ambiente, que é composto principalmente de um grande auditório e um ambiente externo, o qual é usado como salão para dança nas sexta -feiras. De 15 em 15 dias os idosos passam por uma triagem diversos postos da cidade, mas principalmente para o Bumbodromo. 13 de agosto Dia de devolutiva e PSE Fomos até o clube do Caprichoso, onde aconteceu nossa devolutiva. A devolutiva era referente nossa relação com o pessoal do CAPS, que foram muito receptivos conosco. Chegando lá, a maioria deles estava na piscina, e outros jogando bola. A colega Andreza decidiu que ia entrar na piscina com o pessoal, eu, Liz, e Nayana fomos jogar bola, enquanto isso Almerinda, Jaime e Daniel recortavam TNT para usarmos em outro momento. Enquanto o coordenador e outras pessoas assavam o churrasco, a professora de educação física começou uma aula de hidroginástica, e Andreza também participou. Foi muito animado, era um dia quente e todos estavam alegres. Antes do almoço, eles saíram da piscina, e nós dançamos em uma roda. O sr. Frank como sempre muito animado, ensinou alguns passos de boi, inclusive eu tentei acompanhar os passos, não tive muito sucesso, mas não deixei de dançar. Depois do almoço, fomos até a SEMSA para conversarmos com a coordenadora do PSE (Programa de saúde na escola). Esse programa leva palestras sobre vários temas relacionados à saúde em algumas escola de Parintins, deu-se início em 2013 mas já tiveram um grande avanço. Ela disse que pretende atingir um número maior de escolas, mas que ainda é preciso tempo e mais elaboração de projeto, para que não fique desorganizado e mal-feito. Achei muito interessante o projeto pelo fato de favorecer a algumas crianças o que talvez elas não tenham em casa, desse jeito elas se informam e conseguem prevenir muitas doenças, o que pode diminuir a demanda nos hospitais no futuro. Depois que saímos de lá, tínhamos concluído todo o cronograma, então aproveitamos para irmos até a orla para admirarmos o pôr-do-sol de Parintins. E foi incrível a sensação de dever cumprido e ao mesmo tempo a tristeza por sabermos que no dia seguinte de manhã estaríamos num barco de volta à Manaus. 14 de agosto de 2015 Dia de se despedir de Parintins Todos nós acordamos bem cedo (nosso barco sairia às 8h), não deu nem tempo de tomarmos café no hotel. Nos despedimos do pessoal do hotel e prometemos retornar. Colocamos as malas num triciclo e pedimos para nosso amigo Jaime repará-las enquanto comprávamos café. Dentro do barco já sentíamos saudade (e muito sono também). A viagem foi longa mas as conversas com os amigos ajudava a passar o tempo. Chegamos em Manaus por volta das 6:20h. Conclusão Digamos que essa experiência serviu para me abrir os olhos de que muita coisa no serviço ainda precisa ser mudado para que haja algum benefíco à população, mas a mudança deve partir de cada um. Vi que realmente o sistema tem ótimas diretrizes, mas para que tudo funcione, as pessoas devem colaborar e mostrar interesse pelo seu trabalho em qualquer área que estiver envolvido. A cooperação e os bons atos são o que fazem um alto grau de qualidade de saúde. Percebi também que a população ainda necessita de mais informações sobre onde ser atendido, sobre como se previnir, etc. Eu esperava que em Parintins houvesse mais recursos tanto humanos quanto materiais, pois é um município muito rico que merece uma saúde digna, mas vale ressaltar que a política na maioria dos interiores do Amazonas, ainda, é um grande impasse na melhoria de vida da sociedade. Por fim, essa vivência me proporcionou boas amizades, experiências memoráveis, um olhar de compaixão ao próximo – sem falar numa cor brozeada e os calos nos pés. Parintins deixou saudades.